Você está na página 1de 16

 

Incorporando Sustentabilidade na Análise de Crédito


Autoria: Luiz Carlos Jacob Perera, Aída Maria Mendes Milani, Marco Antonio Figueiredo Milani Filho,
Roberto Borges Kerr

Resumo

Considerando-se os esforços mundiais na busca de atitudes racionais que objetivem


harmonizar a conservação do planeta, o bem-estar social e os resultados econômicos, este
trabalho pretendeu analisar o efeito da inclusão de variáveis sociais e ambientais na análise de
crédito. A metodologia foi quantitativa e utilizou Equações Estruturais e Análise
Discriminante Múltipla. Entre as principais contribuições do trabalho está o desenvolvimento
de metodologia original para o cálculo das variáveis ambientais, as quais ao serem incluídas
no modelo aumentaram significativamente seu poder discriminatório. A principal dificuldade
encontrada foi a falta de padronização dos elementos formadores das variáveis sociais e
ambientais.


 
 

INTRODUÇÃO

A interdependência entre as espécies e entre as gerações coloca em evidência e dá suporte ao


conceito de desenvolvimento sustentável, tal como foi expresso pelo Relatório Brundtland, no
documento intitulado Nosso Futuro Comum, publicado em 1987 pela Organização das
Nações Unidas (ONU): “Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as
necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas
próprias necessidades”.

Laville (2009, p. 66) lembrou que o sistema industrial, paradoxalmente, acostumou-se a


considerar os ecossistemas do planeta de maneira não-econômica, tanto que eles não são
explorados: os oceanos e as florestas são avaliados pelos recursos exploráveis que destes se
pode extrair. Considere-se o caso das florestas que são avaliadas pela madeira e pela celulose
que são capazes de produzir, no entanto, os economistas não são capazes de avaliar os
numerosos serviços ligados à capacidade física e biológica de seu ecossistema, como a
estocagem de água, o habitat, a decomposição de dejetos, a purificação do ar ou a regulação
do clima. Laville (2009) explanou ainda que as empresas e os demais setores econômicos
agem como se os recursos fossem inesgotáveis, investindo pouco em sua reposição, o que
deverá degradar muito a qualidade de vida futura.

Por sua vez, Porter e Kramer (2006) alertaram que os approaches prevalecentes em
Responsabilidade Social Corporativa (RSC) são tão fragmentados e desconectados da
estratégia do negócio, como são desconhecidas as grandes oportunidades de as empresas
beneficiarem a sociedade. As empresas precisam entender que RSC pode ser muito mais que
um custo, ou uma restrição, ou uma atividade caritativa. RSC pode representar oportunidade,
inovação e vantagem competitiva. Enfatizaram que a associação para o RSC recomenda que
“[...] as empresas devem alcançar seu sucesso comercial de forma a honrar seus princípios
éticos, respeitar os cidadãos, as comunidades e o ambiente natural”.

Na análise de crédito, é considerada a capacidade de a empresa honrar os pagamentos


propostos ao longo do tempo. Logo, verifica-se não só sua capacidade atual, mas a forma
como pretende dar continuidade às suas atividades para que permaneça rentável. Para que isto
ocorra, a empresa deve demonstrar como está sedimentando estrategicamente seu futuro. O
futuro das empresas forçosamente implica em comprometer-se com os investimentos
necessários para que as consequências de suas decisões sóciais e ambientais sejam adequadas
às suas atividades e que estas permaneçam lucrativas.

Este trabalho pretendeu analisar os efeitos das variáveis econômicas, sociais e ambientais na
análise de crédito. Para tanto, deve-se considerar que se trata de um trabalho experimental que
pretende considerar a análise de crédito como poderá ser procedida no futuro. Considerando-
se os esforços mundiais na busca de atitudes racionais que objetivem harmonizar a
conservação do planeta, o bem-estar social e os resultados econômicos, pretendeu-se avaliar
como este conjunto de atributos, representados por variáveis indicadoras, pode influenciar a
análise de crédito.

O problema de pesquisa que se pretendeu responder foi: A inclusão de variáveis sociais e


ambientais nos modelos de análise de crédito aumenta sua eficácia? Consequentemente o
objetivo desta pesquisa foi mostrar a relevância das variáveis socioambientais na análise de
crédito, isto é, o potencial destas variáveis para incrementar os resultados dos modelos
utilizados nas análises de crédito.


 
 

O trabalho está estruturado da seguinte forma: introdução que procura explicar o contexto da
pesquisa; referencial teórico que mostra a relevância do tema desenvolvimento sustentável e
sua inclusão no contexto ecnômico de forma geral e na análise e concessão de crédito em
particular; a metodologia que é parte relevante do trabalho dada a inovação de métodos
empregados na análise; análise dos principais resultados encontrados, e; considerações
relevantes e sugestões para continuidade da pesquisa.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Da Ecossocioeconomia ao Desenvolvimento Sustentável
O contato de Sachs (2009) com o tema meio ambiente começou em 1970 quando recebeu um
convite da UNESCO para participar do primeiro colóquio sobre meio ambiente como desafio
às ciências sociais. Nesse colóquio, realizado em Tóquio, no Japão, conheceu William Kapp,
professor na Basiléia, pensador rigoroso sobre as relações entre ecologia, economia e
sociedade que denominava ecossocioeconomia.

Em 1971, nas reuniões preparatórias para a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente, programada para junho de 1972, em Estocolmo, havia posições extremas: os
que queriam o crescimento econômico a qualquer preço e os que queriam parar o crescimento
e mesmo o crescimento demográfico e material a zero. Ficou também claro o imperativo para
que o crescimento mudasse quanto às suas modalidades e principalmente quanto à divisão de
seus frutos. “Os objetivos do desenvolvimento são sempre sociais, há uma condicionalidade
ambiental que é preciso respeitar, e finalmente, para que as coisas avancem, é preciso que as
soluções pensadas sejam economicamente viáveis” (SACHS, 2009). Estavam lançadas as
bases para o que mais tarde viria a ser conhecido como a Triple Bottom Line, os seja, os
fundamentos do Desenvolvimento Sustentável.

A Conferência de Estocolmo (1972) inscreveu definitivamente o tema meio ambiente na


ordem do dia da comunidade internacional. Esta decidiu a criação do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Sachs (2008) lembrou que Maurice Strong
secretário geral do evento, queria mostrar que a preocupação com o meio ambiente não era
um obstáculo ao desenvolvimento, mas que era necessário harmonizar os dois objetivos,
fazendo o ecodesenvolvimento. Desta forma, mais que a palavra a ideia foi se consolidando.
A partir dessa reflexão, Sachs articulou o social, o ecológico e o econômico. Os objetivos
eram sociais e éticos, com a restrição ambiental, a economia não desempenhava mais que um
papel instrumental.
Aos poucos, o termo ecodesenvolvimento foi cedendo lugar ao desenvolvimento sustentável
que semanticamente parece mais bem ajustado. Sachs (2008) afirmou que, quando trata de
desenvolvimento, procura colocar um conceito amplo: pode-se começar postulando o
crescimento econômico, para acrescentar a seguir o social, o cultural, o político, o ambiental,
enfim, compreende-se o desenvolvimento amplo do ser humano. Enfatizou quanto à
pluridimensionalidade do termo e sua visão holística. Evocou François Perroux: “[...] o
desenvolvimento de todo o homem e de todos os homens”.

Furtado (2004) diferenciou desenvolvimento econômico de sustentável, afirmando: “O


desenvolvimento não é apenas um processo de acumulação e de aumento de produtividade
macroeconômica, mas principalmente o caminho de acesso a formas sociais mais aptas a
estimular a criatividade humana e responder às aspirações da coletividade”.

Veiga (2008) aprofundou a discussão sobre desenvolvimento, lembrando que o Plano das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) relata que desenvolvimento tem a ver


 
 

inicialmente e acima de tudo com a possibilidade de pessoas viverem o tipo de vida que
escolheram, e com a provisão dos instrumentos e das oportunidades para fazerem suas
escolhas. Expôs, ainda, que o Relatório de Desenvolvimento Humano tem insistido que essa é
uma ideia tão política quanto econômica, indo desde a proteção dos direitos humanos até o
aprofundamento da democracia.

2.2 O Triple Bottom Line (TBL)


Apesar de existirem definições variadas na literatura científica, o conceito de sustentabilidade
está diretamente vinculado ao de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) em seu aspecto
genérico. Ambos são, eventualmente, utilizados como sinônimos. Segundo o Instituto Ethos
(2006), a RSC integra o conjunto de interesses das empresas e de seus stakeholders e,
igualmente, fomenta o desenvolvimento socioeconômico das comunidades do entorno.

Nesse sentido, há três dimensões estratégicas fundamentais (tripple bottom line): social,
ambiental e econômica. Sob a perspectiva privada, portanto, a RSC refere-se ao planejamento
e à atuação voltada ao melhor desempenho possível com relação às pessoas, ao planeta e ao
próprio lucro da entidade (people, planet and profit).

Elkington (1994), em sua concepção do Triple Bottom Line (TBL), coloca o DS como
resultante de boas práticas de governança, voltadas para a conservação ambiental e a
responsabilidade social, no atingimento dos resultados econômicos-financeiros das empresas.

A Figura 1 mostra como o TBL foi idealizado por seu criador Elkington (1994). Baseado no
tripé economia, ambiente e sociedade, pode-se entender o conceito de Sustentabilidade como
atualmente é aceito pela maioria dos pesquisadores que tratam do tema. A ideia que
fundamenta esta estrutura é a de que não se pode ter sustentabilidade sem resolver os
problemas básicos de desigualdade social, consumo desenfreado dos recursos ambientais
(incluindo a água e o tratamento climático) e subordinação dos resultados econômicos aos
interesses socioambientais.

2.3 Responsabilidade Social Corporativa ( RSC)


Nas décadas de 60 e 70, autores que consideravam a auto-regulação do mercado e a plena
liberdade dos agentes, como Friedman (1962), defendiam que a função social da empresa
seria a geração de lucros. Diferentemente, autores como Tipgos (1977), Burton (1977) e
Zenisek (1979) entre outros, já concebiam a integração e fomento de projetos sociais entre a
empresa e suas partes relacionadas, inclusive a comunidade local. Os dois principais aspectos


 
 

envolvidos nessa discussão diziam respeito ao liberalismo econômico e à responsabilidade do


Estado em cumprir seus deveres inerentes para o bem-estar social.

Porter e Kramer (2006) e Laville (2009) expuseram que empresas e comunidade podem
beneficiar-se mutuamente, afirmando que uma relação simbiótica é desenvolvida: o sucesso
da companhia e o sucesso da comunidade ficam reforçados. A companhia é a maior
beneficiada, pois, além de alavancar recursos e capacidades para a firma, ainda beneficia a
comunidade.

Ainda nesse contexto, Porter e Kramer (2006) destacaram que a coisa mais importante que
uma corporação pode fazer pela sociedade e pela comunidade é contribuir para a prosperidade
da economia. Governos e Organizações Não Governamentais (ONGs) muitas vezes esquecem
essa verdade básica e quando países em desenvolvimento distorcem as regras, penalizando as
empresas, estas se afastam. Tais países permanecem pobres, com baixos salários, dependentes
da venda de suas matérias-primas. Enfatizaram que as grandes corporações dispõem de
tecnologia e recursos para mudar esse estado, e isto vale para o mundo em desenvolvimento e
para as comunidades desfavorecidas de economias avançadas.

Laville (2009) endossou as palavras de Porter e Kramer, afirmando que a tomada de


consciência que uma empresa não pode prosperar de forma durável em um ambiente (natural,
social, etc.) que esteja definhando, está no âmago do que se entende por responsabilidade
social. A ideia é que a empresa é uma filial totalmente (100%) pertencente aos “seus
ambientes” tendo como corolário a interdependência, ou seja, que o interesse de uma está
subordinado ao interesse da outra, ou ainda, a saúde de uma depende da saúde da outra.

2.4 Evolução da análise de crédito


A revolução industrial, iniciada no século XVIII e capitaneada pela Inglaterra, trouxe grandes
reflexos para a economia americana que, apoiada na atividade creditícia, conseguiu
desenvolver-se celeremente. No início, a política de análise e concessão de crédito apoiou-se
em demonstrativos financeiros padronizados e a seguir em índices, como o de liquidez
corrente, ativo até a presente data. Em 1936, a Securities and Exchange Comission (SEC) já
publicava índices setoriais que permitiam uma análise comparativa de performance.

Com o aumento da demanda por crédito, os métodos de análise sofisticaram-se e a análise


discriminante empregada por Beaver (1967) tornou-se um marco, ao mostrar como índices
acompanhados sistematicamente poderiam prever índicios de falência com até cinco anos de
antecedência. Estavam lançadas os fundamentos da moderna análise de crédito: bases de
dados e modelos de análise.

Caouette, Altman e Narayanam (1998) chamaram a atenção para a evolução da análise


clássica de crédito, de acordo com as mudanças fundamentais no negócio bancário. O
financiamento de capital de giro, lastrado em colaterais típicos, evoluiu para o financiamento
de bens de capital (ativos fixos) a longo prazo. Note-se que para estes ativos não existe um
mercado líquido. Logo os colaterais perderam seu efeito, pois os débitos devem ser pagos
com dinheiro e não com o uso de colaterais ilíquidos, como instalações fabrís, equipamentos,
etc. Desta forma, a atenção dos analistas passou a focar com maior interesse os fluxos de
caixa das empresas, procurando perscrutar sua capacidade de pagamento dos empréstimos.

Ganguim e Bilardello (2005), diretores da Standard & Poor´s, enfatizaram que a análise de
risco financeiro indica o risco da empresa em vários níveis de observação. Pode mostrar se o


 
 

negócio é rentável, a capacidade de resistir a choques econômicos e, na área de crédito, a


capacidade de honrar os compromissos assumidos. Uma das formas de avaliar uma empresa e
comparando-a com seus benchmarks, ou com os resultados setoriais. Diferentes indústrias e
companhias devem preocupar-se com indicadores específicos. De uma forma geral, Ganguim
e Bilardello (2005) destacaram quatro áreas com as quais os analistas devem preocupar-se:
dados de balanço, rentabilidade, geração de caixa e flexibilidade. Informações favoráveis
facilitam o acesso ao crédito e desfavoráveis dificultam este acesso.

Percebe-se que os diversos autores contemporâneos evidenciam a preocupação da análise de


crédito com os riscos incorridos pela empresa e sua capacidade financeira em honrar os
compromissos, no entanto, esta análise limitou-se aos dados econômico-financeiros das
empresas. Veiga (2005, p.19) lembra que: “Até o final do século XX, os manuais que servem
para transmitir às novas gerações o paradigma da ciência econômica convencional (ou
‘normal’ no dizer de Thomas Khun) tratavam despudoradamente desenvolvimento e
crescimento econômico como simples sinônimos”. Neste ponto, aprofundando-se a discussão,
volta-se ao dilema: crescimento econômico ou conservação ambiental?

A sinalização de uma possível mudança de paradigma, surge na visão de que a análise de


crédito pressupõe capacidade de previsão. Charitou; Lambertides; Trigeorgis (2008)
afirmaram que a falta de um sólido conhecimento dos fatores econômicos que determinam a
insolvência, tornam a explicação e a previsão desta difíceis de acessar. No entanto, a acurácia
destes preditores é essencial para uma sólida administração do risco e para a avaliação da
vulnerablidade das corporações e dos tomadores institucionais.

2.5 Sustentabilidade, crédito e os Princípios do Equador


Laville (2009, p. 74) enunciou que algumas atividades consideradas imateriais e sem impacto
ambiental, como o caso da atividade bancária, têm o seu lado perverso, pois o dinheiro
investido pelos bancos pode ser usado de maneira opaca por seus clientes, frequentemente em
atividades industriais e/ou consumidoras de petróleo, em outras palavras, intensivas em
carbono. Este impacto indireto é colossal, muito superior àquele que pode ser estimado para
uma organização bancária. Um estudo da ONG Amis de La Terre estimou que as emissões de
CO2 decorrentes dos investimentos bancários franceses representaram um pouco mais de três
vezes as emissões da França (LAVILLE, 2009, p. 136).

O impacto maior de um banco não reside nas usinas poluentes que este não tem, nem mesmo
no consumo de papel ou de energia de seu back office e das viagens a serviço de seus
funcionários, mas nos critérios que elege para escolher ou influenciar os projetos que ele
financia, pois todas as fábricas, mesmo as mais poluentes são financiadas por instituições
bancárias. Este impacto indireto é muito superior àquele que pode ser estimado para uma
organização bancária.

Weber, Scholz e Michalik (2010) descreveram alguns casos típicos de risco ambiental em
crédito: i) contaminação do solo ou do bem usado como colateral, com valores significativos
relacionados à descontaminação; ii) regulamentação orientadora do investimento, isto é, a
empresa pode estar sujeita a elevados investimentos tecnológico-ambientais para
operacionalizar corretamente seus investimentos; iii) mudanças de atitudes mercadológicas
que influenciem negativamente a comercialização do produto; iv) riscos de reputação
decorrentes de atitudes sociais ou ambientais incorretas na percepção dos stakeholders. Isto
pode ser comparado a um banco financiar projetos danosos à saúde como, por exemplo, a
expansão de uma fumageira.


 
 

O Quadro 1 apresenta, de forma resumida, os Princípios do Equador (PE) que norteiam as


operações de crédito das principais instituições financeiras mundiais. Os PE funcionam como
um mecanismo de autorregulação dos bancos, buscando mostrarem uma imagem de
responsabilidade socioambiental. Na prática, todos os Projetos que demandam valores iguais
ou superiores a dez milhões de dólares, devem apresentar, quando necessário, relatórios de
impactos ambientais aprovados pelas autoridades reguladoras.

3 METODOLOGIA
Considerando que este é um trabalho experimental, a metodologia assumiu papel de destaque,
pois todos os passos seguiram mais uma direção ao alvo, do que um road map. Isto quer dizer
que os procedimentos adotados são experimentais, tanto em sua concepção, quanto nos
processos executados. Foram utilizados procedimentos não usuais de coleta de informações,
formação de bancos de dados e sistemas de análise que estão descritos na sequência. Alerta-se
para o fato de a variável classificadora ter oito níveis, o que, ao ser utilizada em um modelo
de análise discriminante, também torna esta análise não trivial. Desta forma a metodologia
lida com dois problemas complexos: variáveis e método de análise não triviais.

3.1 Problemas com a coleta de dados


Variáveis econômicas e análise de concessão de crédito às empresas têm sido atividades
recorrentes para os pesquisadores da área, que frequentemente se defrontaram com a
dificuldade de acessar dados, considerados sigilosos pelas empresas. Variáveis sociais em
geral, devido a sua natureza e falta de padronização contábil, também são de difícil acesso. A
exceção fica por conta dos dados, relativos a impostos e obrigações constantes dos


 
 

Demonstrativos Financeiros Padronizados (DFP) como o Demonstrativo de Valor Adicionado


(DVA).

Quanto aos dados representativos do comportamento da empresa em relação ao meio


ambiente, as variáveis ambientais, o pesquisador teria uma grande dificuldade em acessar
essas informações, pois, além de não serem padronizadas, são peculiares aos diversos tipos de
atividades empreendidas. As variáveis ambientais foram desenvolvidas a partir de
informações constantes do anuário Análise Gestão Ambiental, criado em 2007, o qual tem
investido na busca de informações ambientais, por meio de questionários, cujas respostas
foram tabuladas e distribuídas em edições especiais, servindo como bancos de dados
incipientes, pois são os únicos disponíveis com uma relativa amplitude e frequência
(ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL, 2009).

Veiga (2009), em seu artigo sobre indicadores socioambientais, comentou a incipiência dos
bancos de dados primários sobre o meio ambiente, comparando sua impropriedade à falta de
base conceitual sobre o que realmente pode ser sustentabilidade ambiental. Considerou uma
evolução o entendimento de desenvolvimento com elevado cunho social, porém afirmou que,
enquanto não se chegar a um consenso sobre sustentável, a governança socioambiental
continuará dependendo de muitos ‘voos cegos’.

3.2 Amostragem 
Considerando que a maior dificuldade era a de acessar dados ambientais de empresas, tais
informações foram obtidas a partir dos dados constantes no Anuário de Gestão Ambiental
(AGA) de 2009, uma publicação com dados de 664 empresas. Os dados foram trabalhados e
transformados em informações de acordo com a metodologia descrita mais adiante.

Na sequência, foi iniciada a busca dos dados econômicos financeiros, ocasião em foi
verificado que, grande parte das empresas constantes no AGA ou não eram empresas de
capital aberto, ou, ainda, não tinham tornado disponível seus demonstrativos financeiros de
2009. Considerando a indisponibilidade de dados, a amostra foi reduzida para 127 empresas.
Finalmente, ao incorporar as variáveis sociais, problemas com missing values e outliers
reduziram a amostra para 110 empresas, as quais fizeram parte da análise.

Com relação aos ratings, os dados foram conseguidos por meio de uma entidade bancária, a
qual, rotineiramente, consulta uma empresa especializada, tradicional no mercado, cujo nome,
por questões de confidencialidade, deixa de ser mencionado.

3.3 Descrição e operacionalização das variáveis


A seguir descreve-se as variáveis usadas nos modelos e sua operacionalização.

 Variáveis econômicas
Considerando os principais trabalhos para previsão de falência, de acordo com Perera et al.
(2009), foram selecionados os seguintes indicadores contábeis: AtivoTotal (Ativo), Ativo
Circulante (AC), Passivo Circulante (PC), Vendas Líquidas (VdaLiq), Lucro Operacional
(LO), Lucro Líquido (LL), Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization
(EBITDA) e Fluxo de Caixa Operacional (FCo).

Os dados foram extraídos diretamente das Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP) da


Comissão de Valores Mobiliários (CVM) consolidadas com data base de 31 de dezembro de
2009. A opção pelas demonstrações financeiras consolidadas foi para evitar distorções nos


 
 

cálculos dos índices, já que muitas empresas pertenciam a grupos econômicos ou eram
holdings.

 Variáveis ambientais
As variáveis ambientais foram selecionadas a partir do AGA (2009). Esta publicação
apresenta as respostas de 664 empresas a um questionário composto por 35 questões com
múltiplas respostas, sobre um amplo aspecto ambiental. O questionário, em sua totalidade, foi
transcrito em uma planilha Excel e serviu, como base de dados, para o tratamento das
variáveis.

Para operacionalizar as variáveis, foi utilizado o método de avaliação Battelle-Columbus, um


dos mais tradicionais na área, considerado uma metodologia consolidada para avaliar
impactos ambientais. É baseado em julgamento subjetivo de especialistas. Foi desenvolvido
por Dee et al. (1973), por meio de uma comissão de cientistas pertencentes ao Laboratório
Battelle-Columbus, à Ohio Environmental Protection Agency e mais um consultor
independente. O método chamado Environmental Evaluation System (EES) baseia-se em
destacar os fatores de impacto e atribuir pesos a estes. O método original compreende quatro
categorias (ecologia, poluição, estética e valores humanos). Estas quatro categorias são
desdobradas em dezoito componentes e estes em setenta e oito parâmetros. Aos parâmetros
são atribuídos pesos, que são avaliados em uma escala de 0 a 10. O resultado é a soma dos
escores e são feitos dois cálculos, sem e com a implantação do projeto – este último estimado.
Os resultados são comparados e a diferença representa o impacto ambiental que será causado
pelo projeto.

Para a seleção e uso das variáveis ambientais, foi utilizada uma adaptação do método EES,
desenvolvida e discutida por três pesquisadores da área, sendo as decisões tomadas por
consenso. Decidiu-se que seriam utilizadas todas as informações disponíveis no AGA (2009).
A discussão inicial girou em torno da definição das categorias que comporiam as variáveis
ambientais. Foi decidido utilizar como variáveis os fatores definidos pelo AGA.

Aos fatores, corresponde um determinado número de questões. Foram considerados os


seguintes fatores, com os respectivos pesos (entre parentêsis) e justificativas:
1. Organização da gestão ambiental (OrgAmb, 1,0), compreendendo seis questões
indicativas do gerenciamento ambiental da empresa. Foi considerado o fator mais
importante, pois depende de decisão central e orienta os demais procedimentos da
empresa;
2. Procedimentos adotados (ProcAd, 0,5), compreendendo seis questões e foi considerado
um fator de impacto médio, pois são medidas indiretas para reduzir impactos ambientais
periféricos;
3. Política de informação (PolInfo, 0,5), compreendendo cinco questões e também foi
considerado um fator de impacto médio por não ser decorrente de atividades
operacionais, apesar de seu relevante conteúdo informacional;
4. Relacionamento e investimentos (RelInv, 0,3), compreendendo duas questões e foi
considerado um fator de baixo impacto, apesar de evidenciar intenções relevantes;
5. Consumo de recursos naturais (RecNat, 0,8), compreendendo cinco questões e foi
considerado um fator de elevado impacto, pois decorre diretamente das atividades da
empresa; a avaliação foi ajustada às idiossincrasias das empresas;
6. Tratamento de resíduos (TratRes, 0,8), compreendendo quatro questões e também foi
considerado um fator diretamente impactante pelas atividades operacionais da empresa; a
avaliação foi ajustada às idiossincrasias das empresas;


 
 

7. Ações ambientais adicionais (AçAmbAd, 0,5), compreendendo cinco questões e foi


considerado um fator de impacto médio, pois as questões mesclam consequências
decorrentes de várias atividades das empresas, inclusive algumas não se aplicam a todas.

As questões foram respondidas por um sistema de múltipla escolha, contando pontos num
processo similar ao sistema EES, porém ajustado ao objetivo de ser feita uma avaliação
ambiental das empresas. Ainda mantendo a similaridade ao EES, a soma alcançada pela
empresa dentro de cada fator é dividida pela pontuação máxima, a qual corresponderia a uma
situação ambiental ideal.

Por exemplo, se no Fator 1, a empresa X alcança um escore de 3,2, este foi dividido por 4,7
(máximo alcançável), resultando em 0,68 o score da empresa X no fator. Os fatores tiveram o
peso indicado entre parênteses, o qual pode ser usado para cálculos estatísticos que admitam
este tipo de procedimento, ou mesmo para considerar um único fator ambiental. Ao final do
processo de avaliação cada empresa teve sete fatores, correspondentes a variáveis ambientais
que foram utilizadas no processo geral de análise.

 Variáveis sociais
Como as empresas não são obrigadas a publicar o balanço social, o acesso às variáveis dessa
natureza ficou, praticamente, restrito às informações dos Demonstrativos de Valor
Adicionado (DVA) que, segundo Tinoco (2008), informa possíveis benefícios gerados para
diversos grupos participantes das operações: os stakeholders. Informações adicionais puderam
ser obtidas em notas explicativas, em relatórios de diretoria ou em balanços sociais (quando
ocorriam). O inconveniente é que tais dados além de não serem padronizados, também não
são informados regularmente, resultando em elevado número de missing values, ao se tentar
consolidar dados para análises.

Das variáveis sociais, foram consideradas no modelo: i) despesas com pessoal - Remuneração
Direta (RemDir), benefícios (Benef) e Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS); ii)
despesas com impostos - federais (ImpFed), estaduais (ImpEst) e municipais (ImpMun), e; iii)
Remuneração sobre o sapital próprio (RemCapPr).

Outras depesas como: previdência privada, plano de demissão voluntário, convênios, etc.
foram consideradas impróprias pelo elevado número de missing values; outras variáveis como
número de funcionários, investimentos em P&D, projetos sociais, treinamento, etc., foram
descartadas pelos motivos citados anteriormente. Numa visão crítica, os dados das variáveis
consideradas foram pouco representativos da magnitude do fator social que se pretendia
medir, logo, esperaram-se resultados pouco significativos.

Corroborando essas afirmativas, Weber, Scholz E Michalik (2010) relataram que acessar
dados representativos de atitudes sociais das empresas apresenta elevado grau de dificuldade,
pois os riscos sociais podem envolver considerações de como tratar com equidade os salários
e a participação dos empregados, a segurança do trabalho, os planos de saúde, a criação de
novos postos de trabalho e o relacionamento com os demais stakeholders interessados.

 Variável Rating
Rating é uma variável classificadora de crédito. A metodologia de cálculo é própria da
empresa e considerou os tradicionais elementos como caráter, capacidade, capital, condição e
conglomerado. A metodologia foi voltada para pessoas jurídicas e indica a probabilidade de a

10 
 
 

empresa tornar-se inadimplente em um horizonte de 12 meses. O nome da empresa


classificadora foi omitido por questões de sigilo empresarial.

A inadimplência foi caracterizada pela ocorrência dos eventos de falência, concordata,


protestos, cheques sem fundos, recuperações e ações judiciais (executivas, de busca e
apreensão e de execução fiscal da justiça federal), pendências financeiras, restrições
financeiras bancárias, etc. Para cada evento foi dado um peso: falência requerida = 5, ação
(executiva ou de busca e apreensão) = 2, protesto = 1 e pefin (pendências financeiras) =1.

O risco do rating foi representado por variável medida por uma escala numérica de 1 a 10 (1
significa menor e 10 maior risco), o rating agrupa as empresas em classes homogêneas de
risco, indica o grau de risco da empresa analisada e a respectiva probabilidade de
inadimplência. Cabe destacar que será muito difícil ter uma classificação = 1, por que não
existe empresa sem risco, bem como as empresas classificadas como notas 8, 9 e 10 já que
representam default, e, nesta situação são provisionadas e saem da carteira de análise.

3.4 Justificativa e importância dos modelos utilizados na análise


Procurando atender o objetivo proposto de mostrar a relevância das variáveis socioambientais
na análise de crédito foram utilizados dois modelos de análise: i) equações estruturais que
procura dar uma visão geral da proposta e modelo a ser utilizado, e; ii) análise discriminante
múltipla que mostra a capacidade incremental das variáveis sócioambientais passo a passo.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS


Neste item, considerando o objetivo do trabalho de evidenciar a relevância da inclusão de
variáveis socioambientais na análise de crédito, a discussão será focada nos principais
resultados encontrados.

4.1 Modelagem de equações estruturais


O modelo de equação estrutural explicado de uma forma simples corresponde à criação de
variáveis latentes (equivalentes a fatores) e uma análise de regressão dessas variáveis latentes
relacionadas à variável que se pretende explicar (HAIR JR. Et al, 2005). No caso as variáveis
latentes correspondem às variáveis econômicas, sociais e ambientais e rating é a variável a ser
explicada.

O modelo foi estimado por meio do software SmartPLS 2.0.M3 (RINGLE, WENDE, WILL,
2005). Sua escolha levou em conta o tamanho da amostra, que era pequena (menor que 200
casos) para estimação por LISREL e tratar-se de uma abordagem exploratória e não de teste
de teoria consolidada - com foco em predição (RINGLE, SARSTEDT; STRAUB, 2012).

Após remover todos os indicadores que apresentaram problemas de validade convergente e


discriminante, chegou-se nos resultados apresentado na Tabela 1, verifica-se que há validade
convergente (AVE>0,05), validade discriminante no nível dos indicadores (os indicadores
apresentaram cargas fatoriais mais altas em seus respectivos construtos, do que em qualquer
outro, a matriz de cargas cruzadas não foi incluída por limitação de espaço, mas está
disponível com o primeiro autor), e confiabilidade composta (acima de 0,7).

11 
 
 

O modelo desenvolvido mostra a significância das variáveis latentes: sociais (p=0,053) com
um coeficiente de -0,134; econômicas (p=0,032) com o coeficiente de -0,161, e; ambientais
(p=-0,001) com o coeficiente de -0,260. Os coeficientes negativos ocorrem devido à escala de
risco da variável rating variar de 1 (menor risco) a 10 (maior risco). Todas as variáveis são
significativas e o modelo tem um R2 equivalente de 0,178, ou seja as variáveis latentes
explicam cerca de 18% da variável rating.

A Figura 2 mostra a estrutura os resultados das cargas fatoriais e coeficientes estruturais, e a


viabilidade de serem usadas variáveis sociais e ambientais, além das tradicionais variáveis
econômico-financeiras na análise de crédito. A significância foi estimada por bootstrap com
110 casos e 1000 reamostragens.

4.2 Análise discriminante múltipla (ADM)


O modelo de análise discriminante (AD) é um modelo paramétrico que supõe a normalidade e
homocedasticidade dos grupos considerando as variáveis incluídas no modelo. Hair et al
(2005) afirmam que: “A análise discriminante é a técnica estatística apropriada para testar a
hipótese de que as médias dos grupos de um conjunto de variáveis independentes para dois ou
mais grupos são iguais”. Se forem iguais, não discriminan. No caso em análise, a variável
dependente Rating varia de 2 a 9, neste caso deve-se esperar que se tenha oito grupamentos
com médias diferentes.

Os testes de análise de variância (ANOVA) realizados revelaram que algumas variáveis


sociais como BENEF e FGTS e outras ambientais como ProcAdot, PolInfo, RelInv, RecNat e

12 
 
 

AçAmbAd apresentaram índices “F” pouco significativos (inferior a 2), no entanto decidiu-se
mantê-las no modelo, considerando a validade de conteúdo, desta forma assumiu-se que a
distribuição conjunta de todas as variáveis incluídas no modelo (dentro de cada população) é
aproximadamente multivariada normal (HUBERTY e OLEJNIK, 2006).

O racional deste estudo foi mostrar a relevância das variáveis sociais e ambientais para o
aprimoramento dos modelos de análisede crédito. Logo, apesar ter sido usado um modelo
preditivo (ADP), o foco é na ‘análise discriminante descritiva’ (ADD), de forma a demonstrar
passo a passo o valor incremental dessas variáveis. Fica claro que este não é um modelo
preditivo e sim um modelo descritivo e explicativo que pretende expor a influência das
variáveis nos resultados alcançados.

No caso específico, em se tratando de um modelo conceitual, admitiu-se a busca dos melhores


resultados independente das caracteriticas dos parâmetros. Objetivamente, procurou-se as
relações causais entre as variáveis dependente e independentes que atingiram o índice mais
elevado de acertos no modelo conceitual. O procedimento de análise discriminante foi
executado com o PASW Statiscs 18 (SPSS 18) e considerou na análise todas as variáveis
constantes do modelo de Equação Estrutural (vide Figura 2).

A Tabela 2a mostra o maior poder discriminatório das variáveis econômicas (43,6%),


seguidas das variáveis ambientais (35,5%) e um menor valor para as variáveis sociais
(20,9%). Considerando a inclusão das variáveis sociais no modelo das variáveis econômicas
verifica-se que causam um impacto mínimo elevando seu poder discriminatório de 43,6%
para 45,5% (+1,9%). Já as variáveis ambientais elevam o poder discriminatório para 54,5%%
(+10,9%). Considerando um modelo apenas com com variáveis socioambientais verifica-se
que as variáveis ambientais aumentam o poder discriminatório das variáveis sociais de 20,9%
para 44,5%, um resultado expressivo, revelando todo o potencial das variaveis ambientais no
modelo.

13 
 
 

A Tabela 2b acompanha a evolução sequencial do poder discriminatório do modelo: i)


somente com as variáveis econômicas (43,6%); ii) com a inclusão das variáveis sociais
(45,5%), e; iii) finalmente com o conjunto de variáveis econômicas, sociais e ambientais,
verificando-se que atinje o seu potencial máximo de 56,4% de acertos. Foi executado um teste
de proporções nos resultados verificando-se que o acréscimo das variáveis sociais é não
significante e o acréscimo das variáveis ambientais é significante ao nível de 5%.

A Tabela 3 mostra os resultados da análise discriminante executadas com o conjunto de


variáveis econômicas, sociais e ambientais. Alerta-se para o fato de a variável rating ser
classificatória em oito níveis (de 2 a 9), implicando que por chance, cada elemento da amostra
tem 12,5% de probabilidade de ser classificado em qualquer um dos oito ratings, o que torna
o resultado verificado de 56,4 % bastante significante, sendo que apenas a variável de nº 5
teve menos de 50% de acertos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho procurou analisar os efeitos das variáveis econômicas, sociais e ambientais no
desenvolvimento de um modelo para análise e concessão de crédito empresarial baseado em
ratings.

Inicialmente, foi utilizado um modelo de equações estruturais para evidenciar a possível


‘estrutura’ de um modelo de análise de crédito comportando três conjuntos de variáveis
distintas (econômicas, sociais e ambientais) procurando explicar o risco das empresas
analisadas por meio de ratings. O modelo mostrou sua viabilidade ao atender todos os
requisitos de confiabilidade, validade discriminante e validade de conteúdo exigidos pelo
método e conseguir explicar cerca de 20% do poder discriminatório dos ratings considerados
em oito níveis. Alerta-se que o objetivo desta análise inicial era o de apresentar, de forma
fundamentada, a possibilidade da análise pretendida.

Em uma segunda etapa procedeu-se análise discriminante múltipla focado na ADD, na qual
ficou evidenciada a supremacia das variáveis econômicas na análise, revelando um poder
discriminatório com 43,6% de acertos, quando consideradas isoladamente. Já as variáveis
sociais, de difícil acesso em seus fundamentos (vide item 3.3, variáveis sociais) revelaram

14 
 
 

pouco poder discriminatório que alcançou apenas 20,9% de acertos. As variáveis ambientais
isoladamente e reveladas através da metodologia inspirada em Batelle Columbus, num
primeiro approach, conseguiram discriminar acertadamente 35,5% dos casos.

Ao considerar-se o acréscimo marginal ao poder discriminatório do conjunto de variáveis,


verificou-se que as variáveis econômicas isoladamente discriminaram corretamente 43,6%
dos casos; as variáveis sociais elevaram marginalmente este valor em 1,9%, alcançando
45,5%, e; finalmente, as variáveis ambientais elevaram os acertos do modelo para 56,4%,
acrescendo marginalmente o poder discriminatório em 10,9%. A proporção marginal das
variáveis sociais, foi testada e considerada não significativa. A proporção marginal das
variaveis ambientais foi testada e considerada significante ao nível de 5%.

Resgatando-se o problema de pesquisa formulado, pode-se afirmar que, com os dados e


metodologia empregados neste trabalho, as variáveis socias não acrescentaram poder
discriminatório aos modelos testados. Já as variáveis ambientais trouxeram contribuição
significativa, elevando em cerca de 11% o poder discriminatório dos modelos testados.
Consequentemente, o objetivo desta pesquisa que era mostrar a relevância das variáveis
socioambientais na análise de crédito, foi atingido.

Retomando o modelo geral representado pela equação estrutural apresentada na Figura 2,


ressalta-se que este trata-se de um trabalho experimental que considera fundamental o
conceito de sustentabilidade, quer para as empresas terem continuidade temporal, quer para o
seu relacionamento com a sociedade. No entanto, para que os modelos de análise de crédito
possam de fato incorporar as variáveis sociais e ambientais, ainda há um longo caminho a ser
percorrido. Os modelos estão praticamente prontos e funcionais, porém os pesquisadores e
analistas ainda não dispõem de variáveis padronizadas que possam ser analisadas, em
condições de dar respostas robustas e eficazes.

Fica evidente que um tratamento adequado deve ser dado às variáveis sociais e ambientais,
principalmente no tocante à sua padronização, para que estas tenham maior significado
estatístico no modelo. Este é o trabalho que está a espera uma reação eficaz dos profissionais
da área contábil-financeira e dos elementos reguladores.

As limitações do trabalho ficam por conta de sua própria natureza experimental, que mais
sugere do que explica. Os modelos funcionaram em condições de laboratório para a amostra
testada e mostraram a potencialidade de serem desenvolvidos novos modelos, mais robustos.
Como continuidade, sugere-se o experimento de novos processos de medição e
desenvolvimento de variáveis socioambientais que possam ser utlizadas em modelos
aplicados .

Laville (2009, p. 55) cita Albert Einstein que afirmava que qualquer problema não pode ser
resolvido sem mudar-se o estado de espírito que o engendrou. Isto é literalmente o que nos
propõe a revolução do desenvolvimento sustentável nas empresas: uma verdadeira mudança
cultural, que pode fazer alguns hesitarem, mas que também serve de grande estímulo para
aqueles que a reconhecem como inexorável. Este o grande desafio das empresas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANUÁRIO Análise Gestão Ambiental (AGA) (2009). Disponível em:
www.analiseeditorial.com.br; Acesso em: 25 Abril 2010.

15 
 
 

BURTON, E. J. (1977, Oct.). Toward a theory of corporate social accounting: a comment. The
Accounting Review. V. 52 (4), pp. 971-976.
DEE, N., BAKER, J., DROBNY, N., DUKE, K., WHITMAN, I. & FAHRINGER, D. (1973)
An environmental evaluation system for water resource planning. Water Resources Research.
V. 9 (3), pp. 523-35.
ELKINGTON J. (1994) Towards the sustainable corporation: win-win-win business strategies
for sustainable development. California Management Review, V. 36 (2), pp. 90-100.
______ (2004). Enter the Triple Bottom Line. Disponível em: http://johnelkington.com/TBL-
elkington-chapter.pdf. Acesso em 12 set 2009.
FRIEDMAN, M. (1962). Capitalism and freedom. Chicago: University of Chicago Press.
FURTADO, Celso (2004, out-dez). The challenges of the new generation. Speech in the
Opening Ceremony of the III International Conference Celso Furtado. Development in a
Globalization Context. Revista de Economia Política. V. 24 (4) (96), pp. 483-485.
HAIR JR., J. F, ANDERSON, R. E., TATHAM, R.L. & BLACK, W. C. (2005). Análise
multivariada de dados. 5ª Ed. Porto Alegre: Bookman.
HUBERTY, C. J. & OLEJNIK, S. (2006). Applied MANOVA and discriminant analysis. 2nd.
Ed. USA: Wiley.
INSTITUTO Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (ETHOS) (2006).
Responsabilidade social empresarial nos processos gerenciais e nas cadeias de valor. São
Paulo: Ethos.
LAVILLE, Élisabeth (2009). L’enterprise verte. 3ème. Éd. Paris: Pearson.
PERERA, L.C.J., KIMURA, H., KERR, R.B. & LIMA, F.G. (2009) O Recursive Partitioning
Algorith (RPA), um sistema de classificação não-paramétrico. II Encontro de Ensino e
Pesquisa em Administração e Contabilidade (EnEPQ). Curitiba: ANPAD.
PORTER, M.E. & KRAMER, M.R.(2006, Dec.) Strategy & Society. The link between
competitive advantage and corporate social responsibility. Harvard Business Review. V. 84
(12), pp 78-92.
RINGLE, C.M., SARSTEDT, M. & STRAUB, D.W. (2012). A critical look at the use of
PLS-PM in MIS Quarterly. MIS Quarterly, v. 36, n. 1, pp. iii-xiv.
RINGLE, C.M., WENDE, S. & WILL, A. (2005). SmartPLS 2.0 M3 (beta). Germany:
University of Hamburg. Disponível em: <http://www.smartpls.de>. Acesso em: 26/04/2012.
SACHS, Ignacy (2009). A terceira margem, em busca do ecodesenvolvimento. São Paulo: Cia
das Letras.
SACHS, Ignacy (2008, jun.). Institut d’urbanisme de Paris. Entrevista. Disponível em
http://urbanisme.univ-paris12.fr ; acesso em: 29 dez 2009
The Equator Principles (2006). Disponível em: www.equator-principles.com; Acesso em: 27
Abril 2010.
TINOCO, J.E.P (2008). Balanço Social. São Paulo: Atlas.
TIPGOS, M. A. (1977, Oct.). Toward a theory of corporate social accounting: a comment. The
Accounting Review. V. 52 (4), pp. 977-983.
VEIGA, José Eli da (2008). Desenvolvimento sustentável, o desafio do século XXI. 3ª Ed. Rio
de Janeiro: Garamond.
VEIGA, José Eli da 2009, Out.). Indicadores socioambientais: evolução e perspectivas.
Revista de Economia Política. V. 29 (4), pp. 421-435.
WEBER, O., SCHOLZ, R.W. & MICHALIK, G. (2010). Incorporating sustainability criteria
into credit risk management. Business Strategy and the Environment. V. 19 (1), pp. 39-50.
ZENISEK, T.J. (1979, July). Corporate social responsibility: a conceptualization based on
organizational literature. The Academy of Management Review. V. 4 (3), pp. 359-369.

16 
 

Você também pode gostar