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Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007
1. Introdução
O comprometimento com a satisfação dos clientes e a concorrência acirrada exigem que as
empresas busquem novas e melhores práticas de manufatura. Em se tratando do mercado de
aços, onde se observa o estabelecimento e consolidação das grandes siderúrgicas, o equilíbrio
consiste em dosar rentabilidade e participação de mercado.
Para se adaptarem a esse ambiente competitivo, as empresas de diversos setores, seguindo os
passos da indústria automobilística, estão utilizando os conceitos e técnicas de Produção
Enxuta ou Sistema Toyota de Produção (STP). Esse sistema de produção tem como objetivo
capacitar as organizações para responder com rapidez às constantes flutuações do mercado
através do alcance efetivo das principais dimensões da competitividade: flexibilidade, custo,
qualidade, atendimento e inovação. A teoria que sustenta o STP baseia-se na priorização das
melhorias na função processo via eliminação contínua e sistemática das perdas nos sistemas
produtivos (SHINGO, 1996). Nesse contexto, o arranjo físico (layout) e a logística surgem
como importantes fatores a serem analisados na implementação de práticas relacionadas ao
modelo de gestão da Produção Enxuta.
O principal motivo para o planejamento do layout do setor produtivo é o interesse em reduzir
os custos de movimentação e facilitar o gerenciamento do processo. Além dos custos de
movimentação, podem ser identificados outros custos relacionados ao layout: custos de
armazenagem, custos de work in process (WIP), custos com mão-de-obra desnecessária
devido à existência de muitas atividades que não agregam valor, entre outros (SILVA;
RENTES, 2002). Segundo Shingo (1996), a eliminação de estoques pode reduzir os custos de
mão de obra em aproximadamente 40%.
Por sua vez, a logística impacta diretamente nas dimensões flexibilidade, custo, qualidade e
atendimento. Uma logística eficaz consegue atender às mudanças de demanda e aos prazos de
entrega. A quantidade certa, dos produtos certos, no tempo e local acordados evidenciam a
qualidade da logística.
O presente estudo objetiva, através da aplicação de um método de planejamento de layout e
de práticas relacionadas à Produção Enxuta, melhorar a logística interna de uma empresa
siderúrgica. Inicialmente, é feita uma breve apresentação do referencial teórico, considerando
os relacionamentos existentes entre os componentes do Sistema Toyota de Produção e o
layout industrial. A seguir, é apresentado um estudo de caso realizado em uma empresa do
setor siderúrgico.
2. Produção Enxuta e layout industrial
2.1 Produção Enxuta
O Sistema Toyota de Produção é uma filosofia de negócio que visa aperfeiçoar a organização
para atender da melhor maneira as necessidades do cliente e eliminar os desperdícios. Ao
mesmo tempo, melhora a segurança e o moral de seus membros (LIKER, 2005). A Figura 1
apresenta a estrutura simplificada do STP. Na parte superior, estão os objetivos do sistema:
redução de custo e de lead time e aumento da qualidade, tendo como foco central o cliente.
Estes objetivos são sustentados por dois pilares: just-in-time e jidoka.
O primeiro pilar do STP compreende o just-in-time, uma técnica de gestão que preconiza que
cada processo deve ser abastecido com os itens certos, na quantidade certa, no tempo certo,
utilizando estoques mínimos de matéria-prima, produtos intermediários e bens acabados. O
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O segundo pilar é composto pelo jidoka ou autonomação, que consiste em dar autonomia ao
operador ou à máquina para paralisar o processamento ao menor sinal de anormalidade.
Abaixo desse componente, encontra-se a separação homem/máquina, que é a base da
autonomação e significa separar as funções executadas pela máquina e pelo operador, dando à
primeira a autonomia para parar caso alguma anormalidade seja detectada, liberando o
homem para operar mais de uma máquina, aumentando assim a sua produtividade. Ainda no
mesmo pilar, estão os dispositivos de detecção de anormalidades, os poka-yoke, que
bloqueiam as interferências na execução de uma operação, impedindo a execução irregular de
uma atividade (SHINGO, 1996).
A base do sistema é formada por heijunka, kaizen e operações padronizadas. Heijunka é o
nivelamento da produção em termos de volume e variedade dos produtos, kaizen é a melhoria
contínua, enquanto a padronização das operações visa estabilizar o processo para que as
perdas possam ser identificadas e as ações de melhoria possam ser planejadas (LUZZI, 2004).
2.2 Projeto do layout industrial
A otimização do layout industrial possibilita a eliminação de uma série de perdas existentes
no processo produtivo: eliminação das horas-homem de transporte, melhoria nos índices de
qualidade, redução do lead time produtivo, redução dos inventários entre processos, aumento
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relações existentes entre os produtos fabricados pela empresa. Nessa etapa, os produtos foram
agrupados em famílias, as quais consideraram as suas características de fabricação. Em
decorrência dessa análise, obteve-se a definição de vinte e seis famílias de tarugos, sobre as
quais foram levantados históricos e projeções de vendas, que serviram de base para a
definição das necessidades da empresa, em termos de equipamentos, mão-de-obra e espaço.
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necessidade de transporte por longas distâncias. Além disso, a capacidade das áreas de
estocagem não é suficiente para comportar o volume atual dos estoques. Como conseqüência,
há tarugos armazenados em áreas inadequadas, fato que agrava as perdas decorrentes de
manuseio e transporte desses materiais.
3.3 Análise da organização e dos processos existentes
A análise organizacional, em geral, inicia com a obtenção do organograma atual e com a
indicação das funções e departamentos localizados na mesma área. Essa análise indica
possíveis inconsistências e auxilia a determinar a localização e dimensionamento das áreas de
apoio. Como o estudo foi realizado em uma área específica, essa etapa torna-se dispensável.
Por sua vez, a análise dos processos existentes consiste no mapeamento das atividades às
quais o produto é submetido. Esse mapeamento foi feito através da construção de fluxogramas
de processo, onde foram descritos os eventos – operação, transporte, inspeção, espera,
armazenagem e manuseio – que são realizados por cada família de produtos. Devido ao nível
de detalhamento requerido nessa etapa, foi possível o pleno entendimento do processo e a
identificação de diversas perdas atuais.
3.4 Identificação da infra-estrutura física
Na identificação da infra-estrutura física, foram relacionados os sistemas de apoio requeridos
para o funcionamento da logística interna. Esse levantamento foi importante para definir a
localização e o dimensionamento das áreas necessárias para suportar a infra-estrutura, como,
por exemplo, áreas para manutenção, estacionamento e escritório; além dos equipamentos
indispensáveis para o bom desempenho da operação.
3.5 Análise do fluxo de materiais e informações
Nesta atividade, as informações resultantes da análise dos processos são sobrepostas à análise
do espaço atual, gerando um diagrama que representa os fluxos de materiais existentes no
layout atual. Foi observado que, atualmente, há muitos cruzamentos no fluxo de materiais e as
distâncias percorridas são longas. Assim, a análise apontou oportunidades de melhoria na
movimentação dos materiais através do rearranjo das áreas.
3.6 Identificação de questões importantes e desenvolvimento da estratégia das operações
Neste momento, finalizaram-se as etapas que compõem o bloco de informação do método Fac
Plan e desenvolveu-se a estratégia de operações. Através das informações obtidas nas etapas
anteriores, foram analisados alguns tipos de arranjos físicos e optou-se por uma estratégia de
layout híbrido, que mescla unidades de espaço com foco no produto e outras com foco no
processo.
3.7 Definição das unidades de planejamento de espaço (UPE´s)
Esta etapa é a mais importante e marca o início do bloco layout do modelo de planejamento
do macro-espaço. A Figura 3 ilustra as etapas compreendidas por esse bloco, as quais
resultam na construção do projeto do layout.
As UPE’s são unidades gerenciáveis de operação e sua definição deve considerar a
necessidade de equipamentos, pessoas e espaço, de forma que todas as atividades que
compõem o processo possam ser executadas (LUZZI, 2004). A Figura 4 apresenta as UPE´s
geradas e suas respectivas subdivisões. Nessa proposta, as UPE´s 1, 2, 3 e 5 consideram as
características do produto (seção do tarugo, grupo de qualidade e origem do material),
portanto, têm foco no produto. Por sua vez, a UPE 4 tem foco no processo, pois ela comporta
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Figura 3 – Elementos do planejamento de espaço Figura 4 – Descrição das UPE´s para o pátio de
Fonte: Lee (1998) tarugos
3.9 Construção do diagrama de configuração
O diagrama de configuração foi construído a partir da combinação das UPE´s com as
afinidades totais. Nessa atividade, foram consideradas todas as áreas produtivas que expedem
ou recebem materiais do pátio de tarugos, além das UPE´s de armazenamento e das divisões
de área dessas UPE´s, apresentadas na etapa 3.7. As configurações foram geradas e
manipuladas iterativamente com o objetivo de reduzir as distâncias entre as UPE’s com alta
afinidade e o número de cruzamentos entre as linhas de afinidades.
3.10 Cálculo do espaço
Para calcular o espaço necessário para o armazenamento e movimentação dos materiais foram
feitas análises sobre os históricos de estoque e previsões de demandas futuras. Os históricos
serviram como base para o dimensionamento do espaço das divisões de cada UPE, partindo-
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se da definição de que o nível de estoque médio do último ano representa 70% do espaço
necessário. Como conseqüência, foi avaliada que a área total projetada comportará os picos de
estoque decorrentes de algum evento no processo produtivo. Além disso, as áreas
dimensionadas terão flexibilidade, através de corredores móveis entre cada UPE, para se
adequarem a possíveis mudanças do mix de estoque.
Dessa forma, o cálculo do espaço foi feito através do método do cálculo elementar, onde cada
equipamento que compõem uma UPE é medido, e suas dimensões são somadas às dimensões
de corredores e de espaços para armazenagem e movimentações.
A análise dos dados mostrou que a área existente suporta 99% do volume de estoque de
materiais. Entretanto, como esse cálculo foi feito considerando-se os limites máximos de
estoque, a área disponível é suficiente para as condições normais. Conseqüentemente, deve-se
analisar a organização do micro espaço a fim de buscar alternativas de armazenamento que o
aperfeiçoe.
3.11 Etapas seguintes
Conforme o método Fac Plan, a etapa seguinte ao cálculo do espaço consiste na primitiva do
planejamento de espaço. Após, são identificadas as restrições, construídas as opções de
layout, identificados os principais problemas de movimentação e são realizadas a avaliação e
seleção do layout. Desse modo, as 21 etapas são executadas, e o projeto de layout é concluído.
No entanto, devido ao grande volume de informações e análises necessárias para a
concretização dessas etapas, elas serão objetos de um próximo trabalho, e a etapa referente ao
cálculo do espaço encerra o estudo de caso apresentado.
4. Discussão dos resultados
A partir da definição dos níveis de estoque e conseqüente dimensionamento do espaço para
cada UPE, intensificou-se a preocupação com uma das bases da Produção Enxuta, o heijunka
ou nivelamento da produção em volume e em combinação (mix) de produtos. Com o objetivo
de nivelar os volumes de estoque e proporcionar maior flexibilidade à produção foi preciso
uma combinação de produção para estoque e produção por pedido. O mix adequado evita o
excesso de estoque de um determinado tipo de material e garante o seu giro, atenuando as
perdas por estoque, espera, movimentação e superprodução. Como resultado, verificou-se a
redução no lead time, na obsolescência dos produtos e nos custos de transporte, armazenagem
e atrasos.
Segundo Liker (2005), ao aplicar os princípios do modelo Toyota, começa-se a examinar o
processo de produção a partir da perspectiva do cliente. No estudo de caso, como se trata da
organização dos estoques de produtos intermediários, os clientes são internos, representados
pelos processos produtivos subseqüentes. Assim, a nova configuração de layout possibilita
que esses clientes sejam atendidos com o produto certo, no local certo e no momento certo,
comprovando a relação direta entre os componentes do STP e o layout industrial.
Além disso, a definição e implantação das UPE´s reduziram em 50% as perdas de utilização
dos equipamentos da empresa decorrentes da falta de abastecimento de materiais e
aumentaram em 35% a utilização dos recursos de movimentação de estoque da área de
logística interna. Isso ocorreu porque as UPE´s foram planejadas considerando a seção dos
tarugos e o grupo de qualidade dos materiais, que são os parâmetros utilizados na
programação do processo cliente. Ao mesmo tempo, as UPE´s adotadas geram um ambiente
propício à aplicação de kanban, pois permitem a gestão visual dos estoques.
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