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13 Setembro
O Direito das Contra-ordenações é um Direito sancionatório público, que ao lado do Direito
Penal e do Direito Processual Penal, está em todo o lado, especialmente no plano económico.
Fala-se do Estado regulador e numa grande regulação económica – isto dá uma importância
enorme prática e uma dificuldade prática e teórica muito relevante. É o sector onde o Estado
mostra as suas unhas. O Estado do Direito está em perigo, na opinião do prof. JOSÉ LOBO
MOUTINHO.
17 Setembro
Evolução das contraordenações
Reflexo da relação estado – economia – daí ter surgido num momento histórico específico:
no Iluminismo esclarecido; porque surge uma concepção política que r clama uma nova
noção de Homem e sociedade e tinha como fim alterar o antigo esquema do direito nacional
(que tinha como base as estruturas jurisdicionais da idade média) e para isso precisávamos
de um poder administrativo central e a administração tinha de ter poder punitivo para
assegurar a sua posição na sociedade.
Implantado em PT pelo Marquês de Pombal – imitação do despotismo austríaco. Surgiu com
a criação de um órgão administrativo central, dependente do rei, com poder punitivo que foi
retirado às estruturas institucionais tradicionais.
Jurisdição contenciosa fica com os magistrados e a jurisdição de polícia é uma fração
entregue a um órgão administrativo novo e independente do rei.
Ideologia a seguir – liberalismo, intervenção do estado apenas para funções essenciais;
estado tem de assegurar a justiça e a defesa e a liberdade individual tem de funcionar, mas
enquanto estado liberal não intervém a nível penal ; no Código Penal de 1852 e 1886 surge a
noção de contravenção; estas infrações têm natureza penal, ao lado dos crimes, submetidas
aos princípios do direito penal, julgadas por um tribunal independente; direito penal
administrativo/direito de policia reinserido no direito penal; as noções eram distinguidas
qualitativamente (crime ou delito e contravenção (“infrações de crime de perigo abstrato”)) +
também submetidas aos processo penal geral.
Com o estado social de direito tudo muda – estado intervém para equilibrar os resultados
mecânicos do mercado; estado social ou socialista; reequilibra camadas sociais e forças
económicas; o velho direito penal administrativo volta a surgir como arma para a intervenção
do estado – o sistema foi administrativizado, mas não era aplicado o direito penal; mantêm
os conceitos mas o sistema não correspondia ao código penal.
Eduardo Correia, que estudou na Alemanha, fez projecto do código Penal com base no que
se fazia na Alemanha – tendências nazis, em que Schmidt criou uma nova figura, diferente
dos crimes – onde surgem as contraordenações e desaparecem as contravenções.
Portanto, quando EC (ministro da justiça) reformula o CP em 1979, introduz esta nova figura,
com diploma próprio, completamente distintas de direito penal (coimas e sanções
acessórias). Foi um diploma sem sucesso porque não tinha infrações em especial, só parte
geral do código penal e processo. Como se distinguia as contravenções das transgressões?
Ficou sem objecto. Problemas de aplicação da lei no tempo: contravenção transforma-se em
contraordenacao, vazio legal para actos anteriores.
DL 433/82 – regime geral das contraordenações, com grande intervenção de Figueiredo Dias;
não há nenhuma norma que preveja uma contra-ordenação; o legislador não fez nenhuma
cláusula de transformação de contravenção para contra-ordenação, mas distingue os crimes
das contra ordenações formalmente – é contra-ordenação quando lei sanciona com coima
(processo de conversão que durou vários anos).
A legislação geral foi alterada diversas vezes – mas 2 ocasiões em especial: 1989 (legislador
aposta nas coimas e sanções acessórias/ de inibição) e 1995 (legislador recalibra o regime
porque as coimas estavam demasiado pesadas; equilibra garantias processuais com a
gravidade das contra ordenações).
Já não se trata de um estado intervencionista mas antes de um estado regulador –
monitoriza os mercados e pune.
Ilícito de mera ordenação social é consequência da intervenção do estado na economia como
agente económico ou sem o ser.
Traços gerais das C-O
Direito substantivo – tão próximo de crimes e penas que mal se distingue; a estrutura
e regulamentação são muito próximas do direito penal substantivo; crimes e contra-
ordenação + as penas, coimas e sanções acessórias
Direito processual – completamente diferente; processo administrativo em que
compete às autoridades administrativas promover e decidir o processo, condenando-
o; pode haver impugnação (híbrido entre recurso e julgamento penal de 1ª instâncias)
Qual é o critério material que distingue crime de contra-ordenação? Surge aqui o problema
da competência e reservas de jurisdição.
Próxima Aula: teoria do Eduardo Correia vs Cavaleiro Ferreira vs Figueiredo Dias vs Nuno
Brandão vs Alexandra Vilela vs Lobo Moutinho sobre o que é uma contra ordenação e o que
as distingue dos crimes
24 Setembro
Eduardo Correia – questão de ressonância ética; diferem por um critério ético jurídico; éticas,
graves, justificam penas graves vs eticamente neutras; consequência do estado social, os
seus fins foram alargados e há uma necessidade de concretizar o bem estar da sociedade;
consequências nas sanções; retribuicionista – pena como censura ético-jurídica do
comportamento; coimas têm apenas natureza social
Figueiredo Dias – autonomia material do ilícito: tem de ter associado uma proibição legal
para ser ilícito de mera ordenação social; ilícito nunca é neutral, só antes de ser proibida; só
depois de ser proibida se torna ilícito; diferença de quantidade que se torna de qualidade;
critério é o mesmo, mas se é proibido não pode ser ético ou axiologicamente neutrais (para
as contra ordenações); diferença feita em face da infracção
Cavaleiro Ferreira – olha para os critérios formais e diz que é uma diferenciação meramente
formal e que a tentativa das teorias qualitativas é meramente artificial; não há diferença de
dignidade penal ou entre bens jurídicos penais; há uma diferença quantitativa; são ambos
ilícitos criminais e todas devem ser sujeitas ao mesmo regime do direito penal; consequência
drástica das possíveis inconstitucionalidades; todos têm ressonância ética
Alexandra Vilela – há 2 tipo contra ordenações – com (há zonas cinzentas, que requerem
uma análise do plano social e das consequências da infração, e com base na aplicação dos
política criminal e criminologia; divergem dos crimes porque não têm carência de tutela
penal) e sem dignidade penal (divergem dos crimes pela falta de dignidade penal, próximas
do direito penal administrativo; teoria onto-ontológica do Dr. Faria Costa – ver quais são os
bens essenciais para a convivência em sociedade e analisar se o bem é ou não essencial)
Lobo Moutinho – não há distinção entre as infrações; pedra de toque colocada na actividade
da administração: há sectores de actividade que comportam um grande risco para certos
bens jurídicos e que carecem de autorização para serem desenvolvidos (como as licenças
rodoviárias); limitação do poder sancionatório da administração – fundamental é explicar o
poder sancionatório da actividade administrativa; são regimes diferentes; há certos setores
de actividade reservada que requerem autorizações de autoridades em especial que têm o
poder de fiscalizar e retirar licenças, etc.; não podem ser contra-ordenações infracções a
bens jurídicos penalmente tuteláveis, para reservar a existência de um direito penal; Se não
há sectores de administração privada então a administração não pode punir
Aliud/ contra ordenações não são do mundo penal, são outra coisa
Minus/ essencialmente diferentes dos crimes
Diferentes posições:
Há uma diferença a nível substantivo:
- Aliud:
Distinção ético social quanto à infração
o Diferença entre ilícitos – Eduardo Correia
o Diferença entre condutas, independentemente de ser proibida – Figueiredo
Dias
Distinção quanto à sanção – Nuno Brandão
Distinção quanto à infração da Alexandra Vilela
- Minus: É uma infracção da natureza penal, é só qualitativa ou quantitativamente menos
grave e portanto deviam estar sujeitas ao regime penal – Cavaleiro Ferreira
Há uma relevância a nível da autoridade administrativa – é um aliud mas não com base na
infracção; são indistinguíveis portanto o que é que justifica um regime diferente? Lobo
Moutinho – não percebi posição dele; prof. diz que há contra ordenações inconstitucionais
Lex certa:
Acórdão TC
o Não há mesmo nível de exigência
o 29º CRP não se aplica diretamente às contra ordenações
o Mas direito sancionatório que recai sobre direitos fundamentais é abrangido
pelas garantias constitucionais
o Técnicas de remissão 112º/6
Norma remissiva não pode ser vazia quanto à orientação de
comportamentos e previsão de factos; dano que se pretende evitar
Duas vertentes do princípio da lex certa
o Tipicidade do ilícito/do facto
Diverge do sistema do código penal – quem fizer x é punido com y
Nas contra-ordenações – é obrigatório x; quem violar x é punido com y
Acórdão 388/03 – LER
É sempre uma exigência relativa
Não tem de definir facto concreto, só facto descrito ainda que
abstractamente art. 2º RGCO, 1º CP
Temos de usar um critério de razoabilidade
o Tipicidade da sanção
Acórdão da Joana - Limite máximo e mínimo são muito amplos, mas
tribunal diz que é necessário para acompanhar diferentes níveis de
culpa possíveis naqueles tipos de infrações
Regime geral estabelece limites máximos das coimas aplicáveis
às pessoas colectivas 600 ou 1200 vezes superior aos limites
mínimos
Limites fixados, não estabelecimento de coima indeterminada
Acórdão TC 547/01 – limites muito amplos, indefinidos e arbitrários;
viola proporcionalidade e Justiça
Função essencial dos limites punitivos – estabelecer um
enquadramento genérico para as contraordenacoes
Liberdade de conformação do legislador na tipificação de
contra ordenações e na fixação dos limites das coimas
aplicadas
Desproporção entre os limites máximos e mínimos – análise em
termos absolutos
Não se pode confundir o plano de fixação da espécie de sanção
e dos limites com o plano da amplitude desses limites
O legislador não pode estabelecer limites de tal forma amplos
que acabe por remeter a sua função para o julgador
Risco de decisões abusivas ou de carácter persecutório
Confronto com Principio da culpa
Em causa previsibilidade da sanção, ainda que haja critérios de
formulação
Conclui pela violação do princípio da legalidade da sanção
Quando lei de c-o (CMVM) não prevê aplicação para crimes
negligentes, entende-se que é metade da coima para infração
dolosa
Acórdão 41/2004
Regime geral das instituições de crédito e sociedades
financeiras - Mil euros a 1 milhão de euros
Aqui tribunal já aceita
Arrasa com acórdão 547/01
Maioria do RGCO: máximos são muito altos
Problema de grau sem resposta imediata
É de admitir margem de decisão legislativa
11 Outubro
Proposta:
Distinguir pelo tipo e não pela sanção aplicável (mesma lógica dos crimes simples,
privilegiados, qualificados)
Posição possível - Legislador estabeleceu o máximo das coimas sem se preocupar com
o benefício económico a que cada contraordenação poderia estar associado, mas da
gravidade e culpa associado à infração; para este critério recorremos ao 18/2 que
surge num sentido de reposição da situação, que pode ir ate mais 1/3 do máximo da
coima estabelecido para cada contra-ordenação – sistema separado?
Então como se estabelece a “moldura”? Fins das penas; mas há infrações muito
graves com pouco benefício e há infrações menos graves com grandes benefícios;
portanto, quais são os critérios para estabelecer máximo e mínimo?
As coimas foram sendo progressivamente elevadas; há legislações que nem põem
limite concreto (põem percentagens); é um problema de proporcionalidade e não de
legalidade; o problema de haver margens muito amplas é o campo de decisão largo
que se deixa para o tribunal
Quando estabelece limites tem em conta a gravidade e o benefício do agente – o que
justificaria a margem de amplitude entre o limite máximo e mínimo
Única objeção seria à constitucionalidade – é a objeção da determinação concreta e
possível dos benefícios patrimoniais
Limites grandes são muitas vezes acompanhados de critérios que ajudam a delimitar a
medida concreta da coima e acabam por acompanhar o 18/2 do regime geral
Discussão sobre se as coimas elevadíssimas não deviam ser na verdade multas
Ac. 547/2001 – refere que uma coima baixa não é uma coima; coimas não podem ser
tais que correspondam a um limite mínimo muito leve nem limite máximo muito
grave porque isso implica arbitrariedade sobre gravidade relativa da infração
Professor mais a favor da inconstitucionalidade do que constitucionalidade disto
Ver acórdão 2016 sobre regime jurídico da concorrência – estabelece máximo
segundo volume dos negócios
Acórdão 221/2007 sobre aplicação no tempo