Você está na página 1de 4

Convergência Pontual da Série de Fourier

Reginaldo J. Santos
Departamento de Matemática-ICEx
Universidade Federal de Minas Gerais
 

 
 

15 de julho de 2010

Lembramos que uma função f : [ a, b] → R é seccionalmente contínua ou contínua


por partes se f (t) é contínua em [ a, b] exceto possivelmente em um número finito de
pontos, nos quais os limites laterais existem. Vamos considerar duas funções contínuas
por partes no intervalo [ a, b] iguais se elas diferem possivelmente apenas nos pontos
de descontinuidade.

Teorema 1. Seja L um número real maior que zero. Para toda função f : [− L, L] → R
contínua por partes tal que a sua derivada f 0 também seja contínua por partes, a série de Fourier
de f
∞ ∞
a0 nπt nπt
+ ∑ an cos + ∑ bn sen ,
2 n =1
L n =1
L
em que
1 L nπt
Z
an = f (t) cos dt para n = 0, 1, 2, . . .
L −L L
1 L nπt
Z
bn = f (t) sen dt, para n = 1, 2, . . .
L −L L
converge para f nos pontos de (− L, L) em que f é contínua. Ou seja, podemos representar f
por sua série de Fourier:
∞ ∞
a0 nπt nπt
f (t) = + ∑ an cos + ∑ bn sen , para t ∈ (− L, L)
2 n =1
L n =1
L

1
Demonstração. Vamos mostrar que a soma parcial da série tende a f ( x ), se x ∈ (− L, L)
é um ponto de continuidade de f . Substituindo-se os coeficientes a n e bn na soma
parcial da série,
N 
a0 nπx nπx 
S N ( x) = + ∑ an cos + bn sen ,
2 n =1
L L

obtemos
Z L
1
S N ( x) = f (t)dt
2L −L
1 N nπx L nπt nπx L nπt
 Z Z 
+ ∑ cos f (t) cos dt + sen f (t) sen dt =
L n =1 L −L L L −L L
N
!
1 L 1 nπx nπt nπx nπt
Z
(cos cos + sen sen ) f (t)dt =
L − L 2 n∑
= +
=1
L L L L
N
!
1 L 1 nπ (t − x )
Z
cos f (t)dt (1)
L − L 2 n∑
= +
=1
L

Mas
N
1 1 1 1 s N
 
sen( N + )s − sen s = ∑ sen(n + )s − sen(n − )s = 2 sen ∑ cos ns
2 2 n =1
2 2 2 n =1

Logo
1 N sen( N + 12 )s
+ ∑ cos ns = .
2 n =1 2 sen 2s
π (t − x )
Substituindo-se s por obtemos
L
π (t − x )
1 N
nπ (t − x ) sen( N + 12 )
cos L . (2)
2 n∑
+ =
=1 L π ( t − x )
2 sen
2L
Substituindo-se (2) em (1) obtemos
π (t − x )
Z L sen( N + 1 )
1 2 L
S N ( x) = f (t)dt
L −L π (t − x )
2 sen
2L

2
Substituindo-se f pela sua extensão periódica de período 2L, f˜, usando o fato de que
neste caso as integrais anteriores podem ser calculadas de − L + x até L + x e fazendo
a mudança de variáveis s = t − x obtemos
π (t − x )
Z L+ x sen( N + 1 )
1 2 L
S N ( x) = f˜(t)dt =
L − L+ x π (t − x )
2 sen
2L
πs
Z L sen( N + 1 )
1 2 L f˜( x + s)ds (3)
= πs
L −L 2 sen
2L
Tomando-se f ( x ) = 1 em (3) obtemos
πs
Z L sen( N + 1 )
1 2 L = 1.
πs (4)
L −L 2 sen
2L
Assim de (3) e (4) temos que
1 πs
1
Z L  sen( N + 2 ) L
S N ( x) − f ( x) = f˜( x + s) − f ( x ) πs ds =
L −L 2 sen
2L
s
1 L f˜( x + s) − f˜( x ) 2 1 πs
Z
= πs sen( N + ) ds. (5)
L −L s sen 2 L
2L
Como f˜ é contínua por partes com derivada f˜0 também contínua por partes, então para
x ∈ (− L, L) tal que f ( x ) é contínua temos que a função
s
˜f ( x + s) − f˜( x )
g(s) = 2
s πs
sen
2L
é contínua por partes. Pois, pelo Teorema do valor médio, se f 0 é contínua em x, então
g é contínua em s = 0. Se f não é contínua em x, então os limites laterais de f 0 (ξ )
quando ξ tende a zero existem. Assim segue do lema que apresentaremos a seguir que
Z L
1 1 πs
lim (S N ( x ) − f ( x )) = lim g(s) sen ( N + ) ds = 0.
N →∞ N →∞ L −L 2 L

3
Lema 2 (Riemann-Lebesgue). Seja g : R → R uma função contínua por partes, então
Z b
lim g(s) sen λs ds = 0
λ→∞ a

Demonstração. Seja
Z b
I (λ) = g(s) sen λs ds (6)
a
Vamos supor inicialmente que g seja contínua. Fazendo-se a mudança de variáveis
π
s = t + obtemos
λ Z b− π
λ π
I (λ) = − g ( t + ) sen λt dt (7)
a− πλ λ
Seja M = max g(s). Somando-se (6) e (7) e calculando-se o módulo obtemos que
s∈[ a−π,b]
Z b Z b− π
λ π
|2I (λ)| = g(s) sen λs ds − g s sen ds

( + ) λs =
a a− πλ λ
Z a Z b− π Z b
π λ π π
≤ | g(s + )| ds + | g(s) − g(s + )| ds + | g(s + )| ds
a− πλ λ a λ b− πλ λ
2Mπ b− λ Z π
π
≤ + | g(s) − g(s + )| ds < 2e,
λ a λ
π e
para λ > 2Mπe tal que | g(s) − g(s + λ )| < b − a , para todo s ∈ [ a, b]. O caso geral
segue da aplicação do argumento acima para cada parte de g que é contínua.

Referências
[1] Djairo Guedes de Figueiredo. Análise de Fourier e Equações Diferenciais Parciais.
IMPA, Rio de Janeiro, 1977.
[2] Donald Kreider, Donald R. Ostberg, Robert C. Kuller, and Fred W. Perkins. Intro-
dução à Análise Linear. Ao Livro Técnico S.A., Rio de Janeiro, 1972.
[3] Erwin Kreiszig. Matemática Superior. Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., Rio
de Janeiro, 2a. edition, 1985.

Você também pode gostar