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NOTAS RESUMIDAS DAS FASES E FORMAS DE PROCESSO

DECLARATIVO COMUM

E APONTAMENTOS CPC

FASE DA CONDENSAÇÃO

77. Função da fase


Realiza duas funções primordiais: uma respeitante aos aspectos jurídico-
processuais da acção e uma outra relativa ao seu objectivo. Naquela primeira
função, cabe a verificação da regularidade do processo e, sempre que
possível, a sanação das excepções dilatórias e das nulidades processuais: é a
função de saneamento. Na segunda, inclui-se o convite à correcção e ao
aperfeiçoamento dos articulados e a determinação das questões de facto a
resolver: é a função de concretização.
A função de saneamento visa resolver os impedimentos à apreciação do
mérito da acção e sanar as nulidades processuais e a função de concretização
permite delimitar as questões de facto relevantes para a decisão da causa.

78. Despacho pré-saneador


É proferido pelo juiz sempre que importe obter a sanação das excepções
dilatórias (art. 508º/1-a CPC) ou a convidar as partes ao aperfeiçoamento ou à
correcção dos articulados das partes (art. 508º/1-b CPC).
Ao Tribunal incumbe providenciar, mesmo oficiosamente, pelo suprimento
da falta de pressupostos processuais susceptíveis de sanação, quer
determinando a realização dos actos necessários à regularização da instância,
quer convidando as partes a praticá-los (art. 265º/2 CPC). Se o Tribunal ainda
não tiver promovido essa sanação (tal como permite o art. 265º/2 CPC), o
momento adequado para o fazer é o despacho pré-saneador (art. 508º/1-a
CPC).
O Tribunal pode utilizar o despacho pré-saneador para convidar as partes,
dentro de prazos por ele fixados (art. 508º/2 e 3 CPC), a corrigirem ou a
aperfeiçoarem os seus articulados (art. 508º/1-b CPC). Este despacho nunca é
recorrível (art. 508º/6 CPC).
São de dois tipos os vícios de que podem padecer os articulados das
partes: a irregularidade e a deficiência. O articulado é irregular quando não
observe os requisitos legais ou quando não seja acompanhado de documento
essencial ou de qual a lei faça depender o prosseguimento da causa (art.
508º/2 CPC).
O articulado é deficiente quando contenha insuficiências ou impressões
na exposição ou concretização da matéria de facto (art. 508º/3 CPC), isto é,
quando nele se encontrem todos os factos principais ou a sua alegação seja
ambígua ou obscura. A deficiência respeita, por isso, ao conteúdo do articulado
e à apresentação da matéria de facto; esse vício pode traduzir-se, por exemplo,
na insuficiência dos factos alegados ou em lacunas ou saltos na sua exposição.
Os factos alegados pela parte para o suprimento dessa deficiência não
podem implicar uma alteração da causa de pedir ou da defesa anteriormente
apresentadas (art. 508º/5 CPC) e, por isso, o réu não pode deduzir no novo
articulado uma reconvenção que anteriormente não formulara.

79. Audiência preliminar


É marcada pelo Tribunal para os 30 dias subsequentes ao termo da fase
dos articulados, ao suprimento das excepções dilatórias ou à correcção ou
aperfeiçoamento dos articulados (art. 508º-A/1 proémio CPC). O despacho que
a convoca deve indicar o seu objecto e finalidade (que é qualquer das previstas
no art. 508º-A/1 CPC), mas não exclui a possibilidade de o Tribunal conhecer
do mérito da causa no despacho saneador (arts. 508º/3; 510º/1-b CPC).
Se a audiência preliminar for convocada, a falta das partes ou dos seus
mandatários não constitui motivo do seu adiamento (art. 508º-A/4 CPC). A falta
do mandatário pode reflectir-se, de modo significativo, na defesa dos interesses
do seu constituinte, pelo que é susceptível de o fazer incorrer em
responsabilidade perante a parte (art. 83º/1-d EOA).
A audiência preliminar é dispensável quando, destinando-se à fixação da
base instrutória, a simplicidade da causa não justifique a sua convocação (art.
508º-B/1-a CPC)
A audiência preliminar também é dispensável quando a sua realização
tivesse por finalidade facultar a discussão de excepções dilatórias (art. 508º-
A/1-b CPC) e estas já tenham sido debatidas nos articulados, a sua apreciação
se revista de manifesta simplicidade (art. 508º-B/1-b CPC) ou, segundo um
outro critério legal, a sua discussão prévia seja manifestamente desnecessária
(art. 3º/3 CPC).

80. Finalidades essenciais


A audiência preliminar realiza-se com as seguintes finalidades essenciais,
muitas das quais encontram a sua justificação no princípio da cooperação
recíproca entre o Tribunal e as partes (art. 266º/1 CPC):
- Tentativa de conciliação das partes (art. 508º-A/1-a CPC);
- Discussão e produção de alegações pelas partes, se o juiz tiver de
apreciar excepções dilatórias que as partes não hajam suscitado e discutido
nos articulados ou tencionar conhecer, no todo ou em parte, do mérito da
causa no despacho saneador (art. 508º-A/1-b CPC);
- Discussão das posições das partes, com vista à delimitação do litígio, e
suprimento das insuficiências ou imprecisões na exposição da matéria de
facto que ainda subsistam ou se tornem patentes na sequência do debate
(art. 508º-A/1-c CPC);
- Proferimento do despacho saneador (art. 508º-A/1-d CPC);
- Finalmente, se a acção tiver sido contestada, selecção, após debate, da
matéria de facto relevante para a apreciação da causa e decisão sobre as
reclamações deduzidas pelas partes contra ela (art. 508º-A/1-e CPC).
A audiência preliminar prossegue, assim, múltiplas funções: as principais
são as da conciliação das partes, de audição prévia das partes, de saneamento
do processo, de concretização do objecto do litígio e de selecção da matéria de
facto (art. 508º-A/1-a, b, c, d, e CPC).

81. Concretização do litígio


Visa-se atingir com essa função uma dupla finalidade: por um lado,
procura-se circunscrever as divergências entre as partes, distinguindo-se aquilo
que é essencial do que é acessório nas suas posições; por outro, pretende-se
evitar que as insuficiências e imprecisões dos articulados na exposição da
matéria de facto possam criar uma realidade processual distinta da verdade
das coisas.
Para a delimitação do objecto do litígio relevam elementos de direito e de
facto. Quanto àqueles primeiros, é sempre admissível uma modificação da
qualificação jurídica que seja compatível com os factos alegados pelas partes.
Relativamente aos elementos de facto, o problema que se coloca é o de
saber se a discussão realizada para a delimitação do objecto do litígio pode ser
acompanhada da modificação da causa de pedir. A resposta é positiva, mas
não há qualquer motivo para entender que tal modificação deva ser admitida
fora das condições legalmente previstas, isto é, para além dos casos
enquadráveis na previsão do art. 272º CPC (quanto à modificação consensual)
e 273º CPC (quanto à alteração unilateral).

82. Selecção da matéria de facto


Escolher os factos que se devem considerar assentes e aqueles que
devem ser julgados controvertidos: também esta importante tarefa se cumpre
na audiência preliminar (art. 508º-A/1-e CPC). Quanto a esta selecção, a
audiência visa não só prepará-la, mas também realizá-la efectivamente. A
conjugação do disposto no art. 508º-A/1-e CPC, com o estabelecido no art.
511º/1 CPC, poderia levar a entender que a selecção da matéria de facto seria
realizada pelo juiz depois da audiência preliminar, isto é, poderia conduzir ao
entendimento de que essa audiência visaria somente a preparação da selecção
a realizar posteriormente pelo juiz.
A selecção da matéria de facto não pode conter qualquer apreciação de
direito, isto é, qualquer valoração segundo a interpretação ou a aplicação da lei
ou qualquer juízo, indução ou conclusão jurídica.

83. Finalidades acessórias


Sempre que a audiência preliminar se deva realizar, ela prossegue
complementarmente as seguintes funções:
- A indicação pelas partes dos meios de prova e a decisão sobre a
admissão e preparação das diligências probatórias, salvo se alguma das
partes requerer a sua apresentação posterior (art. 508º-A/2-a CPC);
- Se o processo estiver em condições de prosseguir para julgamento (se o
processo não dever terminar no despacho saneador, art. 510º/1 CPC), a
designação da data de realização da audiência final (art. 508º-A/2-b CPC) e,
em certas acções não contestadas, a solicitação da intervenção do Tribunal
colectivo (art. 646º/2-a CPC);
- Finalmente, a apresentação do requerimento da gravação da audiência
final (art. 508º-A/2-c; arts. 522º-B e 522º-C CPC).
Conjuntamente com a indicação dos meios de prova (art. 508º-A/2-a CPC),
as partes, quando não pretenderem provar os próprio facto principal
seleccionado na base instrutória, têm o ónus de indicar os factos instrumentais
que desejam utilizar para a prova desse facto. Isto é, como todas as provas
constituendas exigem a preferência do facto com que se pretende provar com
elas (arts. 552º/2; 577º/1; 612º e 633º CPC), a parte, se não quiser demonstrar
com essas provas o próprio facto principal seleccionado, tem o ónus de alegar
os factos instrumentais que pretende demonstrar com a prova requerida.
Uma outra finalidade acessória da audiência preliminar é o exercício do
contraditório. Se, em virtude da limitação legal do número de articulados,
alguma das partes não puder responder a uma excepção deduzida no último
articulado admissível, ela pode responder à matéria desta na audiência
preliminar (art. 3º/4 CPC).
84. Despacho saneador
O despacho saneador pode apreciar tanto os aspectos jurídico-processuais
da acção, como o mérito desta (art. 510º/1 CPC). Nestas funções atribuídas ao
despacho saneador, a apreciação daqueles aspectos constitui a sua finalidade
primária e o seu conteúdo essencial, enquanto o conhecimento do mérito é
uma finalidade eventual. O julgamento do mérito realiza-se normalmente na
sentença final (art. 658º CPC), pelo que quando o estado da causa o permitir
(art. 510º/1-b CPC), ele pode ser antecipado para o despacho saneador.
O despacho saneador destina-se, antes de mais, a verificar a
admissibilidade da apreciação do mérito e a regularidade do processo (art.
510º/1-a CPC); havendo toda a vantagem em que o controlo dessa
admissibilidade não seja relegada para uma fase adiantada da tramitação da
acção, é ela que justifica a atribuição daquela função de saneamento àquele
despacho.
O momento do proferimento do despacho saneador depende da tramitação
da causa em concreto. Se não houver que proceder à convocação da
audiência preliminar (art. 508º-B/1 CPC), o despacho saneador é proferido no
prazo de 20 dias a contar do termo da fase dos articulados (art. 510º/1 proémio
CPC).
No despacho saneador, o Tribunal deve conhecer das excepções dilatórias
e das nulidades processuais que haja sido suscitadas pelas partes ou que, face
aos elementos constantes dos autos, deva apreciar oficiosamente (art. 510º/1-a
CPC). Quanto àquelas nulidades, o Tribunal pode apreciar oficiosamente a
ineptidão da petição inicial, a falta de citação, o erro na forma do processo e a
falta de vista ou exame ao Ministério Público como parte acessória (art. 202º
CPC). mas estas nulidades só são apreciadas no despacho saneador se o
Tribunal ainda não tiver conhecido delas (art. 206º/1 e 2, 1ª parte CPC).
Também as nulidades que não são de conhecimento oficioso deverão ser
julgadas logo que sejam reclamadas (art. 206º/3 CPC), pelo que a sua
apreciação não se realizará, em regra, no despacho saneador.
Quando o despacho saneador conheça de uma excepção dilatória ou de
uma nulidade processual, ele só adquire força de caso julgado formal quanto
às questões concretamente apreciadas (art. 510º/3 1ª parte CPC). Assim,
apenas o julgamento concreto sobre a inexistência de uma excepção ou
nulidade impede que essa matéria possa voltar a ser apreciada no processo
pendente (art. 660º/1 CPC).
Pelo contrário, a referência genérica no despacho saneador à inexistência
de qualquer excepção dilatória ou nulidade processual não adquire força de
caso julgado (art. 510º/3, 1ª parte CPC) e, por isso, não impede que o Tribunal
venha a apreciar, na sentença final, uma dessas excepções ou nulidades (art.
660º/1 CPC).
A apreciação do mérito e o proferimento da decisão sobre a sua pendência
ou improcedência é realizada, em regra, na sentença final (art. 658º CPC).
Mas, em certas condições, essa apreciação pode ser antecipada para o
despacho saneador: Tribunal pode conhecer do mérito da acção nesse
despacho sempre que o estado do processo permita, sem necessidade de
mais provas, a apreciação do pedido, de algum dos pedidos cumulados, do
pedido reconvencional ou ainda da procedência ou improcedência de alguma
excepção peremptória (art. 510º/1-b CPC). Neste caso, o despacho saneador
fica tendo, para todos os efeitos, o valor de sentença (art. 510º/3, 2ª parte CPC)
e dele cabe recurso de apelação (art. 691º/1 CPC).
Nas condições referidas no art. 288º/3 CPC, o Tribunal pode conhecer do
mérito ainda que verifique que falta um pressuposto processual. Esta situação
será certamente mais frequente no despacho saneador do que na sentença
final, dado que são raras as situações em que a falta do pressuposto se
detecta apenas na fase da sentença ou em que a sua apreciação é relegada
para esse momento (art. 510º/4 CPC).
FASE DA INSTRUÇÃO

85. Função da fase


Os factos incluídos na base instrutória, porque são controvertidos ou
porque nele foram inseridos por iniciativa do Tribunal (art. 264º/2 CPC),
necessitam de ser provados (art. 513º CPC). A fase da instrução realiza uma
função distinta consoante sejam utilizadas para a demonstração desses factos
provas constituendas ou provas pré-constituídas. A produção de uma prova
constituenda é realizada, em regra, na audiência final (art. 652º/3-a, b, c, d,
CPC), mas essa actividade tem de ser previamente preparada: esta é uma das
funções da fase da instrução, na qual são praticados os actos preparatórios da
produção das provas constituendas.

86. Princípios estruturantes


A fase da instrução rege-se pelo princípio da cooperação (art. 266º/1 CPC),
tanto nas relações das partes e de terceiros com o Tribunal (art. 266º/1 e 519/1
CPC), como nas do Tribunal com as partes (art. 266º/4 CPC). Naquele primeiro
aspecto, o princípio da cooperação impõe a todas as pessoas, mesmo que não
sejam partes na causa, o dever de prestar a sua colaboração para a
descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for perguntado, submetendo-
se às inspecções necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os
actos que forem determinados (art. 519º/1 CPC). A recusa de colaboração
implica a condenação em multa, sem prejuízo dos meios coercivos que forem
admissíveis (art. 519º/2, 1ª parte CPC; sobre essa multa, art. 102º-b CCJ).
Este dever de colaboração é independente da repartição do ónus da prova
(arts. 342º a 345º CC), pelo que abrange mesmo a parte que não está onerada
com a prova do facto.
A recusa de colaboração é legítima se esta implicar a violação da
integridade física ou moral das pessoas (art. 519º/3-a CPC).
A actividade de instrução também assenta na colaboração do Tribunal com
as partes da acção (arts. 266º/4; 519º-A/1 CPC).
Apesar de o objecto do processo se encontrar, em geral, submetido à
disponibilidade das partes (arts. 264º/1; e 664º in fine CPC), a instrução
comporta importantes poderes instrutórios do Tribunal. Esses poderes podem
recair sobre factos essenciais, complementares e instrumentais e justificam-se
pela necessidade de evitar que, pela falta de prova, a decisão da causa seja
imposta pelo non liquet (art. 516º CPC; art. 346º CC) e não pela realidade das
coisas averiguada em juízo. Nenhum facto relevante para a decisão da causa
deve ficar por esclarecer.
A actividade de instrução comporta importantes poderes inquisitórios do
Tribunal sobre os factos instrumentais. Segundo o estipulado no art. 264º/2
CPC, o Tribunal pode considerar, mesmo oficiosamente, os factos
instrumentais e utilizá-los na sentença quando resultem da instrução e
julgamento da causa. Uma das consequências destes poderes inquisitórios
sobre os factos instrumentais é a possibilidade de o Tribunal investigar factos
que permitam provar os factos principais que constam da base instrutória (arts.
508º-A/1-e e 508º-B/2 CPC) e que constituem o objecto da instrução (art. 513º
CPC).
O princípio do contraditório (art. 3º/1 a 3 CPC) também releva na instrução
da acção. Assim, as provas não são admitidas (nem produzidas) sem a
audiência contraditória da parte a quem sejam opostas (art. 517º/1 CPC). Essa
contrariedade concretiza-se de modo diferente nas provas pré-constituídas.
Relativamente às provas pré-constituídas, qualquer das partes tem a
faculdade de impugnar tanto a respectiva admissão, como a sua força
probatória (art. 517º/2, 2ª parte CPC).
Quanto às provas constituendas, a parte deve ser notificada, sempre que
não seja relevante, para todos os actos de preparação e produção da prova e é
admitida a intervir nesses mesmos actos (art. 517º/2, 1ª parte CPC).

87. Meios de prova


Os meios de prova podem ser indicados ou requeridos na petição inicial
(art. 467º/2 CPC) e, por analogia, em qualquer outro articulado. Se isso não
tiver acontecido, esses meios devem ser apresentados ou requeridos na
audiência preliminar, salvo se alguma das partes requerer, com motivos
justificados, a sua apresentação ulterior (art. 508º-A/2-a CPC); se essa
audiência não se realizar, os meios de prova devem ser apresentados ou
requeridos nos 15 dias subsequentes à notificação do despacho saneador (art.
512º/1 CPC). Neste mesmo prazo, as partes podem alterar os requerimentos
probatórios que hajam feito nos articulados (art. 512º/1, 2ª parte CPC).
Depois deste prazo, o rol de testemunhas ainda pode ser alterado ou
aditado até 20 dias antes da data da realização da audiência final (art. 512º-A/1
CPC), sendo a parte contrária notificada para usar, se quiser, de igual
faculdade no prazo de 5 dias (art. 512º-A/1 in fine CPC). A apresentação das
novas testemunhas incumbe às partes (art. 512º-A/2 CPC), isto é, o Tribunal
não procede à sua notificação. Meios de prova:
a) Prova por confissão (arts. 552º segs. CPC);
b) Prova documental (arts. 523º segs. CPC)
c) Prova pericial (arts. 568º segs. CPC);
d) Prova testemunhal (arts. 616º segs. CPC);
e) Inspecção judicial (arts. 612º segs. CPC);
f) Apresentação de coisas.
FASE DA AUDIÊNCIA FINAL

88. Função da fase


A fase da audiência final compreende as actividades de produção da prova
(constituenda), de julgamento da matéria de facto e de discussão sobre a
matéria de direito. Como resulta deste enunciado, esta fase realiza duas
funções primordiais – que são a produção da prova e o consequente
julgamento da matéria de facto – e uma função preparatória da sentença final –
que é prosseguida pelas alegações de direito.

89. Princípios estruturantes


Segundo o princípio da imediação, os meios de prova devem ser
apresentados directamente perante o Tribunal, ou seja, o Tribunal deve ter um
contacto directo com esses meios. É este princípio que orienta o disposto no
art. 652º/3 CPC, quanto à realização da prova perante o Tribunal da audiência
final. Sempre que a prova seja transmitida por pessoas, a imediação na
produção da prova implica a oralidade nessa realização.
a) Publicidade
As audiências dos Tribunais são públicas, salvo quando o próprio Tribunal
decidir, em despacho fundamentado, excluir essa publicidade para
salvaguardar a dignidade das pessoas e a moral pública ou para garantir o seu
normal funcionamento (art. 206º CRP; sobre essa publicidade, também art. 10º
Declaração Universal dos Direitos do Homem; art. 14º/1 Pacto Internacional
sobre os Direitos Civis e Políticos; art. 6º/1 Convenção Europeia dos Direitos
do Homem). A audiência final deve ser, com essas mesmas excepções,
públicas (art. 656º/1 CPC).
Mesmo quando a audiência seja pública, a publicidade pode ser excluída
quando se proceda à exibição de reproduções cinematográficas ou de registos
fonográficos (art. 652º/3-b, 2ª parte CPC). Dado que a lei não define os critérios
para a exclusão da publicidade neste caso, deve entender-se que valem
aqueles que se encontram enunciados no art. 206º CRP (bem como no art.
656º/1 CPC).
b) Continuidade
A audiência final é contínua, só podendo ser interrompida por motivos de
força maior, por absoluta necessidade ou nos casos regulados na lei (art.
656º/2, 1ª parte CPC), como sucede naqueles que estão previstos nos arts.
650/4; 651º/3; 654º/2 CPC. Se não for possível conclui-la num dia, o presidente
marcará a sua continuação para o dia útil imediato, ainda que compreendido
em férias, e assim, sucessivamente (art. 656º/2, 2ª parte CPC).
c) Plenitude
Segundo o princípio da plenitude da assistência dos juízes, só podem
intervir na decisão da matéria de facto aqueles que tenham assistido a todos os
actos de instrução e discussão praticados na audiência final (art. 654º/1 CPC).
A violação desta regra origina uma nulidade processual (art. 201º/1 CPC).
Se durante a audiência, algum dos juízes falecer ou se impossibilitar
permanentemente, os actos já realizados são repetidos perante um Tribunal
com uma nova composição (art. 654º/2, 1ª parte CPC). Se a impossibilidade for
temporária, interrompe-se a audiência ou, se parecer mais aconselhável,
repetem-se perante um novo Tribunal os actos já praticados (art. 654º/2, 2ª
parte CPC). Se o juiz for transferido, promovido ou aposentado, conclui-se, em
princípio, o julgamento antes da efectivação dessa deslocação ou
aposentação, excepto se esta se fundamentar na incapacidade física, moral ou
profissional para o exercício do cargo (art. 654º/3, 1ª parte CPC).
d) Documentação
A audiência final e os depoimentos, informações e esclarecimentos nela
prestados são gravados, sempre que alguma das partes o requeira (arts. 508º-
A/2-c, e 512º/1 CPC) ou o Tribunal o determine (art. 522º-B CPC). A gravação
é efectuada por sistema sonoro, excepto quando possa ser realizada por meios
audiovisuais ou semelhantes (art. 522º-C CPC), e abrange a discussão da
causa (art. 652º/1 CPC), a tentativa de conciliação entre as partes (art. 652º/2
CPC), a produção da prova (art. 652/3-a, b, c, d, CPC), os debates sobre a
matéria de facto (art. 652º/3-e; n.º 5 CPC), a leitura do acórdão de julgamento
da matéria de facto e as eventuais reclamações deduzidas pelas partes (art.
653º/4 CPC) e ainda a discussão oral do aspecto jurídico da causa (arts. 653º/5
e 657º CPC). Se algum depoimento houver de ser prestado fora do Tribunal
(art. 652º/4 CPC), também ele deverá ser gravado.
e) Efectivação
A produção da prova orienta-se por um princípio de efectividade, através
do qual se procura evitar que essa actividade se torne impossível por não ter
sido realizada no momento oportuno. Com vista a assegurar a efectividade da
produção da prova, permite-se que, se houver justo receio de vir a tronar-se
impossível ou muito difícil o depoimento de certas pessoas ou a verificação de
certos factos por meio de arbitramento ou inspecção, a produção destas provas
possa ser antecipada ou mesmo realizada antes da propositura da acção (art.
520º CPC). É o que se chama produção antecipada da prova (ou prova ad
perpetuam rei memoriam), que como pressuposto especifico o receio da
impossibilidade ou da dificuldade da realização da prova no momento normal.

90. Tribunal da audiência


A discussão e o julgamento da causa são realizados, em regra, com a
intervenção do Tribunal colectivo (art. 646º/1 CPC). Esse Tribunal é um
Tribunal de círculo (art. 81º/1-b LOTJ) ou uma vara cível (art. 72º LOTJ); onde
não os houver, é competente um Tribunal colectivo strictu sensu (art. 79º-b
LOTJ).
Mas, em certas situações, a audiência final decorre perante um Tribunal
singular. Quanto às situações de revelia inoperante, há que distinguir três
hipóteses:
- Se a revelia for inoperante por qualquer das circunstâncias previstas no
art. 485º-b, c, d, CPC, a audiência final decorre perante o Tribunal singular
excepto se as partes requererem a intervenção do Tribunal colectivo na
audiência preliminar ou nos 15 dias subsequentes à notificação do
despacho saneador (art. 646º/2-a; art. 512º-1 CPC);
- Se a inoperância da revelia resultar da contestação de algum dos
litisconsortes (art. 485º-a CPC), a audiência final realiza-se perante o
Tribunal colectivo (art. 646º/2-a CPC);
- Se a revelia for inoperante porque a citação do réu não foi pessoal (art.
484º/1 CPC), a audiência final decorre perante o Tribunal colectivo (art.
646º/1 CPC).
Se o julgamento for realizado por um Tribunal singular quando deveria ter
intervindo um Tribunal colectivo, é aplicável – diz o art. 646º/3 CPC – o
disposto no art. 110º/4 CPC, do qual resulta que aquela incompetência do
Tribunal singular pode ser suscitada pela partes ou ser conhecida
oficiosamente até ao termo da audiência final. Note-se que, apesar desta
remissão, a incompetência prevista no art. 646º/3 CPC, é, como categoria
processual, totalmente distinta daquela que é regulada pelo art. 110º/4 CPC:
aquela é uma incompetência funcional, porque se refere à distribuição de
poderes dentro do Tribunal competente para a apreciação da acção; esta
última é uma incompetência jurisdicional. Assim, aquela incompetência do
Tribunal singular não conduz à consequência da incompetência relativa (art.
111º/3 CPC), mas à nulidade do acto processual realizado pelo Tribunal
singular, isto é, do julgamento da matéria de facto (art. 201º/1 CPC).

91. Realização da audiência


A audiência inicia-se com a discussão da causa (art. 652º/1 CPC), isto é,
com a apresentação por cada um dos advogados das partes os fundamentos
das suas posições quer quanto à matéria de facto, quer quanto à matéria de
direito. Se o objecto da acção for uma situação disponível, o presidente
procurará conciliar as partes (art. 652º/2 CPC).
Sempre que alguma das partes, em consequência da limitação legal do
número de articulados, não possa responder a uma excepção deduzida pela
outra no último articulado admissível, aquela parte pode exercer o contraditório
no início da audiência final, se não se realizou a audiência preliminar (art. 3º/4
CPC). Produção de prova:
a) Depoimento de parte, a produção de prova começa pela prestação de
depoimento de parte (art. 652º/3-a CPC), quando ele tiver sido ordenado
pelo Tribunal ou requerido pela outra parte, por uma comparte (arts. 552º/1,
e 553º/3 CPC) ou pelo assistente (arts. 339º e 332º/1 CPC).
b) Prova documental, embora deva ser apresentada, em regra, antes da
audiência final (art. 523º/1 CPC), essa audiência é o momento adequado
para a exibição de reproduções cinematográficas ou de registos
fonográficos (art. 652º/3-b, 1ª parte; 527º CPC; arts. 206º CRP, 656º/1
CPC).
c) Prova pericial, o resultado da perícia consta de um relatório (art. 596º/1
CPC), pelo que, em regra, os peritos não são chamados a depor na
audiência final. Mas a presença dos peritos nesta audiência pode ser
ordenada oficiosamente pelo Tribunal ou requerida por qualquer das partes,
para que eles possam prestar os esclarecimentos verbais que lhes forem
solicitados (art. 652º/3-c CPC).
d) Prova testemunhal, as testemunhas são inquiridas na audiência final
(arts. 621º proémio e 652º/3-d CPC), excepto se for requerida a sua
inquirição antecipada (arts. 621º-a e 520º CPC) ou por carta (art. 621º-b
CPC). A parte pode requerer a inquirição da testemunha por carta quando
ela resida fora da área do círculo judicial ou da ilha (art. 623º/1 CPC) ou da
área metropolitana da sede do Tribunal (art. 623º/4 CPC). Contra a prova
testemunhal pode reagir-se por impugnação, contradita ou acareação:
- A impugnação questiona a admissibilidade do depoimento (arts.
636º; 637º CPC), ou seja, tem por fundamento a incapacidade natural ou
a inabilidade legal da testemunha (arts. 616º e 617º CPC);
- A contradita baseia-se na alegação de qualquer circunstância capaz
de abalar a credibilidade do depoimento, quer por efectuar a razão da
ciência invocada pela testemunha, quer por diminuir a fé que ela possa
merecer (arts. 640º; 641º CPC);
- A acareação consiste no confronto das testemunhas, ou das
testemunhas e das partes, cujos depoimentos mostrem uma oposição
directa acerca de determinado facto (arts. 642º; 643º CPC).
e) Debates, após a produção da prova, realizam-se os debates sobre a
matéria de facto (art. 652º/3-e CPC). Estes debates definem um importante
momento na tramitação da acção. Eles marcam o termo ou encerramento
da discussão, o qual determina o limite temporal da alteração do pedido (art.
273º/2 CPC), da apresentação dos articulados supervenientes (art. 506º/2
CPC), da junção de documentos (art. 523º/2 CPC), da ampliação da base
instrutória pelo presidente do Tribunal colectivo (art. 650º/2-f CPC) e da
consideração pelo Tribunal dos factos constitutivos, modificativos e
extintivos (art. 663º/1 CPC).

92. Princípios do julgamento


a) Aquisição processual
Segundo o princípio da aquisição processual, o Tribunal deve tomar em
consideração todas as provas realizadas no processo, mesmo que não tenham
sido apresentadas, requeridas ou produzidas pela parte onerada com a prova
(art. 515º, 1ª parte CPC).
Uma das consequências deste princípio é a impossibilidade de retirar do
processo uma prova apresentada (art. 542º/3 e 4 CPC). O mesmo processo
justifica a inadmissibilidade da desistência da prova pericial pela parte
requerente sem a anuência da parte contrária (art. 576º CPC).
Exceptuam-se a submissão a este princípio da aquisição processual as
situações em que a lei declare irrelevante a alegação e a prova de um facto
quando não sejam feitas por uma certa parte (art. 515º, 2ª parte CPC). É o que
sucede com a confissão, que só pode ser feita pela parte para a qual o facto
reconhecido é desfavorável (art. 352º CC), e, mais casuisticamente, com a
prova da maternidade na respectiva acção de investigação, a qual só pode ser
realizada pelo filho investigante (art. 1816º/1 CC).
b) Livre apreciação da prova
Algumas das provas que permitem o julgamento da matéria de facto
controvertida e a generalidade daquelas que são produzidas na audiência final
(art. 652º/3-b, c, d, CPC) estão sujeitas à livre apreciação do Tribunal (art. 65º/1
CPC): é o caso da prova pericial (art. 389º CC; art. 591º CPC), da inspecção
judicial (art. 391º CC) e da prova testemunhal (art. 396º CC).
A prova livre está excluída sempre que a lei conceda um valor legal a um
determinado meio de prova (arts. 358º/1 e 2, 371º/1, 376º e 377º CC), assim
como quando a lei exigir, para a existência ou prova do facto jurídico, qualquer
formalidade especial (art. 655º/2 CPC).
c) Fundamentação
Na decisão sobre a matéria de facto devem ser especificados os
fundamentos que foram decisivos para a convicção do julgador sobre a prova
(ou falta de prova) dos factos (art. 653º/2 CPC). Como, em geral, as provas
produzidas na audiência final estão sujeitas à livre apreciação (arts. 655º/1 e
652º/3-b, c, d, CPC), o Tribunal deve indicar os fundamentos suficientes para
que, através das regras da ciência, da lógica e da experiência, se possa
controlar a razoabilidade daquela convicção sobre o julgamento do facto como
provado ou não provado. A exigência da motivação da decisão não se destina
a obter a exteriorização das razões psicológicas da convicção do juiz, mas a
permitir que o juiz convença os terceiros da correcção da sua decisão. Através
dessa fundamentação, o juiz deve passar de convencido a convincente.
A fundamentação da apreciação da prova deve ser realizada
separadamente para cada facto. A apreciação de cada meio de prova
pressupõe conhecer o seu conteúdo, determinar a sua relevância e proceder à
sua valoração.

93. Procedimento do julgamento


Encerrada a discussão (art. 652º/3-e CPC), o Tribunal recolhe à sala das
conferências para ponderar e decidir (art. 653º/1, 1ª parte CPC). Se não se
julgar suficientemente esclarecido, pode voltar à sala da audiência, ouvir as
pessoas que entender e ordenar quaisquer diligências necessárias (art. 653º/1,
2ª parte CPC).
A matéria de facto é decidida por meio de acórdão ou despacho, se o
julgamento incumbir a Tribunal singular (art. 653º/2, 1ª parte CPC). A decisão
do Tribunal colectivo é tomada por maioria e o acórdão é lavrado pelo
presidente, podendo qualquer dos juízes assinar vencido quanto a qualquer
ponto da decisão ou formular declaração divergente quanto à sua
fundamentação (art. 653º/4 CPC). Aquela decisão deve declarar quais os
factos que o Tribunal julga provados e quais os que considera não provados e
especificar, quanto a todos eles, os fundamentos que foram decisivos para a
convicção do julgador (art. 653º/2 CPC). As partes podem reclamar contra a
falta dessa motivação (art. 653º/4, 2ª parte CPC) e ela pode ser exigida pela
Relação (art. 712º/5 CPC).
Ao Tribunal compete, no julgamento da matéria de facto, analisar
criticamente as provas (art. 653º/2 CPC). Esta análise refere-se às presunções
legais e judiciais das quais pode ser inferida a prova do facto controvertido
(arts. 349º a 351º CC).
O Tribunal de audiência não pode pronunciar-se sobre matéria de direito,
isto é, não pode ocupar-se da aplicação do direito aos factos provados.
Considera-se inexistente qualquer resposta desse Tribunal sobre essa matéria
(art. 646º/4, 1ª parte CPC).

94. Discussão da matéria de direito


A fase da audiência final termina com a discussão da matéria de direito,
que se destina a discutir a interpretação e aplicação da lei aos factos julgados
provados (arts. 653º/5 in fine, e 657º in fine CPC) e que se pode realizar
oralmente ou por escrito. Em regra, a discussão do aspecto jurídico da causa
realiza-se oralmente perante o juiz a quem caiba lavrar a sentença final (arts.
653º/5, 1ª parte e 657º CPC), isto é, no caso do Tribunal colectivo, perante o
seu presidente (art. 80º-c LOTJ). Mas se as partes não prescindirem da
discussão escrita do aspecto jurídico da causa, a secretaria, uma vez concluído
o julgamento da matéria de facto, faculta o processo para exame do advogado
ao autor e depois ao do réu, pelo prazo de 10 dias a cada um, a fim de
alegarem por escrito sobre a interpretação e aplicação da lei aos factos que
tiverem sido considerados provados e àqueles que deverem ser tidos por
assentes (art. 657º CPC).
FASE DA SENTENÇA

95. Função da fase


A fase da sentença é aquela em que é proferida a decisão final do
procedimento em 1ª instância. O proferimento da sentença final depende da
forma da discussão do aspecto jurídico da causa:
- Se essa discussão se realizou por escrito (art. 657º CPC), o processo
é concluso ao juiz, para o proferimento da decisão no prazo de 30 dias
(art. 658º CPC);
- Se essa discussão tiver sido oral (art. 653º/5 CPC), a sentença pode
ser logo lavrada por escrito ou ditada para a acta (art. 659º/4 CPC).
A sentença é proferida pelo juiz da causa ou pelo presidente do Tribunal
colectivo (art. 80º-c LOTJ) ou do Tribunal de círculo (art. 81º/1-b LOTJ).

96. Conteúdo da sentença


A sentença comporta os seguintes elementos: relatório, fundamentos,
decisão e aspectos complementares. No relatório, o Tribunal identifica as
partes e o objecto do litígio e fixa as questões que lhe cumpre solucionar (art.
659º/1 CPC). Ao relatório seguem-se os fundamentos, nos quais o Tribunal
deve discriminar os factos que considera provados e admitidos por acordo e
indicar, interpretar e aplicar as correspondentes normas jurídicas (art. 659º/2, 3
CPC). A sentença termina com a parte decisória ou dispositiva (art. 659º/2 in
fine CPC), na qual se contém a decisão de condenação ou de absolvição, e
deve ser assinada e datada (arts. 157º/1, e 668º/1-a CPC).
A sentença deve ser motivada (art. 208º/1 CRP; art. 158º/1 CPC) através
da exposição dos fundamentos de facto – respeitam aos factos relevantes para
a decisão que foram adquiridos durante o processo – e de direito – à
interpretação e aplicação das normas jurídicas aplicáveis a esses factos – (art.
659º/2 CPC).
Como fundamentos de facto devem ser utilizados todos os factos que
foram adquiridos durante a tramitação da causa. Nos termos do art. 659º/3
CPC, integram esses fundamentos:
- Os factos admitidos por acordo, ou seja, os factos alegados por uma
parte e não impugnados pela contraparte (arts. 490º/2, e 505º CPC),
mesmo que não tenham sido considerados assentes;
- Os factos provados por documentos juntos ao processo por iniciativa
das partes (arts. 523º e 524º CPC) ou do Tribunal (arts. 514º/2, e 535º
CPC);
- Os factos provados por confissão reduzida a escrito, seja ela uma
confissão judicial ou extrajudicial (arts. 356º e 358º CC; art. 563º/1 CPC);
- Os factos julgados provados pelo Tribunal singular ou colectivo na
fase da audiência final (art. 653º/2 e 3 CPC);
- Os factos que resultam do exame crítico das provas, isto é, aqueles
que podem ser inferidos, por presunção judicial ou legal, dos factos
provados (arts. 349º a 351º CC).
A estes factos acrescem ainda os factos notórios (art. 514º/1 CPC) e os de
conhecimento oficioso (art. 660º/2 in fine CPC).
O sentido da decisão depende dos factos fornecidos pelo processo (com
consideração do princípio da aquisição processual, art. 515º CPC) e da análise
do cumprimento do ónus da prova (art. 516º CPC; art. 346º, 2ª parte CC).
97. Conteúdo do julgamento
A sentença começa por conhecer das excepções dilatórias que conduzem
à absolvição da instância, segundo a ordem da sua precedência lógica (art.
660º/1 CPC). Estas excepções podem ser tanto aquelas que o Tribunal deixou
de apreciar no despacho saneador, por entender que, nesse momento, o
processo ainda não fornecia os elementos necessários (art. 510º/4 CPC), como
aquelas que não foram apreciadas concretamente nesse despacho e sobre as
quais não há, por isso, qualquer caso julgado (art. 510º/3, 1ª arte CPC). Dado
que o despacho saneador genérico não produz caso julgado quanto à
existência ou inexistência de qualquer excepção dilatória (art. 510º/3, 1ª parte
CPC), o Tribunal não está impedido de a apreciar na sentença final.
Entre o despacho saneador e o termo da discussão (art. 652º/3-e CPC)
pode verificar-se a sanação ou a cessação de uma excepção dilatória. Aquelas
eventualidades não podem deixar de ser consideradas na sentença final,
podendo invocar-se a analogia com o disposto no art. 663º/1 CPC, quanto à
consideração nessa sentença dos factos constitutivos, modificativos ou
extintivos ocorridos até ao encerramento da discussão. Assim, na acção
pendente na 1ª instância, é relevante qualquer sanação ou cessação de uma
excepção dilatória, desde que ocorra até ao encerramento da discussão.
O art. 660º/1 in fine CPC, impõe o conhecimento das excepções dilatórias
segundo a ordem da sua precedência lógica. São dois os preceitos que contêm
enumerações de excepções dilatórias – os arts. 288º/1 e 494º CPC –, mas elas
não se subordinam a nenhuma ordenação lógica, porque, por exemplo, as
excepções de litispendência e de caso julgado (art. 449º-i CPC, e que cabem
na enumeração residual do art. 288º/1-e CPC) são referidas depois de outras
excepções dilatórias, sendo certo que, se algumas destas excepções merecem
uma apreciação prévia perante as demais, as excepções de litispendência e de
caso julgado estão claramente entre elas.
A apreciação de qualquer excepção dilatória na sentença final cede
perante a possibilidade de um julgamento de mérito favorável à parte que seria
beneficiada com a verificação do pressuposto processual que não está
preenchido (art. 288º/3 CPC).
Como consequência da disponibilidade das partes sobre o objecto da
causa (arts. 264º/1 e 3, e 664º in fine CPC), o âmbito do julgamento comporta
dois limites. Um limite mínimo decorre do dever de conhecimento na sentença
de todas as questões submetidas pelas partes à apreciação do Tribunal,
exceptuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a
outras (art. 60º/2, 1ª parte CPC). A falta de apreciação de qualquer dessas
questões conduz à nulidade da sentença por omissão de pronúncia (art.
668º/1-d, 1ª parte CPC).

98. Formalidades complementares


A sentença é registada num livro especial (art. 157º/4 CPC; art. 17º/1
LOSJ). Se a parte vencida pretender interpor recurso da decisão, deve fazê-lo
por meio de requerimento dirigido ao Tribunal que a proferiu (art. 687º/1 CPC).
Passados três meses após o trânsito em julgado da sentença (art. 677º CPC),
o processo é arquivado (art. 24º/1-b LOTJ).
C) PROCESSO SUMÁRIO E SUMARÍSSIMO

PROCESSO SUMÁRIO

99. Regime aplicável


Ao processo são aplicáveis as disposições que lhe são próprias (constam
dos arts. 783º a 792º CPC) e as disposições gerais e comuns (estabelecido nos
arts. 137º a 459º; 463º/1, 1ª parte CPC); em tudo quanto não estiver regulado
numas e noutras, deve observar-se o que se encontra estabelecido para o
processo ordinário (ou seja, o disposto nos arts. 467º a 782º; 463º/1, 2ª parte
CPC). Dada esta aplicação subsidiária do regime do processo ordinário, só
interessa analisar as especialidades do processo sumário.
Depois da apresentação da petição inicial, o réu é citado para contestar no
prazo de 20 dias (arts. 183º, 785º, 784º - 158º/2; 786º; 484º/1 CPC).

PROCESSO SUMARÍSSIMO

100. Regime aplicável


Ao processo sumaríssimo são aplicáveis as disposições próprias (arts. 793º
a 796º CPC) e as gerais e comuns (arts. 137º a 459º; 464º, 1ª parte CPC). O
art. 464º, 2ª parte CPC, determina que, quando umas e outras sejam omissas
ou insuficientes, observar-se-á primeiramente o que estiver estabelecido para o
processo sumário (arts. 783º a 792º CPC) e depois o que estiver estabelecido
para o processo ordinário (arts. 467º a 782º CPC). Considerando esta
subsidiariedade das regulamentações dos processos sumário e ordinário.
A petição inicial dispensa a forma articulada, mas conjuntamente com ela
devem ser oferecidas as provas dos factos alegado (art. 793º; 151º/2 CPC).
Isto significa que, ao contrário do que sucede no processo ordinário e sumário,
o autor tem o ónus de alegar na petição inicial os factos instrumentais que
pretenda demonstrar através dessas provas.
O réu é citado para contestar no prazo de 15 dias, exigindo-se-lhe também
a apresentação ou o requerimento dos meios de prova (art. 794º/1 CPC).

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