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DANIEL PELLEGRINO
Sumário
1. Introdução 3
2. Um pouco sobre Teoria de Conjuntos e Lógica 3
2.1. Notações e terminologia 3
2.2. Algumas convenções 3
2.3. O Axioma da Escolha e o Lema de Zorn 3
3. Espaços Métricos 5
4. Espaços Topológicos 7
5. Vizinhanças 9
6. Bases e sub-bases 12
7. Funções contínuas 15
8. Subespaços e topologia relativa 17
9. Homeomor…smos 19
10. Espaços produto e topologias fracas 21
11. Espaços Quocientes 24
12. Convergência de seqüências 25
13. Redes 27
14. Filtros 31
15. — — — — -Cópia da primeira prova do curso— — — — – 33
16. Espaços T0 ; T1 ; T2 e T3 34
17. Conjuntos compactos 35
17.1. O Teorema de Tychono¤ 37
18. Uma aplicação do Teorema de Tychono¤ à Análise Funcional: O Teorema de Banach-
Alaoglu-Bourbaki 38
19. Teorema da Extensão de Tietze 40
20. Compacti…cação de Alexandrov 44
21. Compacti…cação de Stone-Cech 46
21.1. Espaços completamente regulares 46
21.2. Compacti…cação de Stone-Cech 47
22. — -Cópia da segunda prova do curso— — — — — — — — — - 49
23. Topologias em espaços de funções 50
23.1. Topologia da convergência pontual 50
23.2. Topologia compacto-aberta 50
23.3. Topologia da convergência uniforme 50
23.4. Topologia da convergência compacta 52
24. Espaços Conexos 54
24.1. Componentes conexas 56
25. Espaços conexos por caminhos 58
26. Homotopias 59
27. Grupos Fundamentais 63
27.1. O grupo fundamental do círculo unitário 67
28. Seminário: O Teorema de Baire 70
1
2 DANIEL PELLEGRINO
1. Introdução
Essas notas de aula não têm pretensão alguma em relação à originalidade. Seu conteúdo é baseado
em livros clássicos de Topologia Geral e (principalmente as seções referentes a homotopia e grupos
fundamentais) são baseadas em notas de aula de Jorge Mujica.
Qualquer um dos caminhos certamente nos levará a problemas interessantes, e tentar modi…car
algumas demonstrações para evitar o uso do AE, quando possível, também á algo que me parece
interessante.
Bom, atualmente o Axioma da Escolha faz parte da lista de axiomas da maioria dos matemáticos,
e não seremos nós que faremos diferente.
Um resultado equivalente ao AE é o “menos inofensivo” Lema de Zorn (LZ), que veremos a seguir.
Apesar aparentemente menos natural, ele é obtido a partir dos nossos axiomas, e portanto podemos
usá-lo sem hesitação! É bom que saibamos, entretanto, que essa equivalência é apenas uma dentre
numerosas outras conhecidas. Curiosamente, vários resultados que foram obtidos como consequências
do AE, posteriormente mostraram-se equivalentes ao AE. Esse é mais um ponto muito interssante
a respeito do AE: mesmo sendo aparentemente inofensivo, ele é equivalente a muitos resultados
fortemente não intuitivos. Por exemplo, o Teorema da Boa-Ordenação, que a…rma que qualquer
conjunto pode ser bem-ordenado, é equivalente ao AE.
Nesse curso, precisaremos apenas do Lema de Zorn. O LZ é peça fundamental na construção de
vários teoremas dos mais diversos ramos da matemática. É claro que por ser equivalente ao AE,
toda demonstração que usa o LZ poderia usar o AE no seu lugar. Entretanto, curiosamente, o LZ
parece ter mais fácil aplicação em algumas situações, e se consagrou em várias demonstrações de
resultados clássicos: Teorema de Hahn-Banach e Teorema de Bishop-Phelps, na Análise Funcional, a
demonstração de que todo espaço vetorial possui uma base de Hamel, na Álgebra Linear, Teorema de
Tychono¤, em Topologia Geral, etc.
Para enunciar o Lema de Zorn, precisamos de uma nomenclatura adequada.
Seja P um conjunto munido de uma relação de ordem parcial .
Dizemos que Q P é totalmente ordenado se para quaisquer q1 ; q2 2 Q tivermos que q1 q2
ou q2 q1 : Dizemos ainda que um elemento p 2 P é cota superior para um conjunto R P se para
todo r 2 R tivermos r p. Um elemento m 2 P é dito maximal se sempre que x 2 P for tal que
m x; tivermos x = m. Por …m, dizemos que um P é indutivo se para todo subconjunto R P;
totalmente ordenado, existe uma cota superior pR 2 P .
Agora, podemos enunciar o Lema de Zorn:
Lema 2.2. (Lema de Zorn). Todo conjunto parcialmente ordenado, indutivo, não-vazio, admite um
elemento maximal.
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 5
3. Espaços Métricos
De…nição 3.1. Um espaço métrico é um par ordenado (M; d) formado por um conjunto M e uma
função d : M M ! R satisfazendo, para quaisquer x; y; z em M :
a) d(x; y) 0;
b) d(x; x) = 0 e d(x; y) = 0 implica x = y;
c) d(x; y) = d(y; x);
d) d(x; z) d(x; y) + d(y; z):
A função d é chamada métrica em M . Se todas as condições acima são satisfeitas com a
exceção da segunda parte do item (b), dizemos que d é uma pseudométrica e (M; d) é um espaço
pseudométrico. Quando não houver dúvidas quanto à natureza de d, escreveremos apenas M no
lugar de (M; d):
s
n
Pn
Exemplo 3.2. A reta com a função d(x; y) = jx yj ; o R com a função d(x; y) = (xi yi )2
i=1
são exemplos de espaços métricos.
Exemplo 3.3. Qualquer conjunto X pode ser munido de uma métrica. Por exemplo, a função
6 y e d(x; y) = 0 se x = y é uma métrica em X; chamada métrica discreta.
d(x; y) = 1 se x =
A noção de métrica nos abre o caminho para de…nirmos continuidade sob um ponto de vista mais
abstrato do que estamos acostumados no cálculo:
De…nição 3.4. Se (M; d1 ) e (N; d2 ) são espaços métricos, uma função f : M ! N é contínua em
x 2 M se para cada " > 0, existir um > 0 tal que d2 (f (x); f (y)) < " sempre que d1 (x; y) < :
Uma forma equivalente e também útil de se de…nir continuidade será dada adiante, com a noção de
conjunto aberto.
De…nição 3.5. Seja (M; d) um espaço métrico e x um ponto de M Para " > 0; de…nimos
(1) Bd (x; ") = fy 2 M ; d(x; y) < "g;
que é chamado de bola de raio " em torno de x: Sempre que não houver possibilidade de confusão,
escreveremos B(x; ") no lugar de Bd (x; "):
Se E e F são subconjuntos de M; de…nimos a distância entre E e F como sendo
d(E; F ) = inffd(x; y); x 2 E e y 2 F g:
Se E possui apenas um ponto, é comum escrever d(x; F ) no lugar de d(fxg; F ): Agora, imitando (1),
de…nimos
Bd (E; ") = fy 2 M ; d(E; y) < "g:
Perceba que com as noções introduzidas acima, podemos dizer que uma função f : M ! N é contínua
em x 2 M se para cada " > 0, existir um > 0 tal que f (Bd (x; )) Bd (f (x); "): Essa observação
e a próxima de…nição de conjunto aberto, nos darão uma caracterização de função contínua que nos
servirá como modelo para a de…nição de função contínua num contexto ainda mais geral.
De…nição 3.6. Um conjunto E num espaço métrico (M; d) é aberto se, e somente se, para cada
x 2 E, existe um " > 0 tal que B(x; ") E: Um conjunto é dito fechado se seu complementar for
aberto.
Exercício 3.7. Mostre que um conjunto F é fechado se, e somente se, sempre que toda bola centrada
em x possuir pontos de F , isso implicar que x 2 F:
Exercício 3.8. Mostre que se F é um subconjunto fechado de um espaço métrico, então, d(x; F ) =
0 , x 2 F.
O seguinte teorema servirá de referência para a de…nição abstrata de conjunto aberto no nosso curso
de Topologia Geral.
6 DANIEL PELLEGRINO
4. Espaços Topológicos
Como dissemos, o Teorema 3.9 da seção anterior será nosso modelo para uma de…nição mais abstrata:
De…nição 4.1. Uma topologia em um conjunto X é uma coleção de subconjuntos de X, chamados
conjuntos abertos, satisfazendo as seguintes propriedades:
a) Qualquer união de elementos de é um elemento de .
b) Qualquer interseção …nita de elementos de pertence a .
c) X e o conjunto vazio pertencem a .
Dizemos que (X; ) é um espaço topológico, que naturalmente abreviaremos para X quando não
houver possibilidade de confusão.
Exercício 4.2. Seja X um conjunto. Seja c a coleção de todos os subconjuntos U de X tais que
X U é enumerável ou é X: Veri…que que c é uma topologia em X.
Exemplo 4.3. Se (M; d) é um espaço métrico, o Teorema 3.9 nos garante que o conjunto formado
pelos abertos de M forma uma topologia em M; chamada topologia métrica d :
Sempre que (X; ) for um espaço topológico e sua topologia for uma topologia métrica d para uma
métrica d em X, dizemos que (X; ) é um espaço topológico metrizável .
Se X é um conjunto qualquer, a coleção de todos os subconjuntos de X; que de agora em diante
será denotada por P(X), é uma topologia em X, chamada topologia discreta. Uma outro topologia
“patológica” é a topologia = fX; g; chamada de topologia trivial.
Exercício 4.4. Mostre que (X; P(X)) é um espaço metrizável.
Exercício 4.5. Mostre que se X tem mais de um elemento, (X; ), com = fX; g; não é metrizável.
Novamente, seguindo o que foi feito na seção anterior, de…nimos:
De…nição 4.6. Se X é um espaço topológico e E X, dizemos que E é fechado se e somente se
X E é aberto.
Aplicando as leis de De Morgan, temos:
5. Vizinhanças
De…nição 5.1. Se X é um espaço topológico e x 2 X, uma vizinhança de x é um conjunto U que
contém um conjunto aberto V; com x 2 V . De forma equivalente, podemos dizer que V é vizinhança
de x se x 2 int(V ):
A coleção Ux de todas as vizinhanças de x é chamada de sistema de vizinhanças de x.
Proposição 5.2. O sistema de vizinhanças de x em um espaço topológico X 6= tem as seguintes
propriedades:
(a) Se U 2 Ux ; então x 2 U:
(b) Se U; V 2 Ux , então U \ V 2 Ux :
(c) Se U 2 Ux , então existe um V 2 Ux , V U , tal que U 2 Uy para cada y 2 V:
(d) Se U 2 Ux e U V X, então V 2 Ux :
(e) G X é aberto se e somente se G contém uma vizinhança de cada um de seus pontos.
Demonstração.
(a) Se U 2 Ux ; então existe V aberto com x 2 V U: Logo x 2 U:
(b) Se U; V 2 Ux , então x 2 int(U ) \ int(V ) = int(U \ V ) e daí segue que U \ V 2 Ux :
(d) Se U 2 Ux e U V X, então x 2 int(U ) int(V ) e daí segue que V 2 Ux :
(c) Como U 2 Ux , é claro que int(U ) 2 Ux : Seja V = int(U ): Logo se y 2 V , temos V 2 Uy : Como
V U , temos U 2 Uy :
(e) Se G é aberto, o próprio G é uma vizinhaça de seus pontos (veja de…nição de vizinhança).
Reciprocamente,
S se para cada x em G existe uma vizinhaça Vx de x, contida em G, temos que
G= int(Vx ).
x2G
Exemplo 5.5. Em qualquer espaço topológico, as vizinhanças abertas de x formam uma base de
vizinhanças em x:
Teorema 5.6. Seja X um espaço topológico e para cada x em X, seja Bx uma base de vizinhanças
em x. Então:
(a) Se V 2 Bx ; então x 2 V:
(b) Se V1 ; V2 2 Bx , então existe um V3 2 Bx tal que V3 V1 \ V2 :
(c) Se V 2 Bx , então existe um V0 2 Bx , V0 V , tal que se y 2 V0 ; então existe um W 2 By com
W V:
(d) G X é aberto se e somente se G contém uma vizinhança básica de cada um de seus pontos.
Demonstração. Fácil. Vamos mostrar (c) e (d).
(c) Seja V 2 Bx : Seja V1 = int(V ) 2 Ux (logo V1 V ). Logo, existe V0 2 Bx com V0 V1 : Se
y 2 V0 V1 (aberto); temos que V1 2 Uy : Logo, existe W 2 By com W V1 V:
A demonstração de (d) também é fácil. Com efeito, se G é aberto, o próprio G é uma vizinhaça de
seus pontos, e existe uma vizinhança básica de cada um de seus pontos, contida em G. Reciprocamente,
S
se para cada x em G existe uma vizinhaça básica Vx de x, contida em G, temos que G = int(Vx ).
x2G
Proposição 5.7. Seja X 6= um conjunto. Para cada ponto x 2 X é associada uma coleção não-vazia
Bx ; de subconjuntos de X; satisfazendo (a),...,(c) do teorema anterior, com
(2) 0 = fG X; para cada x 2 G existe V 2 Bx tal que V Gg
Então 0 é uma topologia em X e cada Bx é uma base de vizinhanças de x:
Demonstração. Para cada x 2 X, considere
(3) Ux = fG X; G V para algum V 2 Bx g :
Note que, pela de…nição acima, temos Bx Ux : Note que cada Ux satisfaz as propriedades (a),...,(d)
da Proposição 5.2.
Vejamos (a). Se G 2 Ux ; então existe V 2 Bx com V G. Como, pelo Teorema 5.6 (a), sabemos
que x 2 V , segue que x 2 G, e obtemos (a) da Proposição 5.2.
Vejamos (b). Se U1 ; U2 2 Ux , então existem B1 ; B2 2 Bx tais que B1 U1 e B2 U2 : Logo, pelo
item (b) do Teorema 5.6, existe B3 2 Bx com B3 B1 \ B2 U1 \ U2 : Logo, por (3) segue que
U1 \ U2 2 Ux e obtemos (b) da Proposição 5.2.
Vejamos (c). Se U 2 Ux ; existe B U; B 2 Bx : Pelo Teorema 5.6 (c), existe B0 2 Bx Ux tal que
B0 B e se y 2 B0 ; então existe By 2 By ; By B U . Logo U 2 Uy para todo y 2 B0 ; e obtemos
(c) da Proposição 5.2.
Vejamos (d). Se G 2 Ux ; então existe V 2 Bx com V G. Logo, se G U , temos ainda V U e
por isso segue que U 2 Ux e obtemos (d) da Proposição 5.2.
Note ainda que (é só fazer igualdade de conjuntos, usando as de…nições (3) e (2)):
0 = fG X; G 2 Ux para cada x 2 Gg :
Pela Proposição 5.3 temos que 0 é uma topologia em X e Ux é o sistema de vizinhanças de x em
(X; 0 ) para cada x 2 X. Pela de…inição de Ux em (3) segue que Bx é uma base de vizinhanças de x
em (X; 0 ) para cada x 2 X.
Teorema 5.8. Seja X um espaço topológico e suponha que uma base de vizinhanças tenha sido …xada
em cada x 2 X. Então
(a) G X é aberto se e somente se G contém uma vizinhança básica de cada um de seus pontos.
(b) F X é fechado se e somente se cada ponto x 2 = F tem uma vizinhança básica disjunta de F .
(c) E = fx 2 X; cada vizinhança básica de x intercepta Eg
(d) int(E) = fx 2 X; alguma vizinhança básica de x está contida em Eg
(e) F r(E) = fx 2 X; cada vizinhança básica de x intercepta E e X Eg:
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 11
Demonstrção.
(a) É a parte (d) do Teorema 5.6.
(b) Conseqüência imediata de (a), se lembrarmos que um conjunto é fechado precisamente quando
seu complementar é aberto.
(c) Lembre que E = \fK X; K é fechado e E Kg: Se alguma vizinhança básica U de x
não intercepta E; então x 2 int(U ) e E X int(U ): Como X int(U ) é fechado, segue que
E X int(U ): Logo x 2 = E: Daí
E fx 2 X; cada vizinhança básica de x intercepta Eg:
Reciprocamente, se x 2 = E; então X E é um conjunto aberto contendo x; e portanto contém uma
vizinhança básica de x. Portanto essa vizinhança básica não pode interceptar E.
(d) Pelo Exercício 4.12 temos
int(E) = X X E
=X fx 2 X; cada vizinhança básica de x intercepta X Eg
= fx 2 X; existe uma vizinhança básica de x que não intercepta X Eg
= fx 2 X; existe uma vizinhança básica de x contida em Eg:
(e)
F r(E) = E \ X E
= fx 2 X; cada vizinhança básica de x intercepta Eg
\fx 2 X; cada vizinhança básica de x intercepta X Eg
= fx 2 X; cada vizinhança básica de x intercepta E e X Eg:
Teorema 5.9 (Critério de Hausdor¤). Para cada x 2 X, seja Bx1 uma base de vizinhanças de x para
uma topologia 1 em X, e seja Bx2 uma base de vizinhanças em x para uma topologia 2 em X. Então
1 1 2 2 2
1 2 se e somente se para cada x 2 X; dado B 2 Bx , existe um B 2 Bx tal que B B1:
1 1 1
Demonstração. Suponha 1 2 : Seja B 2 Bx : Então, como B é vizinhança de x em (X; 1 ), x
1
está contido em algum elemento B de 1 ; com B B . Como 1 2 ; temos que B 2 2 e portanto
B é vizinhança de x em (X; 2 ): Logo existe B 2 2 Bx2 tal que B 2 B e daí B 2 B 1 :
Reciprocamente, se B 2 1 ; então para cada x 2 B, existe B 1 B com B 1 2 Bx1 : Logo, usando a
hipótese, para cada x 2 B; temos que B contém algum B 2 2 Bx2 . Daí B 2 2 :
6. Bases e sub-bases
De…nição 6.1. Seja (X; ) um espaço topológico. Uma coleção B é uma base para (às vezes
dizemos base para X) se dado U 2 , existe C B tal que
[
U= V:
V 2C
Em palavras, todo aberto da topologia pode ser representado como união de abertos da base.
Exercício 6.2. Seja (X; ) um espaço topológico e B : Mostre que B é uma base para X se e
somente se sempre que G é um aberto em X e p 2 G, então existe um B 2 B tal que p 2 B G:
Exemplo 6.3. Na reta real, a coleção de todos os intervalos abertos é uma base para a topologia usual.
Mais geralmente, num espaço métrico M , a coleção de todas as bolas abertas centradas em pontos de
M; é uma base para M .
S Seja X 6=
Teorema 6.4. um conjunto. B P(X) é uma base para uma topologia em X se
(a) X = B e
B2B
(b) sempre que B1 e B2 estão em B, com p 2 B1 \ B2 ; existe um B3 em B tal que
p 2 B3 B1 \ B2 :
S
Nesse caso, a topologia é dada por = B; C B :
B2C
S
Demonstração. Seja = B; C B : Note que X 2 por (a) e 2 , pois é a união de
B2C
elementos da subcoleção vazia de B:
Pela de…nição de S, temos que a S
união de elementos de ainda pertence a :
Note que se U = BeV = C são elementos de de (com B1 B e B2 B); então
B2B1 C2B2
! !
S S S S
U \V = B \ C = (B \ C) :
B2B1 C2B2 B2B1 C2B2
Logo, é uma topologia para X; e, pela de…nição de ; segue que B é uma base para a topologia
em X:
Por outro lado, é fácil ver que se (X; ) é um espaço
S topológico não vazio
Se B é uma base
S para S, (a)
segue claramente, pois X é aberto, e portanto X = B com C B: Mas B X= B B.
B2C B2B B2C B2B
Também obtemos (b) facilmente, pois como B1 e B2 estão em B e p 2 B1 \ B2 ; temos que B1 e B2
são abertos, e portanto B1 \ B2 2 : Assim, temos
S
(4) p 2 B1 \ B2 = B
B2C
S Seja X 6=
Teorema 6.5. um conjunto. Suponha que B P(X) satisfaz
(a) X = B e
B2B
(b) sempre que B1 e B2 estão em B, com p 2 B1 \ B2 ; existe um B3 em B tal que
p 2 B3 B1 \ B2 :
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 13
S
Então B é uma base para uma topologia = B; C B em X: Reciprocamente, se (X; ) é um
B2C
espaço topológico não vazio, e B P(X) é uma base para ; então B satisfaz (a) e (b).
O próximo terorema relaciona a base de uma topologia com bases de vizinhanças de pontos do
espaço topológico.
Teorema 6.6. Seja X 6= um espaço topológico. Se B é uma coleção de abertos em X, B é uma base
para X se e somente se para cada x 2 X, a coleção Bx = fB 2 B; x 2 Bg é uma base de vizinhanças
em x.
Demonstração. Suponha que B é uma base para X. Para cada x em X, considere Bx = fB 2 B; x 2
Bg: É claro que Bx 6= (pois x 2 X 2 e portanto existe B 2 B com x 2 B X) e também é claro
que os elementos de Bx são vizinhanças de x. Seja U uma vizinhança de x. Então x 2 int(U ) e, como
int(U ) é uma união de elementos de B; existe algum B em B tal que x 2 B int(U ): Logo B 2 Bx e
B U . Daí concluímos que Bx é base de vizinhanças em x.
Reciprocamente, suponha que B é uma coleção
S de abertos em X e para cada x, Bx = fB 2 B; x 2 Bg
é uma base de vizinhanças em x. Então B Bx . Seja U um aberto de X. Para cada p em U; existe
x2X S
um elemento Bp de Bp B tal que p 2 Bp U . Logo U = Bp e portanto U é união de elementos
p2U
de B. Daí concluímos que B é base para X.
Podemos também descrever a topologia com uma coleção menor que uma base:
De…nição 6.7. Seja X um conjunto não vazio. Uma sub-base C para uma topologia em X é uma
coleção de subconjuntos de X cuja união é igual a X. A topologia gerada por uma sub-base C é de…nida
como a coleção de…nida por
[ n
\
=f B; S Fg; e com F = f Sj ; n 2 N; Sj 2 Cg
B2S j=1
Exercício 6.10. Leia a observação anterior e considere a de…nição de subbase do livro de S. Willard.
Mostre que nesse contexto qualquer coleção de subconjuntos de um conjunto X é subbase para uma
topologia em X.
\
Exercício 6.11. Se f g é uma família de topologias em X, mostre que é uma topologia em X.
[
Veri…que se, em geral, é uma topologia.
Exercício 6.12. Seja f g uma família de topologias em X: \
(i) Mostre que existe uma única maior topologia contida em (maior topologia signi…ca uma
\
topologia que contém qualquer topologia que está contida ).
14 DANIEL PELLEGRINO
[
(ii) Mostre que existe uma única menor topologia que contém (menor topologia signi…ca que
[ [
está contida em qualquer topologia que contenha ). Sugestão: mostre que se A = ; então
B = f\A2C A; C A e C é …nitog é base para uma topologia que contém A (use o Teorema 6.5). Em
seguida, mostre que qualquer topologia que contém A deve necessariamente conter : Daí, obtenha a
unicidade.
Exercício 6.13. Mostre que se B é uma base para uma topologia em X, então essa topologia coincide
com a interseção de todas as topologias que contém B. Prove o mesmo para uma sub-base.
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 15
7. Funções contínuas
De…nição 7.1. Sejam X e Y espaços topológicos e seja f : X ! Y uma função. Então f é contínua
em x0 2 X se e somente se para cada vizinhança V de f (x0 ) em Y , existir uma vizinhança U de x0
em X tal que f (U ) V: Dizemos que f é contínua em X se f for contínua em cada ponto de X.
Exercício 7.2. Mostre que na de…nição acima podemos trocar “vizinhança” por “vizinhança básica”.
Exercício 7.3. Mostre que na de…nição acima podemos trocar “vizinhança” por “aberto”
O próximo teorema nos dá caracterizações bastante úteis de funções contínuas:
Teorema 7.4. Se X e Y são espaços topológicos e f : X ! Y é uma função, as seguintes a…rmações
são equivalentes:
(a) f é contínua,
(b) para cada aberto H em Y , temos que f 1 (H) é aberto em X,
(c) para cada fechado K em Y , temos que f 1 (K) é fechado em X
(d) para cada E X, f (ClX (E)) ClY (f (E)):
Demonstração.
(a) ) (b). Se H é aberto em Y , então para cada x 2 f 1 (H); H é uma vizinhança de f (x): Pela
continuidade de f , existe uma vizinhança V de x tal que f (V ) H: Logo V f 1 (H): Concluímos
1 1
que f (H) contém uma vizinhança de cada um de seus pontos, e portanto f (H) é aberto.
(b) ) (c). Se K é fechado em Y , então f 1 (Y K) é aberto em X. Então
1 1
f (K) = X f (Y K)
1
e portanto f (K) é fechado em X.
(c) ) (d). Seja K um fechado em Y , com f (E) K. Pela parte (c), temos que f 1 (K) é fechado
em X e contém E. Então ClX (E) f 1 (K): Daí f (ClX (E)) K: Como isso vale para qualquer
conjunto fechado K contendo f (E); temos que
f (ClX (E)) ClY (f (E)):
(d) ) (a): Seja x 2 X e seja V uma vizinhança de f (x): Podemos, se necessário, diminuir V e
considerá-la aberta. De…na E = X f 1 (V ) e U = X ClX (E):
Como, por hipótese, f (ClX (E)) ClY (f (E)); temos que x 2 U . De fato, se fosse x 2
= U , teríamos
x 2 ClX (E) e daí
(5) f (x) 2 f (ClX (E)) ClY (f (E)):
Mas
f (E) = f (X f 1 (V )) Y V
e V é aberto. Daí Y V é fechado e, pela de…nição de fecho, ClY (f (E)) Y V: Como f (x) 2 V ,
temos que f (x) 2
= ClY (f (E)) (isso contradiz (5)). Logo x 2 U:
Além disso, f (U ) = f (X ClX (E)) f (X E) = f (f 1 (V )) V e f é contínua.
Teorema 7.5. Se X; Y e Z são espaços topológicos e f : X ! Y e g : Y ! Z são funções contínuas,
então g f : X ! Z é contínua.
1 1 1
Demonstração. Se H é aberto em Z, (g f ) (H) = f (g (H)) é aberto em X, e portanto g f
é contínua.
Exercício 7.6. A função característica de um subconjunto A de um conjunto X é a função (denotada
por 1A ) de X em R que assume o valor 1 en pontos de A e o valor zero nos outros pontos de X.
Mostre que 1A é contínua em A se e somente se A é aberto e fechado em X.
Exercício 7.7. Mostre que X é possui a topologia discreta ( = P(X)) se e somente se qualquer
f : X ! Y é contínua para qualquer espaço topológico Y .
Exercício 7.8. Mostre que X tem a topologia trivial se e somente se toda função f : Y ! X for
contínua, para qualquer espaço topológico Y .
16 DANIEL PELLEGRINO
Exercício 7.9. Mostre que se f : X ! Y é tal que f 1 (A) é aberto para cada A aberto de uma
sub-base da topologia de Y , então f é contínua. A recíproca vale?
Exercício 7.10. Se f e g são funções contínuas de X em R, mostre que o conjunto dos pontos para
os quais f (x) = g(x) é um conjunto fechado.
Exercício 7.11. Se f é uma função de um espaço topológico X no plano R2 , podemos associar a f as
funções coordenadas f1 e f2 ; cada uma de X em R. Mostre que uma função f : X ! R2 é contínua
se e somente se as suas funções coordenadas são contínuas.
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 17
(f) Exercício.
Exercício 8.5. Seja X um espaço topológico e F X fechado em X. Se F1 F é fechado em F;
mostre que F1 é fechado em X.
18 DANIEL PELLEGRINO
respectivamente. Como A e B são abertos em X, segue que (f j A) 1 (H) e (f j B) 1 (H) são também
abertos em X (veri…que!) Daí f 1 (H) é aberto em X; pois é união de abertos.
O caso em que ambos são fechados …ca como exercício.
Exercício 8.9. Suponha Y Z e f : X ! Y: Mostre que f é contínua se e somente se f vista como
função de X em Z é contínua.
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 19
9. Homeomorfismos
Na passagem de X para sua imagem f (X) por uma função contínua f , perdemos informação de
duas formas. A primeira delas no âmbito de conjuntos: f (X) terá menos pontos que X (precisamente,
card(f (X)) Card(X)). A segunda perda é topológica: para cada aberto de f (X); existe um
aberto em X associado a ele, mas f não leva necessariamente abertos em abertos. Funções contínuas
bijetivas, que levam abertos em abertos tem um papel importante em topologia, e são chamadas de
homeomor…smos. Vamos de…nir, entretanto, homeomor…smo de uma maneira diferente, mas a seguir
veremos que as noções coincidem.
De…nição 9.1. Se X e Y são espaços topológicos, f : X ! Y é contínua , bijetiva e f 1 é contínua,
dizemos que f é um homeomor…smo e que X e Y são homeomorfos.
Se f : X ! Y é injetiva e f : X ! f (X) é um homeomor…smo, dizemos que f é um mergulho
(embedding, em inglês) de X em Y; e que X está mergulhado em Y por f:
O próximo resultado nos deixa à vontade para escolher dentre várias de…nições equivalentes de
homeomor…smos:
Teorema 9.2. Se X e Y são espaços topológicos e f : X ! Y é bijetiva, as seguintes a…rmações são
equivalentes:
(a) f é um homeomor…smo,
(b) se G X, então f (G) é aberto em Y se e somente se G é aberto em X,
(c) se F X, então f (F ) é fechado em Y se e somente se F é fechado em X;
(d) se E X; f (ClX (E)) = ClY (f (E)):
Demonstração.
(a) ) (b). Seja G aberto em X. Então, f (G) coincide com (f 1 ) 1 (G); que é aberto em Y; pois
f 1 é contínua.
Analogamente, se f (G) é aberto em Y , então, como f é contínua, temos que G = f 1 (f (G)) é
aberto em X.
(b) ) (a): Claro, pois se G é aberto em X, então (f 1 ) 1 (G) coincide com f (G), que é aberto em
Y: Daí f 1 é contínua
Analogamente, se H é aberto em Y , então H = f (G) para algum G em X. Por hipótese, como H
é aberto, temos que G é aberto. Daí f 1 (H) = G (aberto), e portanto f é contínua..
(a) ) (c). Seja F fechado em X. Então, f (F ) coincide com (f 1 ) 1 (F ); que é fechado em Y; pois
f 1 é contínua.
Analogamente, se f (F ) é fechado em Y , então, como f é contínua, temos que F = f 1 (f (F )) é
fechado em X.
(c) ) (a). Claro, pois se F é fechado em X, então (f 1 ) 1 (F ) coincide com f (F ), que é fechado
em Y: Daí f 1 é contínua.
Analogamente, se H é fechado em Y , então H = f (G) para algum G em X. Por hipótese, como H
é fechado, temos que G é fechado. Daí f 1 (H) = G (fechado), e portanto f é contínua.
(a) ) (d) Como f é contínua, temos
(6) f (ClX (E)) ClY (f (E)):
1 1 1
Como f é contínua, temos f (ClY (f (E))) ClX (f (f (E))): Daí, “aplicando f ”; temos
(7) ClY (f (E)) f (ClX (E)):
De (6) e (7) segue o resultado.
(d) ) (a). Como f (ClX (E)) ClY (f (E)); temos que f é contínua. Resta-nos provar a continuidade
de f 1 :
Como ClY (f (E)) f (ClX (E)) para todo E; escolha G em Y e E = f 1 (G): Daí segue que
1 1
ClY (f (f (G))) f (ClX (f (G))):
1
Aplicando f , temos
1 1
f (ClY (G)) ClX (f (G))
20 DANIEL PELLEGRINO
1
e portanto f é contínua e temos um homeomor…smo.
Logo
[
1 1
(A) = 1;
(U1 ) \ ::: \ n ;
(Un ) :
Daí concluímos que (A) é X ou (A) é uma união de abertos de X : Em todo caso, (A) é
aberto.
A seguir, introduzimos o conceito de topologia fraca.
De…nição 10.6. Sejam X 6= um conjunto, X espaços topológicos com f : X ! X funções, para
cada 2 : A topologia fraca induzida em X pela coleção ff ; 2 g é a topologia que tem como
sub-base a família ff 1 (V ); V é aberto em X ; 2 g.
Observação
Q 10.7. Note que se fX Qg 2A é uma família de espaços topológicos, a topologia produto
em 2A X é a topologia fraca em 2A X induzida pelas projeções f ; 2 Ag.
Proposição 10.8. Se X tem a topologia fraca induzida pela coleção ff ; 2 g; com f : X ! X ,
então f : Y ! X é contínua se e somente se f f : Y ! X é contínua para cada :
Demonstração. Se f é contínua, como cada f é contínua, é claro que cada f f é contínua.
Reciprocamente, suponha que cada f f seja contínua. Para mostrar que f é contínua, basta mostrar
que f 1 (G) é aberto para cada G aberto da base da topologia fraca em X. Um aberto da base da
topologia fraca de X é representado como
1 1
G=f 1
(V 1 ) \ \f n
(V n ):
Logo,
1 1 1 1
f (G) = f f 1
(V 1 ) \ \f n
(V n
)
1 1
= (f 1
f) (V 1 ) \ \ (f n
f) (V n
);
que é aberto, pois cada ff é contínua, por hipótese.
Q
Corolário 10.9. Uma aplicação f : X ! X é contínua se e somente se f é contínua para
cada :
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 23
Exercício 10.10. (Este exercício requer algum conhecimento de Análise Funcional) A topologia fraca
induzida em X pela coleção de todos os operadores lineares contínuos de X em R tem um papel
importante na Análise Funcional. Sejam X um espaço vetorial normado, X = ff : X ! R operadores
lineares contínuosg e X = ff : X ! R operadores lineares contínuosg. Seja B o conjunto formado
pelas aplicações T : X ! R tais que existe x em X para o qual T (f ) = f (x). A topologia fraca em
X induzida por B é chamada, em Análise Funcional, de topologia fraca estrela. Mostre que a
topologia fraca estrela está contida na topologia fraca em X induzida por X ?
24 DANIEL PELLEGRINO
Demonstração.
(a) Se U X é aberto e xn ! x 2 U; como U é vizinhança de x, existe n0 2 N tal que xn 2 U
para todo n n0 :
Por outro lado, suponha que sempre que xn ! x 2 U; então existe n0 tal que n n0 ) xn 2 U:
Suponha, por contradição, que U não seja aberto. Existe, então, um ponto x 2 U que não é interior.
Dada uma base enumerável de vizinhanças fUn ; n = 1; 2; :::g de x, podemos supor, como no Teorema
26 DANIEL PELLEGRINO
12.6, U1 U2 ::::. Para cada n, existe xn 2 Un U e portanto, xn ! x e não existe n0 tal que tal
que n n0 ) xn 2 U (absurdo).
(b) Seja F X fechado e seja (xn )1
n=1 uma seqüência em F , convergindo para x: Se fosse x 2
= F,
teríamos x 2 X F (aberto). Logo, como xn ! x, existe n0 2 N tal que
n n0 ) xn 2 X F:
Logo xn0 2 F \ (X F ); o que é um absurdo.
Agora, suponhamos que sempre que x 2 X é tal que existe (xn )1n=1 F; com xn ! x; temos x 2 F:
Se y 2 F ; então, pelo Teorema 12.6, existe (yn )1
n=1 F; com y n ! y: Mas, pelo que estamos supondo,
isso implica que y 2 F . Logo F F e segue que F é fechado.
A demonstração de (c) …ca como exercício.
O resultado anterior nos mostra que em espaços que satisfazem o primeiro axioma da
enumerabilidade, a convergência por meios de seqüências caracteriza completamente os abertos e os
fechados, ou seja, descrevem a topologia. É natural que à primeira vista imaginemos que isso acontece
com qualquer espaço topológico, mas o exemplo a seguir mostra que isso em geral não é verdade.
Exemplo 12.8. Considere X = RR = ff : R ! R; f é uma função qualquerg com a topologia produto
e
E = ff 2 RR ; f (x) = 0 ou 1 e f (x) = 0 apenas …nitas vezesg:
R
Seja g 2 R a função identicamente nula. Então, se Ug é uma vizinhança básica de g, temos
Ug = fh 2 RR ; jh(y) g(y)j < " se y 2 F g = fh 2 RR ; jh(y)j < " se y 2 F g
para algum conjunto …nito F R e algum " > 0:
Seja hUg 2 E a função tal que hUg (x) = 0 para x 2 F e 1 para x 2
= F . Temos que hUg 2 Ug \ E:
Portanto, g 2 ClX E. Por outro lado, se (fn )1
n=1 é uma seqüência em E e An = fx 2 R; fn (x) = 0g;
temos que cada An é …nito.
Se fn ! ' 2 RR , vimos anteriormente que fn (x) ! '(x) para todo x 2 R: Logo, como cada fn é
nula num conjunto …nito An e igual a 1 no seu complementar, teremos
1
[
'(x) = 1 para todo x 2
= An :
n=1
Logo ' 6= g: Conclusão: g 2 ClX E e nenhuma seqüência (fn )1
n=1 em E converge para g. Logo, o
Teorema 12.6 não é válido nesse contexto.
Exercício 12.9. Para a reta com a topologia = f ; Rg; estude a convergência da seqüência ( n1 )1
n=1 :
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 27
13. Redes
Vimos na seção anterior que, em geral, seqüências não descrevem bem as topologias. Por exemplo,
o Exemplo 12.8 mostra que não é sempre possível caracterizar os fechados de um espaço topológico
por meio de seqüências. De fato, vimos que podemos encontrar um ponto de acumulação de um
conjunto F X sem que exista uma seqüência (xn ) em F convergindo para esse ponto. Há duas
generalizações clássicas do conceito de seqüência, que consertam essa limitação das seqüências: redes
e …ltros. O conceito de redes originou-se com trabalhos de Moore-Smith e o conceito de …ltros deve-se
a E. Cartan.
De…nição 13.1. Um conjunto é dito conjunto dirigido quando existe uma relação em
satisfazendo:
a) para todo 2 ;
b) se 1 2 e 2 3 ; então 1 3,
c) se 1 ; 2 2 , então existe algum 3 2 tal que 1 3 e 2 3:
Dizemos que a relação é uma direção para o conjunto . Às vezes dizemos que a relação
dirige o conjunto : Note que não se exige a propriedade anti-simétrica, ou seja, se 1 2 e 2 1
não se tem necessariamente que 1 = 2 :
Note se X é um conjunto com mais de um elemento, a relação x y para quaisquer x; y em X;
dirige X, mas não é anti-simétrica.
De…nição 13.2. Uma rede em um conjunto X é uma função P : ! X, onde é um conjunto
dirigido. O ponto P ( ) é usualmente denotado por x , e nós usualmente escrevemos “ a rede (x ) 2 ”
se isso não causar confusão.
De…nição 13.3. Uma subrede de uma rede P : ! X é a composição P ' : M ! X, onde
' : M ! é uma função de um conjunto dirigido M em ; que satisfaz as seguintes propriedades:
a) '( 1 ) '( 2 ) sempre que 1 2 (' é crescente)
b) para cada em , existe um 2 M tal que '( ) (' é co…nal em ).
Para 2 M , o ponto P '( ) é em geral escrito como x ; e escrevemos “a subrede (x ) de (x )”.
A de…nição de convergência em redes é naturalmente modelada pela de…nição de convergência em
seqüências:
De…nição 13.4. Seja (x ) 2 uma rede em um espaço topológico X. Dizemos que (x ) converge
para x 2 X (escrevemos x ! x) se para cada vizinhança U de x, existir algum 0 2 tal que 0
implica x 2 U . Logo, x ! x se e somente se cada vizinhança de x tem um "rabo"de (x ):
Dizemos que uma rede (x ) está em um conjunto A se x 2 A para todo : Se existe 0 2 tal que
x está em A para todo 0 ; dizemos que (x ) está residualmente em A. Quando para cada 0
existe um 0 tal que x 2 A; dizemos que (x ) está frequentemente em A. Quando (x ) está
frequentemente em cada vizinhança de x, dizemos que x é ponto de acumulação da rede (x ):
Note que em ambas as de…nições acima podemos nos restringir a uma base de vizinhanças de x.
Exercício 13.5. Uma rede não pode estar residualmente em dois conjuntos disjuntos.
Exercício 13.6. Se uma rede (x ) converge para x, mostre que x é ponto de acumulação dessa rede.
Exemplo 13.7. Seja X um espaço topológico, x 2 X e uma base de vizinhanças de x em X. A
relação de ordem U1 U2 , U2 U1 dirige o conjunto . Portanto, se tomarmos um xU 2 U
para cada U 2 ; temos uma rede (xU ) em X: Note que xU ! x: De fato, dada uma vizinhança V
de x, podemos encontrar U0 V para algum U0 em : Então U U0 implica U U0 e portanto
xU 2 U V:
Exemplo 13.8. O conjunto N dos naturais positivos com sua ordem natural é um conjunto dirigido.
Então toda seqüência (xn )1
n=1 é uma rede.
Note que toda subseqüência de uma seqüência (xn )1
n=1 é uma subrede. Entretanto, não há garantia
de que uma subrede de (xn )1n=1 seja uma subseqüência. Uma subrede pode ter mais índices que a
própria rede!
28 DANIEL PELLEGRINO
Exemplo 13.9. A coleção P de todas as partições …nitas do intervalo fechado [a; b] em subintervalos
fechados é um conjunto dirigido, quando munido da relação A1 A2 , (A2 re…na A1 ): Então, se
f é uma função de [a; b] tomando valores na reta real, podemos de…nir a rede PI : P ! R de…nindo
PI (A) como a soma inferior de Riemann de f na partição A. De modo semelhante, podemos de…nir
PS : P ! R como a soma superior de Riemann de f na partição A. A convergência dessas duas redes
Rb
para um número c signi…ca que f (x)dx = c:
a
Exemplo 13.10. Seja (M; ) um espaço métrico, com x0 2 M . Então M fx0 g é um conjunto
dirigido se considerarmos a relação x < y , (y; x0 ) < (x; x0 ): Então se f : M ! N é uma função
com N sendo um espaço métrico, a restrição de f a M fx0 g é uma rede em N . Vamos veri…car que
essa rede converge a z0 em N se e somente se limx!x0 f (x) = z0 no sentido usual.
De fato, suponha que a rede converge para z0 : Seja U uma vizinhança de z0 em N . Então, como
a rede converge para z0 ; existe y0 em M tal que x > y0 implica f (x) 2 U: Em outras palavras,
(x; x0 ) < (y0 ; x0 ) implica f (x) 2 U: Daí, limx!x0 f (x) = z0 :
Reciprocamente, se limx!x0 f (x) = z0 , então dada uma vizinhança U de z0 , existe uma vizinhança
V de x0 tal que x 2 V implica f (x) 2 U . Escolha " (su…cientemente pequeno) de modo que a bola de
centro x0 e raio " esteja em V . Escolha y0 nessa bola. Logo, se x > y0 , então (x; x0 ) < (y0 ; x0 ) e
portanto x 2 V e f (x) 2 U: Consequentemente, a rede f : M ! N converge para z0 :
De…nição 13.11. Dizemos que um espaço topológico X é um espaço de Hausdor¤ se para cada
x1 e x2 ; elementos distintos de X, existem abertos disjuntos que separam x1 e x2 .
Teorema 13.12. Um espaço topológico é um espaço de Hausdor¤ se e somente se toda rede nesse
espaço converge para no máximo um ponto.
Demonstração. Seja X um espaço de Hausdor¤ e a1 ; a2 elementos distintos em X. Existem,
portanto, abertos U1 e U2 ; disjuntos, contendo x1 e x2 , respectivamente. Como uma rede não pode
estar eventualmente em dois conjuntos disjuntos, segue que uma rede não pode convergir para dois
valores distintos.
Reciprocamente, suponha que X não é Hausdor¤. Existem, portanto, dois elementos distintos, x1
e x2 em X tais que sempre que V1 é vizinhança de x1 e V2 é vizinhança de x2 ; temos que V1 \ V2 6= .
Sejam U1 e U2 as famílias de vizinhanças de x1 e x2 ; respectivamente. No conjunto U1 U2 consideramos
a direção (V1 ; V2 ) (W1 ; W2 ) , V1 W 1 e V2 W2 : Considere uma rede P : U1 U2 ! X dada
por P (V1 ; V2 ) = xV1 ;V2 , onde xV1 ;V2 é escolhido em V1 \ V2 : Mostraremos que essa rede converge para
x1 e para x2 : Sejam, portanto, dadas vizinhanças V1 de x1 e V2 de x2 : Então (A; B) (V1 ; V2 ), temos
xA;B 2 A \ B V1 \ V2 e consequentemente a rede converge para os dois valores.
Exercício 13.13. Se um espaço é Hausdor¤ , mostre que toda seqüência converge para, no máximo,
um ponto.
Exercício 13.14. Se toda seqüência em um espaço topológico converge para no máximo um elemento,
podemos concluir que ele é Hausdor¤ ? Justi…que.
Sugestão. Pense no Exercício 4.2 com X = R.
Exercício 13.15. Mostre que se (x ) converge para x, cada subrede de (x ) converge para x.
Teorema 13.16. Uma rede em X tem um ponto de acumulação y se e somente se ela possui uma
subrede que converge para y.
Demonstração. Seja y um ponto de acumulação da rede (x ) 2 (que também denotaremos por
P : ! X): De…na
M = f( ; U ); 2 ; U é uma vizinhança de y tal que x 2 U g;
e considere a relação como segue:
( 1 ; U1 ) ( 2 ; U2 ) , 1 2 e U2 U1 :
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 29
Note que é uma direção para M: De…na ' : M ! por '( ; U ) = . Então ' é obviamente
crescente e co…nal em ; e portanto de…ne uma subrede de (x ). Seja U0 uma vizinhança de y e seja
0 tal que x 0 2 U0 : Então ( 0 ; U0 ) 2 M e
( ; U) ( 0 ; U0 ) )U U0 :
Logo ( ; U ) ( 0 ; U0 ) )x 2U U0 : Daí a subrede de…nida por P ' : M ! X converge para y.
Para provar a outra implicação, suponha que ' : M ! seja uma aplicação crescente e co…nal,
dando origem a uma subrede P ' : M ! X de (x ) que converge para y. Então, para cada vizinhança
U de y; existe um mU 2 M tal que m mU implica P '(m) 2 U:
Sejam U uma vizinhança de y e 0 2 …xos, arbitrários. Como '(M ) é co…nal em ; existe
m0 2 M tal que '(m0 ) 0 : Mas, também existe um mU 2 M tal que m mU implica P '(m) 2 U:
Escolha m 2 M tal que m m0 e m mU : Então = '(m ) '(m0 ) 0 : Assim
P ( ) = P '(m ) 2 U; pois m mU : Logo, para qualquer vizinhança U de y e qualquer 0 2 ,
existe algum 0 tal que x 2 U: Segue que y é um ponto de acumulação de (x ).
Corolário 13.17. Se uma subrede de (x ) tem y como ponto de acumulação, então (x ) também.
Demonstração. Basta observar que uma subrede de uma subrede é ainda uma subrede, e aplicar o
teorema anterior.
O próximo resultado caracteriza o fecho de um conjunto com a noção de redes:
Teorema 13.18. Se E X, então x 2 E se e somente se existe uma rede (x ) em E com x ! x.
Demonstração. Se x 2 E, então cada vizinhança U de x intercepta E em pelo menos um ponto xU :
Então (xU ) é uma rede contida em E convergindo para x (veja 13.7).
Reciprocamente, se (x ) é uma rede contida em E que converge para x, então cada vizinhança de
y intercepta E (em um rabo de (x )) e portanto x 2 E.
Corolário 13.19. Um subconjunto F de um espaço topológico X é fechado se e somente se sempre
que (x ) F com x ! x, então x 2 F:
Demonstração. ()) Suponha F fechado. Suponha ainda que (x ) seja uma rede em F que converge
para x. Logo, pelo Teorema 13.18, temos que x 2 F : Como F é fechado, temos F = F e portanto
x 2 F:
(() Suponha que sempre que (x ) seja uma rede em F que converge para x; tenhamos x 2 F . Se
x 2 F , pelo Teorema 13.18, existe uma rede que converge para x. Usando a hipótese,segue que x 2 F .
Logo F = F .
Exercício 13.20. Seja f : X ! Y uma função. Mostre que f é contínua em um ponto x0 2 X se e
somente se
x ! x0 ) f (x ) ! f (x0 ):
Exercício 13.21. Se f : X ! Y é uma função contínua e A e B são abertos em X e Y ,
respectivamente, com f (A) B, mostre que f (A) B:
Y
Teorema 13.22. Uma rede (x ) 2 no espaço produto X = X converge para y se e somente se
2A
para cada 2 A; (x ) !
(y) em X :
Y
Demonstração. Se x ! y em X ; então, como é contínua, (x ) ! (y) para cada 2 A:
2A
Por outro lado, suponha que (x ) ! (y) para cada 2 A: Seja
1 1
1
(U 1 ) \ ::: \ n
(U n
)
uma vizinhança básica de y no espaço produto (note que U i é vizinhança de i (y); essa caracterização
de vizinhanças básicas é uma adaptação de ). Como, em particular, i (x ) ! i (y); para cada
i = 1; :::; n; existe um i tal que
i ) i
(x ) 2 U i :
30 DANIEL PELLEGRINO
para U existe um certo 1 tal que apenas um dos itens abaixo ocorre:
(i) 1 ) x 2 U ou
(ii) 1 )x 2X U:
Como sabemos que existe algum 1 tal que x 2 U , segue que vale (i) e portanto x ! x:
Teorema 13.25. Se (x ) é uma ultrarede em X e f : X ! Y , então (f (x )) é uma ultrarede em Y .
Demonstração. Seja A Y: Pela de…nição de ultrarede, temos que (x ) está residualmente em
f 1 (A) ou em X f 1 (A) = f 1 (Y A). Portanto, (f (x )) está residualmente em A ou em Y A;
e consequentemente é uma ultrarede.
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 31
14. Filtros
Uma outra forma de se estudar convergência em espaços topológicos é através do conceito de …ltros.
De…nição 14.1. Um …ltro F em um conjunto X é uma coleção não-vazia contida em P(X) tal que
a) 2 = F,
b) se F1 e F2 são elementos de F, então F1 \ F2 2 F,
c) se F 2 F e F G, então G 2 F.
Uma subcoleção F0 F é uma base para o …ltro F se para cada F 2 F, existir F0 2 F0 com
F0 F:
Observação 14.2. Note que do item (c), concluímos que X 2 F.
Proposição 14.3. Uma coleção qualquer C de subconjuntos não-vazios de X é uma base para algum
…ltro de X se sempre que C1 ; C2 2 C, existir C3 2 C com C3 C1 \ C2 .
Demonstração. Seja F = fF X; F C para algum C 2 Cg: Temos que 2 = F, e se F1 e F2
são elementos de F, então existem C1 e C2 em C tais que C1 F1 e C2 F2 : Logo C1 \ C2 2 C e
C1 \ C2 F1 \ F2 : Logo F1 \ F2 2 F. Finalmente, como o item (c) da de…nição de …ltro é obviamente
válido para F, segue que F é um …ltro.
Exemplo 14.4. Note que se X é um espaço topológico e x 2 X, o conjunto das vizinhanças de x,
denotado por Ux ; é um …ltro em X. Além disso, qualquer base de vizinhanças de x é uma base para o
…ltro Ux : Esse …ltro será chamada de …ltro de vizinhanças de x.
Observação 14.5. Note que as condições (a) e (b) nos restringem bastante a “quantidade de
elementos” dos …ltros, pois como 2 = F, o item (b) nos diz que se F1 \ F2 = , então pelo menos um
desses conjuntos não pertence a F.
De…nição 14.6. Um …ltro F em um espaço topológico X converge para x se Ux F (notação
F ! x).
Exemplo 14.7. Considere X = fa; b; cg com a topologia = f ; fa; bg; Xg: O conjunto
F = ffag; fa; bg; fa; cg; Xg
é um …ltro em X. Além disso, perceba que F ! a, pois Ua = ffa; bg; Xg:
De…nição 14.8. Um …ltro F é um ultra…ltro se não existe nenhum outro …ltro que o contenha
estritamente.
Exemplo 14.9. O …ltro F do Exemplo 14.7 é um ultra…ltro.
Observação 14.10. Perceba que num …ltro (ou ultra…ltro) F não podemos ter ao mesmo tempo E 2 F
e X E 2 F, pois se isso ocorresse, teríamos = E \ (X E) 2 F.
Teorema 14.11. Um …ltro F é um ultra…ltro se e somente se para cada E X tivermos E 2 F ou
X E 2 F.
Demonstração. Sejam F um ultra…ltro e E X. Se existir F0 2 F tal que F0 \ E = então
F0 (X E) e portanto X E 2 F:
Caso contrário,
(10) F \ E 6= para todo F 2 F.
Suponhamos, portanto, que vale (10). Pela Proposição 14.3, o conjunto C = fF \E; F 2 Fg é uma base
para um …ltro G. De fato, se F1 \E e F2 \E pertencem a C, então (F1 \ E)\(F2 \ E) = (F1 \F2 )\E 2 C.
Mas, esse …ltro G contém E (pois E = X \ E): Além disso, F G. Com efeito, se F 2 F, então,
por hipótese, F \ E 2 C G e, como F \ E F; segue que F 2 G.
Como F é um ultra…ltro, segue que E 2 F.
Agora vamos supor que F é um …ltro tal que para cada E X temos E 2 F ou X E 2 F. Se
G é um …ltro que contém estritamente F, então existe A 2 G F. Mas, nesse caso X A 2 F G
(absurdo, pois tanto A como seu complementar estarão em G). Logo F é ultra…ltro.
32 DANIEL PELLEGRINO
As noções de …ltro e rede têm uma relação muito forte. Rigorosamente, tudo que puder ser provado
ou enunciado usando-se redes, poderá ser paralelamente provado ou enunciado usando-se …ltros, e
vice-versa. Entretanto, em determinadas ocasiões um ou outro conceito pode parecer mais natural,
e assim é interessante conhecer um pouco de ambos. A seguinte de…nição e os próximos exercícios
deixam claro como fazer a ligação formal entre esses dois conceitos:
De…nição 14.13. Se (x ) 2 é uma rede em X, o …ltro gerado pela base C formada pelos conjuntos
B 0 = fx ; 0 g; 0 2 ; é chamado …ltro gerado por (x ) 2 .
Se F é um …ltro em X, seja F = f(x; F ); x 2 F 2 Fg: Então F é um conjunto dirigido pela
relação
(x1 ; F1 ) (x2 ; F2 ) , F2 F1
e a aplicação P : F ! X dada por P (x; F ) = x é uma rede em X, chamada de rede gerada por F.
Exercício 14.14. Um …ltro F, em um espaço topológico X, converge para x 2 X se e somente se a
rede gerada por F converge para x:
Exercício 14.15. Uma rede (x ), em um espaço topológico X, converge para x 2 X se e somente se
o …ltro gerado por ela converge para x.
O seguinte resultado nos será útil no decorrer do curso:
Proposição 14.16. A rede gerada por um ultra…ltro é uma ultrarede.
Demonstração. Seja F um ultra…ltro. Então, seja P : F ! X a rede gerada por F.
Seja E X. Como F é ultra…ltro, temos que E 2 F ou X E 2 F. No primeiro caso,
se (y; F ) (x; E), temos P (y; F ) = y 2 F E e consequentemente a rede P : F ! X está
residualmente em E.
No segundo caso, se (y; F ) (x; X E), temos P (y; F ) = y 2 F X E e consequentemente a
rede P : F ! X está residualmente em X E. Logo, a rede P : F ! X é uma ultrarede.
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 33
16. Espaços T0 ; T1 ; T2 e T3
Agora vamos restringir nosso estudo a alguns tipos especiais de espaços topológicos. As topologias
mais interessantes, de alguma forma separam pontos através de abertos. Nessa direção, vamos de…nir
espaços T0 ; T1 ; T2 e T3 :
De…nição 16.1. Um espaço topológico X é dito um espaço T0 (ou a topologia de X é T0 ) quando
para quaisquer pontos x e y, distintos, existe um aberto que contém um dos pontos e não contém o
outro. Dizemos ainda que um espaço topológico X é um espaço T1 (ou a topologia de X é T1 ) quando
para quaisquer pontos x e y, distintos, existe uma vizinhança de cada um dos pontos que não contém o
outro. Por …m, lembremos que um espaço topológico X é um espaço de Hausdor¤ se para cada x1
e x2 ; elementos distintos de X, existem abertos disjuntos que separam x1 e x2 . Espaços de Hausdor¤
também são chamados de espaços T2 :
É claro que todo espaço T1 é também T0 (é óbvio também que, na de…nição de espaço T0 , podemos
trocar o aberto por uma vizinhança do ponto): Entretanto, a recíproca não vale, pois X = fa; bg com
a topologia = f ; fag; Xg em X é um espaço T0 mas não é um espaço T1 :
Exercício 16.2. Mostre que uma pseudométrica é uma métrica se e somente se a topologia gerada
por ela é T0 :
Exercício 16.3. Um espaço topológico é um espaço T1 se e somente se cada ponto é fechado.
De…nição 16.4. Um espaço topológico é dito regular se sempre que F é fechado e x 2
= F , existem
abertos disjuntos U e V com x 2 U e F V:
Exercício 16.5. Dê exemplo de um espaço regular que não é Hausdor¤ .
Como a intenção da de…nição de espaços regulares é, de certa forma, re…nar os conceitos de espaços
T1 e T2 (Hausdor¤), dizemos que um espaço T1 que também é regular, é um espaço T3 : Como em
espaços T1 ; os conjuntos unitários são fechados, temos que todo espaço T3 é Hausdor¤.
Temos então
T0 T1 T2 := Hausdor¤ T3 := T1 + regular.
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 35
Note que, intuitivamente, quanto menos abertos possui uma topologia, mais fácil é para se encontrar
compactos. Podemos destacar dois extremos:
Em uma topologia com uma quantidade …nita de abertos, todo conjunto é compacto. Por outro lado,
para um conjunto X munido da topologia = P(X); temos que um subconjunto de X é compacto se
e somente se tem uma quantidade …nita de elementos.
Conjuntos compactos têm propriedades especiais em espaços de Hausdor¤. Um resultado importante
é o seguinte:
Teorema 17.2. Se X é um espaço de Hausdor¤ K é um compacto que não contém um ponto x 2 X,
então existem abertos disjuntos que os separam.
Demonstração. Como X é Hausdor¤, para cada y 2 K; existem [ abertos disjuntos Ax;y e By ;
contendo x e y; respectivamente, que separam x e y: Assim, temos K By e, como K é compacto,
y2K
existem y1 ; :::; yn em K tais que
n
[
K B yj :
j=1
n
\ n
\ n
[
É claro que x 2 Ax;yj e que Ax;yj e Byj são abertos e disjuntos, e a demonstração está
j=1 j=1 j=1
concluída.
Exercício 17.5. Dê exemplo de um compacto que não é fechado. Sugestão: Pense num espaço
topológico com uma quantidade …nita de abertos.
Exercício 17.6. Mostre que se Z é um espaço topológico, X é fechado em Z, Y é compacto em Z e
X Y; então X é compacto em Z.
Exercício 17.7. Exiba um espaço topológico X que não é Hausdor¤ , mas todo compacto em X é
fechado. Sugestão: Considere a reta com a topologia do Exemplo 4.2.
Exercício 17.8. Seja X um espaço topológico e B X um subespaço. Mostre que A B é compacto
em B se e somente se A é compacto em X. Em particular, fazendo A = B, segue que A é compacto
em X se, e somente se, A, pensado com espaço topológico, é compacto.
Exercício 17.9. Mostre que se f : X ! Y é contínua e K é compacto em X, então f (K) é compacto
em Y .
Exercício 17.10. Mostre que “ser compacto” é uma propriedade topológica.
36 DANIEL PELLEGRINO
Exercício 17.11. Lembre que em teoria de conjuntos, o Teorema de Cantor-Bernstein a…rma que se
A e B são conjuntos e existem funções injetivas f : A ! B e g : B ! A, então existe uma bijeção
entre A e B. Para espaços topológicos, o análogo seria:
“Se X pode ser mergulhado em Y e Y pode ser mergulhado em X, então X e Y são homeomorfos”.
Encontre um contra-exemplo. Sugestão: Use [0; 1] e R.
De…nição 17.12. Uma família E de subconjuntos de X tem a propriedade da interseção …nita
se a interseção de qualquer subcoleção …nita de E é não-vazia.
Os conceitos de rede e de conjuntos com a propriedade da interseção …nita caracterizam conjuntos
compactos da seguinte forma:
Teorema 17.13. (Caracterizações de compactos) Para um espaço topológico X, as seguintes
a…rmações são equivalentes:
(a) X é compacto,
(b) cada família E de subconjuntos fechados de X com a propriedade da interseção …nita tem
interseção não-vazia,
(c) cada rede em X tem um ponto de acumulação,
(d) cada ultrarede em X converge.
(e) cada ultra…ltro em X converege.
Demonstração.
(a))(b). Se fE ; 2 Ag é uma família de conjuntos fechados de X com interseção vazia, então
fX E ; 2 Ag é uma cobertura aberta de X. Com efeito,
[ \
(X E ) = X E = X:
2A 2A
n
[ n
\
Como X é compacto, temos que existem 1 ; :::; n tais que X = (X E i) = X E i : Logo
i=1 i=1
n
\
E i
= , e fE ; 2 Ag não tem a propriedade da interseção …nita.
i=1
(b))(c). Seja (x ) 2 uma rede em X. Considere a família de fechados
n o
fx ; 0g :
02
X (A1 [ ::: [ An ) 6= para cada coleção …nita de abertos fA1 ; :::; An g em U. Fazendo uso da
Proposição 14.3, temos que a família de conjuntos
fX (A1 [ ::: [ An ); n 2 N e Aj 2 U, j = 1; :::; ng
forma uma base para um …ltro F: Como todo …ltro está contido num ultra…ltro (veja Teorema 14.12),
segue que existe um ultra…ltro G que contém F. Mas, já sabemos que todo ultra…ltro em X converge.
Assim, existe x 2 X tal que G ! x. Como os abertos de U cobrem X, existe um aberto U 2 U
contendo x. Como U é vizinhança de x, e como G ! x, segue que U 2 G. Por construção, temos que
X U 2 F G. Assim, U 2 = G (contradição). Logo X é compacto.
B Y
Exercício 17.14. Se A B Y , então A A :
B
Solução. Suponha b 2 A B: Seja V um aberto (de Y ) contendo b: Então V \ B é aberto de B
B Y
contendo b. Como b 2 A , existe c 2 (V \ B) \ A: Logo c 2 V \ A e concluímos que b 2 A :
Exercício 17.15. Se A B Y e A é fechado em Y; mostre que A é fechado em B.
Solução. Note que
B (Exercício anterior) Y
A A A =A
B
e portanto A = A :
Exercício 17.16. Se A B Y , A é fechado em Y e B é compacto em Y , mostre que A é compacto
em Y .
Solução. Basta mostrar que A (com a topologia induzida) é um espaço topológico compacto.
Como A é fechado em Y , segue (de exercício anterior) que A é fechado em B. Como B é compacto
em Y , B é um espaço topológico compacto. Logo, basta mostrar que todo subespaço fechado de um
espaço topológico compacto, é compacto (mas isso já foi mostrado no Exercício 17.6.
17.1. O Teorema de Tychono¤. O Teorema de Tychono¤, que veremos a seguir, é um resultado
central da topologia e, curiosamente, é equivalente ao Axioma da Escolha (mas essa equivalência não
será demonstrada nesse curso). A demonstração do Teorema de Tychono¤, abaixo, pode parecer direta,
mas perceba que nela serão usadas as caracterizações de compactos do Teorema 17.13, que fazem uso
do Lema de Zorn!
Assim, para cada 2 , temos que ( (x )) 2 converge para (z0 ). Finalmente, o Teorema 13.22
garante que (x ) 2 converge para z0 e o Teorema 17.13, que caracteriza compactos, garante que Y0
é compacto:
38 DANIEL PELLEGRINO
isto é,
'i (x) ! f (x) 8x 2 E:
Segue claramente que f é linear. Além disso, como, para cada i e cada x; temos k'i (x)k kxk ; segue
que kf (x)k kxk e kf k 1: Logo f = (f ) 2 BE 0 :
40 DANIEL PELLEGRINO
Se for f (a) = 0; colocamos W = X: Se for f (a) > 0; então, como D é denso em I, existem r; s 2 D
tais que f (a) " < r < s < f (a): Logo U r Us : Seja W = X U r : Como f (a) > s, temos, por (i),
a2= Us e portanto a 2 = U r e a 2 W . Além disso, se x 2 W , temos x 2
= Ur e assim
f (a) "<r f (x):
Portanto, W é uma vizinhança aberta de a tal que x 2 W implica f (a) " < f (x):
Proposição 19.3. (Lema de Urysohn). Um espaço topológico X é normal se e somente se para
quaisquer subconjuntos F1 e F2 fechados de X, com F1 \ F2 = , existe uma função contínua
S : X ! [0; 1] tal que S(F1 ) = f0g e S(F2 ) = f1g.
Demonstração. Suponha que X seja normal e que F1 e F2 ; disjuntos, sejam subconjuntos fechados
de X. Como X é normal (pelo Lema 19.1), existe um aberto U1=2 tal que
F1 U1=2 U 1=2 e U 1=2 \ F2 = :
Agora, F1 e X U1=2 são fechados e disjuntos, assim como U1=2 e F2 : Então, existem abertos U1=4 e
U3=4 tais que
F1 U1=4 U 1=4 U1=2 U 1=2 U3=4 U 3=4
e
U 3=4 \ F2 = :
Agora suponha que tenhamos os conjuntos Uk=2n ; k = 1; :::; 2n 1 de…nidos de modo que
F1 U1=2n ; :::; U k 1=2n Uk=2n ; :::; U 2n 1=2n \ F2 = :
Podemos continuar o processo e obter conjuntos Uk=2n+1 , k = 1; ::::; 2n+1 1 com as mesmas
propriedades. Por indução, para cada racional da forma r = k=2n ; com k = 1; :::; 2n 1; temos
um aberto Ur tal que
a) F1 Ur e U r \ F2 = para cada r,
b) U r Us para cada s > r
Agora, de…na S : X ! [0; 1] como segue:
[
S(x) = 1 se x 2
= Ur
r
S(x) = inffr; x 2 Ur g; caso contrário.
Temos que S(F1 ) = f0g e S(F2 ) = f1g: Pelo Lema 19.2, S é contínua.
Reciprocamente, suponha que para quaisquer subconjuntos F1 e F2 fechados de X, com F1 \F2 = ,
exista uma função S : X ! [0; 1] tal que S(F1 ) = f0g e S(F2 ) = f1g. Então S 1 ([0; 1=2)) e S 1 (1=2; 1])
são abertos disjuntos que contém F1 e F2 , respectivamente, e assim X é um espaço normal.
Exercício 19.4. Sejam a < b números reais. Mostre a seguinte versão (mais geral) do Lema de
Urysohn: Um espaço topológico X é normal se e somente se para quaisquer subconjuntos F1 e F2
fechados de X, com F1 \ F2 = , existe uma função S : X ! [a; b] tal que S(F1 ) = fag e S(F2 ) = fbg.
Outra maneira de caracterizar espaços normais é através de extensões de funções contínuas.
Teorema 19.5. (Teorema da extensão de Tietze) X é um espaço normal se e somente se sempre
que F é um subconjunto fechado de X e f : F ! R é contínua, existe uma extensão contínua de f
para X.
a a
De…na F1 = fx 2 F ; f (x) 3 g e G1 = fx 2 F ; f (x) 3 g: Note que esses dois conjuntos são
disjuntos e fechados em X (use o Teorema 8.5).
Pelo Lema de Urysohn, existe '1 : X ! [ a=3; a=3] tal que '1 (F1 ) = f a=3g e '1 (G1 ) = fa=3g:
Daí, para cada x em F , temos
a
(12) jf (x) '1 (x)j a = 2a=3;
3
pois se f (x) a=3, temos '1 (x) = a=3; e se f (x) a=3; temos '1 (x) = a=3. Além disso, se
a=3 f (x) a=3; temos obviamente (12).
Considere agora
f '1 : F ! [ 2a=3; 2a=3]:
2a
Com o mesmo raciocínio, de…nimos F2 = fx 2 F ; f (x) '1 (x) 9 g e G2 = fx 2 F ; f (x) '1 (x)
2a 1 2a 1 2a
9 g e encontramos '2 : X ! [ 3 3 ; 3 3 ] tal que
2a 2a 2 2a
j(f (x) '1 (x)) '2 (x)j =
3 9 3 3
para todo x 2 F .
1 2 n 1
Prosseguindo assim, encontramos 'n : X ! [ 3(3) a; 13 ( 23 )n 1 a] tal que
n
X n
2
f (x) 'j (x) a
j=1
3
1
X
para todo x 2 F . Seja 'n : X ! [ a; a] dada por '(x) = 'j (x): Note que a imagem de ' está de
j=1
fato no conjunto [ a; a]; pois
1
X 1
X 1
X n 1
1 2
'j (x) j'j (x)j = a = a:
j=1 j=1 j=1
3 3
n
X n
2
f (x) 'j (x) a
j=1
3
Para provar que ' é a extensão desejada, resta provar que ' é contínua.
Seja x0 2 X e " > 0. Escolha N > 0 tal que
1
X n
2 "
a< :
3 2
n=N +1
Como cada 'i é contínua, para i = 1; :::; N , escolha Ui aberto em X tal que
"
x 2 Ui ) j'i (x0 ) 'i (x)j < :
2N
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 43
1
Se A X é aberto, então (A ) = A \ X: Mas, como A = A [ f!g ou A = A, com A
1
aberto em X, segue que (A ) é aberto em X e é contínua. Além disso, como os abertos
de X também são abertos de X , segue que leva abertos em abertos.
Vejamos agora que X é compacto. Dada uma cobertura aberta (C ) de X ; é claro que ! pertence
a algum C 0 : Temos então que C 0 = A [ f!g com X A compacto. Assim, os outros C , com 6= 0
formam uma cobertura aberta de X A:
De fato, [ [
X A=X C 0 X C 0 C C 0 C :
6= 0
Logo, para sermos bastante precisos, como não sabemos a priori se algum dos C contém f!g,
podemos fazer [
X A (C f!g)
6= 0
e, portanto,
X = C 0 [ C 1 [ ::: [ C n :
Assim, concluímos que X é compacto.
A demonstração de que (X) é denso em X é fácil e …ca como exercício.
Finalmente, resta-nos provar que X é um espaço de Hausdor¤. Sejam x; y 2 X . Se forem ambos
diferentes de !, como X é Hausdor¤, existem abertos de X que separam x e y. Como os abertos
de X também são abertos de X , segue que x; y podem ser separados por abertos disjuntos de X .
Provemos agora que x 2 X pode ser separado de ! por abertos disjuntos. Como X é localmente
compacto, existe uma vizinhança compacta de x, denotada por V: Como X é Hausdor¤, segue que V
é fechada e portanto A := (X V ) [ fwg é um aberto de X : Escolhendo um aberto B (de X), que
contém x e está contido na vizinhança V , segue que A e B são os abertos de X que separam x e !.
Exercício 20.3. Complete a demonstração do teorema anterior, mostrando que (X) é denso em X :
46 DANIEL PELLEGRINO
com If = I para cada f . O seguinte resultado garante que o “cubo”I C(X;I) é um espaço de Hausdor¤.
Q
Proposição 21.9. O produto cartesiano X = 2 X é um espaço de Hausdor¤ se, e somente se,
cada fator X é um espaço de Hausdor¤ .
Demonstração. Suponha inicialmente que cada X é um espaço de Hausdor¤. Para f ,g distintos
em X, existe um 0 tal que f ( 0 ) 6= g( 0 ): Sejam U e V vizinhanças disjuntas de f ( 0 ) e g( 0 );
respectivamente, em X 0 : Então 01 (U ) e 01 (V ) são vizinhanças de f e g em X, com interseção
vazia. Portanto, X é um espaço de Hausdor¤.
Reciprocamente, suponha que X é um espaço de Haudor¤. Dado qualquer índice 0 , escolha f 2 X
e considere
F = fg 2 X; g( ) = f ( ) para todo 6= 0 g:
Se 0 : X ! X 0 é a projeção, note que 0 (F ) = X 0 é homeomorfo a F . De fato, seja
F; 0 : F ! X 0 a restrição de 0
a F . É fácil ver que F; 0 é bijetiva. Como 0 é contínua,
segue que F; 0 é contínua e, como 0 é aberta, podemos provar que F; 0 é aberta. Logo, F; 0 é
um homeomor…smo.
Como F é Hausdor¤ (pois é subespaço de um espaço de Hausdor¤), segue que X 0 é Hausdor¤.
1.
a) De…na compacti…cação.
b) Se X é um espaço topológico, não compacto, mas localmente compacto e de Hausdor¤, como se
faz a compacti…cação de Alexandrov de X? De…na pelo menos o conjunto e seus abertos.
c) Escreva o que você sabe sobre a compacti…cação de Stone-Cech.
2. Enuncie o Teorema da Extensão de Tietze. O que você sabe dizer sobre uma possível unicidade
de extensão...?
3. Mostre que função contínua leva compactos em compactos e que compacidade é uma propriedade
topológica.
Y
4. Mostre que X = X é Hausdor¤ se, e somente se, cada X é Hausdor¤.
2
5. Exiba um espaço topológico X que não é Hausdor¤, mas todo compacto em X é fechado.
Justi…que o que a…rmar.
50 DANIEL PELLEGRINO
d(fn ( ); f ( )) "=2:
e
(fn ; f ) "=2 < ":
Teorema 23.6. Sejam X um espaço topológico e (Y; d) um espaço métrico. O conjunto C(X; Y )
formado pelas funções contínuas de X em Y é fechado em Y X na métrica uniforme. Em particular,
se Y é completo, C(X; Y ) é completo na métrica uniforme.
Demonstração. Seja (fn ) uma seqüência em Y X ; que converge para f . Dado " > 0; escolha um
inteiro N tal que
(fn ; f ) < "
para todo n N . Então, para todo x em X e n N,
Exercício 23.8. Seja (Y; d) um espaço métrico. Dado um conjunto J tal que para cada par de funções
f e g em Y J ; temos
(f; g) = supfd(f ( ); g( )); 2 Jg < 1:
A aplicação é uma métrica, chamada métrica do sup. Mostre que nessas circunstâncias,
De…nição 23.9. Sejam (Y; d) um espaço métrico e X um espaço topológico não-vazio. Dados um
elemento f de Y X ; " > 0 e K compacto em X, seja
BK (f; ") = fg 2 Y X ; supfd(f (x); g(x)); x 2 Kg < "g:
A topologia em Y X para a qual os conjuntos BK (f; ") formam uma base é chamada topologia
Se A é compacto e V é um aberto contendo A, mostraremos que existe um certo " tal que U(A; ") V:
Para cada a 2 A V , escolha (a) > 0 tal que Bd (a; (a)) V: Como A é compacto, podemos
cobrí-lo com uma quantidade …nita de abertos da forma
1 1
Bd (a1 ; (a1 )); :::; Bd (an ; (an )):
2 2
Se " = minf 21 (ai ); i = 1; :::; ng; é claro que a está em algum dos conjuntos da forma Bd (ai ; 12 (ai )):
Por conseguinte, temos
Bd (a; ") Bd (ai ; (ai )):
De fato, como d(x; ai ) d(x; a)+d(a; ai ), temos que se x 2 Bd (a; "), então d(x; ai ) < "+ 21 (ai ) (ai ):
[
Como isso vale para cada a em A, segue que U(A; ") = Bd (a; ") V:
a2A
Segundo passo. Vamos provar que a topologia da convergência compacta é mais …na que a
topologia compacto-aberta (ou seja, a topologia da convergência compacta tem mais abertos que a
topologia compacto-aberta).
Seja S(K; U ) um elemento da subbase (como em (13)) da a topologia compacto-aberta em C(X; Y )
e seja f 2 S(K; U ): Como f é contínua, f (K) é compacto. Além disso, pela de…nição de S(K; U ),
temos que f (K) U: Pelo primeiro passo da demonstração, existe " > 0 tal que
[
U(f (K); ") = Bd (a; ") U:
a2f (K)
No próximo resultado, e mais adiante, usaremos, sem mencionar, o Teorema 8.4 (c).
Teorema 24.6. Seja X um espaço topológico, e seja S um subconjunto conexo de X. Então S é
conexo.
Demonstração. Suponhamos que
S = A [ B,
com A e B abertos disjuntos e não-vazios de S.
Note que nesse caso, temos A \ S 6= e B \ S 6= :
De fato, se fosse A \ S = , então teríamos S S r A (fechado em S). Logo,
(14) ClS (S) ClS (S r A) = S r A:
Mas
(15) ClS (S) = ClX (S) \ S = S (note que S é a mesma coisa que ClX (S)).
De (14) e (15), segue que
S S r A;
e isso implica que A = (absurdo). Analogamente se prova que B \ S 6= :
Além disso,
S = S \ S = (S \ A) [ (S \ B):
Logo, S é união dos abertos disjuntos e não vazios S \ A e S \ B (de S), e isso contradiz a conexidade
de S.
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 55
Proposição 24.9. Um subespaço E; de um espaço topológico X; é conexo se, e somente se, não
existem conjuntos H e K não-vazios e mutuamente separados em X com E = H [ K:
Demonstração. Suponha que E não seja conexo, sendo desconectado por H e K (lembre que, nesse
caso, H e K são abertos e fechados em E, disjuntos, não-vazios, e E = H [ K). Então H e K são
mutuamente separados em X, pois
H \ ClX (K) = (H \ E) \ ClX (K)
= H \ (E \ ClX (K))
= H \ ClE (K)
=H \K = :
Analogamente,
K \ ClX (H) = :
Portanto, está provada (().
Agora, vamos provar ()). Suponha que existam H e K mutuamente separados em X, não-vazios,
com E = H [ K: Então
ClE (H) = E \ ClX (H) = (H [ K) \ ClX (H)
= (H \ ClX (H)) [ (K \ ClX (H)) = H
Analogamente,
ClE (K) = K:
Logo, H e K são fechados em E, e portanto abertos, e portanto E não é conexo.
Corolário 24.10. Se H e K são mutuamente separados em X e E é um subconjunto conexo de H [K,
então E H ou E K.
Demonstração. O caso E = é trivial. Suponhamos E não-vazio. Como E H [ K, temos
(16) E = (E \ H) [ (E \ K)
Se E não estiver contido em K e nem em H, temos, de (16), que
E \ H 6= e E \ K 6= :
Note que E \ K e E \ H são mutuamente separados em X. De fato,
ClX (E \ K) \ (E \ H) ClX (K) \ H =
ClX (E \ H) \ (E \ K) ClX (H) \ K = :
Pela Proposição 24.9, segue que E é desconexo.
56 DANIEL PELLEGRINO
S T
Teorema 24.11. (a) Se X = X , onde cada X é conexo e X 6= ; então X é conexo.
2 2
(b) Se cada par de pontos x; y em X pertence a algum conexo Exy X, então X é conexo.
S
1
(c) Se X = Xn , onde cada Xn é conexo e Xn 1 \ Xn 6= para cada n 2; então X é conexo.
n=1
De…nição 24.15. Um espaço topológoco X é dito localmente conexo se cada x 2 X admite uma base
de vizinhanças formada por conjuntos simultaneamente abertos e conexos.
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 57
Proposição 24.17. Um espaço topológico X é localmente conexo se, e somente se, as componentes
conexas de cada aberto de X são abertas em X.
Demonstração. Suponhamos que X seja localmente conexo. Se U é um aberto de X, seja C uma
componente conexa de U . Como X é localmente conexo, para cada x 2 C; existe um aberto conexo V
tal que x 2 V U . Pela de…nição de componente conexa, segue que V C e daí concluímos que C é
um conjunto aberto.
Reciprocamente, suponhamos que as componentes conexas de cada aberto de X sejam abertas em
X. Seja x 2 X e U uma vizinhança aberta de x em X e seja C a componente conexa de U que contém
x. Como, por hipótese, C é aberto em X, segue que X é localmente conexo.
58 DANIEL PELLEGRINO
26. Homotopias
Lembremos que um homeomor…smo entre espaços topológicos X e Y é uma função bijetiva contínua
f : X ! Y cuja inversa também é contínua. Um dos problemas centrais da topologia é decidir
quando dois espaços topológicos são homeomorfos ou não. Às vezes é fácil veri…car isso. Por exemplo,
[0; 1] e (0; 1) não são homeomorfos, pois um deles é compacto e o outro não (e a compacidade é um
invariante topológico). Entretanto, às vezes precisamos de argumentos mais …nos para saber se dois
espaços topológicos são homeomorfos ou não. Nesse capítulo, vamos estudar uma maneira de associar
um grupo (chamado grupo fundamental) a cada espaço topológico. Dois espaços homeomorfos terão
grupos fundamentais isomorfos. Antes disso, precisamos do conceito de homotopia e de resultados
preliminares.
No que se segue, X e Y serão sempre espaços topológicos, a menos que se diga algo em contrário.
De…nição 26.1. Sejam f e g funções contínuas de X em Y: Dizemos que f é homotópica a g (f ' g)
quando existe uma função contínua H : X [0; 1] ! Y tal que H(x; 0) = f (x) e H(x; 1) = g(x) para
todo x em X. A função H é chamada homotopia entre f e g: Por simplicidade, às vezes escreveremos
H : f ' g para indicar uma homotopia H entre f e g.
Observação 26.2. Em [0; 1] X consideramos a topologia produto.
O seguinte exercício pode ser útil para provar a continuidade de algumas funções nessa seção:
Exercício 26.3. Seja X1 e X2 espaços topológicos. Mostre que a rede (x ; y ) 2 converge para (x; y)
se, e somente se, (x ) 2 ! x e (y ) 2 ! y:
Exemplo 26.4. Seja X um espaço topológico qualquer e Y um subespaço convexo do Rn : Então duas
funções contínuas quaisquer f; g : X ! Y são homotópicas, com a homotopia dada por
H(x; t) = tg(x) + (1 t)f (x):
Teorema 26.5. ' é uma relação de equivalência no conjunto C(X; Y ) formado por todas as aplicações
contínuas de X em Y .
Demonstração. É claro que f ' f pela homotopia H(x; t) = f (x):
Se f; g 2 C(X; Y ) e H : f ' g, então H 0 : g ' f com H 0 (x; t) = H(x; 1 t):
Se f; g; h 2 C(X; Y ); H1 : f ' g e H2 : g ' h; de…na
H(x; t) = H1 (x; 2t); 0 t 1=2
H(x; t) = H2 (x; 2t 1); 1=2 t 1:
Note que H está bem de…nida e é contínua nos subconjuntos fechados X [0; 1=2] e X [1=2; 1]: Como
X [0; 1] = X [1=2; 1] [ X [0; 1=2]; segue, pelo Teorema 8.8, que H é contínua.
De…nição 26.6. As classes de equivalência em C(X; Y ) sob a relação ' são chamadas classes de
homotopia em C(X; Y ):
Teorema 26.7. Se f1 ; g1 : X ! Y , f2 ; g2 : Y ! Z; f1 ' g1 e f2 ' g2 ; então f2 f1 ' g2 g1 :
Demonstração. Suponha H1 : f1 ' g1 e H2 : f2 ' g2 : Então f2 H1 : f2 f1 ' f2 g1 : Pela
transitividade da relação de homotopia, basta provar que f2 g1 e g2 g1 são homotópicos. De…na
H : X I ! Z por
H(x; t) = H2 (g1 (x); t):
Temos que H é contínua, pois é composta de contínuas. Como H : f2 g1 ' g2 g1 ; o resultado segue.
Teorema 26.10. Um espaço topológico X é contrátil se e somente se para qualquer espaço T; quaisquer
duas funções contínuas f; g : T ! X são homotópicas.
Demonstração. (() Escolha T = X e f = i e g como uma aplicação constante.
()) Se X é contrátil, então i ' c, onde c é uma aplicação constante. Sejam f; g : T ! X duas
aplicações contínuas quaisquer. Pelo teorema anterior,
f = i f ' c f e g = i g ' c g:
Mas c f = c g, e daí f ' g:
De…nição 26.11. Dois espaços topológicos X e Y são ditos homotopicamente equivalentes (ou
ainda, X e Y têm o mesmo tipo de homotopia) quando existem funções contínuas f : X ! Y
e g : Y ! X tais que f g ' iY e g f ' iX : As aplicações f e g são ditas equivalências de
homotopia (ou equivalências homotópicas) (homotopy equivalences). Dizemos que g é a inversa
homotópica de f e vice versa.
Observe que dizer que X e Y têm o mesmo tipo de homotopia é um pouco menos que dizer que
são homeomorfos: f g e g f não são necessariamente as respectivas funções identidade, mas sim
homotópicas às identidades iX e iY :
Note que as equivalências de homotopia de…nem uma relação de equivalência em qualquer conjunto
formado por espaços topológicos. De fato,
X é homotopicamente equivalente a si próprio. Basta considerar f = g = iX :
Se X é homotopicamente equivalente a Y , é claro que Y é homotopicamente equivalente a X.
Finalmente, se X é homotopicamente equivalente a Y e Y é homotopicamente equivalente a
Z, então X é homotopicamente equivalente a Z. Com efeito, sejam
f : X ! Y; g : Y ! X tais que f g ' iY e g f ' iX
e
f1 : Y ! Z; g1 : Z ! Y tais que f1 g1 ' iZ e g1 f1 ' iY :
Então f1 f : X ! Z e g g1 : Z ! X são tais que
(f1 f ) (g g1 ) = f1 (f g) g1 ' f1 iY g1 = f1 g1 ' iZ
e, analogamente, (g g1 ) (f1 f ) ' iX :
É claro que espaços homeomorfos são sempre homotopicamente equivalentes. Entretanto, a recíproca
não é verdadeira, como veremos no resultado a seguir:
Concluímos essa seção com uma generalização do conceito de homotopia, que nos será útil adiante
De…nição 26.17. Um par topológico é um par ordenado (X; A) onde X é um espaço topológico e
A X. Uma aplicação f : (X; A) ! (Y; B) entre pares topológicos é uma aplicação f : X ! Y tal
que f (A) B; ela é contínua se é contínua no sentido usual.
De…nição 26.18. Duas aplicações contínuas f; g : (X; A) ! (Y; B) são ditas homotópicas quando
existe uma função contínua H : X I ! Y tal que H(x; 0) = f (x) e H(x; 1) = g(x) para todo x em
X e tal que H(a; t) = f (a) = g(a) para todo a em A. Portanto, para que f e g sejam homotópicas,
é necessário que f e g coincidam em A. Se f e g são aplicações homotópicas de…nidas em (X; A);
dizemos que f é homotópica a g com relação a A, e escrevemos f ' g[A]: Dizemos que H é uma
homotopia relativa.
Também temos uma de…nição semelhante para duas aplicações contínuas f; g : X ! Y e A X.
Dizemos que f é homotópica a g relativamente a A ( f ' g[A]) se existe uma homotopia H : f ' g
tal que H(x; t) = f (x) = g(x) para todo x em A. Nesse caso, note que f (x) = g(x) para todo x em A.
Dois pares (X; A) e (Y; B) são ditos homotopicamente equivalentes se existem f : (X; A) !
(Y; B) e g : (Y; B) ! (X; A) tais que f g ' iY [B] e g f ' iX [A]: Nesse caso, perceba que se fA e
gB denotam as restrições de f a A e de g a B, respectivamente, temos
fA gB = iB e gB fA = iA
e consequentemente fA é um homeomor…smo entre A e B cuja inversa é gB :
Observação 26.19. A noção de homotopia relativa tem algumas variações, e ao estudar livros
distintos, devemos prestar atenção na de…nição exata.
Se f; g : (X; A) ! (Y; B) e f ' g[A]; então é claro que, em particular, f e g são homotópicas se
pensadas como aplicações usuais de X em Y . A recíproca pode não valer, como mostra o exemplo a
seguir:
Exemplo 26.20. Seja X um subespaço do R2 dado por
X = f(x; 0); 0 x 1g [ f(0; y); 0 y 1g [ f(1=n; y); 0 y 1; n 2 Ng
e seja A = f(0; 1)g:
X é contrátil e iX é homotópica à função constante c : X ! X dada por c(x; y) = (0; 1):
De fato,
H1 : X I!X
H1 ((x; y); t) = (x; ty)
62 DANIEL PELLEGRINO
é uma homotopia entre ix e a aplicação g : X ! X, g((x; y)) = (x; 0): Note ainda que H1 está bem
de…nida e é contínua.
A aplicação
H2 : X I!X
H2 ((x; y); t) = (tx; 0)
é uma homotopia entre g e a aplicação constante c1 (x; y) = (0; 0): Finalmente, a aplicação
H3 : X I!X
H2 ((x; y); t) = t(0; 1)
é uma homotopia entre c e c1: Portanto, por transitividade, iX é homotópica a c: Consequentemente,
X é contrátil.
Note que iX e c coincidem no ponto (0; 1): Entretanto, vamos mostrar que nenhuma homotopia
entre iX e c pode deixar o ponto (0; 1) …xo.
Suponha que exista uma homotopia
H:X I!X
H((x; y); 0) = (x; y)
H((x; y); 1) = (0; 1)
tal que H((0; 1); t) = (0; 1) para todo t: Como X I é compacto, temos que H é uniformemente
contínua. Dado " = 1=4, existe > 0 tal que
k(x; y; t) (0; 1; t)k < ) kH(x; y; t) (0; 1)k < 1=4:
Escolha (x0 ; y0 ) = ( 2 ; 1); com = minf ; 1=2g: Logo
k(x0 ; y0 ; t) (0; 1; t)k <
e portanto kH(x0 ; y0 ; t) (0; 1)k < 1=4:
Mas H(x0 ; y0 ; 1) = (0; 1) e H(x0 ; y0 ; 0) = (x0 ; y0 ): Como fx0 g fy0 g I é conexo, temos
que H(fx0 g fy0 g I) também é conexo. Por outro lado, H(fx0 g fy0 g I) B1=4 (0; 1) e
(0; 1) 2 H(fx0 g fy0 g I) e (x0 ; y0 ) 2 H(fx0 g fy0 g I); e isso é uma contradição. De fato,
teríamos, para 0 < < 2 e irracional,
H(fx0 g fy0 g I)
S
= ([( 1; ) ( 1; 2)] \ H(fx0 g fy0 g I)) ([( ; 2) ( 1; 2)] \ H(fx0 g fy0 g I)) ;
e ([( 1; ) ( 1; 2)] \ H(fx0 g fy0 g I)) seria um aberto em H(fx0 g fy0 g I) contendo (0; 1) e
([( ; 2) ( 1; 2)] \ H(fx0 g fy0 g I)) seria um aberto em H(fx0 g fy0 g I) contendo (x0 ; y0 ); e
isso contradiz o fato de H(fx0 g fy0 g I) ser conexo.
Exercício 26.21. Seja X um espaço topológico e a; b; c 2 X. Sejam f1 ; g1 : [0; 1] ! X dois caminhos
em X que ligam a e b, e sejam f2 ; g2 : [0; 1] ! X dois caminhos em X que ligam b e c: Se
f1 ' g1 [f0; 1g] e f2 ' g2 [f0; 1g];
mostre que
f1 f2 ' g1 g2 [f0; 1g]:
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 63
Solução. Devemos mostrar que se f1 'x0 g1 e f2 'x0 g2 ; então f1 f2 'x0 g1 g2 : Temos que
f1 ' g1 [f0; 1g] e f2 ' g2 [f0; 1g]
Pelo Exercício 26.21, temos
f1 f2 ' g1 g2 [f0; 1g]:
Como f1 f2 (0) = f1 f2 (1) = g1 g2 (0) = g1 g2 (1) = x0 ; podemos escrever
f1 f2 'x0 g1 g2 :
Teorema 27.4. 1 (X; x0 ) com a operação é um grupo.
Demonstração. Vamos mostrar primeiro que ([f ] [g]) [h] = [f ] ([g] [h]):
Pelo Exercício 25.4 temos
((f g) h) (s) = f (4s), 0 s 1=4
= g(4s 1), 1=4 s 1=2
= h(2s 1), 1=2 s 1
64 DANIEL PELLEGRINO
e
(f (g h)) (s) = f (2s), 0 s 1=2
= g(4s 2), 1=2 s 3=4
= h(4s 3), 3=4 s 1:
De…namos H : I I ! X por
4s 1+t
H(s; t) = f ( ); se 0 s
1+t 4
1+t 2+t
H(s; t) = g(4s 1 t); se s
4 4
4s 2 t 2+t
H(s; t) = h( ); se s 1:
2 t 4
Note que H é contínua (use que f; g; h são contínuas, redes, e o Exercício 13.20). Além disso,
H(s; 0) = ((f g) h) (s) para 0 s 1
H(s; 1) = (f (g h))(s) para 0 s 1
H(0; t) = (f g) h))(0) = (f (g h))(0) para 0 t 1
H(1; t) = (f g) h))(1) = (f (g h))(1) para 0 t 1
e portanto
(f g) h 'x0 f (g h):
Logo [(f g) h] = [f (g h)]; ou ainda, ([f ] [g]) [h] = [f ] ([g] [h]):
Agora, vamos mostrar a existência do elemento neutro de 1 (X; x0 ): De…nindo e : I ! X por
e(t) = x0 para todo t 2 I, vamos mostrar que [e] é o elemento neutro. Para provar que, para toda
[f ] 2 1 (X; x0 ); temos [f ] [e] = [f ]; basta considerar a homotopia
2s 2 t
H(s; t) = f ( ), 0 s
2 t 2
2 t
= x0 , s 1
2
e perceber que H(s; 0) = f (x) e H(s; 1) = (f e)(x). Analogamente se prova que [e] [f ] = [f ] para
toda [f ] 2 1 (X; x0 ):
Resta-nos provar a existência das inversas.
Para cada laço f em x0 ; de…na f 1 por
1
f (s) = f (1 s); 0 s 1:
1 1 1
Para mostrar que [f ] é uma inversa de [f ], basta provar que [f ] [f ] = [f ] [f ] = [e]: Para
isso, é su…ciente mostrar que f 1 f 'x0 f f 1 'x0 e:
Note que
1
f f (s) = f (2s); se 0 s 1=2
= f (2 2s); se 1/2 s 1:
De…na
1
(18) H(s; t) = f (2ts), 0 s
2
1
= f (2t(1 s 1 s)),
2
Temos que H (está bem de…nida e) é contínua e, como H(s; 1) = (f f 1 )(s); H(s; 0) = x0 = e(s);
H(0; t) = H(1; t) = x0 ; segue que [f ] [f 1 ] = [e]: A outra situação é análoga.
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 65
Observação 27.5. Note que poderíamos ter de…nido a homotopia abaixo em vez de (18):
8
< f (2s); se 0 s 1 2 t
H(s; t) = f (2s + 2t 1); se 1 2 t s 1 t
1
:
x0 , se 1 t s 1:
Observação 27.6. Uma informação importante: os grupos fundamentais não são necessariamente
abelianos.
Exercício 27.11. Sejam X e Y espaços topológicos, e seja : (X; x0 ) ! (Y; y0 ) uma função contínua.
Mostre que a função
: 1 (X; x0 ) ! 1 (Y; y0 )
dada por ([f ]) = [ f ] é um homomor…smo de grupos.
Solução.Temos
([f ] [g]) = ([f g]) = [ (f g)]:
Note que
(f (2s)); se 0 s 1=2
( (f g)) (s) =
(g(2s 1)), se 1=2 s 1:
Por outro lado,
([f ]) ([g]) = [ f] [ g] = [( f) ( g)]
e
( f )(2s); se 0 s 1=2
(( f) ( g)) (s) =
( g)(2s 1); se 1=2 s 1:
Logo segue que ( (f g)) (s) = (( f) ( g)) (s).
Exercício 27.12. Se é a identidade em X, mostre que é a identidade em 1 (X; x0 ).
Solução. Como (X; x0 ) e (Y; y0 ) são homotopicamente equivalentes, existem f : (X; x0 ) ! (Y; y0 ) e
g : (Y; y0 ) ! (X; x0 ) contínuas, tais que f g ' idY [fy0 g] e g f ' idX [fx0 g].
Pelo Exercício 27.15 segue que
(f g) = (idY )
(g f ) = (idX )
Pelo Exercício 27.12 segue que
(g f ) = id : 1 (X; x0 ) ! 1 (X; x0 )
(f g) = id : 1 (Y; y0 ) ! 1 (Y; y0 ):
f g = id : 1 (Y; y0 ) ! 1 (Y; y0 ):
27.1. O grupo fundamental do círculo unitário. Nessa seção calcularemos o grupo fundamental
do círculo unitário S 1 (com base em 1): Precisamente, mostraremos que 1 (S 1 ; 1) = Z.
Começamos com dois lemas, mas antes precisamos de algumas considerações. Seja
p : R ! S1
dada por p(t) = e2 ti : Note que
(a) p é sobrejetiva, contínua e aberta, e p(0) = 1:
(b) A restrição p j ( 1=2; 1=2) ! S 1 f 1g é um homeomor…smo. Seja q a inversa de
p j ( 1=2; 1=2).
(c) p(s + t) = p(s) + p(t) para todo s; t 2 R.
(d) p(t) = 1 se e somente se t 2 Z.
(e) p : (R,+) ! (S 1 ; :) é um homomor…smo de grupos cujo núcleo é Z.
Lema 27.17. Seja g um caminho em S 1 , com g(0) = 1: Então existe um único caminho f : [0; 1] ! R
tal que f (0) = 0 e p f = g:
Demonstração. Como [0; 1] écompacto, a função g : [0; 1] ! S 1 é uniformemente contínua. Logo,
existe > 0 tal que se js tj < ; então jg(s) g(t)j < 2: Logo g(s) 6= g(t) e portanto g(s)g(t) 6= 1:
g(s) 1
Assim, q g(t) está bem de…nida. Seja n 2 N tal que n < ; e seja f : [0; 1] ! R de…nida por
n
!
X g( nk t)
f (t) = q :
k=1
g( k n 1 t)
68 DANIEL PELLEGRINO
n
X
1
Então f é contínua (pois q e g são contínuas), f (0) = q 1 =0e
j=1
n
!! n
X g( nk t) Y g( nk t)
p f (t) = p q =
k=1
g( k n 1 t) k=1
g( k n 1 t)
g( n1 t) g( n2 t) g( nn 1 t) g( nn t) g( n t)
= : 1 ::: n 2 : n 1 = n = g(t):
g(0) g( n t) g( n t) g( n t) g(0)
Resta-nos provar a unicidade. Suponhamos que exista uma função contínua f1 : [0; 1] ! R tal que
f1 (0) = 0 e p f1 = g: Então, para todo t 2 [0; 1], temos
p (f1 f )(t) = e2 i(f1 (t) f (t))
= e2 if1 (t)
:e 2 if (t)
p(f1 (t))
= = 1;
p(f (t))
e portanto (f1 f )(t) 2 Z para todo t 2 [0; 1]: Como (f1 f )(0) = 0 e como [0; 1] é conexo, segue que
(f1 f )(t) = 0 para todo t 2 [0; 1]:
Lema 27.18. Sejam g1 e g2 : [0; 1] ! S 1 caminhos tais que g1 (0) = g2 (0) = 1; e sejam f1 e
f2 : [0; 1] ! R os únicos caminhos em R tais que f1 (0) = f2 (0) = 0 e p f1 = g1 e p f2 = g2 :
(a) Dada uma função contínua G : [0; 1] [0; 1] ! S 1 tal que G(0; 0) = 1; existe uma única função
contínua F : [0; 1] [0; 1] ! S 1 tal que F (0; 0) = 0 e p F = G:
(b) Se G : g1 ' g2 [f0; 1g]; então F : f1 ' f2 [f0; 1g]:
Demonstração.
(a) Como G é contínua num compacto, é também uniformemente contínua. Existe > 0 tal que se
jz wj < , então jG(z) G(w)j < 2 e portanto q G(z) 1
G(z) está bem de…nida. Seja n 2 N tal que n <
e seja F : [0; 1] [0; 1] ! R de…nida por
n
!
X G( nk z)
F (z) = q :
k=1
g( k n 1 z)
Então F é contínua, F (0; 0) = 0 e p F = G: Analogamente so outro lema, se prova a unicidade.
(b) Seja G : g1 ' g2 [f0; 1g]: Então, para todo s 2 [0; 1], temos
p F (s; 0) = G(s; 0) = g1 (s) = p f1 (s):
Pela unicidade do lema anterior, segue que
(20) F (s; 0) = f1 (s) para todo s 2 [0; 1]
Analogamente,
p F (s; 1) = G(s; 1) = g2 (s) = p f2 (s)
e, pela unicidade do lema anterior, segue que
(21) F (s; 1) = f2 (s) para todo s 2 [0; 1]:
Por outro lado, temos, para todo t 2 [0; 1];
p F (0; t) = G(0; t) = g1 (0) = p f1 (0)
p F (0; t) = G(0; t) = g2 (0) = p f2 (0):
Interprete da seguinte forma: g(t) = g1 (0) = 1 é um caminho constante de [0; 1] em S 1 . Além
disso, F (0; :) : [0; 1] ! S 1 é um caminho com F (0; 0) = 0: Considere ainda o caminho (constante)
h : [0; 1] ! S 1 dado por h(t) = f1 (0) = 0:
Pela unicidade do lema anterior, temos
(22) F (0; t) = h(t) = f1 (0) = f2 (0) para todo t 2 [0; 1]:
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 69
Para cada n, considere Fn = Sn . Temos que X F1 é aberto e não-vazio. Assim, existem um número
real r1 > 0 e x1 2 X tais que
Ud (x1 ; r1 ) X F1 :
Temos também que (X F2 ) \ Ud (x1 ; r1 =4) é aberto e não vazio. De fato, se essa interseção fosse
vazia, teríamos Ud (x1 ; r1 =4) F2 , que é um absurdo, pois o interior de F2 é vazio.
Logo existem x2 2 X e r2 > 0; tais que
Ud (x2 ; r2 ) (X F2 ) \ Ud (x1 ; r1 =4):
Usando o mesmo raciocínio, encontramos x3 2 X e r3 > 0 tais que
Ud (x3 ; r3 ) (X F3 ) \ Ud (x2 ; r2 =4):
rn
Por indução, construimos uma seqüência de bolas abertas (Ud (xn ; rn ))1
n=1 tais que rn+1 4 e
Ud (xn+1 ; rn+1 ) (X Fn+1 ) \ Ud (xn ; rn =4):
rn r1
Note que, como rn+1 4 para todo n; temos rn 4n 1 :
1
Pela desigualdade triangular, é fácil ver que (xn )n=1 é uma seqüência de Cauchy em X. Com efeito,
p
X p
X rn+j 1
(25) d(xn ; xn+p ) d(xn+j 1 ; xn+j )
j=1 j=1
4
p
X r1
< n+j 1
:
j=1
4
Como X é completo, existe um x 2 X, que é limite da seqüência (xn ): Note que podemos também
escrever
rn rn+1 rn+p 1 rn rn rn
(26) d(xn ; xn+p ) + + ::: + + 2 + ::: + p 1 :
4 4 4 4 4 4
Fixando, arbitrariamente, n em (26) e fazendo p tender a in…nito, temos que d(xn ; x) < rn e
1
[
x 2 Ud (xn ; rn ): Logo x 2= Sn = X (absurdo).
n=1
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 71
ESPAÇOS TOPOLÓGICOS
Exercício 4.4. Solução. Considere d(x; y) = 0, se x = y e 1, caso contrário, e mostre que cada
conjunto unitário é aberto.
Exercício 4.5. Solução. Se fosse metrizável, por uma métrica d, escolheríamos x; y distintos em
X e d(x; y) = r > 0. Note que a bola de centro x e raio r=2 não contém y (logo é um aberto
diferente de X).
Exercício 4.12.
x 2 int(E) ) x 2 G; G aberto, G E
)x2
=X G=X G)x2
=X E)x2X X E:
Reciprocamente,
x2X X E)x2
=X E ) existe F fechado, X E F com x 2
=F
)x2X F (aberto) e X F X (X E) = E ) x 2 int(E):
Exercício 4.16. Tome A = [Q \ (0; 1)] [ (2; 3) [ (3; 4) [ f5; 6; 7; 8; ::::g
BASES E SUB-BASES
Se B1 ; B2 2 F, então
8 n1
> \
>
> B = Sj
>
< 1
j=1
n2
\
>
>
>
> B 2 = Rk
:
j=1
com os Sj e Rk em C: Se p 2 B1 \ B2 ; seja
n1\
+n2
B3 = Tl ;
l=1
com T1 = S1 ; :::; Tn1 = Sn1 ; Tn1 +1 = R1 ; :::; Tn1 +n2 = Rn2 : Logo B3 2 F e, como B3 = B1 \B2 ,
segue que p 2 B3 : Assim, F satisfaz as hipóteses do Teorema \ 6.5 e é base da topologia :
Exercício 6.10. Seja C P(X): Como C; temos que A = X. Logo a família B formada
A2
por todas as interseções …nitas de elementos de C satisfaz (a) do Teorema 6.4. Pela própria
de…nição de B, segue que se A; B 2 B, então A \ B 2 B e, portanto B satisfaz (b) do Teorema
6.4. Daí, segue que B é base para uma topologia em X e consequentemente (pela de…nição
do livro de S. Willard) C é subbase para .
Exercício 6.11. Note que X; 2 \ : Além disso, se A 2 \ para todo , temos que A 2
para todo e todo : Como cada é uma topologia, segue que [A 2 para todo : Logo
[A 2 \
e segue que \ é uma topologia.
Por outro lado, união de topologias, em geral, não é topologia. Tome X = fa; b; cg,
1 = ffag; X; g e 2 = ffbg; X; g: É fácil ver que 1 [ 2 não é topologia.
72 DANIEL PELLEGRINO
Vejamos que B é base para uma topologia . Note que X 2 B, pois X 2 A (e tome C = fXg)
e portanto
[
B=X
B2B
e vale (a) do Teorema 6.5. Para mostrar (b) do Teorema 6.5, basta (é mais que su…ciente)
mostrar que se B1 \ B2 2 B, então B1 \ B2 2 B. Mas isso é fácil, pois se B1 ; B2 2 B, temos
B1 = D1 \ \ Dn : com cada Dj 2 A
B 2 = E1 \ \ Em : com cada Ej 2 A
e portanto
B1 \ B2 = D1 \ \ Dn \ E1 \
\ Em 2 B.
[ [
Portanto B é base para uma topologia : É claro que : De fato, se A 2 = A,
então
\ [
A= B, com fAg
B2fAg
1 :
Por outro lado, se é uma topologia de X que contém B, então (por de…nição de topologia),
segue que . Logo
\
= 1
2
e a igualdade segue.
FUNÇÕES CONTÍNUAS
TOPOLOGIA- PERÍODO 2007.2 73
REDES
FILTROS
Exercício 14.14 Suponha que F ! x: Seja P : F ! X a rede P (x; F ) = x gerada por F. Seja
U 2 Ux : Como F ! x; segue que Ux F. Logo, U 2 F. Portanto, (x; U ) 2 F . Assim,
(y; W ) (x; U ) ) P (y; W ) = y 2 W U
e concluímos que a rede P : F ! X converge para x.
Por outro lado, suponha que a rede gerada por F converge para x. Seja U 2 Ux . Então,
existe (y; W ) 2 F (lembre que nessas condições temos W 2 F) tal que
(z; V ) (y; W ) ) z = P (z; V ) 2 U:
Logo, se z 2 W , temos (z; W ) 2 F e (z; W ) (y; W ) e portanto
z = P (z; W ) 2 U:
74 DANIEL PELLEGRINO
ESPAÇOS T0 ; T1 ; T2 e T3
CONJUNTOS COMPACTOS
e essa é uma cobertura aberta de X: Como X é compacto, existe uma subcobertura …nita
X (Z r Y ) [ (G 1 [ [G n ):
Logo
Y (Z r Y ) [ (G 1
[ [G n
)
e consequentemente
Y G 1
[ [G n
Exercício 17.7. Considere X = R com a topologia sugerida no exercício (sabemos que esse
espaço não é de Hausdor¤). Se A X for in…nito, escolha a1 ; a2 ; ::: em A. Seja, para cada
n 2 N, Bn = X faj ; j ng:
Note que cada Bn é aberto e
S
1
A Bn :
n=1
É claro que essa cobertura não admite subcobertura …nita. Logo, se A é compacto, A deve ser
…nito, e é claro que todo conjunto …nito é compacto (isso vale para qualquer espaço topológico).
Conclusão: A é compacto se e somente se A é …nito. Como, na topologia que estamos
consideranto, todo conjunto …nito é fechado, segue que todo compacto é fechado.
Exercício 17.8. Suponha A B compacto em B. Seja
S
A A
2
Referências
[1] E. L. Lima, Espaços Métricos, Projeto Euclides, IMPA, Rio de Janeiro.
[2] E. L. Lima, Análise no Rn , Projeto Euclides, IMPA, Rio de Janeiro.
[3] E. L. Lima, Elementos de Topologia Geral, LTC-IMPA, Rio de Janeiro, 1970.
[4] E.L. Lima, Grupo Fundamental e Espaços de Recobrimento, Projeto Euclides, IMPA, Rio de Janeiro, 1993.
[5] J. Mujica, Notas de aula de Topologia Geral, IMECC-UNICAMP.
[6] J.R. Munkres, Topology, A …rst Course. Prentice-Hall, Inc. New Jersey, 1975.
[7] G. Simmons, Introduction to Topology and Modern Analysis, McGraw-Hill, 1963.
[8] S. Willard, General Topology, Addison-Wesley Publishing Company, 1970.
Departamento de Matemática, UFPB, João Pessoa, PB, e-mail: dmpellegrino@gmail.com, Dezembro, 2007