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Rafael Pereira

Julgados envolvendo Lei de Falências

1. DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL E A SUA


FUNÇÃO SOCIAL - PRESERVAÇÃO DA PAR CONDITIO CREDITORUM, NAS
FALÊNCIAS, OU DO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA EMPRESA, NAS
RECUPERAÇÕES JUDICIAIS.

AgInt no CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 149.798 - PR (2016/0300059-4) AGRAVO


INTERNO NO CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BENS ESSENCIAIS À ATIVIDADE
EMPRESARIAL. PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
UNIVERSAL.
1. Apesar de o credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou
imóveis não se submeter aos efeitos da recuperação judicial, o juízo universal é
competente para avaliar se o bem é indispensável à atividade produtiva da recuperanda.
Nessas hipóteses, não se permite a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor
dos bens de capital essenciais à sua atividade empresarial (art. 49, §3º, da Lei
11.101/05). Precedentes. 2. Estabelecida a competência do juízo m que se processa a
recuperação judicial. 3. Agravo interno não provido
O grande diferencial entre a nova lei e o Decreto-Lei 7.661/45, que antes regulava a
falência e o velho instituto da concordata, é que o foco passou a ser a preservação da
empresa —ou seja, da produção de bens e serviços, dos empregos e dos interesses dos
credores. Centrada na função social da empresa, a Lei 11.101/05 trouxe para a cena a
figura da recuperação judicial, ampliando as possibilidades de saneamento
financeiro das sociedades em crise para evitar sua quebra.

Sobre a função social da empresa1:

Empresa é uma atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de


bens ou de serviços. Empresário é a pessoa, física (empresário individual) ou jurídica
(sociedade empresária ou EIRELI), que exerce profissionalmente uma empresa (art. 966
do CC). E estabelecimento empresarial é o conjunto organizado de bens, materiais ou
imateriais, usados no exercício de uma empresa (art. 1.142 do CC).

Assim, quando se fala em função social da empresa faz-se referência à atividade


empresarial em si, que decorre do uso dos chamados bens de produção pelos
empresários. Como a propriedade (ou o poder de controle[2]) desses bens está sujeita
ao cumprimento de uma função social, nos termos do art. 5º, inciso XXIII, da CF/88, o
exercício da empresa (atividade econômica organizada) também deve cumprir uma
função social específica, a qual, segundo Fábio Ulhoa Coelho, estará satisfeita quando
houver criação de empregos, pagamento de tributos, geração de riqueza, contribuição

1 http://genjuridico.com.br/2016/10/24/funcao-social-da-empresa/
para o desenvolvimento econômico, social e cultural do entorno, adoção de práticas
sustentáveis e respeito aos direitos dos consumidores[3].

Enfim, a empresa não deve, segundo os defensores desse princípio, apenas atender os
interesses individuais do empresário individual, do titular da EIRELI ou dos sócios da
sociedade empresária, mas também os interesses difusos e coletivos de todos aqueles
que são afetados pelo exercício dela (trabalhadores, contribuintes, vizinhos,
concorrentes, consumidores etc.).

Exemplo de regra legal que consagra o princípio da função social da empresa é o art.
116, parágrafo único, da Lei 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações): “o acionista
controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e
cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais
acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua,
cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender”.

O objetivo da preservação da empresa pode impedir, por exemplo, a busca e


apreensão de bens considerados necessários para as atividades produtivas. Ao julgar o
CC 149.798, a ministra Nancy Andrighi explicou que, apesar da inadimplência, a
constrição dos bens prejudicaria a eventual retomada das atividades da empresa.

“Apesar de o credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou


imóveis não se submeter aos efeitos da recuperação judicial, o juízo universal é
competente para avaliar se o bem é indispensável à atividade produtiva da recuperanda.
Nessas hipóteses, não se permite a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor
dos bens de capital essenciais à sua atividade empresarial.”

Em outro conflito, o CC 118.183, Nancy lembrou que o STJ enfrenta situações nas quais
é necessário definir qual juízo detém a competência para praticar atos de execução
incidentes sobre o patrimônio de empresas falidas ou em recuperação. Segundo a
magistrada, as decisões proferidas sempre têm como norte a necessidade de
preservação da par conditio creditorum, nas falências, ou do princípio da continuidade
da empresa, nas recuperações judiciais.

2. ATOS DE CONSTRIÇÃO PELA FAZENDA PÚBLICA QUE POSSAM AFETAR A


PRESERVAÇÃO DA EMPRESA EM RECUPERAÇÃO

TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL.


EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. MEDIDAS CONSTRITIVAS.
IMPOSSIBILIDADE. PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. PRECEDENTES.
1. A Primeira Turma desta Corte firmou a compreensão de que o bloqueio de
ativos financeiros de sociedade empresária em recuperação judicial por meio
do sistema BacenJud, não se mostra possível em respeito ao princípio da
preservação da empresa. Precedentes: AgInt no REsp 1.507.995⁄RS, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 7⁄8⁄2017; AgInt no REsp 1.607.090⁄PR, Rel.
Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 16⁄12⁄2016; AgRg no AREsp 549.795⁄RJ, Rel.
Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 24⁄4⁄2015.
2. Agravo interno não provido.AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.592.455 - RS
Veja que ao caso não cabe a Fazenda pública tomar medidas de constrição em
recuperação judicial, devendo aguardar a decisão do Comitê de Credores principal órgão
na recuperação judicial.

Para ajudar respondendo a outra pergunta, pode a fazenda pública pedir falência
de um empresário?

Não obstante exista controvérsia doutrinária sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça
tem diversos precedentes no sentido de que a Fazenda Pública não tem legitimidade,
nem interesse de agir, para pedir a falência de um devedor seu. Eis alguns acórdãos:

Processo civil. Pedido de falência formulado pela Fazenda Pública com base em crédito
fiscal. Ilegitimidade. Falta de interesse. Doutrina. Recurso desacolhido.

I – Sem embargo dos respeitáveis fundamentos em sentido contrário, a Segunda Seção


decidiu adotar o entendimento de que a Fazenda Pública não tem legitimidade, e nem
interesse de agir, para requerer a falência do devedor fiscal.

II – Na linha da legislação tributária e da doutrina especializada, a cobrança do tributo é


atividade vinculada, devendo o fisco utilizar-se do instrumento afetado pela lei à
satisfação do crédito tributário, a execução fiscal, que goza de especificidades e
privilégios, não lhe sendo facultado pleitear a falência do devedor com base em tais
créditos.

(STJ, REsp 164.389/MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 16.08.2004, p. 130).

Tributário e comercial. Crédito tributário. Protesto prévio. Desnecessidade. Presunção de


certeza e liquidez. Art. 204 do Código Tributário Nacional. Fazenda Pública. Ausência de
legitimação para requerer a falência do comerciante contribuinte. Meio próprio para
cobrança do crédito tributário. Lei de execuções fiscais. Impossibilidade de submissão do
crédito tributário ao regime de concurso universal próprio da falência. Arts. 186 e 187 do
CTN.

I – A Certidão de Dívida Ativa, a teor do que dispõe o art. 204 do CTN, goza de
presunção de certeza e liquidez que somente pode ser afastada mediante apresentação
de prova em contrário.

II – A presunção legal que reveste o título emitido unilateralmente pela Administração


Tributária serve tão somente para aparelhar o processo executivo fiscal, consoante
estatui o art. 38 da Lei 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais).

III – Dentro desse contexto, revela-se desnecessário o protesto prévio do título emitido
pela Fazenda Pública.

IV – Afigura-se impróprio o requerimento de falência do contribuinte comerciante pela


Fazenda Pública, na medida em que esta dispõe de instrumento específico para
cobrança do crédito tributário.

V – Ademais, revela-se ilógico o pedido de quebra, seguido de sua decretação, para logo
após informar-se ao Juízo que o crédito tributário não se submete ao concurso
falimentar, consoante dicção do art. 187 do CTN. VI – O pedido de falência não pode
servir de instrumento de coação moral para satisfação de crédito tributário. A referida
coação resta configurada na medida em que o art. 11, § 2.º, do Decreto-lei 7.661/45
permite o depósito elisivo da falência.

VII – Recurso especial improvido.

(STJ, REsp 287.824/MG, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ 20.02.2006, p. 205).

Em suma: entende o STJ que, uma vez que a Fazenda Pública dispõe de instrumento
específico para cobrança do crédito tributário, a Lei 6.380/1980 (Lei de Execuções
Fiscais), falta-lhe interesse de agir para o pedido de falência.

No mesmo sentido, foi aprovado o Enunciado 56 da I Jornada de Direito Comercial do


CJF: “a Fazenda Pública não possui legitimidade ou interesse de agir para requerer a
falência do devedor empresário2”.

3. FORO COMPETENTE NAS AÇÕES DE FALÊNCIA

Processo civil. Competência. Conflito positivo. Pedidos de falência e de concordata


preventiva. Principal estabelecimento. Centro da satividades. Competência absoluta.
Prevenção. Juízo incompetente. Sentença de declaração de falência prolatada por juízo
diverso daquele em que estava sendo processada a concordata. Pedido de falência
embasado em título quirografário anterior ao deferimento da concordata. Nulidade da
sentença. - O juízo competente para processar e julgar pedido de falência e,por
conseguinte, de concordata é o da comarca onde se encontra "o centro vital das
principais atividades do devedor", conforme o disposto no art. 7º da Lei de
Falências (Decreto-Lei n. 7.661/45) e o firme entendimento do Superior Tribunal de
Justiça a respeito do tema. - A competência do juízo falimentar é absoluta. - A
prevenção prevista no § 1º do art. 202 da Lei de Falências incide tão-somente na
hipótese em que é competente o juízo tido por prevento. - Constatado que a falência foi
declarada pelo juízo suscitado enquanto processada a concordata em outro juízo e,
ainda, que o título quirografário que embasou o pedido de falência era anterior ao
deferimento da concordata, impõe-se anular essa sentença que declarou a falência. -
Conflito conhecido, declarada a competência do Juízo de Direito da4ª Vara Cível de
Manaus – AM, anulados os atos decisórios praticados pelo Juízo de Direito da 39ª Vara
Cível do Foro Central de São Paulo – SP e a sentença de declaração de falência
proferida pelo Juízo de Direito da 4ª Vara Cível de Manaus – AM.

(STJ - CC: 37736 SP 2002/0155087-3, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de


Julgamento: 11/06/2003, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJ 16/08/2004 p.
130)
Vejam os ensinamentos do professor André Santa Cruz:

Segundo o art. 3º da Lei 11.101/2005 (Lei de Falência e Recuperação de Empresas), “é


competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação
judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou
da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil”.

O conceito de principal estabelecimento, todavia, não corresponde à noção geral que a


expressão suscita inicialmente. De fato, quando se fala em principal estabelecimento,
vem em nosso pensamento, de imediato, a ideia de sede estatutária/contratual ou matriz
administrativa da empresa. Trata-se, porém, de noção equivocada. Para o direito

2 http://genjuridico.com.br/2016/06/24/a-fazenda-publica-pode-pedir-a-falencia-de-um-empresario/
falimentar, a correta noção de principal estabelecimento está ligada ao aspecto
econômico: é o local onde o devedor concentra o maior volume de negócios, o qual,
frise-se, muitas vezes não coincide com o local da sede da empresa ou do seu centro
administrativo.

Em suma, o STJ já decidiu que a expressão principal estabelecimento pode significar


(embora os acórdãos sejam anteriores à LFRE, o entendimento continua atual): (i) o
centro vital das principais atividades do devedor; (ii) local onde o devedor mantém suas
atividades e seu principal estabelecimento; (iii) local onde a atividade se mantém
centralizada. Nesse sentido, confirase o Enunciado 465 do CJF: “Para fins do Direito
Falimentar, o local do principal estabelecimento é aquele de onde partem as decisões
empresariais, e não necessariamente a sede indicada no registro público”.

E há uma razão lógica para a regra do art. 3º da LFRE: é no local do principal


estabelecimento do devedor onde se encontram, provavelmente, a maioria dos seus
clientes e a maior parte do seu patrimônio, o que facilita sobremaneira a instauração do
concurso de credores e a arrecadação dos seus bens. Por isso, ademais, que a
competência em questão é de natureza absoluta.

4. VALOR MÍNIMO ART.94

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE FALÊNCIA AJUIZADA SOB A


ÉGIDE DO DECRETO-LEI 7.661/1945. IMPONTUALIDADE. DÉBITO DE VALOR
ÍNFIMO. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA.
1. O princípio da preservação da empresa cumpre preceito da norma maior, refletindo,
por conseguinte, a vontade do poder constituinte originário, de modo que refoge à noção
de razoabilidade a possibilidade de valores inexpressivos provocarem a quebra da
sociedade comercial, em detrimento da satisfação de dívida que não ostenta valor
compatível com a repercussão sócio-econômica da decretação da quebra.
2. A decretação da falência, ainda que o pedido tenha sido formulado sob a sistemática
do Decreto-Lei 7.661/45, deve observar o valor mínimo exigido pelo art. 94 da Lei
11.101/2005, privilegiando-se o princípio da preservação da empresa. Precedentes. 3.
Recurso especial não provido. RECURSO ESPECIAL Nº 1.023.172 - SP (2008/0012014-
0)
O valor mínimo é mais um fundamento calcado na preservação da empresa.

Uma das formas que a legislação encontrou para assegurar a preservação da empresa é
o estabelecimento de um valor mínimo para justificar os pedidos de falência. Segundo o
artigo 94 da Lei 11.101/05, a obrigação líquida mínima não cumprida apta a embasar o
pedido de falência é de 40 salários mínimos.

Ao julgar o REsp 1.023.172, em 2012, a 4ª Turma do STJ aplicou o dispositivo também


para um caso que começou a tramitar ainda sob a vigência do Decreto-Lei 7.661/45. O
pedido de falência foi feito com base em duplicatas que somavam pouco mais de R$ 6
mil, ou cerca de 34 salários mínimos em julho de 2001, época do pedido.

O relator do caso, ministro Luis Felipe Salomão, destacou que, embora a nova lei tenha
entrado em vigor em 2005, é possível, em certos casos, aplicar seus dispositivos para
privilegiar o princípio da preservação da empresa. Ele destacou que princípios
constitucionais também devem ser considerados, e não apenas o direito intertemporal:
“Com efeito, a Constituição da República consagra a proteção à preservação da
empresa por duas razões basilares: (i) é forma de conservação da propriedade privada;
(ii) é meio de preservação da sua função social, ou seja, do papel socioeconômico que
ela desempenha junto à sociedade em termos de fonte de riquezas e como ente
promovedor de empregos. Assim, o princípio da preservação da empresa cumpre a
norma maior, refletindo, por conseguinte, a vontade do poder constituinte originário.”

Salomão lembrou que, em alguns casos, a satisfação da dívida é irrelevante se


comparada à importância social e econômica da preservação da empresa.

“Tendo-se como orientação constitucional a preservação da empresa, refoge à noção de


razoabilidade a possibilidade de valores insignificantes provocarem a sua quebra, razão
pela qual a preservação da unidade produtiva deve prevalecer em detrimento da
satisfação de uma dívida que nem mesmo ostenta valor compatível com a repercussão
socioeconômica da decretação da falência”, disse o ministro.

Veja o art. 94 da Lei nº.11.101/00:

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida


materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o
equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;

II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à
penhora bens suficientes dentro do prazo legal;

III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação
judicial:

a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou


fraudulento para realizar pagamentos;

b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos
ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu
ativo a terceiro, credor ou não;

c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os


credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;

d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a


legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;

e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens
livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;

f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar
os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de
sua sede ou de seu principal estabelecimento;

g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação


judicial.
§ 1º Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mínimo para o
pedido de falência com base no inciso I do caput deste artigo.

§ 2º Ainda que líquidos, não legitimam o pedido de falência os créditos que nela não se
possam reclamar.

§ 3º Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído


com os títulos executivos na forma do parágrafo único do art. 9º desta Lei,
acompanhados, em qualquer caso, dos respectivos instrumentos de protesto para fim
falimentar nos termos da legislação específica.

§ 4º Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído


com certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução.

§ 5º Na hipótese do inciso III do caput deste artigo, o pedido de falência descreverá os


fatos que a caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se as que
serão produzidas.

Sobre o inciso I, vejam os comentários do Livro organizado por Luiz Eduardo:

O artigo 94 contém três hipóteses (rol taxativo, numerus clausus) que poderão dar
ensejo ao pedido de decretação de abertura da falência do devedor, por parte dos
legitimados (art. 97, incisos II a IV). Trata-se, pois, de um dos pressupostos do estado
falimentar. As hipóteses são as seguintes: impontualidade injustificada (inc. I); execução
frustrada (inc. II) e prática de atos considerados fraudulentos (inc. III).

O inc. I trata da impontualidade injustificada, ou seja, sem relevante razão de direito, a


dívida, materializada em título ou títulos executivos, devidamente protestados, e cuja
soma ultrapasse a 40 (quarenta) salários mínimos na data do pedido, não é paga no
vencimento.

Pode haver litisconsórcio facultativo simples (art. 94, §1º), de acordo com o art. 113 do
novo Código de Processo Civil. No que diz respeito à exigência de protesto especial81
para fins falimentares (art. 94, §3º), houve retrocesso, na medida em que o Superior
Tribunal de Justiça, ao tempo do Dec.-Lei 7.661/45, já havia mitigado tal exigência.

No que se refere à prova como relevante razão de direito para não cumprimento da
obrigação, as hipóteses não exaustivas constam do art. 96. O inc. V abre oportunidade
para outras razões (coisa julgada/litispendêcia, falsidade de título, prescrição,
requerimento anterior de recuperação judicial etc.). Caso o devedor logre êxito em fazer
prova de que inexiste liquidez e certeza quanto ao título executivo objeto da ação, a
falência não será decretada.

O sistema, na hipótese do art. 94, inc. I, adota a impontualidade como fato


caracterizador do estado de insolvência, que, reconhecida pelo juiz, resulta na abertura
da falência. Para fins de retirada do devedor do mercado, de forma compulsória,
interessa o não pagamento de dívida líquida, certa e exigível no vencimento; bem como
o não pagamento desmotivado. A insolvência é o sinal ostensivo de que o devedor não
pode permanecer no mercado. É a insuficiência de patrimônio para fazer frente às
dividas. É um estado de fato.3
O inc. II trata da denominada “falência presumida”, que ocorre quando, executado por
qualquer quantia líquida, o devedor não paga, não deposita o valor em juízo e não
nomeia, dentro do prazo legal, bens suficientes à penhora. Tais omissões são passíveis
de ação judicial. Com efeito, caberá ao credor solicitar certidão de inteiro teor, constando
o valor da execução, e ainda, que não existiu nenhuma das hipóteses aventadas no
inciso em comento (art. 94, §4º), sendo desnecessário qualquer protesto. Basta tal
documento para requerer a abertura da falência do devedor, sendo de menor
importância o valor da execução, que deverá ser suspensa.

5. Para decretação da falência, é imperioso que todos os títulos executivos não


pagos sejam protestados

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE FALÊNCIA.


PROTESTO DE TÍTULOS. VALOR MÍNIMO DE 40 SALÁRIOS MÍNIMOS. 1. Para
decretação da falência, é imperioso que todos os títulos executivos não pagos
sejam protestados ou, pelo menos, caso o protesto se refira a apenas alguns
desse títulos, que perfaçam o valor de 40 (quarenta) salários mínimos, conforme
expressa disposição legal. 2. No caso em exame, o protesto realizado pelo ora
agravante foi de apenas um dos títulos executivos, sem que fosse alcançado o valor
estipulado em lei. 3. Agravo regimental não provido.

O valor de 40 salários mínimos pode ser alcançado por título individual ou pela soma dos
títulos. Ao analisar um caso em que se questionou a execução parcial da dívida, os
ministros destacaram esse entendimento, já que o montante efetivamente executado era
inferior a 40 salários.

O colegiado destacou a importância de a dívida ser comprovada com o efetivo protesto


dos títulos. Mesmo nos casos em que a dívida é superior ao limite mínimo exigido pela
lei, é preciso que os protestos tenham efetivamente sido realizados, sob pena de
inviabilizar o pedido de falência.

No REsp 1.124.763, o valor da dívida alegada nos autos era de R$ 25 mil (mais de 70
salários na época), mas nem todos os cheques emitidos foram protestados. O ministro
relator do caso, Villas Bôas Cueva, resumiu o entendimento da corte.

“Para que a falência seja decretada, é imperioso que todos os títulos executivos não
pagos sejam protestados ou, pelo menos, caso o protesto seja de apenas alguns desses
títulos, que perfaçam o valor de 40 salários mínimos, conforme expressa disposição
legal. No caso em exame, o protesto realizado pelo ora recorrente foi de apenas um dos
títulos executivos, sem que fosse alcançado o valor estipulado em lei.”

6. JUÍZO UNIVERSAL DA FALÊNCIA

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL E FALÊNCIA DO


EXECUTADO. LEILÃO. ARREMATAÇÃO. VALORES REPASSADOS AO JUÍZO
UNIVERSAL DA FALÊNCIA PARA APURAÇÃO DAS PREFERÊNCIAS. 1. O produto
3 Comentários à Lei 11.101/05: recuperação empresarial e falência / Organizado por Luiz Eduardo Vacção da Silva
Carvalho. – Curitiba : OABPR, 2017. (Coleção Comissões; v.25).
arrecadado com a alienação de bem penhorado em Execução Fiscal, antes da
decretação da quebra, deve ser entregue ao juízo universal da falência.
Precedentes: REsp 188.418/RS, Rel. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS, CORTE
ESPECIAL, DJ de 27/05/2002; gRg no Ag 1115891/SP, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, DJe 28/09/2009; AgRg no REsp 783318/SP, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, DJe 14/04/2009; AgRg nos EDcl no REsp 421994/RS, Rel. Min.
TEORI ALBINO ZAVASCKI, Primeira Turma, DJ 06.10.2003; AgRg na MC 11937/SP, Rel.
Ministro FRANCISCO FALCÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,
DJ 30/10/2006 2. A falência superveniente do devedor não tem o condão de paralisar o
processo de execução fiscal, nem de desconstituir a penhora realizada anteriormente à
quebra. Outrossim, o produto da alienação judicial dos bens penhorados deve ser
repassado ao juízo universal da falência para apuração das preferências. 3. Dessarte,
não há que se discutir, em sede do juízo de execução, qual a preferência para o
levantamento dos valores do bem arrematado. 4. Os embargos de declaração que
enfrentam explicitamente a questão embargada não ensejam recurso especial pela
violação do artigo 535, II, do CPC. 5. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater,
um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados
tenham sido suficientes para embasar a decisão. 6. Agravo regimental desprovido
No contexto de falência ou recuperação judicial, o juízo universal é sempre o
responsável pelo produto da arrematação ou alienação judicial de bens da empresa
recuperanda.

As execuções fiscais em curso quando do pedido de recuperação não são suspensas,


mas o produto desses processos deve ser encaminhado ao juízo universal para a correta
destinação dos valores. Ao analisar um conflito de competência, a 2ª Seção decidiu que
cabia ao juízo universal decidir acerca do produto de um leilão de imóvel realizado em
execução fiscal na Justiça Federal.

O entendimento do STJ privilegia o juízo universal por este ter amplo conhecimento
sobre as limitações e necessidades da empresa recuperanda.

“As ações de natureza fiscal não se suspendem em razão do deferimento de


recuperação judicial, conforme o artigo 6º, parágrafo 7º, da Lei 11.101/05. Deve-se
ressalvar que o valor obtido com a eventual alienação de bens perante o juízo
federal deve ser remetido ao juízo estadual, entrando no plano de recuperação da
empresa”, afirmou o ministro Sidnei Beneti, relator do CC 117.184.

No caso da empresa recuperanda sofrer falência, tal fato não altera a situação. Ao
analisar o REsp 914.712, o ministro Luiz Fux lembrou que não há que se discutir, em
sede de execução, qual a preferência para o levantamento dos valores do bem
arrematado.

“A falência superveniente do devedor não tem o condão de paralisar o processo de


execução fiscal, nem de desconstituir a penhora realizada anteriormente à quebra.
Outrossim, o produto da alienação judicial dos bens penhorados deve ser
repassado ao juízo universal da falência para apuração das preferências.

Sobre esse aspecto, lembrem do art. 6º:


Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação
judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do
devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
§ 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar
quantia ilíquida.

§ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou


modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza
trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão
processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que
será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.

§ 3º O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1º e 2º deste artigo poderá


determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na
falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe
própria.

§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese


nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do
deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do
prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções,
independentemente de pronunciamento judicial.

§ 5º Aplica-se o disposto no § 2º deste artigo à recuperação judicial durante o período de


suspensão de que trata o § 4º deste artigo, mas, após o fim da suspensão, as execuções
trabalhistas poderão ser normalmente concluídas, ainda que o crédito já esteja inscrito
no quadro-geral de credores.

§ 6º Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as


ações que venham a ser propostas contra o devedor deverão ser comunicadas ao juízo
da falência ou da recuperação judicial:

I – pelo juiz competente, quando do recebimento da petição inicial;

II – pelo devedor, imediatamente após a citação.

§ 7º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da


recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do
Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica.

§ 8º A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a jurisdição


para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo
devedor.

7.A impugnação de crédito apresentada fora do prazo de 10 dias previsto no caput


do art. 8º da Lei 11.101/05 pode ter seu mérito apreciado pelo juízo, desde que
arrolado desde ação de recuperação judicial.

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. IMPUGNAÇÃO DE CRÉDITO.


INTEMPESTIVIDADE. DECURSO DO PRAZO DO ART. 8º, CAPUT, DA LEI 11. 101/05.
1. Recuperação judicial requerida em 5/2/2010. Recurso especial interposto em
20/6/2016 e concluso ao Gabinete do Relator em 7/7/2017. 2. O propósito recursal é
definir se, no curso do processo de recuperação judicial, a impugnação de crédito
apresentada fora do prazo de 10 dias previsto no caput do art. 8º da Lei 11.101/05
pode ter seu mérito apreciado pelo juízo. 3. A norma do artigo retro citado contém
regra de aplicação cogente, que revela, sem margem para dúvida acerca de seu
alcance, a opção legislativa a incidir na hipótese concreta. Trata-se de prazo peremptório
específico, estipulado expressamente pela lei de regência. 4. Eventual superação de
regra legal deve ser feita de forma excepcional, observadas determinadas condições
específicas, tais como elevado grau de imprevisibilidade, ineficiência ou desigualdade,
circunstâncias não verificadas na espécie. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
(STJ - REsp: 1704201 RS 2017/0102829-4, Relator: Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, Data de Julgamento: 07/05/2019, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 24/05/2019)

O art. 8º assim prevê:

Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7º , §


2º , desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério
Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a
ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou
classificação de crédito relacionado.

Parágrafo único. Autuada em separado, a impugnação será processada nos termos dos
arts. 13 a 15 desta Lei.

Portanto, trata-se da impugnação da relação dos credores apontados pelo administrador


judicial, que estipula prazo de 10 dias de maneira peremptória. Contudo, o STJ firmou o
entendimento da possibilidade pela impugnação fora desse prazo, desde que o
crédito(credor) já estivesse mencionado no pedido de recuperação judicial.

8. PRAZO STAY PERIOD

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. DISCUSSÃO QUANTO À FORMA


DE CONTAGEM DO PRAZO PREVISTO NO ART. 6º, § 4º, DA LEI N. 11.101/2005 (STAY
PERIOD), SE CONTÍNUA OU SE EM DIAS ÚTEIS, EM RAZÃO DO ADVENTO DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI ADJETIVA
CIVIL À LRF APENAS NAQUILO QUE FOR COMPATÍVEL COM AS SUA
PARTICULARIDADES, NO CASO, COM A SUA UNIDADE LÓGICO-TEMPORAL.
PRAZO MATERIAL. RECONHECIMENTO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. A partir da vigência do Código de Processo Civil de 2015, que inovou a forma de
contagem dos prazos processuais em dias úteis, adveio intenso debate no âmbito
acadêmico e doutrinário, seguido da prolação de decisões díspares nas instâncias
ordinárias, quanto à forma de contagem dos prazos previstos na Lei de Recuperações e
Falência — destacadamente acerca do lapso de 180 (cento e oitenta) dias de suspensão
das ações executivas e de cobrança contra a recuperanda, previsto no art. 6º, § 4º, da
Lei n. 11.101/2005. 2. Dos regramentos legais (arts. 219 CPC/2015, c.c 1.046, § 2º, e
189 da Lei n. 11.101/2005), ressai claro que o Código de Processo Civil, notadamente
quanto à forma de contagem em dias úteis, somente se aplicará aos prazos previstos na
Lei n. 11.101/2005 que se revistam da qualidade de processual.
2.1 Sem olvidar a dificuldade, de ordem prática, de se identificar a natureza de
determinadoprazo, se material ou processual, cuja determinação não se despoja, ao
menos integralmente, de algum grau de subjetivismo, este é o critério legal imposto ao
intérprete do qual ele não se pode apartar.
2.2 A aplicação do CPC/2015, no que se insere a forma de contagem em dias úteis dos
prazos processuais previstos em leis especiais, somente se afigura possível "no que
couber"; naquilo que não refugir de suas particularidades inerentes. Em outras palavras,
a aplicação subsidiária do CPC/2015, quanto à forma de contagem em dias úteis do
prazos processuais previstos na Lei n. 11.101/2005, apenas se mostra admissível se não
contrariar a lógica temporal estabelecida na lei especial em comento.
2.3 Em resumo, constituem requisitos necessários à aplicação subsidiária do CPC/2015,
no que tange à forma de contagem em dias úteis nos prazos estabelecidos na LRF,
simultaneamente: primeiro, se tratar de prazo processual; e segundo, não contrariar a
lógica temporal estabelecida na Lei n. 11.101/2005. 3. A Lei n. 11.101/2005, ao erigir o
microssistema recuperacional e falimentar, estabeleceu, a
par dos institutos e das finalidades que lhe são próprios, o modo e o ritmo pelo qual se
desenvolvem os atos destinados à liquidação dos ativos do devedor, no caso da falência,
e ao soerguimento econômico da empresa em crise financeira, na recuperação.
4. O sistema de prazos adotado pelo legislador especial guarda, em si, uma lógica
temporal a qual se encontram submetidos todos os atos a serem praticados e
desenvolvidos no bojo do processo recuperacional ou falimentar, bem como os efeitos
que deles dimanam — que, não raras às vezes, repercutem inclusive fora do processo e
na esfera jurídica de quem sequer é parte.
4.1 Essa lógica adotada pelo legislador especial pode ser claramente percebida na
fixação do prazo sob comento — o stay period, previsto no art. 6º, § 4º da Lei n.
11.101/2005 —, em relação a qual gravitam praticamente todos os demais atos
subsequentes a serem realizados na recuperação judicial, assumindo, pois, papel
estruturante, indiscutivelmente. Revela, de modo inequívoco, a necessidade de se impor
celeridade e efetividade ao processo derecuperação judicial, notadamente pelo cenário
de incertezas quanto à solvibilidade e à recuperabilidade da empresa devedora e pelo
sacrifício imposto aos credores, com o propósito de minorar prejuízos já concretizados.
5. Nesse período de blindagem legal, devedor e credores realizam, no âmbito do
processo recuperacional, uma série de atos voltados à consecução da assembleia geral
de credores, a fim de propiciar a votação e aprovação do plano de recuperação
apresentado pelo devedor, com posterior homologação judicial. Esses atos, em
específico, ainda que desenvolvidos no bojo do processo recuperacional, referem-se
diretamente à relação material de liquidação, constituindo verdadeiro exercício de
direitos (atrelados à relação creditícia subjacente), destinado a equacionar os interesses
contrapostos decorrente do inadimplemento das obrigações estabelecidas,
individualmente, entre a devedora e cada um de seus credores. 5.1 Ainda que a
presente controvérsia se restrinja ao stay period, por se tratar de prazo estrutural
ao processo recuperacional, de suma relevância consignar que os prazos
diretamente a ele adstritos devem seguir a mesma forma de contagem, seja porque
ostentam a natureza material, seja porque se afigura impositivo alinhar o curso do
processo recuperacional, que se almeja ser célere e efetivo, com o período de
blindagem legal, segundo a lógica temporal impressa na Lei n. 11.101/2005. 5.2
Tem-se, assim, que os correlatos prazos possuem, em verdade, natureza material,
o que se revela suficiente, por si, para afastar a incidência do CPC/2015, no tocante
à forma de contagem em dias úteis. 6. Não se pode conceber, assim, que o prazo
do stay period, previsto no art. no art. 6º, § 4º da Lei n. 11.101/2005, seja alterado,
por interpretação extensiva, em virtude da
superveniência de lei geral adjetiva civil, no caso, o CPC/2015, que passou a contar
os prazos processuais em dias úteis, primeiro porque a modificação legislativa
passa completamente ao largo da necessidade de se observar a unidade lógico-
temporal estabelecida na lei especial; e, segundo (e não menos importante),
porque de prazo processual não se trata — com a vênia de autorizadas vozes que
compreendem de modo diverso. 7. Recurso especial provido.
Stay period já explicado no vídeo, mas não deixem de ler o julgado!

O prazo de 180 dias de suspensão das execuções contra a empresa em recuperação


judicial – o chamado stay period –, previsto no parágrafo 4º do artigo 6º da Lei
11.101/2005, deve ser contado em dias corridos, mesmo após as novas regras do
Código de Processo Civil de 2015.

Com esse entendimento, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu
provimento ao recurso de um banco credor para determinar que o prazo usufruído pela
empresa em recuperação seja de 180 dias corridos, reservada ao juízo competente a
possibilidade de prorrogação, se necessária.

A decisão unifica a posição do STJ sobre o tema, pois a Quarta Turma já havia se
manifestado no mesmo sentido.

Na origem, o juízo de direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Aparecida de Goiânia (GO)


deferiu o pedido de recuperação judicial de uma empresa de fertilizantes e ordenou a
suspensão de todas as execuções contra ela por 180 dias “úteis”.

Natureza material

Ao negar o recurso do banco contra a decisão, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO)


afirmou que o CPC/2015 modificou o cômputo dos prazos processuais para dias úteis e,
portanto, a mesma lógica deveria ser aplicada à suspensão de execuções prevista na Lei
de Falência e Recuperação de Empresas.

Para o ministro Marco Aurélio Bellizze, relator do recurso do banco no STJ, a contagem
do prazo em dias corridos deve se dar pela natureza material do direito, e não pela
incompatibilidade do CPC/2015 com o regime estabelecido na Lei de Falência.

A forma de contagem em dias úteis estabelecida pelo CPC/2015, segundo o relator,


somente tem aplicação a determinado prazo previsto na Lei 11.101/2005 se este se
revestir de natureza processual e desde que a norma se compatibilize com a lógica
temporal adotada pelo legislador na Lei de Falência.

Prazos correlatos

O ministro ressaltou que o prazo de 180 dias é um benefício legal conferido à


recuperanda “absolutamente indispensável” para que ela possa regularizar e reorganizar
as suas contas com vistas à reestruturação.

“Dessa forma, tem-se que o stay period reveste-se de natureza material, nada se
referindo à prática de atos processuais ou à atividade jurisdicional em si, devendo sua
contagem dar-se, pois, em dias corridos”, declarou o relator.
Bellizze destacou que os prazos diretamente relacionados ao stay period deverão se
conformar com o modo de contagem contínuo, a fim de se alinhar à lógica temporal do
processo de recuperação imposta pelo legislador especial.

De acordo com o ministro, foi a primeira vez que essa questão chegou à Terceira Turma
do STJ. Ele mencionou que, recentemente, a Quarta Turma analisou o tema e também
decidiu pela contagem do prazo em dias corridos, por ocasião do julgamento do REsp
1.699.528.

9. CRAM DOW! “GOELA ABAIXO”

RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO.


APROVAÇÃO JUDICIAL. CRAM DOWN. REQUISITOS DO ART. 58, § 1º, DA LEI
11.101/2005. EXCEPCIONAL MITIGAÇÃO. POSSIBILIDADE. PRESERVAÇÃO DA
EMPRESA. 1. A Lei nº 11.101/2005, com o intuito de evitar o "abuso da minoria" ou de
"posições individualistas" sobre o interesse da sociedade na superação do regime de
crise empresarial, previu, no § 1º do artigo 58, mecanismo que autoriza ao magistrado a
concessão da recuperação judicial, mesmo que contra decisão assemblear. 2. A
aprovação do plano pelo juízo não pode estabelecer tratamento diferenciado entre os
credores da classe que o rejeitou, devendo manter tratamento uniforme nesta relação
horizontal, conforme exigência expressa do § 2º do art. 58. 3. O microssistema
recuperacional concebe a imposição da aprovação judicial do plano de recuperação,
desde que presentes, de forma cumulativa, os requisitos da norma, sendo que, em
relação ao inciso III, por se tratar da classe com garantia real, exige a lei dupla contagem
para o atingimento do quórum de 1/3 - por crédito e por cabeça -, na dicção do art. 41 c/c
45 da LREF. 4. No caso, foram preenchidos os requisitos dos incisos I e II do art. 58 e,
no tocante ao inciso III, o plano obteve aprovação qualitativa em relação aos credores
com garantia real, haja vista que recepcionado por mais da metade dos valores dos
créditos pertencentes aos credores presentes, pois "presentes 3 credores dessa classe o
plano foi recepcionado por um deles, cujo crédito perfez a quantia de R$ 3.324.312,50,
representando 97,46376% do total dos créditos da classe, considerando os credores
presentes" (fl. 130). Contudo, não alcançou a maioria quantitativa, já que recebeu a
aprovação por cabeça de apenas um credor, apesar de quase ter atingido o quórum
qualificado (obteve voto de 1/3 dos presentes, sendo que a lei exige"mais"de 1/3).
Ademais, a recuperação judicial foi aprovada em 15/05/2009, estando o processo em
pleno andamento. 5. Assim, visando evitar eventual abuso do direito de voto,
justamente no momento de superação de crise, é que deve agir o magistrado com
sensibilidade na verificação dos requisitos do cram down, preferindo um exame
pautado pelo princípio da preservação da empresa, optando, muitas vezes, pela
sua flexibilização, especialmente quando somente um credor domina a deliberação
de forma absoluta, sobrepondo-se àquilo que parece ser o interesse da comunhão
de credores. 6. Recurso especial não provido.

(STJ - REsp: 1337989 SP 2011/0269578-5, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,


Data de Julgamento: 08/05/2018, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
04/06/2018)
Você já ouviu falar do Cram dow?
O cram down expressão de origem norte-americana, que faculta ao juiz aprovar o plano
de recuperação judicial antes rejeitado por uma classe de credores, ou seja, o juiz
poderá conceder a recuperação judicial, mesmo que o plano tenha sido rejeitado em
assembleia desde que preenchidos determinados requisitos impostos pela Lei.
Em termos, significa que o juiz pode por goela abaixo dos credores o plano de credores,
mesmo que os credores não queiram.
Isso está previsto no art. 58,§1º da LRF.
Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do
devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei
ou tenha sido aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45 desta Lei.

§ 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não
obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia,
tenha obtido, de forma cumulativa:

I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os


créditos presentes à assembléia, independentemente de classes;

II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou,
caso haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos
1 (uma) delas;

III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos
credores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei.

§ 2º A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1º deste artigo
se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe que o
houver rejeitado.

Portanto, conforme entendimento do STJ é válido o CRAM DOW desde que


fundamentado nas hipóteses previstas no §1º do Art. 58.

Mas não só isso conforme REsp 1.337.989Juiz pode aprovar recuperação mediante
cram down mesmo sem todos requisitos legais.

O entendimento foi fixado pela 4ª turma do STJ ao manter acórdão do TJ/SP que
confirmou a aprovação de plano de recuperação judicial mesmo após ele ter sido
rejeitado por uma das três classes de credores.

Relator, o ministro Luis Felipe Salomão destacou que a lei 11.101/05 abarcou o princípio
da preservação da atividade empresarial. Segundo ele, a legislação serve como
parâmetro de condução da operacionalidade da recuperação judicial, que tem o objetivo
de sanear o colapso econômico-financeiro e patrimonial da unidade produtiva
economicamente viável, evitando-se a configuração de grau de insolvência irreversível.

“Nessa ordem de ideias, a hermenêutica conferida à lei 11.101/05, no tocante à


recuperação judicial, deve sempre se manter fiel aos propósitos do diploma, isto é,
nenhuma interpretação pode ser aceita se dela resultar circunstância que, além de
não fomentar, na verdade, inviabilize a superação da crise empresarial."

Em relação ao mecanismo de cram down previsto pela lei, Salomão ressaltou que o
intuito foi evitar o chamado “abuso da minoria” sobre o interesse da sociedade na
superação do regime de crise empresarial, permitindo ao juízo a concessão da
recuperação mesmo contra a deliberação da assembleia.
Com base nesses princípios de proteção à empresa, o relator lembrou que o TJ/SP,
embora tenha reconhecido que não houve a aprovação quantitativa dos credores com
garantia, manteve a aprovação do plano de recuperação com base na aprovação pelo
credor que representava quase 100% do total de créditos na classe. Além disso, apontou
Salomão, a aprovação não estabeleceu tratamento diferenciado entre os credores da
classe que o rejeitou, bem como considerou manifestação positiva de boa parte dos
credores.

“Assim, numa interpretação teleológica e finalista da norma, no intuito de salvar a


empresa, manter os empregos e garantir os créditos, penso que a aprovação do plano foi
realmente a melhor medida”, concluiu o ministro ao negar o recurso da instituição
financeira.

10. CRÉDITO ANTERIOR A LEI 11.101 EM MOEDA ESTRANGEIRA MIGRADA PARA


NOVA LEI, DEVE SER CONVERTIDA PARA O CÂMBIO DO DIA QUE OCORREU A
CONCORDATA PREVENTIVA.

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. DIREITO INTERTEMPORAL.


HABILITAÇÃO DE CRÉDITO. MOEDA ESTRANGEIRA. PROCESSAMENTO DE
CONCORDATA PREVENTIVA ANTERIOR, COM SUBSEQUENTE MIGRAÇÃO PARA A
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. REQUERIMENTO DE CONSERVAÇÃO DA VARIAÇÃO
CAMBIAL COMO PARÂMETRO DE PAGAMENTO DO CRÉDITO, NOS TERMOS DO
ART. 50, § 2º, DA LEI Nº 11.101/2005. IMPOSSIBILIDADE. CRÉDITO QUE JÁ SE
ENCONTRAVA SOB OS EFEITOS DO DECRETO-LEI Nº 7.661/45, DEVENDO A
CONVERSÃO OCORRER PELO CÂMBIO DO DIA EM QUE MANDOU PROCESSAR A
CONCORDATA (ART. 213). 1. Os processos de falência e concordata ajuizados antes da
vigência da Lei n. 11.101/2005 serão regidos pela lei falimentar anterior, nos termos do
art. 192, caput, sendo as exceções definidas nos respectivos parágrafos do dispositivo. 2.
No tocante à habilitação dos créditos em moeda estrangeira e ao momento de sua
conversão, estabelecia o art. 213 da antiga lei de falências que "os créditos em moeda
estrangeira serão convertidos em moeda do país, pelo câmbio do dia em que for
declarada a falência ou mandada processar a concordata preventiva, e só pelo valor
assim estabelecido serão considerados para todos os efeitos desta lei". O § 2º do art. 50
da Lei nº 11.101/2005, por outro lado, determina que, "nos créditos em moeda
estrangeira, a variação cambial será conservada como parâmetro de indexação da
correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo
crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação judicial". 3. No
caso, houve a migração da concordata preventiva para a recuperação judicial, situação
em que, nos termos do art. 192, § 3º, da Lei nº 11.101/2005, o processo de concordata
será extinto e os créditos submetidos à concordata serão incluídos na recuperação
judicial no seu valor original, deduzidas as parcelas pagas pelo concordatário.
4. Assim, o valor original do crédito a ser inscrito na recuperação judicial deve ser,
nos termos da própria redação do dispositivo (art. 192, § 3º), como o montante
primitivo e de acordo com a legislação de regência à época, o que, por óbvio, inclui
o momento de sua conversão em moeda nacional. O crédito habilitado (ou que
deveria ter sido) na data do processamento da concordata deve ser o mesmo
adotado para fins de inclusão na recuperação judicial, notadamente porque o seu
valor terá influência direta em relação a sua participação e direito de voto nas
assembleias de credores (LRF, art.38).
5. Na hipótese, verifica-se que o próprio recorrente afirma, em diversas passagens, que
houve habilitação na concordata preventiva. Portanto, como já havia concordata
processada regendo o crédito da empresa, ainda que tenha havido sua migração para a
recuperação judicial, não há como afastar o normativo de regência da época – art. 13 do
Dec-Lei nº 7.661/65 –, devendo a conversão do seu crédito em moeda estrangeira
para moeda do país ocorrer pelo câmbio do dia em que processada a concordata
preventiva, nos termos dos §§ 2º e 3º da LRF.

11. Suspensão de protestos tirados em face de coobrigados em recuperação


judicia e validade de cláusula que fixa taxa de correção de 1% ao ano

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE EMPRESA. PLANO DE RECUPERAÇÃO


JUDICIAL HOMOLOGADO. SUSPENSÃO DOS PROTESTOS TIRADOS EM FACE DA
RECUPERANDA. CABIMENTO. CONSEQUÊNCIA DIRETA DA NOVAÇÃO SOB
CONDIÇÃO RESOLUTIVA. CANCELAMENTO DOS PROTESTOS EM FACE DOS
COOBRIGADOS. DESCABIMENTO. RAZÕES DE DECIDIR DO TEMA 885/STJ.
PARCELAMENTO DOS CRÉDITOS EM 14 ANOS. CORREÇÃO MONETÁRIA PELA TR
MAIS JUROS DE 1% AO ANO. CONTEÚDO ECONÔMICO DO PLANO DE
RECUPERAÇÃO. REVISÃO JUDICIAL. DESCABIMENTO. INAPLICABILIDADE DA
SÚMULA 8/STJ À RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 1. Controvérsia acerca da validade de
um plano de recuperação judicial, na parte em que prevista a suspensão dos protestos e
a atualização dos créditos por meio de TR + 1% ao ano, com prazo de pagamento de 14
anos. 2. Nos termos da tese firmada no julgamento do Tema 885/STJ: “A recuperação
judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz
suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou
coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes
aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se
refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei n.
11.101/2005”.
3. Descabimento da suspensão dos protestos tirados em face dos coobrigados
pelos créditos da empresa recuperanda. Aplicação das razões de decidir do
precedente qualificado que deu origem ao supramencionado Tema 885/STJ. 4.
“Não compete ao juiz deixar de conceder a recuperação judicial ou de homologar a
extrajudicial com fundamento na análise econômico-financeira do plano de
recuperação aprovado pelos credores” (Enunciado nº 46 da I Jornada de Direito
Comercial do CJF). Julgados desta Corte Superior nesse sentido. 5. Descabimento
da revisão judicial da taxa de juros e do índice de correção monetária aprovados pelos
credores, em respeito à soberania da assembleia geral. 6. Inaplicabilidade ao caso do
entendimento desta Corte Superior acerca do descabimento da utilização da TR
como índice de correção monetária de benefícios de previdência privada, tendo
em vista a diferença entre a natureza jurídica de o contrato de previdência privada
e a de um plano de recuperação judicial. 7. Inaplicabilidade do entendimento
consolidado na Súmula 8/STJ ("aplica-se a correção monetária aos créditos habilitados
em concordata preventiva...") à recuperação judicial, em face da natureza jurídica
absolutamente distinta da concordata (favor legal) em relação ao plano de recuperação
judicial (negócio jurídico plurilateral). Doutrina sobre o tema. 8. RECURSO ESPECIAL
PARCIALMENTE PROVIDO REsp 1630932 (2016/0264257-9 de 01/07/2019)
A 3ª turma do STJ, por maioria de votos, assentou o descabimento da suspensão de
protestos tirados em face de coobrigados pelos créditos de empresa recuperanda.
O colegiado aplicou precedente que deu origem ao tema 885 da Corte, segundo o qual
“a recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das
execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros
devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória,
pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a
novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da
Lei n. 11.101/2005”.

O relator, ministro Paulo de Tarso Sanseverino, ao verificar a redação da cláusula


controversa, assentou que o plano de recuperação judicial previu, de forma genérica, a
"suspensão da publicidade dos protestos efetuados", sem fazer distinção entre os
protestos tirados contra a empresa devedor e aqueles tirados contra os coobrigados.

O Itaú, recorrido no recurso especial, sustentou a ilegalidade da suspensão do protesto


contra os coobrigados. O Tribunal de origem manifestou-se no sentido de que a novação
especial não alcançaria os coobrigados.

Acontece que, conforme explicou Sanseverino, na parte dispositiva, o Tribunal a quo,


apesar de ressalvar que a novação não altera as garantias, anulou por completo a
cláusula que versa acerca do tema, restabelecendo assim tanto os protestos contra a
recuperanda, quanto os protestos contra os coobrigados.

Para o relator, se a recuperanda pretendeu restabelecer "na íntegra" o plano de


recuperação, “é certo que está incluída nessa pretensão o restabelecimento da validade
da Cláusula 12ª”.

“Essa cláusula, porém, devido à generalidade de sua redação, abrange, como já dito,
tanto os protestos tirados contra a recuperanda quanto aqueles tirados contra os
coobrigados.”

O ministro Paulo de Tarso Sanseverino afirmou no voto que quanto aos protestos tirados
contra a recuperanda, o provimento do Tribunal de origem está em dissonância com a
jurisprudência do STJ, no sentido de que, uma vez efetivada a novação dos créditos
prevista no art. 59 da lei 11.101/05, não há falar em inadimplemento por parte da
empresa recuperanda, sendo cabível, portanto, o cancelamento dos protestos tirados em
face desta, sob a condição resolutiva do cumprimento do plano de recuperação.

Assim, votou por prover o recurso nessa parte, para serem suspensos os protestos
tirados contra a empresa recuperanda, mantendo-se ativos os protestos contra os
coobrigados.

“Isso equivale a dizer que a Cláusula 12ª do plano de recuperação, dispondo sobre a
suspensão dos protestos (sem especificar quais), deve ser restabelecida, mas com
abrangência limitada aos protestos tirados contra a empresa recuperanda.”

Ficaram vencidos neste ponto os ministros Nancy e Cueva. Ministros Bellizze e Moura
seguiram o relator.

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