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LAISLLA CAROLINE PEREIRA RODRIGUES

OS FATORES DE REINCIDÊNCIA PRESENTES NAS FIGURAS TÍPICAS DA LEI


MARIA DA PENHA

PATOS DE MINAS
2018
LAISLLA CAROLINE PEREIRA RODRIGUES

OS FATORES DE REINCIDÊNCIA PRESENTES NAS FIGURAS TÍPICAS DA LEI


MARIA DA PENHA

Artigo elaborado como requisito de avaliação


total da disciplina de TCC II e para a obtenção
do título de Bacharel em Direito pelo Centro
Universitário de Patos de Minas – UNIPAM,
sob orientação da professora Esp. Maria
Valéria de Melo Paiva.

PATOS DE MINAS
2018
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE MINAS
CURSO DE DIREITO

Artigo intitulado “Os fatores de reincidência presentes nas figuras Típicas da Lei Maria Da Peha”,
de autoria do(a) aluno(a) “Laislla Caroline Pereira Rodrigues”, aprovado pela Banca Examinadora
constituída pelos seguintes professores:

_____________________________________________
Prof. Esp. Maria Valéria De Melo Paiva
Orientador

_____________________________________________
Prof. Me. Sabrina Nunes Borges
Examinador

_____________________________________________
Prof. Me. Ulisses de Oliveira Simões
Examinador

_____________________________________________
Prof. Me. Guilherme Caixeta Borges
Coordenador do curso de Direito

PATOS DE MINAS, 10 DE DEZEMBRO DE 2018.


“Só se deverá acreditar num Deus que
ordene aos homens a justiça e a igualdade.”

- George Sand
Os fatores de reincidência presentes nas figuras típicas da
Lei Maria da Penha
The recurrence factors present in the typical figures of the 'Maria da Penha' Law

Laislla Caroline Pereira Rodrigues*1


Maria Valéria de Melo Paiva **

RESUMO: A violência contra a mulher fundamenta-se em conceitos históricos e sociais. Este


tipo de violência ocorre das mais diversas formas: física, verbal, psicológica, material, entre
outras. As conseqüências dessa violência são sérias e trazem grandes danos psicológicos e
mentais, bem como sérios danos físicos, e muitas vezes, pode ocasionar até mesmo na morte
da vítima. A Lei Maria da Penha foi criada com objetivo de coibir esse tipo de violência
contra a mulher e constitui um importante mecanismo no que diz respeito à proteção da vítima
e à punição dos infratores. A aplicação da Lei no que diz respeito às medidas de proteção se
mostrou muito importante no combate a este tipo de crime. Com base nisso, este trabalho teve
como objetivo analisar as figuras típicas da Lei Maria da Penha, os fatores que ocasionam a
reincidência, além de abordar também questões que englobam o tratamento da vítima e
agressor. Concluiu-se que vários são os aspectos apontados como indutores à violência e que,
esta tem relação direta com de gênero. Notou-se também que, a partir de tal Lei, foram
criados instrumentos de auxilio à vítima, e estes podem ser vistos através das Delegacias
Especializadas, além das políticas de abrigamento. Observou-se também que, apesar da
efetividade da Lei, outros mecanismos como as terapias e atendimentos psicossociais também
são importantes para que haja de fato, uma ressocialização dos agressores, a fim de evitar a
reincidência do delito.

Palavras-chave: Violência Doméstica. Agressor Doméstico. Lei Maria da Penha.

*
Graduando do Curso de Direito pelo Centro Universitário de Patos de Minas/ UNIPAM.
Email: laisllacaroline@unipam.edu.br.
**
Professora Especialista do Curso de Direito do Centro Universitário de Patos de Minas/ UNIPAM.
Email: mariavaleria@unipam.edu.br.
ABSTRACT: The violence against women is based on historical and social concepts. This
type of violence occurs in the most diverse forms: physical, verbal, psychological, material,
among others. The consequences of this violence are serious and bring great psychological
and mental damages, as well as serious physical damage, and can leave to the death of the
victim. The ‘Maria da Penha’ Law was created with the purpose of restrain this type of
violence against women and constitutes an important mechanism with regard to the protection
of the victim and the punishment of the transgressors. The application of the Law with regard
to protection measures proved to be very important in the combat against this type of crime.
Based on this, the objective of this study was to analyze the typical figures of the ‘Maria da
Penha’ Law, the factors that lead to recurrence, and approach issues involving the treatment
of the victim and the aggressor. It was concluded that several aspects are pointed out as
inductors to violence and that this is directly related to gender. It was also noted that, from
this Law, instruments were created to assist the victim, and these can be seen through the
Specialized Police stations, in addition to shelter policies. It was also observed that, although
of the effectiveness of the Law, other mechanisms such as psychosocial therapies and
psychosocial treatments are also important so that there surely a resocialization of the
aggressors, in order to avoid recurrence of the crime.

Keywords: Domestic violence. Domestic Aggressor. ‘Maria da Penha’ Law.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 7

2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER.......................... 8

2.1 Análise histórica ............................................................................................................ 8


2.2 Conceituação e tipologias ........................................................................................... 10
2.3 Consequências da violência contra a mulher ........................................................... 12
3 Sujeitos envolvidos na violência doméstica: a vítima e o agressor.............................. 13

3.1 Perfil do agressor ........................................................................................................ 14


4 Os fatores que ocasionam o delito e a reincidência ...................................................... 15

5 A LEI MARIA DA PENHA: ORIGEM DA LEI, ASPECTOS GERAIS,


BENEFÍCIOS E A EFETIVIDADE. .................................................................................... 16

5.1 Aspectos da Lei 11.340/06 .......................................................................................... 17


5.2 A efetividade e os benefícios da Lei Maria da Penha .............................................. 18
5.3 Medidas de proteção às vítimas de agressão doméstica e tratamento a vitima e ao
agressor .................................................................................................................................... 18
6 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 21

7 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 23
7

1 INTRODUÇÃO

A violência doméstica contra a mulher é um problema recorrente na sociedade


atual, sendo esta demonstrada de várias maneiras distintas. Dentre estas maneiras, encontra-se
a violência física, verbal, psicológica, entre tantas outras. Essa violência acarreta nas vítimas
marcas físicas e emocionais, submetendo estas a traumas psicológicos que os acompanharão
pelo resto de suas vidas.
Com base na grande incidência deste tipo de violência, foi criada a Lei nº
11.340/2006, sendo esta popularmente conhecida como a Lei Maria da Penha, que tem como
propósito coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Baseia-se nos
termos do Art.226, §8º da Constituição Federal que preceitua: “O Estado assegurará a
assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para
coibir a violência no âmbito de suas relações” (BRASIL, 1988).
Esse dispositivo legal visa aumentar o rigor das punições sobre crimes domésticos
e familiares praticados contra mulheres e a efetivação da lei em casos de violência doméstica
e familiar, definidas por qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial às mulheres.
De acordo com a lei, a vítima será ouvida e sempre estará acompanhada de
defensor, receberá nesse sentido total amparo não só da autoridade policial, mas da Justiça em
seus diversos órgãos, que, de forma imediata, adotará as medidas protetivas de urgência
previstas na legislação em comento.
No entanto, apesar da efetividade da Lei Maria da Penha, existem muitos casos de
reincidência dos fatos típicos presentes nesta, o que perpetua a ocorrência da violência contra
a mulher. Diante de tais fatos, o presente trabalho tem como objetivo analisar a problemática
que envolve a violência doméstica, levantando os principais fatores que ocasionam a
reincidência da mesma (CRAIDY, 2008).
É válido destacar, que, através de uma revisão descritiva, aqui serão abordadas e
definidas as diversas formas de violência existentes contra a mulher, assim como as medidas
de assistência à mulher em situação de violência e o amparo que os órgãos públicos podem
oferecer à agredida e à sua família, inclusive ao agressor.
É importante que se tenha um olhar diferente nesse sentido, procurando de forma
técnica analisar a origem do problema, ou seja, o agressor. Das causas que o levam a tamanha
crueldade e a melhor forma de tratá-lo, para que haja redução nos alarmantes índices,
8

inclusive de reincidência; o trabalho buscará identificar e correlacionar meios que possam


identificar conscientizar, amparar e tratar à agredida e ao agressor.
Desta forma, sem o intuito de esgotar o tema, busca-se com o aprofundamento
deste, responder aos diversos questionamentos acerca dos potencializadores ou fatores de
risco, bem como assinalar as consequências provocadas nas mulheres vítimas da violência
doméstica.

2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

2.1 Análise histórica

A violência contra a mulher é um fato que pode ser observado em um contexto


histórico antigo, não sendo este um problema configurado em um determinado período de
tempo, classe social ou cultura. Sendo assim, torna-se importante conceituar e entender a
abrangência deste problema de maneira clara, a fim de elucidar todos os fatores que
circundam o tema.
Na definição de Bernardes Apud Cabral (2008), a violência doméstica não se trata
de raça, classe social, idade ou outros fatores relacionados para se concretizar. O autor afirma
ainda que, este tipo de agressão tem a finalidade de reduzir o status feminino e que este tipo
de violência é atemporal e ocorre independente de leis e fronteiras, sendo, portanto, um
problema presente em todas as épocas e lugares da humanidade.
Abreu (2008) diz que essa violência tem suas bases enraizadas numa constituição
de uma dimensão onde se acredita na prevalência de caráter natural do masculino sobre o
feminino e esta se estabelece baseando-se nas relações de gênero, sendo traduzida em atos e
comportamentos que resultam em sofrimento nas mais variadas esferas.
Este tipo de violência sustenta-se basicamente na ideologia machista, ideologia
esta que prega o domínio do homem sobre a mulher, com a intenção de subjugar à mesma.
Osterne (2001) pondera que o domínio do homem sobre a mulher constitui uma forma de
justificação do homem, e que esta visão manifesta-se nos discursos e nas práticas da
sociedade atual, e tem como objetivo naturalizar tal divisão.
Sendo assim, é acertado supor que, a violência doméstica apresenta a sua origem
nas questões relacionadas à própria discriminação contra a mulher (CABRAL, 2008). Desta
forma, a configuração de uma sociedade patriarcal durante os períodos da história contribuiu
significativamente para a formação da figura feminina como sendo inferior à masculina, fato
este que acentuou ainda mais a ocorrência da agressão contra as mulheres.
9

Por volta do século XX, conforme dito por Alves (2006), a Revolução Francesa,
ao invés de assegurar o direito de igualdade entre homens e mulheres, na verdade inibiu a luta
das mesmas, fechando espaço para que estas obtivessem essa igualdade. Neste período, as
mulheres que tentavam lutar por direitos iguais eram punidas com a morte.
Todavia, apesar de todas as dificuldades impostas às mulheres da época, estas
passaram a notar que não existiam fundamentações lógicas para as limitações a estas
impostas, uma vez que tais limitações baseavam-se apenas nas questões de gênero. A partir
disso, as mulheres começaram a lutar pelo direito de serem tratadas como iguais aos homens
(BRASILEIRO e MELO, 2016).
Porém, pode-se de dizer também, de maneira geral, que houve uma diminuição da
desigualdade entre homens e mulheres nesse período, graças às denuncias que chegavam ao
conhecimento das autoridades e da opinião pública. Justamente neste período histórico tem-se
a configuração do movimento feminista.
No cenário brasileiro, o movimento feminista começou a se consolidar com a
contribuição de vários fatores históricos. Na década de 70, conforme analisado por Desouza,
Baldwin e Rosa (2000), a participação da mulher de forma ativa na economia brasileira
cresceu em torno de 11,5%.
Além disso, questões relacionadas ao período político da época também
influenciaram nesse aspecto. Neste período, a ditatura militar passava pelo seu processo de
enfraquecimento e, enquanto as mulheres viam seus direitos sendo aceitos pela sociedade nos
outros países, no Brasil houve também uma abertura que permitisse com que estas também
pudessem lutar pela igualdade entre os sexos, a elas sendo permitido comemorar o então
reconhecido Dia Internacional da Mulher.
Os fatores ligados à religião também deixaram a sua contribuição. No Brasil,
durante muitos séculos, a Igreja católica representava a parcela da população que
correspondia à elite. Nesse período, no entanto, a Igreja começou a adotar uma nova posição,
tornando-se mais acessível popularmente, voltando-se então para o interesse das massas
(ALVES, 2006).
A partir daí, então, nota-se um grande passo no que diz respeito à luta das
mulheres referindo-se à conquista da igualdade. E então, na década de 90 é que houve grandes
conquistas de direitos das mulheres, especificamente no campo do Direito Civil. Tais direitos
referem-se inicialmente a aqueles nos quais representavam a mulher nas esferas sociais, que
englobam os setores da educação e do mercado de trabalho, e logo em seguida incorporou
também o campo político (BIANCHINI, 2009).
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Todavia, conforme visto em todos os períodos da história e até nos dias atuais,
apesar das conquistas das mulheres no que diz respeito à igualdade, esta ainda se esbarra na
violência praticada contra estas mesmas, uma vez que os índices mostram o quanto as
mulheres ainda sofrem com os mais variados tipos de violência.
Os dados acerca da violência contra a mulher no Brasil ainda são alarmantes.
Besterd Apud Cabral (2008) em seus estudos apurou que, a cada 15 segundos, uma mulher é
espancada no país. O estudo ainda mostra que, cerca de 33% das mulheres já relataram terem
sofrido algum tipo de violência física, sendo que 24% relatam já terem sido ameaçadas com
algum tipo de arma.
De fato, a violência contra a mulher é considerada um problema no âmbito da
segurança pública, além de se tratar também de uma questão de justiça e também de Direitos
Humanos. Trata-se de um assunto tão sério que, os aspectos acerca de tal tipo de violência são
prioridade, do ponto de vista da Organização Mundial da Saúde (OMS) até os dias atuais
(SOUSA, NOGUEIRA e GRADIM, 2013).
Baseando-se nesse estudo e em outros já realizados, nota-se que a violência contra
a mulher é uma realidade muito presente na atual sociedade e que, conforme dito por Porto
(2006), “enquanto persistir essa situação de violência contra a mulher, o Brasil não será uma
sociedade nem livre, nem igualitária, e nem fraterna [...]”. É necessário então, apurar e
intensificar os estudos acerca deste fenômeno que atinge de maneira ainda intensa, toda a
sociedade.

2.2 Conceituação e tipologias

Inicialmente, antes de definir o que é violência doméstica, é necessário entender o


significado de gênero, uma vez que tais conceitos encontram-se correlacionados. Araújo Apud
Dotoli e Leão (2015) definem gênero como a individualidade que possui sexos diferentes, ou
qualquer atribuição sexuada que se dê a algo.
No entanto, o conceito de gênero passou a ser utilizado num contexto mais
específico, tratando-se então de questões que abordam o âmbito cultural, tornando-se
independente do conceito de “sexo” do ponto de vista biológico. Passou então a assumir um
significado mais ligado às relações entre o masculino e o feminino (DOTOLI e LEÃO, 2015)
De acordo com Melo Apud Barbosa (2014), a violência de gênero retrata uma
relação onde o poder de dominação do homem se impõe sobre a mulher. Estes papéis, por sua
vez, são impostos pela ideologia patriarcal, que originam as relações violentas. Desta forma,
11

na visão de Giongo e Pedro (2016), a violência de gênero conceitua literalmente a violência


contra a mulher.
Por sua vez, a violência doméstica pode ser definida como qualquer tipo de
agressão, independente da sua tipologia, que ocorre no ambiente familiar. De acordo com
Carneiro (2010), a violência doméstica contra a mulher abriga qualquer ato de omissão que
origine algum tipo de sofrimento de qualquer espécie, além de lesão e até mesmo a morte,
baseando-se na questão de gênero.
Uma das características mais inerentes à violência doméstica é a rotinização da
mesma na sociedade. De acordo com Abreu (2008), as mulheres são as mais atingidas por
esta, pois devido estas conviverem mais no ambiente doméstico, estão mais sujeitas a este tipo
de violência. Dentro desta lógica, pode-se afirmar, de fato, que as maiores vítimas da
violência doméstica são as mulheres.
Esta violência, segundo Ballone (2006), pode ser caracterizada por várias
tipologias diferentes. Caracteriza-se como violência física quando se faz o uso da força
objetivando ferir. Estas podem deixar ou não sinais evidentes da sua ocorrência. Chutes,
tapas, e outros atos que evidenciem agressão ao corpo físico caracterizam a violência física
ativa. Juridicamente falando, a omissão por parte de familiares e conhecidos também é
caracterizado como um tipo de violência.
A violência psicológica é caracterizada quando existe a agressão emocional.
Depreciações verbais, desrespeito e discriminação são alguns dos exemplos de violência
psicológica. Este tipo de agressão é igualmente ou até mais prejudicial às vítimas que a
violência física, pois as marcas são deixadas no emocional, e podem continuar existindo por
toda a vida.
A violência verbal, por sua vez, ocorre paralelamente à violência psicológica.
Insultos verbais, ataques de fúria, onde se disparam palavras de ódio e ofensas verbais no
ambiente familiar e até mesmo na presença de pessoas externas ao circulo familiar são
características desse tipo de violência.
Souza (2009) vincula a violência doméstica a três aspectos específicos: a violência
de gênero, que engloba todo e qualquer ato de violência cometida contra as mulheres,
incluindo os atos de violência sexual, sendo estes atos embasados unicamente na questão de
gênero; a violência familiar, sendo todo e qualquer ato de violência cometida no ambiente
domiciliar e residencial; e por fim, a violência contra as mulheres, que geralmente ocorrem
dentro do contexto social e familiar. Com base nessas vinculações, tem-se caracterizado o
ciclo que permeia a ocorrência da violência doméstica contra as mulheres.
12

São vários os tipos de violência que são cometidas contra as mulheres. A


violência no ambiente doméstico tem se tornado bastante comum atualmente. Segundo Cabral
(2008), a violência doméstica muitas vezes atinge às mulheres de forma disfarçada e
silenciosa, sendo até mesmo difícil identificar a sua ocorrência. Este é um problema não
atrelado a qualquer fator social, cultural ou religioso, especificamente.
Outro aspecto que deve ser analisado com atenção, no que diz respeito à
ocorrência da violência doméstica é que, por muitas vezes, pelo fato do agressor fazer parte
do seu próprio seio familiar, a vítima se vê desencorajada a denunciar. Muitas vezes também,
a manipulação psicológica é tão massiva que, por vezes, o agressor consegue até mesmo
transferir a culpa do ato de agressão para a própria vítima, agravando ainda mais o seu
sofrimento psicológico, gerando nesta vítima o sentimento de culpa (CRAIDY, 2008).
Ao analisar este tipo de violência, pode-se observar que esta segue, de uma
maneira muito comum, um ciclo, também denominado como “ciclo da violência”. Sousa,
Nogueira e Gradim (2013) explicam tal ciclo:

A primeira fase constitui-se de desentendimentos, humilhação, intimidação,


provocações mútuas, seguida pelo uso de estratégias de ameaças como a
separação, o impedimento de participação na vida dos filhos, entre outras,
finalizando o conflito em agressão física. Após a agressão física, ocorrem
momentos de promessas de mudanças que, em geral, resultam na
reconciliação do casal, fase denominada de “lua de mel” (SOUSA,
OLIVEIRA E GRADIM, 2013, p. 426).

Sendo assim, faz-se importante analisar com bastante cautela e de maneira


profunda todos os aspectos que envolvam o acometimento da violência doméstica, desde o
contexto social até os aspectos mais íntimos, tanto no que diz respeito às vítimas bem como
também o algoz.
Tal análise permite estabelecer relações entre o contexto social, perfil das vítimas
e dos violentadores. São verificações que acrescentam muita informação, tanto para a
resolução do problema no âmbito jurídico, como também permite considerações mais
acertadas e reais no que diz respeito ás vertentes sociais e psicológicas.

2.3 Consequências da violência contra a mulher

De fato, a violência doméstica contra a mulher gera conseqüências graves. De


acordo com Cidreira (2017), esta se trata de uma questão de saúde pública, uma vez que se
forma um ciclo sem fim, no que diz respeito ao uso dos serviços de saúde pública, elevando
significativamente os gastos nesse setor.
13

As consequências físicas advindas da violência doméstica cometida contra a


mulher são inúmeras. Além das sequelas originadas do próprio ato violento, as vítimas podem
desenvolver doenças físicas crônicas como alterações na pressão arterial, insônia, enxaquecas,
entre outras (GRIEBLER e BORGES, 2013).
De acordo com Mahl, Oliveira e Piccinni (2016), é comum também, as vítimas de
violência doméstica desenvolverem distúrbios alimentares, problemas de concentração,
pesadelos frequentes, além de desenvolverem também a sensibilidade à dor. Além disso,
existe uma grande probabilidade de tais enfermidades se tornarem crônicas e constantes.
Como consequências psicológicas e físicas, pode haver, devido à violência
sofrida, problemas no desenvolvimento físico e mental da vítima. Estas podem desenvolver
doenças de cunho psicológico como depressão, síndrome do pânico e estresse pós-traumático,
entre outras (CIDREIRA, 2017).
Mahl, Oliveira e Piccinni (2016) afirmam que é comum as vítimas de violência
doméstica desenvolverem comportamentos autodestrutivos e, consequentemente, acabam
desenvolvendo vícios como o uso de drogas e álcool. Além disso, o sentimento de impotência
diante da situação leva as vítimas a cometerem até mesmo ações que atentam contra a sua
própria vida como automutilação e tentativa de suicídio.
Este tipo de violência também acaba afetando a maneira como a vítima lida com a
sociedade. É frequente as vítimas se isolarem do convívio social, visto que, tomadas pelo
sentimento de vergonha e medo, estas tendem a se afastarem, com a intenção de que estas não
sejam notadas e, por sua vez, a violência se perpetua (CRAIDY, 2008).
Nota-se, portanto que, a violência doméstica traz grandes consequências às
vítimas. É importante ressaltar também que, além das sequelas físicas, existem também as
sequelas emocionais, que causam danos psicológicos profundos que acompanharão a vítima
por toda a vida.

3 SUJEITOS ENVOLVIDOS NA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: A VÍTIMA E O


AGRESSOR

Para maior compreensão acerca de todos os aspectos que envolvem a violência


doméstica, faz-se necessário analisar de maneira profunda e ordenada os sujeitos que
constituem o cenário de delito doméstico. Estes são classificados em sujeitos ativo e passivo.
Conforme Silva (2011), o sujeito ativo é o praticante da figura típica, como
descrito na lei. Esta prática pode ser isolada ou em conjunto com outros. O autor ainda
14

evidencia que, este conceito abrange não somente àqueles que praticam a figura típica, mas
também qualquer um que, de maneira objetiva ou subjetiva, contribui para a ocorrência do
delito.
O sujeito passivo constitui aquele que é titular ou possui poder sobre o bem lesado
ou ameaçado diante do ato criminoso. Portanto, aquele que de alguma forma é lesado das
mais variadas formas, tanto materialmente quanto fisicamente, é configurado como o sujeito
passivo (MIRABETE, 2010 Apud SILVA, 2011).
Sendo assim, em linhas gerais, quando se trata da violência doméstica, assume-se
que o sujeito ativo corresponde ao agressor, enquanto o sujeito passivo é figurado pela vítima
da violência. Estabelecendo uma relação ainda mais próxima do contexto da violência
doméstica contra a mulher, Santos e Lima (2013) dizem que se atribui o papel de sujeito ativo
o homem, e de sujeito ativo, a mulher.
Ademais, é importante um estudo tanto do perfil do agressor quanto da vítima,
pois, este estudo permite determinar o perfil daquele que comete o ato criminoso, bem como
também identificar os potenciais fatos que desencadeiam tais atos (GOMES, 2012).
Pode-se observar, frente às pesquisas já realizadas, que a violência doméstica
atinge, em sua grande maioria, as mulheres. Conforme dito por Cavalcanti (2005), tal fato
permite concluir que, a violência doméstica se dá, na maior parte das vezes, baseando-se nas
questões de gênero, fato que explica o maior número de vítimas pertencerem ao sexo
feminino.

3.1 Perfil do agressor

Vários estudos foram realizados no intuito de traçar o perfil do agressor, no que


diz respeito à violência doméstica. Tais dados permitem com que se analise e identifique as
características comuns aos agressores. As variáveis incluem características psicológicas,
sociais e culturais.
Inicialmente, é importante analisar qual é a visão do homem no que diz respeito à
violência contra a mulher. Segundo Bertho (2016), existe uma distorção na percepção do
homem com relação às práticas violentas. O autor demonstra que, embora cerca de 41% dos
brasileiros já tiveram contato com algum agressor, cerca de 16% dos homens reconhecem já
terem tido atitudes violentas.
Tais dados demonstram que as bases nas quais se instituem as práticas de
violência são de origem cultural e que, na maioria das vezes, os homens sequer percebem que
15

estão cometendo tal delito. Existe, portanto, uma conceituação diferente entre homens e
mulheres do que se caracteriza ou não as práticas violentas.
De acordo com pesquisa realizada por Griebler e Borges (2013), a maioria dos
homens agressores frequentou a escola, sendo 48,1% concluíram o ensino fundamental e
21,2% concluíram o ensino médio. Já em pesquisa realizada por Deeke e Coelho (2008), estes
concluíram que 40% dos homens haviam concluído o ensino fundamental e 26,7% concluíram
o ensino médio.
Ainda segundo as pesquisas, existe uma relação entre o nível de escolaridade e a
agressão doméstica. Griebler e Borges (2013) concluíram em sua pesquisa que cerca de
48,6% dos agressores concluíram apenas o ensino fundamental, enquanto as pesquisas de
Brasileiro e Melo (2016) chegaram ao valor correspondente à 55,5%. Observa-se, portanto,
que a questão da escolaridade apresenta uma variável relevante para o estudo.
Outro ponto a ser observado, no que diz respeito ao perfil do agressor, diz respeito
às crenças sociais arraigadas ao indivíduo. Muitos homens acreditam que agressões entre
casais são normais. Outros perpetuam ainda a ideia arcaica de domínio do homem sobre a
mulher, o que lhes permite utilizar da força contra tais (CALDEIRA, 2012).
Cavalcanti (2005) aponta questões que envolvem aspectos religiosos. Conforme
observado pelo autor, os praticantes das religiões de origem mulçumana tendem a desenvolver
mais frequentemente, quando comparada às outras religiões, instintos mais violentos com
relação à mulher.
Isso pode ser explicado pelo modo como a figura feminina é abordada no contexto
cultural e religioso. Entretanto, conforme ressaltado ainda pelo autor, apesar de ser um dado
importante a ser observado, o aspecto religioso não constitui por si só uma variável a ser
considerada isoladamente, uma vez que, nota-se que os agressores podem pertencer às mais
variadas religiões. Tal observação permite apenas lançar mão da discussão dos mais variados
fatores que estimulam a agressão contra a mulher.

4 OS FATORES QUE OCASIONAM O DELITO E A REINCIDÊNCIA

São vários os fatores observados por pesquisadores como sendo o gatilho que
origina o ato de violência contra a mulher. O uso de substâncias como álcool e drogas,
ciúmes, entre outros podem ser citados como os mais comuns.
Tratando-se do uso de substâncias ilícitas, Santos e Lima (2013) afirmam que, não
raro, o homem que comete agressão doméstica faz uso de substâncias ilícitas como o álcool e
16

drogas. Os estudos de Griebler e Borges (2013) mostram que 39,4% dos homens agressores
cometeram o delito devido ao consumo de álcool. O número apresentado por Deeke e Coelho
(2008) equivale a 50,9%.
Outro fator importante a ser analisado diz respeito ao ciúme. Muitos homens
alegam que o delito foi cometido pelo fato de se sentirem provocados pela própria vítima ou
por outros, o que gera um sentimento de ira, ocasionado pelo ciúme. Outras vezes, o homem
não aceita o fim do relacionamento e acaba agindo de forma abusiva (SANTOS e LIMA,
2013).
O contexto social também é um aspecto a ser analisado. De acordo com pesquisas,
a maioria dos homens que cometem violência doméstica encontra-se desempregados, e com a
situação financeira comprometida. Outra parcela encontra-se lotada em cargos de trabalhos
mais simples.

5 A LEI MARIA DA PENHA: ORIGEM DA LEI, ASPECTOS GERAIS,


BENEFÍCIOS E A EFETIVIDADE.

Maria da Penha Maia Fernandes, era uma farmacêutica bioquímica, graduada pela
Universidade Federal do Ceará. Aos 38 anos de idade, viu-se em uma situação que mudaria de
maneira efetiva a forma como a violência doméstica seria encarada pela sociedade e pelo
judiciário (ABREU, 2008).
Em maio de 1983, enquanto estava dormindo, Maria da Penha foi alvejada por um
tiro. O autor do disparo foi o seu próprio marido, professor universitário na época. As
consequências foram graves e ela ficou paraplégica. As tentativas de homicídio não cessaram
por aí: apenas duas semanas após ter disparado contra Maria da Penha, o professor Marco
Antônio Heredia Viveiros tentou matá-la novamente, por eletro choque e posteriormente por
afogamento, durante o banho (KUNZLER, 2015).
Maria da Penha, então, iniciou um processo em busca de justiça. Porém, a justiça
brasileira o condenou apenas por tentativa de duplo homicídio e, utilizando-se dos diversos
recursos de apelação, o agressor nunca foi preso.
No entanto, a luta de Maria da Penha continuou e, já 18 anos após a ocorrência da
agressão, ela denunciou o fato à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Essa
denuncia levou o Brasil a receber sanções, sendo o país condenado por negligência no que diz
respeito à violência doméstica. Essas sanções, por sua vez, resultaram na elaboração da Lei nº
11.340, que ficou popularmente conhecida como Lei Maria da Penha (OLIVEIRA, 2011).
17

O Brasil avançou no que diz respeito ao modo como tratar a violência contra as
mulheres em 1994, quando assinou a convenção Interamericana que tinha como finalidade a
prevenção, erradicação e punição da violência contra a mulher. Sendo assim, nesses termos
começaram a ser definidos e conceituados todos os aspectos entendidos como sendo um tipo
de violência contra a mulher (MARTINI, 2009).
Definiu-se que, toda e qualquer ação e conduta, que se baseie no gênero, e que
cause sofrimento físico, sexual, emocional e psicológico à mulher, sendo cometida tanto no
âmbito público quanto privado, ocorrendo dentro de qualquer unidade doméstica ou em
quaisquer relações interpessoais onde haja ou já tenha existido o convívio no mesmo ambiente
domiciliar que a mulher, caracteriza-se como violência doméstica contra a mulher. Estes
conceitos, portanto, foram as bases para a elaboração da Lei nº 11.340.

5.1 Aspectos da Lei 11.340/06

A Lei nº 11.340, do ano de 2006, foi elaborada com a finalidade de estabelecer


mecanismos para coibir a ocorrência de qualquer tipo de violência doméstica contra a mulher.
Estes mecanismos se baseiam nos termos estabelecidos na Constituição Federal e na
Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, bem
como também na Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a
mulher (CABRAL, 2008).
Nota-se, portanto, que graças às manifestações femininas exigindo justiça para os
casos de violência contra a mulher, teve-se a necessidade de elaborar um instrumento de lei
que se tratava especificamente deste tipo de crime. A luta de Maria da Penha teve uma grande
influência para a elaboração desse processo. É a partir deste momento então, que se
demonstram nos aspectos da Lei, as definições do que se constitui violência doméstica, além
da criminalização dos atos caracterizados como tal (ABREU, 2008).
O artigo 5º da lei define a violência doméstica como qualquer tipo de ato,
motivado por questão de gênero, que cause a morte, lesão, ferimento ou sofrimento físico,
emocional, sexual e patrimonial. Inclui-se também, neste caso, o ato de omissão (BRASIL,
2006).
Tratando-se de uma lei que especifica os termos que caracterizam a violência
doméstica contra as mulheres, o campo de abrangência da lei trata-se do âmbito doméstico,
sendo este compreendido como um espaço onde haja a convivência permanente entre as
pessoas, independente da existência de vínculo familiar. Abrange também o âmbito familiar,
18

compreendido pela formação da unidade familiar por aqueles que se consideram ligados por
laços parentais (OLIVEIRA, 2011).

5.2 A efetividade e os benefícios da Lei Maria da Penha

Apesar dos benefícios trazidos para a sociedade em geral, a Lei Maria da Penha
encontrou e ainda encontra muita resistência por parte da sociedade. Porém, é fato que esta lei
representa a humanização feminina, o que garante às mulheres o direito à proteção e
preservação da própria vida (MORENO, 2014).
Foi a partir da criação da lei que começaram a surgir as políticas públicas para a
defesa da mulher, o que ocasionou, por sua vez, o surgimento das instituições de apoio e
proteção. As Delegacias Especializadas na Defesa da Mulher foram criadas com o intuito de
apurarem especificamente os crimes cometidos, que contém os fatos típicos da Lei Maria da
Penha (ABREU, 2008).
Outro fato importante diz respeito à dedicação do próprio Estado em difundir
informações sobre a violência doméstica e sobre a Lei Maria da Penha. Segundo Moreno
(2014), a Presidência da República, em conjunto com vários órgãos governamentais e sociais,
vêm trabalhando para que a lei se torne de conhecimento geral, à toda população. E tal
difusão tem se mostrado eficaz, uma vez que, ainda de acordo com o autor, cerca de 84% da
população brasileira tem ciência da mesma.
Os benefícios ocasionados pela criação da Lei Maria da Penha, de fato, se tornam
cada dia mais evidentes. Do ponto de vista jurídico, esta lei se tornou um dos principais
instrumentos legais da política de combate à violência doméstica no Brasil, o que assegura o
cumprimento pleno da Constituição Federal (GOMES, 2012).

5.3 Medidas de proteção às vítimas de agressão doméstica e tratamento a vitima e ao


agressor

A Lei Maria da Penha permitiu que fossem criados mecanismos judiciais


especializados em lidar com a violência doméstica e familiar contra as mulheres, juizados
estes que possuem a competência cível necessária para o enfrentamento. Estes mecanismos
judiciais possibilitaram ainda a criação de medidas protetivas, preventivas e repressivas, e
permitiu ainda a execução de ações que visam à informação, prevenção e erradicação deste
tipo de violência (STELLET, et al., 2012).
19

Essas medidas protetivas de urgência têm como objetivo possibilitar à vítima a


continuidade da sua vida normal e ao mesmo tempo, continuar dando segmento à ação
movida contra o agressor. Estas também garantem à vítima o direito de locomoção, direito de
permanência no próprio lar, ou seja, permitem que o cotidiano da vítima não seja modificado
bruscamente (OLIVEIRA, 2011).
Em sua análise, Craidy (2008) enfatiza que a principal finalidade das medidas
protetivas “é preservar a integridade física e psicológica da mulher e, na maioria das vezes,
preservar também a integridade física dos filhos, contra toda e qualquer espécie de violência
de que trata o artigo 5º da Lei nº 11.340/2006, perpetrada pelo agressor” (CRAIDY, 2008, p.
34).
Essas medidas estendem a todas as vítimas, independente de sua classe social,
renda, etnia, religião e orientação sexual (MINEO, 2011). Podem ser requeridas pela própria
vítima ou pelo Ministério Público, caso esta se sinta de alguma forma ameaçada, ou podem
ser concedidas pelo juiz imediatamente, sem a necessidade de audiência (OLIVEIRA, 2011).
A respeito das medidas protetivas, Mineo (2011) enfatiza:

Tais medidas e decisões mencionadas acima deverão ser tomadas por órgãos
e entidades relacionadas ao trabalho em volto ao rompimento do ciclo de
violência doméstica, fazendo assim parte da proteção da mulher desde o
inicio do processo até a finalização de todos os procedimentos para concluir
o termino da violência contra a mulher, sendo assim medidas preventivas
como repressivas (MINEO, 2011, p. 9).

Com relação ao agressor, as medidas a serem tomadas envolvem a restrição de


porte de armas, o afastamento do próprio lar, o impedimento de aproximação da vítima,
manter qualquer tipo de contato com a vítima e seus familiares, entre outras. Com relação à
vítima, as medidas protetivas incluem o encaminhamento à programas de proteção, ordenar a
separação de corpos, restituição de bens, por sua vez, subtraídos pelo agressor, entre outras
(OLIVEIRA, 2011).
Tais medidas visam manter a integridade física e psicológica, tanto da vítima
como também daqueles que convivem no mesmo ambiente que a mesma. Quando as medidas
protetivas não são cumpridas, constatando-se o risco contra a vida da vítima, pode-se requerer
a prisão preventiva do agressor (STELLET, et al., 2012).
Com relação ao poder policial, esta tem a função de auxiliar a justiça, no que diz
respeito à aplicação da Lei. No primeiro momento, esta será a responsável por apurar os fatos,
20

detectando o delito bem como sua autoria. Tal ação servirá de base para uma ação penal, bem
como para a determinação de medidas cautelares (OLIVEIRA, 2011).
Há de se enfatizar também o surgimento das Delegacias Especializadas de Defesa
da Mulher. Estas são parte integrante da Política Nacional de Prevenção, Enfrentamento e
Erradicação da violência contra a Mulher. A primeira Delegacia Especializada surgiu em São
Paulo, em 1985. Seu objetivo principal era investigar e apurar os casos que envolviam
agressão contra as mulheres (ABREU, 2008).
Mineo (2011) ressalta a importância deste fato, pois, uma vez que se criou a
primeira Delegacia Especializada em São Paulo, esta se tornou um referencial para todo o
país. Além disso, ainda segundo o autor, esta criação constituiu-se um marco histórico no que
diz respeito ao sistema criminal brasileiro, pois colocou em evidência a existência da
violência contra a mulher.
Além das medidas de proteção judicial, existem também outros mecanismos que
servem de apoio às vítimas da violência doméstica. São as conhecidas políticas de
abrigamento. Essas políticas vão muito além do abrigamento das vítimas em si, e incluem
também serviços que asseguram à vítima o seu bem-estar físico, psicológico e social (LOPES,
et al., 2016).
No entanto, tais serviços ainda são pouco explorados pela Gestão Pública,
limitando-se apenas ao abrigamento literal. As Casas de Passagem e as Casas-Abrigo são
exemplos desses serviços. As Casas de Passagem realizam o acolhimento provisório da
vítima, num período de curta duração. Já os atendimentos realizados nas Casas-Abrigo são
direcionados às vítimas que se encontram em situação extrema, onde há o risco de morte
iminente (ABREU, 2008).
Há de se atentar também para o atendimento das mulheres por profissionais
atuantes no âmbito social. Cidreira (2017) discorre sobre, e diz que, o Assistente Social é de
grande valia, no que diz respeito à identificação do problema e no tratamento do mesmo.
Segundo o autor, este profissional, por se ver inserido no contexto familiar social, conhece de
maneira mais íntima a realidade familiar e, por sua vez, acaba por tomar conhecimento da
violência sofrida contra a mulher.
A partir disso, este profissional atua no sentido de orientar e encaminhar as
mulheres para o atendimento específico à situação. Estes profissionais trabalham também
formando grupos, que tem como objetivo conscientizar as mulheres dos seus direitos, além de
servir como incentivo para dar prosseguimento às denúncias contra o agressor (LOPES, et
al., 2016).
21

No que diz respeito ao agressor, é importante abordar não somente as medidas


punitivas, como também o tratamento ao mesmo. Este tratamento é importante, pois, apesar
da implantação das medidas penais, muitas vezes ainda há a reincidência do delito. Isso
ocorre porque, muitas vezes, a raiz do problema não foi exterminada (CASTILHO, 2017).
Uma das maneiras de se tratar o agressor é através da responsabilização e reflexão
do comportamento. Neste sentido, fazem importantes a implantação de projetos, destinados ao
agressor, que tenham como objetivo desnaturalizar a violência de gênero, conscientizar das
conseqüências ocasionadas pela violência, responsabilizar, intuindo ao processo de mudança,
além de estimular a resolução de conflitos através do diálogo (RODRIGUES e MENDES,
2013).
Os grupos terapêuticos também constituem um método eficaz para o tratamento
de agressores. Estes grupos possuem duas vertentes de abordagem: a psicoterapêutica e a
psicoeducacional. A abordagem psicoterapêutica tem como objetivo modificar a mentalidade
do agressor a partir da conscientização, responsabilidade e das conseqüências da agressão,
promovendo a mudança de comportamento e, tem maior eficácia através de terapias em
grupo. A vertente psicoeducacional tem como objetivo a abordagem mais comportamental
aplicada. Esta pode se realizada através de terapia individual, de casal ou familiar (MAHL,
OLIVEIRA e PICCININI, 2016).
No que diz respeito à ressocialização do agressor, Cardoso (2016) diz que esta
deve ter início antes mesmo da aplicação da pena criminal. Tal ressocialização se dá através
do auxílio psicológico e social. O autor defende que, cursos e programas de conscientização
sobre a violência e suas conseqüências também devem ser obrigatórios ao agressor, a fim de
promover a necessária mudança de comportamento. Desta forma, realiza-se uma
desconstrução do pensamento arcaico machista, o que acaba por reduzir os índices de
reincidência da violência contra a mulher.

6 CONCLUSÕES

Com base nos estudos realizados, pode-se observar que a prática da violência
doméstica contra a mulher está intimamente ligada a contextos sociais. Nota-se que a figura
feminina por vezes ainda é retratada como sendo inferior e submissa, visão esta que retrata
bem as vinculações acerca da imagem da mulher ao longo da história.
Observou-se também que, a mulher, no decorrer dos anos, lutou muito para que
tal padrão machista fosse quebrado e que, através das suas lutas, conseguiu fazer com que
22

muitos direitos fossem conquistados. Dentre estes, conseguiram com que se criasse um
dispositivo legal que tem como objetivo proporcionar a proteção da mulher frente à violência
doméstica, no caso, a Lei Maria da Penha. Tal Lei assegura a integridade da mulher no âmbito
das relações familiares, o que garante o cumprimento da Constituição Federal.
De fato, frente às pesquisas realizadas, pode-se observar também que, apesar da
existência deste instrumento legal, ainda há muito que se discutir acerca da violência
doméstica e que esta ainda é bastante recorrente na sociedade. Observou-se que, o perfil do
homem agressor pode ser constituído das mais diversas variáveis e que a questão que envolve
este tipo de violência está muito mais ligada ao contexto cultural, uma vez que o próprio
homem não considera que suas ações são passíveis de serem julgadas como sendo violentas.
Quanto à abrangência da Lei, pode-se discorrer acerca, dizendo que esta engloba
todos os aspectos que envolvam as relações familiares e domésticas e que, a definição do que
constitui violência, sendo esta tão abrangente, permite com que a aplicação da mesma não
seja inviabilizada por brechas interpretativas.
No que diz respeito à efetividade e os benefícios da Lei, observou-se que esta tem
se mostrado cada vez mais eficaz, uma vez que, apesar de ainda existir a prática da violência
contra a mulher, pode-se dizer que, a sociedade como um todo tem conhecimento da Lei,
além das sanções a serem aplicadas conforme do descumprimento desta.
Com relação às medidas protetivas, pode-se observar que estas visam zelar pela
integridade física e psicológica da vítima e que, tais medidas dificultam ao autor da violência
a recorrência do ato. Nota-se que as políticas de atendimento às vítimas são verdadeiramente
necessárias e que, desde a criação da Lei, estas aumentaram significativamente. No entanto,
pode-se concluir também, que apenas tais medidas não são suficientes para que não haja a
reincidência do delito.
É necessário que haja uma conscientização a nível mais profundo por parte do
agressor. Este deve entender as conseqüências dos seus atos violentos. É necessário ainda que
este desconstrua as questões relacionadas à desigualdade de gênero, uma vez que, ao entender
a posição de igualdade existente entre homens e mulheres, a manifestação da violência não
mais é vista como questão de superioridade masculina.
Neste sentido, os grupos terapêuticos são uma alternativa de tratamento aos
agressores, uma vez que estes atingem à raiz do problema, através do atendimento
psicológico. Tal tratamento possibilita, por sua vez, a ressocialização do agressor, o que é de
extrema importância para que se diminua os índices de reincidência da violência contra a
mulher, garantindo a esta o direito de viver em sociedade de maneira plena e igualitária.
23

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