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Ivón Natalia Cuervo Fernández.

Leituras referenciais:

CAZELLA Ademir. A.; BÚRIGO, Fábio. L. Sistemas territoriais de financiamento: para


pensar o caso brasileiro. Emancipação, Ponta Grossa, v.13 n. 2, p.297-312, 2013.

BELIK, Walter. O financiamento da agropecuária brasileira no período recente. In:


BRASIL. Governo Federal. Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República (Ed.). Presente e Futuro do Desenvolvimento Brasileiro. Brasília: Ipea, 2014, p.
329-374.

As leituras referenciadas analisam as ações de desenvolvimento rural fundamentadas


no Sistema Nacional Financeiro do Brasil. Ambos artigos coincidem em afirmar que, a partir
de 1996, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) inovou ao
estabelecer que a agricultura familiar é um conceito diferente da pequena produção agrícola
tradicional, reconhecendo o potencial produtivo dos agricultores familiares. Belik coloca
como objetivo do Pronaf “dar um tratamento especial para os pequenos produtores que eram
discriminados no acesso às fontes de crédito oficiais” (Belik, 2014, p. 350). Segundo Cazella
e Búrigo (2013) “esse programa colocou à disposição dos agricultores familiares de diversas
regiões recursos que até então eram disponibilizados somente aos produtores inseridos nas
principais cadeias produtivas agropecuárias. ” (p. 301). Desde a perspectiva desses autores,
o crédito é o instrumento de política pública mais importante para os camponeses na história
recente do País: “na realidade, considerando-se o desmantelamento da assistência técnica e
de outros instrumentos de política agrícola e fundiária verificados nos anos 1990 no Brasil,
o crédito aparece como único meio de direcionamento ou atuação da política agrícola. ”
(Belik, op. cit., p. 354). Por sua vez, Cazella e Búrigo consideram o crédito como uma “pré-
condição para se gestar projetos inovadores, inclusivos e territorializados. ” (Ibid., p. 297).
No entanto, na prática, Cazella e Búrigo encontram que “o Sistema Financeiro
Nacional (SFN) apresenta dificuldades para ampliar sua base social e seus padrões de
atendimento. ” (Ibid., p. 299), porque o Pronaf ainda apresenta limitações como o déficit de
inclusão de produtores que poderiam aplicar aos seus benefícios, a inexistência de crédito
rural não-agrícola, a concentração de recursos, e as faltantes no propósito de melhorar as
condições de vida das famílias mais empobrecidas do setor rural (Ibid., p. 305). Como
explicam os mesmos autores, na prática, “os agricultores familiares que se beneficiam com
os recursos do Pronaf são aqueles que se encontram melhor inseridos no mercado” (Ibid., p.
302). Por isso, o SFN tem o desafio de implementar a política de Desenvolvimento Territorial
Sustentável (DTS), gerar novos mecanismos de aceso aos serviços financeiros em zonas
rurais e incluir o crédito rural não agrícola nas agendas das organizações que se ocupam do
desenvolvimento rural no Brasil (Ibid., p. 303).
Para enfrentar esses desafios, os autores oferecem uma mirada às lições aprendidas
sobre financiamento rural em projetos tanto nacionais como internacionais. Em primeiro
lugar, colocam um estudo realizado pelo engenheiro agrônomo André Neveu em 2001, sobre
novos modelos de financiamento “solidários” orientados para o setor agrícola, e entre os
achados destaca-se o seguinte: “a análise de diversas experiências presentes em 34 países de
diferentes continentes revela que o cooperativismo de crédito ocupa um papel estratégico,
especialmente naquelas nações que lograram estruturar serviços financeiros diferenciados
para promover o desenvolvimento agrícola e rural” (Ibid., p. 303).
Em segundo lugar, os autores mencionam as “iniciativas financeiras de apoio às
microfinanças e ao desenvolvimento territorial no Brasil” (Ibid., p. 305) entre elas o
programa de Desenvolvimento Rural Sustentável- DRS do Banco do Brasil e o sistema de
cooperativas de crédito solidário, essas últimas viraram alternativas chaves para dinamizar a
economia local.
Embora o SFN tenha deficiências na inclusão de uma parte importante dos atores
rurais como beneficiários de seus produtos e serviços, os autores indicam que podem ser
realizados ajustes no desenho institucional, por via do microcrédito rural, para ampliar as
possibilidades de participação do público potencial. Assim mesmo, os autores fazem um
balance das experiências de financiamento rural estudadas e afirmam que “apesar da fraca
articulação entre elas, cada uma apresenta “lições” para a construção de serviços financeiros
coerentes com a ótica do desenvolvimento territorial sustentável” (Ibid., p. 310). Entre os
desafios que são propostos para melhorar as ações dessas iniciativas financeiras está o de
“adotar uma governança mais identificada com as demandas e as aspirações sociais” (Ibid.).
Consequentemente, essa mudança nas relações entre os agentes financeiros e os beneficiários
do setor rural conduzirá à inovação social, um estado mais avançado do cooperativismo, a
integração social, a inserção produtiva e a articulação intersetorial.
Todavia, é notável que os créditos oficiais destinados ao setor agrícola continuam
beneficiando em um amplio margem aos produtores que têm propriedades e cujas atividades
oferecem uma estabilidade econômica, é por essa mesma ração que o capital privado investe
mais naquela parte da população. A revisão histórica feita por Belik sobre o acesso dos
agricultores aos créditos, baseando-se também nos resultados do Censo Agropecuário de
2006, lhe permitem afirmar que uma vantagem para os produtores não familiares,
especialmente os vinculados ao agronegócio é que eles “contam com alternativas aos
financiamentos oficiais, por exemplo, o crédito direto de fornecedores de insumos e das
empresas comercializadoras e processadoras. ” (p. 363), para os demais produtores, “o
volume de crédito rural colocado à disposição dos produtores ainda é reduzido em relação às
suas necessidades.” (Ibid.). Finalmente, Belik propõe “o aperfeiçoamento do sistema de
seguro agropecuário, a atenção maior aos novos mecanismos de financiamento privado por
meio de apoio indireto e a criação de novas linhas de crédito” entre outras as ações de política
pública que poderiam ser adotadas para melhorar o marco do crédito rural no Brasil.

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