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CENTRO DE HUMANIDADES
MESTRADO EM HISTÓRIA – MAHIS
FORTALEZA
2014
FREDERICO DE ANDRADE PONTES
FORTALEZA – CE
2014
Dedico este trabalho à memória dos meus avós Suzete e
Raimundo Pontes (paternos) e Beatriz e Moises Julião
(maternos)
CARTA AOS MORTOS
Agradeço a Deus, força superior que trouxe energia vital todos os dias da
minha vida. Sem esta energia, não estaria aqui. Agradeço a Jesus e Maria,
espíritos iluminados que me protegem e iluminam meu caminho nesta vida. A fé
em vocês alimenta meu espírito, sem ela nada faz sentido.
Agradeço aos meus pais. Beatriz, mãe que todas as pessoas gostariam de
ter. Carinhosa, sincera, guerreira e amiga. Obrigado por ter me ensinado a viver
dignamente, respeitando o próximo e lutando pelos meus sonhos. Fernando, pai
que sempre incentivou a busca do conhecimento, da simplicidade e da
honestidade. Sem vocês, não teria chegado aqui. Dos meus pais, aprendi o
essencial para viver: ser leve de espírito, fazer o bem sempre e nunca desistir de
lutar pelos seus sonhos e ideais.
Agradeço a minha esposa Fernanda, você me deu o melhor de mim. Você
me deu minha filha e agora carrega dentro de si mais um presente de Deus. Este
sentimento, sempre levarei nas minhas lembranças e no meu coração. Obrigado
por estar do meu lado em todos os momentos e por sonhar comigo os mesmos
sonhos. Sei que não foi fácil suportar meus momentos de mau humor e de
distanciamento durante a feitura da pesquisa. Sair de casa com a Maria Sofia, em
muitos domingos, para que eu pudesse ter mais tempo para escrever. Agradeço
muito seu apoio.
Agradeço especialmente ao ser que trouxe uma nova perspectiva de vida
para mim, que me mostrou a dimensão mais mágica e bela da vida. Minha filha
Maria Sofia, com você tudo faz sentido, você é a minha principal motivação,
minha esperança de que ainda vale a pena lutar por um mundo melhor. Você me
trouxe de volta o encantamento pela vida. Mesmo nos momentos em que estava
estudando e você queria minha atenção de qualquer jeito, você de alguma forma
me estimulava, e eu voltava para os estudos mais leve e motivado.
Agradeço aos meus irmãos Fernando Filho, Fabio e Fernanda, pela força
e o apoio em todos os momentos. Agradeço especialmente ao Fabio, pois me
ajudou bastante em Brasília, quando fui realizar a entrevista com Djacir Martins.
Sem você, irmão, não teria acontecido.
Agradeço ao meu orientador prof. Altemar Muniz, pela confiança, apoio
e orientação. Com certeza a sua ajuda foi essencial para realização desta
pesquisa. Desde o começo, você foi quem mais acreditou no meu potencial
como pesquisador e no meu projeto. Sou muito grato por você ter me dado a
segurança e a confiança necessária para a realização desta pesquisa.
Agradeço aos entrevistados que cederam um pouco de seu tempo, de suas
memórias, de suas vidas para realização desta pesquisa. Sem vocês isto não teria
acontecido. Obrigado Djacir Martins, Valton Miranda, Helio Leite, Manlio
Silvestre, Agamenon Tavares, Leorne Belem e José de Freitas.
Agradeço ao amigo Prof. Pedro Eymar, diretor do Museu de Arte da
UFC/MAUC e sua equipe pelo apoio e a cessão das fotografias do Acervo da
UFC, dos Boletins da UC. Sem este apoio, esta pesquisa não existiria.
Agradeço ao Dr. Aritomar (Ari), Secretário do Conselho Universitário da
UFC/CONSUNI, pelo apoio e cessão das Atas do Conselho Universitário da
UFC. Sem esta ajuda, não seria possível concretizar a pesquisa.
Agradeço a toda equipe do setor de periódicos da Biblioteca Estadual
Menezes Pimentel pelo apoio e atenção prestada durante minhas pesquisas ao
acervo dos jornais.
Agradeço aos professores do MAHIS, pelo conhecimento compartilhado
e o apoio na realização desta pesquisa. Obrigado aos professores Eric, Billy,
Gisafran, Zilda, Silvia, Gerson, Rameres e Padua.
Agradeço a minha turma de mestrado pela amizade e apoio. Obrigado a
Cecilia, Erilene, Cicero, Rochester, Gabriela, Eudesia, Roksonia, Tiago e Cyntia.
Cada um de vocês, de alguma forma, ajudou na realização deste sonho. Com
certeza cresci muito com nossa convivência, tanto como pessoa quanto
historiador.
Agradeço aos professores Edmilson Maia (guru), Frederico de Castro
Neves e Regianne Medeiros pelas boas sugestões que contribuíram para
construção desta pesquisa. Em especial ao Prof. Edmilson, meu orientador na
graduação, que se transformou em um bom amigo e aconselhador.
Agradeço também aos professores Gisafran Jucá e Frederico de Castro
Neves pelas sugestões e críticas feitas na qualificação desta dissertação e o
aceite para participar da banca de defesa desta dissertação.
Agradeço especialmente ao Prof. João Arruda pelo carinho, apoio,
confiança e amizade. Sem sombra de dúvida, um dos principais responsáveis
pela realização deste sonho. Certamente uma das melhores pessoas que eu
conheci na vida. Agradeço a você e a sua companheira Profa. Lena, que sempre
deram forças para a realização deste mestrado.
Agradeço à Profa. Maria de Jesus (Diretora da CCV/UFC) por ter me
ajudado em momentos cruciais do meu caminho como historiador. Sem você
não seria possível chegar neste momento.
Agradeço ao Prof. Henry Holanda (vice-reitor da UFC) pelo apoio e pela
confiança, desde os tempos de Pró-Reitoria de Extensão e agora na Casa de José
de Alencar. Sem este apoio, seria mais difícil e complicada a tarefa de conciliar
minhas atividades profissionais com as atividades de pesquisador.
Agradeço aos companheiros de trabalho da Casa de José de
Alencar/UFC. Em especial a Elsanira Máximo (secretaria da Casa de José de
Alencar) que assumiu o papel de diretor, nos momentos que me ausentei para
pesquisar. Agradeço também aos amigos Francisco Miranda
(SECULTART/UFC) e Fernando Leão (PRADM/UFC) pela amizade e a força
para a realização desta dissertação.
Por fim, agradeço a todos que passaram por mim nesta estrada e me
ajudaram de alguma forma nesta difícil caminhada. Somente conseguimos
realizar nossos sonhos quando existem outras pessoas que também acreditam
neles. Muito obrigado.
RESUMO
The work presented here examines the experiences of Ceará university student
movement that organized the creation of the Students of the Central Directory/DCE
from the University of Ceará in 1956. Nicer identify and understand the process of
formation and transformation of the university student movement/MEU, noting how the
movement interacted with social, political and cultural reality of Fortaleza and how he
related to the university area and the Senior Management of the University. We
investigate various historical sources: journals, memories, photos and official
documents. The interpretation of these traces served to clarify the cultural, social and
political activities of the DCE and realize the daily lives of students at the University,
the transformation of student political culture. To reach this understanding, we analyze
the lived experiences of MEU, based on a broader understanding of the concept of
politics. By revealing the specifics of Ceará student movement expanded the
possibilities of historical understanding of the movement as a process of formation and
transformation as a social movement historically situated.
INTRODUÇÃO.............................................................................................................15
CAPÍTULO I.................................................................................................................30
CAPÍTULO II................................................................................................................86
2.1 Será eleita miss CEU...: o lazer e a recreação na atuação do movimento estudantil
cearense......................................................................................................................... 90
2.2 Restaurante Universitário: escolha de comensais...: a ação de assistência no
movimento estudantil...................................................................................................100
2.3 Diretórios e publicações...: comunicando o movimento estudantil.......................111
2.4 Páscoa dos universitários...: a religião na atuação do movimento estudantil
universitário...................................................................................................................114
CAPÍTULO III..............................................................................................................118
3.1 Memórias de conciliação: Nada mais se parece com a Igreja do que o partido
comunista...................................................................................................................125
3.2 Memórias de reconhecimento: ...eu lutei pela criação do restaurante universitário eu
criei os primeiros jogos universitários.......................................................................131
3.3 Memórias de disputas e práticas políticas: para você ter uma ideia, nós sempre
ganhávamos, a gente era mais atuante e era maior....................................................141
3.4 Memórias de res(sentimentos): ...com o Martins Filho era uma relação conflituosa,
porque era um sujeito autoritário...um manipulador nato.........................................155
CONCLUSÃO..........................................................................................................161
FONTES................................................................................................................... 165
REFERÊNCIAS........................................................................................................167
15
INTRODUÇÃO
O CRÍTICO
1
Foi durante esse período que a União Estadual dos Estudantes/UEE do Ceará teve forte influência no
movimento universitário. Sendo também a fase onde foi criada a Universidade do Ceará e o DCE.
18
O INVESTIGADOR
O CIENTISTA
2
04 ex-presidentes de DCE, 01 ex-vice-presidente do CA do curso de Economia, 01 liderança da
Juventude Universitária Católica e secretário da UEE, 01 ex-presidente do DA de Direito e vice-
presidente do DCE.
23
3
Ver Dosse(2003), Farge(2011), Aróstegui(2003), Burke(1992) e Certeau(2007).
24
Jucá (2003), Ansart (2004), Fentress & Wikcham (1992), Pollac (1992), entre
outros.
Não obstante, reiteramos a importância de se valorizar a experiências e
práticas dos atores na construção de sua própria cultura. Ao criticar os
mecanismos teóricos de Althusser, Thompson demonstrou a importância dos
aspectos culturais da sociedade: os costumes, tradições, simbologias e valores
que são incorporados na experiência humana. Nesse sentido, o movimento
estudantil universitário cearense, através das suas consciências e ações, interagiu
com as condicionantes históricas determinadas no seu contexto histórico,
construindo uma cultura própria, e nessa perspectiva cultural, “(...) trata-se, antes
de tudo, de pensar a cultura como um conjunto de significados partilhados e
construídos pelos homens para explicar o mundo (...).”(PESAVENTO, 2005, p.
15)
O ARTESÃO
...cada vez mais historiadores estão começando a perceber que seu trabalho
não reproduz “o que realmente aconteceu”, tanto quanto o representa de um
ponto de vista particular. Para comunicar essa consciência aos leitores de
história, as formas tradicionais de narrativa são inadequadas. Os narradores
históricos necessitam encontrar um modo de se tornarem visíveis em sua
narrativa, não de auto-indulgência, mas advertindo o leitor de que eles não
são oniscientes ou imparciais e que outras interpretações, além das suas, são
possíveis.(BURKE, 1992, p. 337)
1º CAPÍTULO
4
Para Martins Filho(2007) o mito do movimento estudantil pode ser resumido numa frase: “Os estudantes
sempre estiveram ao lado do povo brasileiro em todas as suas lutas”. Na realidade boa parte da
historiografia sobre o movimento, de alguma forma idealiza a figura do jovem estudante em sua “luta
pelos direitos do povo” e pelos “ideais de liberdade e de justiça”.
31
5
Martins Filho fundamentou sua interpretação com base no conceito de categoria social elaborado por
Nicos Poulantzas: “as categorias sociais têm elas mesmas uma adscrição de classe: estas categorias não
são grupos “à margem” ou “fora” das classes, como tampouco são, como tal, classes sociais”.
6
Como o termo historiografia tradicional ou clássica em relação ao estudo do movimento será algumas
vezes repetidos durante o texto, faz-se necessário dizer ao que esse termo se refere: a maioria das análises
sobre o movimento de alguma forma reforçou a idealização política dos estudantes e ressaltou sua
“potencialidade revolucionária”, além de valorizar generalizações acerca das condicionantes de suas
ações contestadoras, que seriam ou a sua condição de jovem ou sua condição de classe social. Apesar das
contribuições significativas dessas pesquisas, podemos citar como estudos tradicionais: Movimento
32
Estudantil no Brasil(ALMEIDA JR., 1981), 1968: O movimento estudantil e a passagem para a luta
armada(CARDOSO), A UNE na resistência ao golpe de 64(SANFELICE, 1987), UNE: instrumento de
subversão(SEGANFREDO, 1963); O poder jovem(POERNER, 1968), entre outros.
33
Não conseguimos ver a floresta quando focamos nosso olhar apenas nas
árvores. A Universidade era o lócus privilegiado da atuação do movimento
estudantil. Nesse sentido é fundamental compreender sua relação com a atuação
do movimento. Compreendemos que a história do movimento estudantil na
Universidade do Ceará revela um microcosmo singular de disputa e conflito
político, de lazer e assistência, de solidariedade e cumplicidade. Indicando que a
formação desse novo movimento social7 se relaciona fortemente com seu
ambiente mais “íntimo”, no caso, a Universidade.
Este ambiente será reconstruído e interpretado por fontes diversas, como
as atas do Conselho Universitário, que nos permitirão demonstrar que, no
processo de construção do movimento, a Administração Superior da
Universidade passará da condição de apoiador e “amigo” do movimento, para
condição de principal rival no processo da luta política estudantil.
Por outro lado, compreendemos também que o movimento estudantil que
se forma a partir da criação da Universidade do Ceará, logo se torna um
importante movimento social na cidade de Fortaleza. O espaço físico e
simbólico da universidade é transformado a partir da interação com os
estudantes, que naquele momento, começam a ser denominados, mais
constantemente, como universitários e não mais acadêmicos.
O DCE e a UEE são os espaços privilegiados da institucionalização da
representatividade política dos estudantes universitários. Vale salientar que
qualquer proposta política para ter audiência mais ampla e efetiva com o corpo
discente da Universidade do Ceará teria obrigatoriamente que passar pelo crivo
do DCE.
Perceberemos que tanto o contexto histórico do período como a realidade
vivenciada por estes estudantes nesse novo espaço serão influências
fundamentais para a formação desse novo movimento social. Nessa perspectiva,
utilizando uma nova abordagem, acreditamos que interpretar o processo
histórico do MEU, relacionando-o ao espaço da Universidade e da cidade de
7
Compreendemos o movimento social como uma ação coletiva que possui características especificas que
o singularizam. Nesse sentido, as contribuições teóricas dos cientistas sociais Alberto Melucci e Charles
Tilly serão fundamentais para avançarmos na reflexão sobre o conceito e o processo de formação de um
movimento social. Estes autores representam duas das principais renovações sobre o estudo dos
movimentos sociais. Na segunda seção deste capítulo ampliaremos o debate em torno do conceito de
movimento social e o movimento estudantil cearense.
35
8
No âmbito desta pesquisa, quando nos referimos a cultura política, estamos fazendo referência “ao
conjunto de atitudes, crenças e sentimentos que dão ordem e significado a um processo político, pondo
em evidência as regras e pressupostos nos quais se baseia o comportamento de seus atores.”(KUSCHNIR,
Karina e CARNEIRO, Leandro Piquet, 1999, p. 227).
9
Nessa perspectiva cultura política refere-se a uma variedade de atitudes, crenças e valores políticos,
como orgulho nacional, participação e interesse por política, que influencia o envolvimento das pessoas
com a política. Geralmente, essas orientações têm longa duração no tempo, Mas isso não quer dizer que
transformações e mudanças de orientação não possam ocorrer, por conta da pressão de efeitos de
transformações geracionais ou de processos de modernização econômica e social sobre os valores
políticos. (MOISÉS, 2008)
10
É importante ressaltar que até a criação da UEE em 1942, “cabia ao Centro Estudantal Cearense a
representação dos discentes do ensino colegial, ginasial e também dos universitários. Contudo, mesmo
com a atuação da entidade estudantil universitária UEE, registra-se em variados momentos a participação
de estudantes de cursos superiores no cotidiano do Centro Estudantal. Inclusive compondo a estrutura e
direção do mesmo” (MOREIRA, 2006, p.21)
11
O termo elitismo aqui empregado foge um pouco ao conceito proveniente da teoria das elites, apesar
de incorporar a ideia de prevalência de uma minoria que detém certo status e poder. Nesse sentido, nossa
interpretação indica que os estudantes se viam ainda como uma minoria (de fato era) de pessoas que
representavam a legitimação do poder intelectual e científico frente a falta de saber da grande maioria da
população.
12
O termo conservadorismo é empregado, a partir da nossa interpretação, no sentido de que o movimento
estudantil estava fortemente integrado aos valores da sociedade fortalezense e de suas tradições, ou seja,
ainda não percebemos no movimento um efetivo caráter contestador ou progressista.
37
13
O processo de esquerdização diz respeito à crescente politização do movimento estudantil que cada vez
mais assumia compromissos com as ações e reformas progressistas, no início da década de 1960.
14
Segundo Silva Filho (2002) percebe-se em Fortaleza do pós-guerra, uma já precária modernidade,
especialmente nos apelos ao consumo, mudanças de hábito e de comportamento.
38
15
Para efeito desta pesquisa, consideramos “identidade” do Movimento Estudantil Universitário como a
forma pela qual ele se posicionará em relação às instituições e maneira como ele se comportará nas
diversas situações sociais impostas pelo ambiente político, cultural e social no qual ele se encontra.
16
Nesta pesquisa, entendemos “tradição” como produto do passado que continua a ser aceito e
influenciador do presente. Nesse sentido, será o conjunto de práticas e valores fundamentados nos
costumes do Movimento Estudantil Universitário cearense.
39
17
Maria G. Gohn, uma das principais referências nos estudos dos movimentos sociais brasileiros,
diferencia quatro grandes paradigmas de movimentos sociais, a saber: o marxista, o norte-americano, o
dos novos movimentos sociais e o latino-americano. Concisamente, a autora explica que no modelo
marxista e clássico, o conceito de movimento social tem haver com a mobilização de massas humanas
ávidas por mudança social. Geralmente, estas massas mobilizavam-se nos períodos em que as condições
objetivas (materiais) fossem propícias, ou seja, em períodos de crises econômicas. Nas construções
teóricas recentes, principalmente de estudiosos europeus, passaram a ser produzidas novas abordagens
que remetiam, fundamentalmente, a novas dimensões da mobilização dos atores sociais. Passou-se a
observar elementos culturais, a solidariedade, as lutas sociais cotidianas, os processos de construção de
identidades, etc.. (GOHN, 2000).
18
Segundo Melucci, a ação coletiva deve ser considerada como uma interação de objetivos e obstáculos,
como uma orientação intencional que é estabelecida dentro de um sistema de oportunidade e coerções. Os
movimentos são sistemas de ação que operam num campo sistêmico de possibilidade e limites. É nesse
sentido que a organização se torna um campo crítico de observação, um nível analítico que não pode ser
ignorada. (Melucci, 2001, p. 52)
43
a UEE, os D.As e outros atores sociais que não faziam parte do campo
específico da política estudantil, e que ocorrem dentro de uma determinada
realidade social, cultural, econômica e política.
19
Seguno Le Goff (1984), “Os materiais da memória podem apresentar-se sob duas formas principais: os
monumentos, herança do passado, e os documentos, escolha do historiador”. Nessa perspectiva, as
memórias escritas de Martins Filho tratam-se antes de tudo,de uma montagem consciente da história da
Universidade do Ceará, da época. Um esforço para impor ao futuro, determinada imagem de si próprio.
45
(...) a relação era muito boa, não havia movimento contra, eu levei o reitor
varias vezes à sede do DCE e disse para ele que enquanto eu estiver aqui,
nós vamos brigar por tudo que nós temos direito, mas vamos falar antes,
vamos procurar antes o entendimento(...) eu fui o primeiro presidente do
DCE que participou do Consuni, eu também não abria mão, eu abri o livro
do Ministério da Educação, fiz um ofício dizendo que a partir daquela data,
de acordo com o artigo tal, tal do estatuto do Ministério da Educação, eu
gostaria de ser convocado para as reuniões do Consuni, você sentava mas
não tinha direito à voto, só fala, e eu não deixei de ir um, e fui o
primeiro...(Djacir Martins, 2012)
Figura 1 - Primeira sede do CEU, na rua General Sampaio com Meton de Alencar, próximo a Faculdade
de Direito.(Revista A Universidade do Ceará, p. 15, 1959)
21
Conforme Melucci, “identidade coletiva é, portanto, uma definição construída e negociada pela
ativação das relações sociais entre os atores. Implica na presença de quadros cognitivos, de tensas
interações e também das dimensões afetivas e emocionais. Aquilo que une os indivíduos em um “nós”
nunca é inteiramente traduzível na lógica do cálculo meios-fins ou na forma da racionalidade política,
mas comporta sempre margens da não negociabilidade das razões e dos modos de viver.
51
Movimento Estudantil. Estes aspectos realmente fazem parte desse novo cenário,
porém existe uma gama bem maior de elementos dessa nova realidade nacional e
local que influenciou a formação desse novo movimento social em Fortaleza.
Nos primeiros anos da década de 1960, a conjuntura política e social
brasileira caracterizou-se por constantes crises político-institucionais, uma forte
crise econômica e financeira, intensa mobilização política das classes populares,
revitalização do movimento de trabalhadores urbanos e rurais e uma crescente
polarização ideológica. Um fenômeno político, específico desse período, é a
formação das “frentes”.
22
Presidente do DCE/UC, gestão 1961/62.
52
(...) uma maneira característica de fazer política começou a tomar forma nos
países do Ocidente no final do século XVIII, adquiriu amplo reconhecimento
na Europa Ocidental e na América do Norte no início do século XIX,
consolidou-se em um conjunto durável de elementos por volta da metade
desse mesmo século, alterou-se mais vagarosa e incrementalmente depois
desse ponto, difundiu-se amplamente pelo mundo ocidental, e veio a ser
chamada de movimento social. Esse complexo político combinou três
elementos: 1) campanhas de reivindicações coletivas dirigidas a autoridades-
alvo; 2) um conjunto de empreendimentos reivindicativos, incluindo
associações com finalidades específicas, reuniões públicas, declarações à
imprensa e demonstrações; 3) representações públicas de valor, unidade,
números e comprometimento referentes à causa. A esse complexo
historicamente específico denomino movimento social. (TILLY, 2010, p. 8-
9)
CONGRESSO DA UEE
Será instalado hoje, às 20 horas, no auditório da Faculdade de Direito, o
XVIII Congresso Estadual dos Estudantes, sob os auspícios da União
Estadual dos Estudantes (...) será o seguinte, o temário do Congresso
Estadual dos Estudantes: I – O Universitário, a Universidade e seus
problemas; II – Projetos de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional...(Tribuna do Ceará, 22/07/1960:6)
23
A discussão sobre a Política Educacional seria “o primeiro passo para que o estudante ligasse sua
condição e suas lutas às contradições da sociedade brasileira. O debate que se travou à margem das
discussões no Congresso sobre o Projeto de Diretrizes e Bases da Educação Nacional demonstrou que a
batalha por melhores condições de ensino estava associada a lutas e interesses no âmbito da sociedade
global (UNE, 1963:13-4)”(FÁVERO, 2004, p.25)
55
24
Djacir de Oliveira Martins. estudante do curso de Medicina nos anos de 1956 a 1961. Presidente do
DCE em 1957. Entrevista realizada em Brasília, 12/12/2012
58
REPRESENTAÇÃO ESTUDANTIL
Sempre houve uma acentuada tendência, nos diferentes círculos de opinião
pública, para encarar com certa benevolência, os movimentos estudantis,
senão justificando os seus excessos, pelo menos procurando compreender que
eles são feitos da irreflexão dos jovens.
Esse apreço pelos estudantes origina-se do fato de muitos que hoje estão na
idade madura já terem também ocupado os bancos escolares, participando
então de inúmeras e vibrantes campanhas (...).
(...) Se o memorial do DCE invoca a Lei de Diretrizes e Bases para
conquistar a representação de um terço, não é licito desconhecer o mesmo
diploma, quando diz respeito a prerrogativas a outros, concedidas.
Incoerência dessa natureza não fica bem a uma classe que se propõe a
“preencher um vácuo criado pela criminosa omissão das elites ou pseudo
elites regionais”. Muito menos, uma greve geral e a ocupação das Escolas,
iniciativa sem qualquer amparo legal ou fundamento moral.
O que se espera dos universitários cearenses é que não se afastem dos
caminhos da Lei. Nesta como em outras emergências, conservem a
moderação e procedam sem precipitações. Não queiram, por um passo dado
em falso, alienar simpatias naturais e comprometer o prestigio de que
desfrutam.
J.C. Alencar Araripe (O povo, 21/05/1962:1)
25
A juventude, para os historiadores, poderia ser entendida como um tema que precisa ser investigado
continua e minuciosamente. Consideramos que a juventude como uma categoria não naturalizada. Não
pode-se perceber a “juventude” como uma categoria generalizadora e uniforme, acreditamos que em um
mesmo período ou circunstancia histórica, os jovens não devem ser tomados como algo homogêneo ou
uno, ou como formando um único e indivisível grupo; mas de uma forma plural, diversa e, em alguns
casos, antagônica e adversária.
26
Compreendemos que existia uma grande motivação dos integrantes tanto da JUC quanto da UJC para
fazer do movimento estudantil universitário cearense uma força política atuante e capaz de carregar mais
firmemente as bandeiras da luta política estudantil, considerando que naquele contexto histórico, isto era
uma necessidade do próprio meio universitário. Não podemos esquecer que um dos principais princípios
da JUC e da UJC era o de atuar efetivamente no seu meio, influindo na política universitária, de forma
organizada, coesa e centralizada.
61
27
Já no período do Governo JK (1956-1960), o problema das desigualdades econômicas no sistema
internacional ganhou ênfase, levando a maior identificação com o mundo subdesenvolvido. Configurou-
se um projeto de crescimento interno e de projeção externa atrelada a uma posição diplomática
internacional independente dos blocos polarizadores, conhecido como o nacional-desenvolvimentismo.
28
Consideramos importante tecer algumas considerações acerca das percepções teóricas sobre este
conceito e sua relação com o processo histórico. Nesse sentido, acreditamos ser valiosa a discussão
proposta por Peter Burke(1992) em relação à história dos acontecimentos e o renascimento da narrativa.
Nela o autor analisa a escrita da história, primeiramente confrontando a importância dada à narrativa dos
acontecimentos históricos com a importância dada à explicação estrutural. Não obstante, Burke faz
referência às criticas impostas a estas duas formas de escrita, seja aquela relacionada à percepção
equivocada da narrativa a partir da superfície dos acontecimentos, seja aquela que acusa a escrita
estruturalista de reducionista e determinista. Depois o historiador inglês argumenta no sentido de
encontrar uma forma de escrita que seja uma espécie de nova narrativa que seja “densa o bastante, para
lidar não apenas com as sequências dos acontecimentos, mas também com as estruturas - instituições,
modos de pensar etc. – e se elas atuam como um freio ou um acelerador para os acontecimentos”. Essa
pretensão é referenciada por uma série de exemplos apresentados pelo autor, que revelam a possibilidade
do historiador conseguir relacionar os acontecimentos às estruturas, apresentando pontos de vista
múltiplos.
62
Figura 2 - Os prédios do Curso de Engenharia e do CEU vistos da Reitoria. (Boletim Informativo UFC,
no. 58, janeiro-fevereiro de 1966, p.506)
(...)E por falar no deputado Aquiles Perez Mota... ele entendeu de ir, ontem à
noite visitar o CEU – Território Livre do Ceará e reduto da legalidade. Em lá
chegando, o Aquiles encontrou a “praça” sitiada por forças armadas.
Escudado nas imunidades, o deputado condenou a atitude dos
militares...aquilo não podia ser!... Era uma violência! Era um atentado à livre
manifestação do povo! E gritava: “Não pode! Não pode! Não pode. Um
soldado, que não entende nada de imunidades, marchou pra cima do
“paisano” exaltado, colocou a boca da metralhadora na barriga do Aquiles...e
perguntou:”por que é que não pode?” O Peres Mota esqueceu-se das
imunidades, fingiu que sorriu e retrucou: “Quem foi que disse que não pode?
Pode sim!...
Resultado: No CEU os militares não fazem questão de entrar, que é preciso
“confissão” e “estado de graça”... Mas fora dali eles fazem o “inferno”! Nem
enxofre queimado dá jeito!... (Tribuna do Ceará, 02/09/1961:2)
FESTA NO CEU
Na quinta-feira, a partir das 21 horas, terá início uma animada festa dançante,
com que se comemorará também a assunção do Sr. João Goulart a
Presidência da República. Não sabemos ainda qual conjunto animará as
danças. Da festa em apreço participaram lideres sindicais que ao lado dos
67
PASSEATA DA LEGALIDADE
Flagrante da “passeata da legalidade”, realizada ontem a tarde pelos
estudantes cearenses. Note-se “urna mortuária” significando enterro da
ditadura além de uma gaiola contento um urubu, símbolo do entreguismo
rechaçado em todos os momentos pela mocidade, muito embora alguns
cartazes empunhados pelos estudantes contivessem criticas fortíssimas a
diversas figuras nacionais, a manifestação operário-estudantil decorreu
pacifica, sem ser necessária, em momento algum, a intervenção da polícia
que vigiou de perto o movimento de regozijo pela posse do Sr. João Goulart.
(Tribuna do Ceará 14/09/1961:1)
68
29
Para Lipset (1967), “A análise política e sociológica da sociedade moderna em termos de esquerda,
centro e direita reporta-se aos tempos da Primeira República francesa, quando os delegados se sentavam,
de acordo com a respectiva cor política, num hemiciclo contínuo desde os mais radicais e igualitários, à
esquerda, até os mais moderados e aristocráticos, à direita. A identificação da esquerda com a advocacia
da reforma social e do igualitarismo e da direita com a aristocracia e o conservadorismo aprofundou-se à
medida que a política passou a ser definida como choque entre classes (LIPSET, 1967, pp. 136 e 137).
Para efeito desta obra, esquerda representará grupos políticos que lutam pela reforma, transformação e
igualdade social”.
69
30
As fotos pertencem ao acervo iconográfico da UFC, milhares de fotos tiradas a mando do fundador da
UFC para se preservar a história da instituição. Segundo Pedro Eymar, diretor do MAUC, com sua visão
mais aguçada o reitor resolveu montar o acervo com fatos marcantes da história da universidade. Na
75
folheada que dei nos negativos do NUDOC, vi a realização de festas estudantis, das casas de cultura,
visitas de embaixadores e autoridades, jogos universitários, a greve está registrada. Enfim, são centenas
de acontecimentos referentes a importância da instituição na sociedade. As fotos a seguir não foram,
reveladas dos negativos. São revelações feitas na época e que se encontram no acervo de fotos do MAUC.
76
Figura 06 – Cartaz fazendo varias críticas, destacando-se a critica aos “irmãos maristas”.
Nesta foto, a lente focou um cartaz que não possui um grande atrativo
estético. Produzido a mão, de forma improvisada, porém com bastante conteúdo
textual. Fato que caracteriza a intenção de denunciar com detalhes determinada
situação. A maior parte do texto do cartaz refere-se à atitude dos irmãos
maristas, fazendo referência ao grupo de professores ligados a esta irmandade
que dirigia a Faculdade de Filosofia, e a partir daí, vai ampliando a crítica aos
outros professores e alunos “fura greve”. No final do texto é possível perceber
quais eram os valores e comportamentos combatidos pelo movimento.
Não podemos deixar de lembrar que a greve do 1/3 insere-se em uma luta
mais ampla pela Reforma Universitária brasileira. Uma das grandes demandas
do movimento era a extinção das cátedras universitárias. Para o movimento esse
dispositivo da estrutura da carreira docente universitária privilegiaria os
79
A arapuca da Universidade
Algumas distribuições de verbas
Consignação 1.1.01 - Para vencimentos – Cr$ 355.448.712,00
Consignação 1.1.12 - Para o salário de família – Cr$ 39.474.400,00
80
DESMACARANDO-SE UM CRETINO
Encoberto por um véu de máscara, um magnífico, com personalidade de
cretino, MENTE diante da imprensa querendo desfazer de seus alunos. Isto é
covardia, não tem coragem de dizer em praça pública como nós dizemos(...)
relembrada por alguns de seus estudantes, como uma faculdade que possuía uma
direção muito conservadora e reacionária, os professores foram para o
enfrentamento. Evidentemente essa não era a diretriz da Administração Superior,
porém, nesse período, as Faculdades agregadas ainda possuíam uma mentalidade
de independência e autonomia frente à Reitoria.
CAPÍTULO II
APRESENTANDO:
“Tribuna do Ceará”, vespertino local que sempre tem procurado honrar os
seus objetivos, esforçando-se por fornecer ao público ledor um noticiário
cada vez mais vasto, abrangendo todas as facetas da vida social fortalezense,
achou por bem criar a secção “tribuna universitária”; esta, focalizando a vida
universitária do Ceará, também compromete, por meu intermédio a
contribuir para que se patenteiem ao público as lutas e reivindicações
acadêmicas, como também as metas conquistadas ou a conquistar, não só
por parte do Corpo Administrativo da Universidade do Ceará, mas ainda por
parte de toda a classe universitária do Estado. (Tribuna do Ceará,
12/04/60:6)
31
O jornal Tribuna do Ceará estava ligado aos interesses patronais e empresariais cearenses, foi fundado
em 1957 pelo empresário José Afonso Sancho. O Jornal já trazia elementos gráficos e editoriais
diferenciados, consonantes com as transformações pelas quais os grandes jornais passavam na década de
1950. Possuía, entre seus principais jornalistas, Pedro Mallmann, católico conservador, que escrevia a
coluna Dom Camilo e representava bem um caráter moralista e conservador da linha editorial do Tribuna.
32
Professor de música, maestro e animador cultural Orlando Leite escrevia sobre o cotidiano da vida
universitária. Divulgava desde jogos universitários a eleições do DCE e DAs, passando por festas e
manifestações promovidas pelo Movimento Estudantil.
88
33
O jornal Correio do Ceará pertencia ao grupo de comunicação Diários Associados, do empresário
carioca Assis Chauteaubriand. O Jornal possuía modernos elementos gráficos e editoriais. Possuía
também um quadro de jornalistas bastante ligados a intelectualidade cearense, como o seu diretor,
Eduardo Campos e o seu editor Murilo Mota, os dois pertencentes à Academia Cearense de Letras/ACL.
Do ponto de vista político, aparentava ter certa independência em relação aos grupos políticos locais.
34
Redator do Jornal Correio do Ceará.
35
Acadêmico da Escola de Administração da UC.
36
Segundo Motta (1996) há diferenças importantes entre o enfoque tradicional da política e o enfoque da
nova história política “... o enfoque tradicional de política é voltado para o estudo dos mecanismos de
funcionamento de poder, as intenções e interesses dos agentes políticos e as ações empreendidas para a
conquista e a conservação do poder. Os novos objetos de pesquisa em questão se encontram em torno dos
conceitos de imaginário, simbologia e cultura. A ênfase proposta é trabalhar a política não no nível da
89
consciência e da ação informado por projetos e interesses claros e racionais, mas no nível do inconsciente,
das representações, do comportamento e dos valores” (MOTTA, 1996, p. 93)
90
37
Ver pesquisa desenvolvida por Lídia Noêmia Santos (2011) sobre juventude e gênero na imprensa
fortalezense na década de 1950.
92
TERTÚLIA NO CEU
Hoje haverá mais uma tertúlia dançante, no clube dos estudantes
universitários. Acreditamos que houve uma impossibilidade na tertúlia de
sexta-feira passada, no sentido de sua continuação. Realmente muitos pares
ainda dançavam quando, não se sabe porque, cessou a música. As tertúlias
do CEU, sempre animadas, precisam desenrolar-se normalmente e nesse
sentido apelamos para dinâmica Direção daquele distinto clube. (Tribuna do
Ceará, 29/04/1960:6)
Tertúlia
Às 20 horas de hoje começará na Faculdade de Farmácia, uma animada
tertúlia dançante, uma promoção dos concludentes de 1961. Será animada ao
som de radiola e um bar estará em funcionamento na Faculdade. A entrada
será franqueada a todos os universitários, que estão convidados a se fazerem
presentes. Não resta dúvida de que será movimentada. (Tribuna do Ceará,
16.09.1961:4)
38
A primeira sede do CEU foi o mesmo prédio alugado que serviu de sede para a Reitoria, nas
proximidades da Faculdade de Direito onde passou a funcionar, em 1957, com o restaurante universitário
instalado no térreo e o DCE no pavimento superior. Em 1959, com a construção da sede da Divisão de
Assistência ao Estudante na Av. Visconde de Cauípe, vizinho à Escola de Engenharia, foi transferido para
as proximidades da Reitoria(...) O Edifício projetado, de vãos completamente livres, abrigava no
pavimento térreo o Restaurante Universitário concebido, no trecho que corresponde ao refeitório, como
inteiramente aberto, funcionando com que um pórtico emoldurando a visão da quadra esportiva
construída imediatamente atrás. O segundo pavimento era destinado ao funcionamento do Clube dos
Estudantes Universitários (CEU) e ao Diretório Central dos Estudantes (DCE). O terceiro pavimento, por
sua vez, foi destinado para a residência de estudantes. (OLIVEIRA, 2005, pp. 89 – 90)
39
Militante da Ação Popular (AP), em Fortaleza, na década de 1960.
94
40
Ver pesquisa desenvolvida por Mirtes Pontes (2005) sobre os clubes fortalezenses nas décadas de 1950-
70.
95
41
Segundo Portugal (2010) a Federação Universitária Cearense de Esportes, FUCE, estava vinculada à
CBDU, Confederação Brasileira de Desporto Universitário. Enquanto a FUCE organizava torneios e os
Jogos Universitários Cearenses, seu evento maior, a CBDU organizava os Jogos Universitários
Brasileiros, congregando estudantes de todos os estados do Brasil através de suas entidades locais.
42
Como nos lembra Motta(1996) “...os rituais cumprem uma função integradora, pois disseminam as
normas e valores sustentadores da vivência coletiva. Além disso reforçam o sentimento de identidade do
grupo, através da repetição ritualizada de cerimônias coletivas. Virtualmente invariável, o ritual,
exatamente por sua feição repetitiva, afiança a força e a perenidade da mensagem e do próprio grupo,
encontrando segurança e fé no porvir” (MOTTA, 1996, p. 97)
96
43
Segundo Eric Hobsbawm (1984) as tradições podem ser classificadas em três categorias de tradições
inventadas : “a) aquelas que estabelecem ou simbolizam a coesão social ou as condições de admissão de
um grupo ou de comunidades reais ou artificiais; b) aquelas que estabelecem ou legitimam instituições,
status ou relações de autoridade, e c) aquelas cujo propósito principal é a socialização, a inculcação de
ideias, sistemas de valores e padrões de comportamento.” (Hobsbawnt, 1984, p.18). Acreditamos que os
jogos tenham a função, numa perspectiva de tradição inventada, incorpora características destas
categorias citadas por Hobsbawn, já que simbolizam uma coesão social em relação universidade e
estudante, legitimas estas instituições e possuem a socialização de determinados valores e padrões de
comportamento socialmente desejados.
97
Figura 11 – Desfile de abertura dos 2º. Jogos Universitários em 1959. (Boletim Informativo
UFC, no. 20, setembro-outubro de 1959, p.397)
Figura 12 – Desfile de abertura dos 2º. Jogos Universitários em 1958. (Boletim Informativo
UFC, no. 14, setembro-outubro de 1958, p.09)
98
Figura 13 - Reitor Martins Filho discursando na abertura dos primeiros jogos universitários, em
1957, no ginásio do Fénix Caixeral. (Boletim Informativo UFC, no. 08, setembro-outubro de 1957, p.14)
44
A passeata era um “desfile” pelo centro da cidade dos recém-aprovados no vestibular da Universidade
do Ceará e das unidades de ensino superior existentes em Fortaleza. Realizava-se logo no início do ano
letivo, acontecendo em um sábado, com milhares de pessoas assistindo nas calçadas e praças do coração
da cidade na época. Era, pois, um evento de grande repercussão e movimentação cuja qualificação é de
um evento “tradicional” dos estudantes universitários. Uma definição constante durante todo o restante
da década, que revela o caráter ritualístico que o evento possuía, no tocante a representação da juventude
universitária e sua importância para a cidade. (Maia Junnior, 2002, p.)
45
Apoiado principalmente em antropólogos, o historiador Edmilson Maia (2002) analisou as passeatas e
desfiles dos bichos da Universidade do Ceará, nos anos posteriores ao golpe de 1964. Apesar de objetivos
e momentos diferentes, acreditamos que tanto a passeata dos bichos quanto os desfiles dos jogos
99
universitários possuem elementos de representação de um evento como festa, que ocupa lugar de destaque
no imaginário social da cidade, que pára para contemplar e assistir o que os jovens têm a lhe dizer. No
caso dos jogos, a importância do esporte para o desenvolvimento saudável da juventude e do país, já que
os jovens eram considerados o seu futuro. Nesse sentido, temos o entrelaçamento do jovem com a
instituição universitária na visualização do papel da universidade como agente desenvolvimentista em
Fortaleza e para o Estado do Ceará.
100
Figura 14 - Foto da maquete dos prédios universitários do Campus Benfica, podemos observar a Reitoria
(1) no quarteirão central e os prédios do CEU e assistência estudantil (2) do lado esquerdo, no lado da Av.
da Universidade. (Boletim Informativo UFC, no. 59, março-abril de 1966, p.80)
RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO
Poucos colegas querem ter a grande responsabilidade da direção do
restaurante universitário. É um cargo espinhoso, onde surgem vários
problemas: a organização do serviço, a fim de que não falte alimentação
diária para quase 370 comensais: desprendimento e disposição, para dedicar
46
As fontes indicam que só a partir de 1959 é que começa a existir efetivamente a participação das
entidades estudantis na definição das normas de gerências de alguns equipamentos assistenciais. É o que
indica a transcrição da Ata da 36ª. Sessão ordinária do Conselho Universitário realizada no dia 12 de
março de 1959. “...Restaurante Universitário: - Tinha o reitor a comunicar que depois de entendimentos
entre a reitoria, os diretores das unidades incorporadas e os presidentes do Diretório Central dos
Estudantes e da União Estadual dos Estudantes, foram acertadas as normas para funcionamento, no
corrente ano, do restaurante universitário. De conformidade com que ficara estabelecido, a direção do
restaurante deveria continuar a cargo de uma co-gerência de estudantes, integrada pelos presidentes do
DCE e da UEE, tendo sido instituída uma comissão supervisora do restaurante universitário, sob a
presidência do reitor e constituída dos Diretores das Escolas federais e dos presidentes do DCE e da
UEE...”(Boletim Informativo UFC, no. 17, Mar-Abril de 1959. P.19)
102
47
Segundo Jorge Ferreira (2003), “A pouca dedicação dos historiadores e as imagens fortemente
introjetadas no imaginário acadêmico que desqualificam o período reforçaram a caracterização do regime
político como populista. Durante muitos anos, a experiência democrática que se abriu em 1945 com o fim
do Estado Novo e se encerrou com o golpe civil-militar de 1964 ficou conhecida por categorias
pejorativas como período populista, república populista ou democracia populista. O sindicalismo,
igualmente populista, ainda recebeu a qualificação de “velho”. As expressões podem ser encontradas
tanto em livros didáticos quanto em textos produzidos nas universidades. Nada há de ingênuo nessas
maneiras de nomear aquele período da história do país. O objetivo é desqualificar o regime de 1946-1964
como uma experiência de democracia representativa.”(FERREIRA, 2003, p.17)
104
48
Ao analisar o sistema político brasileiro no período de abertura democrática (1945-1964), Simon
Schwartzman (1975) traz um enfoque teórico que acentua a autonomia relativa do Político, ressaltando a
análise do Estado como uma estrutura específica cujas características não podem ser simplesmente
deduzidas da estrutura de classes, como um dos principais fatores determinantes da natureza do sistema
político de uma sociedade. Para Simon existem dois padrões de sistema político que caracterizam uma
determinada cultura política. O padrão de representação refere-se à participação política baseada na
organização autônoma dos grupos e classes sociais em função da articulação e defesa de seus interesses
específicos na esfera pública. Em termos de atuação partidária, este padrão é exemplificado pela
experiência das democracias europeias ocidentais. O padrão de cooptação corresponde, ao inverso, uma
situação na qual a implementação dos interesses setoriais se dá diretamente através do controle das
agências burocráticas, situando o núcleo do conflito político na disputa por cargos e na imposição de
políticas governamentais. Nesse sentido, as pressões por participação por parte dos grupos, movimentos e
lideranças previamente fora do esquema de poder tendem a ser absorvidas através da concessão de
posições na administração pública, dessa forma se efetivando um tipo de participação política dependente
e controlando de cima para baixo. Entendida, fundamentalmente como uma política de controle e
manipulação das formas emergentes de participação. Para o autor, a preponderância do padrão cooptativo
na evolução do processo político brasileiro resultou na constituição, em 1945, de um sistema partidário
centrado na luta pela obtenção de cargos no aparelho governamental, cujo o controle era condição de
força eleitoral. No sistema de cooptação, quanto mais íntima a participação do líder na burocracia
governamental, maior sua força política, já que terá acesso a mais recursos para manter o controle de sua
base política. No caso dos partidos políticos, apoiados no controle de recursos burocráticos os partidos
estabeleceram com suas bases um padrão de relacionamento baseado antes na manipulação de tais
recursos para a distribuição de favores do que em vínculos ideológicos.
105
Figura 15 – Homenagem dos estudantes ao reitor Martins Filho, no CEU, em 1959. (Boletim Informativo
UFC, no. 19, julho-agosto de 1959, p.323)
49
Segundo Certeau (1994) estratégia é “o calculo das relações de forças que se tornam possível a partir
do momento em que um sujeito de querer e poder é isolável de um ‘ambiente’”. CERTEAU, Michel de. A
invenção do cotidiano: 1.artes de fazer / Michel de Certeau; tradução de Ephraim Ferreira Alves. –
Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. p.46.
107
50
Além de afastar os estudantes da atividade política, também existia a tradicional preocupação de afastar
os estudantes das Casas de Jogos e Cabarés que existiam em Fortaleza. (ver MUNIZ, 1997)
108
51
Ver pesquisa realizada por Patricia Menezes (2009) sobre a construção do serviço de transporte
coletivo de passageiros entre 1945 e 1960, em Fortaleza.
112
DIRETÓRIOS E PUBLICAÇÕES
Do ano vindouro em diante todos os diretórios acadêmicos terão direito a
uma publicação anual pela Imprensa Universitária. Foi essa a decisão
tomada há pouco tempo, pelo Magnífico Reitor Martins Filho, tendo em
vistas as constantes reclamações da classe universitária, nesse sentido. A
medida foi acertada, uma vez que todo diretório precisava, realmente,
promover a tiragem de uma revista ou algo semelhante, pelo menos
anualmente.
BOLETINS DO DCE
O Diretório Central dos Estudantes também está de cima, com referência a
publicações, terá um boletim mensal, o que também há muito tempo era
necessário. Aliás um dos objetivos do atual presidente, acadêmico Manlio
Silvestre, é manter uma publicação periódica, para divulgar as atividades da
entidade que dirige.
52
Ver pesquisa realizada por Ana Leopoldina Quezado (2007) sobre Fortaleza nos primeiros tempos da
TV (1958 – 1965)
53
Ver dissertação de Roberta Kelly Maia (2013), “A cidade do jornalista: da Fortaleza representada nos
jornais à administração da capital por Luiz Queiroz Campos (1954-964).”
113
UEE TAMBÉM
Quanto à União Estadual dos Estudantes terá uma revista bimestral,
publicada pela IUC. A entidade máxima dos universitários cearenses não
poderia deixar de ter suas atividades conhecidas apenas de boca em boca.
Claro que as palavras desaparecem, e as escritas ficam. O povo terá,
portanto, um melhor conhecimento do que vai pelo meio estudantil, onde
tem havido movimento de toda espécie, mas convergidos todos para o
interesse geral. (Tribuna do Ceará, 15/12/61:5)
JORNAL ESCOLAR
Circulou o primeiro número do jornal da Escola de Engenharia, “o concreto”,
redigido pelos acadêmicos, com interessante colaboração intelectual sobre
54
O Jornal Gazeta de Notícias vinculava caderno de suplemento aos domingos com diferentes conteúdos,
sendo que uma das páginas era da Página Universitária e seu conteúdo sob a responsabilidade do Centro
Acadêmico São Tomaz de Aquino, da Faculdade Católica de Filosofia. Era escrita por Ruth Cavalcante e
a futura jornalista Adísia Sá, contando com a contribuição do jucista Tarcísio Sisnando. Interessante
observar a importância do movimento estudantil universitário, a ponto de possuir uma coluna própria (em
outros jornais da cidade também), em um jornal de grande circulação para tratar de seus assuntos e
também observar a preocupação do Jornal em eximir-se de qualquer responsabilidade do conteúdo
divulgado. No início da página era colocado o seguinte texto em caixa alta: AS MATÉRIAS DESTA
PÁGINA NÃO RECEBEM QUALQUER REVISÃO OU CENSURA POR PARTE DA DIREÇÃO
DESTE JORNAL, SÃO, POIS, DE AUTORIA E INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS
UNIVERSITÁRIOS QUE A ORGANIZAM.
114
BÊNÇÃO DO RESTAURANTE
Realizou-se, no dia 11 de maio, a bênção do prédio do restaurante
universitário, situado na praça da Bandeira, por S.Exa. Revma. Dom
Expedito Eduardo de Oliveira, bispo auxiliar de Fortaleza. Na oportunidade,
usaram a palavra, o acadêmico Manuel Gonçalves, presidente do Diretório
Central dos Estudantes, o vice-reitor, professor Manuel Antônio de Andrade
Furtado, e S.Exa. Dom Expedito Eduardo de Oliveira. Ao ato religioso
compareceu grande número de professores e alunos das faculdades e escolas
da Universidade. (Boletim Informativo UFC, no. 06, maio-junho de 1957, p.
11)
55
Segundo Lima (2013), Prof. Amadeu Furtado foi uma figura proeminente da intelectualidade católica
fortalezense, um defensor incondicional dos costumes católicos que também indicava qual a imagem e
postura ideal de jovem e do estudante dentro dos preceitos católicos de respeito aos mais velhos e de
manutenção da ordem. Foi um dos fundadores da LEC cearense e redator chefe do Jornal católico O
Nordeste. Prof. Amadeu Furtado foi Diretor da Faculdade de Direito e Vice-Reitor da Universidade do
Ceará.
116
Foto 16 – Missa da Páscoa dos Universitários em 1959. (Boletim Informativo UFC, no. 18,
maio-junho de 1959, p.252)
(...) A Juventude Universitária Católica (JUC) é uma das veias por onde
correrá o sangue da mobilização política estudantil dos anos 60, defendendo
amplas reformas sociais (dentre elas, a universitária). De sua ala esquerda
sairá a Ação Popular (AP), um dos grupos detentores da liderança do
movimento dos estudantes por quase toda a década. (...) Torna-se interessante
observar como esse movimento (o da Juventude Universitária Católica) traça
sua trajetória desde um reacionarismo extremo, engajado na cristianização
pretensamente apolítica, ao envolvimento com questões sociais...
a força do setor cristão da UNE – a ala da JUC, mais tarde AP -, mesmo
contra a orientação da hierarquia católica, veio ganhar espaços cada vez
maiores no seio da organização, por força de um exercício político, cujas as
raízes estão nos anos 50. No entanto, a categoria estudantil, em sua vertente
católica, ganha realmente em expressão, à medida que a bandeira da reforma
universitária é por ela empunhada e conduzida. (FÁVERO, 1994, PP. 31-34)
3º. Capítulo
56
Segundo Souza (1999), “uma análise prévia e rápida sobre os significados e a origem da palavra
“militante” nos revela alguns sentidos interessantes e possibilita estabelecer relações que não devem ser
desprezadas. O militante pode ser definido como aquele que defende ativamente uma causa e entra em
combate para ver vitoriosas as ideias do grupo a que pertence. Na sua origem o termo militante deriva do
latim militare, verbo que começa a ser empregado na linguagem teológica a partir da Idade Média. Neste
momento o adjetivo “militante” qualifica a igreja. É interessante sublinhar este uso inicialmente religioso
da palavra militante. Lá nesse sentido primitivo o termo vincula-se à ideia de combate contra os inimigos
pelo triunfo de uma causa única, pela conquista da salvação final num (outro) mundo totalmente novo.
Essa salvação exige a entrega total da pessoa à longa caminhada que submete e dá sentido a todas as
demais esferas da vida. Só por volta do século XIX é que a palavra “militante” ultrapassa o sentido
propriamente religioso e emerge no vocabulário político passando a ser utilizada para nomear aquele que
milita numa organização partidária ou sindical, aquele que abraça as tarefas políticas (materiais e
intelectuais) necessárias para a conquista do Estado e/ou para a transformação total da sociedade. Parece
pertinente perguntar, desde já, se neste seu sentido moderno o termo “militante” indicaria uma ruptura
radical com a experiência religiosa e militar ou, em grande medida, representaria um reaproveitamento de
certas técnicas e saberes religiosos e militares.” (SOUZA, 1999, p. 132-133)
119
O DCE inclusive tinha muita força por causa disso. A gente tinha um espaço
enorme no CEU. O restaurante, inclusive o DCE tinha alguém na diretoria do
restaurante. Tinha alojamento em cima que a gente ocupava. Mas a grande
função do CEU mesmo era dar festa, a gente tinha festas com bebedeiras
homéricas, esse foi um período que se bebia muito (risos)... Nessa época as
destilarias de rum foram expulsas de Cuba, tiveram uma passagem pela
Florida e algumas se instalaram no Brasil. Nessa época, a Bacardi teve uma
entrada muito forte no Brasil, fazia promoções muito grandes. Tinha uma
história dessas expressões que existiam no Ceará, tinha a “meiota” né, a
“meiota” era metade rum e a outra metade de coca-cola e bebia-se demais. Os
estudantes de Agronomia e Medicina, particularmente, bebiam muito. Uma
coisa que me lembro – hoje deixaria todo mundo arrepiado – nós íamos pra
estas festas e tinha sempre alguém que levava uma seringa hipotérmica e
várias ampolas, capsulas de glicose. Porque alguém entraria em coma
alcoólico, ai era só quebrar a ampola e aplicar, o sujeito se recuperava
(risos)...(Manlio Silvestre, 2012)
57
O bom humor também era um traço importante da forma de agir politicamente no meio estudantil
naquele período. O bom humor pode ser explicitamente observado na forma como eram elaborados os
cartazes de manifestação e reivindicação política dos estudantes, como por exemplo, os cartazes
produzidos durante a greve do 1/3 apresentados no primeiro capítulo desse trabalho.
121
58
Segundo Gott (2006), a nacionalização das empresas americanas começou a acontecer em 1960, em
resposta às medidas econômicas americanas adotadas para diminuir a compra do açúcar cubano. “Como
prometido, Castro reagiu contra os Estados Unidos, no dia 06 de agosto. Ele anunciou a nacionalização de
todas as propriedades norte-americanas importantes na ilha...” (GOTT, 2006, p. 211)
122
“entre/vista”, afinal, é uma troca de olhares. E bem mais do que outras formas de
arte verbal, a história oral é um gênero multivocal, resultado do trabalho comum
de uma pluralidade de autores em diálogo.”(PORTELLI, 2010, p. 20)
No momento da entrevista, depois de superadas as dificuldades iniciais
de investigação, como por exemplo, busca de contato e até dificuldade de
mobilidade e distância, nos encontramos frente a frente com o entrevistado.
Inicialmente, uma mistura de emoções e expectativas, porém tentamos seguir o
que nos diz os “manuais” de História Oral sobre as “condições” para as
entrevistas (MEIHY, 2007, p. 51): conquiste a confiança do entrevistado,
demonstre segurança nos questionamentos e no conhecimento daquele período
histórico, entre outras orientações metodológicas.
Apesar de estudarmos com afinco a temática do projeto e prepararmos
criteriosamente um roteiro de perguntas dirigidas para nosso tema de estudo,
logo percebemos que a entrevista percorrerá caminhos não previstos e que para a
memória não existe barreira entre o eu e o nós, o individual e coletivo. Nesse
sentido, a militância no movimento estudantil não é uma fase estanque da vida
do entrevistado, é necessário levar em consideração o passado e o futuro daquela
vivência, esse jogo de temporalidades norteará a forma como as memórias
representarão aquelas experiências passadas.
Então, nas memórias, a militância está inserida na história de vida do
entrevistado, narrada sem preocupações relacionadas à cronologia do tempo ou
mesmo à coerência de pensamento. Vejamos o que nos fala a liderança jucista
Agamenon Tavares, sobre a razão que o fez a priori desconfiar da ação da JUC e
ao mesmo tempo o motivou a se interessar em participar desse movimento.
59
Vale ressaltar que a escolha dos entrevistados é baseada na compreensão de que as memórias
individuais e coletivas são entrelaçadas e mediadas por experiências sociais. Isto posto, ao escolhermos
entrevistados que foram lideranças do movimento, considerando suas experiências de socialização
política, esperamos aprofundar questões relacionadas à cultura política do movimento, principalmente na
perspectiva da memória coletiva do movimento estudantil. Dessa forma, mesmo considerando a
influência das vivências individuais reinterpretadas nas memórias de cada entrevistado, percebemos
alguns fios que conduzem à memória coletiva do movimento. Esses fios, denominaremos de dimensões
memoriais. Para efeito da pesquisa, dimensões memoriais serão consideradas as temáticas (conciliação,
ressentimentos, disputas e ação políticas e de reconhecimento) que emergiram das memórias dos
militantes. Estas dimensões memoriais revelam a complexidade, subjetividade e descontinuidade das
memórias analisadas.
124
3.1 Memórias de conciliação: Nada mais se parece com a Igreja que o partido
comunista...
Nada mais se parece com a Igreja que o partido comunista, são duas
instituições extremamente parecidas, em tudo, tudo mesmo (...) A autoridade
dá a ordem em cima e a turma obedece embaixo(...) A relação entre os
estudantes universitários comunistas e os estudantes católicos foi da melhor
qualidade. Foi uma das coisas mais saudáveis do Brasil. (José de Freitas,
2008)
60
Nos anos iniciais da década de 1960, as principais forças políticas de esquerda do movimento estudantil
universitário cearense eram a JUC Ligada à ACB, e a Juventude Comunista ligada ao PCB. Essa
realidade é indicada em fontes orais, fontes jornalísticas e na pesquisa de Braulio Ramalho sobre o
Movimento Estudantil Cearense nesse período. No entanto, vale salientar que existiam outros grupos
disputando a liderança do movimento nesse período, como por exemplo, a Juventude Udenista ligada à
UDN.
61
Vários autores que analisaram a atuação da JUC (SOUZA, 1984; LOWY, 2000; LIMA, 1979)
identificaram em certos momentos a interação entre jucistas e comunistas. Por exemplo, sobre a atuação
da JUC na UNE, Ridenti (2002) afirma “dada sua crescente organização, as lideranças da JUC passaram a
encabeçar a frente de esquerda que dirigia a UNE. Assim, em 1961, o jucista Aldo Arantes foi eleito
presidente da entidade, aliado ao Partido Comunista (PCB) e a outras forças progressistas que
compunham a chapa vencedora...”(RIDENTI, 2002, p.246)
126
62
Alguns estudos fazem referência à proximidade das ideias comunistas e cristãs. Existem pensadores
que radicalizam essa proximidade, como Souza (2003), para ele a maioria das ideias socialistas tem em
suas matrizes o ideário cristão, como por exemplo: as ideias de igualdade humana, supremacia da
dignidade humana, universalidade dos bens, entre outros. No entanto, existem pensadores mais
comedidos. Para Lowy (2000), existia certa proximidade de algumas ideias, porém existiam diferenças
abissais, como a filosofia materialista e a ideologia ateísta que fundamentam o ideário comunista e
socialista. Acreditamos que o cenário político (que o movimento estava inserido) polarizado, a luta anti-
imperialista e as ideias de transformação e reformismo social provocaram uma maior aproximação dessas
ideias. Nesse sentido, os estudantes procuraram ressaltar as poucas convergências que existiam nas linhas
de pensamento, porém eles não esqueciam as profundas diferenças nas finalidades de cada ideologia.
127
primeiros anos de vida do DCE. Uma época em que as outras fontes analisadas
indicam certa instabilidade política da entidade em conjunto com uma forte
interdependência em relação à Administração Superior. Nas reminiscências de
Djacir Martins a relação com a Administração Superior “era muito boa, não
havia movimento contra e eu levei várias vezes o Reitor à sede do DCE”.
Quando Leorne rememora as razões religiosas que influenciavam a
postura anticomunista do Diretor da Faculdade, outra questão interessante
transparece. A força e influência da religião católica em Fortaleza e na própria
Universidade. Como ressaltamos no capítulo anterior, tanto o Prof. Andrade
Furtado, como o próprio reitor Martins Filho eram figuras públicas
extremamente ligadas à Igreja Católica. Essa realidade será percebida na
importância dada as datas comemorativas católicas que eram celebradas com
grande pompa na Universidade: Páscoa dos Universitários, Natal dos
Universitários, além das várias missas realizadas na concha acústica.
Também percebemos representações de uma forma de atuar
politicamente. Nesse sentido, tenta se demostrar que as ações e os objetivos
políticos sobreporão os posicionamentos ideológicos, transparecendo uma
imagem de homogeneidade do movimento. Vejamos o que José de Freitas narra
sobre as relações políticas entre jucistas e comunistas, onde mais uma vez a
representação da conciliação é reforçada.
também no campo das ideias. Talvez como uma forma de fortalecer uma
percepção de forte unidade, grande coesão e identidade comum entre os
estudantes que militaram naquele momento histórico. Ou talvez uma conciliação
com o seu próprio passado. Segundo Voldman, o depoimento de ex-militante
possui algumas especificidades.
José de Freitas foi, por muitos anos, uma espécie de guardião da memória
de seu grupo, a JUC. Tentou de alguma forma juntar os pedaços de uma
experiência marcante em sua juventude. Ele fez um levantamento com nomes,
endereços e telefones de ex-integrantes da Juventude Universitária Católica no
Ceará e mantinha contato constante com alguns deles.
Essas informações serviam como elo entre o presente e o passado, mas
também serviam como pistas de uma história que para Jose de Freitas deveria ser
resgatada, divulgada e celebrada. Na realidade, o fato de se preservar
determinada memória pode ter diversos significados e motivações. Apesar de
analisar questões bem diferentes, Pollak63 sugere, em relação às motivações para
preservar certas memórias, que,
63
Para Pollak, ao analisar a existência de memórias oficiais e memórias subterrâneas, é preciso levar em
contar as intencionalidades da manutenção, divulgação e preservação de certas memórias que buscam
construir um passado homogêneo, livre de conflitos e de contradições. Nessa perspectiva, as memórias
relacionadas à conciliação dos grupos e atores envolvidos nas disputas políticas podem ter intenções de se
preservar um passado do movimento, em que ele representava um corpo único e unido em prol dos
estudantes e das causas sociais.
131
Benjamim.
... o narrador figura entre os mestres e os sábios. Ele sabe dar conselhos: não
para alguns casos, como o provérbio, mas para muitos casos, como o
sábio...seu dom é poder contar sua vida; sua dignidade é contá-la inteira. O
narrador é o homem que poderia deixar a luz tênue de sua narração consumir
completamente a mecha de sua vida...(BENJAMIM, 1994, p. 221)
64
Ver trabalhos de Ramalho (2002) e Maia (2008) sobre o movimento estudantil cearense com entrevistas
de militantes do período.
134
65
No estudo de Albuquerque (1977), o autor questiona se as condutas dos estudantes no movimento
estudantil dependem primordialmente do sentido dado por eles à sua participação, nesse sentido, se
relacionam o projeto pessoal com o projeto societal dentro do movimento. Nessa perspectiva, percebe-se
a complexidades que existem entre os objetivos formais da Organização e os objetivos percebidos pelos
membros. Acreditamos que para Leorne Belém o projeto pessoal de carreira política se relacionava
diretamente com a forma como ele percebia os objetivos políticos do movimento.
66
Vejamos o que falar o então prefeito de Fortaleza Paulo Cabral, eleito em 1950, “Na verdade eu não
escolhi a UDN para se candidatar a prefeito de Fortaleza, pois a indicação cabia ao PTB. Fui convencido
a aceitar a candidatura a prefeito, indicado, formalmente, pelo PTB, pelos jovens integrantes do
Departamento Estudantil da UDN...(MOTA, 1997, pp 43-44)
135
67
A produção historiográfica sobre o período revela uma forte influência do ideário nacionalista nos
discursos da esquerda brasileira e dos movimentos sociais, ver, por exemplo, a obra Nacionalismo e
reformismo radical (1945-1964)(FERREIRA & REIS, 2007). Percebemos através das fontes jornalistas e
fotográficas já apresentadas nesta pesquisa a forte crítica ao imperialismo americano por parte do
movimento estudantil cearense.
137
68
Para Maranhão (2007), o movimento estudantil do início da década de 1960, através da UNE, foi o
maior agitador das propostas nacionalistas e de reforma. Isso foi um dos fatores para os nacionalistas de
esquerda, que ocupavam cargos de poder no Executivo Federal, liberarem verbas para as ações de
propaganda da UNE. Verbas que eram usadas também para outras finalidades, como por exemplo, a
formação do Centro de Cultura Popular/CPC da UNE.
138
Nós tínhamos algumas aspirações básicas, uma delas, por exemplo, acabar
com as cátedras, acabar com os catedráticos... outra era a participação dos
estudantes no Conselho Universitário, pois o que tinha era uma participação
mínima, quase simbólica... Que acho marcante nessa época, era que, se não
uma participação, havia uma consciência muito grande da situação política
do país, uma interação muito grande com que se passava na política nacional.
Qualquer coisa que acontecia na política nacional repercutia dentro da
Universidade e o corpo estudantil reagia rápido e bem, não sei se uma
impressão minha porque na distancia a gente acha que as coisas eram tão
mais diferentes, acho que havia um pouco mais de informação e formação
das lideranças estudantis. Acho que lia-se um pouco mais...(Manlio Silvestre,
2012)
VITALICIEDADE DE CÁTEDRA
Outro assunto que foi amplamente debatido foi a questão da vitaliciedade de
cátedra. Argumentam uns que no Brasil para que o professor possa exercer
tranquilamente as funções do seu cargo, é preciso que esteja garantido pela
vitaliciedade. Para outros é justamente o contrário, a vitaliciedade acoberta
uma grande parte de professores incompetentes, fazendo com que um
professor ocupe por muitos anos uma cadeira, sem acompanhar a evolução da
ciência que ministra. Debates acalorados houve sobre a vitaliciedade de
69
Vale ressaltar que a Universidade do Ceará surge da agregação de varias faculdades já existentes. As
faculdades eram compostas de cátedras, cada qual correspondendo a certa área do saber. A reunião de
certas cátedras compunha a série e a sequência destas, o curso. A cátedra tinha no professor catedrático o
titular vitalício, somente substituído por morte, afastamento ou jubilação (aposentadoria)...Cada faculdade
era dirigida pela congregação, formada pelos professores catedráticos e pelo representante dos livre-
docentes, por ele eleito...(CUNHA, 1983, p. 15-16)
139
Por outro lado, este reconhecimento também pode ser expresso quando
os entrevistados comparam a atuação do movimento estudantil daquele período
com o atual. Ao criticar a ação política do movimento atual ou destacar
qualidades daquele, as memórias transparecem o reconhecimento do valor e da
importância do movimento estudantil do qual os entrevistados eram lideranças.
Vejamos a narrativa de Djacir sobre sua percepção acerca da atuação do
movimento estudantil universitário nos dias atuais.
Porque eles são subvencionados pelo Lula, no meu tempo, nos pequenos
movimentos que eu participei, a luta era difícil. A gente ia no gabinete do
ministro da Educação, eu ia pra UEE, você marcava audiência e etc. Havia
aquele movimento espontâneo de protesto e tudo. Hoje você não vê isso.
Você acha que se tivesse todas essas denúncias de corrupção, tantos os
estudantes quanto os secundaristas estariam calados, não fariam passeatas?
Hoje eu considero péssimo. Porque ele é controlado pelo PC do B, recebendo
certinho uma verba todo mês, coisa que nós não tínhamos. Pra você fazer um
congresso tinha que pedir ao Presidente da República ou alguma autoridade
para custear aquele congresso, era assim. Então o pessoal que é
subvencionado não vai protestar contra quem lhe paga, é um tipo de
partidarismo. Naquela época nós éramos independentes ...(Djacir Martins,
2012)
Figura 17 – Debate dos alunos com a associação comercial de Fortaleza, acontecido na Cocha
Acústica.(acervo pessoal de Manlio Silvestre)
Na realidade, no período entre o final dos anos 1950 até o golpe de 64, o
movimento estudantil universitário parece estar passando por transformações em
sua cultura política. Com práticas políticas mais radicais, com disputas mais
intensas pela liderança do movimento e com uma postura e um discurso político
cada vez mais a esquerda. Essas transformações são rememoradas pelas
lideranças em representações de disputas que foram trazidas para o presente.
3.3. Memórias de disputas e práticas políticas: para você ter uma ideia, nós sempre
ganhávamos, a gente era mais atuante e era maior...
Então, a gente trabalhava, como eu disse, o braço político, lado a lado com as
ideias cristãs. Nosso objetivo era compor uma frente em que nossa força se
fizesse presente nas ações políticas dentro da universidade. Assim, a
estratégia política era a seguinte: ter poder político e dominar a maior parte
das instituições políticas dos estudantes. Talvez por esse tipo de organização
do trabalho o grupo cristão sempre teve dirigentes na maioria dos diretórios.
(Hélio Leite, 2009)
70
O Diretório Central dos Estudantes/DCE foi criado em 10 de maio de 1956 com a denominação de
Diretório Universitário dos Estudantes. Em 14 de dezembro de 1956 é eleita a primeira diretoria com a
utilização do nome DCE.
143
... na greve de 1/3 teve uma série de ações que nós executamos, ações
inclusive de boicote da universidade. Aquelas ações que resultaram em corte
de energia da faculdade de Agronomia, que era, naquele momento, a mais
reacionária (...) Nós cortamos, quebramos o fornecimento de energia para a
faculdade de Agronomia, como fizemos também uma outra ação que impediu
o funcionamento de Imprensa Universitária, tirando algumas peças
fundamentais dos motores... A JUC não participou, até onde eu saiba, dessas
ações. Essas ações eram muito mais orientadas e praticadas pelos comunistas,
eu sinceramente não me lembro, eu não quero ser injusto e faltar com a
verdade, mas eu não me lembro que alguma pessoa da JUC tenha participado
71
Segundo Muniz, a polícia estudantal estava relacionada com a cultura política do Estado Novista, para
ele “criava-se um imaginário de uma efetiva participação do jovem nesta nova ordem, numa condição de
autoridade disciplinadora respaldada pela polícia civil; visto que sua ação de regular comportamentos em
espaços de lazer dava-se não só sobre estudantes, como também sobre jovens de outra condição social e
mesmo público em geral, extrapolando o movimento estudantil.”(MUNIZ, 1997, p.14)
144
... foi uma greve muito bem bolada. Ai vem outra coisa que eu aprendi nos
movimentos de massas. Não confiar nos valentões. Nós fizemos um
planejamento da seguinte maneira: nós vamos fechar a Universidade... foi
uma greve de ocupação da Universidade, nós vamos fechar toda a
Universidade e ocupar algumas partes dela. Uma parte importante dessa
ocupação era o setor financeiro da Universidade. A gente sabia que nessa
época, a Universidade, localizada em Fortaleza uma cidade ainda pequena,
num Ceará subdesenvolvido, era um dos grandes pagadores da sociedade
cearense. O orçamento era uma coisa. Martins Filho era uma das figuras mais
importantes, ele e o governador eram as figuras mais importantes do Estado,
porque o comércio vivia em torno da Universidade, era o grande pagador.
Nosso cálculo era o seguinte: se a gente fecha o setor financeiro, no mínimo
eles mandariam o exército abrir em uma semana e a gente tem uma greve de
uma semana (risos). O cálculo era esse, a gente ia fazer isso. Então nós
dividimos isso em comandos. Fulano ia pra escola de agronomia e fechava a
escola, ia fechando tudo. Para esse setor estratégico, nós mandamos o sujeito
que era presidente do diretório da Faculdade de Economia, porque era o cara
mais valentão, pelo menos nos comícios, na assembleia. Ele era um cara
exaltado... aliás, isso era uma característica dessa época, da radicalização,
cada um querendo ser mais à esquerda, mais ativo do que o outro. Mas esse
cara foi encarregado com um grupo de chegar e fechar o setor financeiro e de
compras da Universidade. Só que quando ele chegou lá, tinha um funcionário
qualquer, de terceiro nível. O funcionário disse: - Não! Vocês não vão fechar
não! Podem ir embora. Eles viraram e foram embora. A capacidade de
pagamento da universidade continuou funcionando e a greve se estendeu por
muito tempo, teve um desgaste muito grande, inclusive eu me desgastei
bastante... Nessa época a coisa ficou bem dividida, tinha o pessoal ligado à
Igreja católica bem forte e a juventude comunista do outro lado, eram as duas
forças principais. Esse pessoal ligado aos partidos tradicionais tinham
perdido qualquer influência no movimento estudantil...(Manlio Silvestre,
2012)
72
Segundo Ferreira (2007), o programa de Governo de Jango chamava-se Reformas de base, tratava-se de
um conjunto de medidas que visava alterar as estruturas econômicas e sociais do país, permitindo o
desenvolvimento econômico autônomo e o estabelecimento da justiça social. Nesse sentido, a maior parte
dos movimentos sociais acreditava e apoiava essas reformas, no caso dos estudantes, principalmente a
reforma universitária.
148
Eu me lembro de uma situação que ficou na memória, por causa do stress que
ela causou, Nós arrumamos um jipe, colocamos no jipe um amplificador.
Saímos pelos bairros operários Nesse tempo em Fortaleza, existiam umas
fábricas de tecido, nós saímos por estes bairros. Inclusive eu me lembro que a
gente participava das greves dos sindicatos, quando os sindicatos faziam
greves, nós íamos lá prestar solidariedade, discursávamos e tal... mas nesse
período da campanha da legalidade nós estávamos com este jipe fazendo
campanha para a posse, a favor da posse do Jango. Quando nos encontramos
numa rua atrás de uma daquelas fábricas, era uma ruazinha estreita que
começava num canto da fábrica e terminava no outro canto da Fábrica.
Quando nós entramos nessa ruazinha que só cabe um carro, se fosse dois, um
precisava encostar do lado, de lá vinha um jipe com a polícia militar. Nós
ficamos calados, na hora ninguém disse nada, nós passamos por eles
morrendo de medo(risos) e eles passaram pela gente e se quer olharam, não
deram nada pra gente e foram embora... depois nós descobrimos que havia
uma intervenção do Comando Militar da 10ª. Região na polícia militar. Eles
em sinal de protesto, simplesmente deixaram de prestar atenção ou de
intervir, mas a coisa era muito violenta...(Manlio Silvestre, 2012)
... Era assim, era tudo discutido com as lideranças, como o partido tinha
pouca gente, ele chamava a gente sempre pra conversa. Eles tinham o setor
estudantil e o setor universitário, que era pouca gente, tinha o Chico que era
aqui da Economia, o Farias, o Amaral. Tinha o pessoal da Medicina, então
eles tinham. Quando chegava por exemplo as grandes campanhas, a gente
fazia uma reunião, nosso grupo e eles vinham. Ai a gente acertava as coisas:
olha como é a proposta, que coisa a gente vai fazer, greve, enfim fazia uma
roda de negociações. Agora o partido era muito acostumado a acertar as
coisas e furar. Porque às vezes eles recebiam uma ordem do comitê estadual
para fazer outra coisa, ai mudava a estratégia e às vezes não combinava com
a gente. Por exemplo: a gente acertava que a eleição lá na Economia seria
nossa, ai de uma hora pra outra eles queriam furar e queriam ganhar. Ai
queria dizer que o candidato era do grupo deles. A mecânica era assim, a
gente discutia e acertava, por exemplo: teve uma eleição na UECE, nós
tínhamos um candidato, nós tínhamos 28 votos e eles tinham 2, ai queriam
ganhar, quer dizer, queriam convencer a gente, que a gente deveria abrir
mão....(Hélio Leite, 2009)
... Na hora do trabalho eleitoral não tínhamos essa visão grupista, nós
respeitávamos todas as lideranças estudantis, independente de quais grupos
representavam(...) a JUC nos conchavos funcionava como qualquer outra
força política, ela ia lá e trocava votos, depois fazíamos reunião, só que quem
participava éramos nós mesmos. No PC quem participava era o chefe do
partido...(Agamenon Tavares, 2010)
Havia em todas essas situações uma luta de bastidores, nós tínhamos nossos
conchavos, a eleição, por exemplo, para presidente da UNE. Tinha o
conchavão, que era uma grande reunião onde todas as tendências
participavam e em função da maioria, representada pelo número de
delegados, se tirava um encaminhamento. O número de delegados do PC e
dos seus aliados era muito grande. O PC já tinha muita experiência nos
conchavos...(Valton Miranda, 2010)
73
Para Montenegro, em situações que as pessoas vivenciaram em comum, cada um irá relatar uma
história semelhante e ao mesmo tempo distinta em relação à situação. Distinta porque o que a pessoa
elabora a partir do dado exterior (que é idêntico para cada grupo) está relacionado às suas referências
pessoais, à sua história de vida, às suas marcas e caminhos de memória; semelhante porque está narrando
algo que sem dúvida é também indissociável de algo que foi compartilhado socialmente(
MONTENEGRO in SAECULUM, 2008, p. 11)
152
Chapa da Legalidade
A chapa da legalidade enfrentou a chapa Machado Lopes (oposição) e ficou
assim, portanto, a nova diretoria do CACB: presidência: João Augusto
Vasconcelos; vice: Joaquim de Alencar Bezerra; 2º vice: Evandro Onofre
Silva; secr. Geral: Wagner Barreira Filho; 1º. Secr.: Alberto Callou; 2º. Secr.:
Rita de Miranda; tesoureiro geral: Maurilio Otoni Burlamarqui; 1º. Tes.:
Paulo Cabral; 2º tes.: Alfredo Wilson N. Sá; orador: Vicente Navarro
Gondim; bibliotecário: Holanda de Assis Rêgo. DCE: Manzolilio, Luiz
Dalcher e Jacy Aurélia. (Tribuna do Ceará 06/10/1961:4)
Nova Diretoria
Eis a composição da nova diretoria do centro acadêmico Dias da Rocha:
presidente: José Guedes Filho; vice: José Telmo de Castro Cunha; 1º.
Secretário: Pedro Jorge Ferreira Lima; 2º. Secretário: Raimundo Holanda
Farias; 1º. Tesoureiro: Otavio Pessoa Aragão; 2º. Tesoureiro: Claudio Regis
de Lima Quixadá; 1º. Orador: Vicente Alves Teixeira; 2º. Orador: Boris
Tupinambá Marinho de Souza; Bibliotecário: Paulo de Tarso Sabóia Ramos
(Id. Ibidem.19/09/1961:4)
A greve do terço era uma greve articulada no país todo, acabou começando
em Fortaleza por acidente... Quê que aconteceu, nós começamos a pregar o
movimento de greve. Essa foi bem organizada, nós íamos com o pessoal do
DCE, de faculdade em faculdade, em cada faculdade, as vezes em varias
salas, fazendo a pregação da greve, explicando o porquê e mobilizando o
pessoal. Foi um movimento de mobilização muito bem feito e muito forte.
Quê que aconteceu, o núcleo de resistência de direita estava na faculdade de
direito, era o pessoal mais conservador. Eu não lembro porque razão eles
resolveram deflagrar uma greve antes. E nós acabamos antecipando a nossa
greve para não deixar o Direito entrar na greve, sozinho, e liderando o
movimento. Por isso a greve estouro em Fortaleza alguns dias antes de
estourar no resto do país...(Mãnlio Silvestre, 2012)
Apesar dos indícios e suposições que podem ser levantadas, o certo é que
a greve foi antecipada no Ceará por causa das peculiaridades do nosso
movimento estudantil universitário. Onde o campo de disputas pela legitimação
de uma determinada verdade histórica encontra-se aberto.
Essa disputa “velada” por legitimação de uma determinada história nos
faz refletir sobre a concepção teórica de Portelli acerca das memórias
relacionadas ao massacre de Civitella Val di Chiana, em que o historiador
italiano produz uma interessante discussão sobre as percepções e construções
simbólicas diferenciadas, com referência a um mesmo acontecimento.
Nele os habitantes de Civitella vivenciaram um crime de guerra praticado
por alemães, que em represália a uma ação da resistência italiana (que havia
matado três soldados alemães), assassinaram nada menos que 115 homens
moradores de Civitella.
Portelli analisa, através das memórias dos habitantes, a construção de
uma memória que traz à tona diversas percepções acerca daquele acontecimento.
Segundo o historiador italiano, tais percepções são construídas a partir de uma
memória profundamente marcante e traumática do acontecimento em si, como
também por um processo modelado no tempo histórico.
Esse processo, independente que se trate de uma memória dividida (entre
uma “espontânea” e outra “oficial”), deve estar sempre em constante
investigação, pois é nele que o historiador pode iniciar o seu trabalho de crítica e
desconstrução da memória que é sempre mediada de alguma forma. Portelli
afirma que
(...) na verdade quando falamos de uma memória dividida, não se deve pensar
apenas num conflito entre a memória comunitária pura e espontânea e aquela
“oficial” e “ideológica”, de forma que uma vez desmontada esta última, se
possa implicitamente assumir a autenticidade não-mediada da primeira. Na
verdade, estamos lidando com uma multiplicidade de memórias fragmentadas
e internamente divididas, todas, de uma forma ou de outra, ideológica e
culturalmente mediadas. (PORTELLI in AMADO & FERREIRA,
2006, p.106)
155
3.4 Memórias de res(sentimentos): ...com o Martins Filho era uma relação conflituosa,
porque era um sujeito autoritário...um manipulador nato...
Com o Martins Filho era uma relação conflituosa, porque era um sujeito
autoritário, muito competente em termos administrativos, absolutamente
desligado do mundo acadêmico em termos intelectuais, ele não queria saber
nada disso, ele era um administrador mesmo, muito competente para
administrar, mas muito autoritário e um manipulador nato, ele manipulava,
tentava manipular inclusive o Movimento Estudantil. Eu me lembro uma
reunião dessas que precederam a greve, lá na reitoria. Discutíamos já tarde do
dia, no começo da noite, com todos os presidentes de diretório. De repente
Martins Filho com o secretário chega e diz assim:- Atenção, nós temos
programado com a(não sei se com a embaixada americana ou USAID) uma
viagem das lideranças estudantis para os Estados Unidos e era preciso
preencher alguns formulários. Aí saiu todo mundo. Foi preciso eu dar uma
bronca enorme. Eu disse: - Não vai ninguém, vamos voltar. Mas ele era um
tremendo manipulador, então as coisas evoluíam de forma meio conflituosa
com ele, ele controlava o resto do CONSUNI, dos diretores, ele tinha um
comando enorme sobre aquilo, inclusive quando ele saiu da Universidade, ele
fez uma manobra que tirou o Prisco Bezerra, que era o candidato natural e
colocou outro. Ele era um tremendo manipulador. Ele tomou esse movimento
grevista como um ataque pessoal a ele. Ele considerava a Universidade uma
propriedade privada, ele tinha fundado, ele era o primeiro reitor, ele tinha
feito tudo na luta para criar a Universidade e de repente uns caras tão fazendo
essa baderna. Ele considerava aquilo um assunto pessoal. No livro de
memórias dele, que ele escreveu, ele me relaciona, ele faz uma menção muito
curiosa. Ele não sabia de que lado as coisas vinham, então ele dizia assim:
que o presidente do DCE, Manlio era um agente de Moscou pago pelo ouro
de Cuba, ele inverteu(risos), o que o pessoal conservador dizia na época, era
“agente de Cuba, pago com ouro de Moscou”, ele inverteu(risos)... mas era
osso duro de roer o Martins Filho.(Manlio Silvestre, 2012)
...Se houve erro, foi da parte dos estudantes que, influenciados pelo
radicalismo dos agentes de Cuba e de Moscou, procuraram tumultuar a
Universidade, destruindo em grande parte aquilo que me parecia essencial, ou
seja, o otimismo e o entusiasmo no meu trabalho, em favor da educação
superior do Ceará.(...)Na realidade, durante mais de dois meses em que a
Universidade esteve ocupada pelos estudantes, envelheci mais de dez anos e
fiquei convencido de que a ingratidão é, efetivamente, aquela “pantera” de
que nos fala Augusto dos Anjos. (MARTINS FILHO, 1983, p. 241)
74
Ansart (2004) salienta que é necessário atentar para pelo menos cinco perspectivas na construção de um
conceito de ressentimento: a diversidade das formas de ressentimento; a intensidade dos ressentimentos;
os aspectos além do sentimento, como por exemplo: as representações, os imaginários, as ideologias e as
crenças; o papel específico desempenhado por certos indivíduos e grupos limitados no interior dos
movimentos sociais; e as consequências e manifestações de ressentimento.
Nessa perspectiva, o ressentimento possui um forte viés “moral”, em que reside uma ampla gama de
influência em variados comportamentos, valores e tradições individuais e grupais. Nesse sentido, a
solidariedade e a cumplicidade de indivíduos no interior de um determinado grupo podem estar
relacionado à dicotomia do bem e o mal, que se expressa no ressentimento a outros indivíduos e grupos.
159
Por fim, o autor analisa a memória dos ressentimentos. Para ele, podemos
diferenciar pelo menos quatro comportamentos possíveis que cruzam ao mesmo
tempo memórias individuais e coletivas: a tentação do esquecimento, a tentação
da repetição, a tentação da revisão e a tentação da exasperação da memória dos
ressentimentos.
O esquecimento se relaciona ao fato de não querermos sentir o peso das
psicologias agressivas cujas violências físicas ou simbólicas sofremos. A
repetição expressa à necessidade de não esquecer, de reforçar continuamente a
lembrança das ações que provocaram os ressentimentos.
Estes ressentimentos trazem também representações de fatos que
extrapolam o movimento estudantil. Percebe-se nas memórias de José de Freitas
um forte sentimento que transparece em seu saudosismo das experiências em
relação ao seu profundo envolvimento emocional na JUC e no movimento
estudantil, assim como em seus ressentimentos que irrompem como fantasmas
das suas reminiscências.
Essas memórias advindas do ressentimento exposto por José de Freitas
reforçam significados acerca da atuação política dos jucistas no Movimento
Estudantil cearense. É necessário compreender como e porque esses
ressentimentos evocavam, no caso, ações contra determinados atores sociais por
parte da alta hierarquia da Igreja brasileira.
A ideia da Ação Católica e a da JUC era que o cristão visse como era o
mundo e como poderia agir nesse mundo, as questões que eram discutidas era
se esta sociedade esta bem estruturada? Os bens que são produzidos são
justamente distribuídos?... Eram questões que não possuíam nenhum
significado para a maioria dos católicos, mas que para a Ação católica e a
JUC tinham significado... Era uma visão diferente, que deveria existir ainda
hoje, infelizmente esta visão foi destruída, basicamente por uma pessoa que
ainda estar viva, Dom Eugênio Sales. Foi ele o grande responsável pelo
destroçamento da Ação Católica no Brasil. No caso da JUC foi um
verdadeiro massacre, ele fez questão porque na JUC era um pessoal
universitário, que tinha poder de fogo, era gente jovem com capacidade de
pensar, ele não suportava isso...(José de Freitas, 2009)
CONCLUSÃO
forma como ocorreu no Ceará traz especificidades que servem para compreender
o espaço universitário de uma maneira mais complexa.
Em relação a outros objetos de pesquisa, percebemos que existe ainda um
forte potencial de pesquisa relativa a história institucional da primeira
Universidade cearense. As únicas obras que fazem referência direta a esta
história, são as memórias escritas do reitor Martins Filho. Desconhecemos obras
com abordagem histórica cientifica sobre o tema.
Por fim, acreditamos ter atingindo os objetivos propostos pela pesquisa.
Descrevemos características do MEU e de sua cultura política, ampliando a
reflexão sobre o processo histórico que envolve o movimento, percebendo
permanências e transformações no comportamento político do movimento
estudantil universitário cearense naquele contexto histórico. Analisamos as
atividades assistenciais, recreativas e religiosas desenvolvidas pelo MEU, dessa
forma, compreendemos a natureza da atuação política dos estudantes e as
relações que eram estabelecidas com a cidade de Fortaleza e os espaços
universitários. Reinterpretamos memórias de algumas importantes lideranças
estudantis universitárias. Percebemos traços da cultura política estudantil e das
experiências vivenciadas pelos estudantes naquela conjuntura histórica.
Nesse sentido, entendemos que existem diversos movimentos estudantis
e diversas culturas políticas estudantis, que, apesar de estarem ligados por um
mesmo processo histórico, intercambiando temporalmente características em
comum, possuem especificidades que os tornam um objeto de pesquisa
singularizado por sua própria historicidade, ou seja, a perspectiva temporal e
espacial das suas ações. Não obstante, o trabalho do historiador torna-se
relevante à medida que deixa transparecer as relações estabelecidas entre o
objeto histórico analisado e a sua historicidade, buscando tornar inteligível a
natureza dessas relações.
165
Fontes utilizadas:
Periódicos
Período que cursou – 1961 – 1964. Entrevista realizada em uma sala de aula da
Faculdade de Educação da UFC, no dia 13/01/2009, em Fortaleza-CE.
REFERÊNCIAS
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historiografia do festejar. UNESP – FCLAS – CEDAP, v. 7, n. 1, p. 134 – 150, jun.
2011.
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Brasiliense, 1981.
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8ª. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
ARÓSTEGUI, Julio. A pesquisa histórica: teoria e método. Bauru, SP; Edusc, 2006.
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