Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
APRESENTAÇÃO DO TEMA
Francisco Mignone (1897-1986) foi uma das figuras mais versáteis do cenário musical
brasileiro do século XX pela sua intensa atuação como compositor, regente, pianista e
professor. Embora sua produção para piano seja mais difundida, sua obra para violão não é
menos importante.
Seu primeiro interesse pelo violão, em 1953, resultou na composição de quatro pequenas
peças. Tudo indicava que Mignone não voltaria a escrever para o instrumento, conforme
declaração do compositor, de 1968:
Confesso que não sou muito admirador do violão, devido àquele negócio
de escorregar o dedo na corda, aquele ruído que ninguém consegue tirar,
nem o Segovia. E tem outra coisa, o violão é um instrumento simpático
durante vinte minutos, depois começa a ficar cansativo.1
Dois anos após essa entrevista, o compositor travaria contato com o virtuose brasileiro
Carlos Barbosa-Lima, o que talvez o fizesse rever seus conceitos. Francisco Mignone (aos
73 anos de idade) surpreende ao compor o ciclo 12 Estudos Para Violão, que foram
publicados em 1973 pela editora norte-americana Columbia Music Company. Porém, talvez
em virtude dos altos desafios técnicos que esses Estudos apresentam, não são obras tão
freqüentes no repertório dos violonistas.
PROBLEMAS DA PESQUISA
1
Trecho de depoimento dado no dia 15/10/1968 para o Museu da Imagem e do Som, Rio de Janeiro.
2
decidiu caminhar pela contramão da vanguarda, escrevendo música nacionalista tonal,
como no ciclo de 12 Estudos Para Violão?
Francisco Mignone não escreveu muitas obras em forma de Estudo – conhecemos apenas
três ciclos: Seis Estudos Transcendentais (para piano, 1931), 12 Estudos para Violão
(1970) e 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudo (1970). Qual a concepção dessa forma
para o compositor ao escrever para violão?
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS
3
3. listar as diferenças entre os manuscritos (1970) e a edição da Columbia Music
Company (1973), fornecendo dados a futuros intérpretes sobre controvérsias existentes
na edição Columbia como fonte importante para um referencial interpretativo
adequado, como mudanças de notas, harmonias, dinâmica, andamento, agógica, direção
de fraseados, o nível de tensão exigido para determinadas frases;
4. oferecer referências no aspecto da prática interpretativa tanto para aqueles que já
conhecem os 12 Estudos quanto para aqueles que poderão vir a estudar essa obra;
5. realizar execuções públicas e registro em CD da integral desta obra.
HIPÓTESES
Os 12 Estudos Para Violão de Francisco Mignone não têm sido executados porque o
compositor sempre ficou em segundo plano em relação a Heitor Villa-Lobos para os
historiógrafos da música brasileira, acarretando, portanto, um grave problema, pois quase
todo compositor brasileiro é hoje mais conhecido pelo nome do que pela sua música. Uma
outra possibilidade refere-se ao fato de que os violonistas estavam imersos no esnobismo da
música de vanguarda e evitavam abordar obras tonais e de caráter nacionalista, ou também
à questão de que a técnica violonística sofreu avanços nos últimos vinte anos, e os Estudos
de Mignone estavam acima do padrão médio na época em que foram publicados.
As concepções da forma Estudo para Francisco Mignone ao escrever para violão parecem
girar em torno do uso de tonalidades e regiões incomuns, aberturas e extensões; formas
características brasileiras (chôro, frevo, maxixe), estilo de estudos de concerto
(padronização de elementos técnicos – nº 1, 2, 4, 6, 8, 9, 12) e transcendentais (mistura de
técnicas – nº 3, 5, 7, 10, 11).
4
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E QUADRO TEÓRICO
Para a formação do nosso quadro teórico, serão utilizados textos de Ferguson & Hamilton
(The New Grove Dictionary of Music and Musicians) para um histórico da forma Estudo;
Karl Manheim (Ideologia e Utopia) e Marilena Chauí (O que é Ideologia) para identificar
os problemas ideológicos que permeiam a historiografia da música brasileira.
SUMÁRIO PROVISÓRIO
5
BIBLIOGRAFIA INICIAL
FERGUSON, H. & HAMILTON, K.L. “Study”. In: The New Grove Dictionary of Music
and Musicians. New York: Macmillan Publishing, 1980.
MARIZ, Vasco, ed. Francisco Mignone: o Homem e a Obra. Rio de Janeiro: Funarte, 1997.
MARQUES, Thais Maura. Seis Estudos Transcendentais para Piano de Francisco Mignone:
Análise e Edição Crítica. Dissertação de Mestrado apresentada à UFMG, Belo Horizonte,
2001.
6
MIGNONE, Francisco. A Parte do Anjo: Autocrítica de um Cinqüentenário. São Paulo,
Mangione, 1947.