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Atletismo

Chapter · January 2003


DOI: 10.13140/2.1.2327.0724

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0 6,482

1 author:

Cristiano Frota de Souza Laurino


Brazilian Arthroscopy and Sports Traumatology Society - ( Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte - SBRATE)
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capítulo 48

ATLETISMO
Cristiano Frota de Souza Laurino,  Alberto de Castro Pochini
INTRODUÇÃO
Desde os tempos mais remotos, o homem se utiliza de algumas habilidades para resguardar a integridade
física e preservar sua sobrevivência. Abater um animal durante a caça, ou mesmo proteger-se durante a fuga
nas situações de perigo, exigem do homem a execução de movimentos corporais complexos.

A expressão lúdica dessas habilidades tão ovacionadas pela Grécia Antiga fez nascer o Atletismo, esporte que
enfatiza os movimentos básicos do ser humano: andar, correr, saltar e arremessar. É chamado, por isso, de
“Esporte Natural” ou “Esporte Base”, pois sua prática confunde-se com os movimentos essenciais do ser
humano.

Individualmente ou em combinação, os quatro movimentos podem se expressar através de uma variação


infinita de técnicas, mantendo sempre o objetivo de atingir os maiores resultados dentro da modalidade
executada.

O tempo e a distância serão sempre os limites a serem superados, independentemente da forma com que os
movimentos sejam executados, embora regras tenham que ser respeitadas para uniformizar as condutas entre
os atletas.

A particularidade desse esporte, considerado por muitos como o mais completo dentre os praticados, é o fato
de ser executado de forma individual, o que valoriza o atleta no que se refere à capacidade de aprender,
aperfeiçoar movimentos e buscar sempre a superação de limites.

O atletismo moderno é disputado desde meados do século 19, e muitas de suas provas atuais já tinham sido
apresentadas durante a Olimpíada de Atenas (Grécia) em 1896 (1ª versão dos Jogos Olímpicos da Era
Moderna).

Criada em 1912, durante os Jogos Olímpicos de Estocolmo (Suécia), a IAAF (International Athletics Amateur
Federation), com sede em Monte Carlo (Mônaco), é o órgão internacional responsável por esse esporte em
todo o mundo. No Brasil, a direção do esporte é de responsabilidade da Confederação Brasileira de Atletismo
(CBAt), órgão filiado à IAAF.

As modalidades que compõem o atletismo moderno podem ser divididas conforme se observa no Quadro
48-1.
Quadro 48-1. Modalidades do atletismo
Corridas rasas: 100 m, 200 m, 400 m
50 m, 55 m, 60 m, 200 m, 400 m (“indoor”)
Corridas com barreiras ou com obstáculos: 100 m (f.),
110 m (m.), 400 m (m. e f.) 50 m, 60 m, (“indoor”)
Saltos: distância, triplo, em altura, com vara
Arremesso e lançamentos de: peso, disco, dardo, martelo
Marcha atlética: 20 km, 50 km (m.)
Corridas de meio-fundo: 800 m, ½ milha, 1.500 m, milha
Corridas de fundo: 2.000 m com obstáculos (f.), 3.000 m, 3.000 m com obstáculos (Steeplechase), 5.000 m,
10.000 m, maratona, corridas de rua
Provas combinadas: decatlo (m.) e heptatlo (f.)
Cross-country (corridas no campo, com obstáculos naturais ou artificiais)
m. = Masculino; f. = feminino.
LESÕES
As lesões resultantes diretamente de atividades esportivas podem ser classificadas em dois grupos básicos:
1,2,3

1.

Lesões intrínsecas. Decorrentes de características biológicas, individuais e psicossociais.

2.

Lesões extrínsecas. Decorrentes do meio ambiente e de fatores externos.

1
O atletismo, considerado esporte sem contato físico, origina predominantemente lesões intrínsecas.
Comportando uma ampla variedade de eventos de características biomecânicas diversas, alguns estudos
1-6
revelam que entre 17% a 76% dos atletas praticantes de atletismo apresentam lesões musculoesqueléticas.
O índice de exposição à lesão varia entre 2,5 a 5,8 lesões/1.000 horas de treinamento, dependendo da
2
modalidade estudada.

Dentro do conceito atual do esporte, os riscos assumidos pelos atletas muitas vezes os tornam vulneráveis
a lesões que geralmente apresentam caráter de cronicidade e são geradas basicamente pela sobrecarga do
7
sistema locomotor. A grande maioria dessas lesões, quando diagnosticadas precocemente, pode ser tratada
8,9
efetivamente com mínimas modificações nos programas de treinamento e nos hábitos do atleta.

As lesões musculoesqueléticas acompanham a vida dos atletas, limitando o rendimento esportivo


provisoriamente e, algumas vezes, de maneira definitiva. Com a evolução dos programas de treinamento e
intensificação no ritmo de competições, os fatores etiopatogênicos têm-se modificado ao longo do tempo,
assim como a própria natureza das lesões.

Embora menos freqüentes, as lesões de natureza acidental ou traumática podem provocar limitações de
10
magnitudes diversas ou até mesmo ser fatais. Muitos acidentes ocorrem durante sessões de treinamento, o
que torna essencial que técnicos e atletas desenvolvam hábitos seguros de treinamento durante todo o tempo.

Alguns fatores devem ser considerados no estudo das lesões no atletismo, como: idade, sexo, nível de
competição, tempo de treinamento, número de modalidades praticadas, horas de treino, presença do treinador.
1,6

A presença do treinador durante as atividades do atleta representa efeito controverso na prevenção das
1,6
lesões no atletismo, é essencial no sentido não apenas de preparar a programação de treinamento, quanto
aprimorar movimentos, corrigir defeitos técnicos e até interferir nos aspectos psicológicos que o esporte
desencadeia no atleta. Conforme observou D´Souza, 40,4% dos 147 atletas avaliados em seu estudo
apresentaram lesões com o treinador presente todo o período de treinamento/competição, em comparação ao
1
grupo de atletas com o treinador ausente, em que a incidência de lesões representou 81,8%. Diferentemente,
Laurino constatou em seu estudo que 70,7% dos atletas que se diziam acompanhados integralmente durante
6
os treinamentos apresentaram lesões. Os índices de lesões foram estatisticamente semelhantes entre os
grupos de atletas acompanhados parte do treino, ou não acompanhados pelo treinador, respectivamente 87,1%
6
e 75,0%.

As propriedades biomecânicas dos tecidos se alteram com a evolução da idade, portanto, há também
2
influência da idade no surgimento de lesões. D’ Souza observou diferença estatisticamente significante em
seu estudo, em que 96,2% dos atletas adultos (> 20 anos) avaliados apresentaram lesões quando comparados
1
aos 51,3% dos atletas com idade inferior a 17 anos. Laurino observou, a partir de uma casuística com idades
1,2,6
variando entre 15 e 38 anos, resultados semelhantes a D’ Souza e Bennell.

O nível de desempenho também apresenta controvérsias na literatura quanto à sua real interferência na
1
incidência de lesões durante a prática do Atletismo. D’ Souza aponta para uma incidência de lesões
diminuída dentro do grupo de atletas de alto desempenho avaliados, em comparação aos demais grupos, e
atribui o resultado ao fato de esses atletas apresentarem maior experiência de treinamento e maior tempo
acompanhados pelos treinadores, embora os resultados dos estudos de Watson e Di Martino apontem para
1
conclusões diferentes.

Apesar de haver predomínio de lesões no período de treinamento, elas durante competições representam
1
valores significativos (20%) se considerada a reduzida duração do evento em comparação com a duração de
um treinamento específico. Aspectos psicológicos envolvidos também precisam ser considerados como
1
fatores predisponentes às lesões durante as competições.

A localização anatômica das lesões no atletismo segue uma distribuição variada na literatura, embora o
6,11
acometimento dos membros inferiores seja predominante (82,2%).

Laurino avaliou retrospectivamente 103 atletas, 69 (67,0%) homens e 34 (33,0%) mulheres, praticantes
6
de atletismo. Foram estudados a presença e o comportamento da dor e das lesões musculoesqueléticas
6
decorrentes do treinamento/competição. A presença da dor foi relatada por 79 (76,7%) atletas, sendo 54
(68,4%) homens e 25 (31,6%) mulheres. Dos atletas avaliados, 78 (75,7%) apresentaram lesões, sendo 54
6
(69,2%) homens e 24 (30,8%) mulheres. As regiões mais freqüentemente acometidas por lesões foram: coxa
(53,3%), seguida pelo joelho (17,5%), tronco e membros superiores (11,7%), tornozelo e pé (9,1%) e perna
6
(8,3%).

Bennell avaliou retrospectivamente 95 atletas no período de um ano, e obteve a seguinte distribuição de


lesões por região anatômica: perna (27,7%), coxa (21,5%), joelho (16,2%), pé (14,6%), tornozelo (7,3%) e
dorso/pelve/quadris (13%). Quarenta e sete (2%) atletas apresentaram recidiva das lesões no período de um
2
ano estudado.

As lesões musculotendíneas foram as mais predominantemente encontradas nos estudos retrospectivos de


Laurino, com a seguinte distribuição percentual conforme os grupos musculares: músculos isquiotibiais
(60,4%), músculo quadríceps (19,8%), músculos adutores da coxa (4,4%), músculos da perna (5,5%),
6
músculos dos membros superiores (6,6%), e músculos do tronco (3,3%).

Laurino constatou em seu estudo que as modalidades de velocidade e barreiras foram responsáveis por
43,3% das lesões, seguidas por 30,8% nas provas de salto, 13,3% nas provas de arremesso e lançamento,
6
7,5% nas provas de meio-fundo e 5,0% fundo.

A prevenção das lesões traumáticas acidentais recai sobre fatores a serem observados, conforme o
12
Quadro 48-2.

Quadro 48-2. Medidas de segurança durante a prática do atletismo12


Conhecimento das regras da modalidade praticada
Certificação de que os equipamentos e materiais utilizados estejam dentro dos padrões de especificação e
regras estabelecidas
Introdução de programas de orientação e treinamento para a utilização segura da pista e equipamentos
específicos de cada modalidade

Freqüentemente observa-se atletas que encerram suas carreiras prematuramente, antes de terem atingido o
desempenho máximo dentro da modalidade.

Alguns fatores podem ser identificados como decisivos para o encerramento de uma carreira: exigências
escolares, profissão, necessidade de tempo livre, conflitos familiares ou no ambiente de treinamento (técnicos,
patrocinadores, clubes), dificuldades financeiras, perda de motivação, e finalmente, o aparecimento de lesões.

Alguns estudos apontam que o aumento da freqüência de lesões em combinação com a estagnação do
13
desempenho pode levar ao encerramento prematuro da carreira esportiva. De acordo com Kröger, um
quarto dos atletas afirma serem as lesões os principais contribuintes na decisão de abandonar o esporte
13
competitivo.

MODALIDADES DE CORRIDA

Corridas de velocidade
As modalidades de velocidade são eventos disputados em distâncias pré-definidas, conforme o Quadro 48-1.

Os praticantes dessas modalidades, denominados “velocistas”, procuram correr distâncias rasas dentro de uma
velocidade máxima possível, objetivando chegar ao final da distância no menor tempo.

Os calçados (sapatilhas) desenvolvidos para as provas de velocidade apresentam algumas características


específicas quanto à sua forma e estrutura. São geralmente os mais leves utilizados no atletismo,
apresentando solado com reforço apenas na região do antepé, local de fixação dos “pregos” (pontas metálicas
rosqueadas com tamanho e números variados e limitados em número e comprimento pelas regras impostas
para cada tipo de superfície de pista).

Os atletas iniciam a corrida a partir de uma posição conhecida como “saída de taco” ou “posição de largada”.
Para tanto são utilizados os “tacos” ou “blocos” de partida, acessórios introduzidos em 1927 para otimizar a
largada de corridas de velocidade e barreiras.

Fixado provisoriamente à pista, o taco de saída é o equipamento, a partir do qual os movimentos de impulso
são gerados, permitindo que o atleta apóie os dois pés sobre anteparos angulados.

A regulagem dos tacos de saída é feita pelo próprio atleta em função de suas características corporais e
técnicas. Essas regulagens se fazem pela modificação da angulação dos pés em relação à superfície, distância
entre os pés e distância entre o pé da frente e a linha de saída.

Os membros superiores são posicionados de maneira simétrica, com os ombros aduzidos e flexionados a 90°,
extensão de cotovelos e dedos estendidos, apoiados na superfície da pista através do contato das polpas. Os
membros inferiores estão dispostos de maneira assimétrica, mantendo o membro à frente com apoio simples
(pé), enquanto o membro contralateral mantém um duplo apoio (pé e joelho) A ordem de preparação que
antecede a largada permite que o atleta eleve os quadris através do movimento de semi-extensão dos joelhos,
mantendo-se fixos os apoios proximal e distal, mãos e pés respectivamente (Fig. 48-1).

A tiro de largada, o atleta executa movimentos potentes de extensão dos quadris, joelhos e tornozelos,
impulsionando o taco de saída. Os membros superiores realizam movimentos opostos, no sentido de
contrabalançar a ação dos membros inferiores, enquanto o atleta eleva progressivamente o centro de
gravidade.

Os movimentos cíclicos da corrida são executados com velocidade progressiva, até que se atinja a velocidade
máxima, que teoricamente deve ser sustentada pelo atleta durante o percurso restante.

A análise cinemática da modalidade dos 100 m rasos nos serve de base de informações para as demais provas
14
de velocidade no que tange às características, como: velocidade, amplitude e freqüência de passadas.

O comportamento da velocidade durante a corrida dos 100 m pode ser dividido em fases (Quadro 48-3).
14

Quadro 48-3. Distribuição da velocidade de corrida de 100 m em relação à distância


Fase I – (0-30 m): Fase de grande aceleração
Fase II – (30-60 m): Fase de menor aceleracão
A Fase II caracteriza o momento de “velocidade máxima” do velocista. Atletas de elite atingem velocidades
máximas próximas ao final da Fase II (50-60 m),14 podendo ainda permanecer acelerando até 70-80 m,
enquanto velocistas de nível inferior atingem velocidades máximas em torno de 30-40 m14
Fase III – (60-100 m): Fase de desaceleração

A grande amplitude das passadas associada à capacidade de mantê-las até o término da corrida é fator
14
primordial na execução de uma corrida de alto desempenho. O aumento gradual da amplitude de passadas
em corredores de elite ocorre até os 70-80 m iniciais, momento a partir do qual a amplitude se mantém
14
praticamente inalterada.

A capacidade de manter passadas de grande amplitude requer preparação específica, enfocada no


14
desenvolvimento de potência muscular e resistência anaeróbia.

O módulo da freqüência de passadas de uma corrida de 100 m também se comporta de maneira ascendente
14
dentro dos 70-80 m iniciais, a partir dos quais ocorre um decréscimo até o final da prova.

Dentre as características das corridas de velocidade, a freqüência de passadas parece não ter importância
tão determinante quanto a amplitude no desempenho de velocistas de elite, quando comparados grupos de
14
atletas de diferentes níveis.

As provas de 200 m e 400 m apresentam a particularidade de apresentarem trechos de curva, um e dois,


respectivamente. A corrida se faz sempre no sentido anti-horário, e o atleta larga inicialmente num trecho de
curva, o que difere da prova dos 100 m, em que o atleta apenas executa movimentos retilíneos.

Nos trechos de curva, o atleta procura manter a velocidade, ao mesmo tempo em que inclina o corpo para
manter-se próximo ao limite interno da raia. As provas de velocidade (200 m, 400 m) disputadas em pistas
cobertas (“indoor”) apresentam trechos de curva inclinada, devido ao fato de os raios de curvatura dos
trechos de curva serem menores do que os das pistas descobertas.

Os movimentos cíclicos das passadas de corrida nas provas de velocidade são marcados pelos toques
repetidos do antepé, poupando-se as demais estruturas do contato contra a superfície da pista. Esse fato sugere
a sobrecarga das estruturas tendíneas (tendão tibial posterior, flexor longo dos dedos e flexor longo do hálux)
15
podendo gerar processos inflamatórios, degenerativos ou até rupturas. A lesão inflamatória do tendão tibial
posterior manifesta-se clinicamente por dor localizada na área de inserção óssea e/ou região retromaleolar
medial. As lesões degenerativas manifestam-se por dor e diminuição progressiva do arco longitudinal medial.
15
As tendinopatias inflamatórias são tratadas clinicamente com uso de antiinflamatórios não-hormonais,
15
infiltrações locais, órteses, fisioterapia e modificações técnicas no treinamento.

O velocista suporta cargas elevadas sobre o grupamento musculotendíneo gastrocnêmio–sóleo, a fim de


gerar potência que promova o rápido deslocamento do atleta à passada seguinte. A sobrecarga gerada sobre o
tendão calcâneo propicia o surgimento de lesões inflamatórias, podendo estar associadas às lesões
15
degenerativas da ultra-estrutura do tendão. Embora as lesões inflamatórias sejam mais freqüentemente
localizadas numa área localizada 2 cm proximalmente à inserção óssea no calcâneo, pode haver variações da
área acometida, gerando dor, edema local e impotência funcional progressiva. As lesões parciais do tendão
calcâneo manifestam-se com história clínica prolongada de dor recidivante, diminuição do desempenho e
aparecimento de nodulações ou espessamentos localizados que representam áreas de degeneração mucinosa.
15

A prolongada atividade eletroneuromiográfica dos músculos isquiotibiais durante a corrida de velocidade


reflete sua importância para o ganho de velocidade do atleta.

Os músculos isquiotibiais atuam como extensores do quadril e flexores do joelho, simultaneamente, gerando e
coordenando os movimentos das duas articulações. Da mesma maneira, antagonizam as ações dos potentes
6,11,16-18
músculos extensores do joelho e flexores do quadril.

As regiões anatômicas mais comumente afetadas dos músculos isquiotibiais são o ventre muscular e a
transição miotendínea, embora as lesões por avulsão da tuberosidade isquiática, “fraturas do velocista”,
19
também possam ocorrer principalmente nos atletas jovens (crianças e adolescentes).

A tensão na unidade miotendínea está relacionada a dois fatores: o comprimento do músculo (componente
17
passivo) e a sua atividade contrátil (componente ativo). A magnitude da tensão ativa que um músculo pode
17
produzir é proporcional ao padrão de distribuição de fibras musculares tipos I e II.

A proporção aumentada de fibras tipo II, recrutadas nas contrações musculares de grande intensidade e
velocidade, sugere que os músculos isquiotibiais, gastrocnêmios e retofemoral sejam capazes de gerar grandes
17
valores de tensão ativa.

O estudo dos fatores desencadeantes e predisponentes das lesões entre os músculos isquiotibiais incluem: a
18
anatomia biarticular, desequilíbro de forças entre músculos isquiotibiais e músculo quadríceps da coxa,
17
proporção elevada de fibras musculares do tipo II em relação aos músculos quadríceps e adutores, fraqueza
18 19,21
genérica da musculatura, “aquecimento” e “alongamento muscular” insuficientes, além das
2,3,6,11, 17,20,21
deficiências de flexibilidade e coordenação neuromuscular. A recorrência das lesões
isquiotibiais está intimamente relacionada a dois fatores principais: o tempo de reabilitação insuficiente e o
retorno precoce ao treinamento de velocidade.

A razão de forças (flexores/extensores) tem sido citada também como fator predisponente às lesões
18
isquiotibiais. Estudos apontam que uma razão flexo-extensora do joelho inferior a 60% ou 75% seja um dos
18
fatores predisponentes às lesões musculares. Yamamoto aponta que os métodos de análise de forças
empregados (isométrica, isotônica, isocinética) podem levar a resultados discrepantes e pouco esclarecedores,
18
quando se deixa de considerar a modalidade esportiva praticada e as características individuais do atleta.

Dois fatores devem ser enfatizados no condicionamento de grupos musculares solicitados nas situações que
17 O treinamento
demandem força e velocidades elevadas: a especificidade e a sobrecarga no treinamento.
deve visar ao condiciona
mento muscular nas situações de intensidade e duração que simulem a real demanda
durante a execução dos movimentos. Negligenciar tal princípio expõe o atleta a situações de risco e
6,11,17
desencadeia lesões.

A sobrecarga musculoesquelética do treinamento de provas de velocidade propicia o aparecimento de reações


de estresse ósseo, sobretudo nos membros inferiores, principalmente localizados na tíbia, metatarsos, ossos do
tarso e fíbula. Tais reações ósseas fisiológicas podem entrar em desequilíbrio do balanço osteogênese/osteólise
8,9
e desencadear processos patológicos como a síndrome do estresse tibial medial e a fratura por estresse.

As dores na perna do corredor e do saltador, também descritas como “canelites” ou “periostites”, podem
representar patologias diversas, embora se manifestem clinicamente de maneira semelhante. O estudo
radiográfico se faz de pouca valia na elucidação diagnóstica, sendo necessária a utilização de técnicas de
8,9
diagnóstico por imagem como a cintilografia óssea em três fases e a ressonância nuclear magnética.

Corridas de revezamento
As corridas de revezamento são modalidades disputadas por velocistas e representam provas de equipe.
Algumas modalidades de revezamento em distâncias não Olímpicas (4 × 800 m e o 4 × 1.500 m) não são
consideradas provas de velocidade em função das distâncias percorridas.

Alguns fatores são necessários para o resultado final de uma corrida de revezamento: velocidade do
atleta, estratégia da corrida, distribuição dos atletas segundo as habilidades pessoais (desenvolvimento de
velocidades máximas nos trechos de reta ou curva) e, finalmente, a técnica de passagem do bastão.

As modalidades de revezamento disputadas são o 4 × 100 m, 4 × 400 m outdoor para ambos os sexos e 4 ×
200 m, 4 × 400 m indoor. Quatro atletas correm distâncias semelhantes dentro dos limites estabelecidos pelas
regras de cada prova e têm como objetivo passar o bastão para o companheiro seguinte, a fim de atingir a
linha de chegada no menor tempo.

O chamado “primeiro homem” da corrida de revezamento larga na posição de “saída de taco”, enquanto os
demais atletas aguardam a aproximação do companheiro, podendo adotar variadas posições com ou sem apoio
de uma das mãos no solo.

Na tradicional prova de revezamento 4 × 100 m, os corredores de 1ª e 3ª posições correm trechos de curva,


acompanhando a margem interna da mesma e empunhando o bastão geralmente com a mão direita. Os
corredores de 2ª e 4ª posições correm inicialmente pequenos trechos de curva seguidos por reta, empunhando
o bastão com a mão esquerda, embora a mudança de empunhadura possa ocorrer durante a corrida.

Os esforços resultantes durante a corrida podem gerar lesões musculotendíneas que nada diferem das provas
de velocidade.

O ato da passagem do bastão, considerado o momento crítico da corrida de revezamento, difere entre as
provas disputadas (Fig. 48-2). Durante o revezamento 4 × 100 m, o atleta que recebe o bastão o faz
geralmente mediante um comando sonoro do atleta que se aproxima e não visualmente, como ocorre no
revezamento 4 × 400 m.

Os acidentes, tais como o choque de companheiros dentro da mesma raia, são provocados por erro
técnico. O atleta que recebe o bastão inicia a corrida tardiamente, o que leva à aproximação do companheiro
rapidamente, provocando o acidente.

O contato entre atletas que invadem a raia adjacente pode levar a conseqüências desastrosas para os
envolvidos, já que, no momento da passagem do bastão, as equipes competidoras encontram-se geralmente
próximas umas das outras.

O revezamento 4 × 400 m apresenta a possibilidade de aproximação de um atleta fatigado pela corrida,


apresentando sinais de descoordenação. A passagem do bastão propicia acidentes nessas condições o que
aumenta as chances de acidentes, mesmo sendo a passagem do bastão coordenada visualmente por ambos os
atletas.

A mudança de empunhadura do bastão por desatenção pode também provocar acidentes, já que o atleta que se
aproxima pode estar correndo na mesma margem da raia do atleta receptor, o que pode provocar
atropelamentos e ferimentos nos pés, tornozelos e pernas com os pregos das sapatilhas de ambos os atletas.

A passagem intempestiva do bastão pode ocasionar lesões traumáticas na mão do atleta receptor (contusões,
lacerações), e até mesmo provocar a queda do bastão.

Corrida com obstáculos (barreiras)


As modalidades com obstáculos (110 m, 100 m, 400 m) (Quadro 48-1) são consideradas provas de
velocidade, nos quais os atletas procuram ultrapassar obstáculos, utilizando ao máximo sua velocidade.

O atleta corre e ultrapassa obstáculos, utilizando técnica e coordenação, de tal modo que a ultrapassagem não
compreende movimentos saltatórios, o que fatalmente provocaria uma desaceleração importante da corrida.

Os obstáculos possuem as mesmas especificações técnicas e são dispostos em seqüência, intervalados por
distâncias iguais, definidas pelas regras de cada prova.

As barreiras são estruturas leves e facilmente deslocadas, quando ultrapassadas inadequadamente, o que
gera desequilíbrio, diminuição de velocidade e, até mesmo, a queda do atleta.

As provas são balizadas e iniciadas como nas demais modalidades de velocidade, com o atleta adotando
posição de “saída de taco”. A elevação do tronco após o início da largada se faz de maneira progressiva, até o
momento da ultrapassagem do primeiro obstáculo, quando o atleta deve estar posicionado com o tronco
ligeiramente flexionado.

O membro inferior de ataque à barreira flexiona o quadril em torno de 90°, e, em seguida, estende
rapidamente o joelho, enquanto o membro superior contralateral acompanha o movimento, flexionando o
ombro em torno de 90°, e estendendo o cotovelo, o que promove mais equilíbrio ao movimento. O membro
inferior contralateral adota uma posição de flexo-abdução do quadril, rotação interna e flexão do joelho no
momento em que se encontra sobre a barreira durante a ultrapassagem. O atleta facilita a ultrapassagem do
obstáculo flexionando o tronco, o que leva o centro de gravidade para frente.

O instante de ataque à barreira, se executado demasiadamente próximo do obstáculo, poderá causar choque do
membro inferior contra o mesmo, e causar traumatismos variados (escoriações de perna e coxa, contusões,
lacerações de pele, ferimentos).

A extensão súbita do joelho (m. quadríceps) contrabalançada pela ação da musculatura isquiotibial pode gerar
lesões miotendíneas durante a seqüência de movimentos. Rapidamente após a passagem do membro de ataque
sobre a barreira, o atleta estende o quadril até o toque do pé no solo, momento em que o atleta passa a solicitar
também a musculatura isquiotibial para a continuidade da corrida.

A posição do membro de passagem da barreira (contralateral ao membro de ataque) propicia traumatismos,


provocando contusões, abrasões de pele e ferimentos no joelho, devido ao choque do mesmo com a barreira
(Fig. 48-3).

Nas modalidades de 100 m para mulheres e 110 m para homens, o membro inferior de ataque à barreira
deve ser o mesmo durante toda a corrida, para que o resultado seja eficiente, o que leva o atleta a executar
constantemente três passos de corrida em velocidade máxima e coordenada entre as barreiras.

A modalidade de 400 m com barreiras apresenta a particularidade de distribuir as barreiras não somente nas
retas, como também nas curvas, o que dificulta a técnica de ultrapassagem das mesmas. Muito freqüentemente
o atleta se utiliza dos dois membros inferiores para o ataque às barreiras, em função da variação do número de
passos executados entre os obstáculos.

Acidentes ocorrem, podendo envolver mais de um atleta, quando o desequilíbrio de um deles provoca a
invasão da baliza ao lado.

Corridas de meio-fundo
As modalidades de meio-fundo abrangem as provas de 800 m, 1/2 milha, 1.500 m e a milha (1.609 m).

Particularmente, os corredores de meio-fundo apresentam uma característica de equilíbrio das qualidades de


velocidade e resistência, o que os posiciona como corredores intermediários entre velocistas e fundistas.

As passadas de um corredor de meio-fundo apresentam amplitude menor do que os velocistas, porém maior
15
do que os fundistas.

As modalidades de meio-fundo apresentam a peculiaridade de os atletas correrem desbalizados durante


parte ou toda a corrida, o que significa corredores muito próximos, disputando espaço e liderança a cada
passada. Tal situação propicia o aparecimento de lesões traumáticas, provocadas por quedas decorrentes do
contato entre atletas, desequilíbrios na tentativa de alterar o ritmo das passadas, ou mesmo, contato dos
calçados (pregos das sapatilhas), provocando até ferimentos de pele.

Corridas de longa distância


A corrida de longa distância abrange o maior e mais representativo grupo de modalidades do atletismo
moderno, com milhares de novos adeptos surgindo anualmente.

O surgimento de novas modalidades esportivas durante o século XX fez com que a corrida de longa distância
se difundisse no mundo, tornando-se parte integrante de outras modalidades (provas de triatlo, provas de
aventura) ou mesmo como esporte específico.

As modalidades de longa distância abrangem desde as tradicionais provas de pista (Milha, 3.000 m, 3.000 m
Steeplechase, 5.000 m, 10.000 m) como as de campo (distâncias diversas de cross-country) e rua (distâncias
diversas, e as tradicionais: 1/2 maratona, maratona, ultramaratona).

A biomecânica da corrida de longa distância difere das demais provas de corrida. As distâncias percorridas,
assim como as diferenças de superfície e as características da prova, exigem do atleta técnica e estratégias
específicas. Podemos citar, como exemplo, a posição do tronco durante algumas modalidades de corrida. A
angulação de inclinação do tronco dos corredores de longa distância varia entre 5° e 9°, enquanto nos
15
corredores de velocidade é de 25°, e nos corredores de meio-fundo, 15°.

A cadência de movimentos estabelecida pelo atleta é a chave para a execução de uma corrida de longa
distância sem que haja o aparecimento de complicações de treinamento. A modificação súbita nas
características das passadas (velocidade, amplitude) propicia o surgimento de lesões, já que sintomas de
15
fadiga passam a acometer o atleta.

Dentre as provas de pista, a modalidade de 3.000 m com obstáculos e, mais recentemente, a modalidade
de 2.000 m com obstáculos (mulheres), conhecidas como steeplechase, apresentam algumas particularidades
técnicas que as diferenciam das demais provas de pista.

Os corredores de steeplechase devem compor qualidades corporais de velocidade e resistência, o que de


certa forma tende a aproximá-los da velocidade de um atleta de 1.500 m, da resistência de um fundista de
22,23
10.000 m e da capacidade e força em ultrapassar obstáculos de um corredor de cross-country.

“...No ano de 1850, nos arredores de Oxford, alguns jovens cavaleiros ingleses liderados por Halifax Wyatt
deixaram de competir com seus cavalos num dia chuvoso, temendo que acidentes pudessem acontecer em
função das condições do terreno. Apesar disso os cavaleiros decidiram por disputar uma competição correndo
pelo mesmo trajeto em que se disputaria a corrida de cavalos. A prova fora disputada no percurso de 2 milhas
em terrenos acidentados e compunha vinte e quatro saltos sobre obstáculos naturais e depressões cheias
d’água. Nascia, portanto, a prova de Steeplechase. As competições desta nova modalidade passaram a ser
realizadas regularmente, até que em 1900 tornou-se modalidade olímpica, tendo a distância de 3.000 m
oficializada em 1920. As regras foram definitivamente oficializadas a partir de 1954 pela IAAF...” (Schiffer)

Uma das maiores dificuldades dos corredores de Steeplechase é a ultrapassagem dos obstáculos, estruturas
fixas, que permitem ao atleta apoiar sobre o mesmo enquanto estão sendo ultrapassados. A ultrapassagem do
obstáculo e da fossa olímpica (depressão angulada projetada na pista preenchida por água), situados na curva
final da pista de 400 m, constitui-se uma das maiores dificuldades técnicas do atleta, que deve cumprir com
certas etapas, para que a passagem tenha êxito: 1) aproximação do obstáculo mantendo-se a passada de
corrida; 2) os pregos da sapatilha devem apoiar firmemente o obstáculo em seu topo; 3) o centro de gravidade
24
deve ser mantido baixo; 4) impulso do membro de apoio deve ocorrer com extensão do joelho.

O treinamento do corredor de steeplechase não difere muito dos treinamentos dos corredores de meio-fundo,
embora se enfatizem os treinos de saltos e barreiras.

Talvez essa prova seja uma das poucas em que o atleta realmente se beneficia em liderá-la, pois não necessita
ajustar sua corrida para ultrapassar os obstáculos em função da presença dos adversários à frente, e sim
25
somente concentrar-se em sua própria corrida.

Durante a tentativa de ultrapassagem dos obstáculos, sem que haja perda da velocidade, o atleta acelera as
últimas 6 a 8 passadas, principalmente durante os momentos finais, quando já se observam sinais de fadiga do
26
atleta, no intuito de ultrapassar sem tocar o obstáculo.

Os traumatismos nas passagens de obstáculos decorrem da proximidade com que os atletas executam seus
movimentos, ultrapassando o mesmo obstáculo, muitas vezes ao mesmo tempo. A aterrissagem desequilibrada
na fossa olímpica pode desencadear torsões predominantemente de tornozelo, ou mesmo traumatismos
noutras regiões do corpo.

Dentre as lesões mais freqüentemente observadas entre os corredores de longa distância, podem-se citar as
chamadas “lesões de estresse” ou de sobrecarga, tais como: tendinopatia de calcâneo, síndrome do estresse
tibial medial, fraturas de estresse, tendinite do semimembranoso, tendinite do poplíteo, tendinite da “pata de
27
ganso”, síndrome do trato ílio-tibial e a fascite plantar.

A hiperpronação do pé é um dos fatores biomecânicos de risco mais freqüentemente encontrados nas lesões
27
por sobrecarga. A pronação do pé está associada com a atividade concêntrica da musculatura pronadora,
27
provocando um trabalho excêntrico da musculatura supinadora. Quanto mais pronunciada for a pronação
do pé, maior será a atividade excêntrica supinadora, que se manifesta como pico máximo de ação durante o
27
ponto médio da fase de apoio da corrida. O trabalho excêntrico da musculatura supinadora pode ser
27
considerado um dos fatores predisponentes às lesões por sobrecarga nos membros inferiores.

O treinamento freqüente de corrida nas situações de declive propicia situações de risco para o atleta. A
necessidade de controlar a velocidade da corrida na situação de declive torna necessária uma desaceleração do
movimento. Tal fato faz com que o centro de gravidade do atleta se mantenha atrás do membro inferior
dianteiro, que toca o solo em posição de flexão plantar (contração concêntrica do músculo tríceps-sural e
excêntrica do músculo tibial anterior), mantendo uma contração excêntrica do músculo quadríceps. A tensão
patelofemoral gerada propicia o aparecimento do fenômeno da dor anterior do joelho, caracterizada pela
hipersensibilidade na região retinacular (medial e/ou lateral), tendinopatias associadas (patelar, quadricipital,
15
poplíteo), podendo ser acompanhada por lesão condral da articulação patelofemoral subjacente.

A corrida praticada em terrenos inclinados, tais como terrenos acidentados, ou mesmo ruas e avenidas com as
margens inclinadas lateralmente (escoadouros pluviais), determina para o corredor uma condição de
assimetria relativa dos membros inferiores. O membro inferior mais próximo da margem baixa das pistas
inclinadas (perna baixa ou inferior) assume uma posição de supinação do pé, rotação externa da perna,
causando estresse ao longo do canto póstero-medial do joelho, o que propicia o surgimento de lesões no
músculo semimembranoso, estiramento retinacular medial, lesão do ligamento colateral medial e acentuação
de lesões meniscais mediais.

A tendinite do músculo semimembranoso acomete corredores de meia idade e se caracteriza clinicamente por
dor no canto póstero-medial do joelho imediatamente abaixo da interlinha articular intensificada pela manobra
28
de rotação externa da perna (joelho fletido a 90°). Como fatores predisponentes, podem-se citar a rotação
externa da tíbia excessiva, hiperpronação do pé e a torção femoral interna, condições anatômicas que
28
promovem estresse da inserção do músculo semimembranoso no nível do joelho.

A tendinite/bursite da pata de ganso se manifestam por dor na região anteromedial da tíbia de corredores
28
e fazem diagnóstico diferencial com as lesões do ligamento colateral medial.

A tendinite do poplíteo pode ser encontrada entre os corredores de longa distância, caracterizada pela dor no
canto póstero-lateral e pela tensão aumentada do tendão poplíteo (localizada na região anterior ao ligamento
colateral lateral do joelho), e tem como um dos fatores predisponentes a pronação do pé excessiva
15
(hiperpronação).

A Síndrome da Gordura de Hoffa, também conhecida como a síndrome da gordura infrapatelar, acomete
corredores, em decorrência do traumatismo da gordura de Hoffa, durante a realização de movimentos
28
repetitivos de extensão máxima do joelho.

A síndrome do trato iliotibial é uma síndrome de over use causada pela fricção excessiva entre o trato
29
iliotibial e o epicôndilo lateral do fêmur. Acomete corredores de longa distância em 1,6% a 12% e tem
como fatores predisponentes o pé cavo, genu varo, epicôndilo lateral do fêmur proeminente, tíbia vara, torção
tibial interna, assimetria de membros, erros de treinamento, como mudanças bruscas de intensidade, duração e
28
freqüência.

A síndrome compartimental crônica é a forma de manifestação mais comum das síndromes compartimentais
30
em atletas, localizada preferencialmente na perna. Os sintomas são restritos ao período da atividade física,
30
cursando assintomática durante o repouso. As cargas axiais repetitivas provocadas durante a corrida
aumentam o risco da síndrome compartimental crônica, caracterizada pelo aumento da pressão dentro de um
compartimento. Embora a fisiopatologia da síndrome compartimental seja semelhante nos tipos agudo e
30
crônico, a isquemia tecidual não está necessariamente presente no tipo crônico.

O difícil diagnóstico da síndrome compartimental crônica decorre de as manifestações clínicas apresentadas


30
serem inespecíficas. O atleta geralmente apresenta dor recorrente associada ao esforço, e que cessa durante
30
o repouso. As manifestações são bilaterais em 75% a 95% dos casos.

O diagnóstico da síndrome compartimental crônica é obtido por meio de medidas da pressão compartimental
avaliadas nos períodos pré e pós-exercício. Qualquer pressão compartimental superior a 30 mmHg, medidas 1
minuto após a realização de exercício, ou pressões superiores a 20 mmHg 5 minutos após a realização de
esforço, são considerados diagnósticos positivos.

A situação de “overtraining”, termo empregado para descrever uma condição física de diminuição do
desempenho associado à fadiga crônica e precipitada pelo estresse do treinamento, vem ganhando expressão
nos dias atuais, devido ao advento de modalidades esportivas que demandam grandes volumes de
treinamento, seguidos por um tempo de recuperação insuficiente, e que expõem o atleta a períodos
11
competitivos prolongados.

Há numerosos relatos de queda do desempenho de atletas sem razão aparente, e que necessitam de um longo
11,12
período para recompor a forma física. O overtraining desencadeia uma série de alterações metabólicas,
11,12
comprometendo os sistemas cardiovascular, neuroendócrino, imune e musculoesquelético.

12
“Overtraining” é uma síndrome, um complexo de sinais e sintomas que podem variar entre indivíduos.
Também conhecida como “Síndrome da Fadiga Crônica”, o “overtraining” não apresenta evidências de um
único fator fisiopatológico.

Alguns atletas, altamente motivados, mesmo sabedores de suas quedas de rendimento, aumentam a carga de
treinamento, levando a um círculo vicioso de mais fadiga e mais diminuição do desempenho.

Brown considera alguns padrões de treinamento e competição como elementos de risco elevado para a
12
“síndrome de overtraining”:

1.

Sessões de treinamento de alta intensidade com períodos de recuperação insuficiente.

2.

Aumento abrupto no volume de treinamento.

3.

Intervalos reduzidos entre competições.

4.

Rotina monótona de treinamento.

Apesar de os atletas acometidos por lesões de sobrecarga relacionarem mudanças no treinamento com suas
lesões, Bennell não observou diferença estatisticamente significante entre fatores extrínsecos, como: a média
semanal de horas de treinamento, distância de corrida, tipo de treinamento, tipo de calçado e tipo de
2,3
superfície, quando comparados atletas lesionados e sãos.

Embora não haja sinais clínicos específicos associados à síndrome de sobrecarga, os sintomas mais
11,12
freqüentemente observados são aqueles observados no Quadro 48-4:
Quadro 48-4. Sinais e sintomas da “Síndrome de Sobrecarga”
Perda da iniciativa
Labilidade emocional: ansiedade, irritabilidade, depressão
Distúrbios do sono, com sensação de cansaço permanente
Distúrbios do apetite, com perda de peso
Queda do rendimento esportivo
Alterações no ritmo menstrual
Susceptibilidade aumentada a infecções
Fadiga excessiva com dificuldades de recuperação entre sessões de treinamento
Dores persistentes associadas à tensão muscular aumentada, desproporcionais ao nível de treinamento.
Procura do atleta por métodos de relaxamento (massagens, fisioterapia)

As definições de fadiga são variáveis, tais como: “falência na manutenção de força durante contrações
musculares repetidas ou sustentadas”; “falência na manutenção de força esperada ou requerida”; “decréscimo
transitório da capacidade de trabalho resultante de atividade física prévia...geralmente evidenciada pela
31
falência de manutenção ou desenvolvimento de força muscular”.

A fadiga, para o corredor, representa uma condição subjetiva, com sintomas diversos, tais como a perda da
concentração e a pequena tolerância à atividade. Para o médico, a fadiga significa freqüentemente um risco
11
potencial à lesão muscular.

Interroga-se freqüentemente a possibilidade de cada passo na cadeia de eventos da contração muscular ser
32
sede de instalação de fadiga. Há estudos que classificam a fadiga em duas categorias: central e periférica. A
discussão implica concentrar a atenção na fadiga periférica, que envolve alterações na transmissão
neuromuscular, no sarcolema, acúmulo de metabólitos e desequilíbrio iônico.

Talvez a fadiga deva ser vista como um mecanismo protetor contra lesões musculares irreversíveis, e o
11
treinamento, um meio de prevenir a instalação da fadiga.

As fibras musculares do Tipo I, ou oxidativas, são recrutadas preferencialmente durante as corridas de longa
distância, desenvolvem menor potência, porém apresentam maior resposta ao “endurance”, sendo, portanto,
11
também conhecidas como fibras lentas.

Características como o exercício intenso de longa duração e com predomínio de contração muscular
11
excêntrica constitui-se nos principais fatores predisponentes das lesões de fibras musculares.

As lesões se iniciam no nível subcelular, em pequenas proporções do grupo muscular, podendo levar à dor e
11
queda do desempenho. A progressão da lesão muscular pode ser descrita em 4 estágios básicos:

1.

Inicial. Fatores metabólicos e mecânicos disparam as sucessivas fases de degeneração e regeneração das
fibras musculares. Os fatores metabólicos abrangem temperaturas elevadas (alteração de proteínas), respiração
mitocondrial insuficiente (altera o mecanismo das bombas de cálcio), queda do pH e produção elevada de
radicais livres. Os fatores mecânicos envolvem a ruptura de estruturas celulares (sarcolema, retículo
sarcoplasmático e miofibrilas).

2.

Autógeno. Segue o evento inicial, caracterizado pela degradação de estruturas celulares (proteólise e lipólise).
Observa-se que, com o rompimento da barreira da membrana celular, tem-se passagem de constituintes
intramusculares para o espaço extracelular e vice-versa. A perda da homeostase do cálcio, caracterizada pela
elevação dos níveis de cálcio mitocondrial, promove alterações na respiração celular, com diminuição do pH,
ativação da fosfolipase A2, e conseqüente aumento de prostaglandinas, leucotrienos, proteases lisossomais e
radicais livres. Esse período precede em várias horas a invasão de células fagocíticas no local da lesão.

3.

Fagocítico. Prevalece de 4 a 6 horas após o início dos eventos, e mantém-se de 2 a 4 dias seguidos ao
exercício. É marcado por uma típica resposta inflamatória do tecido.

4.

De regeneracão. Embora não haja demarcação evidente entre os períodos de degeneração e regeneração,
cerca de 4 a 6 dias após o evento inicial, há uma clara evidência de recuperação de miofibrilas e do tecido
lesionado. Por volta de 10 a 14 dias, o tecido muscular aparece normal.

33
Há evidências de que alterações teciduais se processam na corrida de longa distância. A análise
histoquímica de biópsias musculares de músculos gastrocnêmios de maratonistas em 5 momentos diferentes
(pré-maratona, 1 dia, 3 dias, 5 dias, e 7 dias após a maratona) evidencia que tanto o treinamento para a
maratona, quanto a prova em si, induzem degeneração de fibras musculares e necrose, podendo causar
33,34
rabdomiólise e mioglobinúria.

Durante o período de treinamento para a maratona, foram identificadas fibras musculares com amplo
acúmulo de glicogênio, mitocôndrias e lipídios, sinais de trauma em 8 de 10 amostras obtidas, com
visualização de eritrócitos e mitocôndrias livres no espaço extracelular e rupturas do sarcolema com
desorientação de fibras. Imediatamente após a maratona, observou-se menor acúmulo de glicogênio, presença
de eritrócitos e mitocôndrias livres no espaço extracelular, nodos de espasmo muscular e fendas no sarcolema
em praticamente metade dos corredores. Do 1º ao 3º dia após a maratona, as anormalidades aparecem com
mais prevalência, o que vem explicar a demora na recuperação do cansaço muscular experimentado pelos
atletas, encontrando-se evidências celulares de necrose. Em quase todas as amostras de cada período,
mitocôndrias estavam presentes no espaço extracelular, sugerindo que a ruptura de fibras musculares
34
continuava após a maratona.

A fadiga muscular, causando redução da absorção de choque e conseqüente redistribuição das forças atuantes
sobre os ossos, associada às forças repetitivas originadas das contrações musculares durante a corrida, pode
35
desencadear alterações do metabolismo ósseo, gerando fraturas de estresse.

2,3,8,9,28,35-43
As fraturas de estresse representam 4,7% a 30% das lesões encontradas em corredores e
situam-se preferencialmente nos membros inferiores: tíbia (49,9%), ossos do tarso (25,3%), metatarsos
(8,8%), fêmur (7,2%), fíbula (6,6%), pelve (1,6%), sesamóides (0,9%) e coluna (0,6%) Entre os corredores,
os fatores considerados elementos de risco para as fraturas de estresse são: a corrida de longa distância
praticada por indivíduos com idade superior a 20 anos, sexo feminino, raça branca, o uso de calçados
inadequados, portadores de distúrbios anatômicos e biomecânicos, erros de treinamento, deficiências
8,9,28,35-39
nutricionais e alterações hormonais.

A fascite plantar (processo inflamatório da fáscia plantar) representa a causa mais comum de dor na região
44
inferior do pé, somando 10% das lesões encontradas nos corredores. A faixa etária mais freqüentemente
acometida é de corredores adultos jovens. O diagnóstico clínico é relativamente simples, por meio de história
e exame físico adequados, com 90% dos casos apresentando melhora por meio do tratamento clínico e
44
fisioterápico, reservando 10% dos casos para tratamento cirúrgico.

Os fatores predisponentes ao aparecimento da fascite plantar podem ser divididos em anatômicos,


biomecânicos e ambientais. Os fatores anatômicos são: pés planos, pronação da subtalar, pés cavos, assimetria
44
de membros, coalizão tarsal. Os fatores biomecânicos são: tensão aumentada do tendão do calcâneo,
diminuição de força de flexores plantares, tornozelo e intrínsecos do pé, obesidade, súbito ganho de peso e
44
trauma. Os fatores ambientais representam mudanças de treinamento, aumento súbito de velocidade,
intensidade e duração da corrida, corrida em aclives, terrenos irregulares, mudança súbita de material,
44
calçados inadequados, alongamento insuficiente.

As lesões por sobrecarga em corredores de longa distância podem ser evitadas ou minimizadas, se algumas
regras forem consideradas:

1.

Correr sobre superfícies planas e firmes, porém não muito duras.

2.

Evitar a utilização do mesmo par de tênis nos treinamentos em dias consecutivos, sobre a mesma superfície, à
mesma velocidade.

3.

Realizar um período de aquecimento, antes do início da corrida.

4.

Praticar regularmente exercícios de alongamento com atenção particular aos músculos dos membros
inferiores.

5.

Manter um período adequado de recuperação após treinamentos longos ou de sobrecarga.

6.

Treinar de outras regiões do corpo, além dos membros inferiores (cross-trainning).

7.

Evitar treinamentos longos ou de sobrecarga nos dias de fadiga acentuada ou nos períodos de recuperação de
lesões.

MARCHA ATLÉTICA
A marcha atlética é uma modalidade de resistência, caracterizada pela caminhada de longas distâncias
previamente determinadas (provas de 20 km para homens e mulheres; 50 km para homens).

Apresenta como regra fundamental a necessidade de manter ao menos um dos pés em contato com o solo
durante todo o tempo da marcha, não permitindo, assim, que o atleta mantenha uma fase aérea entre os
passos, como acontece necessariamente durante a corrida. Um pé não poderá deixar o solo enquanto o
contralateral não estiver tocando o solo à frente. Infringir a regra implica desclassificação imediata da prova
durante uma competição (Fig. 48-4).

A biomecânica da marcha caracteriza-se por movimentos de um “caminhar” de grande vigor e velocidade


elevada.

O tronco assume uma posição ereta, diferentemente da posição de semiflexão da corrida, o que acarreta a
necessidade de movimentos torcionais e conseqüentemente maior solicitação dos músculos paravertebrais e
abdominais para que a execução eficiente do passo. A dor lombar do marchador pode ser prevenida por meio
de exercícios de alongamento da musculatura paravertebral lombar, musculatura abdominal e oblíquos.

No início da fase de apoio, o contato do retropé com solo exige do atleta movimentos de extensão/
hiperextensão do joelho seguida pela dorsiflexão (extensão) do tornozelo, procurando compensar o ganho de
amplitude do passo sem a fase aérea.

As forças de hiperextensão atuantes no joelho podem desencadear dor na região poplítea por distração das
estruturas posteriores, podendo significar o surgimento de tendinopatias crônicas. Os exercícios de
alongamento da musculatura extensora e o simultâneo fortalecimento dos músculos flexores previnem ou
minimizam as queixas no joelho.

Os movimentos de extensão do tornozelo e o conseqüente choque do calcanhar no solo propiciam queixas


álgicas no retropé (coxim gorduroso plantar) e região do tendão calcâneo. A execução de exercícios de
alongamento conjugada ao uso de palmilhas para a elevação do retropé minimiza os efeitos dolorosos.

A ação dos membros superiores se faz de maneira a equilibrar e intensificar os movimentos dos membros
inferiores. Alternadamente, os ombros executam movimentos de flexo/ extensão de pequena amplitude,
mantendo-se os cotovelos flexionados em torno de 90° e atitude de punhos cerrados.

A velocidade de execução dos movimentos da marcha relaciona-se diretamente a fatores como a capacidade
aeróbia, coordenação, flexibilidade e equilíbrio do atleta.

Os movimentos articulares, sobretudo dos membros inferiores, exigem do atleta o máximo de amplitude, e,
para que tal objetivo seja atingido, esse deve ser flexível e manter uma rotina de exercícios de alongamento
45
específica e regular.

MODALIDADES DE SALTOS

Salto em distância
Histórico

O salto em distância, também conhecido como salto em extensão, é uma das mais antigas modalidades do
46
atletismo, datando de 708 A.C (XVIII Jogos Olímpicos) sua primeira aparição.

Disputado originalmente como integrante do pentatlo, prova representada por cinco modalidades (lançamento
do disco, lançamento do dardo, corrida, salto em extensão e luta), o salto em distância era considerado o
46
evento mais elegante e representativo dessa prova.

A História deixa dúvidas quanto às características técnicas das primeiras provas do salto em distância
46
disputadas nos Jogos Olímpicos. Os indícios históricos não esclarecem se o salto era realizado precedido ou
46
não por uma corrida de aproximação.

Narrativas, pinturas em vasos e peças antigas retratam o saltador de distância empunhando dois halteres.
Feitos em pedra ou chumbo, os halteres possuíam forma e peso que variavam de acordo com a categoria e a
46
compleição física do atleta, adaptando-se às exigências individuais para permitir melhores resultados.
Algumas peças eram achatadas com formato de “rim” e possuíam um orifício que permitia uma empunhadura
46
mais firme. Outras se assemelhavam aos “halteres” de hoje e havia, ainda, exemplares com formato de um
46
pequeno sabre com maior peso na parte dianteira da peça. Nas escavações de Corinto, foram encontrados
46
exemplares de 1,35 a 1,9 kg, mas o peso poderia chegar a 2,5 kg.

O terreno destinado ao salto em distância apresentava regiões específicas como a área de impulso e a de
aterrissagem. A área de impulso, local onde o saltador desprendia o último pé de apoio, considerada firme e
dura, era conhecida na Grécia antiga como “bater”, e a área de aterrissagem, especialmente preparada para
46,47
amortecer a queda, media aproximadamente 15 m, e era chamada de “skamma” “Saltar por cima da
47
skamma” era um provérbio grego que retratava uma distância extraordinária atingida pelo atleta.

A prova do salto em distância se realizava ao som da ária pítica, composta em homenagem ao deus Apolo e
46
executada em flauta dupla. Segundo a lenda, o deus da luz, antonomásia atribuída ao deus Apolo, teria
obtido diversas vitórias nessa prova, e os gregos acreditavam que, sendo homenageado, protegeria o atleta,
favorecendo-o a atingir grandes resultados. A música proporcionava, também, sincronização de movimentos e
46
ritmo.

A melhor marca olímpica dessa prova data de 664 D.C. atingida nos XXIX Jogos Olímpicos e manteve-se em
46
poder de Quionis de Esparta, que registrou 16,66 m. Phayllos teria saltado, posteriormente, a extraordinária
47
distância de 16,76 m. Ambos os resultados jamais foram igualados em nenhuma versão dos jogos gregos e
47
originaram estudos com o objetivo de comprovar a veracidade dos feitos. Uma corrente de opinião defende
a idéia de que as marcas atingidas teriam sido resultado de uma espécie de salto triplo, uma variante que
46,47
integrava os Jogos Olímpicos.

Biomecânica do salto em distância

O salto em distância consiste de uma corrida de aproximação veloz, um impulso explosivo a partir de
uma tábua de madeira no mesmo plano da superfície da pista, uma trajetória aérea e, finalmente a
48-52
aterrissagem na caixa de areia. A distância efetiva do salto é marcada a partir da borda final da tábua de
impulso até a primeira marca feita pelo atleta na caixa de areia.

Alguns pré-requisitos básicos são necessários para um bom desempenho no salto em distância, como: a
48-52
velocidade, a posição corporal e a precisão do impulso.

O resultado ideal no salto em distância depende, dentre outras variáveis, da capacidade do atleta em
desenvolver alta velocidade no momento do impulso. Quanto maior for a velocidade horizontal do centro de
48-52
gravidade do atleta, no momento do impulso na tábua, maior será a distância atingida no salto.

O salto em distância pode ser dividido didaticamente em quatro partes consecutivas:


1.

Corrida de aproximação (approach)

A corrida de aproximação é o período compreendido entre o início da corrida ou da caminhada que a


antecede, até o momento em que o pé de impulsão toca o solo pela última vez (touchdown).

As técnicas utilizadas pelos saltadores, para iniciar a corrida de aproximação, são várias, mas,
basicamente, podemos dividi-las em duas: na primeira, o atleta inicia a corrida a partir de uma posição
estática e progressivamente acelera, até atingir a velocidade máxima ideal para o salto. Na segunda técnica, o
saltador realiza alguns passos até a marca da corrida e, a partir daí, a realiza em velocidade elevada.

A velocidade máxima atingida durante a corrida de aproximação para o salto se aproxima da máxima
48-52
velocidade que o saltador é capaz de atingir.

O comprimento da corrida, o número, a freqüência e o comprimento dos passos necessários para a


realização da aproximação são determinados pelas características corporais e pelas habilidades próprias do
48-52
saltador no desenvolvimento da velocidade ideal para o salto.

Durante a corrida, os músculos possuem duas funções essenciais: acelerar o corpo na direção horizontal e
16
agir contra a força da gravidade atuante na direção vertical.

O comportamento dos quatro últimos passos de corrida que antecedem o impulso, têm sido alvo de
muitas especulações no que se refere à relação desse parâmetro com a distância final atingida pelo saltador.
48-52
As conclusões afirmam que a metragem final do salto independe do comprimento dos últimos dois
48
passos de corrida que antecedem o impulso e tampouco há relação entre a posição de passada (1º, 2º, 3º ou
4º passo que antecede o impulso final) em que a velocidade máxima é atingida, e a metragem final do salto.
48-52

Embora Hay afirme que o comprimento ideal de corrida de aproximação deva estar entre 50 m e 60 m, a
literatura nos revela que os atletas se utilizam de distâncias menores na prática dessa prova, em torno de 40 m
48-52
a 50 m.

A freqüência dos passos, durante a corrida de aproximação, aumenta substancialmente com a


aproximação do momento do impulso, embora ainda haja discussão a respeito da relação do comprimento
48-52
ideal dos últimos passos de corrida com o comprimento final do salto.

O padrão de comportamento do centro de gravidade (C.G.) do saltador, durante a corrida, é praticamente


linear, pouco alterando sua posição vertical em relação ao solo.

Os últimos passos que antecedem o impulso levam a uma diminuição da altura do C.G. Hay observou o
48-52
abaixamento do C.G. nos últimos dois passos para o impulso em saltadores experientes. A diminuição
da altura do C.G. até os níveis de 10% da altura média, mantida durante a corrida, é considerada uma manobra
48-52
de facilitação na aquisição de velocidade vertical no momento do impulso O deslocamento vertical do
C.G. na fase do impacto inicial durante o impulso demonstra o quanto o atleta consegue suportar e converter
48-52
as grandes forças de impacto e, conseqüentemente, se beneficiar da energia elástica resultante.

A precisão com que o saltador atinge a superfície de impulsão (tábua) é obviamente um fator determinante do
sucesso do salto. Os atletas geralmente fazem ajustes no comprimento da corrida de aproximação, também em
48-52
função de modificações no tempo, direção e intensidade de vento e condições físicas próprias do atleta.
Os ajustes do salto também são realizados de maneira súbita durante a corrida de aproximação, quando o
atleta altera a freqüência e/ou o comprimento dos passos de corrida, visando atingir a tábua de impulso com
mais precisão, melhor velocidade, e coordenação de movimentos.

A corrida de aproximação pode ser subdividida também em duas etapas. Na primeira, ou chamada fase de
48-52
estratégia programada, o atleta executa movimentos de corrida condicionados durante o treinamento.
A segunda etapa ou fase de estratégia visual, que geralmente caracteriza os cinco últimos passos que
antecedem o impulso, se caracteriza pelos ajustes na corrida praticados pelo atleta por meio da avaliação
48-52
visual da distância da tábua. As alterações no comportamento e os movimentos de corrida podem
provocar o aparecimento de lesões musculoesqueléticas, antes mesmo da fase de impulso ter sido iniciada.

A simples alteração súbita, ou não programada na freqüência e amplitude dos passos da corrida, a fim de
atingir com maior precisão a tábua de impulsão pode levar o atleta às lesões miotendíneas, principalmente
53
localizadas na musculatura isquiotibial durante a fase de contração excêntrica. Da mesma forma, o toque do
pé de impulso na tábua com o joelho muito estendido, em decorrência de uma aproximação imprecisa (último
passo longo), leva o centro de gravidade do atleta para uma posição para trás, o que gera desaceleração
53
significativa, tornando o salto ineficiente e podendo causar lesões no joelho.

2.

Impulso (Takeoff)

O impulso é o momento primordial da execução do salto, considerado o intervalo entre o toque do pé no solo
e seu desprendimento para a fase aérea. A força gerada durante o impulso origina-se das propriedades
elásticas dos músculos extensores do membro inferior de impulso, tanto por meio do reflexo de estiramento
48-52
dos mesmos, como de suas contrações ativas.

48-52
O intervalo de tempo que o pé de impulso se mantém no solo varia de 0,08 a 0,14s.

A redução da velocidade horizontal no momento do impulso depende primariamente da duração e da


48-52
magnitude do retardo, ou seja, o tempo e a intensidade das forças do pé no solo . A correlação estatística
encontrada por Hay afirma que, quanto maior for a velocidade de aproximação do atleta, e menor for o tempo
48-52
de impulso, maior será a distância de salto atingido.

Há duas correntes teóricas a respeito da biomecânica do pé de impulso no momento em que esse toca o solo.
A primeira, e aparentemente mais aceita, afirma que o pé toca o solo, realizando um movimento chamado de
“aterrissagem ativa”, em que a seqüência de apoio se faz primeiro pelo retropé, seguido pelo médio-pé e
finalmente o antepé, o que proporciona a redução da velocidade horizontal do pé no impacto, resultando numa
48-52
reação de frenagem a partir do solo. A segunda teoria afirma que o pé toca o solo com a superfície
48-52
plantar total, sem que haja uma distribuição gradual de carga como na técnica anterior. Nenhuma das
48-52
teorias citadas oferece evidências convincentes que suportem suas posições, embora estudos
eletroneuromiográficos observem padrões de contração muscular que evidenciem a utilização de ambas as
52
técnicas entre os saltadores, com um predomínio da técnica de “aterrissagem ativa”.

Hay divide o momento do impulso em 3 fases:

A)
Fase inicial ou isométrica

A fase inicial ou isométrica se caracteriza por um ângulo de flexão do joelho que permanece praticamente
48-52
inalterado. Nessa fase, a potência desenvolvida pelas estruturas osteoligamentares do joelho atinge
quase 2,5 vezes os valores de potência desenvolvidos pelos músculos que cruzam a articulação do joelho. A
potência gerada pelas estruturas osteoligamentares do quadril apresenta uma magnitude que representa 83%
48-52
da potência desenvolvida pelo joelho.

Durante essa fase, o movimento de flexão plantar da articulação do tornozelo provoca uma ação excêntrica da
48-52
musculatura anterior da perna.

B)

Base média ou excêntrica

A fase média se caracteriza pela ação excêntrica da musculatura do quadríceps, promovendo um aumento do
48-52
ângulo de flexão do joelho.

C)

Base final ou concêntrica

Durante a fase final, a ação concêntrica da musculatura do quadríceps promove uma diminuição do ângulo de
48-52
flexão do joelho, até a extensão total.

O comportamento dos músculos dos membros inferiores durante a fase de impulso foi estudada por Hay,
48-52
que observou:

Músculo glúteo máximo. Contração isométrica mantendo o comprimento relativamente constante durante os
30% a 50% iniciais da fase de impulso, seguido de encurtamento na fase de desprendimento do pé (contração
concêntrica), refletindo a angulação relativamente constante da articulação do quadril na metade inicial da
fase de impulso.

Músculos vastos. Contração excêntrica, com aumento do comprimento na primeira metade da fase de
impulso, seguido de encurtamento (contração concêntrica). A magnitude da variação de comprimento
52
encontrada foi de 0,3 ± (0,1) cm. Há correlação positiva entre o tempo em que a musculatura sofre a ação
excêntrica e a geração de velocidade vertical.

Músculos isquiotibiais. Contração concêntrica com diminuição linear ou próxima de um comportamento


linear do comprimento, progressivo, a partir do toque do pé no solo até o seu desprendimento em função das
mudanças de posição que estão ocorrendo nas articulações do quadril e joelho. A correlação existente entre a
variação de comprimento dos músculos isquiotibiais e a mudança de velocidade vertical durante o impulso
revela que, quanto maior for o encurtamento muscular, maior será o ganho de velocidade vertical. Das
possibilidades existentes para permitir um grau de encurtamento eficiente, a extensão ampla do quadril é o
movimento mais provável.

Músculo retofemoral. Contração excêntrica com padrão linear a partir de uma fase breve de contração
isométrica.

Músculos sóleo e gastrocnêmio. O comportamento varia em função do padrão de apoio do pé de impulso.


O padrão de “aterrissagem ativa”, que caracteriza o toque inicial do retropé no solo, reproduz um movimento
de flexão plantar, seguido de dorsiflexão do tornozelo. Observa-se, então, uma fase de contração muscular
concêntrica, seguida de uma fase excêntrica. Quando a técnica de impulso se caracteriza pelo toque do pé em
sua extensão completa (flat-foot), a dorsiflexão do tornozelo resulta no padrão de contração muscular
excêntrica, seguida da flexão plantar (contração concêntrica). A considerar-se o período total, a fase
concêntrica da musculatura do tríceps sural se inicia em média nos 22% a 28% finais da fase de impulso. A
magnitude do estiramento muscular varia de 1,9 a 5,7 em ± 1,5, enquanto o encurtamento varia de 0, 1 a 2,3
52
cm. Quanto maiores for a distância em que a musculatura sofrer a ação excêntrica e a velocidade em que o
músculo sóleo sofrer ação excêntrica, maior será o ganho de velocidade vertical ao final da fase de impulso.

48
O ângulo de inclinação do tronco no momento do impulso varia entre 75º e 107° em relação à horizontal.

No salto em distância, quanto maior for a velocidade de aproximação desenvolvida pelo atleta, menor será o
ângulo de inclinação do impulso (AII), ou seja, grandes velocidades tornam difícil a tarefa de realizar saltos
predominantemente verticais.

Os AII descritos para os saltadores de elite não se assemelham à inclinação de 45° freqüentemente citada
como o ângulo ideal da trajetória parabólica de um projétil para que ele atinja uma distância horizontal
máxima. Esse conceito se torna inválido no caso do salto em distância, pois a velocidade no momento do
impulso e o AII são negativamente correlatos, ou seja, mesmo que um saltador de distância tivesse a
capacidade de gerar velocidade vertical como um saltador de altura de elite, a redução na velocidade
horizontal seria por volta de 50% ao saltar em AII de 45°, o que levaria a um salto de pouca eficiência em
48
termos de comprimento final.

Durante um salto em distância, ao realizar o impulso, a velocidade horizontal desenvolvida pelo atleta durante
a corrida de aproximação é reduzida na ordem de 9,5% a 17%. Essa diminuição da velocidade horizontal se
54
faz necessária para que ocorra o aumento da velocidade vertical e a elevação do C.G. do atleta. O módulo
de redução da velocidade horizontal apresenta uma correlação direta com o aumento da velocidade vertical no
48-52
momento do impulso. A razão entre as velocidades horizontal e vertical, no momento do impulso do
48
salto em distância, varia de 2:1 a 3:1. Witters considera que apenas 20% a 30% da fração de energia
cinética da corrida de aproximação perdida no movimento horizontal durante o impulso se converte em
53
movimento vertical.

O pico de força de reação vertical do solo representa 16,4 vezes o peso corporal, durante a fase de impacto
48-52
inicial do impulso.

3.

Vôo (Flight)

O vôo, ou a fase aérea do salto, compreende o intervalo entre o impulso e o momento em que o atleta faz o
primeiro contato com o solo no tanque de areia.

Após o desprendimento do pé do solo, o atleta descreve uma trajetória aérea visando atingir a maior distância
horizontal (Fig. 48-5).

O comportamento do C.G. na fase aérea correlaciona-se com alguns parâmetros do impulso, como a
48
velocidade, o AII e altura do C.G. em relação ao solo no momento do impulso. A altura atingida pelo C.G.
no ápice da fase aérea, em relação à altura inicial no momento do impulso, varia de 29 a 49 cm para as
48
mulheres e 22 a 75 cm para os homens.

As técnicas de vôo mais empregadas durante o salto agrupam-se em 3 tipos o “sail”, “hang”, e “hitchkick”
48
embora haja também variações e combinações entre essas.

A técnica mais elementar usada durante a fase aérea, ou “sail”, é aquela na qual o saltador flexiona os joelhos
48-52
e os quadris. O atleta adota uma posição sentada e mantém essa atitude enquanto progride no ar. No
momento do impulso, o membro inferior desprendido da tábua realiza o movimento de extensão de joelho e
quadril, além da flexão de tornozelo, enquanto o membro contralateral se encontra com o quadril flexionado e
o joelho partindo de uma flexão para a extensão. Segue-se, então, uma flexão do quadril e joelho do membro
de impulso, passando à frente do tronco, para se juntar ao membro inferior contralateral para a aterrissagem.
55

Outros atletas modificam a posição da técnica de sail e realizam a técnica de hang, em que mantêm elevados
48-52
os membros superiores, estendendo os membros inferiores, e assim otimizando a aterrissagem.

O “hitchkick”, também conhecido como “pedaladas no ar” ou “corrida no ar” alterna movimentos dos
membros superiores e inferiores, mantendo o tronco estável durante a trajetória aérea (Fig. 48-6). Possui duas
variações básicas, dependendo do número de passos realizados pelo atleta; assim sendo, temos o hitchkick de
48-52
2 1/2 e 3 1/2. Utilizar uma ou outra técnica de vôo tem como objetivo atingir a melhor distância do
salto, realizando movimentos dentro de uma eficiência biomecânica, a fim de que o atleta assuma uma posição
55
ideal para a aterrissagem.

4.

Aterrissagem (Landing)

Intervalo entre o momento do toque na superfície de areia até a passagem do centro de gravidade do atleta
(C.G.) à frente dos pés ou o término do movimento.

A atitude corporal ideal de aterrissagem mantém os quadris totalmente flexionados, o tronco fletido sobre as
48-52
coxas, os joelhos estendidos e os membros superiores estendidos e posicionados atrás do tronco.

A aterrissagem ótima é caracterizada pela máxima distância de aterrissagem atingida pelo atleta (DA) e a
55
mínima perda dessa mesma distância (DP).

A posição corporal, aliada à técnica empregada, pode promover uma perda significativa do comprimento do
salto, como ocorre quando o atleta toca com as mãos a areia durante a aterrissagem.

Hay considera que a distância atingida pelo atleta durante o salto é um somatório de três distâncias
parciais:

1.

Distância de impulsão (D.I.)

Distância horizontal entre a borda anterior da tábua de impulsão e C.G. no instante do impulso.

2.

Distância de vôo (D.V.)

Distância horizontal percorrida pelo C.G. enquanto o atleta encontra-se na fase aérea.

3.
Distância de aterrissagem (D.A.)

Distância horizontal entre o C.G. no momento em que há o toque dos calcanhares do atleta no solo e a marca
na areia na qual a distância do salto é efetivamente medida.

Duas medidas são oficialmente utilizadas na avaliação do desempenho do atleta na prova do salto em
48-52
distância:

1.

Distância oficial (D.O). Distância horizontal do salto, medida a partir da borda anterior da tábua de impulsão
em ângulo reto até a marca mais próxima deixada pelo atleta na superfície de areia.

2.

Distância efetiva (D.E.). Distância horizontal do salto, medida a partir da extremidade os dedos do pé de
impulsão em ângulo reto até a marca mais próxima deixada pelo atleta na superfície de areia.

Hay considera que das três distâncias definidas: (D.I., D.V., D.A.), a D.V. é aquela que exerce influência
percentual dominante sobre a distância efetiva e oficial do S.D., após não encontrar correlação
estatisticamente significante entre as distâncias D.I. e D.A. e a D.E.. Após observar os melhores resultados de
saltos pessoais (superiores a 7,70 m) de 12 atletas de elite, Hay concluiu a seguinte contribuição percentual
48-52
média das distâncias dos saltos D.I. 0,4%; D.V.: 92,9%; D.A.: 1,7%.

Os fatores predisponentes das lesões durante a fase de aterrissagem podem ser divididos em: extrínsecos e
intrínsecos.

Os fatores extrínsecos dizem respeito às condições inadequadas tanto da tábua de impulsão, quanto da caixa
de areia, superfícies envolvidas diretamente nas fases de impulso e aterrissagem, respectivamente. Analisando
os fatores relacionados com a fase de aterrissagem, não há como negligenciar as condições da tábua de
impulsão, já que os movimentos e o comportamento do centro de gravidade durante a fase aérea também
podem interferir diretamente na última fase do salto. Pode-se citar como condições inadequadas de superfície
da tábua de impulsão: irregularidades, ondulações, desgaste com depressões, presença de areia sobre a
mesma, degrau existente entre a pista e a tábua.

Devem-se enfatizar as condições irregulares da caixa de areia, como o desnível existente entre a pista e a
superfície de areia, a irregularidade de superfície, a areia demasiadamente compacta e o volume de areia
insuficiente. Ainda hoje, encontram-se lesões decorrentes das condições supracitadas, muitas vezes deixando
seqüelas e até afastando o atleta definitivamente da modalidade ou do esporte. O joelho e o tornozelo são as
articulações mais afetadas, podendo ser acometidas de fraturas, lesões ligamentares, tendíneas e nervosas.

Os fatores intrínsecos das lesões durante a fase de aterrissagem são descritos no Quadro 48-5.
Quadro 48-5. Fatores intrínsecos predisponentes às lesões no salto em distância
Técnica inapropriada
Perda de equilíbrio e coordenação durante as fases de impulso e aérea
Desequilíbrios musculares
Lesões musculoesqueléticas preexistentes

A aterrissagem com a posição de costas com as mãos estendidas pode levar ao aparecimento de lesões no
53
ombro. A extensão do ombro combinada com a contração do músculo bíceps pode resultar em lesões do
tipo SLAP da articulação glenoumeral, significando uma avulsão da inserção bicipital na superfície superior
53
do lábio glenoidal numa direção anteroposterior. O tratamento se baseia inicialmente no uso de medicações
antiinflamatórias não-hormonais e fisioterapia, com ênfase no fortalecimento do manguito dos rotadores. O
tratamento cirúrgico é indicado na falha dos tratamentos clínico e fisioterápico, com reparo e debridamento
53
artroscópico, ou reconstrução aberta.

Salto triplo
O salto triplo consiste de uma corrida de aproximação, seguida de três saltos assim distribuídos: 1º salto,
também chamado de hop, em que o atleta inicia o salto a partir de um pé e aterrissa sobre o mesmo pé.; 2º
salto ou step, cujo impulso é dado com o mesmo pé do 1º salto e a aterrissagem é feita sobre o pé alternado; 3º
salto ou jump, no qual impulso é dado com o pé de aterrissagem do 2º salto e a aterrissagem é feita com
56,57
ambos os pés na areia.

A velocidade final da corrida de aproximação para o salto triplo em geral é de magnitude inferior àquela
51
desenvolvida por atletas da prova do salto em distância. A explicação para tal fato vem da necessidade do
atleta em manter as forças que agem sobre seu corpo dentro de um limite de tolerabilidade e de controle, o
51
que demanda menor velocidade horizontal no momento do impulso para o 1º salto.

As distribuições percentuais das distâncias atingidas em cada etapa em relação ao comprimento total
alcançado no salto triplo foram estudadas ao longo dos anos entre saltadores, e podem ser assim descritas: o
56-60
1º salto (34% a 41%), o 2º salto (22% a 30%) e o 3º salto (31% a 37%). O 2º salto é invariavelmente o
menor dos três e funciona como uma fase de transição. Em virtude das variações fisiológicas, antropométricas
58
e biomecânicas, diferenças nas técnicas usadas pelos atletas são esperadas.

56
Com relação aos percentuais dos três saltos que compõem o salto triplo, pode-se dividi-lo em três tipos:

1.

1º salto dominante. O percentual de contribuição do 1º salto é ao menos 2% maior do que os demais saltos.

2.

3º salto dominante. O percentual de contribuição do 1º salto é ao menos 2% maior do que os demais saltos.

3.

Equilibrado. O maior salto contribui com menos de 2% de diferença em relação aos demais saltos.

O atleta necessita controlar precisamente a posição de seu corpo a cada salto em resposta às forças de
reação do solo nos momentos de impulso e aterrissagem. A perda do equilíbrio ou o erro de técnica interferem
53
no comprimento dos saltos e podem culminar em lesões.

59
As forças de reação do solo foram estudadas por Amadio (1985). O pico de força máxima vertical de reação
59
do solo encontrada durante o 1º salto variou de 14,0 a 22,3 vezes o peso corporal. Para um atleta de elite de
774 N de peso, 22,3 vezes o peso corporal representa uma força de 17,3 KN, o que significa 2 toneladas.
56,57,59
Embora os valores descritos representem uma magnitude de carga significativa, os saltos estudados
por Amadio mediam em média 3 metros a menos do que a melhor distância já saltada pelo homem nos dias de
56,57
hoje, o que indica a possibilidade de forças maiores de reação do solo.

A diminuição da velocidade da corrida de aproximação eventualmente se faz necessária para que o atleta
56,57
consiga um melhor controle e equilíbrio de seu corpo nas fases subseqüentes. As forças de reação do
solo podem atingir tal magnitude, que o atleta não mais é capaz de controlar o salto e o interrompe. A
56,57
persistência de continuar o movimento pode gerar o aparecimento de lesões.

Amadio estudou as forças internas atuantes no membro de impulsão do saltador de triplo e verificou que as
forças resultantes máximas, na articulação do tornozelo, foram inferiores às forças de reação vertical do solo
59
máximas. Na articulação do joelho, a resultante das forças apresentou a magnitude de 19,4 KN ou
59
aproximadamente 24 vezes o peso corporal durante o 1º salto. Valores menores foram encontrados para os
56,57,55
saltos subseqüentes.

As observações feitas sobre a magnitude das forças durante o salto triplo coincidem com as regiões mais
61
freqüentemente acometidas por lesões, como tornozelo, pé, joelho e região lombar.

O salto triplo potencializa os efeitos sobre a estrutura musculoesquelética na medida em que soma os efeitos
da aterrissagem de um salto com o impulso do salto seguinte. O amortecimento dos impactos resultantes se
faz por meio da ação da musculatura flexo-extensora dos quadris, joelhos, tornozelos e pés, locais diretamente
acometidos por lesões sejam agudas ou por sobrecarga.

62
O coxim gorduroso plantar é o local principal de manifestação dolorosa dos pés originada pelo impacto. As
lesões surgem em decorrência da biomecânica do pé no momento do impulso, assim como da intensidade e
freqüência dos saltos executados.

No momento do toque do pé no solo durante a aterrissagem para o salto seguinte, há o choque inicial do
53
retropé seguido do mediopé e antepé, de maneira simultânea.

Salto em altura
A modalidade do salto em altura tem origem nos Jogos Olímpicos da Grécia antiga. O atleta da prova de salto
em altura tem como objetivo atingir a maior altura possível, passando por cima de um sarrafo (barra
horizontal) por meio de um salto vertical a partir do impulso de um dos membros.

O salto é precedido por uma corrida de aproximação de trajetória curvilínea até o momento do impulso.

Algumas técnicas se sucederam no aprimoramento dos movimentos do salto em altura, desde sua criação. A
técnica do salto em “tesoura” ainda hoje utilizada nas escolas, embora permita ao atleta atingir alturas
pequenas, se baseia no salto precedido por uma corrida de aproximação, em que o atleta, após realizar o
impulso, passa os membros inferiores alternadamente sobre o sarrafo, e aterrissa sobre um colchão de
espuma.

A técnica de “straddle” ou “rolo ventral” desenvolvida na década de 40 é ainda hoje utilizada, embora não
seja um conjunto de movimentos ideais que permitam ao atleta atingir resultados expressivos. Esse
impulsiona seu corpo a partir do membro inferior mais próximo da área de aterrissagem (colchão) e projeta o
membro contralateral, mediante a flexão do quadril, com o joelho próximo da extensão máxima. O
movimento continua com a passagem sobre o sarrafo do membro projetado, seguido do tronco e, por último, a
passagem do membro contralateral.

Os Jogos Olímpicos do México em 1968 foram marcados pelo surgimento da técnica que significaria um
marco no desenvolvimento da modalidade do salto em altura.

Um saltador norte-americano chamado Dick Fosbury introduzia uma inovação técnica denominada por ele de
“Fosbury Flop”, em que não mais ultrapassaria o sarrafo de frente e sim de costas para este (Fig. 48-7). O
membro de impulso projetaria o corpo por sobre o sarrafo, e de costas para esse, ultrapassando os membros
inferiores por último, diferindo assim das demais técnicas anteriormente utilizadas.

A aterrissagem na técnica de “flop” inicia-se com o choque da região dorso-cervical, ombros e membros
superiores no colchão. A parte final da aterrissagem consiste no rolamento do corpo sobre os ombros,
reduzindo a carga sobre a coluna cervical. Quando o atleta aterrissa incorretamente, a coluna cervical passa a
63
suportar uma grande carga axial durante os movimentos de hiperflexão e rotação. A técnica inadequada
propicia o aparecimento de lesões da coluna, quer sejam agudas ou crônicas, como espasmos musculares
paravertebrais, fraturas-compressão dos corpos vertebrais, fraturas de processos transversos, subluxações
54,63
anteriores e sintomas decorrentes de lesões neurológicas (jumper’s neck).

A energia cinética desenvolvida pelo atleta durante a corrida se transforma em energia potencial, o que
permite o deslocamento vertical do corpo após o impulso. Do mesmo modo, a velocidade horizontal
desenvolvida durante a aproximação apresenta uma diminuição significativa de seu módulo no momento do
choque do pé de impulso no solo, levando o corpo a gerar o aumento da velocidade vertical. Esse mecanismo
de “frenagem” da corrida de aproximação se faz necessário para que ocorra a mudança esperada nos módulos
e direções das velocidades em questão.

48
O tempo de permanência no solo do pé de impulso varia na ordem de 0,13 s a 0,24 s. O maior tempo de
impulso encontrado no salto em altura quando comparado ao salto em distância pode significar a necessidade
de um tempo maior necessário para que os saltadores de altura desenvolvam um módulo de velocidade
48
vertical maior, necessário para a realização de um salto ideal.

Em função da magnitude da desaceleração horizontal e conversão da energia cinética para o aumento da


velocidade vertical, o aparelho extensor do joelho executa um trabalho importante, gerando tensões elevadas,
o que freqüentemente ocasiona o aparecimento de lesões.

Vainionppa relatou caso de um atleta da prova do salto em altura, portador de patela alta, que apresentou
64
ruptura do tendão patelar. Após a tenorrafia e reinserção proximal, o atleta desenvolveu uma megapatela,
que o autor sugere ter sido provocada pelo tipo de estresse aplicado ao joelho durante o treinamento após a
64
cirurgia.

A particular histogênese da tuberosidade anterior da tíbia (TAT) toma-a susceptível a fraturas-avulsões


durante a adolescência. Alguns fatores estão envolvidos no tipo de lesão, como a magnitude das cargas de
65
tração que incidem no músculo quadríceps, ângulo de flexão do joelho e a idade do atleta. O fechamento da
placa fisial da TAT ocorre entre 17 e 18 anos e a ossificação endocondral é semelhante a todas as cartilagens
65
epifiseais.

A extensão da lesão é determinada pelo ângulo de flexão do joelho durante uma contração rápida e
intensa do aparelho extensor, ou seja, a avulsão da TAT e do tendão patelar sem lesão da placa fisial ocorre
quando as forças são aplicadas ao joelho em extensão quase completa (0° a 30° de flexão) (Fig. 48-8). Esse
66
tipo de lesão pode ser encontrada nos atletas da prova de salto em altura, cujo o impulso para o salto é
realizado com o joelho próximo da extensão máxima, levando ao aparecimento da avulsão na fase final do
impulso, antes do desprendimento do pé do solo. A aterrissagem de um salto com o joelho em extensão e a
65
falta de flexibilidade em atletas destreinados são também situações predisponentes para as lesões da TAT.

A fratura-avulsão com extensão para a placa fisial ocorre quando o joelho se encontra flexionado (Fig. 48-9).
Essa situação está presente principalmente durante a aterrissagem de um salto sobre um único membro com o
joelho flexionado, como podemos observar em algumas modalidades de saltos, como o salto triplo.
O tratamento da fratura-avulsão da TAT sem desvio ou com desvio mínimo se faz com imobilização durante
65
um período de 4 semanas, com limitação da atividade esportiva específica durante 3 meses.

As fraturas-avulsão com desvio devem ser tratadas com redução aberta e fixação interna com fios de
65
Kirshner ou parafusos, sendo esses últimos a melhor indicação. Além de imobilização for um período de 3
65
semanas, seguida da fisioterapia.

Salto com vara


O salto com vara é uma modalidade do atletismo, cujo objetivo é atingir um deslocamento vertical do atleta,
utilizando uma vara, com o objetivo de passar sobre uma barra (sarrafo) disposta horizontalmente.

O mecanismo para que ocorra o salto se origina da transferência da energia cinética inicial da corrida de
aproximação do atleta, para a energia elástica da vara, somada ao trabalho muscular durante o salto e
66
culminando em uma energia potencial, que desloca o atleta verticalmente.

Histórico

A origem do salto com vara se esconde na era pré-histórica, quando a utilização de longos troncos de madeira
permitia ao homem da época ultrapassar distâncias e atingir regiões dificilmente alcançadas apenas com seus
recursos corporais.

Os gregos também utilizavam varas para saltarem sobre manadas de touros. Os celtas, por sua vez, utilizavam
67
varas para atingirem grandes distâncias horizontais. A modalidade do salto com vara tornou-se um evento
de salto vertical no ano de 1775, na Alemanha. Em 1850, a modalidade passou a ter uma corrida de
aproximação, antecedendo o salto, o que permitia ao atleta a condição de atingir alturas maiores. No início, as
varas eram pesadas e rígidas, confeccionadas de madeira, o que exigia do atleta escalá-las para atingir uma
67
altura melhor. Em 1869, os norte-americanos proibiram o movimento das mãos para a escalada da vara e
introduziram a técnica de reversão dos membros inferiores para cima, o que levava o atleta a saltar por cima
do sarrafo (barra horizontal) com a parte da frente do corpo. As varas leves de bambu foram introduzidas em
1900 e permaneceram até 1942, quando foi criado o “encaixe”, uma depressão da pista específica para o apoio
67
da vara no momento do salto.

A aterrissagem dos saltos era inicialmente feita na areia, e na década de 50 o colchão passou a ser utilizado
67
como equipamento de amortecimento dos saltos.

Vários materiais se sucederam na confecção das varas, como a madeira, o alumínio, aço, e finalmente, a fibra
de vidro. Introduzidas em 1956, as varas de fibra de vidro se constituíram numa revolução da técnica do salto
com vara, pois passaram a permitir ao atleta atingir alturas cada vez maiores, em função das propriedades
67
mecânicas dos materiais. As varas passaram a permitir uma flexão e o retorno a sua forma original,
conduzindo o atleta para cima, ao cessar a força aplicada, pela conversão significativa da energia cinética em
68 69
energia potencial reduzindo, com uso, a quantidade de energia cinética perdida na fase de impulso.

A evolução tecnológica dos materiais permitiu a confecção de varas com variados tamanhos e graduações de
resistência, flexibilidade e peso. Esse avanço permitiu modificações importantes nas características da prova,
considerada a mais técnica do atletismo.

Saltadores de elite do sexo masculino utilizam varas de fibra de vidro ou fibra de carbono cujo comprimento
varia de 5,00 a 5,20 cm e que pesam aproximadamente 2,5kg.
Biomecânica do salto com vara

Pode-se dividir o salto em fases:

1.

Corrida de aproximação

O objetivo da corrida de aproximação é fazer com que o atleta atinja o máximo de velocidade controlável no
69
momento do impulso. A corrida de aproximação apresenta importância significativa na geração de energia
cinética que será transformada em energia potencial no momento em que o atleta encaixa a vara durante o
69
impulso (take-off).

O movimento de corrida difere daquele das demais modalidades de salto na medida em que o atleta necessita
coordenar os movimentos de corrida com os membros superiores, que empunham a vara.

A empunhadura da vara se faz com os dois membros superiores ao mesmo tempo, sendo que esses se
encontram posicionados em pontos situados da seguinte maneira: o 1º, próximo à extremidade da vara ou
69
sobre a mesma (entre 4,90 m e 5,1 m, para saltadores de elite) mantém o antebraço supinado, punho
estendido e o cotovelo semifletido. O 2º ponto de empunhadura, localizado distalmente ao 1º, mantém o
antebraço pronado, cotovelo semifletido e o ombro em rotação interna.

As mãos dos saltadores necessitam aderir firmemente à vara para um melhor controle da mesma durante a
corrida e o salto. Os atletas utilizam produtos nas mãos que aumentam essa aderência, e podem desenvolver
lesões na pele como calosidades, escoriações e flictenas.

A leveza das varas, associada ao ganho de força dos saltadores e ao aprimoramento técnico dos mesmos,
levou ao desenvolvimento de corridas de aproximação com velocidades finais semelhantes aos dos velocistas.
53

A velocidade horizontal atingida por um saltador de elite no momento final da corrida de aproximação varia
entre 9,5 a 10,0 m/s, e, ao final da fase de impulso, o centro de gravidade do atleta move-se a uma velocidade
69
de 7,5 a 8,5 m/s a um ângulo de 15º a 20º em relação à pista.

2.

Preparação para o impulso (take-off)

A fase de aceleração final, através da variação no comprimento dos últimos passos da corrida de aproximação,
68
exige coordenação neuromuscular associada à força muscular apropriadas e se constitui em risco para as
estruturas musculares.

A preparação para o encaixe da vara se inicia geralmente dois passos antes do impulso, quando o atleta
posiciona a extremidade distal da vara na direção do encaixe na pista, elevando-se a extremidade proximal da
69
vara com os dois membros superiores simultaneamente.

A falha da estratégia de aproximação para o salto predispõe a mudanças súbitas na corrida de aproximação e,
com conseqüência, pode ocorrer desistência da continuidade do salto, ou até o aparecimento de lesões.

3.

Ataque do pé de impulso (foot strike)


Instante em que o pé de impulso do atleta toca o solo. O saltador procura manter o tronco ereto, evitando a
extensão do mesmo. A precisão do atleta é um fator preponderante no resultado do salto. O momento do
encaixe da vara relaciona-se com uma posição ideal do pé de impulso, assim como dos membros superiores e
tronco.

4.

Ataque da vara ou posicionamento da vara no encaixe


(Pole strike)

O instante em que a vara toca o fundo do encaixe, geralmente formando um ângulo de aproximadamente 30
graus em relação à pista ocorre geralmente a partir da segunda metade da fase de impulso, quando o atleta
procura posicionar o membro superior proximal da empunhadura da vara (top hand) com leve flexão do
69
cotovelo, alinhado verticalmente com a extremidade do pé de impulso.

Quando a vara atinge o fundo do encaixe e interrompe sua progressão, a inércia do atleta gera uma força de
69
flexão sobre ela. Nesse momento, a força de reação da vara sobre o saltador faz diminuir a velocidade
68
horizontal do centro de gravidade do atleta e gera uma velocidade vertical progressiva. O efeito mais
importante dessa força de reação é o movimento de progressão anti-horário do centro de gravidade, levando o
68
a uma rotação corporal nesse sentido.

Nessa fase, os músculos dos ombros, braços e tronco se mantêm pré-tensionados, a fim de resistirem ao
69
impacto e minimizarem a perda de energia. O erro de técnica pode culminar no aparecimento de lesões
53
traumáticas no ombro (subluxação, lesões acromioclaviculares), cotovelo e punho, caso o atleta não relaxe
a empunhadura da vara, permitindo continuar a corrida, sem executar o salto.

5.

Impulso (take-off)

A fase de impulso (take-off) se inicia com o toque do último pé de apoio no solo e termina no momento em
70,71
que o mesmo se desprende e inicia a fase aérea.

O impulso efetivo é aquele que mantém ou aumenta a energia mecânica desenvolvida pelo saltador durante a
corrida de aproximação e minimiza a perda de energia durante essa e as demais fases subseqüentes do salto.
70,71
Nessa fase, parte da energia cinética desenvolvida durante a corrida de aproximação será dissipada por
alguns fatores: impacto da vara contra o encaixe, força de reação do solo ao pé de impulso, envergadura da
68
vara.

Durante a fase de desprendimento do pé do solo, o atleta procura manter elevado ao máximo seu centro de
gravidade, mantendo uma posição de tronco ereto, com extensão do quadril, joelho e flexão plantar máximas
do membro de impulso.

O membro superior, empunhando a parte mais alta da vara, se mantém em tensão, enquanto o membro
70,71
contralateral se mantém em compressão.

O ângulo de impulso no salto com vara é ligeiramente inferior ao encontrado no salto em distância, mas
superior ao do salto triplo.

6.
Fase aérea

Fase imediatamente seguinte ao impulso, caracterizada pela transformação da energia cinética da corrida de
aproximação em energia potencial com a fase da envergadura da vara, levando o atleta a um movimento de
balanço ascendente dos membros inferiores, elevação progressiva do centro de gravidade até a ultrapassagem
68
de todas as partes do corpo sobre o limite estabelecido pela barra (sarrafo), onde o atleta solta a vara e
assume um movimento descendente até atingir o colchão.

70,71
A máxima altura atingida por um saltador com vara é determinada pelos seguintes fatores:

1.

Altura do centro de gravidade e quão rápido ele se move no momento do impulso.

2.

Aceleração do seu corpo verticalmente utilizando-se da técnica e das propriedades da vara.


Quantidade de energia perdida ou não convertida em energia potencial. As varas apresentam uma vida útil que
pode ser abreviada em resposta a determinados fatores, como má conservação, utilização inadequada e
defeitos estruturais. Isso significa a possibilidade de quebra, geralmente durante as fases de impulso e aérea,
em que está se iniciando ou mesmo durante sua envergadura. As lesões acidentais provocadas vão desde
ferimentos decorrentes do choque de fragmentos da vara contra o saltador, quanto lesões graves, como
fraturas, e lesões ligamentares, provocadas pela queda antecipada do saltador fora da área de aterrissagem
(colchão).

7.

Aterrissagem

Após alcançar o ponto máximo do movimento ascendente, o atleta adquire uma trajetória descendente e deve
concentrar-se na aterrissagem a fim de atingir o colchão, que irá amortecer sua queda.

A superfície ideal de amortecimento dos colchões deve ser de material de espuma uniforme, revestida por
material impermeável e resistente. Os colchões devem abranger toda a área de aterrissagem, protegendo os
postes de sustentação do sarrafo e sem a presença de depressões entre os mesmos, a fim de se evitarem
acidentes na aterrissagem como torções do joelho e tornozelo.

As lesões no salto com vara freqüentemente ocorrem pela queda do atleta fora da área de aterrissagem (pista,
12
área de encaixe da vara).

Os traumas cranianos e de coluna cervical resultam das aterrissagens sobre a região da cabeça e ombros,
12
promovendo movimento súbito de flexão cervical.

Medidas preventivas podem ser adotadas no intuito de se minimizarem os acidentes durante as aterrissagens:

Características da vara (comprimento, peso, dureza do material, altura da empunhadura) adequadas ao atleta.

Técnica apropriada durante as fases do salto.

Cobertura adequada da área de aterrissagem (colchões)

Equipe de apoio em torno da área de aterrissagem para assegurar a queda da vara após o salto, evitando o
contato com o atleta.
Lesões nos saltos
D’Souza investigou 147 atletas praticantes de atletismo, dentre os quais 19 (12,9%) eram saltadores. Foram
1
relatadas em questionário, lesões que levaram o afastamento do atleta, por, no mínimo, uma semana. Dos 19
atletas, 10 (52,6%) responderam ter lesões no período de 1 ano estudado, sendo que a perna, joelho, tornozelo,
coxa (músculos isquiotibiais) e pé foram as regiões mais comprometidas em ordem decrescente de freqüência.
1

Bennell e Crossley realizaram estudo retrospectivo de 95 atletas durante o período de 12 meses. O grupo de
2
saltadores esteve representado por 14 atletas (14,7%) (distância, triplo e altura, além do heptatlo). As regiões
mais freqüentemente acometidas foram a coxa, seguida do dorso, pelve e quadris, tornozelo, perna, pé e
2
joelho. As lesões por sobrecarga estiveram presentes em 55% dos casos. As lesões foram encontradas na
seguinte ordem decrescente de freqüência: lesões musculares lombares, lesões ligamentares laterais do
2
tornozelo, tendinites do pé e tornozelo, fraturas de estresse, lesões por sobrecarga do joelho e tibialgia.

Laurino publicou estudo retrospectivo de 103 atletas, em 22 (21,4%) eram saltadores estritos e não praticavam
6
outras modalidades do atletismo. As lesões estiveram presentes em 30,8% dos atletas estudados. A perna foi
a região mais acometida (32,4%), seguida pelo tornozelo (21,6%), joelho (14,3%), coxa (10,8%), tronco
6
(8,1%) e pé (2,7%).

6
Um estudo prospectivo posteriormente realizado pelo mesmo autor revelou um perfil de lesões
musculoesqueléticas diferente do estudo anterior. Entre 35 saltadores brasileiros acompanhados no período de
dois anos, as lesões relacionadas aos períodos de treinamento e competição foram encontradas em 25 atletas
(71,4%), e apenas 10 (21,4%) não relataram lesões. Esse estudo abrangeu não apenas os saltadores estritos,
mas também aqueles que praticavam mais de uma modalidade além do salto, embora as lesões tenham sido
computadas apenas quando o atleta realizava um salto. As lesões relatadas localizaram-se preferencialmente
na coxa (28,0%), tornozelo (22,0%), joelho (18,0%), perna (12,0%), ombro (8,0%), pé (6,0%), regiões lombar
e dorsal (4,0%) e quadril (2,0%). As lesões da coxa foram predominantemente musculares (51,4%), e
comprometeram a musculatura isquiotibial na totalidade dos casos em que as patologias musculares foram
encontradas.

As lesões que acometem o ligamento patelar são freqüentemente observadas nas modalidades esportivas que
utilizam os saltos como movimentos freqüentes, e, segundo Ciullo, o “jumper’s knee” é a patologia mais
53,64
freqüentemente encontrada no atleta de salto em altura.

O treinamento das modalidades de saltos, assim como os esforços praticados durante as competições solicitam
48
demasiadamente as articulações, com ênfase dada ao joelho, tornozelo e pé.

O termo “jumper’s knee” tem sido descrito para designar algumas afecções peripatelares (ligamento patelar e
72
menos freqüentemente no tendão do músculo quadríceps). As lesões são especialmente encontradas nos
72
atletas envolvidos em atividades com predomínio dos saltos como gesto esportivo.

As cargas de tensão contínuas aplicadas indiretamente ao ligamento patelar durante os movimentos de flexo-
extensão durante o impulso e aterrissagem provocam alterações inflamatórias no peritendão (peritendinites),
podendo também comprometer sua ultra-estrutura (tendinose). Os fatores biomecânicos, como: picos de
tensão durante o impulso e aterrissagem, ângulos de flexão do joelho, eixo anatômico e os momentos em
73
valgo do joelho também podem promover o aparecimento de micro a macro-rupturas do ligamento patelar.
72

As alterações teciduais no “jumper’s knee” se localizam preferencialmente na transição entre o pólo inferior
72
da patela e o ligamento patelar, local de alta concentração de forças.

O achado histológico das lesões crônicas do ligamento patelar é a tendinose angiofibroblástica, caracterizada
pela perda do alinhamento das fibras colágenas, dispostas de maneira irregular com áreas de degeneração
74,75
hialina, hiperplasia de tenócitos, hiperplasia do endotélio e crescimento vascular desordenado.

Os sintomas são subdivididos em 3 estágios assim distribuídos pela classificação de Blazina:

1.

Dor apenas após as atividades esportivas. Ausência de limitação funcional.

2.

Dor durante e após as atividades. Habilidade para a realização de atividades dentro de um nível satisfatório.

3.

Dor prolongada durante e após as atividades. Incapacidade progressiva de realizar atividades dentro de um
nível satisfatório.

O tratamento, inicialmente clínico e fisioterápico, se baseia, no repouso relativo, acompanhado de uso de


medicação antiinflamatória, como a crioterapia, ultra-som, fonoforese, iontoforese, e laser. A cinesioterapia é
realizada com ênfase aos exercícios de alongamento, isométricos de quadríceps e dos músculos isquiotibiais,
seguidos por exercícios isotônicos de flexo- extensão do joelho, e exercícios de carga excêntrica progressiva.
72

A ruptura parcial do ligamento patelar é um importante diagnóstico diferencial das dores localizadas na região
72,74
anterior do joelho.

Os objetivos da cirurgia para o tratamento do “jumper’s knee” são a remoção de tecido anormal e estimulação
74
do processo de cicatrização. Alguns autores advogam o uso da intervenção cirúrgica para o tratamento da
72,74
tendinite patelar crônica O tratamento cirúrgico é indicado para aqueles indivíduos refratários ao
tratamento clínico após um período esperado de 6 meses em média, e baseia-se na realização de um ou mais
procedimentos, como: perfurações do pólo inferior da patela, na tentativa de aumentar o fluxo sangüíneo para
a área lesionada, ressecção da porção não-articular do pólo inferior da patela com reinserção do ligamento
patelar, reforço do retináculo e ressecção longitudinal de áreas necróticas ou calcificadas, preservando-se o
72
peritendão. Após o período de imobilização, inicia-se um programa de reabilitação com ênfase na aquisição
de arco de movimento que abrange exercícios isométricos, isotônicos e isocinéticos dos músculos flexo-
72
extensores do joelho. O retorno aos esportes é permitido em média após 3 meses da cirurgia. A ruptura
72
completa do ligamento patelar, embora seja uma lesão rara, representa o estágio final do “jumper’s knee” e
decorre da desvitalização do tecido colágeno após repetidos estiramentos do aparelho extensor, acometendo
64
geralmente indivíduos com idade inferior a 40 anos.

O tornozelo é uma das articulações mais envolvidas em lesões, principalmente em decorrência de movimentos
53
torsionais, sobretudo durante a fase de aterrissagem, nas fases do salto triplo, durante o amortecimento na
caixa de areia ou mesmo durante a queda no colchão da prova do salto com vara. A torção do tornozelo
durante a aterrissagem do salto triplo no 2º e 3º saltos com o pé posicionado em inversão e flexão plantar
predispõe a lesões ligamentares laterais (fibulotalar anterior, posterior e calcaneano) e fraturas de tíbia e
53
fíbula. A aterrissagem com o tornozelo posicionado em extensão predispõe a lesões ligamentares mediais
53
(ligamento deltóide) e fraturas do calcâneo.

O joelho também é sede de lesões ligamentares agudas provocadas por movimentos torsionais acidentais,
principalmente na fase de aterrissagem dos saltos.

Freqüente entre os atletas saltadores, a tibialgia acompanha o dia-a-dia dos treinamentos e competições e
constitui uma das queixas álgicas mais freqüentes. O volume de saltos, que geralmente compreende um
número de repetições e intensidade elevadas, as modificações de treinamento, as condições de superfície (solo
e calçados) e a biomecânica do movimento, freqüentemente levam o atleta a queixar-se de tibialgia.

Evidências de neoformação óssea, caracterizadas pelos achados de cintilografia, como o acúmulo linear difuso
do radiotraçador ou sinais radiográficos de formação óssea periosteal exuberante, sem evidências de fraturas
ou microfraturas, são alguns dos indícios do fenômeno de “reação de estresse”, decorrente da remodelação
8,9
óssea em resposta à intensidade e à freqüência elevadas da carga aplicada ao osso.

Os achados de ressonância magnética auxiliam no diagnóstico das reações de estresse fisiológicas do


exercício, e das lesões propriamente ditas, como a síndrome do estresse tibial medial e as fraturas de estresse.
8,9

É frequente à dificuldade para distinguir clinicamente com precisão os variados diagnósticos de dor na perna,
como: as inflamações tibiais periosteais, a síndrome do estresse tibial medial, a síndrome compartimental
8,9
crônica, as tendinites e as fraturas de estresse.

As manifestações clínicas das reações de estresse sintomáticas incluem dor localizada na face póstero-medial
da tíbia na síndrome do estresse tibial medial (local de origem dos músculos tibial posterior, flexor longo dos
dedos e sóleo), podendo também ocorrer ao longo de toda a tíbia nas fraturas de estresse, com predomínio
28
para a região proximal nas modalidades de saltos. A dor de caráter insidioso surge após as atividades de
8,9
salto, progride limitando a atividade e promove modificações no regime de treinamento.

O diagnóstico, assim como o início do tratamento, muitas vezes não ocorrem precocemente, o que faz com
que o atleta conviva com a dor por longos períodos, até que limitações significativas tenham surgido em seu
desempenho.

A dor lombar do saltador pode ter origem na carga intensa e cíclica agravada pelos movimentos de
53
hiperextensão do tronco, como ocorre nas modalidades de salto. Essa condição pode desenvolver uma
53
fratura de estresse na “pars articularis”, geralmente unilateral, conhecida como espondilólise. O estresse
contínuo pode causar subluxação vertebral, levando ao escorregamento da vértebra superior sobre a vértebra
53
inferior, condição conhecida como espondilolistese. Os sintomas podem variar desde lombalgia,
lombociatalgia, espasmos musculares, claudicação, perda de força, alteração de reflexos e da sensibilidade.

Patologias da infância e adolescência, presentes também nos saltadores, em decorrência dos microtraumas
repetitivos ocasionados pelos movimentos de salto, acometem mais freqüentemente a tuberosidade anterior da
tíbia (Osgood-Schlatter), pólo inferior da patela (Sinding-Larsen-Johannson) e o calcâneo (Sever).

MODALIDADES DE ARREMESSO E LANÇAMENTOS


Lançamento de dardo
O lançamento do dardo foi o primeiro evento de campo disputado nos Jogos Olímpicos. Originalmente, o
dardo era construído em madeira, tendo em sua extremidade uma ponta metálica. O comprimento variava
entre 2,30 m e 2,40 m com peso de 400 g. Os finlandeses adotaram o evento ao redor de 1780 d.C., e o dardo
passou a ser o símbolo nacional da independência daquele país. Nessa época, o dardo media 2,60 m e pesava
800 g, tal como hoje.

Em 1966 o espanhol Felix Erausquin lançou o dardo além dos 100 m de distância, utilizando-se de uma
técnica rotacional, a qual foi banida pela IAAF (International Amateur Athletics Federation) por expor os
atletas a lesões. A barreira dos 100 m foi novamente quebrada por Uwe Hohn. A partir de então, a IAAF
estabeleceu novas regras para construção dos dardos. O centro de gravidade tem sido modificado sempre que
o dardo em competições olímpicas e mundiais passa a alcançar grandes distâncias.

Alterando a posição do seu centro de gravidade, os dardos passam a aterrissar mais cedo, gerando portanto
menor risco potencial de atingir pessoas nas proximidades da área de lançamento, ou até mesmo fora dela,
como na pista de atletismo.

Datam de 1916, na Finlândia, as primeiras descrições da prova do lançamento do dardo disputada por
mulheres. Originalmente o dardo pesava 800g, mas posteriormente mudou para 600g, e teve início como
modalidade olímpica em 1948. Os dardos atuais pesam 800g para homens adultos e 600g para mulheres
adultas.

A técnica de lançamento do dardo varia consideravelmente em função dos países onde é praticado, no que se
refere às características de empunhadura e às fases do lançamento (aproximação e finalização). A
empunhadura, por exemplo, pode ser executada, posicionando-se o dardo entre o polegar e os outros dedos ou
entre o segundo e terceiro dedos.

76
A técnica de lançamento do dardo é dividida em 4 fases:

Fase 1, de aproximação.

Fase 2, de passos cruzados.

Fase 3, de finalização.

Fase 4, de recuperação.

A fase 1 ou de aproximação (“Run up”) caracteriza-se pela corrida de aproximação do atleta, podendo
variar consideravelmente quanto às características de aceleração, porém não deve ocorrer interrupção, para
que não haja perda de energia cinética durante a fase de finalização. Atletas de elite podem se aproximar para
76
a fase de finalização com velocidades em torno de 5,2 a 7 m/s.

A fase 2 ou de passos cruzados prepara o atleta para a seguinte, em que o atleta executa movimentos
cruzados dos membros inferiores. No exemplo de um atleta destro, o movimento de aceleração se inicia com
o membro inferior esquerdo, visando aterrissar quase que simultaneamente com os dois pés, porém o faz
primeiro com o direito. Na progressão da corrida, o arremessador se desloca lateralmente, executando
movimentos dos membros inferiores principalmente às custas da contração dos músculos adutores da coxa.
Lesões dos músculos adutores da coxa podem ocorrer nessa fase.

Durante a fase 3 ou de finalização, que dura em torno de 0,12 s, o membro inferior direito (lançador destro)
encontra-se posicionado com o quadril em rotação externa, joelho semifletido, e o pé em contato com o solo.
No momento em que ocorre o toque do pé esquerdo no solo, o joelho justolateral encontra-se em extensão,
propiciando uma frenagem brusca do movimento de passos cruzados. O movimento pode desencadear
deslizamento dos pés por falta de aderência à pista, seja por calçado inadequado ou problemas da pista (piso
molhado, irregularidades). A utilização de calçados específicos com pregos dispostos na região posterior do
solado é indispensável para evitar torsões articulares ou quedas.

O joelho direito se estende vigorosamente, impulsionando o quadril justalateral para frente, rodando-o
internamente e gerando uma posição de hiperlordose do tronco.

A cintura escapular dominante gira rapidamente para frente, em função da rotação do tronco e da extensão do
ombro contralateral, promovendo um momento de força, que se transmite ao membro de lançamento. Nesse
momento, o cotovelo se mantém estendido, empunhando o dardo em ângulo ideal, ao redor de 32 a 36 graus.
3
A ruptura de tendão de calcâneo e a lesão da musculatura adutora da coxa também podem ocorrer quando o
atleta estende vigorosamente o quadril e roda o tronco na fase de finalização.

Durante a seqüência dos movimentos, o cotovelo é flexionado bruscamente, gerando um estresse em valgo,
que, somado à rotação do tronco, impulsiona o dardo e provoca a sua liberação (70% ocorre em 0,1s).

Após a liberação do dardo, parte da inércia corporal não pode ser bloqueada, e o centro de gravidade do corpo
avança, provocando uma perda de equilíbrio, que subitamente passa a ser compensada com a troca de apoio
dos pés (fase 4 ou de recuperação).

O pé direito é levado à frente, afastando-se da linha média do corpo, para que ambos os pés se distanciem
também no sentido laterolateral, permitindo assim um maior equilíbrio durante o lançamento.

A velocidade de liberação do dardo alcançada em competições de alto nível atinge a média de 30 m/s. A essa
77
velocidade e com um ângulo de liberação de 30 graus, o dardo chega a alcançar 88 m de distância. Durante
o momento de liberação do dardo, a velocidade angular do ombro de lançamento alcança 22 rad/s e o
76
cotovelo, 45 rad/s.

O que não se altera nas técnicas de lançamento do dardo é a necessidade de acelerá-lo durante a fase de
finalização no mesmo sentido vetorial em que o dardo se encontra no início de sua liberação, otimizando ao
máximo sua aerodinâmica e alcançando, assim, uma distância mais efetiva. Quando tal sentido vetorial é
obedecido, o dardo executa sua trajetória e aterrissa de acordo com o seu centro de gravidade, em geral
fixando-se ao solo em ângulo agudo.

O dardo é lançado quase perpendicularmente ao tronco, havendo a necessidade de hiperextensão da coluna


lombar. Lesões da coluna, como a espondilólise e espondilolistese, podem ocorrer nessa fase.

Há descrição de incidência superior a 50% de espondilólise em atletas com dores lombares, além de escoliose
em mais de 80% nos atletas submetidos à rotação do tronco de forma assimétrica, como no lançamento do
78
dardo. Em geral, essa escoliose é de pequena curvatura e não é associada diretamente à dor lombar. É
freqüente o uso de cintos abdominais entre os lançadores, com eficácia controversa na prevenção e tratamento
de lesões lombares.

O ombro do lançador de dardo sujeita-se a lesões em função da intensa rotação externa e dos lançamentos
79
repetitivos. Herrington descreve a maior amplitude de rotação externa do ombro de arremesso em relação
80
ao contralateral, o que pode representar aumento do volume da cápsula articular devido aos lançamentos
repetitivos. O volume capsular aumentado pode gerar instabilidade articular e até pinçamento subacromial
secundário a essa instabilidade.

Ocorre lesão do tendão do músculo bíceps braquial, no momento do lançamento, uma vez que esse tendão
tem a função, dentre outras, de manter a cabeça umeral centrada na cavidade glenoidal.
Lesões do manguito rotador podem estar associadas à anatomia do acrômio, principalmente ao tipo III
descrito por Bigliani, ou “acrômio ganchoso”. Os tipos I e II representam respectivamente os acrômios plano
e curvo e não estão relacionados com a etiopatogenia das lesões do manguito rotador.

A lesão do ligamento colateral ulnar (parcial, total, avulsão do epicôndilo medial) é descrita nas situações de
81-85
estresse em valgo do cotovelo durante a fase de finalização do lançamento

A osteocondrite do capítulo pode ocorrer em atletas jovens em decorrência do impacto crônico. Embora
rara, a parada de crescimento por lesão fisial da epífise distal do rádio nesses atletas pode culminar com
85
deformidade angular.

76,86
Fraturas de estresse no ombro e olécrano também são descritas em decorrência dos lançamentos.

87
Os traumas indiretos gerados durante o lançamento podem também desencadear fraturas do úmero,
embora, nas radiografias simples, se observe espessamento da cortical óssea umeral do membro superior de
88
lançamento, quando comparada ao contralateral.

89
A lesão da artéria subclávia também foi descrita como decorrência do lançamento do dardo.

Lançamento do disco
No poema épico de Homer, o lançamento do disco foi mencionado como um evento atlético praticado por
volta de 1300 a.C. Esse foi um dos cinco eventos esportivos originais do Pentatlo, instituido a partir de 708
a.C.

O disco grego pesava mais do que os utilizados nos dias de hoje e seu lançamento era executado a partir de
um pedestal, o que limitava significativamente seu alcance.

O disco moderno adulto pesa 2 kg para homens e 1 kg para mulheres, diminuindo o peso nas categorias de
veteranos. Tem o diâmetro mínimo de 21,9 cm, e pode ser feito de vários tipos de materiais, desde metais,
madeira, ou até mesmo borracha, que propicia menor agressão aos dedos do lançador.

O calçado para o lançamento deve permitir que os pés realizem movimentos de pivô durante o movimento de
“giro”, sem perda de um bom contato com o solo.

A técnica de lançamento original se caracterizava por um balanço do atleta para trás seguido de um impulso
do disco, mediante a extensão dos joelhos, quadris e rotação do tronco, associado à flexão do ombro em
abdução fixa. A instituição de um círculo de lançamento de 2,5 m, em 1910, trouxe grande melhora na
90,91
produção de momento de força, quer seja pela maior rotação em graus permitida, seja pela maior
amplitude de deslocamento a partir de um ponto de atrás do setor a um ponto mais à frente, onde a projeção
no chão do centro de gravidade é acelerada linearmente à frente.

O discobolista destro (Fig. 48-10), que se encontra inicialmente de costas para o setor de lançamento,
realiza um giro sobre a perna esquerda flexionada e apoiada no chão como pivô. Salta agora de frente para o
setor, enquanto gira para uma posição mais à frente, caindo com os dois membros inferiores quase que
simultaneamente em flexão de joelhos e quadris, com o tronco flexionado e ombro em extensão, novamente
de costas para a zona de lançamento. Esse movimento é acompanhado por vigorosa contração excêntrica da
musculatura adutora da coxa para frear o movimento dos membros inferiores, podendo ocorrer lesão desse
grupo muscular. Nessa posição, o atleta realizará a finalização que poderá ser com ou sem salto.

No primeiro estilo, o atleta realiza vigorosa extensão de joelho e quadris, saltando à medida que o tronco
roda e o ombro é lançado em flexão com abdução fixa, assim como um mecanismo de “chicote”. Após isso o
atleta troca de pernas quando o centro de gravidade avança até o final do setor de lançamento. Na técnica sem
salto, o atleta também realiza extensão de joelho e quadris, mas não salta, permanecendo com os joelhos e
quadris fixos em extensão. Também há troca de pernas, quando o centro de gravidade avança ao final do setor.

A mais freqüente lesão descrita no lançamento do disco é a laceração nos dedos da mão pelo contato com o
90
disco, principalmente com os primeiros raios da mão. No momento do lançamento, o disco deixa a mão
empurrado pelos dedos indicador e médio, girando no sentido horário. As lacerações acometem
principalmente pele e tecido celular subcutâneo, podendo ser tratadas por meio de limpeza e curativos
seriados, pois fragmentos de metais podem ficar aderidos às lesões da pele.

O exame físico das lesões dos dedos deve incluir a avaliação de sensibilidade e motricidade, bem como dos
tendões flexores profundos, uma vez que a borda do disco se apóia na articulação interfalangiana distal do
segundo e terceiro dedos durante sua liberação, na fase de finalização.

A “Tendinite de Quervain” pode ocorrer associada às técnicas de lançamento em função do momento de


liberação do disco com o punho em desvio ulnar.

Os movimentos rotacionais podem desencadear lesões no joelho (ligamentar, meniscal, condral). Assim se faz
necessária a utilização de calçados que permitam a rotação do antepé no solo como um pivô, sem perder a
aderência, ou mesmo bloquear o movimento.

Também são descritos distúrbios de equilíbrio decorrentes do treinamento do disco que no arremesso do
92
martelo com freqüência ainda maior.

A contração muscular no momento da finalização também está associada a lesão de músculos como o peitoral
e subescapular no movimento de flexo-adução brusca. Músculos, como o esternocleidomastóideo, trapézio e
rombóides, podem sofrer lesão no momento em que o ombro parte de um relaxamento máximo para a
contração máxima. Lesões da musculatura do tronco (oblíquo externo, paravertebrais e abdominais) também
90
podem ocorrer durante o lançamento.

O lançamento do disco em competições de alto nível, bem como o peso e o martelo, diferente de competições
como o halterofilismo ou o boxe em que existe divisão por pesos, é caracterizado quase que exclusivamente
por atletas de elevado peso, atingindo até 140 kg, e contando com grande explosão muscular. A grande
impulsão no momento da finalização leva a um esforço ainda maior na musculatura que desacelera o
movimento colocando em risco de lesão tais grupos musculares que se encontram em contração excêntrica
como deltóide posterior, manguito rotador e grande dorsal, principalmente quando existe desequilíbrio da
musculatura do ombro.

Arremesso do peso
Por volta de 632 A.C., arremessar uma pedra pesando 5 kg, de contornos arredondados a maior distância
possível fazia parte de um jogo disputado na Irlanda e Escócia. A IAAF, em 1876, introduziu nas provas do
atletismo a versão moderna dessa modalidade disputada na Irlanda e Escócia, chamada arremesso de peso,
utilizando uma esfera de ferro, então pesando 7,250 kg. As regras eram essencialmente as mesmas da prova
original. Uma plataforma de 2,13 m foi utilizada na Olimpíada de Saint Louis, em 1904, para a realização do
evento.

A esfera atual mantém a estrutura de metal, pesando 7,250 kg (homens) e 5 kg (mulheres) nas
competições oficiais. As esferas, em geral de ferro ou bronze, podem conter centro maciço de metal, deixando
o implemento com menor diâmetro dentro das especificações.

As dimensões restritas do círculo de lançamento (2,13 m de diâmetro) ensejaram o desenvolvimento de


técnicas efetivas de aceleração, utilizando pequena distância de deslocamento.

Na década de 50, substituiu-se a técnica inicialmente utilizada (deslocamento linear) com grande potência
muscular por um estilo rotacional, em que o centro de gravidade inicial está baixo, com as costas do atleta
para o setor e, à medida que progride, o centro de gravidade se eleva progressivamente. O corpo roda sobre
seu eixo até a liberação do implemento (Fig. 48-11). Em meados da década de 70, os atletas russos
introduziram uma nova técnica com rotação, que aumenta grandemente a aceleração do peso, por melhor
utilizar os limites da zona de arremesso.

As técnicas mais utilizadas no arremesso de peso são: com deslocamento linear e com rotação. Na técnica
com deslocamento linear, o atleta inicia o arremesso de costas para o setor de lançamento, com o tronco
flexionado. Na seqüência, o atleta progride para frente no setor de lançamento, impulsionado por um
movimento combinado de pernas e tronco para outra posição, com semiflexão de joelho e quadris. A partir
desse momento, o atleta finalizará o arremesso com movimento, que se inicia nos pés e se estende no sentido
proximal com extensão do joelho e quadril vigorosamente acompanhada de rotação do tronco, adução do
braço do arremesso em linha com os ombros (inicialmente em abdução de 90 graus), extensão do cotovelo e
punho com liberação do implemento.

Na técnica com rotação, o atleta desenvolve o movimento semelhante ao do lançamento de disco, porém
executa o movimento dentro de um setor de menor diâmetro.

O treinamento de arremessos se associa grandemente ao desenvolvimento de força nos exercícios de


levantamento de peso, tais como o arranco e arremesso, supino e agachamento, os quais podem aumentar a
potência muscular a depender da carga utilizada em relação à força máxima do atleta. A atenção à pratica
incorreta do levantamento de peso é muito importante na prevenção e no diagnóstico de lesões em
arremessadores, sendo que um questionamento detalhado dessa prática deve constar na abordagem ao atleta.

Os movimentos rotacionais das novas técnicas de arremesso produzem grande torque. As técnicas mais
recentes de giro (semelhantes às do arremesso do disco) caracterizam-se por movimentos giratórios de 54°,
empunhando uma esfera de 7,250 kg sobre o ombro. O ângulo de arremesso ideal encontra-se em torno de
41°.

Lesões são comuns devido ao erro da técnica. O grande torque pode gerar espasmos da musculatura
paravertebral em qualquer nível. Lesões dos músculos oblíquo externo e transverso podem ocorrer.

Durante a finalização do arremesso, a frenagem brusca do atleta, apoiando-se sobre um dos pés no anteparo
que o impede de “queimar” o arremesso, também pode produzir torsões do tornozelo, quando acidentalmente
o atleta pisa sobre o mesmo. Assim também, a continuidade do movimento rotacional com o pé bloqueado
pelo anteparo pode levar à rotação interna do fêmur sobre a tíbia, mecanismo de lesão do ligamento cruzado
anterior do joelho e/ou meniscais.

A epicondilite lateral do úmero, assim como as tenossinovites dos músculos extensores do punho, podem estar
presentes. A dor e impotência gerada no antebraço e punho decorrem principalmente da lesão na origem do
músculo extensor radial curto do carpo. Também são comuns as lesões por extensão do punho, o que é evitada
por prevenção da hiperextensão, até mesmo com a utilização de enfaixamento do punho.

As lesões da mão ao final do arremesso ocorrem com freqüência, uma vez que os dedos realizam o último
contato com o peso. Na finalização, quando o peso acaba sendo acelerado incorretamente (mais pela ação dos
dedos do que pela região metacarpofalângica), existe hiperextensão das articulações metacarpofalângicas,
podendo culminar com lesão de placa volar, lesões de ligamento colateral, de interósseos, lumbricais ou de
tendões flexores dos dedos.

Lançamento do martelo
O lançamento do martelo teve origem na Irlanda por volta de 500 A.C.. Em 1860, foi introduzido no esporte
colegial dos EUA o arremesso de um peso de 7,257 kg sustentado por uma haste de aço.

Após 1880, um círculo contendo 2,13 m de diâmetro passou a ser utilizado como superfície padrão de
lançamento, permitindo que o atleta executasse dois giros com o implemento, antes de lançá-lo.

Em 1900, a técnica de 3 giros foi introduzida. Os giros são realizados com os joelhos flexionados com o
intuito de abaixar o centro de gravidade, e próximos um do outro, estando o tronco posicionado
centrifugamente ao eixo central do movimento para contrabalançar o mesmo. A projeção do centro de
gravidade do atleta no solo realiza movimentos lineares no sentido da zona de lançamento, com velocidade
progressiva e ininterrupta. A cada giro, o martelo ganha maior velocidade angular, até ser lançado com o atleta
de costas para a zona de lançamento, em um movimento final de extensão dos joelhos e abdução brusca do
ombro esquerdo, caso o giro se faça no sentido anti-horário. Atualmente alguns atletas praticam até 4 giros,
atingindo velocidades angulares ainda maiores.

As mulheres utilizam martelos de 4 kg, enquanto os homens utilizam martelos de 7,250 kg.

Em cada giro sobre a perna de apoio, no caso, a esquerda, quando o giro é anti-horário, o movimento de pivô
em contato com o solo se faz apenas com a face lateral do pé. Em cada giro, o pé de pivô realiza contato com
solo no sentido do retropé para o antepé (face lateral) e retorna de antepé para retropé (face medial).

A posição fletida dos joelhos em rotação predispõe a lesões articulares.

As lesões associam-se freqüentemente ao erro de técnica. O amplo movimento rotacional pode levar à lesão
do músculo bíceps braquial, quando o atleta durante o giro tenta flexionar o cotovelo, com o objetivo de
impedir o escape do martelo, gerando grande estresse sobre músculos bíceps e braquial. As epidondilites
medial ou lateral também são recorrentes no lançamento.

O movimento centrífugo do martelo sendo contrabalançado pelo tronco gera intensa contração da musculatura
lombar, necessitando fortalecimento tanto da musculatura abdominal quanto do lombar.

Os membros superiores, durante o giro, encontram-se em extensão e devem manter-se em linha com a haste
metálica, que une a empunhadura com a esfera de metal. Caso tal linha não seja mantida, podem ocorrer
estresse adicional sobre a cintura escapular e lesões dos músculos do pescoço, rombóides, manguito rotador e
deltóide.

Os atletas utilizam de luvas nas mãos, feitas de couro ou de materiais que diminuam a pressão sobre os dedos,
os quais permanecem em flexão até o momento da finalização do lançamento.

Iniciantes da técnica podem tentar acelerar demasiadamente o martelo, gerando grande contração isométrica
ou excêntrica de músculos flexores do antebraço, expondo-os assim a lesões.

Especialmente para os arremessos e lançamentos, qualquer que seja o implemento utilizado pode causar
lesões graves e até mesmo fatais se atingir outra pessoa.

As área destinadas às provas de lançamento devem ser devidamente sinalizadas (bandeiras, marcações de
pista) e livres quando o atleta está praticando. Os implementos (peso, dardo, disco, martelo) somente devem
ser removidos quando não houver atleta preparando-se para outro arremesso.

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