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ORDEM ORTOPTERA
A ordem Orthoptera, (do grego Orthos = plano; Pteron = asas) são uma ordem
de insetos que possuem as asas superiores retas e coriáceas, recobrindo as asas
inferiores mais largas, dobradas no seu sentido longitudinal, possuem pernas posteriores
longas e possantes, apropriadas para saltar, o aparelho bucal é mastigador, possuem
aspectos morfológicos particulares que proporcionam a produção de um som
característico, processo esse conhecido como estridulação. Entre os membros dessa
ordem estão os gafanhotos, grilos, esperanças, paquinhas entre outros. O grupo
Orthoptera é dividido em duas subordens, Caelifera e Ensifera, que juntas englobam
mais de 30 mil espécies.
O grupo Caelifera incluem os gafanhotos e insetos semelhantes ao gafanhoto,
bem como outras superfamílias classificado com eles: os moinhos (Tetrigoidea) e
grilos-toupeiras pigmeus (Tridactyloidea), este último não deve ser confundido com os
grilos-toupeiras (Gryllotalpidae), que pertencem à outra subordem de ortópteros
Ensifera. Os Caelifera incluem cerca de 2.400 gêneros válidos e cerca de 12.000
espécies conhecidas. Os gafanhotos são os principais representantes tanto desse grupo
quanto da ordem Orthoptera. O reconhecimento pode ser feito por meio da observação
de suas características morfológicas externas: suas antenas são mais curtas que o corpo,
geralmente filiformes (em forma de fio) e com menos de trinta segmentos cada. A
forma do corpo é variável para cada espécie, podendo ser comprida, ensiformes (em
forma de espada) ou mesmo claviforme (em forma de clave). Os tímpanos se encontram
um de cada lado do primeiro segmento abdominal. O ovipositor dos gafanhotos,
diferente dos demais, normalmente é inconspícuo. Como dito anteriormente, a terceira
perna é bem desenvolvida e adaptada para o salto.
O grupo Ensifera tem como representantes os grilos, as paquinhas e as
esperanças. Os grilos possuem antenas filiformes e longas, maiores que o corpo.
Possuem ovipositor conspícuo, órgãos auditivos nas pernas anteriores e aparelho
estridulatório formado pelas nervuras das asas anteriores. Os grilos têm hábitos
noturnos, vivendo em buracos no solo ou em frestas. Quanto à sua importância
econômica, podem atacar raízes, folhas e frutos de algodoeiro, arroz, batata, milho,
tomate, e outras plantas. As paquinhas apresentam antenas de comprimento moderado e
finas na extremidade. Os tímpanos estão presentes nas tíbias das pernas anteriores. O
aparelho estridulatório é rudimentar, emitindo ruídos pouco perceptíveis. Dispõem-se de
pernas dianteiras modificadas para a escavação, relacionado ao seu hábito de vida
subterrâneo. As esperanças possuem antenas longas e maiores que o corpo, de aspectos
filiformes e multi-segmentados. Os órgãos timpânicos estão situados nas tíbias
anteriores, perto da articulação do joelho, e o ovipositor é ensiforme(Sperber et
al,2012). A maioria das esperanças tem hábitos noturnos e as que vivem durante o dia
encontram-se no interior de um tubo feito com folhas de árvores que elas mesmas
cortam e enrolam. A sua denominação foi decorrente de sua coloração esverdeada, e
esses animais também são atribuídos a boa sorte. Algumas espécies imitam folhas, tanto
em sua coloração como também nas nervuras e manchas, e outras podem apresentar
asas com colorações avermelhadas, violáceas ou, até mesmo, amareladas.
. Tetrigiidae
.Proscopiidae
.Acrididae
.Gryllotalpidae
.Tettigoniidae
É uma família de insetos altamente diversificada, que ocorre em praticamente
todos os continentes do globo, à exceção da Antártida e outras regiões nos polos; conta
atualmente com 22 subfamílias, 1318 gêneros e cerca de 7886 espécies (Fianco,2020).
Esta família reúne os ortópteros conhecidos como “katydids” ou “long-horned-
grasshoppers” nas Américas, Austrália e Nova Zelândia ou “bush crickets” (algo como
“grilos-selvagens” ou “grilos-de-arbusto”) na Grã Bretanha e Europa. No Brasil, são
popularmente conhecidos como "esperanças" (ou esperañas, na Espanha), pois na
cultura destes países está arraigada a crença de que este inseto simboliza boa sorte
(principalmente quando pousa em uma pessoa) (Marques,205), enquanto que encontrá-
lo morto é considerado um presságio de mau-agouro (Marques, 2005). Os tetigonídeos
são insetos grandes (1-6 cm.), de hábitos predominantemente noturnos e generalistas
(Fianco,2020) (embora existam subfamílias com espécies fitófagas e predadoras) , são
dotados de um corpo alongado e achatado lateralmente, antenas filiformes compostas
por mais de 30 artículos, e um terceiro par de pernas com fêmur avantajado e musculoso
do tipo saltatório, que lembra muito o de outros ortópteros proximamente relacionados a
eles dentro da subordem Ensifera - os grilos (Gryllidae) .
Morfologia
Os insetos da ordem Orthoptera possuem aspectos morfológicos particulares
que proporcionam a produção de um som característico, processo esse conhecido como
estridulação. Além disso, também são conhecidos por disporem de pernas traseiras bem
desenvolvidas e adaptadas para o salto.
O corpo dos insetos em geral é dividido em cabeça, tórax e abdômen, com três
pares de patas articuladas, recoberto por uma epicutícula cerosa impermeável. A cabeça
dos Orthoptera é vertical em relação ao corpo e apresenta um par de antenas geralmente
multi articuladas de tamanho variável, olhos compostos bem desenvolvidos, três
ocelos(Sperber et al,2012), peças bucais mastigadoras fortes dirigidas para baixo (ou
seja, a cabeça é hipognata)(Barnes, 1996). O primeiro segmento do tórax é largo e o
abdômen apresenta 10 segmentos, contendo na placa anal um par de cercos distintos,
curtos e articulados(Sperber et al,2012). Mais detalhes nos próximos tópicos referentes
a morfologia.
Cabeça
Cabeça dos ortópteros é bastante variável quanto à forma, apresenta um
prolongamento entre os olhos compostos, denominado fastígio , estrutura bastante
conhecida e de importância taxonômica, bem como as margens que se unem e que
percorrem o fastígio que são denominadas carenas laterais, principalmente para os
grupos de gafanhotos. Possuem normalmente três ocelos que em alguns grupos podem
ser vestigiais ou ausentes. Olhos compostos são variáveis quanto à forma, podendo ser
bastante globosos ou alongados, próximos ou distantes entre si (espaço interocular). Na
cabeça podem ser encontradas algumas depressões denominadas fovéolas ou sulcos ,
que também possuem importância taxonômica. As antenas podem ser filiformes,
setáceas ou ensiformes. As peças bucais são mastigadoras e dependendo da sua posição
de inserção, classificam-se em opistognata (peças bucais dirigidas para trás) ,prognata
(peças bucais projetadas para frente) e hipognata (peças bucais direcionadas
verticalmente) (Braga et al, 2014).
Torax
Nos ortópteros o protórax é a região torácica mais desenvolvida e muito
variável entre as famílias. A união dos segmentos laterais e dorsais do tórax corresponde
às carenas laterais e na região mediano-dorsal a sua carena mediana dorsal que são
importantes características taxonômicas. Elas podem ser ornamentadas formando
cristas, principalmente em alguns Acridoidea terrestres . Na família Tetrigidae o
pronoto se estende cobrindo completamente o abdômen. As pernas anteriores e
médias (1º e 2º par de pernas) são ambulatoriais Gryllotalpidae e alguns
Tridactyloidea que possuem o 1º par de pernas fossorial) e as posteriores (3º
par) saltatórias , porém nas espécies semiaquáticas as tíbias posteriores se apresentam
alargadas em forma de remo com as bordas providas de densa pilosidade (cerdas
hidrófobas, como observado nos insetos aquáticos), que corresponde a uma
adaptação para nadar e mergulhar. Em Ensifera, as espécies providas de órgão
auditivo, apresentam um tímpano em cada tíbia anterior . O primeiro par de asas é
pergaminácea (tégmina) e o segundo é membranoso . Entretanto existem ortópteros
ápteros, braquípteros e micrópteros, sendo as espécies semiaquáticas comumente
aladas. Tanto nas asas como nas pernas posteriores, em alguns grupos de ortópteros,
são encontradas estruturas que fazem parte do aparelho estridulatório,
responsáveis pela produção de som ou “canto”, que é mais comum em espécies
terrestres, sendo observado entre espécies semiaquáticas apenas em alguns Ensifera
(grilos e esperanças) (Braga et al, 2014).
Abdômen
Abdômen. Séssil e apresenta 11 segmentos ou metâmeros . Em Caelifera, as
espécies que possuem órgão auditivo apresentam um par de tímpanos localizados no 1º
segmento abdominal . No último segmento abdominal encontram-se as genitálias e
seus acessórios . As fêmeas possuem ovipositor variável, sendo bastante visível em
Ensifera que é longo e em forma de faca ou de foice (Tettigonioidea) ou cilíndrico
(Grylloidea) e curto em Caelifera. Na maioria das espécies semiaquáticas de
Acridoidea as valvas do ovipositor são fortemente denteadas o que corresponde a uma
adaptação a oviposição endofítica, observada comumente em gafanhotos da subfamília
Leptysminae. Alguns ortópteros possuem cercos bastante desenvolvidos(Braga et al,
2014).
Ninfas
Os ortópteros são insetos que a p re s e n t a m m e t a m o r f o s e g ra d
u a l e s e u desenvolvimento é indireto por paurometabolia ( ovo , n i n f a e i
m a g o v i ve n d o n o m e s m o ambiente). Os imaturos ou ninfas são
morfologicamente semelhantes aos adultos e a cada processo de muda ou ecdise ,
eles aumentam de tamanho, podendo ou não mudar seu padrão cromático. Nos dois
últimos estádios ninfais dos ortópteros alados, geralmente, desenvolvem-se as
tecas alares que correspondem a asas rudimentares. Os processos de muda definem o
número de estágios de desenvolvimento , que é variável para cada grupo, sendo
considerados em média cinco estádios(Braga et al, 2014).
Tagmose de um ortóptero.
Hábito de vida
Alimentação
A alimentação dos ortópteros é muito diversa, podendo ser altamente
específica ou bastante ampla. Existem exemplos onívoros, predadores, fungívoros ou
herbívoros, que consomem folhagens, raízes, sementes, pólen, néctar. Aqueles que são
predadores podem utilizar as pernas anteriores e médias como pinças para capturar suas
presas.
Cópula de gafanhotos.
A estrutura do tímpano consiste em uma fina membrana cuticular, uma grande
bolsa de ar ligada a esta membrana e sensilas. O conjunto das duas primeiras estruturas
formam um “tambor” que, ao ser atingido pelas ondas sonoras, vibra e estimula as
sensilas. Por outro lado, ainda que o som dos ortópteros seja muito característico do
grupo, existem também espécies ápteras que não são capazes de produzir ou captar
sons, já que os aparelhos estridulatórios e os tímpanos estão ausentes.
Desenvolvimento e Reprodução
Os ortópteros apresentam desenvolvimento hemimetábolo: há fase de ovo, de
ninfa (jovem) e de imago (adulto). As ninfas têm aspectos morfológicos e hábitos de
vida semelhantes ao adulto, porém difere deste pelo seu tamanho relativamente menor,
asas ainda ausentes ou imaturas, órgãos reprodutores não desenvolvidos e menor
quantidade de artículos antenais(Sperber et al,2012).
Ovipositor de um ortóptero.
A reprodução se dá de modo sexuado, embora também existam espécies que
apresentem partenogênese facultativa, que ocorre quando a disponibilidade de machos é
baixa. Existe, antes da cópula, um processo de corte envolvido, relacionado à
estridulação e vibração do corpo e das antenas(Centeno de Oliveira et al, 2013).
Durante a cópula, a genitália masculina – que fica na parte interna, entre as placas
supraanal e subgenital, no abdômen – pode ser colocada para fora para transferência de
gametas de modo indireto, através de um espermatóforo(Sperber et al,2012). O macho
posiciona-se sobre a fêmea e transfere a bolsa de gametas para o gonóporo feminino e,
ao final, a fêmea pode se alimentar da cápsula do espermatóforo(Santos, 1982). O
ovipositor feminino é, em geral, grande, composto por três pares de valvas, das quais a
interior é geralmente reduzida ou ausente e se localiza na parte terminal do abdômen das
fêmeas. A cópula pode durar até dias, com o macho permanecendo sobre a fêmea por
todo esse tempo(Sperber et al,2012). Os ovos são postos em diferentes locais e de
maneiras distintas de acordo com os diferentes grupos, o que se reflete em sua anatomia.
Em Caelifera, as valvas no ovipositor auxiliam no processo de escavação para a postura
de ovos dentro do solo. Já em Ensifera, os ovos são postos no interior das folhas ou em
suas margens, através de um ovipositor longo, podendo causar galhas(Santos, 1982).
Pode também existir cuidado com a prole por parte da fêmea, que protege os ovos, por
exemplo, do macho para que ele não os coma, até que os indivíduos sofram a primeira
muda. Isso ocorre em espécies de grilo-toupeira(Santos, 1982).
Ecologia e Relação com humanos
Inimigos naturais
Entre os inimigos naturais de ortópteros estão seus predadores, principalmente
outros insetos, aranhas, aves, roedores e outros vertebrados, além de parasitas externos,
como ácaros, e internos, como vermes, larvas de insetos e bactérias.(Sperber et al,2012)
Nuvem de gafanhotos.
Pragas
Algumas espécies de gafanhotos podem adquirir hábitos de vida gregários e
migratórios, formando as chamadas “nuvens” de gafanhotos(Santos, 1982). Enquanto
eles migram para um local onde irão se nutrir e procriar, as plantações que estiverem em
suas trajetórias são devoradas rapidamente. Normalmente invadem somente as áreas de
monoculturas e pastagens, principalmente gramíneas, podendo ser, então, considerados
também como graminívoros. Assim, em outras famílias de plantas o prejuízo que os
gafanhotos provocam é menos significativo, Há relatos de “nuvens” invasoras tão
grandes que toldaram a luz do sol(Santos, 1982). Esse comportamento está relacionado
a plasticidade fenotípica dos grupos com este tipo de comportamento. Grandes
densidades populacionais são identificadas por estímulos visuais, olfativos e mecânica
no par de pernas posteriores, induzindo o aumento nos níveis de serotonina no corpo, a
qual está relacionada com a mudança fenotípica e comportamental dos gafanhotos
gregários.
Noticia recente
Surto 'épico' de gafanhotos está devastando EUA
Um surto de gafanhotos que já afeta pelo menos 15 Estados vem provocando
devastação em lavouras e pastagens no Oeste americano, competindo por comida com o
gado e deixando um rastro de milhões de dólares em prejuízos. Esses insetos são nativos
da região e sua população costuma ser controlada. Mas, segundo cientistas, houve uma
explosão neste ano, agravada pela seca e ondas de calor históricas. O Serviço de
Inspeção Sanitária Animal e Vegetal (APHIS, na sigla em inglês), agência ligada ao
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos responsável pelo controle de doenças
e pragas, já tratou mais de 325 mil hectares com inseticidas, em uma campanha de
supressão da população de gafanhotos e dos chamados grilos Mórmons (Anabrus
simplex), que também são comuns na região e vêm causando danos semelhantes neste
ano. De acordo com o diretor de política nacional da APHIS, Bill Wesela, esse
tratamento vai proteger mais de 650 mil hectares, mas ainda há várias outras ações
programadas em diversos Estados, à medida que mais agricultores e pecuaristas pedem
ajuda à agência para controlar o problema. Gafanhotos são comuns na região Oeste dos
EUA, mas, segundo cientistas, houve uma explosão na população desses insetos neste
ano, agravada pela seca e ondas de calor históricas. A última grande campanha de
supressão de gafanhotos na região foi em 2010, quando o surto de gafanhotos foi a
maior dos últimos 35 anos. Na época, mais de 400 mil hectares foram tratados, o
suficiente para proteger 800 mil hectares. A total magnitude do problema neste ano só
ficará clara dentro de alguns meses.
Biocombustível
Os gafanhotos (Acrididae) estão sendo estudados como fonte de enzimas
capazes de metabolizar substâncias lignocelulósicas e produzir, a partir deste processo,
etanol, um biocombustível de importância econômica, com maior eficiência do que
outros insetos. Em biotecnologia, a lignina é um composto de difícil degradação e estas
enzimas aparentam ser efetivas neste processo.
As enzimas em questão são produzidas no trato intestinal por micro-organismos
simbiontes e estão relacionadas à digestão de carboidratos de origem vegetal obtidos na
alimentação.
Como alimento
O consumo de insetos é praticado por 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo,
em especial na Ásia, Oceania e América Latina. Os ortópteros compõem 13% das
espécies de insetos descritas como comestíveis e são ricos em proteínas. Uma barreira
para o acréscimo de insetos na dieta das culturas ocidentais é o estranhamento e aversão
causados por essa prática, entretanto a criação de insetos, em comparação às criações de
animais de corte tradicionais no ocidente, apresenta certas vantagens: emite menos
poluentes, consome menos água, tem conversão da alimentação em proteínas mais
eficiente, podem utilizar lixo orgânico como alimento e ocupam menos espaço,sendo
uma alternativa sustentável à pecuária.
A entomofagia de ortópteros é uma prática muitas vezes associada à costumes
em algumas comunidades como a tailandesa, na qual foi introduzida uma peste agrícola
(Patanga succincta L.) na alimentação para controle da praga e o inseto foi incorporado
como parte da dieta dos locais. Em comunidades judaicas há registro do consumo de
gafanhotos, os únicos insetos considerados apropriados para alimentação de acordo com
as leis judaicas, em países como Espanha, Iémen e Israel ao longo da história.
Referências
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Roca, 1996. 1088 p.
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SANTOS, E.; Os insetos: vida e costumes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1982. (Coleção
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