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Barragens

1. Introdução

Barragens são estruturas construídas para controlar a vazão de saída de


variados corpos hídricos. Esse controle é essencial para evitar a ocorrência de cheias,
para garantir o suprimento hídrico para consumo, irrigação e lazer, para a geração de
energia elétrica e entre outros.

No Brasil há muitos rios que possibilitam aproveitamento hidrelétrico e


isso é um incentivo para a geração deste tipo de energia. Contudo, a formação de
reservatórios ocasiona grandes impactos ambientais e sociais, que precisam ser
ponderados e avaliados (relação custo / benefício).

Durante o processo de construção de barragens podem ocorrer diversos


problemas que podem ser classificados em: ambientais, sociais e econômicos. O
barramento de água requer a inundação de grandes áreas, que resultam na
devastação de parte da matéria viva do meio ambiente. Além disso, por essa razão, é
necessário que a população que reside nas proximidades do local de instalação da
obra passe a morar em um lugar distante, já que podem ser afetados pela inundação.
Mas por outro lado, essas obras trazem progresso econômico e conforto para o país.

As barragens precisam atender dois requisitos básicos que são: eficiência e


segurança. Uma ruptura em um sistema de barramento traz consequências
catastróficas e prejuízos incalculáveis, e até mesmo perda de vidas humanas, daí a
importância de uma construção bem dimensionada, segura e com monitoramento
constante.

2. Classificação das barragens


2.1. Quanto à finalidade
2.1.1. Barragens de Regularização

Tem a finalidade de regularizar o regime hidrológico de um rio, ou seja,


armazena água no período de afluência em relação à demanda. Com esta operação,
a amplitude de variação das vazões naturais do rio é reduzida, garantindo portanto,
vazões efluentes nos períodos de estiagem.
Estas barragens possuem diversas finalidades, entre elas o uso para
aproveitamento hidroelétrico, a formação o de reservatórios para abastecimento de
água, e represamento de água de forma a se ter a possibilidade de navegação.

2.1.2. Barragens de Retenção

As barragens de retenção são estruturas que são construídas com a finalidade


de reter água, na maioria das vezes para controle de cheias. As barragens utilizadas
para a contenção de resíduos industriais ou sedimentares, amplamente utilizada na
mineração, são exemplos de barragens de retenção.

As barragens mais recentes possuem muitas finalidades, portanto podem ser


encaixadas em ambas as classificações.

2.2. Quanto ao mecanismo de contenção


2.2.1. Barragens de concreto em arco

As estruturas em arco resistem com facilidade a cargas uniformemente


distribuídas sobre seu dorso, transmitindo-as para as suas ombreiras. Nessas
condições, as forças decorrentes do impulso hidrostático são transferidas para as
margens e fundo do rio. Portanto, para a sua construção, são necessárias condições
naturais especiais, como: margens altas constituídas por rocha resistente e sã, e
fundo do rio igualmente
em rocha resistente e sã.
A relação entre a largura
do rio no local e a altura da
barragem não pode ser
maior que 3 a 4. Dadas as
suas pequenas seções
transversais, empregam
pouco material, de forma
que seu peso
desempenha papel
secundário no equilíbrio
estático.
Neste caso não é o peso próprio que resiste aos esforços o que possibilita uma
redução significativa no volume de concreto a ser utilizado, porém essa estrutura é
utilizada em vales profundos e estreitos e quando o material de apoio nas margens
(rocha) é de qualidade.

2.2.2. Barragens de concreto por gravidade

São aquelas em que o equilíbrio estático da construção, sob a ação das forças
externas (impulso hidrostático), realiza-se pelo próprio peso da estrutura. A resultante
de todas as forças atuantes é transmitida, através de sua base, ao solo do leito do rio
sobre o qual se apoia.

São estruturas mais simples, porque confiam na força gravitacional para opor
o momento virador causado pela pressão da água do reservatório. Existem também
barragens ocas por gravidade, estas requerem menos concreto e consequentemente
menos custos para a construir. As exigências da fundação são mais críticas.

As barragens de
Concreto Compactado a Rolo
(CCR) também são de
gravidade, porém o seu
processo construtivo é
diferente. Neste caso o
concreto é lançado em
camadas pequenas e em
seguida compactados com a
utilização de um
equipamento especial,
geralmente um rolo compressor pesado.

2.2.3. Barragens de concreto em arco-gravidade

São estruturas que funcionam tanto como barragens em arco, como por
barragens por gravidade. As suas seções transversais apresentam-se bem mais
espessas que as das barragens em arco, porém mais esbeltas que as das barragens
a gravidade. São menos exigentes quanto ao substrato da sua construção e podem
ser construídas em concreto ciclópico.

2.2.4. Barragens convencionais de terra e/ou enrocamento

Barragens de enrocamento é quando há a predominância de material rochoso.


Com o desenvolvimento de novas tecnologias, descobriu‐se que a compactação deste
material rochoso com rolos lisos de aço vibratórios seria bastante eficiente, reduzindo‐
se deste modo o recalque por molhagem. Durante a compactação o expediente de
molhar o enrocamento tornou‐se também um método eficiente de se conseguir
densidades mais elevadas.

As estruturas de enrocamento (pedras) são mais estáveis, em função do


elevado ângulo de atrito do material, não havendo relatos de ruptura de seus taludes.
Para a formação do reservatório é necessário uma estanqueidade do barramento, que
é garantida com o uso de um núcleo argiloso ou com membrana externa impermeável.

Com relação ao meio de compactação do solo, elas podem ser homogêneas


ou zonadas. As barragens homogêneas são feitas de solos argilosos e pouco
permeáveis, já as zonadas têm um núcleo impermeável e duas zonas externas mais
permeáveis, formada por material mais grosseiro, que evita deslizamentos.

O uso de barragens de enrocamento vem aumentando a cada dia no Brasil e


no mundo. Isso se deve a capacidade de tolerar taludes mais íngremes que as
barragens de seção homogênea, e pela sua rapidez de execução. Cabe ressaltar que
as barragens de enrocamento com taludes mais inclinados só se aplicam em fundação
rochosa ou com boa capacidade de suporte. Cresce também interesse em estudos de
novas tecnologias na sua execução, como é o caso do uso de núcleo asfáltico para
servir como material impermeável, já utilizado em barragens com núcleo de argilas.

3. Critérios de projeto
3.1. Vazão de Projeto

Para barragens maiores que 30 m ou cujo colapso envolva risco de perdas de


vidas humanas (existência de habitações permanentes a jusante), a vazão de projeto
dos órgãos extravasores, ou cheia de projeto, será a cheia máxima provável. Para
barragens de altura inferior a 30 m ou com reservatório menor que 50.000.000 m³ e,
não havendo risco de perdas de vidas humanas (inexistência de habitações
permanentes a jusante), a cheia de projeto será definida através de uma análise de
risco, respeitada a recorrência mínima de 1000 anos.

O valor do comprimento de borda livre varia para cada situação:

 Borda livre maior ou igual a 0,5 m para barragens de concreto;


 Borda livre maior ou igual a 1,0 m para barragens de terra / enrocamento;
 Borda livre normal maior ou igual a 3,0 m para ventos com velocidade
com mais de 100 Km/h.

3.2. Materiais disponíveis


As características dos materiais disponíveis é um dos fatores de grande
influência na escolha do tipo de seção a utilizar. A princípio todos os materiais são
potencialmente úteis para o emprego na seção da barragem, incluindo solos e rochas.
Porém os materiais provenientes de escavação nas proximidades da barragem serão
os primeiros a serem analisados e eventualmente utilizados, pois são, geralmente,
mais econômicos.

3.3. Fatores climáticos

Condições climáticas e de trabalhabilidade também são fatores limitantes na


escolha da seção da barragem, pois as condições dos materiais quanto a umidade
podem dificultar o andamento de uma obra, podendo colocar assim alguns materiais
em desvantagem.
Regiões com grande intensidade de chuvas podem diminuir dias úteis
trabalhados, podendo assim atrasar os cronogramas. Para compensar a perda de
horas trabalhadas pode ser exigido um número maior de equipamentos, ou que
possam ser utilizados em condições climáticas adversas. E assim, nestas regiões, os
materiais que necessitam de menos compactação podem ser mais competitivos, como
é o caso do emprego de enrocamento.

3.4. Fatores geológicos e topográficos

A geologia e a topografia da região onde será implantada a obra de barramento


também é um dos fatores limitantes a que tipo de seção será utilizado. A escolha do
projeto se dá, principalmente, em função das condições geológicas da fundação e da
conformação da região onde será implantado o barramento.

Para se conhecer as condições da fundação e se caracterizar os materiais é


necessário a realização de sondagens investigatórias. É muito importante essa
investigação, pois as seções de barragens homogêneas são menos exigentes em
relação à fundação; em compensação, necessitam de taludes mais abatidos para que
fique estável, enquanto que as barragens de enrocamento, que exigem mais da
fundação, podem ser executadas sem problemas utilizando taludes mais íngremes.

3.5. Drenagem interna

O sistema de drenagem interna é um dos fatores predominantes para o bom


funcionamento de uma barragem. Estatisticamente verifica‐se que a maioria dos
acidentes com barragens de terra deram‐se devido à falta de um sistema eficiente de
controle de fluxo.

Por mais compactado que seja o material que compõe a estrutura de uma
barragem de terra, sempre haverá fluxo pelo seu maciço. Este fluxo deve ser
conhecido, quanto à vazão e ao caminho preferencial (redes de fluxo), e deve ser
direcionado de forma a não ocasionar problemas.

3.6. Filtros em barragens

A permeabilidade de um meio poroso pode ser descrita como a facilidade ou a


dificuldade que os vazios oferecem à passagem da água. A captação e condução
desta água são feitas através de filtros, que precisam garantir um septo drenante total
para que no talude de jusante não haja fluxo emergente. Os filtros visam uma
otimização da barragem, tendo como principais fatores: drenar a água na base da
barragem, otimizar as redes de fluxo, vazões de percolação e gradiente de saída além
de controle de percolação pela fundação.

Inicialmente as barragens eram construídas


sem filtros, onde o problema
apresentado seria a emergência de água na face de
jusante da seção, podendo
assim ocasionar piping (erosão interna).

Em seguida, foi utilizado filtros


horizontais e enrocamento em pé, porém
eles são eficazes apenas para solos
isotrópicos que não correspondem a
realidade.

Na solução encontrada por Terzaghié chegou-se


a uma combinação de filtro vertical e filtro horizontal.
Essa combinação intercepta o fluxo da água antes que
ele consiga sair no talude isotrópico, que apresenta as
mesmas propriedades físicas em todas as direções.

A função básica dos filtros é prevenir fenômenos de erosão regressiva formada


por forças de percolação intensas, rupturas hidráulicas e trincas ocasionadas por
deformações diferenciais no corpo da barragem. A escolha do material
filtrante, segundo Terzaghi, baseia‐se em dois critérios:

 O filtro deve ser mais permeável que o solo;

 O tamanho dos vazios do filtro não devem permitir a passagem de grãos de


solo.

3.6.1. Filtro vertical


O dreno vertical de uma barragem deve sempre ser levado até a altura do nível
de água máiximo. Já os drenosi inclinados são indicados em barragens com maciço
de altura superior a 20 ou 30 metros.

Esses filtros possuem como função básica evitar que o material seja carreado
de montante para jusante. Como a sua função é cicatrizante e sua capacidade de
vazão é muito superior à vazão que é percolada pelo maciço, o filtro deve ser projetado
obedecendo larguras mínimas construtivas.

3.6.2. Filtros horizontais

A sua função não é exclusivamente impedir o carreamento de materiais da


fundação, mas também promover a drenagem das águas de percolação através da

fundação e do maciço.

Os filtros horizontais podem ser dimensionados hidraulicamente de duas formas:

 Dimensionar a espessura do dreno para que o fluxo escoe livremente. Fluxo


este, baseado na lei de Darcy, resultante do volume de percolação previsto sob
determinadas condições de cargas hidráulicas;
 Determinar a espessura do filtro necessária, com base em análise de
percolação através do conjunto fundação, maciço compactado e filtro.

O dreno horizontal deve ser contínuo e revestir toda a área da fundação, leito
do rio e ombreiras, sendo levado no mínimo até o N.A. máximo normal do reservatório.

Lei de Darcy: Q= KiA


Onde: K= coeficiente de permeabilidade; i= gradiente hidráulico; A= área.

3.6.3. Controle de fluxo

O fluxo pela fundação de barragens, mesmo em casos de fundação em rocha,


pode ser maior em relação ao fluxo pelo maciço. O sistema de drenagem da fundação
é importante para o controle destes fluxos.

Uma solução que vem sendo utilizada com frequência no Brasil para o
tratamento de fundação em rocha é a utilização de injeções de cimento que visa à
homogeneização quanto a permeabilidade dos maciços rochosos. A calda de cimento
é injetada na rocha geralmente utilizando
caldas grossas(fator água/cimento 0,7:1,0 à
0,5:1,0) e com pressões baixas (15 a 25
kN/m²/m).

Já para fundações em solo uma forma utilizada é a execução de trincheiras de


vedação. Trata‐se de uma escavação localizada ao longo da barragem até se atingir
rocha ou um material com menor coeficiente de permeabilidade a fim de se diminuir a
percolação pela fundação da estrutura. A base da trincheira deve ter no mínimo 4 ou
6 m para que se permita a compactação do solo.

3.7. Características físicas de um reservatório


3.7.1. NA mínimo operacional

Cota mínima necessária para a operação do reservatório. Define o limite


superior do volume morto e o limite inferior do volume útil do reservatório.

3.7.2. Volume morto

Parcela do volume total do reservatório


inativa para fins de captação de água.
Corresponde ao volume do reservatório
compreendido abaixo do NA mínimo
operacional. Volume disponível para acúmulo
de sedimentos.

3.7.3. NA máximo operacional

Cota máxima permitida para a operação


do reservatório. Define o limite superior do
volume útil do reservatório.
3.7.4. Volume útil

Volume compreendido entre os níveis mínimo operacional e máximo


operacional, efetivamente destinado à operação do reservatório, ou seja, ao
atendimento das demandas de água. Deve considerar as perdas por evaporação e
por infiltração no solo, quando estas forem significativas.

3.7.5. Volume de espera

Volume destinado ao amortecimento de


ondas de cheia, visando ao atendimento às
restrições de vazão de jusante (capacidade da
calha, comprometimento da infra-estrutura). É
variável ao longo do período hidrológico. Define
o nível máximo operacional e o nível meta do
reservatório.

3.7.6. Volume de Sedimentos

Para pequenas barragens:

Para grandes bacias:

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