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ESQUEMAS DE ARGUMENTAÇÃO – DIALÉTICA ERÍSTICA

INTRODUÇÃO

Dialética erística, são esquemas de persuasão argumentativos que filósofos e


charlatões utilizam para convencer o público de que, 2 + 2 = 5.
No livro “Como vencer um debate sem precisar ter razão” Schopenhauer
denuncia alguns desses esquemas, baseando-se, principalmente, nos tópicos
de Aristóteles. Menciona-se que, por dialética erística, termo que constitui o
subtítulo do livro, Schopenhauer entende "a arte de discutir, mais precisamente
a arte de discutir de modo a vencer, e isto per fas et per nefas (por meios lícitos
ou ilícitos)".
Estes esquemas são geralmente utilizados nos meios políticos. Este artigo
pretende tornar esse conteúdo mais acessível e fácil ao público, isto é,
desenvolver a retórica do público para que o mesmo não seja persuadido.

ESTRATAGEMAS DIALÉTICOS
Estratagemas dialéticos, são os esquemas persuasivos utilizados. Afirmações
que parecem ser verdadeiras, porém ao analisarmos, tornam-se falsas ou
tendenciosas. Na obra, Schopenhauer distingue os seguintes estratagemas
dialéticos:

• AMPLIAÇÃO INDEVIDA OU EXPANSÃO DO ARGUMENTO

Essa falácia consiste em levar um argumento adversário para além do seu


limite natural, isto é, distorcê-lo e então refutá-lo. Quanto mais genérico e
exagerado o argumento se tornar, mais vulnerável ele fica a refutações.
Exemplo:

A diz que as drogas devem ser legalizadas. B, então diz que, como os
traficantes usualmente cometem homicídios, sequestros, extorsões, etc, se as
drogas forem legalizadas, os bandidos serão amnistiados de todos esses
crimes. Comentário: o argumento a favor da legalização propõe a amnistia de
um único crime: o comércio de determinadas substâncias. Nada foi dito em
relação aos demais crimes, pois supõe-se que estes devam permanecer
proibidos.
• HOMONÍMIA SUTIL

Usar a homonímia para tornar o argumento extensivo (distorcido) também


àquilo que, fora a identidade de nome, pouco ou nada tem em comum com a
coisa que o argumento trata; depois refutar com ênfase a afirmação distorcida
e dar a impressão de ter refutado a primeira afirmação (não distorcida).
Exemplo:

A diz que o sistema deve ser combatido, então B, logo deduz que, A se referiu
ao sistema capitalista, logo está fazendo um discurso de esquerda.
Comentário: Percebam que a palavra sistema qual A se referiu, não tem
absolutamente nada em comum com o significado que B atribuiu à ela. A
esquerda usa a palavra “sistema” para se referir ao “sistema capitalista", que
consiste do livre mercado, propriedade privada, busca do lucro, etc. Já o A usa
a mesma palavra para tratar da cultura da imoralidade e da impunidade, que
permite que o crime se alastre, contando com o apoio de políticos e policiais
corruptos.

• MUDANÇA DE MODO

Um argumento que foi apresentado em modo relativo, é tomado como se


tivesse sido apresentado como absoluto pelo adversário, ou pelo menos é
compreendido e refutado em um sentido totalmente diferente do original. Isto
faz com que “o adversário, na realidade, fala de uma coisa distinta daquela que
se havia colocado. Quando nos deixamos levar por este ‘’ estratagema’’,
cometemos, então, uma ‘’ignoratio elenchi’’ (ignorância do contra-argumento).”
Exemplo:

A diz que a maconha deve ser liberada, então B argumenta que, as drogas de
qualquer natureza serão liberadas caso isso aconteça. Comentário: Note que, a
conclusão final não segue a premissa do argumento inicial.

• PRÉ-SILOGISMOS

Um silogismo (do grego antigo συλλογισμός, transl. syllogismós, 'conexão de


ideias', 'raciocínio', composto pelos termos σύν, transl. syn, 'com', e λογισμός,
'cálculo' e, por extensão, 'raciocínio', pelo latim syllogismus,i ) é um termo
filosófico com o qual Aristóteles designou a conclusão deduzida de premissas,
a argumentação lógica perfeita. É um argumento dedutivo constituído de três
proposições declarativas (duas premissas e uma conclusão) que se conectam
de tal modo que, a partir das duas primeiras (as premissas), é possível deduzir
uma conclusão. A falácia do pré-silogismo, é fazer com que o adversário
admita sem perceber as premissas uma por vez (...) do contrário, ele tentará
todo especie de argúcia (...) Devem-se apresentar as premissas dessas
premissas e fazer pré-silogismos; fazer com que as premissas de vários
desses pré-silogismos sejam aceitas de modo desordenado e confuso,
ocultando, portanto, o próprio jogo até que tudo o que se necessita esteja
admitido."
(O próprio Schopenhauer sugere que este estratagema não necessita
exemplificação).

• USO INTENCIONAL DE PREMISSAS FALSAS

Essa falácia consiste em utilizar proposições falsas argumentando ex


concessis a partir do modo de pensar do adversário. O falso como verdadeiro e
vice-versa. Se ele é militante de uma seita, podemos argumentar contra ele,
como principia (Princípios) as máximas dessa seita. Exemplo:

A, é de um X partido, e argumenta que as religiões são importantes para


nossas vidas, e que devem ser respeitadas, então B faz a seguinte objeção:
“Lideres do seu X partido mataram religiosos”. Comentário: Note como B
desconsidera a premissa inicial de A, e toma como premissa os princípios
máximos do partido de A, dando a impressão de que refutou a premissa inicial.

• PETIÇÃO DE PRINCÍPIO OCULTA


“Ocultamos uma ‘’ petitio principii’’, ao postular o que desejamos provar:

1. Usando um nome distinto ou ainda usando conceitos intercambiáveis; boa


reputação no lugar de honra, virtude no lugar de virgindade, animais de sangue
vermelho no lugar de invertebrados, etc.
2. Fazendo com que se aceite de um modo geral aquilo que é controvertido
num caso particular;
3. Se, em contrapartida, duas coisas são consequência uma da outra,
demonstraremos uma postulando a outra;
4. Se precisamos demonstrar uma verdade geral e fazemos que se admitam
todas as particulares (ao contrário do número 2).”
• PERGUNTAS EM DESORDEM

Quando se trata de um debate formal e organizado, para confrontar o que se


diz é necessário que o adversário ou o outro faça perguntas para concluir a
verdade. A falácia consiste e fazer perguntas minuciosas, fazendo com que o
adversário responda detalhadamente, e o público não consiga compreender do
que se trata; dessa forma, você ocultará o que realmente deve ser discutido e
respondido.

• ENCOLERIZAR O ADVERSÁRIO OU AD PERSONAM

Consiste em tratar o adversário com insolência e desprezo, desvalorizando seu


discurso e fazendo com que o mesmo fique irritado e não consiga raciocinar ou
perceber sua própria vantagem.

• PERGUNTAS EM ORDEM ALTERADA

Esse esquema consiste em fazer perguntas de modo aleatório e sem um


padrão para chegar à qualquer conclusão, desta forma, o adversário não
saberá onde queremos chegar e não poderá se prevenir.
• PISTA FALSA
Se o adversário responde pela negativa às perguntas afirmativas, então
devemos perguntar o contrário, de modo que se não perceba qual delas
queremos afirmar.
• SALTO INDUTIVO
Se o adversário já aceitar casos particulares, não “perguntar-lhe se admite
também a verdade geral” derivada dos casos particulares; introduzi-la “como se
estivesse estabelecida e aceita”. Se fizermos uma indução e o adversário a
toma em casos particulares, nisto podemos levá-lo à crer que a admitiu em
casos gerais, e o mesmo aos ouvintes, que pensarão estar ouvindo a verdade
geral e não a derivada de casos particulares.

• MANIPULAÇÃO SEMÂNTICA
A manipulação semântica consiste em associar a um termo um conjunto de
significados diferentes do original. Com isso, o termo já conterá, em si, a
conclusão a que se quer chegar. Exemplos:
“O nome protestantes foi escolhido por eles mesmos, assim como o de
evangélicos. O nome hereges, em contrapartida, foi escolhido pelos católicos.”
O nome "protestantes" como evangélicos. O nome hereges, foi escolhido pelos
católicos. Transformação pelo adversário = subversão; a primeira ordem
constituída e na Segunda, regime opressor. O que uma pessoa chamasse de
culto, devoção, o adversário diria: crendice, fanatismo, fazendo juízo analítico.
Um diz: O clero; o outro: Os padres; Fervor religioso, fanatismo; Caso amoroso,
Adultério, etc.
A manipulação semântica é o mais seguro indício de que o debatedor tem o
intuito de vencer a qualquer preço, com solene desprezo pela verdade. Em
épocas de radicalização política, ela se torna uso corrente.

• ALTERNATIVA FORÇADA

Uma tese e a apresentação da contrária para que o adversário escolha, ou se


não o fizer aceitará a nossa tese. Exemplo:
“Um homem tem de fazer tudo o que seu pai lhe ordene - Deve ou não
obedecê-lo?”. Comentário: Note que o adversário não terá escolha a não ser
aceitar a nossa tese.

• FALSA PROCLAMAÇÃO DE VITÓRIA

Este estratagema baseia-se em proclamar vitória, ou auto afirma-se como certo


em um debate, mesmo estando errado ou não tendo respondido às perguntas
do adversário. Se sua voz e sua retórica forem boas, o golpe provavelmente
funcionará. O público prestará mais atenção em uma auto afirmação, do que
em uma explicação detalhada do oponente sobre seus erros. Se o público o
aplaudir, significa que funcionou.

• AD HOMINEM

Muitos confundem ad hominem e ad personam, mas há uma diferença entre


estas falácias; os níveis de ofensas entre elas são maiores. Ad hominem
consiste em atacar diretamente o adversário ao invés de refutar o argumento.
Exemplo:
A diz que devemos repensar a questão das drogas, então B diz: "Lá vem o
maconheiro". Comentário: B não levou em consideração a afirmação de A, mas
o atacou diretamente.

Objeção: Ofender alguém sem refutar os argumentos implica em ad hominem,


mas não o inverso.

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