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Apresentação
O texto que segue tem como objetivo lançar elementos para discussão sobre questões
que estão a indicar alterações nos mecanismos de socialização e de sociabilidade presentes
nas estruturas urbanas neste fim de século. Privilegia pontos que no entender do autor esta
exigindo novas abordagens que dêem conta dos profundos processos de mudança na
explicação dos comportamentos sociais e na racionalidade coletiva e individual tal qual ela se
apresenta nos dias de hoje . De qualquer forma estamos buscando corresponder a essência do
pensamento sociológico que tem como tarefa responder às questões básicas: o que muda,
como muda, e porque muda? na esfera das relações humanas e sociais.
A ênfase que estamos dando ao caráter urbano de tais transformações está ligada à
nossa concepção de “urbano” entendido mais como um fenômeno cultural do que propriamente
espacial/territorial (Pechman,1991). Assim, estamos considerando que são nas cidades
(manifestação concreta do urbano) que novos modos de vida se gestam e a cultura daí
decorrente se transforma em paradigma de uma cultura universal abrangendo também o
campo.
O objetivo seria, portanto trazer à luz dos estudos sociológicos urbanos elementos que
nos permitam mapear comportamentos neste mesmo espaço e procurar ampliar a metodologia
para estudos gerais sobre a sociedade urbana.
Introdução
Não cabe mais estranhamento frente ao volume de mudanças que vêm ocorrendo nas
práticas de sociabilidade. É inegável que nas últimas duas décadas houve mudanças
significativas nos jogos relacionais que se traduzem em formas interativas de sociabilidade
entre os variados e múltiplos conjuntos de atores sociais. Isso implicou inevitavelmente em
muitos processos de mudanças que derivaram em negociações de significados e de linguagem,
já que estes são imbricados na forma. Tais mudanças tem no espaço urbano o seu locus
privilegiado, e uma visibilidade assegurada, garanindo-lhes um efeito multiplicador.
Duas dimensões estão sendo consideradas estratégicas na construção de uma
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Prof. Titular Depto Sociologia/UnB. Agradeço cooperação o da bolsista de IC Nara Kolrsdorf
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Sabemos que é vasta a produção intelectual sobre o assunto, cobrindo vários campos
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-Para se ter uma idéia do volume de títulos disponíveis sobre a questão,citamos como exemplo, os mais de 800
títulos existentes na biblioteca da Unb, a partir das palavras chaves: classe e estrutura de classe
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- Em “Economia e Sociedade” (Weber, 1986.)o tema aparece; entretanto, nossa leitura irá se centrar no artigo
“Classe, Status e Partido” do mesmo autor (Weber, 1976) na medida em que aqui encontramos reflexões mais
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ênfase na sua ideologização pelos grupos que dele se apropriou, no final das contas, terminou
por esvaziar o seu conteúdo.
Da mesma forma, a recuperação do raciocínio weberiano sobre classes e a distinção
entre este conceito e aquele de status nos parece útil para nossa tarefa. Weber (1964) também
insiste na característica essencial do capitalismo ocidental que é, justamente, o de ser
composto por trabalho livre e regulado pelo lucro monetário. Neste caso, houve muito menos
ideologização, sobretudo porque a lógica weberiana, não trabalhando o conflito como
antagonismo nos moldes de Marx, fez com que o uso de suas reflexões ficasse mais restrito
ao campo acadêmico e, talvez pudéssemos dizer, se mantivesse com um grau de pureza mais
palpável3
Em Weber há uma preocupação em construir o raciocínio sobre as classes partindo da
consideração da existência de uma ordem social, regulada por leis gerais, que funcionam como
freio, e estabelece limites ou possibilidade de sanção a possíveis transgressores. As sanções
que a sociedade utiliza para manutenção de uma ordem se apresentam como elemento
essencial, idéia esta já presente em Durkheim (Giddens, 1978) e que será retomada
posteriormente, quando vão interagir a teoria social e a teoria psicanalítica, condição a partir da
qual se constrói o arcabouço teórico para o estudo das identidades e das subjetividades
individuais. O desenvolvimento do conceito de capital simbólico é um dos desdobramentos
desta interação e vai lançar pistas para sofisticar a análise da estrutura social e dos
comportamentos, sobretudo a partir da segunda metade deste século, entendendo o conceito
de estrutura social como sendo mais amplo que estrutura de classe. Com base nele podemos
considerar que os grupos, encarados como elemento na estrutura, não precisam ser classes
sociais podendo ser, por exemplo, categorias de idade, grupos étnicos, etc. (Ossovski, 1976).
Se avançarmos um pouco além nesta argumentação e contrapondo-a às teses
marxistas do Capital podemos perceber que Marx não fala em sanções morais à transgressão
da ordem social. Pelo contrário, ele nos diz sobre um processo que é sobretudo de dominação
e que impede, ou pelo menos procura impedir, qualquer possibilidade de contestação a esta
ordem. Em princípio, estaria aí, nesta tensão latente, a essência do processo de evolução ou de
transformação social. Alguns autores pensam esta dinâmica como uma relação de um poder e
de um não poder, embora com Foucault isto esteja resolvido no sentido de que se fala, de fato,
em duas dimensões de um mesmo poder e de seus embates cotidianos e estruturais. Em
outras palavras, estamos sempre analisando relações de poder que se cruzam ou que se
chocam onde, embora as sanções morais possam se apresentar, o que é enfatizado em Marx é
ou a alienação ou a repressão tout-court .
Na ótica weberiana toda ordem social constitui-se numa estrutura estratégica na
distribuição do poder na sociedade, entendendo poder como a possibilidade que tem o
indivíduo ou o grupo de indivíduos em realizar sua própria vontade, numa ação comunal mesmo
com a resistência de outros que participam da ação; o poder seria assim uma dimensão das
relações sociais e estaria diluído no conjunto do social não havendo, portanto, lugares do não
poder.
Weber desenvolve ainda uma discussão sobre a noção de poder que valeria a pena
recuperar. Diz ele, “... o poder econômico não é, evidentemente, idêntico ao “poder” como tal,
pelo contrário, o surgimento do poder econômico pode ser conseqüência de um poder que
tenha outro fundamento”( Weber, 1976). Poderíamos aqui salientar uma distinção básica entre
a visão weberiana de poder e aquela de Marx. Neste último o poder é, na sua essência, um
poder econômico e só a partir daí que poderíamos recuperar o seu significado. Para Weber, as
coisas são mais sutis: o poder calcado exclusivamente no critério econômico, na posse,
portanto da moeda ou na possibilidade de acesso a ela, não se traduz automaticamente por
uma honra ou prestígio social e mais ainda, nem é o poder a única base de honra social, que,
no fundo, seria o objetivo do existir em sociedade.
Classe e status
Permanece, porém nesta reflexão um conceito de classe que assume uma conotação
genérica e o que, em última instância, vai jogar como fator decisivo na determinação
permanece sendo aquilo que Weber vai chamar de “situação de mercado”; em outros termos, o
fator que cria uma classe é o interesse econômico, ligado à existência do mercado. Enquanto
que para Marx haveria uma impossibilidade objetiva de adequar os interesses das classes na
medida em que eles seriam antagônicos entre si , para Weber o interesse das classes se situa
numa dimensão muito mais sutil e ambígua. Luta de classe em Weber seria algo pouco
adequado, havendo mais “interesse de classe” que estaria determinado por aquelas
racionalidades individuais.
Em Weber, o lugar social e mesmo o destino dos homens está determinado por uma
estimativa social, de honra, onde – conforme já explicitado – nem sempre a propriedade joga
um papel chave. Em outras palavras, pessoas com propriedade e pessoas sem propriedade
podem pertencer ao mesmo grupo de status , desde que gozem de uma honra social comum4.
Esta honra advinda do status está ligada à semelhança de estilos de vida comum aos
indivíduos participantes e que impõe aos que desejam entrar no circulo a adaptação de seus
estilos de vida àquele do grupo.
Mesmo se apresentando como algo natural, no essencial trata-se de um conjunto de
regras, na maioria informal e consensual, que desenvolve junto aos participantes do grupo um
status próprio ao grupo e percebido pelos que estão exteriores a ele como identificatório de
seus membros. As restrições no casamento, o fechamento endogâmico, o morar em certo
bairro ou rua, o estilo de se comportar, de vestir, os lugares que freqüenta, etc. são exemplos
de uma gama enorme de estilos e comportamentos que funcionam como produtos e produtores
de status. O que é interessante remarcar é que o grupo de status não é privilégio de grupos
ricos ou com posses materiais. É, portanto, justamente aí que se pode pensar numa certa
estabilidade e numa garantia mais efetiva de reprodução de valores e estilos.
Poderíamos nos referenciar a Maffesoli (1996) quando ele nos fala sobre tribos urbanas
como sendo indivíduos que se reconhecem entre si por uma serie de símbolos comuns e que
terminam por adaptarem padrão de vida e valores que lhes permite este reconhecimento. A
seqüência dos fatos cotidianos que constituem a vida numa sociedade urbana termina sempre
por nos fixar em potencialidades, procurar estabelecer as múltiplas situações relacionais
possíveis, o que nos aproximaria mais do real. Neste caso, estaríamos utilizando a idéia de
estrutura social mais do que de classe nos moldes de Ossovski conforme nos referimos
anteriormente. Este, de fato, é um fenômeno que sempre esteve conduzindo os grupos de
status que traduzem a necessidade de uma certa identidade e de identificação que lhes garanta
uma existência social distinta. Os wasp (White, Anglo-saxon and Protestants) dos Estados
Unidos, a aristocracia inglesa, ou os membros das chamadas famílias tradicionais como os
usineiros no Nordeste, etc. estariam nesta categoria. A idéia de tribo, nos moldes de Maffesoli,
procura incorporar nesta dinâmica grupos mais efêmeros, sobretudo do meio urbano – punks,
hippies, torcedores de futebol, clubbers, etc. – o que poderia ser mais eficaz para captar toda a
diversidade de novas formas de vida urbana, que aparecem sobretudo nas metrópoles
mundiais neste fim de século. O estar junto, o fazer parte de um grupo, vai estar possível
sobretudo nas interfaces da vida oficial, apropriados muitas vezes de maneira fugaz,
provocando esta sensação de precariedade nas relações sociais no cotidiano.
O capital simbólico
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- Mesmo considerando esta hipótese, no longo prazo ela é precária, como bem afirma Weber.
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Simmel observa que a moda, por exemplo, permite marcar sibolicamente a “distinção” obedecendo a uma lógica
semelhante à da honra, pelo que ela confere de marca comum aos membros de um grupo (Simmel, 1998)
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grupo de outro grupo, a linguagem sendo a mais usual de suas manifestações. Como escreve
Bourdieu (1974, 73) “numa sociedade diferenciada não se trata apenas de diferenciar do
comum, mas de se diferenciar diferentemente” . O mecanismo é extensivo a todas as classes e
posições de classe cada qual com seus critérios que lhes são pertinente. Os critérios de
pertencimento a uma classe variam de uma para outra, as classes inferiores se referindo
sobretudo ao dinheiro, as classes médias ao dinheiro e à moral, enquanto as classes superiores
enfatizam o nascimento e o estilo de vida (Davis, Gardner, 1941).
Ressaltamos que não se trata de sintetizar aqui todas as regras da diferenciação social
à sua dimensão simbólica e nem como, nos alerta Bourdieu, reduzir as relações de força a
relações de sentido. Trata-se de situar um mecanismo “abstrato” de diferenciação que se
expressa de forma sutil e ambígua mesmo quando ele se mostra de maneira límpida e precisa.
Os mecanismos de honra e de prestígio se guiam por códigos muitas vezes imperceptíveis que
aparecem como traços da cultura. São portanto, os sistemas simbólicos em flagrantes relações
de superioridade e inferioridade que usando de sanções morais para se firmarem que será
chamado de sistema de estratificação (Parsons, 1974).
Indivíduo e sociedde
firmam enquanto um fenômeno social e termina por intervir na identidade individual. Visto desta
forma, poderíamos considerar que pertencer a uma classe seria algo inexorável e teria como
um de seus determinantes a trajetória individual de cada um de seus membros, a partir de sua
origem. A identidade de classe fica definida a partir do momento em que os valores simbólicos
da classe se configuram como efetivos para garantir a coerência ou a estabilidade da
identidade individual.
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“...as lacunas mais importantes na teoria de classes referem-se aos processos por meio dos quais as classes
econômicas transformam-se em classes sociais”(Giddens, 1875)
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- É de certa forma consensual entre os estudiosos considerar o fenômeno urbano especialmente como um fenômeno
cultural que age sobre todas as dimensões da vida. Ver por exemplo Simmel, Pechman, etc. na bibiliografia
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Desta forma, o espaço urbano corresponderia a uma típica espacialidade das classes então
nascentes e é a cidade o seu locus por excelência. As classes vagueiam neste espaço como
em territórios simbólicos comuns, como num puzzle cujas peças são fragilmente unidas e
articuladas e que vão encontrar aí, nesta união instável, o seu sentido.
Este espaço urbano é também o berço de um habitante peculiar, o cidadão que se
insere numa lógica monetarizada de mercado. O seu aparecimento irá, pouco a pouco,
induzindo a uma divisão do trabalho que criará novos grupos distintos daqueles dois principais.
Desta forma, a sociedade vai se complexificando no seu desenvolvimento e adquire uma
conformação social que inclui o indivíduo como ser singular . Distancia-se, portanto, cada vez
mais daquela sociedade calcada nos valores simbólicos da religião, um substrato ideológico
que se sustentava em esferas simbólicas precisas; cria-se uma nova religião adequada ao que
então se firmava, e contraditoriamente, traduzindo o capitalismo então nascente, antes de mais
nada, em “espírito” , agora com uma religião que lhe é própria. (Weber, 1964).
Marx, em “O Capital”, trabalhou a evolução do capitalismo considerando duas classes
urbanas, portanto com uma espacialização que lhes é própria. Podemos, também, falar da
produção de um espaço que é um espaço social, ou com uma sociabilidade que lhe é própria.
Esta expressão produção do espaço envolve, portanto o conjunto da sociedade ou, de outra
maneira, toda sociedade produz “um” espaço que lhe é próprio. O do capitalismo é, por
excelência, o espaço urbano, lugar do efêmero, do símbolo sem referências precisas,
comandadas pela lógica monetária.
Desta forma, o espaço urbano/industrial se constitui, pouco a pouco, em imagem
privilegiada do sistema capitalista, Para compreendê-lo não se deve tomar como referência à
produção no sentido restrito dos economistas - quer dizer, o processo da produção das coisas e
de seu consumo - mas a reprodução das relações sociais nele contidas. A sua transformação
em espaço paradigmático do capitalismo consolida as classes sociais deste sistema e lhes dá
legitimidade histórica: assim, se existe um ponto de vista classista, como é impossível
(metodologicamente falando) partir dele; deve-se chegar a ele (Lefebvre,1976).
Por outro lado, os lugares de construção de identidade social se diluem num cotidiano
complexo que se guia por diferentes lógicas, algumas delas absolutamente descoladas do
mundo do trabalho. Seria, portanto, quase que óbvia a consideração de que o cerne da questão
de classes neste fim de milênio estaria na relação entre o mundo do trabalho e o mundo do não
trabalho Ambas dimensões da vida desempenham funções estratégicas na determinação do
lugar social do indivíduo dentro da organização societária.
As representações simbólicas adquirem no meio urbano a sua mais clara manifestação.
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SOCIEDADE E SOCIABILIDADE
Vale a pena lembrar que o mundo hoje não é o mesmo dauele onde se construiu a
teoria das classes. Naquele momento, a inserção do individuo num coletivo se fazia sobretudo
via “trabalho” e a sociedade se constituía a partir deste dado: toda linguagem social e política
se fazia a partir dessa categoria e expressões rotineiras davam conta da primazia desta
categoria: crianças trabalham na escola, mulheres entrama em trabalho de parto, ações
filantrópicas são trabalho social, etc. De fato, o conceito de classe se referia a uma das
possibilidades de utilização desta categoria trabalho, exatamente aquela que indicava produção
material.
Por outro lado, a sociedade atual estabelece uma relação ambígua entre indivíduo e
sociedade. De um lado, centra nos valores individuais o essencial da identidade, com o risco
permanente de generalização de um narcisismo exacerbado construído na imagem do “self-
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made man” caricaturado na figura do yuppie bem sucedido na vida material; por outro, cria uma
sensação de estar acima do indivíduo, sobretudo pela dificuldade de inserção que se tem no
social face as novas configurações da vida cultural e econômica. A perda de importância da
categoria trabalho para definir identidades sociais e as decorrentes sociabilidades (Clauss Offe,
1989) termina por dar a sensação de que uma “mão invisível” controla o destino dos indivíduos,
os quais se sentem impotentes frente a ela.
Mesmo neste quadro, pensar um mundo sem o trabalho, nos parece inimaginável, pois
basta lembrar as evidentes desestruturações de identidades individuais simbolizadas no
estigma das categorias identitárias de desempregado, subempregado, ou empregado a tempo
parcial, responsáveis em grande parte pelos aumentos vertiginoso do grau de desestruturação
e violência que caracteriza hoje as sociedades urbanas. A crise na qual se encontra a
categoria trabalho repercute na transmissão e na construção de valores morais e éticos,
sobretudo para as novas e futuras gerações.
A categoria “classe” dentro do arcabouço intelectual explicativo das identidades sociais
deve ser revista à luz desta crise. Em se tratando de um conceito que retirava seu significado
nas relações de produção encontrava aí o seu respaldo ou a sua legitimidade. As
transformações que se firmaram como freqüentes no mundo, entretanto, recolocam a questão
sobre novas bases. O conceito é claro e preciso e se liga, ao menos nos clássicos, ä esfera
econômica, especialmente com respaldo nas atividades produtivas de bens materiais.
Conforme detalhamos ao longo do texto as diferentes tentativas de se adequar o conceito äs
novas realidades que a produção material de bens vai promovendo exigiu um esforço no
sentido de captar a complexidade do real. Entretanto, a realidade vai se modificando com uma
incontrolavel rapidez o que nos deixa esta impressão desatualizada do conceito. Ao mesmo
tempo, não se consegue obscurecer o fato de que a sociedade é dividida hierarquicamente e
esta estratificação tem de encontrar uma explicação teórica.
l.A valorização da honra e do prestigio social coloca uma nova dimensão no existir
socialmente e os indivíduos procuram adequa-las äs suas trajetórias de vida, norteando suas
ações a partir de pressupostos ditados por ambos valores. Pode-se avançar a hipótese de que
tínhamos personalidades individuais que se casavam perfeitamente com dimensões sociais da
vida. A fragmentação do mercado de trabalho e a generalização dos métodos flexíveis na
esfera produtiva colocam estas certezas em questão. Aos indivíduos integrados de antes, com
perfis de personalidades sólidas , hoje este perfil é mais flexível. O que se tem agora é a
necessidade de indivíduos adaptáveis a situações transitórias, instáveis. Bauman(1998) vai
nos falar de “homens dóceis de serem reformados” como metáfora para explicar que a crise das
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