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A CONSTITUCIONALIDADE DO NOVO
REGULAMENTO DISCIPLINAR DO EXÉRCITO
Curriculum do autor:
Alcionir Urcino Aires Ferreira é Bacharel em Direito e em Economia pela
Universidade Católica de Brasília, especialista em Direito Penal e Direito Militar. É
Subtenente do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. Foi instrutor de Direito
e Legislação no Centro de Formação, Aperfeiçoamento e Especialização de Praça
do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. É membro fundador da
Associação dos Militares Bacharéis em Direito (AMBD) e do Fórum Nacional
Permanente de Praças dos Corpos de Bombeiros e Polícias Militares do Brasil
(FONAP).
1 – Introdução
status de outra norma, como o que ocorreu com o Código Penal Militar editado por
meio do Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969, passou a figurar como lei
ordinária, dentre tantas outras normas que sofreram o mesmo processo.
O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT, em seu
artigo 25, preconiza o seguinte: “Ficam revogados, a partir de cento e oitenta dias da
promulgação da Constituição, sujeito este prazo a prorrogação por lei, todos os
dispositivos legais que atribuam ou deleguem a órgão do Poder Executivo
competência assinalada pela Constituição ao Congresso Nacional, especialmente no
que tange a: I - ação normativa;”
Como se afere do dispositivo supra, a Constituição impede o Poder
Executivo de criar leis (esta em sentido estrito), recaindo exclusivamente sobre o
Congresso Nacional tal competência.
Os decretos presidenciais, tais quais os regulamentos disciplinares,
que não contrariaram o texto constitucional, passaram a ter força de lei ordinária por
estarem em consonância com os ditames da Constituição nova.
O artigo 74 do Regulamento Disciplinar do Exército, instituído por meio
do Decreto Presidencial nº 4.346, de 26 de agosto de 2002, ao revés do preconizado
pela Carta Magna, revogou o Regulamento anterior (Decreto 90.608/84). Observa-se
que o caminho correto a ser utilizado seria a edição de lei ordinária, com as
formalidades impostas pelo texto constitucional para sua elaboração.
4 – Conclusão
anterior adquiriu força de lei ordinária, portanto, somente podendo ser revogado ou
alterado com a mesma norma.
Mesmo no direito administrativo disciplinar militar vigem os princípios
da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e da eficiência, além dos
demais que circunscrevem o direito administrativo em geral.
Criar ou extinguir direito por meio de ato administrativo, como
perpetrado pelo decreto em debate, fere o princípio da legalidade. Não é demais
relembrar a teoria de Montesquieu acerca da tripartição dos poderes (embora uno),
teoria esta esposada pela Constituição Pátria, tendo como principal característica o
equilíbrio e a segregação de cada poder da União, com suas funções e
características peculiares.
Não há, portanto, supedâneo jurídico, na legislação moderna, fundada
na Constituição Federativa, para que o Chefe do Poder Executivo, em qualquer das
esferas, que possa criar ou extinguir direitos ou obrigações por meio de decreto.
Toda norma deve observar os princípios constitucionais. Estando, portanto, em
dissonância com a Carta Magna, in caso com os princípios da legalidade e da
reserva legal, não há que prosperar o Decreto 4.346/2002. Assim, entende-se que o
Decreto 90.608/84 não sofreu (nem pode sofrer) alteração por meio de ato do Chefe
do Poder Executivo, conforme preceitos e interpretações constitucionais.
Equivocada, portanto, a decisão da Corte Suprema ao ponderar pela
constitucionalidade do Decreto Presidencial que estabeleceu o novo Regulamento
Disciplinar do Exército.
BIBLIOGRAFIA
ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar: comentários, doutrina,
jurisprudência dos tribunais militares e tribunais superiores. 6. ed. Curitiba: Joruá,
2010.
ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Direito administrativo militar: Teoria e Prática. 3. ed.
Rio de Janeiro: Líder, 2007.
Alcionir Urcino Aires Ferreira