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Universidade Estadual do Piauí

Campos Alexandre Alves de Oliveira - Parnaíba


Engenharia Agronômica
Entomologia Geral
Prof. Marcio Silva
Alunos: Gilciano de Oliveira Batista e Geiciano Oliveira Batista da Cunha

Atividade Avaliativa III - Revisão de Literatura Sobre a Ordem Orthoptera

ORDEM ORTOPTERA

A ordem Orthoptera, (do grego Orthos = plano; Pteron = asas) são uma ordem
de insetos que possuem as asas superiores retas e coriáceas, recobrindo as asas
inferiores mais largas, dobradas no seu sentido longitudinal, possuem pernas posteriores
longas e possantes, apropriadas para saltar, o aparelho bucal é mastigador, possuem
aspectos morfológicos particulares que proporcionam a produção de um som
característico, processo esse conhecido como estridulação. Entre os membros dessa
ordem estão os gafanhotos, grilos, esperanças, paquinhas entre outros. O grupo
Orthoptera é dividido em duas subordens, Caelifera e Ensifera, que juntas englobam
mais de 30 mil espécies.
O grupo Caelifera incluem os gafanhotos e insetos semelhantes ao gafanhoto,
bem como outras superfamílias classificado com eles: os moinhos (Tetrigoidea) e
grilos-toupeiras pigmeus (Tridactyloidea), este último não deve ser confundido com os
grilos-toupeiras (Gryllotalpidae), que pertencem à outra subordem de ortópteros
Ensifera. Os Caelifera incluem cerca de 2.400 gêneros válidos e cerca de 12.000
espécies conhecidas. Os gafanhotos são os principais representantes tanto desse grupo
quanto da ordem Orthoptera. O reconhecimento pode ser feito por meio da observação
de suas características morfológicas externas: suas antenas são mais curtas que o corpo,
geralmente filiformes (em forma de fio) e com menos de trinta segmentos cada. A
forma do corpo é variável para cada espécie, podendo ser comprida, ensiformes (em
forma de espada) ou mesmo claviforme (em forma de clave). Os tímpanos se encontram
um de cada lado do primeiro segmento abdominal. O ovipositor dos gafanhotos,
diferente dos demais, normalmente é inconspícuo. Como dito anteriormente, a terceira
perna é bem desenvolvida e adaptada para o salto.
O grupo Ensifera tem como representantes os grilos, as paquinhas e as
esperanças. Os grilos possuem antenas filiformes e longas, maiores que o corpo.
Possuem ovipositor conspícuo, órgãos auditivos nas pernas anteriores e aparelho
estridulatório formado pelas nervuras das asas anteriores. Os grilos têm hábitos
noturnos, vivendo em buracos no solo ou em frestas. Quanto à sua importância
econômica, podem atacar raízes, folhas e frutos de algodoeiro, arroz, batata, milho,
tomate, e outras plantas. As paquinhas apresentam antenas de comprimento moderado e
finas na extremidade. Os tímpanos estão presentes nas tíbias das pernas anteriores. O
aparelho estridulatório é rudimentar, emitindo ruídos pouco perceptíveis. Dispõem-se de
pernas dianteiras modificadas para a escavação, relacionado ao seu hábito de vida
subterrâneo. As esperanças possuem antenas longas e maiores que o corpo, de aspectos
filiformes e multi-segmentados. Os órgãos timpânicos estão situados nas tíbias
anteriores, perto da articulação do joelho, e o ovipositor é ensiforme(Sperber et
al,2012). A maioria das esperanças tem hábitos noturnos e as que vivem durante o dia
encontram-se no interior de um tubo feito com folhas de árvores que elas mesmas
cortam e enrolam. A sua denominação foi decorrente de sua coloração esverdeada, e
esses animais também são atribuídos a boa sorte. Algumas espécies imitam folhas, tanto
em sua coloração como também nas nervuras e manchas, e outras podem apresentar
asas com colorações avermelhadas, violáceas ou, até mesmo, amareladas.

Classificação taxonômica a nível de família

. Tetrigiidae

São conhecidos popularmente como “gafanhotos anões” (Buzzi, 2009),


possuem tamanho corporal entre 13 e 19 mm, entretanto, as fêmeas de algumas
espécies podem ultrapassar esse tamanho (Triplehorn et al , 2011). São reconhecidos
por apresentar um longo pronoto, que se estende sobre o abdômen ou, às vezes, até
a ponta das asas posteriores, ultrapassando o abdômen, e se afunila terminando
em ponta aguçada. Os tarsos anteriores e medianos são dímeros e os posteriores
são trímeros. As tégminas geralmente são reduzidas e ocultadas pelo pronoto e asas
posteriores. São gafanhotos que possuem corpo rugoso e padrão cromático variado,
sendo que a Insetos Aquáticos na Amazônia brasileira: taxonomia, biologia e ecologia
306 maioria das espécies é escura entre a cor marrom e a preta, porém, de acordo com
seu nicho ecológico podem apresentar a coloração de areia e de liquens, como
camuflagem. As fêmeas possuem o ovipositor com as valvas denteadas como as de
gafanhotos Acrididae semiaquáticos que realizam ovipostura endofítica e isso pode
indicar que os gafanhotos anões também apresentem oviposição desse tipo. Não
possuem órgãos auditivos e nem de produção de som. Em algumas espécies são
observadas adaptações para nadar e mergulhar, correspondentes ao alargamento
das tíbias posteriores, conforme observado para outros gafanhotos semiaquáticos.
Geralmente vivem em áreas úmidas, arenosas ou argilosas como as praias e as
margens de rios e lagos onde se alimentam de algas, diatomáceas, musgos e de
detritos orgânicos misturados com o barro (Sperber et al. 2012). Entretanto, algumas
espécies tropicais são arborícolas e vivem entre musgos e liquens enquanto outras
vivem no chão da floresta. A maior diversidade de Tetrigidae é encontrada em
florestas tropicais e para o Brasil são conhecidas quatro subfamílias, 22 gêneros e 52
espécies.

.Proscopiidae

Esta família compreende aproximadamente 215 espécies e 30 gêneros


distribuídas pelas Americas Central e do Sul. São espécies crípticas caracterizadas por
suas cabeças alongadas, antenas curtas e aparências de gravetos, sendo popularmente
chamadas de bichos-pau, ou falso bicho-pau. Em algumas localidades no Sertão são
conhecidas como «Alma de lenha». Grande parte das espécies apresenta um acentuado
dimorfismo sexual, sendo os machos bem menores do que as fêmeas. Normalmente as
espécies são descritas e diferenciadas pela estrutura da genitalia dos machos. São
insetos herbívoros e generalistas, alimentando-se de uma grande variedade de plantas.
Algumas vezes podem ser consideradas pragas agrícolas. Os membros da família
Proscopiidae, possuem uma morfologia muito diferente das demais. São relativamente
raras, e ficam isoladas sobre as plantas. Os proscopídeos não possuem asas e mimetizam
gravetos e folhas secas. Assemelham-se aos insetos conhecidos popularmente como
“bicho-pau”. É possível diferenciá-los analisando dois aspectos principais, o tamanho
da antena e a distância entre os três pares de pernas. O verdadeiro “bicho-pau”, da
ordem Phasmatodea, tem antenas longas e o segundo par de pernas equidistante das
demais. Já o falso “bicho-pau” tem antenas mais curtas e o segundo par de pernas mais
próxima do terceiro par em relação ao primeiro(Sperber et al,2012). Na Amazônia há
uma espécie de esperança que produz uma estridulação que ressoa como as sílabas de
"ta-na-na", sendo chamado, portanto, de “tanana” pelos índios locais. A Chlorocoelus
tanana consegue formar uma câmara de ressonância com as asas anteriores que
permitem ampliar o som da estridulação.

.Acrididae

popularmente chamados de gafanhotos, estão entre os insetos terrestres mais


conhecidos. São herbívoros e podem ser encontrados em pastagens de todo o mundo,
exercendo um papel importante na ciclagem de nutrientes e podendo servir como fonte
de alimento para invertebrados e vertebrados(Song et al, 2018). No Brasil, podem ser
encontrados em regiões florestais; de vegetação aberta, como campos e Cerrado; regiões
secas, como a Caatinga; e regiões úmidas, como alagados e banhados, sendo a família
com maior número de espécies para o país, com mais de 360, distribuídas por 129
gêneros e 10 subfamílias. Os acridídeos são extremamente diversos no seu tamanho e
forma corporal, assim como na biologia e ecologia. Possui mais de 6500 espécies
válidas, representando a linhagem mais diversa dentro da subordem Caelifera.
Provavelmente teve sua origem no início do Cenozóico, diversificando-se até o final
dessa mesma Era. Os principais continentes já estavam separados nessa altura,
sugerindo que a dispersão teve um importante papel nos padrões biogeográficos
observados nos Acrididae atualmente(Song et al, 2018).

.Gryllotalpidae

trata-se de uma pequena família monofilética, da ordem dos ortópteros, e que,


provavelmente, surgiu entre o final do Jurássico e o início do Cretáceo. A história
taxonômica do grupo começa quando Linnaeus (1758) descreveu a espécie Gryllus
(Acheta) gryllotalpa. Em 1802, Lattreille descreveu o gênero Gryllotalpa, transferindo a
espécie de Linnaeus para status de gênero. Somente em 1815, Leach estabeleceu a
família Gryllotalpidae, incluindo a espécie Gryllotalpa gryllotalpa (Cadena,2015). São
insetos mundialmente distribuídos, exceto nas regiões polares. A maioria de suas
espécies ocorre em zonas tropicais e alguns em zonas temperadas(Cadena,2015). Nesta
família estão inclusos alguns dos ortópteros mais distintos, por possuírem pernas
dianteiras bem desenvolvidas utilizadas para cavar túneis e galerias profundas no solo,
onde se abrigam e acessam as raízes das plantas, onde se alimentam. Por isso, se
tornaram importantes pragas de gramíneas, plantações e campos de golfe.
.Gryllidae

Conhecidos popularmente como grilos. São terrícolas, raramente arborícolas.


Variam de menos de 10 mm a mais de 50 mm de comprimento. A maioria possui cor
escura, variando do preto ao marrom. Cabeça globular, sem cerdas. As espécies mais
frequentes em ambientes abertos pertencem a Gryllus L. Está dividido em 8 subfamílias
e 11 tribos. Seis gêneros e 11 espécies foram citadas para o território brasileiro.
Acredita-se que exista, no Brasil, espécies crípticas neste gênero, cuja distinção depende
de análises bioacústicas e de veias estridulatórias. São conhecidos popularmente como
esperanças, distingue-se de Grylloidea principalmente pelo número de artículos tarsais,
totalizando quatro, um a mais que Grylloidea. Composta por uma única família,
Tettigonidae, descrita abaixo:

.Tettigoniidae
É uma família de insetos altamente diversificada, que ocorre em praticamente
todos os continentes do globo, à exceção da Antártida e outras regiões nos polos; conta
atualmente com 22 subfamílias, 1318 gêneros e cerca de 7886 espécies (Fianco,2020).
Esta família reúne os ortópteros conhecidos como “katydids” ou “long-horned-
grasshoppers” nas Américas, Austrália e Nova Zelândia ou “bush crickets” (algo como
“grilos-selvagens” ou “grilos-de-arbusto”) na Grã Bretanha e Europa. No Brasil, são
popularmente conhecidos como "esperanças" (ou esperañas, na Espanha), pois na
cultura destes países está arraigada a crença de que este inseto simboliza boa sorte
(principalmente quando pousa em uma pessoa) (Marques,205), enquanto que encontrá-
lo morto é considerado um presságio de mau-agouro (Marques, 2005). Os tetigonídeos
são insetos grandes (1-6 cm.), de hábitos predominantemente noturnos e generalistas
(Fianco,2020) (embora existam subfamílias com espécies fitófagas e predadoras) , são
dotados de um corpo alongado e achatado lateralmente, antenas filiformes compostas
por mais de 30 artículos, e um terceiro par de pernas com fêmur avantajado e musculoso
do tipo saltatório, que lembra muito o de outros ortópteros proximamente relacionados a
eles dentro da subordem Ensifera - os grilos (Gryllidae) .

Morfologia
Os insetos da ordem Orthoptera possuem aspectos morfológicos particulares
que proporcionam a produção de um som característico, processo esse conhecido como
estridulação. Além disso, também são conhecidos por disporem de pernas traseiras bem
desenvolvidas e adaptadas para o salto.
O corpo dos insetos em geral é dividido em cabeça, tórax e abdômen, com três
pares de patas articuladas, recoberto por uma epicutícula cerosa impermeável. A cabeça
dos Orthoptera é vertical em relação ao corpo e apresenta um par de antenas geralmente
multi articuladas de tamanho variável, olhos compostos bem desenvolvidos, três
ocelos(Sperber et al,2012), peças bucais mastigadoras fortes dirigidas para baixo (ou
seja, a cabeça é hipognata)(Barnes, 1996). O primeiro segmento do tórax é largo e o
abdômen apresenta 10 segmentos, contendo na placa anal um par de cercos distintos,
curtos e articulados(Sperber et al,2012). Mais detalhes nos próximos tópicos referentes
a morfologia.
Cabeça
Cabeça dos ortópteros é bastante variável quanto à forma, apresenta um
prolongamento entre os olhos compostos, denominado fastígio , estrutura bastante
conhecida e de importância taxonômica, bem como as margens que se unem e que
percorrem o fastígio que são denominadas carenas laterais, principalmente para os
grupos de gafanhotos. Possuem normalmente três ocelos que em alguns grupos podem
ser vestigiais ou ausentes. Olhos compostos são variáveis quanto à forma, podendo ser
bastante globosos ou alongados, próximos ou distantes entre si (espaço interocular). Na
cabeça podem ser encontradas algumas depressões denominadas fovéolas ou sulcos ,
que também possuem importância taxonômica. As antenas podem ser filiformes,
setáceas ou ensiformes. As peças bucais são mastigadoras e dependendo da sua posição
de inserção, classificam-se em opistognata (peças bucais dirigidas para trás) ,prognata
(peças bucais projetadas para frente) e hipognata (peças bucais direcionadas
verticalmente) (Braga et al, 2014).

Torax
Nos ortópteros o protórax é a região torácica mais desenvolvida e muito
variável entre as famílias. A união dos segmentos laterais e dorsais do tórax corresponde
às carenas laterais e na região mediano-dorsal a sua carena mediana dorsal que são
importantes características taxonômicas. Elas podem ser ornamentadas formando
cristas, principalmente em alguns Acridoidea terrestres . Na família Tetrigidae o
pronoto se estende cobrindo completamente o abdômen. As pernas anteriores e
médias (1º e 2º par de pernas) são ambulatoriais Gryllotalpidae e alguns
Tridactyloidea que possuem o 1º par de pernas fossorial) e as posteriores (3º
par) saltatórias , porém nas espécies semiaquáticas as tíbias posteriores se apresentam
alargadas em forma de remo com as bordas providas de densa pilosidade (cerdas
hidrófobas, como observado nos insetos aquáticos), que corresponde a uma
adaptação para nadar e mergulhar. Em Ensifera, as espécies providas de órgão
auditivo, apresentam um tímpano em cada tíbia anterior . O primeiro par de asas é
pergaminácea (tégmina) e o segundo é membranoso . Entretanto existem ortópteros
ápteros, braquípteros e micrópteros, sendo as espécies semiaquáticas comumente
aladas. Tanto nas asas como nas pernas posteriores, em alguns grupos de ortópteros,
são encontradas estruturas que fazem parte do aparelho estridulatório,
responsáveis pela produção de som ou “canto”, que é mais comum em espécies
terrestres, sendo observado entre espécies semiaquáticas apenas em alguns Ensifera
(grilos e esperanças) (Braga et al, 2014).

Abdômen
Abdômen. Séssil e apresenta 11 segmentos ou metâmeros . Em Caelifera, as
espécies que possuem órgão auditivo apresentam um par de tímpanos localizados no 1º
segmento abdominal . No último segmento abdominal encontram-se as genitálias e
seus acessórios . As fêmeas possuem ovipositor variável, sendo bastante visível em
Ensifera que é longo e em forma de faca ou de foice (Tettigonioidea) ou cilíndrico
(Grylloidea) e curto em Caelifera. Na maioria das espécies semiaquáticas de
Acridoidea as valvas do ovipositor são fortemente denteadas o que corresponde a uma
adaptação a oviposição endofítica, observada comumente em gafanhotos da subfamília
Leptysminae. Alguns ortópteros possuem cercos bastante desenvolvidos(Braga et al,
2014).
Ninfas
Os ortópteros são insetos que a p re s e n t a m m e t a m o r f o s e g ra d
u a l e s e u desenvolvimento é indireto por paurometabolia ( ovo , n i n f a e i
m a g o v i ve n d o n o m e s m o ambiente). Os imaturos ou ninfas são
morfologicamente semelhantes aos adultos e a cada processo de muda ou ecdise ,
eles aumentam de tamanho, podendo ou não mudar seu padrão cromático. Nos dois
últimos estádios ninfais dos ortópteros alados, geralmente, desenvolvem-se as
tecas alares que correspondem a asas rudimentares. Os processos de muda definem o
número de estágios de desenvolvimento , que é variável para cada grupo, sendo
considerados em média cinco estádios(Braga et al, 2014).

Tagmose de um ortóptero.

O aspecto característico da ordem Orthoptera são as pernas: enquanto o


primeiro e o segundo par de pernas são semelhantes, as pernas traseiras (o terceiro par)
são bem desenvolvidas, ampliadas, musculosas e com fêmures mais robustos que as
demais, adaptadas para o salto. Algumas espécies podem possuir longos espinhos nelas.
Dependendo do grupo, as pernas podem compreender também os órgãos estridulatórios
(produção do som) e os órgãos timpânicos (recepção do som) - estes últimos podendo
estar situados nas laterais do abdômen, em formas escavadoras, como as paquinhas, as
patas dianteiras são curtas, porém largas, e adaptadas à escavação, relacionado aos seus
hábitos de vida subterrâneo. Já nas espécies semi aquáticas, especialmente do gênero
Paulinia, apresentam as tíbias das pernas posteriores remiformes (em forma de
remo)(Sperber et al,2012). Há espécies com ou sem asas, denominadas
ápteras(Barnes,1996). Quando presentes, estão em dois pares: as asas dianteiras são do
tipo tégmina, espessas, protegendo o segundo par de asas, podendo ser modificada para
a camuflagem e/ou produção de som(Sperber et al,2012), além de eventualmente
auxiliar no voo. As asas traseiras são largas e membranosas, com muitas nervuras, e em
repouso se dispõem longitudinalmente sob as dianteiras, como as dobras de um leque.
Estas são as verdadeiras responsáveis pelo voo. Além da variedade das pernas e asas,
pode haver dimorfismo sexual em relação ao tamanho, sendo que as fêmeas são, em
geral, maiores que os machos, o que é comum nos insetos. Em Ensifera a discrepância
não é tão grande, enquanto que em Caelifera isso já é mais acentuado. Sua coloração e
forma também permite que se camuflem no ambiente. Muitos imitam folhas, galhos,
flores e pedras e mimetizam outros insetos, o que difere entre jovens e adultos, assim
como entre machos e fêmeas(Sperber et al,2012). Apesar de a maioria apresentar cores
discretas para esconder sua presença, algumas espécies exibem coloração aposemática,
com o objetivo de espantar o seu predador. Em relação à anatomia interna, seus sistemas
(respiratório, circulatório, nervoso, digestório, excretor) funcionam de acordo com o
padrão geral dos insetos.
Comportamento

Hábito de vida

A capacidade de voo dos ortópteros é, em geral, limitada, sendo que existem


até espécies que a perderam completamente. Seus hábitos de vida podem variar de
muitas formas. Os ortópteros podem viver em diversos habitats, como por exemplo
sendo terrestres, semi aquáticos (nadando ou deslizando na água), escavadores ou
cavernícolas, com hábitos de vida diurnos ou noturnos.(Sperber et al,2012) Eles
também podem ser solitários (vivem isolados) ou gregários (vivem em bando e
apresentam hábitos migratórios), mesmo em uma mesma espécie(Santos, 1982).

Alimentação
A alimentação dos ortópteros é muito diversa, podendo ser altamente
específica ou bastante ampla. Existem exemplos onívoros, predadores, fungívoros ou
herbívoros, que consomem folhagens, raízes, sementes, pólen, néctar. Aqueles que são
predadores podem utilizar as pernas anteriores e médias como pinças para capturar suas
presas.

Estridulação e usada para comunicação


Os sons emitidos por ortópteros – processo denominado estridulação – variam
no ritmo e no modo de emissão dependendo da espécie. Na maioria das vezes, é o
macho que emite os sons, e o objetivo desses insetos com este comportamento pode ser
o de atrair a fêmea para a reprodução, assim como marcar seu território ou competir
pela fêmea, ou até mesmo usá-lo como alarme quando estão ameaçados ou feridos. A
estridulação produzida por cada espécie é característica, de modo que a reprodução não
ocorre entre espécies diferentes(Santos, 1982). A propagação de som ocorre a partir do
atrito entre fileiras de pequenos dentes, denominados fileiras estridulatórias, presentes
em diferentes partes do corpo do animal, como as asas e pernas. Comparando os grupos
dentro de Orthoptera, o processo pode se dar através de fricção entre as asas anteriores,
como ocorre em alguns Ensifera. O som também pode ser resultado de atrito entre essas
asas e fileiras estridulatórias presentes nos fêmures, como em Caelifera. Em Acrididae,
o som é produzido ao esfregar as fileiras de dentes esclerotizados da lateral do abdômen
com os da face interna do fêmur. Já em Acridinae, o som é originado quando as asas
posteriores se raspam entre si(Sperber et al,2012). Para amplificar as ondas sonoras,
estes animais podem utilizar suas próprias asas como câmaras de ressonância, fazendo
com que tomem forma de leque para isso. Há outros métodos de amplificações comuns,
como o posicionamento do inseto sobre folhas ou dentro de buracos. A incapacidade
estridulatória de algumas fêmeas pode estar relacionada à ausência de fileiras
estridulatórias em seus fêmures. Ocasionalmente, tanto machos quanto fêmeas podem
emitir ruídos durante o voo, produzidos pelo atrito da superfície superior da margem
costal das asas contra a face interior das tégminas, o que é diferente do processo
estridulatório em si(Sperber et al,2012). Ao mesmo tempo que há uma variedade na
produção de sons, tal diversidade também está presente nas estruturas de recepção do
som. Em Ensifera, o tímpano (órgão auditivo) está localizado na tíbia anterior, enquanto
que em Caelifera esta estrutura se encontra no abdômen(Dias ,2018).

Cópula de gafanhotos.
A estrutura do tímpano consiste em uma fina membrana cuticular, uma grande
bolsa de ar ligada a esta membrana e sensilas. O conjunto das duas primeiras estruturas
formam um “tambor” que, ao ser atingido pelas ondas sonoras, vibra e estimula as
sensilas. Por outro lado, ainda que o som dos ortópteros seja muito característico do
grupo, existem também espécies ápteras que não são capazes de produzir ou captar
sons, já que os aparelhos estridulatórios e os tímpanos estão ausentes.

Desenvolvimento e Reprodução
Os ortópteros apresentam desenvolvimento hemimetábolo: há fase de ovo, de
ninfa (jovem) e de imago (adulto). As ninfas têm aspectos morfológicos e hábitos de
vida semelhantes ao adulto, porém difere deste pelo seu tamanho relativamente menor,
asas ainda ausentes ou imaturas, órgãos reprodutores não desenvolvidos e menor
quantidade de artículos antenais(Sperber et al,2012).
Ovipositor de um ortóptero.
A reprodução se dá de modo sexuado, embora também existam espécies que
apresentem partenogênese facultativa, que ocorre quando a disponibilidade de machos é
baixa. Existe, antes da cópula, um processo de corte envolvido, relacionado à
estridulação e vibração do corpo e das antenas(Centeno de Oliveira et al, 2013).
Durante a cópula, a genitália masculina – que fica na parte interna, entre as placas
supraanal e subgenital, no abdômen – pode ser colocada para fora para transferência de
gametas de modo indireto, através de um espermatóforo(Sperber et al,2012). O macho
posiciona-se sobre a fêmea e transfere a bolsa de gametas para o gonóporo feminino e,
ao final, a fêmea pode se alimentar da cápsula do espermatóforo(Santos, 1982). O
ovipositor feminino é, em geral, grande, composto por três pares de valvas, das quais a
interior é geralmente reduzida ou ausente e se localiza na parte terminal do abdômen das
fêmeas. A cópula pode durar até dias, com o macho permanecendo sobre a fêmea por
todo esse tempo(Sperber et al,2012). Os ovos são postos em diferentes locais e de
maneiras distintas de acordo com os diferentes grupos, o que se reflete em sua anatomia.
Em Caelifera, as valvas no ovipositor auxiliam no processo de escavação para a postura
de ovos dentro do solo. Já em Ensifera, os ovos são postos no interior das folhas ou em
suas margens, através de um ovipositor longo, podendo causar galhas(Santos, 1982).
Pode também existir cuidado com a prole por parte da fêmea, que protege os ovos, por
exemplo, do macho para que ele não os coma, até que os indivíduos sofram a primeira
muda. Isso ocorre em espécies de grilo-toupeira(Santos, 1982).
Ecologia e Relação com humanos
Inimigos naturais
Entre os inimigos naturais de ortópteros estão seus predadores, principalmente
outros insetos, aranhas, aves, roedores e outros vertebrados, além de parasitas externos,
como ácaros, e internos, como vermes, larvas de insetos e bactérias.(Sperber et al,2012)

Nuvem de gafanhotos.
Pragas
Algumas espécies de gafanhotos podem adquirir hábitos de vida gregários e
migratórios, formando as chamadas “nuvens” de gafanhotos(Santos, 1982). Enquanto
eles migram para um local onde irão se nutrir e procriar, as plantações que estiverem em
suas trajetórias são devoradas rapidamente. Normalmente invadem somente as áreas de
monoculturas e pastagens, principalmente gramíneas, podendo ser, então, considerados
também como graminívoros. Assim, em outras famílias de plantas o prejuízo que os
gafanhotos provocam é menos significativo, Há relatos de “nuvens” invasoras tão
grandes que toldaram a luz do sol(Santos, 1982). Esse comportamento está relacionado
a plasticidade fenotípica dos grupos com este tipo de comportamento. Grandes
densidades populacionais são identificadas por estímulos visuais, olfativos e mecânica
no par de pernas posteriores, induzindo o aumento nos níveis de serotonina no corpo, a
qual está relacionada com a mudança fenotípica e comportamental dos gafanhotos
gregários.

Noticia recente
Surto 'épico' de gafanhotos está devastando EUA
Um surto de gafanhotos que já afeta pelo menos 15 Estados vem provocando
devastação em lavouras e pastagens no Oeste americano, competindo por comida com o
gado e deixando um rastro de milhões de dólares em prejuízos. Esses insetos são nativos
da região e sua população costuma ser controlada. Mas, segundo cientistas, houve uma
explosão neste ano, agravada pela seca e ondas de calor históricas. O Serviço de
Inspeção Sanitária Animal e Vegetal (APHIS, na sigla em inglês), agência ligada ao
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos responsável pelo controle de doenças
e pragas, já tratou mais de 325 mil hectares com inseticidas, em uma campanha de
supressão da população de gafanhotos e dos chamados grilos Mórmons (Anabrus
simplex), que também são comuns na região e vêm causando danos semelhantes neste
ano. De acordo com o diretor de política nacional da APHIS, Bill Wesela, esse
tratamento vai proteger mais de 650 mil hectares, mas ainda há várias outras ações
programadas em diversos Estados, à medida que mais agricultores e pecuaristas pedem
ajuda à agência para controlar o problema. Gafanhotos são comuns na região Oeste dos
EUA, mas, segundo cientistas, houve uma explosão na população desses insetos neste
ano, agravada pela seca e ondas de calor históricas. A última grande campanha de
supressão de gafanhotos na região foi em 2010, quando o surto de gafanhotos foi a
maior dos últimos 35 anos. Na época, mais de 400 mil hectares foram tratados, o
suficiente para proteger 800 mil hectares. A total magnitude do problema neste ano só
ficará clara dentro de alguns meses.
Biocombustível
Os gafanhotos (Acrididae) estão sendo estudados como fonte de enzimas
capazes de metabolizar substâncias lignocelulósicas e produzir, a partir deste processo,
etanol, um biocombustível de importância econômica, com maior eficiência do que
outros insetos. Em biotecnologia, a lignina é um composto de difícil degradação e estas
enzimas aparentam ser efetivas neste processo.
As enzimas em questão são produzidas no trato intestinal por micro-organismos
simbiontes e estão relacionadas à digestão de carboidratos de origem vegetal obtidos na
alimentação.

Como alimento
O consumo de insetos é praticado por 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo,
em especial na Ásia, Oceania e América Latina. Os ortópteros compõem 13% das
espécies de insetos descritas como comestíveis e são ricos em proteínas. Uma barreira
para o acréscimo de insetos na dieta das culturas ocidentais é o estranhamento e aversão
causados por essa prática, entretanto a criação de insetos, em comparação às criações de
animais de corte tradicionais no ocidente, apresenta certas vantagens: emite menos
poluentes, consome menos água, tem conversão da alimentação em proteínas mais
eficiente, podem utilizar lixo orgânico como alimento e ocupam menos espaço,sendo
uma alternativa sustentável à pecuária.
A entomofagia de ortópteros é uma prática muitas vezes associada à costumes
em algumas comunidades como a tailandesa, na qual foi introduzida uma peste agrícola
(Patanga succincta L.) na alimentação para controle da praga e o inseto foi incorporado
como parte da dieta dos locais. Em comunidades judaicas há registro do consumo de
gafanhotos, os únicos insetos considerados apropriados para alimentação de acordo com
as leis judaicas, em países como Espanha, Iémen e Israel ao longo da história.
Referências
BARNES, R. D.; RUPPERT, E. E.;. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo:
Roca, 1996. 1088 p.

BRAGA, C. E. NUNES A. L. ; Ordem Orthoptera (ortho = reto; pteron Insetos


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