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RESUMO
Este trabalho apresenta uma abordagem sobre a representação do ciclo Otto de duas formas,
uma delas considerando como fluido ativo o ar, e outra considerando o fluido ativo ar +
combustível. O ciclo padrão a ar é uma representação simplificada do processo real, que tem
por objetivo facilitar o estudo do ciclo, impondo algumas hipóteses simplificadoras, porém
tendo uma semelhança com o ciclo real, podendo assim aplicar o estudo da termodinâmica. O
ciclo real por sua vez, apresentado neste trabalho, representa o ciclo com ar + combustível
como fluido ativo, considera-se também que a razão entre os calores específicos variam com
a temperatura, uma consideração muito importante para os ciclos, uma vez que no ciclo ideal
a ar considera-se que a razão dos calores específicos são constantes. Os cálculos iterativos
foram desenvolvidos em rotinas computacionais, bem como diagramas representativos P x v
(pressão x volume específico) e T x s (temperatura x entropia específica), que por sua vez são
comparados, entre os ciclos real e ideal.
1 Introdução
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Primeiramente faz-se a análise do ciclo ideal, considerando o fluido ativo como ar, e
admitindo algumas hipóteses mencionadas a seguir:
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Desta forma, inicia-se com o cálculo com a eficiência do ciclo, considerando a razão
de compressão rc = 10 :
1
ηT = 1 − rck−1
; onde k =1,4
∴
η T = 60, 2%
O volume no ponto 01 é dada por:
P v = RT (1)
Onde:
R = 0, 2870 kJ/kg.K
P = 94, 14 kP a
T = 303 K
∴
v = 0, 924 m³/kg
P .v k = cte (2)
P 2 = 2364, 7 kP a
v 2 = 0, 0924 m³/kg
T 2 = 761, 32 K
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poder calorífico, PCI = 44.791 kJ/kg (TURNS). Assim sabendo que a massa molar do C 8 H 18
(Iso-Octano) é igual a 114,23 g/mol, o calor inserido no ciclo é dado por:
q in = 2560, 82 kJ/kg
q in
T3 = Cv
+ T2
Onde:
C v = 0, 718 kJ/kg.K
T 3 ≈ 4327 K
Logo, a pressão no ponto 03 é facilmente obtida pela expressão dos gases ideais:
P 3 ≈ 13463 kP a
P .v k = cte
P 4 ≈ 614 kP a
∴
T 4 ≈ 1980 K
Os valores das entropias associadas aos processos do ciclo ideal foram calculadas em
rotinas computacionais de acordo com a expressão para entropia dos gases ideais, com
calores específicos constantes:
T
s2 − s1 = C v,médio .ln( T 2 ) + R.ln
1
( )
v2
v1 (3)
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s1 = s2 = 6, 86926 kJ/kg.K
s3 = s4 = 8, 52160 kJ/kg.K
A abordagem utilizada para o ciclo real é diferenciada do ciclo ideal, pois agora o
fluido ativo trata-se de uma mistura de ar + combustível, onde as seguintes hipóteses são
levadas em consideração:
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y
C 8 H 18 + a(O2 + 3, 76 N 2 ) ⇒ xCO2 + 2 H 2 O + a 3, 76 N 2
∴
y
x+ 4
a= Φ
= 12, 5 , onde x = 8 e y = 18
∴
C 8 H 18 + 12, 5(O2 + 3, 76 N 2 ) ⇒ 8CO2 + 9H 2 O + 47 N 2 (4)
Nesta abordagem do ciclo real, a razão dos calores específicos varia com a
temperatura, e como no Processo 1-2 (Compressão Isentrópica) temos uma mistura de
combustível + Ar + 2% de gases residuais ( CO2 , H 2 O, N 2 ), deve-se calcular os calores
específicos da mistura, de acordo com a equação abaixo:
n
cp,mix = ∑ y i cp,i [kJ/kg.K] (5)
i=1
Onde:
y i = fração mássica do elemento “i”;
cp,i = calor específico do elemento “i” [kJ/kg.K];
mi
yi = mtotal
(6)
Onde:
mi = massa do elemento [g]
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cv = cp − R (7)
Onde:
cp = calor específico a pressão constante [kJ/kg.K]
R = constante do gás [kJ/kg.K]
Onde:
cp, mix = calor específico da mistura (Eq. 05) [kJ/kg.K];
Ru
Rmix = Mm
[kJ/kg.K] (9)
Onde:
Ru = constante universal dos gases (8,314 kJ/kmol.K);
M m = massa molecular da mistura [kg/kmol].
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● y N = 0, 71913 ;
2
● y O = 0, 21847 ;
2
Gases residuais:
● y 2%, C O = 0, 0038462 ;
2
● y 2%, H = 0, 0017712 ;
2O
● y 2%, N = 0, 0143826 ;
2
● C 8 H 18 = 1, 711 [kJ/kg.K];
● N 2 = 1, 042 [kJ/kg.K];
● O2 = 0, 922 [kJ/kg.K];
● CO2 = 0, 842 [kJ/kg.K];
● H 2 O = 1, 872 [kJ/kg.K] .
Antes de inserir os valores de calor específico de cada elemento na equação (5), faz-se
necessário o cálculo dos calores específicos de cada elemento variando com a temperatura,
essa rotina é implementada utilizando do polinômio descrito pela equação (10) para calores
específicos em função da temperatura (SONTAG, 2013):
Onde θ = T [K]/1000
Vale ressaltar que o polinômio descrito acima é válido somente para uma faixa de
temperatura 250 K a 1200 K, porém na compressão isentrópica a temperatura não atinge tal
valor máximo.
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Fórmula C0 C1 C2 C3 R [kJ/kg.K]
De forma análoga, pela equação (8), calcula-se o calor específico a volume constante
da mistura, cv, mix :
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Desta forma, sabendo que a razão dos calores específicos da mistura é dada por
cp,mix
k mix = cv,mix
, tem-se a razão k mix , à 300 K, à 94,14 kPa de pressão:
k mix = 1, 3492
n
s0mix = ∑ y i s0i [kJ/kg.K] (11)
i=1
Onde:
y i = fração mássica do elemento;
s0i = entropia de referência do elemento, à temperatura e pressão ambiente [kJ/kg.K].
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Lembrando que esse valor permanece constante até o final do processo 1-2 de
compressão, assim inicia-se o processo 2-3 de combustão com este valor de entropia inicial.
Assim, sabendo dos valores iniciais, e sabendo que o processo de compressão 1-2
obedece a equação (2) da expressão isentrópica P .v k = cte , pode-se chegar nos valores do
ponto 2, ou seja, o final da compressão isentrópica:
Ponto 1:
● P 1 = 94, 14 kP a ;
● v 1 = 0, 924 m³/kg ;
● T 1 = 303 K ;
● s1, mix = 6, 714257 kJ/kg.K ;
● k 1, mix = 1, 3492 .
Ponto 2:
● P 2 = 1938, 67 kP a ;
● v 2 = 0, 0924 m³/kg ;
● T 2 = 670 K ;
● s2, mix = 6, 714257 kJ/kg.K ;
● k 2, mix = 1, 2978 .
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Onde:
T adiabática ≈ 3157 K
Sabendo dos valores iniciais obtidos ao final do processo anterior (1-2), e que a
combustão ocorre de maneira isocórica, ou seja, a volume constante, pode-se de forma
iterativa chegar aos valores de pressão e entropia final do processo 2-3, dados por:
Ponto 2:
● P 2 = 1938, 67 kP a ;
● v 2 = 0, 0924 m³/kg ;
● T 2 = 670 K ;
● s2, mix = 6, 714257 kJ/kg.K .
Ponto 3:
● P 3 ≈ 9135 kP a ;
● v 3 = 0, 0924 m³/kg ;
● T 3 = 3157 K ;
● s3, mix = 8, 194602 kJ/kg.K .
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● yH = 0, 08856 ;
2O
● y N = 0, 71913 .
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Onde:
Ru = 8, 314 kJ/kmol.K ;
M i = massa molar do elemento [kg/kmol];
T = temperatura [K].
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Assim, sabendo dos valores iniciais (valores finais do ponto 3), e sabendo que o
processo de expansão 3-4 obedece a equação (2) da expressão isentrópica P .v k = cte ,
pode-se chegar nos valores do ponto 4, por meio de rotinas computacionais, ou seja, no final
da expansão isentrópica:
Ponto 3:
● P 3 ≈ 9135 kP a ;
● v 3 = 0, 0924 m³/kg ;
● T 3 = 3157 K ;
● s3, mix = 8, 194602 kJ/kg.K ;
● k 3, mix = 1, 24 .
Ponto 4:
● P 2 = 506, 43 kP a ;
● v 2 = 0, 924 m³/kg ;
● T 4 = 720 K ;
● s4, mix = 8, 194602 kJ/kg.K ;
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● k 4, mix = 1, 31 .
O processo em questão trata-se de uma etapa que ocorre de maneira isocórica, ou seja,
a volume constante, onde os gases decorrentes da combustão são descarregados para fora da
câmara de combustão, para desta forma renovar o fluido e iniciar um novo ciclo.
Nesta etapa sabe-se dos valores finais do ponto anterior (Ponto 4), que agora assumem
os valores iniciais do processo de descarga dos gases 4-1, onde o sistema volta para o estado
inicial, sendo assim:
Ponto 4:
● P 4 = 506, 43 kP a ;
● v 4 = 0, 924 m³/kg ;
● T 4 = 720 K ;
● s4, mix = 8, 194602 kJ/kg.K .
Ponto 1:
● P 1 ≈ 94, 14 kP a ;
● v 1 = 0, 924 m³/kg ;
● T 1 = 303 K ;
● s1, mix = 6, 714257 kJ/kg.K .
A entropia específica nos processos 4-1 e 2-3 foram implementadas nas rotinas
computacionais de acordo com a equação (14), que expressa a variação de entropia entre um
ponto e outro, onde os intervalos entre os pontos foram frações pequenas entre a temperatura
inicial e final de cada processo (ÇENGEL, 2006):
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Fonte: Própria.
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T1
η T ,real = 1 − T2
∴ η T ,real = 54, 8%
T1
η T ,ideal = 1 − T2
∴ η T ,ideal = 60, 2%
Como esperado, a eficiência do ciclo ideal é superior à eficiência do ciclo real, devido
às hipóteses assumidas e discutidas anteriormente.
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Novamente como esperado, o trabalho tem seu valor máximo no ciclo ideal.
W c, real
P mc, real = Vd
∴ P mc, real = 1683, 5 kP a
W c,ideal
P mc, ideal = Vd
∴ P mc, ideal = 1850 kP a
N c, real = W c, real . nx . 1
0,736
∴ N c, real ≈ 190 CV
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N c, ideal = W c, ideal . nx . 1
0,736
∴ N c, ideal ≈ 210 CV
As rotinas computacionais puderam gerar gráficos dos ciclos, onde pode-se perceber
as diferenças calculadas até o momento, tais como pressão, temperatura, e eficiência. A
seguir, a Figura 03 mostra o diagrama P − v (pressão x volume específico) dos ciclos:
Fonte: Própria.
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Fonte: Própria.
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O consumo de combustível pode ser avaliado aliado à potência efetiva do ciclo, onde
obtém-se o consumo específico (BRUNETTI, 2012), dado pela equação (15) :
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Ce = P CI.η
[kg/CV .h] (15)
Onde:
PCI = poder calorífico inferior do combustível [kcal/kg]
η = eficiência do ciclo
C onsumo = C e .N T [kg/h]
Onde:
C e = consumo específ ico [kg/CV .h]
N T = potência ef etiva [CV ]
632
C onsumo = 10590,344.0,548
.190
∴
C onsumo ≈ 20, 00 [kg/h]
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5 Considerações finais
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6 Referências Bibliográficas
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