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SUMÁRIO
RESUMO
O artigo enfoca a retenção das arras à luz do Código de Defesa do Consumidor, isto
é, a interpretação do artigo 418 do Código Civil conjuntamente com o artigo 53 do
Código Consumerista. A análise se faz necessária, uma vez que na maioria dos
negócios jurídicos há relação de consumo, logicamente, incidindo o Código de
Defesa do Consumidor, que protege especialmente os mais vulneráveis nas
relações econômicas, ou seja, o consumidor. Utiliza-se como método de pesquisa o
indutivo e como técnicas, a do referente, da categoria, da revisão bibliográfica e a do
fichamento.
INTRODUÇÃO
Diante de uma sociedade que consome muitas das vezes por impulso, sem
consciência, característica do capitalismo e da sociedade moderna rotulada como
“sociedade de consumo”, crucial é a análise dos negócios jurídicos que muitas
vezes exigem as arras para assegurar ou confirmar a obrigação assumida.
1
Acadêmico do 10º período do Curso de Graduação em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
2
Prof. MSc. Queila Jaqueline Nunes Martins, da graduação do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí
– UNIVALI. Email: queilamartins@univali.br
3
Relação de consumo é quando existe em uma ponta o consumidor e na outra o fornecedor de produto ou
serviços, sendo que o Código de Defesa do Consumidor traz a defenição de ambos os sujeitos.
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HOFFMANN, Allan Rodrigues; MARTINS, Queila Jaqueline Nunes. A retenção das arras à luz do código de
defesa do consumidor. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas
da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 90-102, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044
Não obstante, o instituto das arras está previsto nos artigos 417 a 420 do
Código Civil5. Não pode ele ser visto apenas com os olhos fitos na lei civil, mas
também em consonância com o Código Consumerista, pois do contrário, estaria o
consumidor, parte mais vulnerável na relação de consumo, sendo prejudicado.
A importância deste tema reside no fato das arras serem um instituto pouco
estudado, menos ainda, em conjunto com o CDC. Apesar de ser objeto de poucas
pesquisas, é prática comum nas transações comerciais, servindo como princípio de
pagamento, sendo ordinariamente conhecidas as arras como “sinal de negócio”.
1 ARRAS
A palavra arras tem o sentido de garantia, penhor, tendo sua origem do latim
arrha, sendo que as demais línguas da Antiguidade como a persa, a egípcia, o grego
4
No decorrer deste artigo, adotar-se-á a nomenclatura “CDC” para citação de Código de Defesa do Consumidor.
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em 22 de maio de
2012.
5
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 22 de maio de 2012.
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HOFFMANN, Allan Rodrigues; MARTINS, Queila Jaqueline Nunes. A retenção das arras à luz do código de
defesa do consumidor. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas
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6
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 97.
7
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v.2. p. 399.
8
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. p. 97.
9
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p.399.
10
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. p. 97.
11
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 7. ed. São
Paulo: Atlas, 2007. p. 324.
12
BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm>. Acesso em 16 de maio de 2012.
13
BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 16 de maio de 2012.
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defesa do consumidor. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas
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Art. 417 Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à
outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as
arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na
prestação devida, se do mesmo gênero da principal18.
Nota-se, que as arras podem ser em dinheiro, forma mais comum, uma vez
que, se celebrado o contrato definitivo, estas serão consideradas princípio de
pagamento, sendo descontadas do saldo remanescente19. Também constitui início
de pagamento, as arras do mesmo gênero da principal. Assim, por exemplo, se o
devedor de dez bicicletas entrega duas ao credor, como sinal, este constitui início de
pagamento20.Contudo, se as arras forem dadas em outro bem móvel, ou seja, coisa
diversa do objeto pactuado, deve ser restituída quando o contrato for cumprido.
14
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. p. 99.
15
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. p. 99.
16
FIUZA, Cesar. Direito Civil: curso completo. 14. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010. p. 461.
17
FIUZA, Cesar. Direito Civil: curso completo. p. 461.
18
BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Código Civil, art. 417. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 16 de maio de 2012.
19
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. p. 328.
20
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p.401.
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defesa do consumidor. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas
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Art. 418 Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá
a outra tê-la por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem
recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito,
e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros
e honorários de advogado21.
21
BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Código Civil, art. 418. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 16 de maio de 2012.
22
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. p. 101.
23
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. p. 328.
24
BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Código Civil, art. 419, parte “a”. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 16 de maio de 2012.
25
BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Código Civil, art. 419, parte “b”. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 16 de maio de 2012.
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HOFFMANN, Allan Rodrigues; MARTINS, Queila Jaqueline Nunes. A retenção das arras à luz do código de
defesa do consumidor. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas
da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 90-102, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044
26
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais.
22. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. v. 3. p. 150.
27
BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Código Civil, art. 420. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 16 de maio de 2012.
28
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. p.
150.
29
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. p. 327.
30
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p.401.
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HOFFMANN, Allan Rodrigues; MARTINS, Queila Jaqueline Nunes. A retenção das arras à luz do código de
defesa do consumidor. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas
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Com efeito, o artigo 418, do Código Civil, apregoa que aquele que deu causa
a inexecução do contrato perderá as arras em favor da parte inocente. Por outro
lado, o artigo 53 do CDC, positiva a regra do enriquecimento sem causa, razão pela
qual é considerada ilícita a retenção de todo o montante dado a título de arras. O art.
53 do CDC estabelece o seguinte:
31
BRASIL. Lei nº 8.078/1990. Código De Defesa do Consumidor. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em 22 de maio de 2012.
32
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Terceira Turma. Recuso Especial nº 1.056.704 – MA (2008/0103209-1).
Relator: Ministro Massami Uyeda. D.J. 28/04/2009. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200801032091&dt_publicacao=04/08/2009>. Acesso
em 22 de maio de 2012.
33
FIUZA, Cesar. Direito Civil: curso completo. p. 457.
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HOFFMANN, Allan Rodrigues; MARTINS, Queila Jaqueline Nunes. A retenção das arras à luz do código de
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A Segunda Seção, composta por ministros da Terceira Turma e da Quarta Turma, decide sobre matérias de
Direito Privado, examinando questões de Direito Civil e Comercial. Disponível em:
<http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=427>. Acesso em 22 de maio de 2012.
35
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Terceira Turma. Recuso Especial nº 1.056.704 – MA (2008/0103209-1).
Relator: Ministro Massami Uyeda. D.J. 28/04/2009. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200801032091&dt_publicacao=04/08/2009>. Acesso
em 22 de maio de 2012.
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HOFFMANN, Allan Rodrigues; MARTINS, Queila Jaqueline Nunes. A retenção das arras à luz do código de
defesa do consumidor. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas
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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Terceira Turma. Recuso Especial nº 1.222.139 – MA (2010/0197043-8).
Relator: Ministro Massami Uyeda. D.J. 03/02/2011. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/websecstj/decisoesmonocraticas/decisao.asp?registro=201001970438&dt_publicacao=3/
2/2011>. Acesso em 22 de maio de 2012.
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defesa do consumidor. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas
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37
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quarta Turma. Recurso Especial nº 355.818 – MG (2001/0128189-4).
Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior. Data 22/04/2003. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200101281894&dt_publicacao=13/10/2003>. Acesso
em 22 de maio de 2012.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, como o foco do artigo é tratar das arras com base no CDC,
conclui-se que a regra apregoada no Código Civil não é aplicada com a mesma
rigidez quando se trata de relação de consumo, isto porque, o artigo 418 do Código
Civil deve ser interpretado em conjunto com o artigo 53 do CDC.
38
REsp 476.775/MG, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Quarta Turma, DJU 4/8/2003; REsp 712408/MG, Rel.
Min. Aldir Passarinho Junior, AgRg no REsp 735827/MG, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ 11/09/2006;
REsp 907856/DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 01/07/2008.
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Dessa maneira, com base no que foi pesquisado, fica verificado que foi
possível atender ao objetivo geral do trabalho, no sentido de se investigar como a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem fixado a retenção das arras com
base no CDC.
Espera-se ter contribuído para os estudos jurídicos, uma vez que a cada dia
surgem novos entendimentos e situações merecedoras de novas pesquisas.
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Expressão latina que significa “muda-se o que deve ser mudado”. Disponível em:
<http://www.advogado.adv.br/termosjuridicos.htm>. Acesso em 22 de maio de 2012.
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