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Análise de Conjuntura e o ensino das Ciências Sociais

O ensino das disciplinas de Ciências Humanas (Geografia, História, Sociologia, Filosofia) vem
sofrendo uma longa crítica em relação ao seu caráter essencialmente ligado a memória, as vezes
vulgarmente taxadas como disciplinas “decorativas”, ironicamente ligado a decorar, memorizar
certos fatos, eventos, personagens, datas, conceitos, etc. Portanto, pouco analítica e as vezes
colocadas com pouca ou sem nenhuma importância ou finalidade prática para as novas gerações
que chegam à escola. Se a afirmação anterior parece obviamente equivocada tendo em vista
que a construção de um horizonte de mundo acerca da vida individual e coletiva é tudo menos
desprovida de finalidade.

No entanto, a crítica ao caráter mnemônico do ensino daquelas disciplinas no passado deve


apresentar formas, instrumentos que permitam as atividades escolares desenvolver habilidades
cognitivas que permita a análise do mundo através da ótica específica e especial da filosofia, da
história, da geografia e da sociologia com a qualidade que o seus ensinos do passado tinham
dificuldades de desenvolver.

É fundamental numa análise conjuntura diferenciar fatos de acontecimentos. Os fatos


constituem em capacidade de força uma menor intensidade para dar forma a sociedade do que
os acontecimentos. Acontecimentos marcam a sociedade reorganizando forças, ou mesmo as
formas sociais, as formas de relações sociais. Para pensarmos em exemplos concretos
poderíamos citar a intervenção militar no Rio de Janeiro como acontecimento, ou seja, a partir
daquele momento a vida social é marcada por certas rotinas e formas que não possuíam antes,
inclusive com uma presença do Estado sob seu braço militar representando força naqueles
territórios. Por outro lado, a morte por 80 tiros de um músico representam os fatos que dado
sua importância, inclusive como sinal das relações sociais que ali se estabeleceram, denunciam
mais que conformam as relações sociais.

Mas aqui precisamos retomar o poder de certos fatos para entender as conjunturas. Alguns fatos
ainda que não conformem ou reestruturem as formas sociais propriamente ditas, elas agem
como estopim de revoltas que se tornando acontecimentos são capazes de reconfigurarem as
relações sociais. Nesse caso, é melhor pensarmos na ideia de circuito de afetos e de como certos
fatos são capazes de criar situações que alterem a conjugação de força na política. Poderíamos
ilustrar como exemplo a primavera árabe e o evento em que o Jovem vendedor de frutas das
ruas de Tunis, Mohamed Bouazizi, se recusando a pagar propina a policiais corruptos, em seu
ato extremo de autoimolação desencadeou eventos que levariam a queda do autocrata militar
Ben Ali, que estava no poder há 23 anos, e as insurreições que varreriam o mundo Árabe nos
anos subsequentes.

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