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O EMPREGO DO ENSAIO DE PIEZOCONE PARA A

DETERMINAÇÃO DA ESTRATIGRAFIA E DA
CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS PARA OBRAS
EMERGENCIAIS NA RODOVIA BR-356/RJ

Douglas de Andrade Neves

Rio de Janeiro

Janeiro de 2017
O EMPREGO DO ENSAIO DE PIEZOCONE PARA A
DETERMINAÇÃO DA ESTRATIGRAFIA E DA
CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS PARA OBRAS
EMERGENCIAIS NA RODOVIA BR-356/RJ

Douglas de Andrade Neves

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de


Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Engenheiro.

Orientadores: Fernando Artur Brasil Danziger


Graziella Maria Faquim Jannuzzi
Claudio Pereira Pinto

Rio de Janeiro

Janeiro de 2017
O EMPREGO DO ENSAIO DE PIEZOCONE PARA A DETERMINAÇÃO DA
ESTRATIGRAFIA E DA CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS PARA OBRAS
EMERGENCIAIS NA RODOVIA BR-356/RJ

Douglas de Andrade Neves

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE


ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A
OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

______________________________________

Prof. Fernando Artur Brasil Danziger, D.Sc.

______________________________________

Prof. Graziella Maria Faquim Jannuzzi, D.Sc.

______________________________________

Prof. Claudio Pereira Pinto, M.Sc.

______________________________________

Prof. Jose Bernardino Borges, M.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

JANEIRO DE 2017
Neves, Douglas de Andrade

O emprego do ensaio de piezocone para a determinação da


estratigrafia e da classificação dos solos para obras emergenciais
na rodovia BR-356/RJ/ Douglas de Andrade Neves - Rio de Janeiro:
UFRJ / Escola Politécnica, 2017.

VII, 88 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Fernando Artur Brasil Danziger, Graziella Maria


Faquim Jannuzzi e Claudio Pereira Pinto
Projeto de Graduação – UFRJ / Escola Politécnica / Curso
de Engenharia Civil, 2017.

Referências Bibliográficas: páginas p. 89-92

1. Ensaio de Piezocone. 2. Tipo de comportamento do solo. 3.


Sondagem à percussão. 4. BR 356/RJ. I. Danziger, Fernando Artur
Brasil; Jannuzzi, G. M. Faquim ; Pinto, Claudio Pereira II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de
Engenharia Civil. III. O emprego do ensaio de piezocone para a
determinação da estratigrafia e da classificação dos solos para
obras emergenciais na rodovia BR-356/RJ.

III
DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Obadias Gomes Neves e Lucinea


Mendes de Andrade Neves pelo amor incondicional.

IV
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, meu salvador, o qual tem me sustentado nos


dias difíceis e bons, que fortalece a minha alma, me traz paz e amor e ilumina o meu
caminho para que não tropece com os meus pés em pedra.

Aos meus pais e irmã pelas incontáveis demonstrações de imenso amor, pelos
momentos de ensino, exemplos de vida, por me guiar e apoiar ao longo de toda a minha
vida e, principalmente, ao longo do curso de Engenharia Civil.

Aos meus avós maternos e paternos pelo amor, cuidado e conselhos de vida.

A Barbara Leoncio de Sousa Silva pelo amor, carinho, compreensão e alegria


transmitidos a cada dia que estamos juntos.

Aos meus familiares e amigos pelas palavras de motivação, orações, por sempre
acreditarem no meu sucesso, me motivando a continuar nos momentos difíceis e sendo
compreensivas na minha ausência.

Aos professores que fizeram despertar em mim a paixão pela engenharia civil e
contribuíram para minha formação acadêmica e moral. Em especial, agradeço ao
professor Fernando Danziger que, mesmo sendo orientador deste trabalho, não se
prendeu somente a esse papel, outra hora tornou-se um amigo e conselheiro para todos
os momentos.

À Graziella Maria Faquim Jannuzzi por sua paciência, dedicação e amável


tratamento durante todo o percurso de elaboração desse trabalho final de curso.

Ao Eng. Claudio Pereira Pinto por transmitir de forma amável e enriquecedora a


arte de ser um engenheiro projetista geotécnico.

A todos os amigos do curso de Engenharia Civil que compartilharam comigo os


momentos difíceis e os momentos de alegria e que me ajudaram muito a chegar até
aqui.

À equipe da PACS Engenharia, por toda a ajuda, confiança, paciência e


companheirismo.

Ao professor Jose Bernardino Borges pela participação como membro da banca


examinadora deste trabalho.

À CTESA construções Ltda por permitir a divulgação desse trabalho e contribuir


no desenvolvimento do mesmo.

V
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte
dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheiro Civil.

O EMPREGO DO ENSAIO DE PIEZOCONE PARA A DETERMINCAÇÃO DA


ESTRATIGRAFIA E DA CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS PARA OBRAS
EMERGENCIAIS NA RODOVIA BR-356/RJ

Douglas de Andrade Neves

Janeiro/2017

Orientadores: Fernando Artur Brasil Danziger, Graziella Maria Faquim Jannuzzi e


Claudio Pereira Pinto.

Curso: Engenharia Civil

No amplo campo de atuação da geotecnia, a determinação da estratigrafia e a


identificação das diversas camadas que compõem o subsolo são atividades
preliminares fundamentais para se prever o comportamento do material diante de uma
dada solicitação. O ensaio de piezocone tem desempenhado um papel de destaque em
ambas as aplicações. A literatura apresenta várias propostas de classificação do solo
com base nos resultados do ensaio de piezocone, sendo as mais empregadas as
sugeridas por Robertson et al. (1986), bem como as atualizações correspondentes. O
presente trabalho analisa os dados de quatro ensaios de piezocone realizados em
quatro trechos representativos de regiões com problemas geotécnicos verificados na
rodovia BR 356/RJ. A definição da estratigrafia e a classificação dos solos obtidas pelos
ensaios de piezocone é comparada com os resultados de sondagens à percussão
adjacentes. As vantagens dos resultados dos ensaios de piezocone, em caráter
complementar aos resultados das sondagens, são destacadas.

Palavras-chave: Ensaio de Piezocone, Tipo de comportamento do solo, Sondagem à


percussão, BR 356/RJ.

VI
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the
requeriments for the degree of Engineer.

THE USE OF PIEZOCONE TEST FOR THE DETERMINATION OF STRATIGRAPHY


AND IDENTIFICATION OF SOIL CLASSIFICATION TO EMERGENCY WORKS IN
BR-356/RJ HIGHWAY

Douglas de Andrade Neves

January/2017

Advisor: Fernando Artur Brasil Danziger, Graziella Maria Faquim Jannuzzi e Claudio
Pereira Pinto.

Course: Civil Engineering

The determination of stratigraphy and identification of soil type are essential initial
activities in the prediction of soil behavior when external loads are applied in different
ways. The piezocone test has been considered a very powerful tool for both purposes.
A number of methods have been presented for soil classification from piezocone testing,
and the suggestion by Robertson et al. (1986), together with some update, are the most
used. The present work analyses four piezocone tests performed in four representative
regions of geotechnical problems along BR356/RJ highway. The stratigraphy and soil
classification obtained from the piezocone tests has been compared with the data
obtained from adjacent SPT soundings. The advantages of piezocone testing providing
additional information with respect to the SPT soundings have been demonstrated.

Key words: Piezocone Test, Soil Behaviour Type, SPT, BR -356/RJ

VII
SUMÁRIO
1. Introdução --------------------------------------------------------------------------------------- 3

1.1. Generalidades ---------------------------------------------------------------------------------- 3

1.2. Objetivos ----------------------------------------------------------------------------------------- 4

1.3. Motivação do trabalho------------------------------------------------------------------------ 4

1.4. Organização do Trabalho ------------------------------------------------------------------- 4

2. Revisão Bibliográfica ------------------------------------------------------------------------- 5

2.1. Breve histórico do ensaio de piezocone ------------------------------------------------ 5

2.2. Interpretação do ensaio---------------------------------------------------------------------- 8

2.3. Estratigrafia e classificação do solo através do ensaio CPTU -------------------- 8

3. Área estudada --------------------------------------------------------------------------------- 17

3.1. Mapa de localização ------------------------------------------------------------------------- 17

3.2. Localização dos Pontos de Intervenção e dos Ensaios de CPTU -------------- 18

3.3. Descrição dos problemas e histórico de ocorrências na região ----------------- 21

3.4. Características dos pontos estudados e dos respectivos ensaios. ------------- 24

3.4.1. Ponto 2 ----------------------------------------------------------------------------------- 24

3.4.2. Ponto 3 ----------------------------------------------------------------------------------- 28

3.4.3. Ponto 5D --------------------------------------------------------------------------------- 32

3.4.4. Ponto 8 ----------------------------------------------------------------------------------- 35

4. Apresentação dos resultados dos ensaios de piezocone ------------------------- 38

4.1. Introdução -------------------------------------------------------------------------------------- 38

4.2. Equipamento utilizado no ensaio--------------------------------------------------------- 39

4.2.1. Máquina de cravação ----------------------------------------------------------------- 39

4.2.2. Hastes de Cravação ------------------------------------------------------------------ 40

4.2.3. Piezocone -------------------------------------------------------------------------------- 40

4.2.4. Sistema de aquisição de dados --------------------------------------------------- 41

4.3. Apresentação dos resultados ------------------------------------------------------------- 41

1
5. Análise dos resultados ---------------------------------------------------------------------- 46

5.1. Metodologia para análise dos resultados ---------------------------------------------- 46

5.2. Identificação preliminar das camadas -------------------------------------------------- 47

5.3. Comparação das respostas dos Ensaios de Piezocone e da sondagem à


percussão--------------------------------------------------------------------------------------- 48

5.4. Tratamento dos dados brutos ------------------------------------------------------------- 58

5.5. A utilização do programa ------------------------------------------------------------------- 59

5.6. Análise da Proposta de Robertson et al (1986) modificada por Robertson


(2010). ------------------------------------------------------------------------------------------- 62

5.7. Análise do comportamento do solo de acordo com a proposta de Robertson


(1990) -------------------------------------------------------------------------------------------- 76

6. Considerações adicionais, conclusões e sugestões para pesquisas futuras 84

6.1. Considerações adicionais e conclusões ----------------------------------------------- 84

6.2. Sugestões para pesquisas futuras ------------------------------------------------------ 86

7. Referências Bibliográficas ----------------------------------------------------------------- 89

8. Anexo -------------------------------------------------------------------------------------------- 94

8.1. Boletins de Sondagem do Ponto 2 ------------------------------------------------------ 94

8.2. Boletins de Sondagem do Ponto 3 ---------------------------------------------------- 108

8.3. Boletins de Sondagem do Ponto 5D -------------------------------------------------- 118

8.4. Boletins de Sondagem do Ponto 8 ---------------------------------------------------- 130

2
1. Introdução

1.1. Generalidades
A necessidade de ocupação de áreas com a presença de espessos depósitos de solos
moles é cada vez mais comum nas obras de infraestrutura em todo o país. Depósitos
desta natureza são comumente encontrados ao longo de toda a costa brasileira, além
de muitas outras regiões. Os solos considerados moles são aqueles conhecidos pelos
suas características de baixa resistência e elevada compressibilidade.

A determinação do perfil estratigráfico do terreno é um procedimento fundamental para


a caracterização geotécnica dos diversos materiais que o compõem. Tal determinação
envolve a demarcação dos limites verticais e horizontais das camadas de solo,
incluindo-se a localização de lentes (camadas de pequena espessura), transições e
outras características. A partir do perfil estratigráfico, os ensaios de campo e de
laboratório – para a obtenção de propriedades específicas das camadas de interesse –
podem ser adequadamente programados.

O ensaio de piezocone (CPTU) em suas origens tinha dois objetivos (Danziger, 1990):
o primeiro, de estabelecer um método de ensaio rápido e barato para a obtenção de
dados sobre a consistência de solos argilosos, para uso em projetos de estradas
(Barentsen, 1936); o segundo objetivava o estabelecimento de um ensaio para substituir
os métodos existentes de estimativa do comprimento de estacas (Laboratory of Soil
Mechanics, Delft, 1936). A classificação e estratigrafia dos solos incorporou-se aos dois
primeiros, a partir sobretudo do trabalho clássico de Begemann (1965).

No que diz respeito à determinação da estratigrafia, o piezocone é considerado o ensaio


mais poderoso para esta finalidade. De fato, Smits (1982) menciona: “em muito pouco
tempo o piezocone passou a ser reconhecido como provavelmente o mais poderoso
instrumento para detectar a detalhada estratificação do solo”.

Quanto à classificação, a despeito de várias propostas existentes, a mais empregada é


a de Robertson et al. (1986), com as correspondentes atualizações (Robertson, 1990,
2010, 2012).

Rupturas em taludes de aterro na rodovia BR-356/RJ, trecho Divisa MG/RJ – São João
da Barra suscitaram a necessidade de investigações geotécnicas detalhadas. Nesse
contexto, foram realizados ensaios de piezocone pela equipe da COPPE/UFRJ.

3
1.2. Objetivos
O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar a estratigrafia e
a classificação dos solos de quatro locais onde os ensaios de piezocone foram
realizados ao longo da rodovia BR-356/RJ, trecho Divisa MG/RJ – São João da Barra.
A análise foi enriquecida pela existência de sondagens à percussão adjacentes aos
ensaios de piezocone.

1.3. Motivação do trabalho


Este trabalho teve sua motivação associada à participação do autor no Projeto Executivo
de Engenharia de Obras Emergenciais de Recuperação de Pavimento em segmentos
alternados localizados na rodovia BR-356/RJ. O autor do presente trabalho teve a
oportunidade de participar do projeto das obras de recuperação, ainda como estagiário,
da empresa PACS – Planejamento Assessoria, Consultoria e Sistemas S.A.. A obra de
recuperação de diversos trechos afetados na rodovia foi executada em 2016 pela
empresa CTESA – Construções Ltda.

1.4. Organização do Trabalho


Segue-se a esta Introdução o capítulo 2, que se refere à Revisão Bibliográfica, no qual
é realizado um breve histórico do ensaio de piezocone e das propostas de classificação
dos solos, com ênfase no método de Robertson et al. (1986) e nas atualizações
correspondentes. O capítulo 3 descreve a região aonde foram realizados os ensaios,
bem como os problemas ocorridos em cada local, além dos equipamentos utilizados. O
capítulo 4 apresenta os resultados dos ensaios realizados, os quais são analizados no
capítulo 5. O capítulo 6 refere-se às considerações adicionais, conclusões e sugestões
para pesquisas futuras. Em seguida encontram-se listadas as referências bibliográficas.

4
2. Revisão Bibliográfica

2.1. Breve histórico do ensaio de piezocone


O presente item foi baseado fundamentalmente em Danziger (1990).

Originalmente desenvolvido na Holanda na década de 1930 para investigar solos moles


(e também estratos arenosos aonde se apoiariam estacas), o ensaio de cone (CPT) se
difundiu no mundo todo graças à qualidade de suas informações.

Em 1932, foi realizado o primeiro ensaio de cone. Este ensaio, também chamado de
ensaio de penetração estática (ou quase-estática), ensaio de cone mecânico ou ensaio
de cone holandês1, foi desenvolvido na década de 30, no Laboratório de Mecânica dos
Solos de Delft, na Holanda.

Dois equipamentos foram inicialmente produzidos: o primeiro com a finalidade de se


estabelecer um método de ensaio rápido e barato para a obtenção de dados sobre a
consistência de solos argilosos, para uso em projetos de estradas (Barentsen, 1936); o
segundo objetivava o estabelecimento de um ensaio para substituir os métodos
existentes de estimativa do comprimento de estacas (Laboratory of Soil Mechanics,
Delft, 1936).

Vermeiden (1948) e Plantema (1948) aprimoraram o equipamento original adicionando


uma parte cônica acima do cone a fim de prevenir a entrada de solo entre as hastes e
o tubo de revestimento.

Begemann (1965) foi o primeiro autor a propor que a relação de atrito (f s/qc, sendo f s,
atrito lateral, e qc, resistência de ponta) fosse um parâmetro para classificação das
camadas de solo, o que será visto adiante.

O primeiro cone elétrico desenvolvido no mundo foi o alemão Maihak, provido com um
sistema de corda vibrante (De Ruiter, 1971), entretanto, desde 1950 vários cones
elétricos vinham sendo usados na Holanda, relacionados principalmente a
investigações especiais para pesquisas. Segundo reportado por Lunne et al. (1997),
Broms e Flodin (1988) afirmam que os primeiros equipamentos foram desenvolvidos
provavelmente na Alemanha durante a II Guerra Mundial.

1
Ensaio de cone holandês, expressão comumente empregada no Brasil.
5
No Brasil, os primeiros ensaios de cone elétrico foram realizados em condições offshore,
com a finalidade de obtenção de dados para projetos de plataformas de
exploração/produção de petróleo (Bogossian, 1993, Mello, 1993). Este quadro
apresentou mudanças apenas na década de 1990, com o crescente interesse comercial
pelo ensaio de cone, impulsionado por pesquisas desenvolvidas em universidades
brasileiras.

Um novo cenário se desenvolveu quando as sondas piezométricas de Wissa et al.


(1975, Estados Unidos) e de Torstensson (1975, Suécia), simultaneamente
desenvolvidas, foram construídas com ponta cônica, tendo em sua extremidade um
elemento poroso cilíndrico conectado a um transdutor elétrico de pressão.

Tornou-se possível então a medição de poro-pressão durante a penetração. No final


dos anos 1970 e início dos anos 1980, incorporou-se o transdutor de poro-pressão
(associado a um elemento poroso) no cone elétrico (e.g. Baligh et al., 1981, Campanella
e Robertson, 1981, De Ruiter, 1981, Jones et al., 1981, Muromachi, 1981, Tumay et al.,
1981). Este último tipo de cone é que passou a ser designado como piezocone, sendo
a sigla do ensaio CPTU ou PCPT.

Danziger e Schnaid (2000) ressaltam a participação de Rocha Filho nos primórdios do


desenvolvimento do piezocone, através da elaboração de sua tese de doutoramento no
Imperial College (Rocha Filho, 1979).

Recentemente, com o desenvolvimento ocorrido na eletrônica, os cones fabricados são


capazes de medir uma série de grandezas, além das usuais resistência de ponta, atrito
lateral e poro-pressão. Como exemplo, podem-se citar as medidas de inclinação do
cone e a variação da temperatura durante a cravação (De Ruiter, 1981, Battaglio et al.,
1986, Campanella e Robertson, 1988). Além disso, existem equipamentos que
incorporam outros sensores, como por exemplo o cone sísmico, os cones com medidas
de resistividade/condutividade e permissividade elétrica, pH e detectores de íons
(Robertson et al., 1995).

O ensaio de piezocone é também largamente utilizado para estimar propriedades


mecânicas dos solos através de várias correlações empíricas e semi-empíricas. Em
argilas, medidas de resistência de ponta e poro-pressão durante a penetração são
correlacionadas com a resistência ao cisalhamento não drenado (a partir de agora
chamada simplesmente de resistência não drenada) e história de tensões, enquanto

6
dados de dissipação de poro-pressões são usados para estimar propriedades de
adensamento e permeabilidade.

Uma comparação entre o potencial do ensaio de piezocone (CPTU) em relação a


diversos outros ensaios de campo foi feita por Lunne et al. (1997) e é mostrada na
Tabela 2-1.

Tabela 2-1 – Potencialidade do CPTU para investigações geotécnicas (Lunne et al.,1997).

7
2.2. Interpretação do ensaio
O piezocone é de grande utilidade para definir as propriedades geotécnicas de um
depósito de solo. Bruzzi e Battaglio (1988) citam, entre outras:

1- pelo exame das três medidas efetuadas é possível determinar-se a estratificação do


solo e identificar a natureza do solo penetrado;

2- medindo-se a velocidade de dissipação do excesso de poro-pressão é possível obter-


se informações úteis da variação das características de permeabilidade com a
profundidade;

3- a posição do nível d'água pode ser obtida em diferentes profundidades se a poro-


pressão de equilíbrio puder ser alcançada durante ensaios de dissipação.

Ainda segundo os autores, em solos argilosos saturados onde a penetração do


instrumento pode ser considerada não drenada, o CPTU é potencialmente muito útil.
Neste caso, a interpretação dos resultados permite:

1- a avaliação qualitativa da variação da relação de pré-adensamento (OCR) com a


profundidade;

2- a avaliação das propriedades de adensamento e permeabilidade do perfil do solo


onde ensaios de dissipação são executados durante o CPTU;

3- avaliação da resistência não drenada.

Quanto à classificação do solo, são várias as propostas existentes na literatura


internacional. Foge do escopo deste trabalho detalhar cada uma, portanto, no próximo
item são abordadas algumas das várias propostas para a classificação do solo através
do ensaio de CPTU, com ênfase maior nas propostas utilizadas na presente pesquisa.
O item a seguir foi baseado no trabalho de Nejaim (2015), que analisou detalhadamente
os principais métodos de classificação dos solos através do ensaio de piezocone.

2.3. Estratigrafia e classificação do solo através do ensaio CPTU


O ensaio de piezocone constitui uma das ferramentas mais eficientes na determinação
da estratigrafia do subsolo e, por esta razão, tornou-se uma técnica consagrada e
reconhecida internacionalmente, segundo Danziger e Schnaid (2000). Segundo Smith
(1982), em muito pouco tempo o piezocone passou a ser reconhecido como
provavelmente o mais poderoso instrumento para detectar a detalhada estratificação do
solo. O monitoramento contínuo da poro-pressão durante a cravação do cone, as
8
medidas de resistência de ponta e do atrito lateral são ferramentas que permitem
identificar e classificar camadas de subsolo de quaisquer consistências e
compacidades, e as espessuras correspondentes.

Segundo Danziger (1990), Begemann (1965) foi o primeiro autor a propor um ábaco
para a classificação dos solos com base na resistência de ponta (qc) e no atrito lateral
(fs), que, além da classificação, fornece a percentagem de material menor do que 16μm.
Este ábaco (Figura 2-1) deve ser empregado para ensaio de cone mecânico, já que
existem significativas diferenças entre valores de atrito lateral medidos através do cone
elétrico e do cone mecânico.

Figura 2-1 – Ábaco de Begemann (1965), conforme Danziger (1990)

Schmertmann (1978) apresentou uma proposta de classificação de solos baseada em


dados obtidos a partir de ensaios de cone mecânico na Florida, Estados Unidos, com a
incorporação dos resultados de Begemann (1965), obtidos na Holanda, e a indicação
de zonas para o mesmo tipo de solo.

Um dos mais expressivos trabalhos para a classificação do solo usando dados de


ensaios de cone elétrico foi proposto por Douglas e Olsen (1981). Esse trabalho,
baseado em um grande banco de dados proveniente de ensaios no oeste dos Estados
Unidos, confirmou observações dos primeiros ensaios executados na Holanda, que
indicaram que solos arenosos tendem a apresentar altos valores de resistência de ponta
e baixos valores de relação de atrito, enquanto que argilas possuem tendência contrária
a essa. Aqueles autores publicaram um ábaco (Figura 2-2) relacionando resistência de
ponta, razão de atrito e o Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS), além
9
de indicar tendências de índice de liquidez e coeficiente de empuxo no repouso,
sensibilidade do solo e areias meta estáveis.

Figura 2-2 – Proposta de Douglas e Olsen (1981), conforme Danziger (1990)


Com o aparecimento da sonda piezométrica, e posteriormente do piezocone, surgiram
várias propostas de classificação dos solos, nas quais a poro-pressão gerada substituía
o atrito lateral (Danziger, 1990).

Segundo Lunne et al. (1986) e Gillespie (1990), o parâmetro atrito lateral medido é
geralmente menos acurado e confiável do que a resistência de ponta do cone e que
diferentes modelos de cones podem produzir diferentes valores de atrito lateral. Para
superar esses problemas associados com a medição do atrito lateral, muitos gráficos
foram produzidos baseados na resistência de ponta e na poro-pressão.

O gráfico proposto por Senneset e Janbu (1984) para classificação dos solos (Figura
2-3) é baseado na resistência de ponta corrigida 𝑞𝑡 e no parâmetro de poro-pressão 𝐵𝑞 ,
sendo 𝑞𝑡 e 𝐵𝑞 dados por:

𝑞𝑡 = 𝑞𝑐 + 𝑢2 ∙ (1 − 𝑎) (II.1)
∆u 𝑢 −𝑢
𝐵𝑞 = q −σ = 𝑞 2−σ 0 (II.2)
t v0 𝑡 v0

10
Sendo:

𝑢2 = poro-pressão medida na base do cone;


𝐴𝑁
a= 𝐴𝑡
= relação de áreas (ver Figura 2-4);

𝑞𝑐 = resistência de ponta medida;

u0 = poro-pressão de equilíbrio;

v0 = tensão vertical total.

Figura 2-3 - Proposta de classificação dos solos (Senneset e Janbu, 1984), conforme
Danziger (1990)

Figura 2-4 – Poro-pressão influenciando a medida da resistência de ponta (Danziger e


Schnaid, 2000)

11
Senneset et al. (1989) expandiram a proposta de Sennset e Janbu (1984) e publicaram
um novo ábaco (Figura 2-5), incluindo dados com valores negativos de excesso de poro-
pressão e com resistência de ponta corrigida qt de até 16 MPa.

Figura 2-5 – Àbaco de Senneset et al. (1989), adaptado de Fellenius e Eslami (2010) por
Nejaim (2015)

A experiência tem mostrado que apesar do atrito lateral 𝑓𝑠 não ser tão acurado como 𝑞𝑡 ,
e 𝑢, uma classificação do solo mais confiável poder ser feita usando os três parâmetros
obtidos do ensaio, são eles: 𝑞𝑡 , 𝑓𝑠 e 𝑢. Robertson et al. (1986) foi o primeiro a propor
uma classificação com esses parâmetros. Segundo Robertson (2009), a proposta de
Robertson et al. (1986) tem se tornado de largo emprego. O gráfico original de
𝑓𝑠
Robertson et al. (1986) é baseado em 𝑞𝑡 (em escala log) e FR (= ), como pode ser
𝑞𝑡

visto na Figura 2-6.

Os autores mencionam que, embora o gráfico seja em termos de 𝑞𝑡 , pode-se utilizar 𝑞𝑐 ,


atentando-se ao fato de que a diferença entre estas grandezas se torna mais
significativa em solos moles, uma vez que durante a penetração há geração de um valor
elevado de poro-pressão (u) e os valores de 𝑞𝑐 são da mesma ordem de grandeza de
u.

12
Figura 2-6 – Ábaco de classificação proposto por Robertson et al. (1986), adaptado de
Danziger (1990) por Nejaim (2015)

Wroth (1984, 1988) sugeriu que os resultados do ensaio CPT deveriam ser
normalizados seguindo os seguintes parâmetros:
(𝑞𝑡 −𝜎𝑣0)
𝑄𝑡 = ′
𝜎𝑣0
(II.4)

𝑓𝑠
𝐹𝑟 = ∙ 100% (II.5)
𝑞𝑡 −𝜎𝑣0

∆u 𝑢 −𝑢
𝐵𝑞 = q −σ = 𝑞 2−σ 0 (II.6)
t v0 𝑡 v0

Sendo:

𝑄𝑡 = resistência de ponta normalizada

𝐹𝑟 = razão de atrito normalizada

𝐵𝑞 = parâmetro de poro-pressão

13
Robertson (1990), baseado nesses parâmetros normalizados e utilizando-se de um
extenso banco de dados de ensaios CPTU disponíveis em meios publicados e não
publicados, propôs novos ábacos modificados de classificação do comportamento do
tipo de solo conforme pode ser visto na Figura 2-7.

Figura 2-7 – Proposta de classificação dos solos, segundo Robertson (1990), adaptado
de Bezerra (1996)

Esses dois ábacos apresentados na Figura 2-7 representam um sistema tridimensional


de classificação que incorpora todos os três parâmetros derivados do ensaio CPTU.
Pode-se observar que a nova proposta de Robertson (1990) reduziu de 12 para 9 as
zonas representativas de tipos de comportamento do solo.

Foi incluído nos gráficos da Figura 2-7, além do conceito de normalização de Wroth
(1984,1988), uma zona que representa aproximadamente o comportamento

14
normalmente adensado. Esta nova proposta também aborda outras indicações do
comportamento dos solos.

De um modo geral, os solos que caem nas zonas 6 e 7 representam, aproximadamente,


penetração na condição drenada, enquanto que os solos que caem nas zonas 1, 2, 3, e
4 representam penetração na condição não drenada, e solos que caem nas zonas 5, 8
e 9 representam a condição parcialmente drenada durante a penetração.

Jefferies e Davies (1991) apontam a limitação do gráfico 𝑞𝑐 𝑥 𝐵𝑞 em termos de poro-


pressão negativa, principalmente em investigações offshore. Assim, Robertson (1991)
propõe uma modificação de maneira a incorporar valores de 𝐵𝑞 mais negativos. Nesse
gráfico também é incluída a zona 2 para solos orgânicos e turfas, que não era
apresentada no gráfico anterior.

Figura 2-8 – Proposta de modificação do ábaco de tipo de comportamento do solo


(Robertson, 1991), adaptado de Bezerra (1996) por Nejaim, 2015

Robertson (1990) faz os seguintes comentários sobre a utilização dos ábacos propostos
para a classificação de solos:

15
 os ábacos propostos devem ser utilizados como guias para definir o tipo de
comportamento do solo;
 ocasionalmente, o solo poderá ser classificado em diferentes zonas sobre
cada ábaco; nesses casos a velocidade e a maneira como a poro-pressão se
dissipa durante uma pausa na cravação pode ajudar significativamente na
classificação.

Segundo Robertson (2009) e Robertson (1990), apesar de sugerir dois ábacos com
base em 𝑄𝑡 − 𝐹𝑟 e 𝑄𝑡 − 𝐵𝑞 para a classificação do comportamento do solo, o ábaco mais
confiável é o 𝑄𝑡 − 𝐹𝑟 .

Uma vantagem em se utilizar o método de Robertson et al. (1986) diz respeito à


avaliação do comportamento do solo em tempo real durante a execução do ensaio.
Embora os gráficos normalizados sejam considerados mais confiáveis por utilizarem os
parâmetros normalizados, sua utilização só ocorre após a realização do ensaio, pois
necessitam de dados como o peso específico do solo e o nível d’água, que muitas vezes
só são conhecidos após a realização do ensaio.

16
3. Área estudada

As citações e referencias deste capitulo estão conforme o Relatório de Projeto de Obras


Emergenciais na BR-356/RJ, elaborado pela CTESA (2016).

3.1. Mapa de localização


A área de estudo, foco do presente trabalho, está localizada na região norte do estado
do Rio de Janeiro, conforme ilustra a Figura 3-1. Pode-se verificar nesta figura os pontos
de intervenção, nos quais as obras emergenciais foram realizadas, após a ocorrência
dos problemas descritos no item 3.2.

Figura 3-1 - Mapa do Estado do Rio de Janeiro com foco na região norte (CTESA, 2016)

17
3.2. Localização dos Pontos de Intervenção e dos Ensaios de
CPTU

Os ensaios de piezocone (CPTU) foram realizados em locais previamente escolhidos,


em função dos eventos geotécnicos ocorridos. O item 3.3 faz uma menção detalhada
dessas ocorrências. Os ensaios de piezocone foram realizados com o intuito de
caracterizar os depósitos de argila muito mole que nortearam os problemas geotécnicos
na rodovia BR-356/RJ.

No trecho da BR-356/RJ em estudo foram identificados 20 (vinte) segmentos,


denominados como pontos de intervenção, com problemas de ruptura e danos na
estrutura do pavimento. Dentre esses 20 pontos, foram selecionados 4 (quatro),
considerados representativos do conjunto, para a realização de ensaios de piezocone.

Nas quatro verticais de ensaios de CPTU também foram realizados ensaios de


dissipação, cuja interpretação não faz parte do escopo deste trabalho, embora tenham
sido utilizados na identificação do nível de água (NA), (Danziger et al., 2016).

A Tabela 3.1 relaciona os pontos que foram definidos para a realização dos ensaios de
CPTU, a sua localização na rodovia (km), o município, a posição e a estaca.

Tabela 3-1 – Quadro de resumo dos pontos levantados


Ponto km Município Posição Estaca
2 99,2 Cardoso Moreira Lado direito, a 11 m do acostamento 4967 + 6,6
3 102,4 Cardoso Moreira Lado direito, pé do aterro 5111
5D 117,1 Cardoso Moreira Lado direito, pé do aterro 5861
8 135,0 Campos dos Goytacazes Lado direito, 19 m do acostamento 6753

As Figuras 3-2, 3-3, 3-4 e 3-5 ilustram a localização dos pontos de intervenção.

18
Figura 3-2 - Localização do Ponto 2, no km 99,2 (CTESA, 2016)

Figura 3-3 - Localização do Ponto 3, no km 102,2 (CTESA, 2016)

19
Figura 3-4 - Localização dos Pontos 5B, 5C, 5D, 6 e 6A, km 117, 1 ao km 117,7 (CTESA, 2016)

Figura 3-5 - Localização dos Pontos 8 e 9, km 135,0 e km 136,2 (CTESA, 2016)

20
3.3. Descrição dos problemas e histórico de ocorrências na
região

Em dezembro de 2008 e janeiro de 2012 ocorreram cheias nos rios Muriaé e Paraíba
do Sul, afetando regiões dos Municípios de São João da Barra, Campos, Cardoso
Moreira, Italva e Itaperuna. Na época das cheias, a rodovia BR-356 foi interditada em
diversos segmentos, que ficaram submersos. A situação foi agravada na região de Três
Vendas, com o rompimento do Dique Boianga, o que contribuiu para o incremento de
volume de água que galgou a rodovia e inundou aquela comunidade (CTESA, 2016).

A elevação excepcional do nível de água desses rios abalou a estrutura do pavimento


que havia sido restaurado há alguns anos, bem como a própria estrutura da rodovia.
Nos anos de 2013 a 2015 ocorreu o processo inverso, com rebaixamento do nível dos
rios e do nível d’água do terreno para cotas muito inferiores às ocorridas nos últimos
trinta anos. O relatório da CTESA (2016) salienta que, associado a estes problemas
climáticos, houve um aumento do tráfego de caminhões bitrem, cuja carga excede em
até 60% o permitido por eixo (conforme pesagem efetuada no trecho entre Campos e
Atafona). Segundo o autor, este fato pode ter contribuído para a aceleração da
deformação da pista.

Os problemas observados na pista de rolamento da rodovia, a partir do 1º trimestre de


2015, ocorreram em segmentos de aterro, assentes sobre solo sedimentar da bacia do
rio Paraíba do Sul. De modo geral, os problemas estão relacionados à estabilidade dos
aterros. Há pontos, todavia, em que problemas do pavimento estão evidenciados,
agravando o estado geral da superfície de rolamento.

Dentre os problemas verificados, destacam-se:

 trincas longitudinais com abertura de até 5 cm e profundidades atingindo


80 cm;
 trincas ainda milimétricas;
 desníveis na pista, que atingem valores entre 10 e 20 cm, sugerindo
escorregamentos profundos.

Os aterros, segundo CTESA (2016), foram construídos sobre solos sedimentares,


constituídos de camadas com matrizes arenosa e argilosa, cuja resistência ao
cisalhamento é variada. Na quase totalidade dos casos, as sondagens à percussão
realizadas identificaram a presença de camadas argilosas muito moles a moles,
21
frequentemente, com Nspt ≤ 2 golpes, e espessura variável de 5 a 15 m. Na execução
dos aterros, com altura variável entre 2 e 5 m, não foram empregadas, aparentemente,
técnicas especiais para a solução de problemas de estabilidade e de recalques por
adensamento, típicos de aterros sobre solos moles.

A rodovia foi construída nos anos 1950, portanto, há cerca de 60 anos. Esse período
pode ser considerado suficiente para que ocorram os recalques por adensamento
primário e secundário, decorrentes da sobrecarga dos aterros executados naquela
época. Em diversos segmentos, são observadas irregularidades no greide da rodovia,
evidenciando os recalques diferenciais que naturalmente ocorrem, devido às variações
nas alturas dos aterros e nas espessuras das camadas de solo muito compressível.

Em período mais recente, a rodovia passou por obras de melhorias, com restauração
do pavimento e implantação de acostamento (largura de 2,0 m), para o que foram
executados movimentos de terra para aumentar a largura da plataforma.

Em todos os pontos estudados há trincas longitudinais e desníveis que evidenciam o


início de um processo de escorregamento profundo, atingindo as camadas argilosas de
baixa resistência situadas abaixo do aterro. A Figura 3-6 mostra a escavação no ponto
2 e a Figura 3-7 mostra o detalhe da superfície de ruptura, com trinca subvertical e
desalinhamento das camadas em cerca de 15 cm.

22
Figura 3-6 – Detalhe de escavação na faixa lateral esquerda (estaca 4973) do Ponto 2, em
novembro de 2015, (CTESA, 2016)

Figura 3-7 - Detalhe de escavação, evidenciando a superfície de ruptura, com trinca


subvertical e desalinhamento das camadas em cerca de 15 cm, (CTESA, 2016)

23
A situação geral de estiagem que atingiu a Região Sudeste nos anos de 2013 a 2015
levou a níveis mínimos os rios Paraíba do Sul e Muriaé, ocasionando o rebaixamento
do nível do lençol d´água regional. Desta forma, modificou-se o estado de tensões no
terreno subjacente aos aterros, afetando, particularmente, as camadas de argila mole a
muito mole, dada a sua baixa resistência ao cisalhamento e a sua elevada
compressibilidade. Isto reforça a hipótese de escorregamento profundo, pois o
rebaixamento do nível d'água pode acarretar a diminuição do fator de segurança à
estabilidade global. Essa modificação no estado de tensões também acarreta novo ciclo
de recalques por adensamento, uma vez que, ao ser rebaixado o lençol, a camada
acima do nível d’água funciona como uma sobrecarga nas camadas subjacentes, dando
início a um novo ciclo de recalques, com reflexo na plataforma rodoviária.

Em diversos pontos foram também observados problemas no pavimento, com sinais


claros de deterioração (trincas isoladas e interligadas – tipo “couro de jacaré” – e
afundamentos). Para este problema pode ter concorrido o incremento de tráfego de
veículos pesados, ocorrido em anos recentes em face das obras e início de operação
do Porto do Açu.

A seguir, será feito um resumo das características e problemas do terreno na região


onde estão situados diversos dos pontos que foram objeto de obras emergenciais, assim
como a descrição do ensaio realizado no ponto em questão. Serão ilustrados perfis de
sondagens executadas nessas áreas de planícies de inundação, com depósitos de solos
sedimentares aluvionares, e fotos que ilustram os reflexos da cheia de 2008, que atingiu
a rodovia em diversos segmentos. Conforme comentado em cada ilustração, esses
segmentos correspondem a pontos que foram objeto de obras emergenciais.

3.4. Características dos pontos estudados e dos respectivos


ensaios.

3.4.1. Ponto 2

O trecho que corresponde ao Ponto 2 se caracteriza por estar localizado em uma várzea
na margem direita do rio Muriaé que, durante as cheias de 2008, conforme ilustra as
Figura 3-8, foi totalmente inundada, tendo ocorrido a submersão de parte da rodovia.
Assim, esperava-se encontrar na campanha de sondagens à percussão executada
nesse trecho depósitos de camadas de solos moles, o que se confirmou. Foram

24
executadas 7 sondagens pela empresa Riscado Engenharia (Anexo - item 8.1) que
indicaram a ocorrência de aterro da rodovia existente, com cerca de 2 a 3 metros, e uma
camada de argila mole a muito mole, com espessura entre 8 e 15 metros, (Figura 3-9 e
Figura 3-10).

Figura 3-8 - Vista aérea do trecho onde está situado o Ponto 2 (km 99), em dezembro de
2008 (CTESA, 2016)

Figura 3-9 - Ponto 2, seção geotécnica na estaca 4958+10 (CTESA, 2016)

25
Figura 3-10 - Ponto 2, seção geotécnica na estaca 4967+6,6 (CTESA, 2016)

Segundo o relatório da CTESA (2016), durante as inspeções realizadas no local, entre


março de 2015 e janeiro de 2016, foram observadas no trecho entre as estacas 4957 e
4976 trincas longitudinais e afundamentos no pavimento rodoviário (Figura 3-11 e Figura
3-12), com tendências de ruptura a médio e longo prazo, colocando em risco a
estabilidade do aterro rodoviário e consequentemente do tráfego no local.

26
Figura 3-11 - Ponto 2, estaca 4973, vista a vante; trinca e abatimento, em agosto de 2015
(CTESA, 2016)

Figura 3-12 - Ponto 2, estaca 4965, vista a ré; trecho com abatimento, em agosto de 2015,
(CTESA, 2016)

Segundo Danziger et al. (2016), o ensaio de piezocone do Ponto 2 teria início no dia 23
de abril, mas devido à extrema dificuldade na realização do pré-furo a um problema na
bomba, foi adiado para o dia seguinte. Um novo processo de saturação dos elementos
porosos e do cone foi realizado e, no dia seguinte, o ensaio pôde ser realizado. Este foi
executado sem revestimento do pré-furo. Nesse caso, o furo foi mantido com água
através de duas mangueiras alimentadas por um reservatório na estrada. Como medida
adicional de segurança, contra a perda da saturação dos elementos porosos, o
27
piezocone foi mantido com o recipiente de plástico contendo água, durante a descida
no pré-furo até o nível d´água.

3.4.2. Ponto 3

O Ponto 3 também está localizado uma várzea na margem direita do rio Muriaé,
portanto, situado dentro da planície de inundação do rio (Figura 3-13).
Semelhantemente ao Ponto 2, através de 7 sondagens à percussão, executadas pela
empresa PBS Sondagens e Perfurações de Solo Ltda (Anexo – item 8.2), foi constatada
a ocorrência de argila mole a muito mole com espessura de 7 a 10 metros, estimando-
se uma altura de 3 metros para o aterro rodoviário existente (Figura 3-14, Figura 3-15
Figura 3-16).

Segundo (CTESA, 2016), nas inspeções realizadas entre março de 2015 e janeiro de
2016 no Ponto 3, constatou-se problemas de trincas e afundamentos no pavimento entre
as estacas 5098 e 5101, semelhantes aos observados no Ponto 2, conforme ilustram a
Figura 3-17 e a Figura 3-18.

28
Figura 3-13 - Vista aérea do trecho onde está situado o Ponto 3 (km 102), em dezembro
de 2008 (CTESA, 2016)

Figura 3-14 - Ponto 3, seção geotécnica na estaca 5111 (CTESA, 2016)

29
Figura 3-15 - Ponto 3, seção geotécnica na estaca 5116 (CTESA, 2016)

Figura 3-16 - Ponto 3, seção geotécnica na estaca 5114 (CTESA, 2016)

30
Figura 3-17 - Ponto 3, estaca 5114, vista a ré; trincas e afundamento, março de 2015
(CTESA, 2016)

Figura 3-18 - Ponto 3, estaca 5116, vista a ré, em setembro de 2015, (CTESA, 2016)

Segundo Danziger et al. (2016), o ensaio de piezocone do ponto 3 foi realizado na


manhã do dia 30 de abril. Solicitou-se que o pré-furo fosse realizado previamente com
diâmetro de revestimento de 4” (ao invés de 2 ½”) e fosse colocado um revestimento
até o nível de água. Esse procedimento agilizou os preparativos do ensaio.

31
3.4.3. Ponto 5D

O Ponto 5D apresenta semelhanças com os Pontos 2 e 3, estando localizados na várzea


existente na margem esquerda do rio Muriaé e próxima do Valão das Onças, afluente
daquele rio (Figura 3-19).

Ponto 5D

Figura 3-19 - Vista aérea do trecho onde estão situados os Pontos 5D, 6 e 6A (km 117) ,
em dezembro de 2008 (CTESA, 2016)

Nesse segmento, os defeitos foram observados entre as estacas 5856 e 5862 (Figura
3-20). Nas inspeções realizadas em outubro de 2015 e janeiro de 2016, foram
observadas trincas longitudinais e desníveis, preponderantemente do lado direito,
evidenciando processo de ruptura do maciço de aterro, conforme ilustram a Figura 3-20
e a Figura 3-21. O segmento entre as estacas 5858 e 5862 apresentam então maior
gravidade, com abertura de trincas da ordem de 10 cm (Figura 3-21)

32
Figura 3-20 - Ponto 5D, estaca 5859, vista a vante; trinca e afundamento na faixa do lado
direito, outubro de 2015. (CTESA ,2016)

Figura 3-21 - Ponto 5D, estaca 5860+12, vista a vante; trinca e afundamento na faixa do
lado direito, outubro de 2015 (CTESA, 2016)

A caracterização geotécnica da obra do Ponto 5D foi feita por meio de 6 sondagens à


percussão (Anexo – item 8.3), executadas pela PBS Sondagens e Perfurações de Solo
Ltda. (Figura 3-22 e Figura 3-23)

A seção geotécnica na estaca 5861, apresentada na Figura 3-22, indica um aterro com
cerca de 5 metros e a ocorrência de duas camadas de argila muito mole com espessura
de 4 a 6 metros.

33
Figura 3-22 - Ponto 5D, seção geotécnica na estaca 5861 (CTESA, 2016)

Figura 3-23 - Ponto 5D, seção geotécnica na estaca 5859 (CTESA, 2016)

Segundo Danziger et al. (2016), no dia 31 abril, dia seguinte à realização do ensaio de
piezocone do ponto 3, a despeito de se tentar realizar o ensaio no Ponto 5D, verificou-
se que o Munck estaria muito próximo do limite de descarga, apresentando risco na
operação. Além disso, o trecho do ensaio apresentava operação em meia pista, o que
34
significava a necessidade de interrupção total da rodovia para carga e descarga dos
equipamentos. Decidiu-se então realizar o ensaio remanescente após a conclusão da
recuperação da rodovia no trecho. O que ocorreu no dia 14 de maio, empregando-se os
mesmos procedimentos e cuidados tanto na operação quanto na saturação dos
elementos porosos.

Tal como no caso anterior, solicitou-se previamente à equipe de sondagem a realização


do pré–furo, o mais vertical possível, com revestimento de 4”. Esse revestimento, de
cerca de 1,0 m de comprimento, teve seu topo cerca de 20 cm acima do nível do terreno,
o que impediu o posicionamento da máquina no ponto de ensaio. Uma vez que não
havia material suficiente para construção de uma plataforma, decidiu-se remover o
revestimento com auxílio do guindaste.

Uma vez retirado o revestimento, a máquina de cravação foi posicionada sobre o pré-
furo de modo que as hastes e o piezocone ficassem centralizados em relação a este,
tendo sido em seguida patolada e ancorada.

O ensaio foi realizado em ocasião de intensa atividade na rodovia, com a cravação de


estacas metálicas. Portanto, houve a necessidade de cuidados especiais para minimizar
riscos para a equipe da COPPE/UFRJ.

3.4.4. Ponto 8

O segmento que corresponde ao Ponto 8, compreende um aterro localizado junto à


margem esquerda do Rio Paraíba do Sul.

Nas inspeções realizadas, foram observados trincas longitudinais e afundamentos no


pavimento, com evidencias de escorregamento profundo - Figura 3-24.

A caracterização deste trecho foi seita por meio de 4 sondagens à percussão,


executadas pela Riscado Engenharia (Anexo – item 8.4). A seção geométrica da estaca
6753 é mostrada na Figura 3-25.

35
Figura 3-24 - Ponto 8, estaca 6757, vista a ré, em janeiro de 2016 (CTESA, 2016)

Figura 3-25 – Ponto 8, Seção geotécnica na estaca 6753 (CTESA, 2016)

Segundo Danziger et al. (2016), o ensaio de piezocone do Ponto 8 foi realizado no dia
22 de abril e foi o primeiro ensaio de toda a campanha. A máquina de cravação foi
posicionada com auxílio de Munck de grande alcance, às margens do rio Paraíba do
Sul.

36
Solicitou-se a realização prévia do pré-furo, que foi executado e revestido com tubo de
diâmetro de 2 ½ ”. Realizou-se um teste prévio com as hastes de ensaio e se verificou
que, em função da pequena folga entre as hastes e o tubo de revestimento do pré-furo,
uma pequena inclinação deste com a vertical estava ocasionando atrito entre a haste
de cravação e o interior do tubo. Esse fato poderia implicar um dano tanto ao piezocone
quanto ao ensaio. Decidiu-se, então, retirar o tubo de revestimento do pré-furo e realizar
o ensaio com o pré-furo sem revestimento. Naturalmente, isso implicaria em uma
dificuldade adicional, de vez que o revestimento tem dupla finalidade: (i) reduzir as
perdas de água no interior do pré-furo; (ii) minimizar a possibilidade de flambagem da
composição de hastes durante o ensaio, com cargas elevadas. A utilização de um
recipiente friável com água, que se quebra no contato com o solo, foi importante para a
garantia da saturação dos elementos porosos.

O ensaio de piezocone do Ponto 8 foi realizado até a profundidade de 15,07 m, devido


à elevada inclinação da composição de hastes (da ordem de 17º). Uma vez que o ensaio
ultrapassou a profundidade de maior interesse, que são as camadas de solos moles, e
representava um risco de quebra da composição de haste com possível perda do
piezocone, decidiu-se interromper o ensaio.

37
4. Apresentação dos resultados dos ensaios de piezocone

4.1. Introdução
Os ensaios de piezocone (CPTU) analisados na presente pesquisa foram realizados
pela equipe da COPPE/UFRJ, composta de 2 engenheiros e 2 auxiliares técnicos. Os
ensaios de CPTU foram realizados no período de 21 de abril a 14 de maio de 2016, de
forma a caracterizar geotecnicamente a região, com ênfase nos depósitos de argila
muito mole.

Conforme mencionado anteriormente no item 3.2 deste trabalho, entre os 20 pontos das
ocorrências geotécnicas ao longo da rodovia BR 356/RJ, 4 (quatro) foram designados
para a realização dos ensaios de piezocone. A Tabela 4-1 relaciona os pontos dos
ensaios de CPTU, o período de realização, as profundidades máximas atingidas,
profundidades solicitadas, comprimento do pré-furo e o nível d’água aparente antes do
ensaio.

Tabela 4-1 - Quadro resumo das características dos ensaios realizados,(adaptado de


Danziger et al, 2016)

*1 - O período de realização considerado não inclui o tempo despendido na movimentação e


posicionamento (alinhamento e nivelamento) do sistema de cravação do piezocone.
*2 - No ponto 2 não foi encontrado nível d’água, em sondagens fornecidas o mesmo se encontrava a
cerda de 6m de profundidade.
*3 - Profundidade do nível d’água obtida por dissipação em areia, material no pré-furo aparentava
estar saturado (NA não observado de fato)

Segundo Danziger et al. (2016), em todos os ensaios procurou-se atingir as


profundidades pré-estabelecidas pelo projetista. Diferença significativa ocorreu para o
ponto 8 que atingiu uma inclinação elevada podendo danificar a composição de haste.

38
Um procedimento de relevância, no início da cravação do piezocone, é o emprego de
um copo de plástico frágil, com água, na ponta do piezocone. Este procedimento é uma
garantia adicional de manutenção da saturação dos elementos porosos do piezocone
quando da descida no pré-furo, conforme ilustra a Figura 4-1.

Figura 4-1 - Descida do piezocone com copo plástico com água no ponto 2, em furo sem
revestimento (Danziger et al., 2016)

4.2. Equipamento utilizado no ensaio


O equipamento utilizado no ensaio de piezocone é dividido em 4 partes, conforme citado
por Danziger et al. (2016).

4.2.1. Máquina de cravação

A máquina de cravação empregada é de fabricação Pagani (Figura 4-2) e dispõe de um


sistema hidráulico com capacidade de 150 kN (15 tf), peso de cerca de 13 kN (1,3 tf),
capaz de fornecer a velocidade constante padronizada de 2 cm/s durante o processo de
cravação do piezocone. A máquina de cravação possui patolas e hastes helicoidais de
reação no terreno.

Para o transporte da máquina de cravação até o local dos ensaios, foi utilizado um
caminhão Munck.

39
Figura 4-2 - Máquina de cravação de fabricação Pagani, com ensaio em andamento no
Ponto 3, durante a adição de haste à composição (Danziger et al., 2016)

4.2.2. Hastes de Cravação

Foram utilizadas hastes de 1 m de comprimento e 36 mm de diâmetro, sendo


constituídas de aço de alta resistência. As hastes são dotadas de rosca cônica, o que
lhes garante maior resistência, sobretudo à tração.

4.2.3. Piezocone

O piezocone utilizado é o COPPE-IV, com 10 cm2 de área de ponta e 150 cm2 de área
lateral da luva de atrito, capaz de medir resistência de ponta, atrito lateral e poro-pressão
em dois locais (na face, u 1, e na base do cone, u2). A medida de poro-pressão em dois
locais não é prática internacional, e representa uma vantagem significativa em relação
à medida em apenas um local (u 2), conforme recomendações internacionais. Nenhum
piezocone em operação no Brasil possui essa característica.

A capacidade das células de carga é de 60 kN (ponta) e 10 kN (atrito). A capacidade


dos transdutores de poro-pressão é de 1500 kPa.

Bezerra (1996) menciona que o piezocone COPPE-IV segue a padronização


recomendada pela ISSMFE (1989) e apresenta suas principais dimensões, conforme a
Figura 4-3.
40
Figura 4-3 - Piezocone COPPE-IV padronizado pela ISSMFE2 (1989), conforme Bezerra
(1996)
4.2.4. Sistema de aquisição de dados

O sistema de aquisição de dados adotado nas investigações aqui reportadas foi


composto por:

 microcomputador (Figura 4-4);


 conversor analógico/digital;
 fonte estabilizada.

A Figura 4-4 ilustra o microcomputador utilizado com um ensaio em andamento.

Figura 4-4 - Microcomputador utilizado na campanha de ensaios, com ensaio em


andamento no Ponto 5D (Danziger et al., 2016)

4.3. Apresentação dos resultados


Os resultados dos ensaios de piezocone são apresentados nas figuras a seguir, para
os pontos 2, 3 , 5D e 8, respectivamente.

2
International Society for Soil Mechanics and Geotechnical Engineering
41
Figura 4-5 - Resultados de qt, fs, u1, u2 e inclinação do ensaio realizado no Ponto 2
42
Figura 4-6 - Resultados de qt, fs, u1, u2 e inclinação do ensaio realizado no Ponto 3
43
Figura 4-7 - Resultados de qt, fs, u1, u2 e inclinação do ensaio realizado no Ponto 5D
44
Figura 4-8 - Resultados de qt, fs, u1, u2 e inclinação do ensaio realizado no Ponto 8

45
5. Análise dos resultados

No presente capítulo são inicialmente identificadas as camadas de solo de acordo com


a observação visual dos gráficos das diversas grandezas medidas nos ensaios de
piezocone (qt, fs, u1 e u2). Essa etapa do trabalho foi efetuada a partir dos gráficos
incluídos no relatório dos ensaios (Danziger et al., 2016). Optou-se por se efetuar uma
comparação entre as sondagens à percussão realizadas com as repostas básicas, em
caráter preliminar.

Em seguida as planilhas Excel dos dados foram utilizadas para o tratamento dos dados,
conforme descrito no item 5.2.

A seguir, foi efetuada a identificação da estratigrafia e do tipo de comportamento do solo


de acordo com as propostas de Robertson et al. (1986), Robertson (1990) e Robertson
(2010).

Vale salientar que em pelo menos dois dos ensaios de piezocone (pontos 2 e 3) há
dúvidas quanto à acurácia dos valores de poro-pressão medidos. Isso decorre da dúvida
quanto à identificação correta, prévia (antes da realização do pré-furo), do nível d´água.

5.1. Metodologia para análise dos resultados


Os arquivos contendo os dados brutos foram fornecidos em planilhas Microsoft Excel
(formato *.xls), e o relatório técnico PEC 19937- rt1 (Danziger et al., 2016), em formato
Microsoft Word. Os dados apresentavam as seguintes informações: (i) profundidade
(m), (ii) resistência de ponta (kPa), (iii) atrito lateral (kPa), (iv) medida de poro-pressão
na base (u2) (kPa) e (v) medida da poro-pressão na ponta (u1) (kPa). Além disso, os
arquivos também continham dados de ensaios de dissipação, valores da profundidade
corrigidos para a base do cone (m) e a relação de atrito.

O programa utilizado na presente pesquisa é o CPeT-IT versão.1.7.6.42, da


Geologismiki, adquirido para utilização em projetos de pesquisa do Professor Fernando
Danziger, um dos orientadores deste trabalho. Os dados fornecidos foram organizados
de modo a agilizar e facilitar a interpretação do programa.

A metodologia adotada para a organização dos dados pode ser dividida em três subitens
respectivamente: identificação preliminar das camadas, tratamento e manipulação dos
dados e manipulação do programa.

46
5.2. Identificação preliminar das camadas
De posse do relatório técnico PEC 19937- rt1, os dados brutos foram analisados
visualmente, a priori, para identificação das diferentes camadas de solo, sem
preocupações quanto aos limites exatos entre as camadas.

Após a análise preliminar das camadas, efetuou-se uma identificação mais acurada das
profundidades de início e término de cada camada. Para isto, procurou-se identificar nos
dados brutos da planilha Excel a profundidade exata correspondente às variações
bruscas das diversas grandezas medidas. A Figura 5-1 ilustra claramente a mudança
de comportamento do solo através da variação da resistência de ponta corrigida e das
poro-pressões, para uma profundidade, para o caso do ponto 5D.

Cabe ressaltar que não houve a preocupação nessa etapa de identificar pequenas
camadas ou lentes, e sim de destacar as principais mudanças de comportamento do
solo.

Figura 5-1 - Planilha completa do ponto 5D. Em amarelo é destacada a mudança da


camada 1 para a camada 2, de acordo com análise gráfica preliminar

A Tabela 5-1 apresenta o número de camadas para cada ensaio CPTU (identificado
como ponto 2, 3, 5D e 8) assim como a sua profundidade estimada de início e término.

47
Tabela 5-1 – Tabela resumo das camadas identificadas em cada ensaio

Ponto 2 Ponto 3 Ponto 5D Ponto 8


Início (m) 3,00 2,30 1,80 3,00
Camada 1
Fim (m) 4,60 3,30 4,00 4,75
Início (m) 4,60 3,30 4,00 4,75
Camada 2
Fim (m) 13,00 10,20 13,29 12,00
Início (m) 13,00 10,20 - 12,00
Camada 3
Fim (m) 14,12 11,68 - 15,07

5.3. Comparação das respostas dos Ensaios de Piezocone e da


sondagem à percussão

No presente item, são comparados os ensaios de piezocone com as sondagens à


percussão realizadas. Os perfis geotécnicos resultantes das sondagens, estão
apresentados ao lado dos resultados dos ensaios de piezocone. O objetivo desta
disposição é obter uma visão global do perfil geotécnico através da observação
simultânea do comportamento do solo obtidos nos ensaios de piezocone (qt, fs, u1, u2)
com os obtidos na sondagem à percussão (o número NSPT e a análise tátil-visual
realizada pelo sondador, tanto no avanço do furo quanto pela amostra do bico)

Essas comparações foram feitas de acordo com os seguintes conceitos:

 no que diz respeito à sondagem a percussão, foi utilizado o critério de


classificação de acordo com a norma NBR 7250 da ABNT, conforme descrito
por Souza Pinto (2001). As Tabelas 5-2 e 5-3 mostram a classificação de
acordo com o número NSPT para materiais arenosos e argilosos,
respectivamente.

Tabela 5-2 - Compacidade das areias em função do SPT, conforme Souza Pinto (2001)

48
Tabela 5-3 – Consistência das argilas em função do SPT, conforme Souza Pinto (2001)

As Figuras 5-2, 5-3, 5-4 e 5-5 mostram os resultados dos ensaios de piezocone dos
pontos 2, 3, 5D e 8, respectivamente, com a identificação das camadas. Nas mesmas
figuras são apresentados os perfis de sondagem à percussão realizadas nos pontos
mais próximos dos ensaios de piezocone; exceção é feita para o Ponto 2, cuja
sondagem foi escolhida em função da cota da boca do furo ser a mais coerente com a
cota na qual foi realizado o ensaio de piezocone.

Cabe salientar que a diferença na estratigrafia do ensaio pode ser justificada entre
outras coisas pela:

 diferença de cota entre o ensaio de piezocone e a sondagem à percussão;


 erro do sondador na identificação correta da estratigrafia durante a
sondagem, e;
 da própria heterogeneidade do terreno.

49
Figura 5-2 - Resultado de piezocone (qT, fs, u1 e u2) realizado no Ponto 2 e a sondagem à percussão SP-06, com base em Danziger et al. (2016) e CTESA (2016)
50
Figura 5-3 - Resultado de piezocone (qT, fs, u1 e u2) realizado no Ponto 3 e a sondagem à percussão SP-03, com base em Danziger et al. (2016) e CTESA (2016)

51
Figura 5-4 - Resultado de piezocone (qT, fs, u1 e u2) realizado no Ponto 5D e a sondagem à percussão SP-06, com base em Danziger et al. (2016) e CTESA (2016)

52
Figura 5-5 - Resultado de piezocone (qT, fs, u1 e u2) realizado no Ponto 8 e a sondagem à percussão SP-03, com base em Danziger et al. (2016) e CTESA (2016)

53
I. Ponto 2
Conforme pode ser visto na Figura 5-2, a variação da resposta do piezocone, no trecho
correspondente à camada 1, sugere uma camada um pouco mais resistente do que a
camada subjacente, visto que há uma perda da resistência de ponta corrigida e do atrito
lateral. Assim, o parâmetro corrigido qT caracterizaria uma camada mais resistente, o
que justificaria o número de golpes registrado (N spt = 4) no ensaio SPT para a faixa de
3 m a 4 m de profundidade no perfil geotécnico da sondagem à percussão. O aumento
de fs , na camada 1, pode representar a presença de um solo mais grosso. Neste caso,
a presença de areia fina, que foi detectada na sondagem à percussão justificaria o
ganho de resistência observado no gráfico de 𝑓𝑠 versus profundidade.

Segundo os parâmetros medidos através do ensaio de piezocone, o intervalo


compreendido entre 4,5 m e 13,0 de profundidade (camada 2) indica o comportamento
de um solo com baixa resistência de ponta e atrito lateral e geração de excesso positivo
de poro-pressão com a profundidade, cabe salientar que as poro-pressões não
mantiveram a saturação durante a realização do ensaio. Essas características listadas
anteriormente são indícios da presença de um solo argiloso. De acordo com o perfil
geotécnico do boletim de sondagem, a camada entre 3,8 m a 13,0 m de profundidade,
com NSPT médio de 2 ao longo desse intervalo, é caracterizada como uma argila siltosa,
com areia fina, com detritos vegetais, cor cinza escuro, muito mole.

A terceira camada, correspondente ao intervalo de 13,0 m a 14,12 m de profundidade,


de acordo como o ensaio de piezocone, é visivelmente mais resistente do que as suas
antecessoras. Este fato pode ser observado na resistência de ponta e no atrito lateral.
Na profundidade de 13,5 m, há uma taxa de crescimento brusco nos valores de q t, fs,
que corresponde a uma lente de material mais resistente. As características
apresentadas anteriormente são de um solo argilo-arenoso. Observando o perfil
geotécnico do ensaio SPT, há também uma mudança de camada bem definida por volta
de 13,0 m de profundidade. Nota-se que os altos valores de números de golpes (N spt >
14) nesse trecho de profundidade são coerente com os altos valores de q t medidos na
mesma faixa de profundidade.

II. Ponto 3

Pode-se observar na Figura 5-3 que a camada 1 apresenta baixos valores de resistência
de ponta e de atrito lateral, assim como geração positivo de excesso de poro-pressão,
cabe ser salientado que neste ensaio a saturação dos elementos porosos não se
54
manteve durante o ensaio. Segundo o perfil geotécnico obtido na sondagem a
percussão, a profundidade da camada de argila orgânica siltosa muito mole, vai de
1,20m a 9,8 m de profundidade. Esta camada, cujo N spt < 2, corresponde as camadas 1
e 2 do ensaio de piezocone.

Na camada 2, podem ser observadas, nitidamente, duas lentes de material mais


resistente, que podem ser visualizadas nos perfis de q t e fs, nas profundidades de 8,0 m
e 10,0 m.

Na camada 3, observa-se uma taxa de crescimento rápido nos perfis de q t e fs,


caracterizando um solo mais resistente. Verifica-se que na sondagem à percussão há
um crescimento do NSPT a partir de 11,0 m de profundidade.

III. Ponto 5D

Pode-se verificar nitidamente, na Figura 5-4, através do resultado do ensaio de


piezocone, que existem duas camadas bem definidas. A primeira camada (camada 1),
compreendida entre 2,0 m e 4,0 m de profundidade, caracteriza-se por apresentar um
comportamento de solo argiloso, pelo fato da constatação da geração de excesso de
poro-pressão positiva associado à baixa resistência de ponta e atrito lateral. A segunda
camada, compreendida entre 4,0 m e 13,29 m de profundidade, caracteriza-se por
apresentar um comportamento de solo granular, uma vez que não há geração de
excesso de poro-pressão.

De acordo com o perfil da sondagem à percussão, há a ocorrência de uma camada de


argila siltosa muito mole até 7,80 m de profundidade. A partir desse ponto e até o final
do ensaio de piezocone, a 13,29 m de profundidade, a sondagem identifica o solo como
areia (fina a média) pouco siltosa com NSPT na ordem de 10 golpes.

Pode-se verificar nitidamente, na Figura 5-4, a discrepância na identificação da


estratigrafia do solo definida pela sondagem à percussão e pelo ensaio de piezocone.
Observa-se que as espessuras e profundidades das camadas de solo representadas no
perfil geotécnico do ensaio SPT não correspondem exatamente mesma divisão de
camadas definidas pelo ensaio de piezocone. Porém, não há dúvida quanto à transição
da camada argilosa e o começo da camada arenosa se analisamos os resultados de
piezocone (qT, fs, u1 e u2). Cabe ressaltar que neste ensaio os elementos porosos não
perderam a saturação durante o ensaio.

55
IV. Ponto 8
Pode-se observar através da Figura 5-5 que a primeira camada compreendida entre as
profundidades de 4,0 m a 4,75 m, baixos valores de q T e f s e valores crescente para u1
e u2 até aproximadamente 4,75 m. Pode-se verificar que na sondagem à percussão esta
camada vai até 4,95m e é classificada como argila siltosa com areia fina, mica e turfa,
cujo NSPT = 2.

Verifica-se que a camada 2 (entre 5 m e 11,0 m de profundidade) apresenta variações


nos perfis de qt e fs. Em alguns pontos desta camada pode-se observar variações mais
predominantes que poderiam ser caracterizadas como lentes de materiais diferentes O
crescimento da resistência de ponta e do atrito lateral, condizem com o aumento do
número de golpes do SPT nessa região, que aumenta de 2 para 4, em média. Pode-se
observar que a sondagem à percussão não foi capaz de identificar as pequenas lentes
de material existentes nesta camada.

Observa-se um crescimento acentuado de qt e fs no intervalo de 11,0 m a 12,0 m de


profundidade, indicando a existência de um material mais resistente. Esta camada
também foi identificada na sondagem à percussão, porém, na profundidade de 11,6 a
12,9 m, com NSPT = 6, e foi classificada como areia média com mica.

Na camada 3 (de 12,0 m a 15,0 m de profundidade), pode ser observada uma tendência
constante de qt, e fs, e um expressivo aumento de excesso de poro-pressão u1 e u2. O
ensaio indicou geração positiva de excesso de poro-pressão em ambas as posições.
Segundo a sondagem à percussão, há a ocorrência de uma argila siltosa, com areia fina
com mica, entre as profundidades de 12,90 m e 25,60m, com NSPT = 3. Verifica-se uma
diferença de profundidade correspondente a 0,90 m na determinação desta camada
utilizado a sondagem e o piezocone.

A Tabela 5-4 apresenta o número de camadas para cada ensaio CPTU (identificado
como ponto 2, 3, 5D e 8), assim como a sua profundidade estimada de início e término.

56
Tabela 5-4 - Tabela resumo das camadas identificadas em cada ensaio

Local do Ensaio Identificação do ensaio Sondagem à percussão Ensaio de piezocone

Ponto estaca Camada Profundidade (m) SPT caracteristico Nspt classificação do solo pelo sondador comportamento do solo

Camada 1 3,00 a 4,60 4 argila siltosa com areia fina, cinza clara argiloso
Ponto 2
argila siltosa com areia fina, com mica e detritos
(Pré-furo de 4967 + 6,6 Camada 2 4,60 a 13,00 SP-06 2 argiloso
vegetais, cinza escuro
3,00 m)
Camada 3 13,00 a 14,12 >14 argila siltosa com areia fina, cinza claro argilo/arenoso

Camada 1 2,30 a 3,30 argila orgânica siltosa muito mole argiloso


Ponto 3 <2
argiloso com duas lentes de
(Pré-furo de 5111 Camada 2 3,30 a 10,20 SP-03 argila orgânica siltosa muito mole
material mais resistente
2,30 m)
Camada 3 10,20 a 11,68 >10 Argila com areia fina muito mole argiloso

Ponto 5D Camada 1 1,80 a 4,00 <1 argila siltosa muito mole argiloso
(Pré-furo de 5861 SP-06
argila siltosa muito mole/areia(fina a média) pouco
1,80 m) Camada 2 4,00 a 13,29 10 arenoso
siltosa
Camada 1 3,00 a 4,75 2 argila siltosa com areia fina, com mica e turfa argiloso
Ponto 8
Argila siltosa com areia fina com mica/ areia média com
(Pré-furo de 6753 Camada 2 4,75 a 12,00 SP-03 04/jun argiloso com lentes de areia
mica
3,0 m)
Camada 3 12,00 a 15,07 3 Argila siltosa com areia fina com mica argiloso

57
5.4. Tratamento dos dados brutos
Os dados básicos de entrada do programa são os valores diretos obtidos pelo ensaio
de piezocone, ou seja: (i) profundidade, (ii) resistência de ponta, (iii) atrito lateral e (iv)
medida de poro-pressão na base (u2) ou na ponta (u1). Esses dados podem ser
importados via arquivos de texto em formato *.txt, *.dat ou *.cor, planilhas Microsoft
Excel em formato *.xls, ou dados com a extensão *.gef (geotechnical exchange format).

Para a análise realizada na presente pesquisa, os dados brutos foram tratados com
intuito de se eliminar possíveis erros na interpretação e evitar dispersão de resultados
com valores que não são representativos do solo da região. Sendo assim, eliminou-se
os dados dos ensaios de dissipação, troca de haste e de descida no pré-furo. Para a
eliminação dos dados referentes ao ensaio de dissipação e troca de haste, identificou-
se os dados correspondentes a velocidade nula de cravação. Esta identificação foi
realizada com o auxílio da ferramenta Filtro disponível no Excel. No que diz respeito aos
dados medidos no pré-furo, os mesmos foram eliminados dos dados de entrada do
programa (CPeT-IT). Para este procedimento eliminou-se os dados referentes à
profundidade em que o pré-furo foi realizado, que foi feita antes do início do ensaio.

As camadas foram identificadas, conforme descrito no capítulo 5 (análise dos


resultados). Após a identificação exata das camadas, separou-se as mesmas em um
arquivo formato excel para a utilização do programa (CPeT-IT).

Ao todo foram gerados: 11 arquivos *.xls contendo os dados editados de cada camada
separadamente e 4 arquivos *.xls contendo os dados completos de cada ensaio CPTU,
que foram utilizados para o traçado do perfil de comportamento do solo (SBT) de
Robertson (2010).

Vale ser salientado que, na presente pesquisa, a correção de profundidade relativa à


posição da célula de carga de ponta, atrito lateral e transdutores de poro-pressões não
foram levadas a efeito.

Os dados brutos e os dados tratados do ensaio de piezocone no Ponto 3 são


apresentados nas Figuras 5-6 e 5-7, respectivamente.

58
Figura 5-6 - Dados brutos do ensaio de piezocone no Ponto 3

Figura 5-7 - Dados tratados do ensaio de piezocone no Ponto 3

Os dados das camadas de cada vertical de ensaio foram inseridos como input no
programa (CPeT-IT) e os gráficos com os resultados foram gerados.

5.5. A utilização do programa


Após o tratamento dos dados, os mesmos foram inseridos no programa CPeT-IT. Após
importar os arquivos tratados em formato *.xls, o programa requer que sejam
identificadas a primeira linha de dados para análise e a coluna referente a cada um:

59
profundidade, qt, fs, u2 e outro dado de referência, por exemplo, f s/qT, conforme ilustra
Figura 5-8.

Adotou-se na presente pesquisa a referência de profundidade na base do cone.

Utilizou-se como sistema de conversão de unidades o SI. A resistência de ponta


corrigida (qt) que foi fornecida em kPa foi convertida para MPa, uma vez que o autor
preferiu fornecer qt em MPa, conforme ilustra a Figura 5-8.

Figura 5-8 - Detalhe da janela do programa CPeT-IT para entrada e ajuste das unidades
dos parâmetros

Após a inserção dos dados, procede-se com a implementação de alguns inputs


solicitados pelo programa (Figura 5-9), tais como: peso específico do solo, relação de
área, raio do cone e nível do lençol freático, conforme pode ser analisado na Tabela 5-5.

60
Figura 5-9 - Detalhe da Janela do programa CPeT-IT onde é definido o peso específico,
relação de área, raio do cone e nível do lençol freático

Tabela 5-5 – Valores de inputs no programa

Ponto 2 Ponto 3 Ponto 5D Ponto 8


Peso específico Default* (gerado automáticamente)
Relação de área 0,75
Raio do cone (m) 0,01785
Nível d'água (m) 6m 1,62 1,64 2,06

Segundo Nejaim (2015), o manual do programa CPeT-IT menciona a utilização de


correlações empíricas para estimar parâmetros geotécnicos e muitos deles variam de
acordo com o tipo de solo, origem geológica e outros fatores. O software possui valores
padrão, ou default, que foram selecionados para promover geralmente estimativas
conservadoras desses parâmetros. Tais valores são automaticamente atribuídos aos
dados importados. O default pode ser alterado caso o operador do programa tenha
estimativas mais prováveis ou dados reais do tipo de solo.

61
5.6. Análise da Proposta de Robertson et al (1986) modificada
por Robertson (2010).

Neste item é abordado o tipo de comportamento do solo pela proposta de Robertson et


al (1986) modificada por Robertson (2010), descritas no capítulo 2.

As Figuras 5-10, 5-11, 5-12 e 5-13 mostram os valores de resistência de ponta corrigida
(qT), relação de atrito (RF%) e poro pressão (u2) versus profundidade. O gráfico mais à
direita das figuras mostra o perfil do tipo de comportamento do solo encontrado, pela
proposta de Robertson et al (1986) modificada por Robertson (2010), para os ensaios
dos pontos 2, 3, 5D e 8, respectivamente.

A Tabela 5-6 mostra a identificação do ensaio: o ponto, as camadas e as profundidades


de cada camada, bem como, a resistência de ponta (qT), a relação de atrito (FR) e a
poro-pressão (u2) com suas tendências e variações.

62
Figura 5-10 - Proposta de classificação do tipo de comportamento do solo de Robertson et al. (1986), modificada em Robertson (2010), Ponto 2

63
Figura 5-11 - Proposta de classificação do tipo de comportamento do solo de Robertson et al. (1986), modificada em Robertson (2010), Ponto 3

64
Figura 5-12 - Proposta de classificação do tipo de comportamento do solo de Robertson et al. (1986), modificada em Robertson (2010), Ponto 5D

65
Figura 5-13 - Proposta de classificação do tipo de comportamento do solo de Robertson et al. (1986), modificada em Robertson (2010), Ponto 8
66
Tabela 5-6 - Tabela resumo dos resultados dos ensaios empregados na proposta de Robertson et. (1986) modificada em Robertson (2010)

Identificação do ensaio Resistência de ponta (q t) Relação de atrito (FR) Poro-pressão (u 2)

Ponto Camada Profundidade (m) Tendência Valor representativo (kPa) Tendência Valor representativo (%) Tendência Valor representativo (kPa)

Camada 1 3,00 a 4,60 Decrescente 1000 a 800 Crescente 2,0 a 4,0 Crescente 100 a 130
Ponto 2
(Pré-furo de Camada 2 4,60 a 13,00 Constante 500 Constante 2,0 Crescente 130 a 300
3,00 m)
Camada 3 13,00 a 14,12 Crescente 500 a 4000 Crescente 2,5 a 6,5 Decrescente 300 a -80

Camada 1 2,30 a 3,30 Constante 100 Constante 2,0 Crescente 30 a 70


Ponto 3
(Pré-furo de Camada 2 3,30 a 8,20 Constante 400 Constante 7 Crescente 70 a 140
2,30 m)
Camada 3 8,20 a 11,68 Crescente 500 a 2000 Constante 2,5 Crescente 90 a 170 / ~0 a 500

Ponto 5D Camada 1 1,80 a 4,00 Constante 400 Constante 2,0 Constante 175
(Pré-furo de
1,80 m) Camada 2 4,00 a 13,29 Crescente 4000 a 16000 Constante 0,5 Crescente 25 a 120

Camada 1 3,00 a 4,75 Constante 250 Constante 2,0 Constante 150

Ponto 8 Camada 2 4,75 a 11,00 Crescente 500 a 3000 Descrescente 2,5 a 1,0 Crescente 0 a 100
(Pré-furo de
3,0 m) Camada 3 11,00 a 12,00 Crescente 3000 a 9000 Constante 0,5 Constante -60

Camada 4 12,00 a 15,07 Constante 750 Constante 1,0 Crescente 100 a 450

67
As Figuras 5-14, 5-15, 5-16 e 5-17 mostram os resultados das proposta de Robertson
et. (1986) modificada em Robertson (2010), que leva e consideração 𝑞𝑐 /𝑝𝑎 versus FR
(%) e 𝑞𝑡 versus 𝐵𝑞 , para os ensaios dos pontos 2, 3, 5D e 8. Nessas figuras as camadas
são apresentadas separadamente, uma vez que o programa utilizado, CPeT-IT, fornece
todos os dados plotados em conjunto, em uma só cor, dificultando a visualização das
propostas de classificação do tipo de comportamento do solo, nos ábacos de Robertson
et al. (1986) e Robertson (1990), Robertson (2010), que são apresentados no presente
capítulo.

De acordo com Robertson (2009), no caso de dúvida na classificação do solo é


recomendável a utilização do gráfico 𝑞𝑐 /𝑝𝑎 versus FR (%) por ser mais confiável, uma
vez que o elemento poroso pode perder a saturação ao passar por camadas
sobreadensadas ou compactas. Nos casos dos Pontos 2 e 3, nos quais houve perda de
saturação, adotou-se para a classificação o gráfico 𝑞𝑐 /𝑝𝑎 versus FR (%).

Uma vantagem de se utilizar os gráficos não-normalizados é a obtenção da classificação


do tipo de solo no instante da realização do ensaio.

68
Figura 5-14 - Dados das Camadas 1, 2 e 3 do Ponto 2 plotadas no ábaco não normalizado
de Robertson et al. (1986) modificado por Robertson (2010)

69
Figura 5-15 – Dados das Camadas 1, 2 e 3 do Ponto 3 plotadas no ábaco não
normalizado de Robertson et al. (1986) modificada por Robertson (2010)

70
Figura 5-16 - Dados das Camadas 1 e 2 do Ponto 5d plotadas no ábaco não normalizado
de Robertson et al. (1986) modificada por Robertson (2010)

71
Figura 5-17 – Dados das Camadas 1, 2 e 3 do Ponto 8 plotadas no ábaco não normalizado de
Robertson et al. (1986) modificada por Robertson (2010)

72
As Figuras 5-18, 5-19, 5-20 e 5-21 mostram os resultados de todos os resultados
plotados em conjunto dos ensaios realizados no pontos 2, 3, 5D e 8.

Figura 5-18 – Dados das camadas 1, 2 e 3 do Ponto 2 plotados na proposta de Robertson


et al. (1986), atualizada por Robertson (2010)

Figura 5-19 - Dados das camadas 1, 2 e 3 do Ponto 3 plotados na proposta de Robertson


et al. (1986), atualizada por Robertson (2010)

73
Figura 5-20 - Dados das camadas 1 e 2 do Ponto 5D plotados na proposta de Robertson
et al. (1986), atualizada por Robertson (2010)

Figura 5-21 - Dados das camadas 1, 2 e 3 do Ponto 8 plotados na proposta de Robertson


et al. (1986), atualizada por Robertson (2010)

A Tabela 5-7 mostra a classificação de acordo com a proposta de Robertson et al.


(1986), modificada por Robertson (2010), para os ensaios nos pontos 2,3 5D e 8.

74
Tabela 5-7 - Tabela resumo da classificação do solo por Robertson et al. (1986)

Identificação do ensaio Ábaco qc/pa versus FR (%) Ábaco qt versus Bq

Comportamento do Solo
Variação de Variação de Variação de Variação de
Ponto Camada Profundidade (m) Zona SBT Zona SBT
qc/pa FR (%) Bq qt (Mpa)

Camada 1 3,00 a 4,60 3e 4 5,0 a 10,5 1,3 % a 5 % 3, 4 e 5 0,05 a 0,25 0,6 MPa a 1,5 MPa argila siltosa a Silte argiloso
Ponto 2
(Pré-furo de Camada 2 4,60 a 13,00 3e 4 3,5 a 10,0 1,0 % a 5 % 3e 4 0,10 a 0,80 0,4 MPa a 1,0 MPa argila a argila siltosa
3,00 m)
Camada 3 13,00 a 14,12 3, 4, 5 e 6 10,0 a 100,0 0,8 % a 7 % 4, 5, 6, 7 e 8 - 0,05 a 0,30 1,0 MPa a 10,2 MPa areia siltosa a silte argilosa

Camada 1 2,30 a 3,30 1 1,0 a 1,2 1,0 % a 1,2 % 2e 3 0,30 a 0,60 0,1 MPa a 0,2 MPa solo fino sensível ou argila a material orgânico
Ponto 3
(Pré-furo de Camada 2 3,30 a 10,20 2, 3 e 4 3,0 a 10,0 0,5 % a 10 % 4e 5 - 0,20 a 0,45 0,3 MPa a 1,0 MPa argila a argila siltosa
2,30 m)
Camada 3 10,20 a 11,68 3e 4 4,0 a 11,0 1,5 % a 4,0 % 3,4 e 5 -0,20 a 0,35 0,4 MPa a 2,0 MPa silte argiloso a argila siltosa

Ponto 5D Camada 1 1,80 a 4,00 3, 4 e 5 2,0 a 10,0 0,8 % a 4,0 % 3, 4 e 6 0,10 a 0,70 0,3 MPa a 1,0 MPa argila a argila siltosa
(Pré-furo de
1,80 m) Camada 2 4,00 a 13,29 5e 6 10,5 a 200,0 0,2 % a 1,5 % 7,8 e 9 0 1,5 MPa a 11,0 MPa areia limpa a areia siltosa

Camada 1 3,00 a 4,75 3 1,7 a 4,0 1,3 % a 5,0 % 1e 3 0,35 a 1,0 0,2 MPa a 1,3 MPa argila e argila siltosa
Ponto 8
argila siltosa a silte arenoso com uma
(Pré-furo de Camada 2 4,75 a 12,00 3, 4, 5 e 6 3,0 a 100,0 0,2 % a 4,0 % 4, 5, 6, 7 e 8 - 0,20 a 0,50 0,3 MPa a 10,0 MPa
subcamada de areia limpa e areia siltosa.
3,0 m)
Camada 3 12,00 a 15,07 3e 4 6,0 a 11,0 0,6 % a 5,0 % 3, 4, 5, 6 e 7 0,0 a 0,8 0,6 MPa a 2,0 MPa silte argiloso a argila siltosa

75
5.7. Análise do comportamento do solo de acordo com a
proposta de Robertson (1990)

Neste item é abordado o tipo de comportamento do solo pela proposta de Robertson et


al (1990), descritas no capítulo 2, que leva em consideração os ábacos 𝑄𝑡𝑛 versus FR
(%) e 𝑄𝑡𝑛 versus 𝐵𝑞 .

As Figuras 5-22, 5-23, 5-24 e 5-25, mostram os resultados das proposta de Robertson
(1990) para os ensaios dos pontos 2, 3, 5D e 8.

76
Figura 5-22 - Dados das Camadas 1, 2 e 3 do Ponto 2 plotados no ábaco normalizado de
Robertson (1990)

77
Figura 5-23 - Dados das Camadas 1, 2 e 3 do Ponto 3 plotados no ábaco normalizado de
Robertson (1990)

78
Figura 5-24 - Dados das Camadas 1 e 2 do Ponto 5D plotados no ábaco normalizado de
Robertson (1990)

79
Figura 5-25 - Dados das Camadas 1, 2 e 3 do Ponto 8 plotados no ábaco normalizado de
Robertson (1990)

80
As Figuras 5-26, 5-27, 5-28 e 5-29 mostram os resultados de todas as camadas juntas
dos ensaios 2, 3, 5D e 8, com o objetivo de se ter uma visão global dos resultados de
cada ensaio realizado.

Figura 5-26 - Dados das camadas 1, 2 e 3 do Ponto 2 plotados na proposta de Robertson


(1990)

Figura 5-27 - Dados das camadas 1, 2 e 3 do Ponto 3 plotados na proposta de Robertson


(1990)

81
Figura 5-28 - Dados das camadas 1 e 2 do Ponto 5D plotados na proposta de Robertson
(1990)

Figura 5-29 - Dados das camadas 1, 2 e 3 do Ponto 8 plotados na proposta de Robertson


(1990)

A Tabela 5-8 apresenta a classificação do tipo de comportamento de solo de acordo


com a proposta de Robertson (1990), para os ensaios dos pontos 2, 3, 5D e 8.
82
Tabela 5-8 - Tabela resumo das análises por Robertson (1990)

Identificação do ensaio Ábaco Qtn versus FR (%) Ábaco Qtn versus Bq

Variação de Variação de Variação de Comportamento do Solo


Variação de
Ponto Camada Profundidade (m) Zona SBTn Zona SBTn
Qtn FR (%) Qtn Bq

Camada 1 3,00 a 4,60 3e 4 6,0 a 12,0 1,3 % a 5 % 3, 4 e 5 6,0 a 12,0 0,05 a 0,25 argila siltosa a silte argiloso
Ponto 2
(Pré-furo de Camada 2 4,60 a 13,00 3 0,2 a 0,8 1,1 % a 7 % 3 0,2 a 0,8 0,10 a 0,80 argila a argila siltosa / normalmente adensada
3,00 m)
Camada 3 13,00 a 14,12 3, 4, 5 e 6 4,0 a 100,0 0,8 % a 8 % 3, 4, 5 e 6 4,0 a 100,0 -0,05 a 0,30 areia siltosa a silte argiloso/normalmente adensada

Camada 1 2,30 a 3,30 2e 3 1,0 a 7,0 1,3 % a 7 % 2e 3 1,0 a 7,0 0,30 a 1,20 argila a argila siltosa
Ponto 3
(Pré-furo de Camada 2 3,30 a 10,20 2, 3 e 4 2,0 a 10,3 0,6 % a 10 % 3, 4 e 5 2,0 a 10,3 - 0,25 a 0,45 argila a argila siltosa / normalmente adensada
2,30 m)
Camada 3 10,20 a 11,68 3e 4 5,0 a 12,0 2,0 % a 4,0 % 3e 4 5,0 a 12,0 - 0,20 a 0,35 argila a argila siltosa / normalmente adensada

Ponto 5D Camada 1 1,80 a 4,00 3, 4 e 5 7,0 a 12,0 1,0 % a 4,0 % 3, 4 e 5 7,0 a 12,0 0,10 a 0,70 argila siltosa / silte argiloso / normalmente adensado
(Pré-furo de
1,80 m) Camada 2 4,00 a 13,29 6 12,0 a 150, 0 0,2 % a 1,5 % 6 12,0 a 150, 0 0 areia limpa a areia siltosa / normalmente adensada

Camada 1 3,00 a 4,75 3 3,0 a 10,0 2,0 % a 6,0 % 1e 3 3,0 a 10,0 0,35 a 1,0 argila a argila siltosa / normalmente adensada
Ponto 8
argila siltosa a silte argiloso / normalmente adensada e
(Pré-furo de Camada 2 4,75 a 12,00 3, 4, 5 e 6 3,0 a 100 0,2 % a 6,0 % 3, 4, 5 e 6 3,0 a 100 - 0,20 a 0,55
uma subcamada de areia limpa a areia siltosa.
3,0 m)
Camada 3 12,00 a 15,07 3 3,0 a 15,0 1,0 % a 8,0 % 3, 4 e 5 3,0 a 15,0 0,0 a 0,80 argila a argila siltosa / normalmente adensada

83
6. Considerações adicionais, conclusões e sugestões para
pesquisas futuras

6.1. Considerações adicionais e conclusões


A utilização do resultado do ensaio de piezocone na identificação e interpretação da
estratigrafia do terreno mostrou-se a melhor ferramenta para se entender a variação
espacial das propriedades do solo. A utilização de dois medidores de poro-pressão no
piezocone resultou em uma maior confiabilidade nas medidas de poro-pressão
sobretudo nos locais onde ocorreram problemas de saturação em um dos transdutores
de poro-pressão. A boa correlação entre a interpretação dos resultados do ensaio de
piezocone com os das sondagens à percussão mostra que o ensaio de piezocone é
uma técnica de investigação de solos que possibilita obter um perfil estratigráfico de alta
resolução rapidamente.

A despeito de campanhas geotécnicas empregadas nas grandes obras geotécnicas


espalhadas no Brasil, destaca-se que a utilização do ensaio de piezocone, em conjunto
com a sondagem à percussão e outras técnicas de investigações geotécnicas, atenderia
às necessidades de soluções mais complexas para problemas geotécnicos encontrados
diariamente nas obras.

Apesar da classificação fornecida pelo programa CPeT-IT versão1.7.6.42 ser muito útil,
não pode ser empregada sem a necessária análise adicional dos resultados. Um
exemplo disso é o caso do ponto 8. De fato, há claramente quatro camadas, sendo a
mais superficial e a mais profunda relativas a argilas, de comportamento que se pode
dizer uniforme em cada horizonte. Já a segunda camada, com variação errática de
resistência de ponta e poro-pressão, revela uma camada de material não homogêneo.
Uma programação de ensaios adicionais ao longo do perfil deve se valer dessa
observação. Ou seja, caso de programassem ensaios de palheta (ou amostragem),
estas deveriam ocorrer entre as profundidades de 3 m e 4 m (caso da camada de solo
mole superficial) e 12 m e 15 m (camada de solo mole profundo). Já a camada com
variação errática de resistência de ponta teria resultados de ensaios de palheta
questionáveis.

Verifica-se que no ponto 5D a camada de interesse, por apresentar menor resistência e


maior deformabilidade, é a camada 1, classificada como uma de camada de argila mole
normalmente adensada. Assim, ao se solicitar uma investigação geotécnica mais

84
detalhada, com coleta de amostras indeformadas para a realização de ensaios de
laboratório, visando a obtenção dos parâmetros de resistência e deformabilidade, a
profundidade de amostragem deve ser realizada entre as profundidades de 0,50 m a
4,00 m.

Pode-se verificar, através do ensaio de piezocone do Ponto 3, que seria interessante a


realização de uma amostragem em pelo menos três profundidades, uma na camada 1
(de 1,20 m a 3,30 m), classificada como argila orgânica mole, outra na camada 2 (de
3,30 m a 8,20 m), classificada como argila ou argila siltosa normalmente adensada, e
por fim uma na camada 3, entre as profundidade entre 8,20 m e 11,00 m,
aproximadamente, classificada como argila siltosa normalmente adensada.

De acordo com o ensaio de piezocone no Ponto 2, a camada de principal interesse seria


a camada 2, classificada como uma argila normalmente adensada, cuja profundidade
está compreendida entre 3,60 m e 13,00 m. Sendo assim, esta seria a profundidade
para a realização da campanha de uma investigação geotécnica mais detalhada.

Vale ser salientado que, em pelo menos dois dos ensaios de piezocone (Pontos 2 e 3),
há dúvidas quanto à acurácia dos valores de poro-pressão medidos. Isso decorre da
dúvida quanto à identificação correta e prévia (antes da realização do pré-furo) do nível
d´água.

Observa-se, de forma geral pelo aspecto do gráfico, que o transdutor de poro- pressão,
u1, em todos os ensaios realizados, não foi capaz de manter uma perfeita saturação
durante o ensaio. Já o elemento poroso da poro-pressão (u2) foi capaz de manter uma
boa saturação durante os ensaios, nos pontos 5D e 8.

Verificam-se, de uma forma global, pequenas diferenças na identificação da estratigrafia


definidas pelo ensaio de piezocone e pela sondagem a percussão. A exceção se faz
mais nitidamente no ponto 5D, no qual a camada 1, de argila mole, tem uma espessura
muito menor, identificada pelo ensaio de piezocone, do que a identificada na sondagem
a percussão.

Cabe ser salientado que as pequenas lentes de materiais intercaladas não são
identificadas na sondagem a percussão, sendo este um dos motivos pelos quais o
ensaio de piezocone se mostra uma ferramenta mais apropriada para identificar a
estratigrafia do solo.

85
A Tabela 6-1 adiante resume as propostas analisadas e apresenta a classificação
adotada pelo autor da presente pesquisa.

6.2. Sugestões para pesquisas futuras


Em detrimento de um melhor detalhamento das camadas de solo mole e entendimento
do comportamento do solo na região estudada, recomendam-se algumas pesquisas
futuras, tais como:

i. Realização de ensaios de caracterização.


ii. Realização de ensaios de adensamento nas camadas de solo mole para
esclarecer a história de tensões.
iii. Realizar ensaios de cisalhamento simples (DSS) e triaxiais de compressão e
extensão, para se obter parâmetros de resistência e deformabilidade.
iv. Realizar ensaios de palheta e T-bar nas camadas moles.
v. Realizar ensaios cíclicos de DSS e triaxiais simulando a passagem de
caminhões Bitrem, com carga excedente em até 60 % permitido por eixo, com
intuito de sanar a hipótese da deformação da pista oriunda do excesso de carga.

Assim como em Nejaim (2015), sugere-se que, na próxima versão do programa CPeT-
IT v.1.7.6.42 da Geologismiki, seja criada uma ferramenta ou opção que permita
distinguir camadas de um mesmo perfil ou perfis distintos através de atribuição de cores,
pré-selecionadas pelo operador.

86
Tabela 6-1 – Tabela resumo com as propostas analisadas e classificação adotada

Ensaio de piezocone
sondagem à Adotado pelo
Identificação do ensaio Análise Robertson et al.
percussão Robertson (1990) autor deste
preliminar (1986)
trabalho
Profundidade Classificação do
Ponto Camada Tipo de comportamento do Solo
(m) sondador
argila siltosa com
Camada argila siltosa a silte argila siltosa a silte argila siltosa ou
3,00 a 4,60 areia fina, cinza argiloso
1 argiloso argiloso silte argiloso.
clara
argila siltosa com argila ou argila
argila a argila
Ponto 2 Camada areia fina, com mica argila a argila siltosa,
4,60 a 13,00 argiloso siltosa/normalmente
(Pré-furo 2 e detritos vegetais, siltosa normalmente
adensada
de cinza escuro adensado.
3,00 m) argila siltosa a silte
argila siltosa com
argila siltosa com argiloso/normalmente
Camada argila siltosa a silte lente de areia
13,00 a 14,12 areia fina, cinza argilo-arenoso adensado (presença
3 argiloso siltosa ou areia
claro de lente de areia a
argilosa.
13,5m)
solo fino sensível
Camada argila orgânica argila ou argila
2,30 a 3,30 argiloso ou argila a material argila a argila siltosa
1 siltosa muito mole orgânica mole
orgânico
Ponto 3 argiloso com argila ou argila
argila a argila siltosa/
(Pré-furo Camada argila orgânica duas lentes de argila a argila siltosa,
3,30 a 10,20 normalmente
de 2 siltosa muito mole material mais siltosa normalmente
adensada
2,30 m) resistente adensada
argila a argila argila siltosa
Camada Argila com areia fina silte argiloso a
10,20 a 11,68 argiloso siltosa/normalmente normalmente
3 muito mole argila siltosa
adensada adensada.
87
Tabela 6-1 – Tabela resumo com as propostas analisadas e classificação adotada (cont.)
Adotado pelo
sondagem à Análise Robertson et al.
Identificação do ensaio Robertson (1990) autor deste
percussão preliminar (1986)
trabalho
Profundidade Classificação do
Ponto Camada Tipo de comportamento do Solo
(m) sondador
argila ou argila
argila/silte
Camada argila siltosa muito argila a argila siltosa mole,
Ponto 5D 1,80 a 4,00 argiloso argiloso/normalmente
1 mole siltosa normalmente
(Pré-furo adensada
adensada
de
argila siltosa muito areia limpa a areia
1,80 m) Camada areia limpa a areia Areia ou uma areia
4,00 a 13,29 mole/areia(fina a arenoso siltosa/normalmente
2 siltosa siltosa
média) pouco siltosa adensada
argila ou uma
argila siltosa com argila a argila siltosa/
Camada argila a argila argila siltosa
3,00 a 4,75 areia fina, com mica argiloso normalmente
1 siltosa normalmente
e turfa adensada
adensado mole
Argila siltosa a silte argila siltosa ou
argila siltosa a silte
argiloso/normalmente silte argiloso com
Ponto 8 Argila siltosa com argiloso com uma
adensada e uma uma subcamada
(Pré-furo Camada areia fina com mica/ argiloso com subcamada (prof
4,75 a 12,00 subcamada (prof (prof. 11,00 a
de 2 areia média com lentes de areia 11,00 a 12,00 ) de
11,00 a 12,00 ) de 12,00 ) de areia
3,0 m) mica areia limpa a areia
areia limpa a areia limpa ou areia
siltosa.
siltosa siltosa
argila ou argila
argila a argila siltosa/
Camada Argila siltosa com silte argiloso a siltosa
12,00 a 15,07 argiloso normalmente
3 areia fina com mica argila siltosa normalmente
adensada
adensada

88
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93
8. Anexo

8.1. Boletins de Sondagem do Ponto 2

94
95
96
97
98
99
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8.2. Boletins de Sondagem do Ponto 3

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8.3. Boletins de Sondagem do Ponto 5D

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8.4. Boletins de Sondagem do Ponto 8

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