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Desafios à Ciência e às Políticas de Desenvolvimento Regional Reflexões e Recomendações

sobre o Futuro Desenvolvimento da Amazônia


Author(s): Gerd Kohlhepp
Source: Revista Geográfica, No. 108 (JULIO-DICIEMBRE 1988), pp. 133-148
Published by: Pan American Institute of Geography and History
Stable URL: https://www.jstor.org/stable/40992574
Accessed: 01-10-2019 20:14 UTC

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Desafios à Ciência e às Políticas de
Desenvolvimento Regional
Reflexões e Recomendações sobre o Futuro
Desenvolvimento da Amazónia

Gerd Kohlhepp*

Introdução

Parece que, com vista aos êxitos reduzidos, aos impactos negativos para a
população indígena e o meio ambiente, e em especial para as florestas
tropicais, em face da marginalização de largas camadas da população
regional e das crescentes tensões sociais, se justificam fortes dúvidas nas
estratégias do desenvolvimento que têm vindo a ser evoluídas para a
Amazónia.
Sendo nove os países que participam na bacia amazónica, que, cada um
por si, elaboraram concepções de desenvolvimento diferenciados, e que
esta grande região apresenta extraordinária diversidade nos aspetos eco-
lógicos e sócio-econômicos, as afirmações seguintes não podem ser genera-
lizadas. Nem por isso, descrevem a realidade da Amazónia em geral,
embora com diferente grau de intensidade.
As explanações que se seguem são expressão da co-responsabilidade
que cientistas das mais diversas disciplinas e nacionalidades sentem pela
conservação dos ecossistemas amazónicos, bem como pela população ali
existente e o seu meio-ambiente.
As presentes observações1 compactas não se atrevem a querer interferir
nas decisões autónomas e políticas regionais de desenvolvimento dos
♦ Centro de Pesquisas da América Latina. Depto. de Geografia. Universidade
de Tübingen. Hölderlinstrasse 12 D- 7400 Tübingen, Rep. Fed. da Alemanha
1 Este ensaio entegra também considerações que os participantes do Simpósio
Internacional e Interdisciplinar "Homem e Natureza na Amazónia" proferiram
em conferências e debates. Porém, o autor só assume a responsabilidade por
esta linhas.
O simpósio se realizou de 26 a 28 de maio de 1986 no Centro de Convenções
da Universidade de Tübingen em Blaubeuren (Rep. Fed. da Alemanha) e foi
organizado em colaboração da Associação Alemã de Pesquisas sobre a América
Latina (ADLAF) com o Instituto Max-Planck de Limnologia (secção: Ecologia
tropical) em Plõn e o Centro de Pesquisas sobre a América Latina do
Departamento de Geografia da Universidade de Tübingen.
Cf. G. Kohlhepp e A. Schrader (eds.): Homem e Natureza na Amazónia/
Hombre y Naturaleza en la Amazoia. Tübingen Beiträge zur Geographischen
Lateinamerika-Forschung, 3. Tübinger 1987 (507 pp.; Geographisches Insti-
tut, Universität Tübingen, 7400 Tübingen, Rep. Fed. da Alemanha).

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diversos governos e países. Mas questionam o con


corno tal. Não se apresenta aqui um pleito por um
favorecendo um encerramento da região, que, ali
viável, devido aos processos em curso desde há 20
Muito ao contrário, as ideias aqui expostas querem
contribuição científica crítica, mas construtiva,
natureza na Amazónia.
A região da Amazónia constitui desafio para ciência, planejamento e
política do desenvolvimento. Apresentamos a seguir algumas respostas a
estes desafios, completando-as com recomendações para o desenvolvimento
futuro da Amazónia.

Desafío à ciência

Em face da complexidade dos ecossistemas, bem como dos crescentes


conflitos de interesses no decurso da ocupação e exploração económica da
Amazónia, constitui primeira tarefa fundamental dos cientistas, fazer um
esforço máximo para analisar as condições naturais subjacentes e a sua
estrutura funcional, bem como as alterações introduzidas ultimamente pelo
elemento humano, e suas respectivas causas e consequências2.
Isso implica a necessidade de forte intensificação das pesquisas científi-
cas das diversas disciplinas, mas muito especialmente uma abordagem do
trabalho científico, em base multi e interdisciplinares, a sua fundamentação
metodológica, bem como o seu alargamento e ancoragem no âmbito
institucional, metas estas para que já se lançaram inícios positivos. Incumbe
à parte científica exercer a pressão necessária à criação de adequadas
condições de quadro e infraestructura qualificada para as atividades da
pesquisa.
Entendemos sob estas exigências não só a adjudicação de maiores verbas
financeiras para projetos de pesquisa que deveriam ser postas à disposição
sem condições, por fontes nacionais e internacionais, mas também o
reforço institucional das instalações de pesquisa. Referimo-nos a universi-
dades e institutos de pesquisa especializada, tanto no que diz respeito ao
aspeto do equipamento técnico como humano. Para fomento da infraestructu-
ra científica regional e para a aquisição de intensivos conhecimentos
regionais, bem como para efeitos de integração dos cientistas e técnicos
nativos da região,este reforço deveria concentrar-se sobretudo a locali-
zações na própria Amazónia. Neste contexto têm igual importância a

2 Veja a respeito disso também: G. Kohlhepp: Ecological and socioeconomic


problems of the expansion of human settlement and agricultural activities in
tropical rain forest regions.- In: D.O. Hall, M Lamotte e M. Marois (eds.): The
open research problems in the life sciences under tropical conditions.
Proceedings of an International Conference^ Fort-de-France, Martinique,
1-985. Rotterdam, Boston 1987(a), pp. 123-131.

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criação de postos de quadro adequadamente remunerados e o lançamen


de novos cursos superiores de estrutura interdisciplinar, que incluam
exercícios práticos "in loco".
De grande significado será a coordenação das pesquisas, a nível naci
ou supranacional de todos os Estados amazónicos, ou seja a níve
pesquisas de cientistas fora da América do Sul, visando melhor integ
das questões abertas no planejamento das pesquisas.
Porém, a intensificação das pesquisas não pode significar que a
paciência dos tecnocratas e a falta de compreensão para as necessidad
ciência, condicionadas pelas pressões da situação política, possam já es
à espera de rápidos resultados ou receitas patenteadas para o de
volvimento da Amazónia. Não se discute que, em face de processos qu
vêm desenrolando atualmente na Amazónia, a enorme pressão do tem
pese sobre todos os elementos intervenientes. Porém, isso não deve l
interpretação politicamente desejada de reconhecimentos superficiais
ainda não devidamente fundadas, devido à pressão de determinadas p
dades estabelecidas pela política regional.
Ao contrário: projetos de pesquisa de longa duração, como equipes m
tidisciplinares e boas condições de trabalho "in loco", com o financia
contínuo assegurado, são necessários para fazer análises abrangen
intereção de causas e efeitos. Só assim se poderá avaliar corretamente
"porquês" de projetos anteriomente falhados.
Porém, para este efeito será imprescindível o acesso a todos os dad
resultados e experiências dos projetos em curso, em prol da elaboraçã
novos píojetos e da continuação do debate científico. Isso não só
aprender dos erros, mas também para dispor de bases adequadas p
análise da compatibilidade com o meio-ambiente, para efeitos do resp
vo processo de autorização, para um monitoramento a longo prazo ou
a avaliação e um cálculo da rentabilidade económica, que inclua os cus
ecológicos e sociais.
Seria necessário instalar um banco de dados que possa comunicar co
institutos de pesquisa internacionais, um centro de documentação e i
mação, que, tratando-se do campo científico, até se poderia imaginar a
supranacional.
Entretanto, será de importância fundamental que os estudos pr
para projetos planejados sejam iniciados muito cedo, ao contrário do
vem acontecendo até à data, e que se providenciem os respectivos pres
tos. Numerosas pesquisas requerem duração multianual. O process
uso infelizmente é de começar as pesquisas somente com o iníc
projeto, e a seguir, não se pode senão limitar apressadamente os dano
causados. Estratégias preventivas são necessárias em todos os campos.
Devido à diferenciação dos condicionamentos ecológicos e sóck>econ
cos, já há muito que os cientistas são unânimes na opinião de que não p
continuar as generalizações, mas que só valem pesquisas intensa
espaços limitados, processo este que não pode negligenciar a even

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integração de condições e estruturas existentes nos res


regionais ou supra-regionais, ou os estudos compara
strutura parecida.
A pesquisa à respectiva escala espacial visará o nece
ecológico e sócio-econômico. Isso significa que a dim
tendência de se apresentar em mosaico de pequenos esp
sos, entre si iguais na sua estrutura natural e/ou socio
indica que as estratégias generalizantes do desenvolvim
regiões terão poucas chances de êxito.
A preponderância atual das pesquisas puramente seto
lugar à pesquisa integrada, com peso na interação entr
sociais, especialmente com vista à sua aplicação prática.
Esta exposição não é lugar próprio para a enunci
projetos científicos desejáveis. Ma é certo que, além da
mentais e multidisciplinares sobre os sistemas ecológicos
cos e sobre a avaliação dos recursos naturais e dos ciclo
haverá necessidade de elaborar os critérios ecológico
regional.
Merecerão especial atenção os estudos de avaliação e transferibilidade
dos agro-ecossistemas dos índios aos sistemas agrícolas atuais e a sua
sustentabilidade a longo prazo. O mesmo se diga de pesquisas sobre as
limitações ecológicas às diferentes formas de utilização dos recursos natu-
rais renováveis, dos sistemas de manejo e da pequena agricultura susten-
tada.
Ademais se impõem investigações sobre colonização, comportamento
migratorio, urbanização, desenvolvimento urbano, interação entre cidade
e o seu "hinterland", bem como o processo da degradação ambiental
decorrente das condições sociais, económicas e políticas no interior e
exterior da região.
Além disso, será preciso reconhecer o eminente valor de estudos detal-
hados sobre as consequências dos desenvolvimentos realizados até à data,
como por exemplo a avaliação ecológica do desmatamento por queima e
suas repercussões sobre o clima regional, a sua influência no teor de CO2
da atmosfera e a quantificação das respectivas consequências. Será ne-
cessário investigar também as possibilidades de restauração e rehabilitação
das regiões degradadas.
Todos estes conhecimentos devem projetar-se em estrutura organi-
zacional sistemática do estado atual.
Será indispensável começar imediatamente e com grande intensidade
com o zoneamento espacial da Amazónia que obedeça a critérios ecológi-
cos e socioeconómicos. Para tal zoneamento até os valiosos estudos do
RADAM no Brasil já não são suficientes em virtude do seu nível de
agregação e processos de iterpretação hoje já ultrapassadas.
As regiões mais afetadas pelas interferências do homem devem ter prio-
ridade no zoneamento.

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Não se pode acentuar demais a grande necessidade do interc


contínuo dos resultados científicos. Neste sentido já se realizaram v
esforços, p.e. na forma de simpósios interdisciplinars, mas ainda req
moior intensificação, especialmente sob o aspeto da quantidade eno
dados e informações continuamente crescente.
Entretanto, não é somente tarefa para cientistas compreende
natureza e o homem são partes integrantes de um sistema interdepe
e discutir os resultados de pesquisas nos seus próprios círculos. Pes
científicas têm uma finalidade social no sentido mais lato. Assim s
obrigação dos cientistas também é de garantir o acesso aos resultad
pesquisas a todos os níveis do grande público, contribuindo, as
entendimento da complexidade regional.
Garantir o acesso a este entendimento implica também a formaç
professores e a educação ambiental nas escolas no sentido de proteç
meio ambiente e das suas bases natuais, a discussão nos meios de co
cação, bem como a integração destas questões nos currículos do ens
quadros técnicos, p.e. dos planejadores, o que singnifícaria também
seio das instituições e autoridades do Estados, competentes para o d
volvimento regional, não se deverá fomentar o crescimento económ
critério, mas que do quadro dos peritos também devem fazer p
disciplinas mais sensibilizadas para as necessidades regionais, e
diversos elementos dos quadros deverão dispor de experiência inter
plinar.

Desafio do desenvolvimento regional da Amazónia a políticos e planejadores

Podemos pressupor que todos estão de acordo que não existe um modelo
único para o desenvolvimento da grande região da Amazónia.
Entretanto, será necessário conceber projetos de desenvolvimento re-
gionalmente diferenciados, espacialmente limitados, adaptados na sua
estrutura ecológica, social, tecnológica, económica, financiera e política,
correspondentes às condições naturais e antropogêneas e às necessidades
regionais específicas. Esta abordagem do desenvolvimento, necessariamente
mais individualizadora, não só exige um estilo novo dos responsáveis, como
também nova disposição de aprender e compreensão profunda para natureza
e elemento humano da região. Tal reviravolta do pensamento também
deverá produzir repercussões no setor institucional, no sentido de as
Superintendências Regionais deixarem de proceder segundo um padrão
único, macro-regional, em favor de trabalho funcionalmente descentrali-
zado, mantenendo-se o centro de coordenação.
Não há dúvida que existem necessidades p imordiais de planejamento e
desenvolvimento no interesse nacional com projeção nas metas diretrizes
do planejamento regional.
Governos autoritários -aliás em todo o mundo- costumam executar

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projetos que na sua visão centralista lhes parecem nece


sões nem compromissos, tanto na fase de planejament
As medidas são impostas ao homem e ambiente na
consequências são conhecidas, também na Amazónia
Sob condições democráticas, o medidor para o gr
realização de projetos de desenvolvimento, é o proc
discussão pública sobre metas e consistência substancia
tos, com participação da população afetada e cuidad
vantagens e desvantagens. Tal processo exige diligê
governos no sentido de conferir especial proteção a di
fundamentais de minorias e camadas sociais mais b
meio-ambiente da população regional.
A conservação da identidade regional, no sentido eco
tural, constituirá o centro de todos os esforços, o que r
zação especial para as necessidades urgentes e os fazíve
bilidade pelas consequências sociais e ecológicas, possiv
tanto a nível das decisões políticas como da parte dos
gados de medidas de execução e do seu pessoal. E isso j
preliminar a nível do "cui bono?", e não só posteriorme
prejuízos.
Ao mesmo tempo se impõe a descentralização administrativa para
admitir a mais efectiva partipação da população diretamente afetada. Os
Estados federais, departamentos e territórios na Amazónia deveriam ganhar
o máximo grau de autonomia pela abolição das numerosas construções
específicas em parte de origem não democrático sob controle das autori-
dades federais, o que não significa apoiar a criação de regiões complet-
amente autónomas. Mas as superposições de jurisdição em grande parte da
Amazónia, sobretudo no Brasil, acarretaram efeitos altamente negativos
pelos numerosos problemas de competencias indefinidas.
Assim como a ciência tem de coordenar o seu trabalho entre disciplinas,
assim o Estado é solicitado a criar as precondições para a cooperação multi
e trans-institucional que funcione com máxima flexibilidade, mas sem quere
las de competência, o que pressupõe condicionalismos funcionais e organ-
isatórios que estejam sujeitos ao controle contínuo da sua operabilidade.
É evidente que o planejamento se desenrola sob determinada conste-
lação política e condições de quadro. O que é decisivo é a intenção política.
Nos regimes autoritários a liberdade de ação dos planejadores é natu-
ralmente muito mais reduzida. Mesmo assim, seria grande erro subestimar
o significado da qualificação ténica dos planejadores, descreditá-los como
simples auxiliares de execução da respectiva vontade política au até negar
o valor de qualquer planejamento em geral, estando como estamos, em face
dos problemas atuais. O que importa é a responsabilidade social do
planejamento e dos planejadores e a consideração de condicionamentos e
necessidades sociais e ecológicas, bem como o controle contínuo dos
projetos. O planejamento é um processo que se vai desenrolando e que

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frequentemente impossibilita qualquier êxito a curto prazo.


Para o planejamento regional é de grande importância, entre outros o
conhecimiento intenso da região por parte dos planejadores, p.e. d
movimentos sociais de camponeses e das reações da população afetada
seguir às medidas do planejamento, além disso, a capacidade de aprendi-
zagem da parte dos planejadores e o desenvolvimento de uma consciência
crítica para com projetos inadequados, irrealistas, idealizados, estático
"importados" e visões pouco praticáveis de "perpetradores da mesa re
donda". A população regional -índios ou caboclos- não deve ser consid
rada "fator perturbador" para os planejamentos modelo que se opõe a
"progresso". Há novas concepções da vida que nasceram precisamente em
resultado das contradições do planejamento por conceitos autoritários. A
população regional deverá pelo contrário, ser vista como participante ati
e crítico de um processo de desenvolvimento integrado que afecta e em
cujas metas quer participar no processo da decisão. Só assim o planejament
c inverterá os afetados não em vítimas mas em beneficiados.
Participarão ân população tocada tem um sentido direto e indireto. Sig-
nifica também que o "know how" regional deverá ser respeitado e inte-
grado nas ponderações atuais. Aludimos aqui aos sistemas agrícolas da
população indígena, ecologicamente adaptados às condições regionais e
que são largamente desconhecidos por "principiantes" amazônicos-colonos
e agrónomos. A transferêrencia de experiências e conhecimientos destes
agro-ecossistemas indígenas para uma pequena agricultura sustentada
seria de máxima importância para o desenvolvimento, da agro-silvicultura
sob a leitmotiv do ecodesenvolvimento. É evidente que em muitas regiões
não se podia partir dos valores da densidade populacional hoje já atingidos.
É muito importante que os políticos responsáveis para o desenvolvimento
regional, os competentes pelo planejamento e os encarregados da sua
execução prática, e também os organismos de fínanciamiento -sejam nacio-
nais ou internacionais- possam entender melhor as condições de quadro,
naturais e humanas, que veiculam o,"desenvolvimento".
São os cientistas que são chamados a fornecer os resultados de pesquisas,
sintetizados em informações de base aproveitáveis e aplicáveis na prática
da política do desenvolvimento, fornecendo, assim, apoio às decisões no
melhor sentido.
Por outro lado, com estes conhecimentos também devem ser avaliadas
as evoluções susceptíveis de registro qualitativo e quantitativo que podem
ganhar grande significado para e implementação de projetos e o seu
monitoramento.
São precisamente as análisis multidisciplinares das pesquisas que podem
contribuir para a problematização dos projetos e, assim, -no sentido posi-
tivo- para a reflexão sobre o sentido e a finalidade das metas alvejadas.
Oferecem a possibilidade de lançar um aviso frente a modelos de desen-
volvimento "importados" e estandardizados, concebidos em outra situação
ecológica, conjuntura social, econòmica e política, como outros valores

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básicos subjacentes e outras necessidades de desenvo


científicas, porém, não se destinam somente à avaliaçã
atuais, mas devem visar a elaboraço de soluções alterna
Alé, disso, também constitui atribuição da ciência pô
deficiências nas pesquisas e a consequente falta de conh
sobretudo frente às "ações relâmpago" no planejamento
uma "ocupação planejadora" de regiões, cujos dados
estão suficientemente estudados, desconhecendo-se ain
sequências negativas.
Não nos podemos esquecer de que as decisões da p
desenrolam sob condicionamentos específicos da polític
da política económica exterior.
Não quero aqui entrar na discussão política interna d
dos sobre a questão da necessidade de medidas de d
bacia amazónica, ou da concentração destas medidas às
país. As respectivas decisões incumbem ao povo e s
eleitos naqueles países.
Mas parece-me essencial chamar atenção ao fato
problemas na Amazónia que lhe foram impostos de
dizer sobretudo da problemática complexa da refor
maior parte dos países da América do Sul não foi posta
foi afetivada atendendo às necessidades da clientela-
fundo da inexistência de quaisquer medidas de política p
de reforma agrária nas outras partes do país dá origem
tadora pressão das massas populacionais migrantes sem
Amazónia. Os problemas agro-sociais ainda não
da Amazónia levam à reprodução das deformações agro
Amazónia. A efetivação da reforma agrária, que ce
grandes dificultades a nivel da política interna, é de m
embora só possa proporcionar solução parcial para a
mento ou fracasso da reforma agrária levará ao agrava
da pressão pela ocupação das terras na Amazónia, sob
Muitos dos atuais problemas do desenvolvimento da A
dicionadas pelos "laços" da região à economia mundi
liberdade de movimento dos governos e, muitas ve
processos difíceis de canalizar, nem prognosticáveis em
contexto que é a vez dos países industrializados de não
consumidores de matérias primas, sob os "terms od tr
para os países produtores, mas de arcar também com a
financiera para as medidas acompanhantes necessárias
extração na região originária.
Por outro lado, houve omissões a nivel nacional no se
estratégias claras para o desenvolvimento regional da A
das do desenvolvimento efetuadas, que parcialmente ti
emergência para abrandar as tensões sociais, de jogos d

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estrategos militares na mesa redonda ou ciclos da economia extrativa


ganharem divisas rapidamente na base de projetos de grande porte, só
raríssimos casos estiveram integradas em programas de desenvolvime
realizáveis a longo prazo. É precisamente a população regional afetada
hoje, e com razão, exige informação antecipada e participação nos planeja
tos e nas decisões, e uma voz durante a respectiva execução. Também e
indemnizações pelos prejuízos sofridos por projetos anteriores.
A nivel supranacional, como por exemplo no âmbito de Pacto Amazón
acordado em 1978, ainda não se passou do estado de declarações de
intenções, de modo que não se está delineando ainda qualquer med
comum de planejamento e desenvolvimento regional harmonizados.
Existe largo consenso sobre a conveniência de estrita redução ou
abolição dos incentivos fiscais para inversões na região amazónica, sob
tudo a nível de projetos grandes e para projetos atraentes pelas reduç
fiscais, que até agora incentivaram as tendências especulativas na Amaz
e provocaram consequências negativas.
Para os futuros planejamentos não se impõe somente a prova da
necessidade urgente mas também da sua compatibilidade ambient
significado social, não só retórico, mas pela apresentação de todos
fatores criteriosos. A análise custo-beneficio não deve somente confirmar
a vantagem económica (que, aliás, beneficia a quem?) mas introduzir
critérios acentuadamente morais nesta equação. A autorização de projetos
a dos respectivos créditos nacionais e sobretudo internacionais só deve ser
concedida como base nos mais profundos estudos prévios, ecológicos e
socioeconómicos.
Sobretudo em caso de projetos chamados economicamente imprescindíveis
devem aplicar-se novos critérios de avaliação dos custos e do fator tempo:
Os custos ecológicos e sociais, diretos e indiretos, respectivamente os custos
subsequentes, devem entrar na equação, os projetos ser examinados pela
sua eficácia positiva a médio e longo prazo.
É certo que todas estas medidas Ì6 podem ser introduzidas gradual-
mente, mas irão criar uma mentalidade correspondente e, além disso,
originar notável retardamento do "assalto" à Amazónia.
Há muitos casos de grandes projetos que, sob os critérios acima descri-
tos, também não provaram rentabilidade económica a longo prazo, ou pelo
menos uma rentabilidade questionável. É que, parcialmente, os grandes
projetos se tornam imprevisíveis nos seus complexos efeitos posteriores
negativos e nos danos subsequentes irreparáveis. O que é tecnicamente
fazível não tem de fazer necessariamente sentido ecológico e social, e
parcialmente até nem nas contas económicas nacionais. Altas subvenções
do Estado para a produção de energia e projetos industriais dos mais
diversos ramos são muitíssimo problemáticas visto a falta de recursos
financeiros noutros ramos ou regiões.
Na Amazónia a tecnologia moderna e o alto investimento de capital têm
arruinado mais, até agora, do que alguma vez o conseguiu a população

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regional "subdesenvolvida" -do pronto de vista extra-a


Além disso, os projetos de grande porte têm tendência
dinamismo, de causar segregação espacial e social e de f
os correspondentes efeitos negativos de sucção sobr
Neste sentido contribuem notavelmente para o agrava
dades intraregionais- afirmação igualmente aplicável a
de desenvolvimento a às Zonas Francas. Esta proble
dade na organização espacial, assumido significado larg
os efeitos médios fictícios das taxas de crescimento dos assim-chamados
indicadores de desenvolvimento, que parcialmente se baseiam em cálculos
estatísticos de toda a grande região, e que se esforçam por provar a*
diminuição das disparidades intrarregionais. A dificuldade de controlar os
projetos grandes se deve, em parte, também às competencias mal definidas.
Resumindo: De regra, será conveniente no futuro evitar a instalação de
projetos de grande porte na Amazónia. O acompamhamento destes pro-
jetos já iniciados, que aliás deveriam concentrar-se e reduzir-se às suas
partes essenciais, requer a harmonização das finalidades dos planejamen-
tos dos Estados federais, das micro-regiões e dos municípios e um gerencia-
mento apropriado.
Em vez de projetos hiperdimensionados e espectaculares, cuja função é
fazer vista, seria necessário fomentar projetos pequenos em todos os ramos,
bem concebidos e especial e financeiramente limitados. Isso aplica tanto ao
setor agrícola como ao setor energético, onde pode fazer muito sentido
erigir mini-usinas hidroelétricas que não destroem, por represas enormes,
grande parte do espaço vital.
No campo da colonização agrária, convinha cancelar a propaganda
oficial, difundida por todos os meios de comunicação, sobre a concessão de
terras na Amazónia e que, aliás, visa mais o deslocamento dos problemas do
que a sua solução. A maneira de apresentar a colonização agrária das
florestas tropicais como solução alternativa em vez da reforma agrária não
é só errada no seu teor e do ponto de vista de política agrária, mas também
trágica do ponto de vista da estratégia do desenvolvimento. A distribuir
lotes de 50 hectares, até toda a extensão da Amazónia não seria suficiente
para satisfazer a todas as famílias procurando terra nos países que partici-
pam na bacia amazónica. É imperativo diminuis fortemente a migração
interna para a Amazónia por medidas apropriadas fora da região (reforma
agrária n medidas económicas no setor urbano que requerem mão-de-obra,
planejamento familiar, etc.).
Os projetos de colonização agrária em curso devem ser fortemente con-
trolados e virados para o cultivo intensivo e ecologicamente adequado. Não
deve haver mais expansão da área dos projetos, urna vez que nas regiões
fora da Amazónia ainda existem bastantes possibilidades de intensificação
com melhores condições de vida. Não há razão nenhuma de assentar
dezenas de milhares de famílias em regiões com altíssimo índice de malária.
Condição fundamental na bacia amazónica será a segurança jurídica e o

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alistamento inequívoco da propriedade em cadastros. Conflitos d


requerem solução. Só assim a insegurança caótica terá remédio
possível reduzir e impedir o escalonamento assustador dos conflitos
tos originados pela ocupação das terras.
A fím de impedir a especulação urge introduzir critérios espe
como sejam: elevada tributação da venda de terras antes de decorri
terminado prazo, proibição do absentismo, participação do comprad
terras em cursos de formação agrícola, etc.
Futuros projetos de colonização só devem ser autorizados e posto
prática após intenso estudo prévio dos condicionamentos naturais e
nais da área do projeto e dan sondições de quadro-sócio-econô
também nos arredores, abrangendo número limitado de colon
fixação em terras favoráveis. Estes colonos, tal como os agrónomos,
beneficiar de formação prática específica para melhor aproveitame
recursos naturais locais e compreensão das condições ambientais da
terra em que viverão.
A ligislação sobre a posse da terra deve ser modificada: nem a co
do título definitivo nem a concessão de créditos deve depender da
dade da derrubada. Créditos para os colonos já existentes na região
ser concedidos segundo o sistema agrícola aplicado, na base da p
agricultura sustentada.
A viabilização de uma pequena agricultura sustentada pelo aproveita
de sistemas nativos é de máxima importância: Uso intensivo e
vacionista de pequenas áreas, sistemas agrícolas adaptadas às co
ecológicas; ao contexto cultural e à capacidade gerencial do agri
tecnologia apropriada, para assegurar a sustentação da fertilidade d
culturas perenes de alto valor comercial e produtos animais.
A produtividade será decisiva, não a expansão das áreas cultiv
aplicação dos resultados das pesquisas sobre os agro-ecossistem
continuam a necessitar de forte promoção, e da agro-silvicultura, de
postos a serviço da pequena agricultura. Urge establecer urna orga
cooperativa funcional e possibilidades de armazenamento melhorad
os produtos agrícolas.
A concentração do apoio do Estado à pequena agricultura exist
promoção de projetos de desenvolvimento rurais integrados e espaci
limitados, deve constituir o núcleo da ação política a ser coordenad
planejamento do desenvolvimento a nível municipal. Não seria a em
rural que domina o quadro, mas pequenos centros de inovação e dif
dispostos em mosaico, destinados à pequena agricultura sustentada
O "small is beautiful" (E:F. Schumacher, 1973)3 terá de ocupa
posição na escala dos valores. Não serão a tecnologia moderna, espéc
alta rentabilidade, grandes investimentos em meios de produção qu

3 Cf. E.F. Schumacher: Small is beautiful. Economics as if people ma


London 1973.

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144 Gerd Kohlhepp Revista Geográfica 108

necessários, mas impulsos na escala pequena que exi


conhecimentos, mas que poucas vezes produzirão êxitos
Especiais esforços devem empreender-se para bem apr
a zona mais produtiva da Amazónia, mas que possuem c
diferenciadas entre si. No Brasil, p.e. já se lançaram as
pelo Programa Provárzeas.
No campo da exploração agrícola já há uma certeza ge
da grande biomassa em extensa área é inviável.
Uma vez que o processo da colonização, ocupação de te
económica da Amazónia já não pode ser parado, mas sim
central importância que se proceda a partir de base
selecionar e exceptuar determinadas zonas dignas de pr
Isso aplica sobretudo às reservas indígenas, cuja delim
cação deve ser ef etuada segundo critérios antropológico
direta dos caciques dos grupos índios. A adjudicação de
não se pode reger pelo simples múmero de populaçã
necessidades espaciales dos sistemas agrícolas, incluin
ligeiro aumento da população. Estas medidas, discutidas
executadas, asseguradas e eficazmente supervisiona
cepcionais devido à incompetência ou falta de inter
responsáveis e das pressões exercidas por meios económ
e constituem dever moral para qualquer governo. De
regra, posteriores alterações das delimitações das reser
tamentos forçados de grupos da população indígena. Ao
"efeito de jardins zoológicos" das reservas, frequentemen
por adversários da população indígena e meios económi
pretenden jogar mão aos territórios índios, opõe-se o al
dos índios. Turismo em reservas indígenas deve ficar es
Aliás, não corresponde a qualquer critério ético ou mo
nizações" pela destruição do espaço indispensável para a
minorias.
Embora as reservas indígenas sejam necesarias para a sua proteção
contra exploração, conselheiros falsos e contaminação de doenças a popu-
lação indígena sempre deve ter o direito de escolher o seu futuro em plena
autonomia.
Uma vez que a atual legislação para a proteção das florestas não
funcionou, nem com a cláusula dos 50%, nem os contoles eram suficientes,
a definição e delimitação de reservas florestais e biológicas e parques
nacionais não só deve ser protegida pela lei, mas também ser posta em
prática por gerenciamiento apropriado e premanente fiscalização efi-
ciente, na base de boa infraestrutura e penalização rigorosa da inob-
servância das leis de conservação. Isso certamente também implica com-
preensiva reorganização e reforço institucional no sentido funcional, quali-
tativo e financiero.
Já há muito que passou o tempo de ações simbólicas ou até só cosméticas

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1988 Desafios à Ciência e às Políticas de Desenvolvimento... 145

contra os impactos ambientais. A seguir exemplo da empresa brasil


mineração Cia. Vale do Rio Doce (CVRD), as grandes empresas
atividades na região devem ser obrigadas a efetuar, a sua despesa, p
de proteção ambiental e sujeitos a rigoroso controle governamental
Como já dissemos atrás há necessidade fundamental de tomar me
fora da região, a escala nacional e internacional, como seja p.e
sestímulo do consumo de madeiras tropicais por taxas de tributaçã
sadas ou por interdição parcial da sua importação e consequente mo
cação do comportamento do consumidor nos países industrializados
Em face da complexa problemática da Amazónia opõem-se m
dúvidas aos mais recentes planejamentos no Norte do Brasil, sobret
"Projeto Calha Norte"4, não só por parte de círculos eclesiástico
também científicos. Este projeto ao longo da fronteira setentri
Brasil prevê a "compatibilização da política indigenista com a políti
segurança nacional" (Ministro do Interior; Folha de São Paulo,
1986). Mas a instalação de oito novos batalhões de fronteira ao long
faixa de 6,500 km de comprimento por 150 km de largura é organ
especialmente para a proteção da região fronteiriça para fora, cert
em face do desenvolvimento político em Guyana5. Muito embor
absolutamente honestas e intenção declarada do governo de disc
conflitos reais ou latentes nessa "última faixa descolonizada" e a polí
proteção ao índio, a ser garantida pela presença das tropas militare
os riscos para os 50,000 índios da região e para o meio-ambien
enormes. Também neste caso menos talvez seria mais.

Observações finais

Não se pode abusar da Amazónia como uma espécie de "colónia interna"


dos Estados pertencentes a região amazónica para valorização incodicional
de uma política orientada pelo centro, sèm consideração das condições
ecológicas e sociais e sem que a população regional tenha possibilidades de
articular as suas necessidades.
A Amazónia não pode continuar a ser considerada região periférica com
recursos naturais, tantas vezes erradamente chamadas "ilimitadas", que
exporta estes mesmos recursos naturais não renováveis, sob os mais desfa-
voráveis "terms of trade" para fins do abastecimento nacional e inter-

4 GTI (Grupo de Trabalho Interministerial): Desenvolvimento e segurança na


região ao norte das calhas dos rios Solimões e Amazonas: Projeto Calha Norte.
Brasília 1985.
5 C/. H. O Reilly Sternberg: "Manifest destiny" and the Brazilian Amazon: A
backdrop to contemporary security and development issues.- Conference of
Americanist Geographers, Yearbook 1987 (no prelo).- F Matias: A quern
interessa a Projeto Calha Norte? -Enfoque Amazónico, 2,5. pp. 18-20. Belém
1987- Carta dos povos indígenas da região fronteriça do Norte aos Deputados
da Constituinte. Manaus, 18 de novembro 1987.

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146 Gerd Kohlhepp Revista Geográfica 108

nacional com matérias primas. Muito ao contrário, os


financeiros extraídos devem retornar à Amazónia sob
dos meios de fomento a favor de medidas sociais e ambientais a nível
estadual, microregional e municipal.
A Amazónia não se deve converter em objeto de especulação e inves-
timento para fins de reduções fiscais para bem de interessados extra-
amazônicos, cujas manipulações oficialmente subvencionadas levam a
perdas na renda nacional que fazem falta noutros ramos.
As florestas tropicais amazónicas não podem já continuar a ser campo de
experiência para "modelos de desenvolvimento" ecológica e socialmente
inapropriados e espaço de ação para os problemas e conflitos de interesses
extra-amazônicos e deslocados para a periferia (Kohlhepp, 1987b)6.
Em face dos conhecidos obstáculos ecológicos, sócio-econômicos e de
política regional pode constatar-se que a Amazónia não se presta para
forma alguma de projetos espectaculares com lucros rápidos de longa
duração: nem para projetos industriais de grande porte, nem energéticos,
nem para grandes projetos na agricultura ou pecuária, nem na silvicultura
com monoculturas orientadas para a exportação ou em reflorestamentos
com espécies não adaptadas à região. Tão-pouco a Amazónia pode supor-
tar a colonização de autênticos exércitos de pequenos colonos. A Amazónia
nem pode ter "função de válvula" espacial para as massas populacionais de
outras regiões rurais e urbanas, nem função de "celeiro".
A Amazónia também não é apropiada para a exploração e destruição
dos recursos naturais a curto prazo, visto que as consequências iam vingar
este procedimento pela instensidade do seu custo.
Em vez de subvenções, incentivos fiscais e múltiples prestações oficiais
antecipadas para projetos de grande porte impõem-se prestações posteri-
ores em prol da população já residente e desfavorecida até à data: índios,
caboclos e colonos imigrados. Cortando todo e qualquer incentivo oficial e
particular à imigração na Amazónia importa melhorar simultaneamente a
qualidade de vida da população existente, sobretudo nos campos de saúde,
alimentação e educação.
Urge que os países que comparticipam ha bacia amazónica criem
medidas de proteção adequadas e providenciem a coordenação de todos os
planejamentos. As ações dos diversos grupos sociais e as suas reivindicações
espaciais e de utilização do solo devem concentrar-se em desenvolvimento
regional adequado às condições ecológicas e às necessidades da população
regional.

6 Veja: G. Kohlhepp: Amazonien. Regionalentwicklung im Spannungsfeld


ökonomischer Interessen sowie sozialer und ökologischer Notwendigkeiten.
(«Problemräume der Welt, vol. 8). Köln (Colonia) 1987 (b) (Editoria Aulis);
G. Kohlhepp: Strategies of regional development in the Brazilian Amazonia,
with special reference to agricultural projects.- In: EMBRAPA/CPATU (ed.):
I Simpósio do Trópico Umido 1984. Anais (»Documento 36), vol. 6. Belém (no
prelo).

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1988 Desafios à Ciência e as Políticas de Desenvolvimento... 147

O planejamento do futuro, atacando os problemas reais, deverá desvan


cer as repreensões de se orientar mais pelos grupos económicos in
sseiros e de criar mais problemas do que solucioná-los. As instituições c
participantes devem atingir melhor continuidade de teor nos seus
balhos. Há necessidade de contratos prolongados para peritos e membr
do quadro. Mas o mais importante no futuro serão a criação e continuid
de marcos da política regional para o planejamento e ordenament
espaço. A ciência não se poderá subtrair ao assessoramento dos planejado
Deverá manifestar-se como aquella parte da opinião pública que est
condições de proferir a sua opinião desinteressada e deveria possuir au
ridades moral para isso.
De futuro, o planejamento do desenvolvimento regional terá d
arranjar-se com projetos de pequeno porte, espacialmente limitad
orientados pela clientela-alvo, destinados à popilação regional resident
Com base em conhecimentos científicos e integrando as metas autono
mente determinadas por cada comunidade, nascerá, então, um modelo
planejamento espacial, ecológica e socialmente adaptado, necessariamen
heterogéneo, e que ofereça soluções diferentes para condições e probl
diferentes.
A organização espacial terá de visar a instalação de projetos de peque
porte, orientados pelas necessidades básicas, num mosaico de unid
pequenas, homogéneas em si, mas de grande diversidade entre si.
projetos seriam lançados com base no potencial natural, consideran
fragilidade ecológica, uma tecnologia ecológica e socioculturalmente a
quada de sistemas agrícolas idóneos e que satisfaça as corresponde
necessidades sociais. Deverão ficar claramente definidas pelas suas me
e apoiados por assessoramento intenso em quadro cooperativo, inserin
se ao mesmo tempo nos programas municipais do desemvolvimento in
grado. É este o ponto de partida para futuros planos diretores realistas
-siempre que possível- deverão recomendar alternativas não predatóri
Error de decisão em projetos anteriores devem ser corrigidos. Admit
que esta tarefa será de solução difícil e apenas parcial, devido aos dano
causados e às abrigações jurídicas.
Não só o planejamento nacional, mas também os organismos de fina
ciamento internacional e -caso seja considerada desejável por parte
Estados amazónicos- a cooperação estrangeira no desenvolvimento
de familiarizar-se com a concretização prática dos termos "em es
pequena" e "ecodesenvolvimento". Estas metas devem formar parte in
grante de estratégias do planejamento espacial integrado, cuidadosame
concebido, limitado e cientificamente fundado, assente em novo r
cionamento específico e adequado entre poder decisório e comunid
Urge a concepção de nova dimensão qualitativa do desenvolvime
regional específico e dirigido aos grupos-alvo de uma região que, s
espaço vital de grupos populacionais dignos de proteção, abriga eco
temas da maior riqueza em espécies e géneros da flora e fauna mundi

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148 Gerd Kohlhepp Revista Geográfica 108

que não pode ser sacrificada sem critério ao "progr


orientado pelo lucro a curto prazo de poucos indivíduos.
aos respectivos países, ou antes se diga à sua população,
custos em prestações antecipadas da parte do Estado
custos ditetos e indiretos imprevisíveis que pode acarr
Desejamos que os resultados do simpósio internaciona
(Kohlhepp/Schrader, 1987)7 sejam entendidos como ape
dade ética e moral de cientistas e órgãos decisórios polí
para a Amazónia, que ajudem a diminuir a discriminaçã
surgimento de melhor entendimento para as suas n
contribuam para a conservação desta região única como
dos países comparticipantes.
Porém, considerando a situação financeira atualme
países em questão, a capacidade de movimento finan
afetados pode provar-se insuficiente para implantar m
o opoio desenteressado internacional. Mas, sob a condiç
tade política para fbriar os parâmetros dicisivos do des
gional segundo melhor saber e critério, o futuro da Am
ficar comprometido por impasses financeiros.
Seria ingénuo pensar que tudo se pode concretizar e m
tamente. Mas seria irresponsável da parte da ciênc
obrigação de prestar, já hoje, o seu contributo por rec
das. E seria igualmente irresponsável adiar as deci
planejamento territorial e organização espacial da Ama
extensão enorme desta região.
A natureza e o homen na Amazónia já não podem atu
e ainda menos o adiamento das medidas necessárias.

7 Cf. anotação 1.

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