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JORNALISMO E POBREZA: AS VOZES

DAS CLASSES POPULARES NA


REPORTAGEM TELEVISIVA
Rafael Rangel Winch (PPGJOR UFSC)
■ OBJETO DE ESTUDO: A valoração das vozes das fontes a partir da classe social no
discurso telejornalístico sobre a pobreza.

■ HIPÓTESE: O discurso telejornalístico sobre a pobreza situa os dizeres das fontes de


classes populares em posições-sujeito de ilustração, descrição e lamentação em
detrimento de posições de saber, decisão e proposição, sendo que esse modo de
valoração das vozes interfere na forma como o tema pobreza é apreendido pelo
telejornalismo.

■ OBJETIVO: Compreender a valoração das vozes das fontes por meio de marcadores
de classe social no discurso telejornalístico sobre a pobreza.
■ OBJETO EMPÍRICO: reportagens que abordaram o tema da pobreza elaboradas
pelos seguintes programas jornalísticos:

Caminhos da Reportagem (TV Brasil)


Câmera Record (Rede Record)
Conexão Repórter (SBT)
Documento Verdade (RedeTV!)
Globo Repórter (Rede Globo)
PRINCIPAIS CONCEITOS DA PESQUISA:

■ CLASSE SOCIAL
■ POBREZA
■ DISCURSO
■ VOZES
■ REPORTAGEM
■ CLASSE SOCIAL
Pierre Bourdieu
Jessé Souza

■ POBREZA
Deepa Narayan

■ INTERSECÇÕES ENTRE CLASSE, GÊNERO E RAÇA


Sueli Carneiro
Lelia González
Angela Davis
Patricia Hill Collins
Uma definição resumida do conceito de pobreza dada por sujeitos das classes
populares é dada a seguir:

“Pobreza é fome, é falta de abrigo. Pobreza é estar doente e não poder ir ao médico.
Pobreza é não poder ir à escola e não saber ler. Pobreza é não ter emprego, é temer o
futuro, é viver um dia de cada vez. Pobreza é perder o seu filho para uma doença
trazida pela água não tratada. Pobreza é falta de poder, falta de representação e
liberdade”.

Trecho do livro “Voices of the poor - Can anyone hear us?” (2000), de Deepa Narayan.
Conexão Repórter (SBT) Caminhos da Reportagem (TV Brasil)

Câmera Record (Rede Record)


Documento Verdade (RedeTV!)

Globo Repórter (Rede Globo)


■ DISCURSO
Michel Pêcheux
Eni Orlandi
Patrick Charaudeau
Marcia Benetti

■ VOZES
Mikhail Bakhtin
Oswald Ducrot
Evandra Grigoletto
■ REPORTAGEM (TELEVISIVA)
Cremilda Medina
Jean-Jacques Jespers
Juliana Gutmann

As performances colocam a fonte na posição de cidadão comum, ilustrando ou


testemunhando um acontecimento que, por fim, revelam ou comprovam a versão
construída pela reportagem telejornalística (GUTMANN, 2014).
■ O discurso telejornalístico, não raras vezes, enfoca a situação das classes populares
apenas num plano individual, sem incluir os processos históricos que estruturam a
desigualdade social brasileira.

■ Reconhecer a complexidade em torno da pobreza pressupõe entendê-la como algo não


imanente aos sujeitos, mas uma consequência perversa dos processos históricos de
exclusão social.

■ O telejornalismo, delimitado por suas condições de produção discursiva e planos verbal e


imagético, pode tanto reproduzir sentidos conservadores acerca da pobreza, como
também romper com percepções unidirecionais e naturalistas sobre o fenômeno. Tais
possiblidades estão atreladas aos modos como as vozes das classes populares são
valoradas em um dado discurso.
REFERÊNCIAS

■ BAKHTIN, Mikhail M. Problemas da Poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.
■ BENETTI, Márcia. Jornalismo e perspectivas de enunciação: uma abordagem metodológica. Intexto. Porto Alegre:
PPGCOM/UFRGS, 2006, v. 14.
■ BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007
■ CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2008.
■ CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. 339f. Tese de doutorado.
Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
■ COLLINS. Patricia Hill. Black Feminist Thought. Editora, 1990.
■ DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Tradução de Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo, 2016.
■ DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987.
■ GONZALEZ. Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: SIVA, L.A. ET AL. Movimentos sociais
urbanos, minorias e outros estudos. Ciências Sociais Hoje, Brasília, ANPOCS, n. 2, p. 223-244, 1983.
■ GRIGOLETTO, Evandra. O discurso de divulgação científica: um espaço intervalar. Tese (Doutorado).
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Letras, Porto Alegre, 2005.
■ GUTMANN, Juliana Freire. Formas do telejornal: Linguagem televisiva, jornalismo e mediações culturais.
Salvador: EDUFBA, 2014.
■ JESPERS, Jean-Jacques. Jornalismo televisivo: princípios e métodos. Coimbra: Minerva, 1998.
■ MEDINA, Cremilda. A arte de tecer o presente – narrativa e cotidiano. São Paulo: Summus, 2003.
■ NARAYAN, D. Voices of the poor - Can anyone hear us? Washington, D.C.: The World Bank, Oxford
University Press, 2000.
■ ORLANDI, Eni Pulcinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 6. ed. Campinas, SP: Pontes,
2005.
■ PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso. Campinas: Pontes, 1995.
■ SOUZA, Jessé. A Ralé Brasileira: quem é e como vive. 3. ed. Colaboradores André Grilo et al. São Paulo:
Contracorrente, 2018.

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