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Gestão da qualidade de vida no trabalho e a saúde e segurança dos

trabalhadores

Camila Flávia do Carmo


Centro Universitário Católica de Santa Catarina – Joinville
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

Segundo Lima et al. (2017, p. 1), os trabalhadores são homens e mulheres que
exercem atividades para seu sustento e o de sua família no mercado de trabalho de
setores formais e informais da economia. Embora no sistema capitalista ainda seja
possível encontrar diversos casos de exploração de trabalhadores por empregadores
que somente visam lucros, existem normatizações que promovem ações para reduzir
patologias sobre os trabalhadores em virtude de suas atividades e aumentar sua
qualidade de vida no trabalho. É importante entender que, além da ética, a
preocupação com a saúde e segurança do trabalhador é mais vantajosa para ambas
as partes.
A observação de doenças ocupacionais é relatada desde tempos mais remotos,
como citado por Hipócrates (460 a 375 a.C.), quando descreve a intoxicação saturnina
(por chumbo), e por Plínio (23 a 79 d.C.) em que expõe a preocupação com a proteção
no ambiente de trabalho, em situações vivenciadas por escravos que protegiam o
rosto com panos para evitar a inalação de poeiras nocivas (LIMA et al., 2017, p. 1).
Certamente, o período em que as doenças ocupacionais mais se agravaram foi o da
Revolução Industrial, com exaustivas jornadas de trabalho em locais inadequados,
além do agrupamento humano em situações insalubres.
Campanhas de melhoria das condições de trabalho ganharam força após a
Primeira Guerra Mundial, quando o movimento operário adquiriu bases sólidas para
suas reivindicações. A partir daí, organizações de âmbitos internacionais, como a
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial de Saúde
(OMS) passaram a estabelecer objetivos e recomendações para a proteção e a saúde
dos trabalhadores na busca de melhores formas de organizar o trabalho a fim de
minimizar os efeitos negativos do emprego na saúde e bem-estar geral dos
trabalhadores (MORETTI; TREICHEL, 2003, p. 3).
“O conjunto das ações de uma empresa que envolvem a implantação de
melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho” é chamado
de qualidade de vida no trabalho (QVT) (FRANÇA, 1997 apud VASCONCELOS, 2001,
p. 3) e o seu gerenciamento é o desafio da gestão de segurança e saúde ocupacional.
Como é possível observar na Constituição da Organização Mundial de Saúde (1946),
a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste
apenas na ausência de doença ou de enfermidade. O bem-estar do trabalhador é o
que proporciona a motivação e o comprometimento do mesmo em suas atividades,
portanto, a promoção da qualidade de vida no trabalho é essencial em um mercado
cada vez mais competitivo e exigente (ALVES, 2006, p. 3). Desta forma, reconhecer
e analisar os riscos aos quais o trabalhador está exposto está diretamente associado
à QVT e gerenciar a implementação de ações de prevenção para melhorias vem
sendo foco de muitas empresas que já perceberam que um empregado saudável e
que se sinta seguro é mais produtivo e gera menos custo, implicando diretamente em
vantagens competitivas para a empresa (LIMA et al, 2003, p. 6).
Diante dos dados fornecidos pela OIT (2019), em que o número de feridos em
acidentes de trabalho no mundo ultrapassa a 374 milhões por ano e já correspondem
a cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), é imprescindível a necessidade de mais
investimento em sistemas de gestão de segurança e saúde ocupacional. Mas, em
empresas que já implantaram algum tipo de sistema, o desafio da gestão está ligado
à adesão dos próprios trabalhadores nos programas oferecidos pelas empresas,
essencialmente de pequeno porte. Os funcionários nem sempre realizam as
atividades estabelecidas pelo Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
(PCMSO), assim como há baixa adesão aos programas que estimulam o uso de
equipamentos de proteção individual, por exemplo. Entretanto, muitas vezes isso se
deve à falta de capacitação dos trabalhadores, sendo dever da empresa promover e
oferecer treinamentos adequados, pois estudos apontam que o treinamento e
conhecimento dos funcionários influenciam positivamente no cumprimento de
medidas de segurança (LIMA et al, 2003, p. 6).
Considerando o número alarmante de acidentes de trabalho, é imprescindível
que as políticas de gestão de segurança e saúde ocupacional ainda precisam de
investimentos, valorização e implementação em larga escala. Apesar de se observar
uma maior preocupação com a implantação de medidas preventivas e das normas
vigentes, a cultura e mentalidade das empresas ainda é a de considerar a QVT como
um custo em suas planilhas, o que acarreta na negligência de treinamento de seus
funcionários e quaisquer tentativas mínimas de implantação de gestão da saúde e
segurança ocupacional pode não ser eficaz como deveria.
REFERÊNCIAS

ALVES, Everton Fernando. Programas e ações em qualidade de vida no


trabalho. Maringá: Revista de Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade, 2006.

LIMA, Kedma de Magalhães; CANELA, Kezla Glaciene dos Santos; TELES, Roxana
Braga de Andrade; MELO, Danyella Evans Barros; BELFORT, Lucas Rafael
Monteiro; MARTINS, Victor Hugo da Silva. Gestão na saúde ocupacional:
importância da investigação de acidentes e incidentes de trabalho em serviços
de saúde. Petrolina: Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, 2017. Disponível
em: <http://www.rbmt.org.br/details/259/pt-BR/gestao-na-saude-ocupacional--
importancia-da-investigacao-de-acidentes-e-incidentes-de-trabalho-em-servicos-de-
saude>. Acesso em: 28 abr. 2019.

MORETTI, Silvinha; TREICHEL, Adriana. Qualidade de Vida no Trabalho e auto-


realização humana. Blumenau: Revista Leonardo pós-Órgão de Divulgação
Científica e Cultural do ICPG, 2003.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Safety and health at work.


2019. Disponível em: <https://www.ilo.org/global/topics/safety-and-health-at-
work/lang--en/index.htm>. Acesso em: 04 maio 2019.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Constituição da Organização Mundial da


Saúde. Nova Iorque: Conferência Internacional da Saúde, 1946. Disponível em:
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-
Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-
omswho.html>. Acesso em: 04 maio 2019.

VASCONCELOS, Anselmo Ferreira. Qualidade de vida no trabalho: origem,


evolução e perspectivas. São Paulo: Caderno de pesquisas em administração,
2001.

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