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Textos complementares de Filosofia – 10º ano 2016

II.1. A ação humana - análise e compreensão do agir


II.1.1. A REDE CONCEPTUAL DA AÇÃO
Os 4 momentos de um ato voluntário (Paul Ricoeur)
Intenção; Motivo; Fim
Desejo e motivação;

1º momento 2º 3º 4º
CONCEÇÃO DELIBERAÇÃO DECISÃO EXECUÇÃO
=> Comportamento
=> Planeamento; => Ponderação das => Escolha. observável; passagem
Projeto de ação. alternativas em jogo. da intenção ao ato
(propriamente dito).

 1º momento: conceção da ação


- Estabelecer conscientemente uma meta/fim a atingir;
- Esboçar os meios para alcançar esse objetivo;
=> Delinear um plano de ação/projeto, que está orientado para o futuro e antecipa possibilidades
realizáveis (o que pressupõe ter em conta as circunstâncias e os condicionalismos/limites).

 2º momento: deliberação
- Analisar os motivos que nos levam a agir (ou não), a agir desta ou daquela maneira;
- Neste processo, intervém a nossa capacidade intelectual, pois temos de avaliar os “prós” e os
“contras” da realização do projeto concebido
=> Ponderação de razões: que opção (ou opções) vale mais?

 3º momento: decisão
- Entre as opções disponíveis, escolhemos uma delas;
- Decidir, é determinarmo-nos a agir
=> “Corte” com as diversas possibilidades de ação ainda em aberto, optando definitivamente por
determinado modo de agir
=> Decidindo, o agente torna-se um criador ao afirmar: faça-se!
 4º momento: execução
- Pôr em prática a decisão tomada;
- Realizar o ato que concebemos e temos vontade de concretizar.
=> Passagem da intenção ao ato propriamente dito.

AÇÃO HUMANA (em sentido restrito) = Atos HUMANOS = Atos voluntários


As coisas que fazemos voluntária, consciente e intencionalmente, querendo realmente fazê-las.
Comportamentos cujo agente é o Homem, enquanto usa a sua racionalidade e liberdade para se transformar
a si mesmo, aos outros e ao próprio mundo em que habita.
 Quem age? Cada ação humana é atribuível a um ser humano, isto é, a um agente. A ação é do sujeito A,
depende dele e este tem o poder de a executar.
 O que fazes? A ação humana é intencional, pois o agente visa obter algo ao elaborar um projeto, ou seja,
age “com a intenção de...” alcançar um objetivo e motivado por desejos, necessidades ou ideais. A
conceção, deliberação e decisão são etapas interiores ao sujeito, prévias e imprescindíveis à concretização
da ação (execução).
 Porquê? Cada ação humana pode ser explicada através de motivos, isto é, razões que levam o agente a
comportar-se de determinada maneira.
 Para quê? Cada ação humana é executada por um agente com vista a atingir um determinado fim
(finalidade ou objetivo). Faço A como meio para alcançar o fim B.
 A identificação do agente é necessária para a atribuição da responsabilidade pelas consequências dos
atos que livremente realizou e de que foi, simultaneamente, autor e ator. Assim, atribuir a ação a alguém é
considerar que teve a intenção de a executar e, portanto, foi livre e é responsável pelo ato.

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O conceito de DECISÃO
Segundo a conceção clássica, o processo deliberativo tem na decisão o seu terminus,
imediatamente antes da execução da ação. Em linguagem corrente diz-se: - Ainda não tomei uma
decisão; ou então: - Já tomei a decisão de ...
A decisão, como a etimologia deixa perceber, significa deixar cair (decadere) as alternativas
admitidas como possíveis, mas abandonadas em favor da possibilidade preferida ou eleita.
Um dos problemas mais delicados que coloca o processo deliberativo é o de saber se a decisão em
que se conclui a fase deliberativa releva muito do desejo ou do apetite ou se pode alguma vez ser con-
siderada estritamente racional (um problema paralelo ao problema do motivo, entendido umas vezes
mais como “quase-causa”, outras como “razão de”).
Alguns autores levantam um outro problema, a saber: se a decisão é mesmo o resultado e o
desfecho do processo deliberativo ou se ela é anterior à deliberação. Por outras palavras, trata-se de
saber: se primeiro ponderamos e só depois decidimos; ou se primeiro decidimos e só depois
procuramos as razões para justificar a decisão. Deliberação e decisão, além de representarem dois
momentos distintos, diferenciam-se pelo seguinte:
 A deliberação, que acarreta escolha e eleição, tem mais a ver com a ponderação de razões.
 A decisão tem mais a ver com a vontade. Não basta escolher, preferir, eleger racionalmente uma
das alternativas; é necessário optar, querer efetivamente o que se escolheu. É aqui que o agente
intervém como portador de um poder.
Há muitas pessoas que padecem de enfermidades da vontade, de abulias. Abulia significa carência
ou fraqueza do querer. As espécies de abulia mais frequentes são:
a) Abulia de deliberação - própria das pessoas que arrastam o processo deliberativo, evitando
chegar a uma conclusão.
b) Abulia de decisão - própria das pessoas que, por indecisão grave, evitam tomadas de decisão,
mesmo que necessárias.
c) Abulia de execução - própria das pessoas a quem falta coragem e energia para levar a cabo
projetos já deliberados e decididos.

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