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& Construções

Ano XXXVIII | # 59
Jul. • Ago. • Set. | 2010
ISSN 1809-7197
www.ibracon.org.br
IBRACON
Instituto
Instituto Brasileiro
Brasileiro do
do Concreto
Concreto

n ACONTECE NAS REGIONAIS

Novas Tecnologias do Concreto


para o Crescimento Sustentável.

Congresso técnico-científico
do IBRACON em Fortaleza

n PRODUTOS DO CONCRETO

Pré-moldados
Macrofibras poliméricas
no concreto

n NORMALIZAÇÃO TÉCNICA de concreto:


soluções sustentáveis e
competitivas para obras
ABNT NBR 15823 – Norma brasileira habitacionais, esportivas
do concreto autoadensável
|1|
e de infraestrutura
[www.ibracon.org.br]
[Concreto & Construções] |2|
sumário

21 Solucionando problemas 51 Paredes duplas


As vantagens dos sistemas Os aspectos técnicos,
pré-fabricados de concreto
industriais, de segurança
no equacionamento das
demandas habitacional, e de sustentabilidade do
esportiva e por infraestruturas sistema construtivo
industrializado conhecido
31 Avaliando fissuras e trincas por Paredes Duplas
Critérios para aceitação ou
não de estacas pré-fabricadas de concreto com
fissuras e trincas 58 Normalização técnica
Ensaios para classificação do
39 Macrofibras poliméricas concreto autoadensável preconizados
Importância da dosagem no uso de macrofibras
poliméricas no concreto na Norma Brasileira ABNT NBR 15823

44 Normalização técnica 65 Construção racionalizada


Os temas, desafios e A viabilidade técnica-
referências no âmbito das
construtiva dos pré-fabricados
discussões do texto-base
da ABNT NBR 14861 – a norma e seu controle
brasileira de lajes alveolares tecnológico rigoroso

seções
& Construções 4 Editorial
Ano XXXVIII | # 59
Jul. • Ago. • Set. | 2010
ISSN 1809-7197
www.ibracon.org.br
IBRACON
6 Converse com IBRACON
12 Personalidade Entrevistada:
Instituto
Instituto Brasileiro
Brasileiro do
do Concreto
Concreto

Sidonio Porto
n ACONTECE NAS REGIONAIS

Novas Tecnologias do Concreto


para o Crescimento Sustentável.

Congresso técnico-científico
do IBRACON em Fortaleza
27 Mercado Nacional
n PRODUTOS DO CONCRETO

37 Entidades Parceiras
Macrofibras poliméricas

Pré-moldados
56 Mantenedor
Créditos Capa:
no concreto

Arte a partir de fotos de estruturas


n NORMALIZAÇÃO TÉCNICA de concreto: 100
70 Acontece nas Regionais
74 Pesquisa Aplicada
95

soluções sustentáveis e 75

competitivas para obras


pré-fabricadas de concreto | Ellementto-Arte habitacionais, esportivas
25

82 Mercado Editorial
ABNT NBR 15823 – Norma brasileira 5

do concreto autoadensável
|1|
e de infraestrutura
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Capa Revista Concreto 59-final


segunda-feira, 30 de agosto de 2010 20:30:11

Instituto Brasileiro do Concreto


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editorial
editorial

52º Congresso Brasileiro do Concreto:


contribuindo com o desenvolvimento
da engenharia do concreto
E stamos às vésperas da realização do maior fórum aprovação desses trabalhos, o IBRACON contou com o esforço
técnico anual de debates sobre concreto no de 71 profissionais das diversas áreas correlatas.
Brasil e, quiçá, na América Latina, o 52º Con-
gresso Brasileiro do Concreto, sob a égide Já estão confirmadas as participações e apre-
das “Novas Tecnologias do Concreto para sentações técnicas de diversos expoentes da
o Desenvolvimento Sustentável”. engenharia internacional, tais como: Patrick
Poultre, de Sheerbrook/Canadá, e Robert
O Congresso Brasileiro do Concreto Stark, da Universidade do México, a res-
(CBC) vem sendo realizado des- peito de ações dinâmicas; Jacky Mazars,
de 1972, quando da fundação do de Grenoble/França, sobre modelos estru-
Instituto Brasileiro do Concreto turais; Hani Nassif, de New Jersey/EUA,
(IBRACON), nas dependências do IPT acerca de CAD e CAA; e Ernie Schrader,
– Instituto de Pesquisas Tecnológicas consultor de diversos projetos e obras de
de São Paulo. Pode-se dizer que o CBC grande porte, em Concreto Compactado com
foi responsável por parte da evolução da Rolo (CCR). Vale lembrar que diversos outros es-
engenharia civil e, em especial, dos temas pecialistas de renome participarão dos seminários
relacionados ao Concreto, ao longo desses trin- e de apresentações especiais.
ta e oito anos. Os artigos e trabalhos técnicos publi-
cados nesses 51 congressos têm contribuído significativamente O 52º CBC será realizado no Centro de Convenções Edson de Quei-
no desenvolvimento científico e tecnológico do país. Tal afirmação roz, com cerca de 15.200 m², que tem condições de abrigar, alem
é comprovada pelo reconhecimento da comunidade do concreto e das trinta sessões científicas previstas, dos quatro seminários, dos 2
pela fidelidade dos associados a cada nova edição. A freqüência ao “workshops” referentes a temas controversos, de dois cursos especí-
CBC, ano a ano, cresce a olhos vistos, assim como a participação ficos e da arena para os concursos estudantis, a já tradicional FEIBRA-
de engenheiros e professores estrangeiros. Todos os anos os recor- CON, este ano a sexta edição, ao longo dos quatro dias de duração.
des de congressistas, de resumos enviados e de trabalhos aprovados Até o momento, mais de trinta patrocinadores e expositores apóiam
também comprovam o reconhecimento ao CBC como “o” fórum téc- o IBRACON neste 52º CBC.
nico do concreto brasileiro.
Finalmente, cabe ressaltar que Fortaleza, capital do Ceará, é um
Outro aspecto a ser lembrado é o crescimento acelerado da par- dos destinos preferidos pelos turistas brasileiros e estrangeiros. Nos
ticipação de estudantes, interessados tanto nos concursos quanto últimos anos, tem havido um crescimento notável no número de vi-
nas apresentações técnicas. Por exemplo, a participação no Con- sitantes. O que torna Fortaleza e o Ceará tão atrativos são as praias
gresso é o “prêmio” de dois concursos levados a cabo durante a ensolaradas, a vida noturna agitada, a deliciosa cozinha regional,
Concreshow, em São Paulo: o ConcreteLight e o ConcretePower; no a rica cultura, o povo simpático e amigável. Fortaleza é um exce-
caso deste último, as duas melhores equipes disputarão a “final” lente local para comprar artesanato. Artistas talentosos produzem
em Fortaleza. diversos tipos de artesanato (madeira, cerâmica, tecidos), de alta
qualidade, e vendem por preços relativamente baixos, quando com-
Este ano, de 13 a 17 de outubro, em Fortaleza/CE, certamente se- parados aos cobrados no Sul do Brasil. Há diversos locais para compra
remos mais de mil engenheiros, arquitetos, estudantes e técnicos a de artesanato, mas os dois mais conhecidos, que oferecem mais pro-
discutir e trocar experiências a respeito de mais recentes tecnologias dutos e onde vale pechinchar, são o Mercado Central de Artesanato e
e metodologias construtivas e das últimas novidades em ferramentas a Feirinha da Beira-Mar.
e modelos matemáticos para cálculo estrutural; a divulgar trabalhos
realizados em escritórios de projeto, canteiro de obras e laboratórios, Esta é, portanto, uma excelente oportunidade de juntar o “útil ao
bem como as pesquisas e trabalhos desenvolvidos em universidades; a agradável”, um programa para toda a família. Contamos com a presen-
acompanhar os divertidos concursos estudantis; mas, em especial, a ça de todos para participar tanto da parte técnica quanto da diversão
encontrarmos os velhos, e fazermos novos, amigos. no 52º Congresso Brasileiro do Concreto.

Foram aprovados 477 trabalhos para apresentação nas sessões orais e Luiz Prado Vieira Júnior
pôsteres, provenientes de todas as regiões do país. Para a verificação e Diretor de Eventos - IBRACON

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Converse com o IBRACON


Victor M. de Souza Lima - Fragmentos longas horas conversando sobre religião, ele
da memória de um amigo tentando entender porque eu, judeu, não
Entramos juntos na Poli, em fins de 1946, queria me converter ao catolicismo. Creio
ele em segundo lugar, eu em nono. No pri- que, ao longo do tempo, acabou aceitando
meiro ano, em 1947, pouco falamos um com meus argumentos (identidade, tradição) e
outro. Éramos de “panelas” diferentes: ele, formou-se, assim, uma sólida base de res-
brasileiro, vindo do Colégio São Luiz; eu, peito recíproco, que permeou todo o nosso
italiano, do Colégio Dante Alighieri. Em mi- relacionamento posterior.
nha “panela’, o Dante Martinelli e o Vincen- Pouca gente sabe, mas, logo depois de nossa
zo Albanese; na dele, o Luiz Patrício Cintra formatura, o Victor trabalhou por um bre-
do Prado e o Wilson de Araújo Costa. Acho víssimo período como Engenheiro na JKMF,
que talvez o primeiro contato tenha sido as- escritório de cálculo estrutural que havia
sim: o Victor dizendo “...Mario, você que sido fundado por Julio Kassoy e por mim,
é tão bom em Física, veja se resolve esta em 1952. Mas, naqueles primeiros tempos,
dúvida”. (Eu andara tirando notas máximas a rotina de projeto era repetitiva e tediosa,
nas provas de Física e era apelidado – com e o Victor se queixava disso dizendo: “Ma-
característica ironia universitária – “o pai da rio, você precisa almejar coisas maiores:
Física”.) Não lembro se resolvi o “galho”, tornar-se especialista em vigas de grande
mas foi o começo de nossa amizade. vão, em edifícios altos...”. Não é preciso
Já a partir do segundo ano, as trocas de dizer que, daí por diante, essa frase passou
idéias foram ficando mais e mais freqüen- a nortear meus planos profissionais. Logo,
tes: “Cálculo II” (o temível Camargo, cujo saiu da JKMF para ser Assistente da Cadeira
livro de Cálculo Vetorial era apelidado de “Pontes e Grandes Estruturas” (Gravi-
“Aventuras de um vetor travesso”), “Mecâ- na) e, em seguida, da de “Resistência dos
nica Racional” (o brilhante Breves), “Física Materiais e Estabilidade das Construções”
II” (o excelente Cintra do Prado). Tivemos (van Langendonck), início de uma fulguran-
longas conversas sobre as equações diferen- te carreira universitária. Suas impecáveis
ciais da Eletrodinâmica. E com as aulas do apostilas foram fundamentais para o ensino
Prof. Telemaco van Langendonck, passou a de gerações de politécnicos
haver uma infinidade de assuntos a discutir. É dessa época o interesse do Victor pela
Nessa época, o Victor vinha freqüentemen- Teoria da Plasticidade, cuja semente ini-
te à Poli com o belíssimo Cadillac cor de cial foi plantada por uma memorável pa-
vinho do pai e me dava “carona” até em lestra proferida na Poli pelo Prof. Belluzzi
casa. A amizade começou a crescer e ele de Bologna (cujos livros-texto formaram
passou a freqüentar a minha residência na parte obrigatória de nossas bibliotecas.)
Alameda Jahú, para estudarmos juntos. À O Victor, caracteristicamente, estudou o
casa dele, na Avenida Angélica, em frente à assunto, aprofundou-o e conquistou meu
Praça Buenos Aires, fui convidado por oca- interesse, dando-me um resumido curso de
sião de um memorável jantar, que contou Plasticidade, com sua extraordinária clare-
com vatapá e com a presença musical de za. Logo, colocou-me a seguinte questão:
Inezita Barroso; era a primeira festa brasi- “O aço tem capacidade praticamente ili-
leira de que participava, visto que eu vivia mitada de plastificação, obedecendo assim
em ambiente predominantemente italiano. rigorosamente àquela Teoria. Mas, e o con-
Foi, também, nesse período, que passamos creto? Quais são suas limitações quanto à

[Concreto & Construções] |6|


converse com o ibracon
surgiram daquela mo-
tivação inicial que o
Victor provocou!
Por indicação do Victor,
fui convidado, em fins
dos anos 1950, pelo
Prof. Telemaco, para
lecionar “Exercícios de
Resistência dos Mate-
riais” a uma turma de
Mecânicos-Eletricistas,
como professor substi-
tuto. Foram dois anos
muito interessantes
para mim, pois precisei
me aprofundar (com a
preciosa ajuda do Vic-
tor) em Teoria da Elas-
ticidade, estudando
Sokolnikof, Timoshenko
e Den Hartog. Depois
de mais de dois anos
na Cadeira de Concreto
(Prof. Nilo Amaral), a
pressão do Escritório,
sendo muito grande,
eu desisti de dar au-
las. Mas ficou, por su-
gestão do Prof. Nilo, a
idéia de fazer doutora-
do. No início dos anos
1960, ainda não existia
plastificação das seções?” Incentivou-me a a análise matricial das estruturas por meio
estudar esse assunto, do que resultou, em de computadores (da qual, como veremos,
1957, um pequeno artigo que publiquei na o Victor foi um pioneiro); e a análise global
Revista do Instituto de Engenharia. Exce- dos edifícios altos para cargas laterais co-
tuando-se o Victor, que eu saiba, aqui no meçava, então, a ser efetuada com o “Mé-
Brasil, ninguém o leu; no entanto, meses todo do Meio Elástico Contínuo”. Este foi
depois, recebi do próprio Victor um enve- o tema de minha tese, na qual apliquei os
lope que havia chegado, em meu nome, princípios do Método a estruturas espaciais
no Departamento de Estruturas da Poli: com dois eixos de simetria; até então, só se
tratava-se de uma carta em francês do conhecia a análise plana. Após montar mi-
professor tcheco Milik Tichy (que acabou nhas equações diferenciais (um sistema de
tornando-se um mestre em plasticidade 5 equações lineares de 2ª. Ordem, reduzi-
do concreto), comentando o meu artigo. É das, depois, a uma única equação linear de
claro que compartilhei essa alegria com o 4ª. Ordem), precisava, uma vez integrada
Victor, meu mentor; iniciou-se uma intensa essa equação (o que consegui), fazer aplica-
correspondência, acompanhada pelo envio ções numéricas. O Victor, que acompanhava
de diversos interessantíssimos artigos do de perto meus esforços, já estava, então,
Prof. Tichy, sempre em francês com tradu- começando a trabalhar com o computador
ção russa ao lado (tempos de Cortina de IBM 1640 da USP e sugeriu-me escrever um
Ferro!). Quantas conseqüências positivas programa para poder com facilidade efe-

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tuar tais aplicações. Ensinou-me Fortran 1960), o Victor começou a estudar “Análi-
IV, linguagem com a qual escrevi a tese; se Matricial das Estruturas” (tema de sua
ajudou-me a perfurar os “decks” de cartões tese de livre-docência, em 1964.) Lembro-
e prontificou-se a levá-los à USP, para pro- me das explicações, que me dava, escritas
cessar meus exemplos. Nunca esquecerei a com precisa caligrafia e com a clareza que
emoção (minha, é claro, mas também dele), o caracterizava:.... “matriz de rigidez do
quando apareceram os primeiros resultados elemento”, “matriz de rigidez da estrutura
impressos: estavam certos!!! desmontada”, “matriz de incidência”.... Era
Enquanto escrevia minha tese (levou alguns a aurora da nova era da “Análise Matricial”,
anos e só foi defendida em 1967, diante de disciplina da qual foi, em seguida, professor
uma banca da qual o Victor participou), ele na Poli, juntamente com “Teoria dos Ele-
defendeu a dele e, em seguida, em 1964, mentos Finitos”. Logo, escreveu programas
enfrentou a livre-docência. Fui à Poli assis- para a análise de pórticos planos e grelhas;
tir à defesa. Lá estava a família do Victor, e foi, em 1964, que, prestando consultoria
lá estavam os colegas e amigos. Um dos a meu Escritório, processou, com programa
membros da banca era o Prof. Figueiredo por ele desenvolvido, um grande pórtico
Ferraz. Chegada a vez dele argüir, fez uma destinado suportar os pesados fornos elétri-
série de graves objeções e, finalmente, cos da Eletrosiderúrgica Brasileira (SIBRA),
pegou um pequeno livro, dizendo: “O que em Salvador. Foi a primeira estrutura pro-
Vossa Senhoria apresenta em sua tese está jetada em minha empresa com auxílio de
tudo aqui, neste livro russo” (o Prof. Fer- computador.
raz tinha estudado Russo). Gelei. Pensei: “o Em 1969, Victor foi a Portugal com a famí-
Victor está perdido, será reprovado!” Mas, lia. Estavam em Lisboa, quando ocorreu o
enganava-me: chegada a vez de responder, grande terremoto daquele ano, que, voltan-
ele levantou-se calmamente, rebateu ponto do ao Brasil, nos descreveu dramaticamen-
por ponto todas as questões levantadas, in- te, com minúcias. Lá teve contatos com os
formou que conhecia, sim, o tal livro russo, professores Júlio Ferry Borges, Eduardo de
mas que o que ele apresentara na tese não Arantes e Oliveira e José de Oliveira Pedro,
estava naquele livro. Ao que o Prof. Ferraz iniciando sólidas amizades e alcançando
disse: “Sabia disso tudo, mas minha inten- o merecido respeito dos portugueses, que
ção era justamente evidenciar a força do marcou profundamente toda a sua vida pro-
candidato”. Deu nota máxima, como, aliás, fissional. Visitou a Ponte sobre o Tejo (en-
deram os demais membros da banca. tão, Ponte Salazar) e trouxe ao Brasil exem-
Quando, em 1967, defendi tese, minha mu- plares do livro publicado, em 1966, pelo
lher Gabriella estava muito doente, com leu- Gabinete da Ponte, doando-me um deles.
cemia, vindo a falecer em janeiro de 1968, Em 1971, participou, na África Portuguesa,
depois de 14 anos de casados. Tínhamos 4 das Jornadas Luso-Brasileiras de Engenharia
filhos, com 13, 11, 10 e 4 anos. Foi o perí- Estrutural, experiência que, depois, com-
odo mais sombrio de minha vida. Em 1969, partilhou, como sempre com entusiasmo,
estava pensando em casar novamente, com com seus amigos.
a Ilda, que é 16 anos mais jovem. Diante de A partir do pórtico pioneiro da SIBRA, o Vic-
vários pareceres contrários, fui pedir conse- tor, paralelamente à sua brilhante carreira
lho ao Victor, cuja opinião eu prezava acima universitária, passou a atuar como consultor
de qualquer outra. Lembro até hoje os de- de diversas empresas de projeto estrutural,
talhes de nossa conversa. “Victor, eu gosto entre as quais a SERETE e, também, a JKMF.
muito dela, mas é bem mais jovem do que Em 1969, processou a meu pedido, a esbelta
eu”. “Sorte sua! Case!”, disse ele enfatica- casca poliédrica do Palácio das Convenções
mente. Foi decisivo: casei e fiquei devendo do Parque Anhembi. Tinha passado a épo-
ao amigo Victor os mais de 40 anos desse ca da tediosa rotina dos primeiros tempos,
meu feliz segundo casamento e da filha que as estruturas tornavam-se mais complexas
dele nasceu. e desafiadoras, já havendo programas po-
Nessa época (continuo falando dos anos derosos, que ele passou a dominar e que

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necessitavam do emprego dos grandes com- to grato. O curso (que discuti amplamente
putadores da época: surgiram o STRESS, o com ele, então meu Chefe) foi, creio, bem
STRUDL, o ANSYS, o SAP e outros programas sucedido, a julgar pelos muitos ex-alunos
de análise estrutural. Os diversos problemas que encontrei mais tarde em meus conta-
de meu Escritório eram, por nós, minucio- tos profissionais. Em 1974, o Victor e eu or-
samente estudados de modo a modelá-los ganizamos na FAU (onde acabei lecionando
eficientemente; o Victor se encarregava do até os meus 70 anos, em 1998) um encontro
preparo dos cartões e do processamento. nacional sobre o ensino das estruturas em
Começou com o IBM 1160 e, depois, pas- faculdades de arquitetura; gerou intensos e
sou a utilizar “mainframes” de grande por- apaixonados debates e, certamente, foi um
te, como o da Control Data e outros. Mas, divisor de águas no ensino daquelas discipli-
igualmente importante, era a cuidadosa nas pelo Brasil afora.
análise e interpretação dos resultados, que Em meados dos anos 1970, o Victor foi con-
fazíamos à noite, debruçando-nos sobre os vidado pela PROMON para trabalhar naque-
resultados numéricos e procurando dar-lhes la empresa, com cargo de Diretor. Manteve,
lógica e significado. Era a etapa necessária em tempo parcial, sua brilhante atividade
para se tirar corretamente o máximo pro- acadêmica, porém cessou a possibilidade
veito da grande massa numérica de infor- de prestar consultoria a empresas de es-
mação. Analisamos grandes viadutos curvos truturas. A JKMF começou a desenvolver
em seção caixão e passamos a dominar os programas próprios (com preciosa orienta-
problemas da torção de St. Venant, da fle- ção do Victor) e a utilizar diretamente os
xo-torção e da deformação transversal das serviços computacionais da Control Data.
seções. Os resultados numéricos enrique- Na PROMON, o Victor passou a se interessar
ciam nossa bagagem teórica, aumentando pelas grandes barragens que, naquela épo-
nossa compreensão desses problemas. ca, começavam a ser construídas no Bra-
Em 1971, o Victor era Chefe do Departamen- sil; participou ativamente dos projetos de
to de Engenharia de Estruturas e Fundações Itaipu, de Xingó e de outras usinas hidro-
da Poli, por sinal o mais jovem professor elétricas, passando a integrar a Comissão
daquele Departamento. Naquela época, Internacional de Itaipu, na qual permane-
por força da recente Reforma Universitária, ceu até o fim da vida. Escreveu importan-
as disciplinas da área de Estruturas e Fun- tes trabalhos sobre temas relacionados às
dações já eram ministradas na Faculdade barragens, pelo menos um dos quais, com
de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU), o também inesquecível Décio de Zagottis,
por professores do Departamento da Poli. do qual era colega de trabalho na PROMON
E naquele ano, estava havendo uma cri- e no Departamento de Engenharia de Es-
se na FAU, nas disciplinas ”Resistência dos truturas e Fundações da Poli. Participou
Materiais e Estabilidade das Construções” de importantes encontros sobre barragens
e “Sistemas Estruturais I”, com reprova- em Portugal e, também, na Índia, em mais
ção em massa. Sabedor de meu interesse uma de suas memoráveis viagens, que tan-
pela Arquitetura e do bom diálogo que, no to gostava de relatar aos amigos. Sabendo
exercício da profissão, eu conseguia manter que, na época, eu começava a lecionar, na
com os arquitetos, convidou-me a lecionar FDTE, um curso sobre edifícios altos, trou-
essas disciplinas naquela Faculdade: “Ma- xe-me da Índia uma foto da alta torre de
rio, a FAU é sua”, disse com o tom enfático Qtab, construída em pedra, explicava-me,
que, por vezes, o caracterizava. O desafio ao mesmo tempo da Torre de Pisa.
era grande: montar um curso de estrutu- O Victor gostava de viajar. Em 1975, haví-
ras que despertasse o interesse dos alunos, amos estado, minha esposa Ilda e eu, em
motivando-os a adquirir aquela que é uma Madrid, em companhia dele e da Nilza. Em
das ferramentas essenciais do arquiteto: a 1981, planejávamos uma viagem aos Esta-
profunda compreensão do funcionamento dos Unidos, país que ele conhecia bem, des-
estrutural. Foi um grande presente, este de sua viagem de núpcias, em 1954 (conta-
que recebi do Victor, pelo qual lhe sou mui- va ter lá conhecido o Prof. Hardy Cross!),

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mas no qual eu nunca havia estado. O Vic- Outro tema de interesse comum prendia-se
tor estudou minuciosamente os detalhes da à personalidade e à obra de Einstein; em
viagem. Em Los Angeles, primeira etapa, lá 1985, deu-me o Victor a belíssima biogra-
estavam eles nos esperando: hotel,visita a fia “Subtle is the Lord”, de Abraham Pais.
Disneyland, aluguel de carro, tudo prede- Intrigavam-no as equações da Relativida-
terminado por ele. Viagem espetacular pela de Restrita. Anos mais tarde, retomamos
costa da Califórnia, passando por Monterey o tema: havíamos lido ambos um peque-
e Carmel, até San Francisco. Lá também, no volume, escrito em 1916, por Einstein,
conhecia tudo: hotel Francis Drake, Embar- “Relativity”, e o Victor, não satisfeito com
cadero, Ghirardelli Square, Pier 31.... Até uma das deduções ali contidas, apresentou-
um musical, “Annie”, ele tinha escolhido me, nada menos, outra dedução, desenvol-
para assistirmos. E, finalmente, a última vida por ele, mais rigorosa. Isso, em 2008,
etapa, New York: hotel com vista para o quando me deu outro livro sobre a vida de
Central Park, Museum of Modern Art, Me- Einstein, de Walter Isaacson. Ele pretendia
tropolitam Museum, Museum of Natural voltar ao tema das equações de Einstein,
History, a “Frick Collection”, de que ele para novas discussões; infelizmente, não
tanto gostava, circum-navegação da ilha de houve tempo.
Manhattan, jantar no restaurante mais alto Creio que foi, em 1989, que se desligou
do mundo, numa das Torres Gêmeas. Será da PROMON, para ficar na Poli em tempo
impossível voltar a New York sem lembrar integral. Já há bom período Professor Ti-
aquela primeira, longínqua viagem em com- tular, foi, pela segunda vez, Chefe do De-
panhia deles. partamento de Engenharia de Estruturas e
No começo dos anos 1980, a minha atenção Fundações. Desta vez, era o professor mais
e a dele voltaram-se para os problemas de idoso daquele Departamento, fato que,
instabilidade, flambagem, “snap through”, divertido, gostava de comentar. Naquela
não-linearidade física e geométrica. Tive- época, foi também Presidente do Instituto
mos inúmeras conversas (sempre noturnas) de Pesquisas Tecnológicas e Pró-Reitor de
sobre esses temas, que ele dominava com Gradução da USP. Recebeu o título de Pro-
sua peculiar clareza. Eu estava projetan- fessor do Ano.
do uma estrutura particularmente alta e Em 1995, tanto o Victor como eu, estáva-
esbelta, e pretendia efetuar uma análise mos notando que nosso amigo Décio de Za-
P-Delta, por iterações manuais sucessivas gottis não estava bem de saúde. Combina-
(não havia ainda programas disponíveis mos um jantar com ele, para transmitir-lhe
para efetuá-la automaticamente). Para a nossa percepção e alertá-lo. Estávamos
verificar a precisão desse método, com- realmente preocupados e, pouco tempo
binamos que ele processaria o modelo, depois, soubemos tratar-se de doença gra-
através do programa NO-LINE ao qual tinha víssima, que acompanhamos juntos passo
acesso, para depois apresentarmos ambas a passo e que o levou à morte poucos me-
as soluções numa palestra no Instituto de ses depois, em 1996. Foi um luto profundo,
Engenharia. No entanto, não houve tem- que compartilhamos, pois o Décio era um
po para compararmos nossos respectivos nosso grande amigo, cuja falta se fez dolo-
resultados e, assim, chegamos à palestra, rosamente sentir.
cada um sem saber o que o outro tinha Em 1995, “inventamos”, por iniciativa do
encontrado: comecei apresentando minha Victor, outra palestra no Instituto de En-
metodologia e meus números, e o Victor genharia, que denominamos “Novos diá-
me acompanhava dando os números dele. logos sobre a ciência das construções”.
Fomos, assim, descobrindo, na hora, que Tratava-se de falar dos recentes progres-
os resultados praticamente coincidiam, o sos da engenharia estrutural. Resolvemos
que acrescentou “suspense” a nossa apre- apresentá-la de forma original e que pu-
sentação. Anos mais tarde, faríamos outra desse motivar os ouvintes, sem aborrecê-
palestra improvisada, esta “a 10 mãos” de los. Fizemos a palestra, iniciando-a sob
que falarei adiante. forma de diálogo entre Galileu (represen-

[Concreto & Construções] | 10 |


converse com o ibracon
tado por mim) e seu interlocutor Salviati Há três anos, escrevi um trabalho sobre
(representado pelo Victor), nobre sábio bases circulares de tubulões, que estudei
veneziano que comparece efetivamen- com elementos sólidos, utilizando o pro-
te nos “Dialoghi di due Nuove Scienze” grama SAP 2000. No processamento do mo-
do gênio pisano. Falamos da engenharia delo tridimensional que montei aparecia,
estrutural dos edifícios altos, em termos no eixo de simetria, uma singularidade nu-
apropriadamente arcaicos, referindo-nos mérica. Quanto apresentei o trabalho no
– como Galileu – aos fenômenos dinâmi- Instituto de Engenharia, o Victor ficou in-
cos (vento, sismos) como sendo “movi- trigado com aquela singularidade. Depois,
mentos violentos” e chamando os com- junto com o Ruy Pauletti, processou meu
putadores, protagonistas obrigatórios de modelo no ANSYS e, através de uma mode-
nossa palestra, como sendo “máquinas lagem diferente, eles conseguiram remo-
matemáticas”. Seguiu uma apresenta- ver a singularidade. Vieram juntos em mi-
ção sobre catedrais góticas, por Henri- nha casa, uma noite, com o “notebook” do
que Lindenberg, rebatizado, para a oca- Ruy, para mostrar seus resultados. Mudei,
sião, “Tilimontanus”, o sobrenome dele então, a estratégia de modelagem e, dias
(Linden=tílias; Berg=montanha) latiniza- depois, consegui eliminar a singularidade
do à moda renascentista. O Ruy Pauletti também no SAP, apresentando uma segun-
(“Paulus”) falou do palpitante tema da da palestra com dados mais refinados. Mais
fusão nuclear controlada, que será, um uma vez, obrigado, Victor!
dia, imensa fonte inesgotável e limpa de Abateu-o fortemente a longa doença do ir-
energia e que vem sendo estudada por mão Murilo, ao qual era afetivamente muito
físicos do mundo inteiro com utilização ligado. Contava-me de suas visitas ao hos-
de máquinas (há duas na USP) chamadas pital, do coma, dos momentos de lucidez,
“Tokamak”, uma das quais o Ruy tinha que ele vivenciava com grande intensidade
ajudado a projetar. Por fim, o Fernan- e emoção, até o falecimento do irmão, há
do Stucchi (nem sei se teve pseudônimo) poucos meses.
discorreu sobre a engenharia das pontes. Jantamos juntos, pela última vez, na casa
A longa palestra improvisada, quase uma de nossos amigos Lauro Modesto dos San-
apresentação teatral, foi um grande su- tos (também engenheiro e ex-professor da
cesso, que pudemos medir não somente Poli) e Edith, para que eu lhes apresentasse
pela reação entusiástica do público, mas o resumo de uma palestra à qual eles não
também, sobretudo, por nossa grande haviam podido comparecer. O Victor já es-
diversão em prepará-la e apresentá-la. tava muito doente, mas surpreendeu-nos,
Pediram-nos para refazê-la, mas tratava- pela grande lucidez dos comentários, que
se de evento não repetível. Creio que foi fez, como sempre, com precisão conceitu-
gravada em áudio pelo IESP. al, numa folha de papel, a lápis, com sua
Quando, em 2001, foi-me concedido, pelo bela caligrafia. O tema relacionava-se com
Instituto de Engenharia, o título de “Enge- a metodologia construtiva dos edifícios al-
nheiro do Ano”, coube ao Victor dirigir-me tos, mas ele, prontamente, mencionou um
a saudação de praxe. A solene cerimônia exemplo de situação análoga e pertinente,
realizou-se no auditório do Palácio do Go- referente à construção de barragens de
verno, com a presença do Prof. Helio Guer- gravidade, tema de sua especialidade. Faz
ra Vieira, Presidente do IESP e ex-Diretor da pouco tempo.
Poli, do Governador do Estado, Dr. Geraldo Despedimo-nos no quarto do INCOR. Aper-
Alckmin, e de grande público. O Victor pro- tou minha mão com sua firmeza caracte-
nunciou um magnífico, vibrante discurso, rística, olhou-me nos olhos e abriu seu
que me emocionou muito e que provocou o largo sorriso.
seguinte comentário do Governador: “Não Imagino-o agora entre os Eleitos, dialogando
sabia que houvesse poetas entre os enge- com Galileu e com Einstein, eternamente.
nheiros!”, frase que foi relembrada por nós, Eng. Mario Franco
com satisfação, em diversas ocasiões. Escritório JKMF – 27/06/2010 n

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personalidade entrevistada

Sidonio Nasceu em Minas Gerais, em 1940.


Formou-se arquiteto pela Faculdade de
Arquitetura da Universidade Federal de

Porto Minas Gerais – UFMG, em 1964. Veio para


São Paulo, após sua formatura, a convite
do arquiteto mineiro Raimundo Rocha Diniz,
com o qual desenvolveu diversos projetos
no estado, entre os quais: a fábrica
da Velnac, em Santo Amaro; o Edifício
Oscar Americano, na Avenida Paulista; a
urbanização da praia de Itamambuca, em
Ubatuba. Nesse período, o arquiteto já
havia se notabilizado pelo uso intensivo e
criativo do concreto pré-moldado.

Em 1976, abre escritório próprio, cujo


portfólio inclui projetos de conjuntos
industriais, shopping-centers, centros
administrativos, residências, hotéis,
garagens de ônibus, terminais de carga,
parques rodoviários, prédios de escritórios,
agências bancárias, entre outros. Foi
vencedor, em 2005, do concurso nacional
de Projetos de Arquitetura para a sede da
Petrobras em Vitória, no Espírito Santo,
concorrendo com mais de 200 projetos
inscritos, do Brasil e do exterior.

No ano passado, em comemoração aos


45 anos de sua carreira profissional,
Sidonio foi contemplado com o lançamento
de livro com seus principais projetos,
organizado pela professora da Faculdade de
Arquitetura da USP, Mônica Junqueira de
Camargo (“Sidonio Porto – Um intérprete
de seu Tempo”).

O arquiteto já recebeu vários prêmios


como o Prêmio Rino Levi do Instituto de
Arquitetos do Brasil – IAB-SP, o Prêmio
ASBEA de Arquitetura Industrial, os
Prêmios da Bticino e o Prêmio Cauê.

[Concreto & Construções] | 12 |


personalidade entrevistada
I bracon – C omo surgiu seu interesse Sidonio - Acho que isso é importante.
pela A rquitetura ? Na minha época de Faculdade, tínha-
Sidonio - Isso é uma coisa bem antiga. Eu mos muitos bons professores, e entre
sempre gostei muito de desenhar, desde eles, alguns engenheiros. Um deles,
os sete ou oito anos. Minha mãe era pro- professor de cálculo estrutural, levou
fessora de desenho, o que me estimulou, um colega de turma acabar por fazer
por um lado. Por outro, eu tinha muita a opção por ser engenheiro calculis-
atenção voltada para a construção. Quan- ta. Com a formação que teve na Fa-
do adolescente, visitei Pampulha, em Belo culdade de Arquitetura, estudou um
Horizonte, e naquele momento eu tomei pouco mais, para se especializar em
uma decisão, mas não sabia exatamente cálculo de estrutura, fazendo a opção
que aquilo era arquitetura, uma profissão de ser um calculista de concreto. Não
consolidada, definida e tal. Com melhor tínhamos o preconceito de engenheiro
informação, vendo a intensida- contra o arquiteto, mas sem-
de e a abrangência da atuação pre tivemos em mente que a
profissional, eu tomei a decisão convivência entre os profis-
de ser arquiteto. sionais seria um coisa mui-
to positiva, que deveria ser
I bracon – M as , no momento de seu levada em frente, como um
ingresso na U niversidade sentimento de trabalho
F ederal de M inas G erais , em equipe. Felizmen-
você ficou em dúvida te, desde o início como
entre a engenharia e a estudante, tive uma
arquitetura . P or que convivência muito boa
escolheu a arquitetura ? com calculistas de es-
A figura do engenheiro
Sidonio - É que, naquele truturas. Era o grande
é a do poeta da
momento, ainda persistia momento de Brasília,
estrutura, o cara que
a dúvida sobre o que seria com aquela ebulição
tem a sensibilidade para
melhor e mais adequado calcular uma estrutura.
nacionalista, nós vía-
para se atingir um certo mos o exemplo do Os-
desenvolvimento profis- car Niemeyer, que tinha
sional. Eu procurei me um contato profissional
informar bastante para muito intenso e de ami-
tirar as dúvidas. No colé- zade com Joaquim Car-
gio (Colégio Santo Antô- doso, que foi um grande
nio, em Belo Horizonte) em que calculista, além de poeta. As-
estudei, havia um incentivo em sim, a figura do engenheiro,
relação à engenharia ou à me- para nós, era a do poeta da
dicina. Mas, aí comecei a en- estrutura, o cara que tinha
trar em contato com o pessoal sensibilidade para calcular
da Faculdade de Arquitetura, uma estrutura, trabalhando
fiz um cursinho pré-vestibular com um expoente da arquite-
e minhas dúvidas se dissiparam. tura, isso nos deu uma visão muito po-
sitiva da participação do engenheiro,
I bracon – O que o senhor pensa sobre uma verdadeira parceria.
a dupla formação ? N a USP, existe um O respeito profissional é fundamental,
programa entre a F aculdade de A rquitetura pois não se faz nada sozinho, você pre-
e a E scola P olitécnica em que os alunos cisa das cadeiras técnicas: engenheiro,
cursam simultaneamente os dois cursos . É instalador, projetista de elétrica e hi-
importante ao arquiteto entender como pensa dráulica, enfim, todos eles são funda-
o engenheiro , e vice - versa ? mentais na elaboração do projeto.

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I bracon – M as , existem discordâncias ? mais nessa minha decisão de fazer ar-
Sidonio - Olha, se existem, não podem quitetura, de ser um profissional se
ser levadas muito a sério. É preciso saber possível, criador, o que me incentivou a
onde é que pode haver, eventualmente, fazer arquitetura. Agora, a arquitetura
uma discordância. Claro, se você tem um dele, a liberdade com a qual ele procura
engenheiro que tem pouca sensibilidade criar, é algo que sempre influencia, de
para as exigências de um projeto, e tam- modo geral, os arquitetos. A gente não
bém, pelo lado contrário, um arquiteto tem, obviamente, toda a liberdade que
que não tem noção daquilo que ele está o Oscar pôde ter durante seu desenvol-
querendo, se faz sentido, não há como vimento profissional, pois em geral, ele
entrar num diálogo de parceria. Dos dois fez obras de governo, palácios, obras
lados deve haver um bom conhecimen- de uma importância que transcendem
to: o arquiteto não precisa saber cal- essa coisa do dia a dia, como uma indús-
cular uma estrutura, mas tem tria, um prédio administrati-
que saber o comportamento vo, um hospital, o que seja,
do material – se é concreto, se obras que exigem um conhe-
é aço, o que seja, ele precisa cimento intenso do programa,
saber como o material se com- com restrições de economia,
porta para que se tire o máxi- etc. O Oscar pôde trabalhar,
mo proveito do material; exercendo sua liberdade
tem que ter uma noção criativa com muito mais
do que seja uma estrutu- generosidade. Você pode
ra bem equilibrada. Por fazer obras funcionais,
outro lado, o engenhei- uma obra industrial ou
ro deve ter sensibilidade A busca da uma obra comercial, e
arquitetônica e artística, personalidade da atingir níveis de grandes
para saber o que venha empresa, através da obras de arquitetura,
a ser uma solução esté- obra, é um aprendizado não é impossível, mas,
tica. Essa atitude pode que tive com quanto mais liberdade
contribuir para o seu de- o Oscar Niemeyer. você tem, maior será o
senvolvimento profissio- resultado arquitetônico
nal. Foi o que aconteceu do projeto.
com a parceria do Oscar Enfim, a influência é
Niemeyer com o Joaquim essa busca da liberdade,
Cardoso: havia um jogo da criatividade, de fa-
de reciprocidade, onde um se zer com que a obra marque a
virava para conseguir entender instituição, seja governo, seja
e interpretar o que queria o ou- empresa; essa busca da per-
tro, com todo entusiasmo, com sonalidade da empresa, atra-
todo empenho, não fazendo vés da obra, é um aprendiza-
coisas impossíveis, mas tirando do que tivemos com o Oscar;
partido daquilo. A contribuição suas obras são emblemáticas,
dos arquitetos brasileiros para o desen- tudo mundo lembra, é um ponto forte
volvimento estrutural foi muito grande na arquitetura dele.
por isso, porque havia este diálogo, que
é perfeitamente possível. Ibracon – Um dos primeiros projetos seus em São
Paulo foi a fábrica da Velnac, em 1966. Por
I bracon – Q ual foi a influência que o O scar que a escolha do pré-moldado para a construção
N iemeyer teve em sua formação e em suas desse projeto? Foi uma inovação, não?
obras ? Sidonio - Foi uma inovação. Existiam
Sidonio - Olha, a influência foi muito poucas fábricas de pré-moldado no Bra-

[Concreto & Construções] | 14 |


personalidade entrevistada
sil naquela época. Uma delas era a Ci- mas de certificação, é possível discutir
nasa, que fez as peças. Mas, essa histó- a viabilidade de uma obra pré-moldado,
ria de pré-fabricação veio muito antes, em termos de preços.
ainda na minha fase de escola, quando Por outro lado, o pré-moldado era mui-
pensávamos no desenvolvimento de sis- to pesado, porque nós tínhamos solu-
temas construtivos adequados a atender ções apenas simplesmente apoiadas, en-
às grandes demandas sociais. Por outro quanto que, no sistema convencional,se
lado, acompanhávamos algumas experi- tinha um sistema hiperestático, onde se
ências embrionárias em pré-fabricação, conseguia engastar uma viga num pilar e
em Brasília, do Oscar trabalhando com reduzir a altura das vigas em função do
o Lelé. Víamos ainda nas publicações in- vão. No pré-moldado, não. Como você
ternacionais as construções, na Europa, tinha um pilar aqui, outro ali, e uma
que eram rápidas, econômicas, em mas- viga simplesmente apoiada, essa viga,
sa; todas aquelas construções em geral, era muito alta. Se a
industriais de prédios, nos Es- viga era protendida, melhora-
tados Unidos – a arquitetura va a situação, pois ela ficava
do Breuer. Tudo isso era uma mais leve.
coisa muito recente, muito Mas, no geral, acabava fican-
nova, naquela época, e a gen- do mais caro. Assim, o pré-
te naquela busca por in- moldado, naquela época,
formação. Então, como não era muito competi-
recém-formado, decidi tivo. Por isso, demorou
trabalhar nessa linha. A história da um pouco a emplacar.
Em São Paulo propus à pré-fabricação
Velnac que fosse um pro- começou no meu I bracon – E ssas foram ,
jeto todo feito em pré- tempo de faculdade, então , as dificuldades
fabricado de concreto. onde acreditávamos que o senhor teve para
E aconteceu. Apenas os que tínhamos que convencer o cliente
escritórios da fábrica não desenvolver sistemas do prédio da CBPO a
foram executados, cujas construtivos adequados construir todo o prédio em
fachadas com módulos em a atender às grandes pré - moldado ?
desenhos especiais, de- demandas sociais. Sidonio - Sim. Eu queria
pois foram reproduzidos construir todo o prédio
nas fachadas do prédio em pré-moldado, inclu-
da Companhia Brasilei- sive a estrutura, o que
ra de Projetos e Obras – CBPO era uma coisa inédita no Brasil
(Prédio Oscar Americano). naquele tempo: um prédio de
16 pavimentos pré-fabricado.
I bracon – E por que foi uma Isso não consegui, somente as
inovação ? fachadas, o que foi uma vitó-
Sidonio - Havia muita oferta ria na época: foi difícil che-
de mão-de-obra não especia- gar ao ponto de equilíbrio, as
lizada no Brasil. A construção com um peças eram muito grandes, muito pesa-
sistema artesanal – com fôrmas e esco- das, e aí, foram afinando, recalculan-
ramentos na obra – utilizava essa mão- do, usando agregados leves, até que se
de-obra barata e farta, com resultado conseguiu chegar ao módulo final para
final mais barato. Quanto ao pré-molda- compor a fachada. Logo depois, a em-
do, o convencimento vinha pela questão presa que fez as peças, a Otalício Rodri-
do acabamento do concreto, da rapidez gues Lima, com essa experiência, pôde
de execução. Hoje, com a dificuldade de repetir em outros edifícios as peças de
mão-de-obra, custo de madeira, proble- fachadas com desenhos similares.

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I bracon – D o ponto de vista arquitetônico , Sidonio - Por causa dos princípios tra-
que vantagens traziam os pré - moldados na zidos pela construção industrializada.
fachada ? A construção artesanal, com fôrmas de
Sidonio - Na época, o que estava em madeira feitas na obra, pontaletes de
moda era a fachada envidraçada. Que- madeira e toda a parafernália necessá-
ríamos sair daquilo, porque já tínhamos ria, nós já tínhamos consciência, na épo-
consciência, naquele momento, de que, ca, de que era uma coisa pouco susten-
num país tropical, um prédio com facha- tável e pouco racional, embora a conta
da toda envidraçada, sem as devidas pre- na ponta do lápis indicasse que aquilo
cauções, não é adequado; pelo menos, era ainda mais viável economicamente.
não em todas as fachadas – você pode ter Tínhamos o exemplo de países – Estados
uma fachada sul em vidro, com vidro la- Unidos e Europa – que estavam buscan-
minado ou de baixa emissão, para o caso do a industrialização da construção. A
de, na incidência de muita luz construção industrializada,
e sol, o vidro corrigir. Mas, um seja de aço ou concreto, é
prédio com as quatro fachadas mais lógica, porque não usa
em vidro é inviável, porque fica fôrmas nem escoramentos,
muito quente, requer muito ar permitindo uma construção
condicionado e o custo de ener- mais limpa, mais rápida, va-
gia torna-se muito eleva- riáveis que se encaixam
do. hoje dentro do concei-
Neste aspecto, a própria to de sustentabilidade.
arquitetura industriali- Na época falávamos em
zada já entrava no con- ecoeficiência, racionali-
A arquitetura
ceito que hoje chamamos dade. A primeira vez que
industrializada
de sustentabilidade, por- ouvi a expressão ‘casa
entra no conceito de
que também ela gera me- ecológica’ foi no ter-
sustentabilidade, porque
nos desperdícios e requer ceiro ano de faculdade,
gera menos desperdícios
uma mão-de-obra mais e requer mão-de-obra
numa aula de história
especializada. especializada. da arquitetura, ilustra-
Então, quais as contri- da por uma casa colonial
buições que esta solução brasileira, uma constru-
traria? Primeiro: evita- ção do século XV ou XVI,
mos o prédio todo en- com grandes beirais, pé
vidraçado. Segundo: a direito alto, com estru-
forma dos módulos da facha- tura independente de madei-
da cumpria a função de redu- ra, como se fosse pré-fabri-
zir a superfície envidraçada e, cada, que depois era fechada
também, o próprio desenho do com adobe ou pau-a-pique;
módulo já trazia uma redução enfim, um sistema muito ra-
da incidência de sol (efeito de cional: fazia-se o esqueleto
quebra-sol). Terceiro: a ques- da estrutura independente-
tão estética, achávamos que, por ser um mente; depois vedavam-se os vãos com
elemento com aquele formato, traria outro elemento; depois vinha a cober-
uma personalidade ao prédio, diferente tura com grandes beirais, protegendo
dos demais. contra o sol e a chuva, com ventilação
cruzada - uma casa ecológica, de acor-
I bracon – O k , com relação às razões para do com o meio ambiente, com o clima,
a fachada , mas , por que sua concepção feita racionalmente, com uma lógica
original de querer construir todo o prédio construtiva exemplificativa de como
em pré - fabricados de concreto ? construir racionalmente, transplantada

[Concreto & Construções] | 16 |


personalidade entrevistada
para o nosso tempo para a construção lizado, melhor’, a gente, por exemplo,
pré-fabricada em aço e em concreto. passou a usar lajes como painéis de ve-
dação, aí a indústria passou a oferecer
I bracon – O que levou à multiplicação de aquilo como uma coisa normal.
obras pré - moldadas no país ?
Sidonio - No início, a construção artesa- I bracon – P uxando este conceito que
nal era mais viável, mas, com o tempo, o senhor usou de que ‘ quanto mais
houve uma sofisticação das construções, industrializado , melhor ’, eu perguntaria :
principalmente com o concreto aparen- por quê ?
te, na área bancária, onde participei ati- Sidonio - Pois é, eu acredito que ‘quanto
vamente, as fôrmas chegaram a um nível mais industrializado, melhor’, desde que
de sofisticação que encareciam dema- a industrialização traga o equilíbrio de
siadamente a obra – fôrmas em grelhas, custo-benefício ideal. Em princípio, o in-
com nervuras, com ranhuras, dustrializado tende a ser racio-
com detalhes; a coisa começou nalmente produzido, porque é
a ficar muito preciosa e, com produzido numa indústria, que
isso, aquilo começou a ficar procura ter condições mais fa-
inviável em termos de mão- voráveis e econômicas de pro-
de-obra convencional (eram dução, inclusive com maior
verdadeiros marceneiros controle de qualidade.
a fazer aquelas fôrmas, Você tem a possibilida-
não vou nem chamar de de de fazer do canteiro
carpinteiros!). Então, na- de obras uma área de
turalmente, teve que se montagem – o exemplo
partir para a industriali- Quanto mais que eu dou, inclusive, é
zação das peças, buscan- industrializado, o da indústria automo-
do melhor acabamento. melhor, desde que a bilística, porque ela é
industrialização traga praticamente uma mon-
I bracon – Q uais as o equilíbrio de tadora: ela recebe peças
influências de arquitetos custo-benefício ideal. de vários produtores, em
e de concepções outros países, inclusi-
arquitetônicas que o senhor ve, e monta, criando um
vê em suas obras com pré - produto. Nesse sentido,
moldados ? você tem uma melhoria
Sidonio - Inicialmente, de mão-de-obra, as obras
tive uma influência do Breuer, saem mais perfeitas, mais bem
arquiteto alemão que emigrou executadas, mais rapidamente
para os Estados Unidos. Houve executadas, e evita, em con-
essa influência, por exemplo, seqüência, grandes desperdí-
na obra da CBPO. Nas demais cios que ocorrem nos cantei-
obras, o que ocorreu é que os ros de obras tradicionais. No
próprios pré-moldados já vie- Brasil, até há pouco tempo,
ram com soluções padrões de lajes, vigas você tinha um desperdício de 30 a 38%
e pilares da Europa e dos Estados Uni- em relação aos materiais, era uma perda
dos. O que fizemos foi procurar adequar enorme. Fora a insegurança dos cantei-
essas soluções às nossas condições aqui, ros de obra, que hoje melhorou muito.
no Brasil. Vieram as soluções de painéis, Um canteiro de obra com maior índice de
que procuramos utilizar dentro de uma industrialização, se torna mais racional,
linguagem que consideramos moderna e mais seguro, gerando economia na ca-
adequada às suas finalidades. Dentro do deia final, o que está dentro do discurso
conceito de que ‘quanto mais industria- da sustentabilidade.

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Por outro lado, tem a questão da ra- se consegue. Então, a industrialização
pidez da construção, o que impacta a da construção chega sob medida para
questão do financiamento: quanto mais estes programas, ganhando em qualida-
rápido você fizer a obra, mais barata a de e rapidez.
obra fica. Você pode mensurar melhor a Agora, é importante que os sistemas
questão do custo: se você faz uma enco- sejam suficientemente abertos, permi-
menda fechada a uma indústria, você já tindo uma disponibilidade maior de ma-
sabe o quanto vai custar. Tem uma pre- teriais e de soluções, onde a cobertura
visibilidade de prazos e de custos. é fornecida por uma empresa diferente
Isso tudo soma em favor da industriali- daquela que fornece a estrutura, pro-
zação na construção. piciando uma certa intercambialidade
Em contrapartida, na construção artesa- entre os elementos. Por exemplo, tenho
nal, você tem uma maior falta de con- mostrado em palestras essa questão do
trole; às vezes, até uma coisa casamento de soluções: mol-
criminosa de querer economia dadas “in loco”, pré-fabrica-
na obra, economia de cimento, das de concreto, estruturas
o que torna mais difícil garan- em aço. Porque este intercâm-
tir qualidade numa obra assim, bio facilita a construção, você
feita tradicionalmente. Na in- não se limita – não vou usar
dústria, não. Você tem a o concreto pré-moldado
presença mais marcante aqui porque esta peça
do profissional em todos eu não consigo fazer.
os níveis, tem os respon- Antigamente, as solu-
sáveis com algo a perder ções de cobertura eram
se houver um problema. Nos grandes muito pesadas, porque
O produto é mais confi- empreendimentos, nós usávamos o concre-
ável, porque os contro- quanto mais controles, to pré-moldado; hoje,
les são mais eficazes. que são facilitados a gente faz a estrutura
No final, você tem um com a industrialização, em pré-moldado de con-
lucro social com isso. Se maiores os ganhos. creto, eventualmente as
estamos falando de uma vedações em concreto, e
construção em massa, se a cobertura em aço. Que
aquilo tem um problema, dizer: usamos os dois
o prejuízo é muito gran- sistemas, tudo mundo
de e em todos os senti- fica satisfeito e se re-
dos. Por isso, nesses grandes solve bem a questão. Eu acho
empreendimentos, quanto que esse espírito da parceria
mais controles, que são facili- é fundamental, essa abertura
tados com a industrialização, para você poder intercambiar
maiores os ganhos. Esse é meu sistemas e soluções.
ponto de vista.
Ibracon – Quais são os fatores que
I bracon – E ntão , o B rasil deve buscar a limitam, no Brasil, a maior industrialização do
industrialização da construção como solução processo construtivo hoje?
racional para os programas do G overno Sidonio - Acho que é ainda a questão
F ederal – o PAC e o M inha C asa M inha Vida ? dos custos, das distâncias. O Brasil é um
Sidonio - Sem dúvida, porque você aten- país muito grande. Temos regiões muito
de com isso qualidade e prazo. Nós te- afastadas – como a Amazônia – onde, às
mos um déficit de milhões de moradias, vezes, torna-se muito difícil entrar com
e para cumprir um programa deste leva os pré-moldados como solução. Mas, isso
tempo; com a construção artesanal, não é imponderável: uma obra minha foi to-

[Concreto & Construções] | 18 |


personalidade entrevistada
talmente montada em Vespasiano, perto de ventilação e com custo razoável (cla-
de Belo Horizonte, com suas peças feitas ro, não é o custo de um ‘caixote’!) e que
aqui, em São Paulo, a 600km de distância. cumpriu a finalidade. O cliente queria
Hoje, talvez, ela não se viabilizasse, mas, uma obra marcante, e eu, por conta dis-
naquele momento específico da economia so, não fiquei limitado a um só sistema:
brasileira, ela se viabilizou. A distância fazer tudo metálico, ou em concreto
entre a indústria e a obra, no geral, não aparente, não; eu procurei usar os ma-
pode ser muita, pois o transporte tira teriais mais adequados em cada ponto
uma parcela do resultado positivo. da obra. Este é o ponto: o arquiteto não
Existe ainda, evidentemente, a questão pode se limitar, se ele não tem essa ver-
do desconhecimento, não só por parte satilidade de usar várias soluções, ele
do cliente, das construtoras, mas, mui- fica realmente limitado; mas, com cria-
to também, por parte dos arquitetos, tividade, você faz até um palácio com
que não veem o pré-moldado pré-fabricados. O fato de ser
como uma possibilidade, uma pré-fabricado não significa,
solução construtiva. Por ou- enfim, que seja uma coisa com
tro lado, muitos arquitetos características essencialmen-
veem a pré-fabricação como te industriais.
uma limitação à liberdade de Outra questão sempre presen-
criação. Mas, isso não é te é a dos custos. Por
100% verdadeiro. Claro exemplo: num projeto
que o pré-moldado não recente de um posto mé-
tem a flexibilidade do dico, queria a solução de
concreto moldado no lo- quebrassóis em concre-
Escolhendo o material
cal, porque este permi- to pré-fabricado, já que
de acordo com a
te peças em curvas e di- finalidade, pode-se
a estrutura era toda em
versos formatos. Porém, conseguir a criatividade, concreto pré-fabricado;
com criatividade, dentro a praticidade, de como o volume era pe-
de um princípio de racio- uma maneira equilibrada queno (uma média de
nalidade, você pode usar na obra. 2000m2 cada um), não se
o pré-moldado de uma tornou viável fazer um
maneira satisfatória. pré-fabricado aqueles
Eu acho que escolhen- elementos em pré-fabri-
do o material de acordo cado, o que me levou a
com sua finalidade, você fazê-los em aço, porque
pode conseguir a criatividade, é algo mais artesanal, possível
a praticidade, de uma maneira de fazer numa metalúrgica. A
equilibrada na obra. Mas, se coisa esbarra sempre no custo.
você quer um sistema fechado Talvez fosse viável, se o posto
– eu quero o pré-moldado do de atendimento fosse repro-
princípio ao fim – aí você fica duzido em vários municípios, o
limitado aquele receituário; que justificaria a produção das
no entanto, se você fizer, por exemplo, fôrmas para os pré-fabricados. Tem que
como na Ipel, a estrutura e a vedação em ter volume, escala. Hoje, os programas
concreto pré-moldado, a cobertura, me- do Governo Federal se justificam em pré-
tálica com curvas e soluções em ‘shed’ fabricados, porque têm volume.
(que permite uma iluminação perfeita,
com vidros adequados, laminados, que I bracon – Q uais foram as obras mais
diminuem a incidência de sol), fica uma marcantes em pré - moldados em sua carreira
combinação esteticamente bem resolvi- profissional ?
da, adequada em termos de iluminação, Sidonio - A obra da CBPO, de 1968,

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marcou bastante porque foi uma obra viga de 50m de comprimento foi usada
na Avenida Paulista, num momento em várias vezes nela: ela foi pré-fabricada
que se buscava prédios envidraçados. na obra, numa fôrma de aço preparada
Vamos de um extremo ao outro: neste no canteiro de obras, e depois içada; eu
estariam as obras que tenho feito para procurei repetir para justificar o cus-
a Petrobras, onde procurei marcar com to daquela viga, o que foi um a solução
a industrialização a questão da susten- inédita em contrução civil naquela épo-
tabilidade, porque a Petrobras é muito ca, no Brasil.
preocupada com isso. Um dos argumen-
tos que tive para que aceitassem o ní- I bracon – P or que nesta obra para a Viação
vel de industrialização proposto foi o da Itapemirim o senhor passou de uma concepção
sustentabilidade, como também o da ra- de estrutura metálica para uma concepção de
pidez na execução, do bom acabamento estrutura em pré - moldados ?
das superfícies e dos elemen- Sidonio - Na minha busca de
tos. Foram várias obras para a fazer experiência com novos
Petrobras, onde conseguimos materiais, que tem sido uma
imprimir essa característica da atitude muito constante em
industrialização. minha trajetória, a intenção
Outro projeto foi o para a Via- inicial era fazer a obra em
ção Itapemirim, no meio aço, porque se achava
desse caminho, em 1979. que, pelo volume e pelo
Foi um projeto marcan- prazo, era viável; mas a
te para mim porque num idéia não se viabilizou,
momento de virada: eu na época, o Brasil não
estava fazendo muitos Nas obras que fiz fazia os perfis que ve-
projetos para a área fi- para a Petrobras, mos hoje. O que fez com
nanceira, onde deixei um procurei marcar com que partíssemos para a
pouco de lado a questão a industrialização idéia do pré-moldado,
da industrialização da a questão da que, eu tinha certeza,
construção (os projetos, sustentabilidade. até pelas experiências
em concreto aparente, passadas, que poderia
eram muito diferentes resolver os problemas.
uns em relação aos ou-
tros); quando entrou esse Ibracon – D e que forma
projeto da Itapemirim, entidades como o IAB,
um projeto muito grande, onde IBRACON e ABCIC podem
era possível viabilizar a obra contribuir para a industrialização
com o concreto pré-fabricado, da construção ?
retomei projetos, a partir daí, Sidonio - Acho que quanto
com a utilização intensa do mais interrelação, melhor
pré-fabricado. A obra foi tam- para todos. Quanto mais os
bém muito importante para grupos e os profissionais se
a época, porque, a partir dela, parece conhecerem e se comunicarem melhor,
que houve uma intensificação do uso do pois os profissionais ficam conhecendo
pré-fabricado. É uma obra muito visível as possibilidades e os limites e é assim
na Dutra. Nela, eu consegui fazer pra- que se resolvem as questões. Neste sen-
ticamente tudo em pré-fabricado. Mas, tido, as publicações de projetos mar-
você olhando o prédio, não acha que é cantes abrem portas para os dois lados:
feito de estrutura pré-fabricada; você para o cliente, para quem executa e
apenas vê que é, quando você entra. para o arquiteto. É importante que haja
Esta obra é emblemática porque uma essa comunicação. n

[Concreto & Construções] | 20 |


solucionando problemas
solucionando problemas
construção industrializada

Industrialização em
concreto – solução para
o desenvolvimento
habitacional
David Férnandéz- Ordónez - Professor Doutor e Coordenador
Universidade Politécnica de Madrid
Grupo de Habitações Econômicas no âmbito da Comissão 6 de Pré-fabricados
da fib (federação internacional do concreto)

Íria Lícia Oliva Doniak – Diretora e Membro


Abcic (Associação Brasileira da Construção Industrializada em Concreto
Comissão 6 fib e do Grupo de Habitações Econômicas

1. INTRODUÇÃO e de manutenção. O presente artigo traz

N
o mundo todo, há uma necessida- uma síntese dessa abordagem da fib, apre-
de crescente para a construção sentando também soluções desenvolvidas
habitacional, que tem acontecido e disponíveis no Brasil.
de forma exponencial nas últimas décadas,
principalmente nos países em desenvolvimen- 2. Diretrizes gerais
to, onde a população tem uma taxa de cres- para uma
cimento elevada, sem falar da migração da construção
população das zonas rurais para as cidades, industrializada
gerando uma maior concentração urbana. de qualidade
A Comissão de pré-fabricação da fib A UNESCO estabelece que o direito de
(Fédération Internationale du Béton - Fe- moradia para uma pessoa e sua família é
deração Internacional do Concreto), cons- uma condição para a cidadania. A Declara-
ciente do problema, decidiu criar um grupo ção dos Direitos Humanos estabelece que
de trabalho para desenvolver um docu- todas as pessoas têm o direito a um nível
mento sobre habitações pré-fabricadas de de vida adequado e estabelece a moradia
concreto. Por ser uma questão social, o dentro deste contexto.
problema deve ser tratado além das ques- As condições de moradia digna devem pre-
tões técnica e de negócios, abrangendo ver a proteção contra chuvas e condições ad-
requisitos de desempenho do ambiente versas, o isolamento térmico e as instalações
construído, de rapidez e economicidade, sanitárias adequadas, além das condições de
no sentido de propor soluções que possam segurança requeridas das habitações.
ser executadas com rapidez, mas que asse- A industrialização da construção, por
gurem a qualidade e o custo de construção meio da pré-fabricação, é uma alternativa

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viável para a construção de moradias dignas a qualidade do ambiente construído passa
em grande escala, na medida em que busca a estar integrada. O desafio é de garantir
racionalizar a construção de habitações, o que, neste momento de transição, no qual
que possibilita, por um lado, a construção as normas estão sendo revisadas ou introdu-
de uma grande quantidade de moradias em zidas, os sistemas construtivos estão sendo
curto prazo e, por outro,a otimização de validados, a demanda seja atendida com a
processos e do uso adequado dos materiais qualidade requerida, a fim de que passivos
para a construção. não venham a ser gerados. Neste contexto,
Existem muitos exemplos de sistemas a industrialização da construção e, em par-
industrializados por todo o mundo que uti- ticular, a pré-fabricação em concreto, se
lizam a pré-fabricação com elementos de apresenta como uma possibilidade real de
concreto. Ainda assim, se faz necessário se alcançar as metas de custo, de prazo e
ampliar e divulgar o conhecimento relativo de qualidade requeridas, vencendo, inclu-
a esses sistemas, pois em muitas partes do sive, a carência da mão de obra.
mundo esses sistemas são desconhecidos. Existem vários níveis de complexidade
Primeiramente, a industrialização da na industrialização da construção: desde
construção deve ser entendida como o re- sistemas pré-fabricados de ciclo fechado
sultado da aplicação da tecnologia à pro- (completamente pré-fabricados) até siste-
dução (engenharia de processos) e ao pro- mas abertos (que permitem composições
duto (engenharia do produto) mistas com diferentes materiais e tecno-
Em segundo lugar, é de vital importân- logias distintas, abrindo inúmeras possibi-
cia ter em conta as possibilidades técnicas lidades de projeto).
da construção industrializada em cada re- Por sua vez, o concreto é um material
gião. Para isso, importa considerar, por um que apresenta inúmeras vantagens para as
lado, a capacidade de equipamento de pro- construções habitacionais: sua maior dura-
dução, de transporte e de montagem, para bilidade implica menor custo de manuten-
a definição de elementos a serem utiliza- ção; seu bom desempenho térmico pode
dos nas construções habitacionais; e, por ser associado à sua função estrutural; sem
outro lado, a capacidade e a infraestrutura contar também o bom acabamento possibi-
da região, que podem limitar a solução a litado pela tecnologia
ser adotada em cada região.. Tendo em conta esses aspectos, a Co-
Outra diretriz para a adoção de solu- missão de pré-fabricação da fib realizou
ções em sistemas industrializados para a um trabalho de investigação, de busca e de
construção diz respeito à grande variabi- desenvolvimento das soluções disponíveis
lidade de custos e de disponibilidade de em pré-fabricação de concreto, no sentido
materiais de construção. Nesse sentido, de contribuir para a solução do problema.
deve-se buscar sempre a tecnologia mais Os trabalhos foram selecionados com base
adequada para cada situação. em sua tipologia, localização geográfica,
A industrialização é interessante na capacidade técnica e econômica necessá-
medida em que é um meio para harmoni- rias para a construção.Iniciado em 2004, o
zar a construção, a indústria e o resultado trabalho está atualmente em fase de con-
final da obra construída.O uso eficiente dos clusão.. Por ter âmbito geográfico mundial,
materiais devem ser combinados com uma o estudo inclui soluções pré-fabricadas dis-
utilização estrutural que assegure a dura- poníveis no Brasil.
bilidade das habitações.
Considerando os aspectos mencionados, 3. SISTEMAS
o Brasil vive um momento privilegiado, BRASILEIROS
porque sua política habitacional voltada CADASTRADOS
para os segmentos de baixa renda baseia- Em paralelo ao desenvolvimento da Co-
se não apenas em aspectos financeiros e de missão de pré-fabricados fib, no Brasil, a
viabilidade técnica, mas também na racio- ABCIC (Associação Brasileira da Construção
nalização dos processos construtivos, onde industrializada de Concreto), através de

[Concreto & Construções] | 22 |


solucionando problemas
seu comitê Habitacional, tem estruturado
importantes ações a fim de incrementar a
industrialização no contexto das políticas
habitacionais propostas pelo governo. O de-
safio local reside na falta de mecanização
dos canteiros de obras, na carga tributária
elevada, quando comparada com sistemas
convencionais , e no caráter inovador do
processo construtivo industrializado, ,que
ainda carece de maior elucidação perante
agentes financeiros, embora existam obras
no país com mais de 20 anos que adotam
o sistema construtivo e se apresentam em
excelente estado de conservação.
Por outro lado, ainda que tenham ocor-
rido, por parte de empresas tradicionais
do setor de pré-fabricação, investimentos
em ampliações, inovação e desenvolvimen-
to tecnológico, ainda há necessidade de
ajustes culturais, ao se comparar nosso
contexto com o dos países desenvolvidos.
Há capacidade de produção, de tecnologia,
de materiais e de possibilidades de combi-
nação de diferentes sistemas construtivos,
Sistema em pré-fabricado com adoção de painel
mas barreiras precisam ser transpostas, maciço e painel alveolar
para favorecer essa evolução. A Comunida-
de Tecnológica tem apoiado o desenvolvi- em conjunto, de placas maciças de concre-
mento da industrialização. to e placas alveolares.
Segundo ARROYO, professor do depar-
tamento de construções e tecnologias ar- Processo
quitetônicas da Escola Técnica Superior de O sistema se viabiliza através da utilização
Arquitetura de Madri (Espanha), “a indus- de um núcleo rígido central, composto por
trialização é a única maneira de driblar a placas maciças e escadas pré-fabricadas,
crise econômica e contribuir com a susten- que já sai pronto da fábrica.
tabilidade. O futuro equilíbrio entre as ne- Após a montagem do núcleo no local da
cessidades sociais e de mercado deve ser obra, são posicionadas outras três placas
construído através de uma nova indústria maciças com função estrutural:duas late-
da construção”. Entre os benefícios da in- rais e uma central.
dustrialização da construção, citam-se: a Logo em seguida, tem início a montagem
melhor qualidade dos produtos; a maior dos painéis alveolares, com função de ve-
produtividade; a criação de empregos mais dação, nas fachadas do edifício. Estes ele-
estáveis; as condições mais seguras de tra- mentos servem também para travar as pla-
balho; a redução de desperdícios; entre cas maciças.
outros. Na próxima etapa as lajes alveolares são
No Brasil, para atender a essa demanda posicionadas em cima das paredes maciças
e cadastrados junto à fib, temosos sistemas (placas maciças)..
abaixo descritos. Esta seqüência é repetida a cada andar até
a completa montagem da estrutura pré-
1) Painel Maciço e Painel Alveolar fabricada do edifício.
Desenvolvido com o objetivo de viabilizar Após a entrega da estrutura pré-fabricada, a
a construção de edifícios residenciais em construtora responsável pela complementa-
estrutura pré-fabricada, com a utilização, ção da obra deverá executar os serviços de

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acabamento, como as divisórias internas em
Dry-Wall, a vedação com esquadrias e pla-
cas cimentícias entre os painéis alveolares
das fachadas, serviços de elétrica, hidráuli-
ca, incêndio, gás, ar condicionado, pintura,
cerâmica e acabamentos em geral.

Vantagens
n Qualidade Assegurada (Durabilidade,Re
sistência,Estética);
n Sistema Construtivo Modular adaptável
às necessidades da arquitetura proposta
para a edificação e compatível, na inter-
Sistema com adoção de paredes duplas, durante
face, com projetos complementares; a montagem
n Produtividade: totalmente industria­
lizado – as peças são produzidas Outro ponto a ser destacado no sistema
na indústria e montadas na obra); de paredes duplas é a possibilidade dessas
velocidade;atendimento a cronogramas. serem entregues com as caixas elétricas
instaladas, assim como com os pontos hi-
2) Paredes Duplas dráulicos. Os conduítes e tubos hidráulicos
As paredes duplas consistem em duas pla- também são instalados entre as placas du-
cas de concreto armado, unidas por treli- rante o processo produtivo, evitando, as-
ças de aço. Elas podem ser utilizadas para sim, que paredes sejam rasgadas na obra e
a produção, desde casas de pequeno porte que material seja desperdiçado.
até edifícios multi-pavimentos. O sistema
confere à construção um acabamento ex- 3) Painéis e Lajes pré-moldadas
celente, mas também permite que outros Consiste na industrialização da constru-
sistemas sejam mesclados a ele. ção, através da utilização de paredes e la-
jes pré-moldadas de concreto armado com
Montagem um vazio interno, que proporciona ventila-
O sistema todo é baseado na união entre as ção entre as faces, baixando a umidade e
paredes duplas e a pré-laje treliçada, com demonstrando-se eficaz no isolamento tér-
a finalidade de forro ou piso, onde, após mico e acústico (“plenun”).
montada a laje,os vazios entre as placas Destina-se à construção de residências
das paredes duplas são concretados, cons- e edifícios horizontais e verticais, tendo
tituindo, assim, uma estrutura monolítica. como principais benefícios a alta produti-
vidade, o aumento da qualidade e a dimi-
Vantagens nuição dos custos.
O excelente acabamento e o alto grau de
precisão das peças são devidos ao sistema Componentes do sistema
produtivo automatizado. A produção acon- n Fundações com radier moldado “in loco”
tece em um sistema circular, onde uma ou profundas, em função do tipo de edi-
central controla todo o processo. As formas ficação e das condições do terreno;
são aferidas através de lasers; o concreto é n Painéis de paredes pré-moldados com
distribuído automaticamente, assim como “plenun” interno, com espessura variá-
todo o sistema de cura das peças. vel conforme projeto;
Podem ser agregados às paredes duplas n Lajes pré-moldadas ;
materiais que proporcionem um ótimo n Cobertura com diversos tipos de telha;
isolamento térmico e acústico. A adição n Instalações elétricas e hidráulicas em-
desses materiais pode, inclusive, reduzir butidas nos painéis de parede;
o valor final de uma casa construída com n Caixilhos e outros acabamentos podem
este sistema. ser aplicados na própria fábrica.

[Concreto & Construções] | 24 |


solucionando problemas
ceber as cargas das lajes e transmiti-las
à fundação, em um modelo estrutu-
ral específico, com capacidade de resistir
aos esforços da estrutura e do vento.
Componentes do sistema
n Painéis externos e internos em concreto;
n Pré-lajes;
n Capeamento e arremates.
Incorporam todos os detalhes da parede
acabada, ou seja, elementos arquitetô-
nicos, inserts, instalações elétrica e hi-
dráulica, o que torna a obra mais ágil e
racionalizada.
Montagem de painéis do sistema industrializado
lajes e painéis
Os detalhes de junção dos painéis são pro-
duzidos de forma a permitir a estanqueida-
de em relação à entrada de água e a soli-
O sistema pode ser dividido em três etapas: darização entre os elementos do sistema.
A) Implantação da unidade de produção no
próprio canteiro ou isoladamente, com 4. CONCLUSÕES
assessoria da empresa; A crescente demanda por habitações
B) Produção e acabamento das peças pré- nos países emergentes enseja urgência
fabricadas na fábrica, incluindo proje- de construções com custo acessível. Mui-
to, fabricação, instalação de elétrica e tos são os intervenientes até que se ob-
hidráulica, colocação de caixilhos, pré- tenham resultados efetivos. Dentre as so-
pintura e embalagem; luções que podem facilitar esse processo,
C) Transporte, montagem e acabamento está a industrialização da construção. A
final: transporte até o local da obra, pré-fabricação em concreto apresenta
onde as fundações já devem estar pron- muitas vantagens em relação aos sistemas
tas; montagem das peças com ajuda de construtivos tradicionais.
caminhão munk ou guindaste, conforme A Comissão de pré-fabricados fib de-
porte da obra; instalação do telhado, cidiu, há alguns anos, criar um grupo de
pintura, acabamento final e entrega. trabalho que pudesse reunir a experiência
acumulada em diversos países, a fim de po-
4) Painéis Portantes der elaborar uma publicação que seja re-
Os painéis têm função de vedação e de ferencial no mundo todo, para possibilitar,
estrutura, sendo responsáveis por re- por um lado, o intercâmbio e a troca de
experiências que possam levar soluções a
países que ainda não dispõem dessa práti-
ca construtiva industrializada. e, por ou-
tro, propiciar discussões que agreguem
valor, pela melhoria contínua dos sistemas
existentes, incluindo o desenvolvimento de
novas tipologias.
Este trabalho deverá estar concluído
até o próximo ano. Os sistemas brasilei-
ros cadastrados no material estão alinha-
dos com a mais alta tecnologia em pré-
fabricação, bem como com a capacidade
produtiva capaz de atender as demandas
atuais e futuras.São consideradas também
Aspecto geral do empreendimento,
em fase final de construção, com a adoção de as possibilidades de construções mistas na
painéis portantes viabilização dos empreendimentos.

| 25 | [www.ibracon.org.br]
Um grande número de soluções técni- desses sistemas são a elevada resistência
cas e sistemas desenvolvidos pela indús- e durabilidade e a resistência ao fogo. A
tria de concreto pré-moldado, podem ser melhor solução será determinada através
agrupados em número reduzido de siste- do custo x benefício, levando em consi-
mas básicos. Dessa forma, diferentes so- deração as condições específicas de um
luções podem ser citadas a exemplo das
determinado empreendimento.
referenciadas neste artigo.
A pré-fabricação em concre-
to pode ser usada para todas as ca- 5. AGRADECIMENTOS:
tegorias de elementos estruturais Os autores agradecem as empresas
(pilares,vigas,painéis,lajes) utilizadas brasileiras que disponibilizaram informa-
em residências e edifícios habitacionais. ções sobre seus sistemas construtivos:
As vantagens fundamentais da utilização CASSOL,SUDESTE,BRASITHERM e PREMO.

Referências Bibliográficas
[01] D.Fernández-Ordoñez;J.Fernández Gómez; Idustrialización para la construcción
de viviendas. Viviendas asequibles realizadas com prefabricados de hormigón.
In: Informes de la Construcción,Publicada por el INSTITUTO DE CIENCIAS DE LA
CONSTRUCCIÓN EDUARDO TORROJA. Volume 61/514 Abril-junio2009.
[02] fib,Planning and Design Handbook on Precast Building Structures, 2nd edition 2004.
[03] BANCO MUNDIAL,2005,World Development Indicators worldbank.org
[04] ARROYO,S.Pérez; Industrializar (Do it Industrial):Informes de la
Construcción, EDUARDO TORROJA.Volume 61/513 enero-marzo 2009. n

52º Congresso Brasileiro do Concreto 14 de outubro de 2010


Centro de Convenções

Curso IBRACON Pré-moldados de Concreto


Edson Queiroz
Fortaleza – CE
IBRACON

OBJETIVO PÚBLICO ALVO


O curso apresenta uma visão sistêmica do sistema construtivo com pré-moldados de concreto, Engenheiros, Arquitetos, Tecnólogos, Fiscais, Professores, Estudantes e profissionais envolvidos
desde a fase de contratação até a montagem das estruturas, incluindo controle de qualidade, com projeto, planejamento, pesquisa, controle tecnológico, execução e comercialização de
normalização e sustentabilidade. edificações de concreto armado e protendido.

PROGRAMA DO CURSO PROGRAMA MasterPEC


n Princípios Elementares Master em Produção de Estruturas de Concreto
n Tipologia e aplicação dos elementos da estrutura Programa de cursos de atualização tecnológica, ministrado pelo IBRACON. Acumulando 120
n Projeto, Produção e Montagem créditos-hora nos cursos IBRACON, ao longo de no máximo 4 anos, o profissional terá direito ao
n Normalização título de Master em Produção de Estruturas de Concreto.
n Controle de Qualidade
n Vantagens INFORMAÇÃO GERAL INVESTIMENTO
n Visita técnica à Fábrica da T&A PRÉ-FABRICADOS Data 14 de Outubro de 2010
PROFESSORA Local Centro de Convenções Edson Queiroz Até 30-09-2010 No local
Avenida Washington Soares, 1141 – Fortaleza – CE
• Íria Lícia Oliva Doniak Carga horária 8 horas (8 Créditos no Programa MasterPEC)
Sócios IBRACON R$ 130,00 R$ 170,00
Engenheira Civil, graduada pela PUC-PR em 1988. Atua no setor concreto desde 86, quando A inscrição inclui: Pasta com material didático, caneta e bloco de notas; Não-sócios R$ 150,00 R$ 200,00
iniciou suas atividades em Laboratório de Controle Tecnológico. Posteriormente, atuou em Certificado IBRACON; Serviços de Coffee Break.
central de concreto, gerência operacional e técnica. Atuou também na indústria cimenteira.
INSCRIÇÃO Patrocínio
Desde 97, é consultora da D.O. Engenharia e Projetos, com foco principal em construção pré-
As inscrições serão feitas pelo IBRACON
fabricada. Membro da Comissão de Revisão da NBR 9062 - Projeto e Execução de Estruturas de www.ibracon.org.br
Concreto Pré–Moldado. Diretora de Qualidade da Associação Brasileira da Construção
Industrializada de Concreto (Abcic), de 2004 a 2007.Diretora Executiva da Abcic, desde INFORMAÇÕES
2008.Membro da fib comission 6 on prefabrication (federation internationále du beton). Fone: (11) 3735-0202 • Fax: (11) 3733-2190
Membro da Comissão de Estudos da NBR 14861 Lajes alveolares pré-fabricadas de concreto. marta@ibracon.org.br www.tea.com.br
[Concreto & Construções] | 26 |
mercado nacional
mercado nacional

O avanço do consumo
aparente de cimento no
país nos últimos anos
José Otavio Carvalho – Vice-presidente executivo
Sindicato Nacional da Indústria do Cimento - SNIC

A
indústria do cimento no Brasil longo e teve momentos de altos e bai-
dos dias de hoje é fruto de uma xos, com resultados que refletiram bem
trajetória de investimentos e o desenvolvimento da economia do país.
empenho das empresas nacionais e es- Hoje, o setor atinge números bastante po-
trangeiras que aqui se instalaram desde sitivos: 71 fábricas localizadas nas cinco
1926. Foi nesse ano que o cimento come- regiões do país, pertencentes a 12 grupos
çou a ser fabricado em escala industrial, industriais nacionais e estrangeiros, com
após um período pioneiro dessa atividade capacidade instalada da ordem de 67 mi-
no país, nos idos do fim do século XIX. lhões t/ano, suficiente para atender à
O caminho percorrido de lá pra cá foi demanda interna.

| 27 | [www.ibracon.org.br]
Em 2009, o consumo aparente de cimen- mente, um grande aumento de produção.
to* atingiu o maior nível de sua história, to- A produtividade desenvolvida na época da
talizando 51,9 milhões de toneladas. estagnação foi extremamente eficaz para a
Um dado a se destacar nos números obtenção dos resultados nessa fase: o ano
da indústria do cimento no Brasil em de 1999 alcançou a marca de 40,2 milhões
2009 é relativo aos segmentos que mais de toneladas de cimento.
consumiram o produto. Condizente com A partir de 2000, a crise da constru-
as mudanças que vêm ocorrendo no perfil ção civil no país teve como conseqüência
das construções e refletindo a evolução uma redução no consumo do cimento que
nos métodos construtivos brasileiros, fo- se prolongou até 2003. No ano seguinte,
cada hoje na utilização mais intensiva de o consumo estabilizou, indicando o início
concreto usinado em central, as vendas de uma retomada que levou a indústria,
diretas para concreteiras e construtoras/ em 2006, ao patamar de 40 milhões de
empreiteiras cresceram, respectivamen- toneladas de cimento consumidas. Nos
te, 2,3% e 16,4%, elevando suas partici- dois anos posteriores – 2007 e 2008 – o
pações para 18% e 12% do total das ven- setor foi batendo recordes de consumo
das. No final dos anos 90, as concreteiras do produto, se mantendo praticamente
representavam menos de 10% e as cons- estável em 2009.
trutoras, menos de 6%. Nos últimos quatro anos, quando o se-
tor retomou de fato o crescimento, foram
Retrato do Brasil fatores determinantes para esse novo mo-
Para analisarmos o atual momento do mento algumas medidas do Governo e da
setor, é necessário voltar no tempo e per- iniciativa privada, tais como: o crescimen-
ceber como o comportamento da indústria to do emprego e da renda real; a expan-
do cimento no passado recente está dire- são das construções imobiliárias, incenti-
tamente relacionado aos diferentes mo- vadas pelo marco imobiliário de 2004 (Lei
mentos da economia brasileira. Nos anos nº 10.931) e Resolução nº 3.177, do Banco
70, período conhecido por  “Milagre Eco- Central; a capitalização das construtoras e
nômico”, a produção passou de 9 milhões incorporadoras; a expansão do crédito imo-
de toneladas por ano para 27,2 milhões de biliário pelo governo e bancos privados; e
toneladas no início dos anos 80. Já, a partir as obras de infraestrutura do Programa de
daí, o setor refletiu a expressão “Década Aceleração do Crescimento (PAC).
Perdida”, quando a recessão interna levou
a uma forte queda no consumo. A complexa Logística
Na década seguinte, veio uma nova fase Para fazer chegar ao consumidor final
de crescimento econômico e, conseqüente- toda essa produção de cimento, no en-

[Concreto & Construções] | 28 | *Consumo aparente: produção + importação - exportação.


mercado nacional
tanto, é necessário vencer o desafio da aumento no fluxo de cimento transporta-
logística em um país continental como o do por trens, ainda longe do ideal. Para
Brasil, onde o modal de transporte mais levar uma carga que chegaria em um dia
utilizado é o rodoviário. Noventa e qua- em seu destino final se fosse em uma ro-
tro por cento do cimento que circula no dovia, são necessários cinco dias de via-
país é via terrestre. A dificuldade é mui- gem de trem.
ta, não somente pela condição das estra- Além disso, há a disputa pelos meios
das, como também pelas características de transporte com outros produtos. O ci-
do produto. mento concorre diretamente com insu-
Por ser um produto perecível, ocupar mos, como aço, minérios e produtos agrí-
grandes espaços, ter uma baixa relação colas, que também são transportados por
preço-peso, sua distribuição é feita em caminhões e, apesar de sazonais, com-
um raio médio de distância de 300 a 500 petem ao longo do ano com o cimento,
quilômetros nas regiões Sudeste e Sul. que fica em desvantagem devido à baixa
Esse número, no entanto, pode chegar a relação preço-peso.
mais de mil quilômetros no Norte e Nor-
deste do país, regiões onde existe a ne- O Brasil No
cessidade do uso do modal hidroviário. Contexto Mundial
O “simples” movimento de retirada De acordo com os dados mundiais mais
do cimento das fábricas representa uma recentes, o Brasil, em 2008, foi o quinto
circulação diária de mais de doze mil ca- maior consumidor de cimento do mundo.
minhões carregados de cimento nas rodo- No entanto, o consumo per capita do pro-
vias de todo o Brasil. duto – 272 kg/habitante, em 2008 – está
Mesmo com a privatização do sistema muito abaixo do registrado em países de-
ferroviário, não foi possível observar um senvolvidos. O número é um dos menores

| 29 | [www.ibracon.org.br]
das Américas, inferior ao dos Estados Uni- estimativas de mercado indicam que
dos, Canadá, México, Chile e Venezuela. as vendas de cimento para o mercado
Se o comparativo for com a média interno brasileiro acumuladas no perí-
mundial de consumo per capita – 422 kg/ odo de julho de 2009 a junho de 2010
habitante – os números do Brasil tam- atingiram 55,0 milhões de toneladas.
bém saem perdendo. Ao comparar com Isso representa um crescimento de 7,4%
um país como a China, maior produtor e sobre igual período anterior (jul/08 a
maior consumidor do produto, essa dife- jun/09).
rença é gigantesca: lá, são consumidos Ao todo, no primeiro semestre des-
1.038 kg por habitante.
te ano, foram vendidas 27,6 milhões de
Já ao analisarmos o preço do cimen-
toneladas de cimento, com aumento de
to do Brasil em relação aos demais pa-
14,6% sobre o mesmo período de 2009.
íses, conforme o estudo Construction
Em junho de 2010, foram 4,7 milhões
and Building Materials Sector, realizado
de toneladas no mercado interno, o que
semestralmente pelo Banco JPMorgan
(o último dado disponível é de setem- significou uma expansão de 10,2% sobre
bro de 2009), este é o mais baixo de junho de 2009.
todo o continente americano e um dos A previsão é de que o ano de 2010 re-
menores em comparação com os demais presente um novo recorde no consumo de
países pesquisados. cimento no Brasil. As estimativas prelimi-
nares do Sindicato Nacional da Indústria do
Perspectivas Cimento (SNIC) indicam que esse número
Dados preliminares da indústria e cresça 12%, em comparação com 2009. n

52º Congresso Brasileiro do Concreto 15 de outubro de 2010


Centro de Convenções

Curso IBRACON Soluções de impermeabilização em


obras de Arquitetura diferenciada
Edson Queiroz
Fortaleza – CE
IBRACON

OBJETIVO PÚBLICO ALVO


O curso, de cunho prático, visa dar subsídios aos profissionais da construção civil para Engenheiros, Arquitetos, Tecnólogos, Fiscais, Professores, Estudantes de Pós-Graduação,
selecionar, detalhar e fiscalizar corretamente sistemas de impermeabilização eficientes para Estudantes de graduação nos últimos anos, profissionais envolvidos com projeto, planejamento,
obras com arquitetura diferenciada, de forma a avaliar as interfaces entre diferentes sistemas e pesquisa, docência, controle tecnológico, execução e comercialização de edificações de concreto
orientar a elaboração de procedimentos executivos das diversas áreas sujeitas à ação da água e armado e protendido.
demais fluidos. Serão apresentados casos reais de obras.
PROGRAMA MasterPEC
PROFESSORES Programa de cursos de atualização tecnológica ministrado pelo IBRACON. Acumulando 120
• Arquiteta Leonilda de Fátima Gomes Ferme créditos-hora nos cursos IBRACON, ao longo de, no máximo, 4 anos, terá direito ao título de
Arquiteta formada, em 1985, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Farias Brito – Master em Produção de Estruturas de Concreto.
Universidade de Guarulhos. Há 23 anos atua no segmento de impermeabilização. Responde
atualmente pela Gerência de Negócios - Aplicadores da empresa DENVER INFORMAÇÃO GERAL INVESTIMENTO
IMPERMEABILIZANTES, com diversos artigos técnicos publicados e apresentados em Data 15 de Outubro de 2010
Congressos e Simpósios de Impermeabilização e entrevistas técnicas publicadas. Local Centro de Convenções Edson Queiroz Até 30-09-2010 No local
Avenida Washington Soares, 1141 – Fortaleza – CE Sócios IBRACON R$ 130,00 R$ 170,00
Carga horária 8 horas (8 Créditos no Programa MasterPEC)
• Engenheiro Flávio de Camargo Martins A inscrição inclui: Pasta com material didático, caneta e bloco de notas; Não-sócios R$ 150,00 R$ 200,00
Engenheiro civil pela Universidade Paulista e MBA Executivo pela Escola Paulista de Certificado IBRACON; Serviços de Coffee Break.
Propaganda e Marketing. Coordenador Técnico da Denver Impermeabilizantes, especialista na
INSCRIÇÃO Patrocínio
área de impermeabilização e recuperação estrutural, com diversos artigos e publicações na
área. Participa da ABNT no Comitê Brasileiro de Normas Técnicas CB-22 – Impermeabilização, As inscrições serão feitas pelo IBRACON
www.ibracon.org.br
atuando como coordenador da comissão de sistemas poliméricos e secretário da comissão de
estudos. Membro atuante do IBI - Instituto Brasileiro de Impermeabilização. INFORMAÇÕES
Fone: (11) 3735-0202 • Fax: (11) 3733-2190
marta@ibracon.org.br www.denverimper.com.br
[Concreto & Construções] | 30 |
melhores práticas
melhores práticas
avaliação de fissuras e trincas

Critérios para avaliação


de fissuras e trincas em
estacas pré-fabricadas
de concreto
Claudio Gonçalves – Diretor Técnico
SOTEF Engenharia ltda

George de Paula Bernardes – Professor Doutor


UNESP de Guaratinguetá

Luis Fernando de Seixas Neves – Consultor e Projetista de Fundações


Cepollina Engenheiros Consultores ltda

A
avaliação de Trata-se de um pe-
uma fissura queno instrumento
e/ou trinca em forma de uma
em uma peça de con- régua graduada em
creto deve, antes de frações decimais de
qualquer coisa, estar milímetros, ao qual
sempre embasada em se justapõe a fissura
grande parcela de ou trinca a ser ana-
bom senso. Na prá- lisada, de tal forma
tica diária, se uma a ajustar a medida
estaca encontra-se da fissura a uma de-
fissurada, parece ha- terminada medida
ver tendência, quase universal, de condená- prefixada na régua. Assim fazendo, pode-se
la ao uso. Nem sempre esse procedimento é tentar quantificar a magnitude da abertura
correto, pois a simples observação visual que da fissura analisada, correlacionando-a, as-
culmina com o descarte da peça, por mero sim, a determinados parâmetros prefixados
sentimento de que uma fissura ou até mes- de aceitabilidade. A Figura 1 apresenta trin-
mo uma pequena trinca possa significar um ca em estaca sendo analisada com fissurô-
problema mais sério, não caracteriza expe- metro.
riência de quem o fez e nem tampouco bom Conforme se pode observar, trata-se de
senso. Um mecanismo muito simples e práti- um processo bastante simples e que utiliza
co para efetuar observação de uma fissura, equipamento muito simples, prático e ba-
de tal modo a estabelecer um parâmetro que rato. O bom senso deve preponderar, pois
quantifique sua abertura, é o fissurômetro. é certo que a quantificação da abertura de

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1.1 Classe 1 – Fissuras Transversais
São aquelas que apresentam abertu-
ras inferiores a 1 mm (Figura 2), em plano
transversal ao eixo da estaca. Neste caso,
não são consideradas preocupantes quando
as fissuras (ou pelo menos 85% delas) não
ultrapassem os seguintes valores:
n 0,4 mm – para estacas não protegidas e
cravadas em meio de agressividade am-
biental fraca;
n 0,3 mm – para estacas não protegidas e
cravadas em meio de agressividade am-
biental moderada a forte;
n 0,2 mm – para estacas não protegidas e
cravadas em meio de agressividade am-
biental muito forte.
Assim, se as fissuras estiverem dentro
dessas faixas, nenhuma providencia espe-
cial deverá ser adotada. Quando as fissuras
ultrapassarem esses valores, porém não ex-
cederem 1 mm, a estaca deverá ser marca-
da com lápis de cera no local da ocorrência
da fissura para identificá-la, posicioná-la na
torre do bate estacas e novamente medi-
la. Como as fissuras tendem a fechar até os
uma fissura dessa forma pode, em alguns limites acima estabelecidos, principalmen-
casos, gerar dúvida entre uma determina- te no caso das estacas protendidas, indi-
da medida e outra imediatamente inferior cando, assim, que a armadura longitudinal
ou imediatamente superior. não ultrapassou o estado elástico, segue-se
Trabalho efetuado por Alonso (1998) normalmente a cravação da estaca. Caso
procura abordar esse assunto e estabelecer contrário, a estaca deverá ser rejeitada.
critérios técnicos para dirimir tais dúvidas.
Assim, sugere-se classificar como fissuras 1.2 Classe 2 – Fissuras Longitudinais
as aberturas cujo limite esteja situado em (estacas ainda não cravadas)
1 mm. Acima desse valor, as aberturas são São aquelas que apresentam abertu-
consideradas trincas. ra não superior a 1 mm, paralelamente

[Concreto & Construções] | 32 |


melhores práticas
ao eixo longitudinal das estacas. Neste ultrapassou o estado elástico de deforma-
caso, as estacas deverão ser sempre re- ções e, portanto, as estacas armadas de-
jeitadas (Figura 3), pois, na maioria das verão ser rejeitadas. No caso das estacas
vezes, não suportam a cravação a que se- protendidas, não são raras as vezes onde
rão submetidas. o procedimento adotado para a classe 1
apresenta resultado satisfatório, sendo
1.3 Classe 3 – Fissuras Longitudinais recomendável, neste caso, tentar adotá-
(estacas em processo de cravação) lo (Figura 5).
São aquelas que apresentam abertura Evidentemente, estamos nos referindo
não superior a 1 mm, paralelamente ao neste caso a trincas eventuais, as quais
eixo longitudinal das estacas (Figura 4).
Neste caso, as estacas deverão ser sempre
avaliadas, ou seja:
n Se, ainda em processo de cravação e
estando em deslocamento, haver a ten-
dência de propagação da fissura para
toda a extensão longitudinal do fuste da
estaca à medida que os golpes do mar-
telo vão sendo desferidos,nesse caso,
aconselha-se rejeitar a estaca.
n Se a trinca ocorrer no final da cravação,
quando da coleta das ultimas negas e/
ou repiques elásticos, recomenda-se
inspecionar a posição até onde a trinca
se propagou, recompondo-se esse tre-
cho e aceitando-se a estaca, pois esta
já se encontra devidamente cravada.

1.4 Classe 4 – Trincas Transversais


São aquelas que apresentam abertu-
ra superior a 1 mm em relação ao plano
transversal das estacas. Esse tipo de trin-
ca é sinal de que a armadura longitudinal

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podem aparecer em um ou outro ponto ao
longo do fuste. No caso de ocorrência de
inúmeras trincas, principalmente em um
determinado trecho do fuste, a estaca
deve ser recusada. A Figura 6 ilustra uma
estaca com inúmeras trincas em um pe-
queno trecho do fuste, a qual certamente
deve ser inutilizada.

1.5 Classe 5 – Trincas Longitudinais


São aquelas que apresentam aberturas
lido, recomposto e prossegue-se a cra-
superiores a 1 mm, paralelamente ao eixo
vação. A Figura 7 ilustra uma estaca com
longitudinal das estacas e, analogamente
uma trinca longitudinal propagando-se do
ao transcrito na classe 3, as estacas que
topo para o fuste.
apresentarem tal problema eventualmen-
te deverão ser rejeitadas. Se tais trincas
ocorrerem próximas às cabeças das esta-
1.6 Classe 6 – Desagregações
cas, durante o processo de cravação, o
Localizadas de Concreto
Neste caso, considera-se a ocorrência
trecho assim danificado pode ser demo-

[Concreto & Construções] | 34 |


melhores práticas
de pequenas falhas de concretagem loca- 1.8 Classe 8 – Fissuras e/ou Trincas
lizadas, pequenas partes superficiais que Transversais e Longitudinais
podem se soltar em decorrência de even- Concomitantes
tuais impactos decorrentes do manuseio, Nestes casos, embora bastante raros de
entre outros. Nestes casos, deve-se pro- ocorrerem, as estacas deverão ser rejeita-
ceder à recuperação das partes afetadas das (Figura 10).
(Figura 8).
1.9 Classe 9 – Fissuras e/ou Trincas
1.7 Classe 7 – Esmagamento de Retração
de Cabeças de Estacas Em geral, esse tipo de problema apa-
Procedimento análogo ao descrito na rece na superfície das estacas e sempre
classe 5, ou seja, remove-se o concreto na parte superior, a qual fica exposta ao
danificado, incorpora-se um anel metá- tempo após a concretagem. Fissuras ou
lico e recompõe-se a parte danificada, trincas de retração estão quase sempre
conforme metodologia apropriada. A Fi- associadas ao elevado consumo de cimen-
gura 9 mostra algumas estacas com topo to e/ou a alguma deficiência no processo
danificado durante o processo de crava- de cura adotado. Não devem ser encara-
ção por percussão. das como um problema sério que deva jus-

| 35 | [www.ibracon.org.br]
tificar a rejeição de estacas, porém recur-
sos técnicos devem ser adotados para que
sejam evitadas. Raramente ultrapassam
alguns centímetros de comprimento e 2
a 3 milímetros de profundidade, apresen-
tando-se sempre de forma desordenada na
superfície das estacas. A Figura 11 ilustra
esse tipo de problema.

1.10 Classe 10 – Falta de Cobrimento


Adequado da Armadura
Transversal
Neste caso, a armadura transversal
(estribos), ficando muito próxima à su-
perfície das estacas, acaba por provocar
o surgimento de fissuras ou até trincas,
exatamente nos pontos onde se encontra
posicionada. Não raras as vezes esse tipo
de problema é confundido com retração. mas, uma vez que a oxidação dessa ar-
Ocorre, porém, que neste caso, o surgi- madura pode provocar, com o passar do
mento dessas fissuras ou trincas, obedece tempo, a ruptura localizada do concreto
ao mesmo espaçamento dessa armadura. que cobre essa armadura, reduzindo as-
Não se constitui motivo para recusa das sim a seção útil a ser considerada dessas
estacas, porém, deve ser reavaliada a estacas. A Figura 12 ilustra tal tipo de
carga de trabalho a ser adotada nas mes- fissuras e/ou trincas.

Referências Bibliográficas
[01] Alonso, U.R (1998) – Estacas Pré-Moldadas – Fundações – Teoria e Prática – Editora Pini
– Capítulo 9.2 – Págs. 373 a 399
[02] Gonçalves, C; Bernardes, G.P. E Neves, L.F.S. (2007) – Estacas Pré-Fabricadas de
Concreto – Teoria e Prática – 1ª Edição – Editora Pini – Págs. 1 a 46
[03] Gonçalves, C; Bernardes, G.P. e Neves, L.F.S. (2010) – Estacas Pré-Fabricadas
de Concreto – Quebras, Vibrações e Ruídos (?) – 1ª Edição – Abcic – Págs. 1 a 105 n

[Concreto & Construções] | 36 |


entidades parceiras
entidades parceiras

Entidades sociais e
empresas preocupadas
com a qualidade
das construções
O
Brasil possuía, em
2007, 56,3 milhões
de moradias, se-
gundo a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios
– PNAD 2008, realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística – IBGE. A
esse montante, são adicio-
nadas, a cada ano, entre 1
e 1,5 milhão de novas resi-
dências, estimativa lançada
pela Associação Nacional dos
Comerciantes de Materiais
de Construção - Anamaco,
em 2009. Desse estoque de
moradias, 77% das unidades
foram produzidas em regime Demóstenes Moraes, da Habitat Brasil, Zoltan Geocze,
gerente de microcrédito do Santander, Julie Gattaz,
de auto-gestão, constatou gerente de marketing da Votorantim Cimentos,
pesquisa da Booz Allen & Hamil- Sandra Kokudai, da Fundação Bento Rubião, Grasiella
ton para a Anamaco. Drumond, da Ashoka e Valter Frigieri Júnior, gerente de
Em outra pesquisa, dessa Desenvolvimento de Mercado da ABCP.
vez da Latin Panel para a Ana-
maco, foram detalhados mais própria família ou de amigos e, apenas,
aspectos dessas habitações: 1% utilizará os serviços de uma constru-
n 79% das residências brasileiras têm ape- tora ou empreiteira;
nas um banheiro; n Mais da metade dessas reformas será de
n 70% têm, no máximo, dois dormitórios; até 25m2.
n 77% dos lares necessitam de algum tipo Preocupada com essa realidade do
de reforma; mercado de reforma brasileiro, setor que
n Destes, apenas, 39% pretendem reformar; enfrenta dificuldades estruturais, como a
n Destes, 65% utilizarão serviços de um escassez de crédito, a oferta de materiais
pedreiro, 34% utilizarão mão-de-obra da de baixa qualidade, a falta de mão-de-obra

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qualificada, os desperdícios com compra nico para orientação de profissionais, mo-
equivocada ou a mais de materiais para a radores, vendedores e produtores”, desta-
reforma, as patologias decorrentes dos fa- cou Frigieri.
tores anteriores, a Associação Brasileira de Um primeiro desafio é a mobilização de
Cimento Portland - ABCP, conjuntamente agentes financeiros, para ampliar a oferta
com outras entidades sociais, empresas, e a qualidade do crédito para a reforma
associações, instituições acadêmicas e mo- habitacional. Esse desafio passa pelas fa-
vimentos sociais, somaram esforços numa ses de estudo do potencial do mercado de
empreitada para dar respostas a esses pro- reforma, de estudo do processo de reforma
blemas: o Clube da Reforma. autogerida e de estudo da relação desse
Lançado no último 8 de junho, em setor com o crédito. Tem como última fase
evento na sede da ABCP, o Clube da Re- prevista a mobilização de agentes para
forma tem a missão de melhor estruturar o implantação de produtos diferenciados de
mercado da reforma brasileiro, objetivan- crédito para a melhoria habitacional. “O
do assegurar condições de moradia mais Clube da Reforma representa uma oportu-
dignas e construções de maior qualidade nidade para que o Santander crie um novo
e durabilidade para a população de baixa crédito voltado para o setor de reforma de
renda no país. A meta inicial é que suas habitações populares, com a expertise dos
ações impactem um milhão de famílias de parceiros no Clube, de modo que seja sus-
baixa renda nos próximos cinco anos, de tentável”, destaca Zoltan Geocze, gerente
um gargalo estimado em 14 milhões. de microcrédito do Santander, presente no
Segundo o idealizador do programa, Val- lançamento do Clube.
ter Frigieri Júnior, gerente de Desenvolvi- Outro foco de atuação é o desenvol-
mento de Mercado da ABCP, os gargalos nes- vimento de conhecimento técnico sobre
te setor são complexos, os agentes atuam sob reformas de obras, criando ferramentas
óticas particulares e as experiências não são práticas que auxiliem moradores, profis-
acumuladas. “O Clube da Reforma vem para sionais, lojistas e assistentes técnicos na
agregar os diferentes interesses dos agentes contratação e no acompanhamento da re-
a uma causa: a melhoria habitacional da po- forma. Este desafio passa pelo processo de
pulação”. Ele completa: “às empresas inte- identificar, cadastrar e mapear iniciativas
ressam ações que melhorem seus produtos no setor de melhorias habitacionais, tarefa
e serviços, adequando-os à necessidade do a que se dedicarão os parceiros do Clube
usuário final e, com isso, aumentando o in- nos próximos 12 meses. “O Clube desen-
teresse do consumidor por esses produtos e volverá uma plataforma na Web que reu-
serviços; ao governo interessa a mobilização nirá as boas práticas existentes, consistin-
social, que integre o engenheiro, o arquiteto do de uma rede de iniciativas dos diversos
e o técnico neste mercado da reforma; e às agentes espalhados pelo país, que atuam
organizações sociais em geral interessam ati- na melhoria habitacional, para que as solu-
vidades e programas que venham aumentar ções alcançadas cheguem ao maior número
o impacto de suas ações”, explica. de profissionais, atores e famílias”, deta-
Os membros até agora envolvidos com lhou Frigieri.
o Clube – 38 instituições, no total – são jus- O Clube almeja ainda criar uma campa-
tamente as entidades sociais com alguma nha de comunicação integrada para mostrar
tradição na reforma habitacional e as em- à população os benefícios de investir na me-
presas com programas de responsabilidade lhoria da moradia. Serão explorados aspectos
social voltados para esse mercado. Reuni- como satisfação pessoal, conquista familiar,
dos nos últimos 10 meses, essas institui- qualidade de vida e valorização do imóvel
ções, num intercâmbio de conhecimentos nessas campanhas, no sentido de incentivar
e de práticas, formularam um programa de a população, em especial a de baixa renda, a
ação para os próximos 12 meses. “Traba- promover melhorias em sua residência.
lharemos com a adequação de produtos de Para saber mais:
crédito, kits de campanha e material téc- www.clubedareforma.com.br

[Concreto & Construções] | 38 |


produtos do concreto
produtos do concreto
macrofibras poliméricas

O concreto com
reforço de macrofibras
poliméricas
Antonio Domingues de Figueiredo - Professor Doutor
Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

1. Introdução dimensionamento. Quando não há modelos

D
esde as primeiras aplicações de públicos disponíveis, pode-se lançar mão de
concreto com fibras (CRF) até avaliações comparativas de desempenho,
hoje, muitas inovações ocorre- como ocorreu para a avaliação do concreto
ram. Exemplo disso foi o desenvolvimento projetado reforçado com fibras de aço, que
de vários tipos de fibras de aço com ca- demonstrou desempenho igual ou superior
racterísticas específicas para melhorar o às telas metálicas, desde que se tenha utili-
desempenho do material, tanto no estado zado um teor adequado (Figueiredo, 1997).
plástico como no endurecido. Com isso, via- Atualmente, outra inovação tecnológica
bilizaram-se várias aplicações, como o con- chegou ao mercado brasileiro: as macrofi-
creto projetado reforçado com fibras desti- bras plásticas para o reforço do concreto e,
nado ao revestimento de túneis, que trouxe como tal, também devem ter sua aplicação
uma facilidade executiva muito grande; e embasada nos fundamentos de engenharia.
o uso de fibras em tubos de concreto que,
além da simplificação do processo de pro- 2. Fibras e
dução, diminui perdas de peças por quebra macrofibras
de bordas durante o processo de transporte poliméricas
e aplicação. Inovações ocorrem, em geral, As fibras poliméricas, como as de po-
pelo fato de pesqui- lipropileno (PP), já
sas terem sido desen- são utilizadas no
volvidas de modo a concreto há um bom
embasar essas aplica- tempo. Sua aplica-
ções sob o ponto de ção tradicional tinha
vista da engenharia. o objetivo de promo-
Vale ressaltar que, ver um maior con-
para aplicações com trole da fissuração
finalidade estrutural, nas primeiras idades
é fundamental ha- ou proporcionar a
ver uma verificação proteção passiva do
do desempenho do concreto durante
material compatível incêndios (Figueire-
com um modelo de do, Tanesi, Nince,

| 39 | [www.ibracon.org.br]
ao contrário do que se espera das fibras
de PP convencionais, essas macrofibras são
produzidas para se obter um reforço estru-
tural, nos mesmos moldes que uma fibra
de aço.
O uso dessas macrofibras tem vários
atrativos em relação às fibras de aço,
como o fato de não estarem sujeitas à
corrosão eletrolítica, o que possibilita
uma maior durabilidade em ambientes
mais agressivos. Outra vantagem está no
menor impacto que essas fibras causam
na trabalhabilidade do concreto pelo fato
delas serem mais flexíveis que as fibras de
aço. Com isso, as macrofibras dificultam
menos a mobilidade relativa dos agrega-
dos, facilitando, inclusive, o bombeamen-
to do material, para mesmos teores em
volume. Isso é, particularmente, interes-
2002). Nesse caso, são utilizadas fibras de sante para o caso do concreto projetado,
pequenas dimensões feitas a partir de poli- onde as fibras poliméricas irão represen-
propileno de baixo módulo de elasticidade tar uma chance menor de entupimentos
(Foto 1). Apesar de ainda haver algumas no processo. Para os pavimentos, a menor
questões associadas à otimização da apli- densidade da fibra irá representar um me-
cação dessas fibras, que deverão ser mo- nor risco de segregação e, com isso, evitar
tivo de pesquisas futuras, a sua aplicação falta de reforço na superfície da placa de
foi possível em uma série de obras impor- concreto. Todavia, a maior flexibilidade,
tantes, como os túneis da Rodovia dos Imi- devida ao menor módulo de elasticidade,
grantes. Isso ocorreu porque é sabido que o em conjunto com a menor resistência, irá
uso das fibras, mesmo não otimizado, trará demandar teores em volume diferentes
algum benefício técnico para a estrutura. daqueles utilizados para o reforço do con-
Em outras palavras, pode-se questionar se
o teor de fibras de PP é exagerado ou insufi-
ciente, mas sabe-se que será obtido algum
ganho em termos de desempenho quando
comparado com o concreto sem fibras.
As macrofibras de base polimérica sur-
giram no mercado internacional nos anos
1990, quando começaram a ser fornecidas
em cilíndros que consistiam em feixes de
um grande número de fibras unidos por
uma fita externa (Foto 2). As primeiras
aplicações ocorreram com o concreto pro-
jetado, especialmente na Austrália e no
Canadá (Morgan, Rich, 1996). Aos poucos
essa tecnologia se disseminou e chegou ao
Brasil em anos mais recentes. Atualmen-
te, existem vários fabricantes disponibili-
zando diferentes tipos de macrofibras no
mercado brasileiro (Foto 3). No entanto,

[Concreto & Construções] | 40 |


produtos do concreto
creto com fibras de aço, o que pode pre-
judicar a fluidez do material. Assim, não
é possível realizar a mera substituição de
uma fibra pela outra, mas deve-se, sim,
realizar estudos de dosagem específicos.

3. Dosagem do
concreto com
fibras
Para realizar um bom estudo de dosa-
gem, é fundamental a especificação dos
requisitos de desempenho estrutural em
projeto e que se tenha uma metodologia
de ensaios bem estabelecida para a sua
determinação. Metodologias de dosagem
para o reforço do concreto com fibras de
aço já foram desenvolvidas e publicadas no
Brasil (Figueiredo, 1997; Higa et al, 2007)
e, como é natural, essas procuram deter- minação da tenacidade fica ainda mais
minar o teor ótimo de fibras, que atende complexo, dificultando o seu controle e
aos requisitos de tenacidade do concreto. dosagem. Apesar de alguns trabalhos já
Isso é avaliado por métodos de ensaio já terem sido desenvolvidos no Brasil, como
padronizados no exterior, mas que, com a se trata de um material de disponibilidade
exceção dos tubos de concreto, ainda não recente, o volume de pesquisas específicas
contam com norma brasileira. Apesar des- ainda é reduzido.
sa limitação, é possível realizar os estudos
que permitam estabelecer teores distintos 4. O controle
de diferentes fibras, que atendam aos mes- das macrofibras
mos requisitos de desempenho. O exemplo poliméricas
da Figura 1 contém diferentes curvas de O primeiro trabalho acadêmico brasilei-
dosagem para fibras de diferentes fatores ro realizado sobre o assunto foi desenvolvi-
de forma (relação entre o comprimento do na Universidade de São Paulo e abordou
da fibra e o diâmetro do círculo com área justamente a metodologia de controle da
equivalente à sua seção transversal) refor- tenacidade (Tiguman, 2004). O objetivo
çando a mesma matriz de concreto. Nota- fundamental do trabalho era comparar os
se que fibras com diferentes resistências resultados obtidos segundo dois procedi-
do aço (fs) apresentam também diferentes mentos de ensaio para determinação da
desempenhos, mesmo quando possuem fa- tenacidade: o ensaio contínuo (JSCE-SF4
tores de forma similares. Por essa razão, e EFNARC) e o ensaio descontínuo (ASTM
a norma de especificação de fibras de aço C1399). Isso ocorreu pelo fato dos ensaios
NBR 15530:07 classificou as mesmas segun- de flexão em prismas feitos em concretos
do o fator de forma e a resistência do aço. com macrofibras apresentarem respostas
Extrapolando o raciocínio, é natural espe- bastante instáveis, dificultando a análise
rar que haja diferenças de comportamento dos resultados. Demonstrou-se que a utili-
do concreto com fibras de aço em relação zação de ensaios contínuos é pouco eficaz
àquele com macrofibras poliméricas, dado para avaliar o concreto com baixos teores
que estes materiais possuem resistência e de fibras, tornando a quantificação da tena-
fatores de forma bem distintos. cidade praticamente impossível. Já os en-
Quando o concreto é reforçado com saios descontínuos permitiram a avaliação
fibras poliméricas, o problema da deter- dos concretos com valores muito baixos de

| 41 | [www.ibracon.org.br]
tenacidade. O problema é que os ensaios
descontínuos não são utilizados como re-
ferência nas recomendações internacio-
nais para o dimensionamento de estruturas
com o reforço de fibras, o que gera dúvidas
quanto à sua aplicabilidade no controle de
obras como pavimentos e túneis. Como a
respostas desses ensaios são diferentes, es-
tudos vêm sendo desenvolvidos na direção
de atender essa demanda e espera-se que,
num futuro próximo, o ensaio descontínuo
possa ser encarado como uma alternativa
viável para o controle da tenacidade des-
ses concretos.

5. Perigos da
falta de controle
tecnológico
Assim, com as dificuldades apontadas,
muitas vezes se lança mão de teores abso- com a informação do teor recomendado de
lutamente empíricos para se especificar o macrofibras para a obra, sem fazer qual-
material. Essa prática, infelizmente, tam- quer verificação.
bém acontece para as fibras de aço, apesar Mas, é preciso concluir que, indepen-
de toda a tecnologia disponível e de todas dentemente do tipo fibra a ser utilizada
as pesquisas já realizadas sobre o assunto. como reforço do concreto, deve-se especi-
O problema é que especificar apenas um ficar um parâmetro de desempenho quanto
consumo de fibras, sem realizar o controle à tenacidade para a sua dosagem e contro-
de qualidade, não garante o desempenho le. Vale lembrar que, pelo fato do controle
do material. Para exemplificar, na Figura 2, de recebimento ter um custo muito baixo,
são mostrados os resultados obtidos no con- quando comparado ao montande de inves-
trole regular de uma obra de pavimento in- timento destinado a obras de pavimentos e
dustrial, ficando claro que a resistência da túneis, onde o CRF é freqüentemente apli-
matriz implicou um aumento da tenacidade cado, não se pode justificar sua elimina-
do compósito. Vale ressaltar que esses resul- ção, tanto pelo ponto de vista tecnológico,
tados representam apenas a variação natural como pelo ponto de vista econômico.
do material de uma obra específica. O fato de não haver uma prática do
O maior limitante para a introdução controle do material em campo faz com
dessa tecnologia no mercado é a carência que o mercado perca referências impor-
de uma cultura de incentivo a programas tantes de avaliação de desempenho e, com
de controle de qualidade na execução de isso, torne a tecnologia mais suscetível do
obras de pavimentos, que é o principal ponto de vista de confiabilidade. Em ou-
campo de aplicação dessas fibras no Bra- tras palavras, como a decisão sobre que
sil, o que permitiria uma melhor condição fibra utilizar e em que teor é normalmen-
de avaliação das tecnologias alternativas. te embasada de maneira muito restrita no
Ou seja, como os usuários já estão acos- custo da fibra e no consumo especificado,
tumados a realizar obras, onde a fibra de sem verificação do desempenho mínimo
aço é especificada apenas fixando-se um adequado, acaba-se por comprometer
consumo, sem haver controle tecnológico gravemente a tecnologia, por descurar
do material, é natural esperar que esses de aspectos técnicos fundamentais. Isso
mesmos usuários fiquem satisfeitos apenas é equivalente a uma situação hipotética

[Concreto & Construções] | 42 |


produtos do concreto
onde um concreto dosado para uma de- consumos pré-estabelecidos, mas também
terminada obra, com seu traço específico resultados efetivamente obtidos, a partir
para aquela obra, ser adotado em outra. de um plano de ensaios de avaliação de
O raciocínio é o seguinte: “como já foi desempenho. Para isso, existem, atual-
aprovado anteriormente”, resolve-se eli- mente, várias normas e recomendações
minar o controle da qualidade do material publicadas internacionalmente para ava-
para reduzir custos e, simultaneamente, liar o desempenho pós-fissuração do con-
troca-se o cimento por outro mais barato. creto com fibras. Um bom exemplo disso
Esta situação inaceitável para o cimento é a recomendação proposta pela EFNARC
é, infelizmente, freqüente para as fibras, (www.efnarc.org), que prescreve, clara-
pois muitas obras são executadas apenas mente, que concretos projetados com fi-
com a definição do consumo mínimo e, em bras devem ser especificados em termos
alguns casos, substituem-se as fibras por de requisitos de desempenho por parte
outras com melhores condições comer- dos projetistas. Em outras palavras, en-
ciais, sem que qualquer avaliação de con- contrando-se um método de ensaio com-
formidade técnica do material seja feita. patível com o modelo de dimensionamen-
to utilizado para a obra em questão, nada
6. Conclusões impediria que um estudo prévio de sele-
A utilização dos concretos reforça- ção de fibra fosse utilizado, comparando-
dos com macrofibras poliméricas pode vir se, não apenas custo, mas desempenho.
a ser uma excelente alternativa técnica Em algumas aplicações de maior exigência
para o mercado brasileiro, mas isso está técnica, como é caso do revestimento de
condicionado ao estabelecimento de uma túneis, é inadmissível a omissão dos estu-
prática de controle de qualidade nas obras dos prévios para qualificação do material,
correntes. É fundamental que os empre- pois isso gera riscos inaceitáveis para a
endedores lancem mão de estudos de do- obra. Tendo isso em vista, é possível pre-
sagem, de modo a se ter um balizamen- ver que a promissora utilização de macro-
to técnico para a tomada de decisão. Ou fibras, ou mesmo de outros tipos de fibras,
seja, comparar não só custos e duvidosos irá ocorrer em bases seguras no futuro.

Referências Bibliográficas
[01] FIGUEIREDO, A.D. Parâmetros de Controle e Dosagem do Concreto Projetado
com Fibras de Aço. São Paulo. Tese (Doutorado). Escola Politécnica, Universidade de
São Paulo. 1997.
[02] FIGUEIREDO, A. D., MOURAD, F. A., CARVALHO, J. L. C. Aspectos do controle do
concreto reforçado com fibras de aço para pavimentos. In: 42o Congresso Brasileiro
do Concreto do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON). Fortaleza, CE, 2000.
[03] FIGUEIREDO, A. D., TANESI, J., NINCE, Andréia Azeredo. Concreto com fibras de
polipropileno. Téchne. Revista de Tecnologia da Construção. , v.10, p.48 - 51, 2002.
[04] HIGA, L. H., et al. Método de dosagem do concreto reforçado com fibras de aço para
otimização da tenacidade. In: 49o. Congresso Brasileiro do Concreto do Instituto
Brasileiro do Concreto (IBRACON). Bento Gonçalves, RS, 2007.
[05] MORGAN, D.R.; RICH, L.D. Polyolefin fibre reinforced wet-mix shotcrete. In: ACI/SCA
International Conference on Sprayed Concrete/Shotcrete - “Sprayed Concrete
Technology for the 21st Century”, 10 a 11 sept. 1996. American Concrete Institute and
Sprayed Concrete Association. Proceedings. p.127-38.
[06] Tiguman, M. P. Estudo comparativo entre métodos de quantificação de tenacidade
usando concreto reforçado com macrofibras de polipropileno. 2004. Dissertação
(mestrado). Engenharia Civil. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. n

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normalização técnica
ABNT NBR 14861

A norma brasileira de
lajes alveolares: ações
conjuntas da cadeia
produtiva do setor
Enga Msc. Daniela Gutstein - coordenadora
CE de Lajes e Painéis Alveolares de Estruturas de Concreto Pré-fabricadas

Enga Inês Laranjeira da Silva Battagin - superintendente


ABNT/CB-18

Enga Iria Lícia Oliva Doniak – diretora executiva


ABCIC

Eng. Dr. Fernando Menezes de Almeida Filho


NETPRE/UFSCar

Prof. Dr. Marcelo de Araújo Ferreira - coordenador


NETPRE/UFSCar

1. Introdução referentes às lajes alveolares são pouco

E
m 2006, foi publicada a revisão detalhadas nesta norma.
da norma de Projeto e Execução Por outro lado, a atual norma que trata
de Estruturas Pré-moldadas de do tema[3] está desatualizada e contempla
Concreto (ABNT NBR 9062)[1]. Essa revisão apenas aspectos gerais das lajes alveolares.
teve como objetivo a atualização frente No contexto internacional, normas especí-
às prescrições da norma de Projeto de Es- ficas de produtos pré-fabricados têm sido pu-
truturas de Concreto (ABNT NBR 6118)[2], blicadas e revisadas constantemente, sendo a
bem como às tendências internacionais EN 1168[4] o eurocódigo relacionado ao produ-
de normalização e inovações tecnológicas to laje alveolar. O PCI (Precast/Prestressed
na área de estruturas pré-fabricadas. A Concrete Institute) e a fib (Fédération Inter-
ABNT NBR9062[1] trouxe especificações im- nationale du Béton) também têm desenvolvi-
portantes para estruturas pré-moldadas e do o tema por meio da publicação de manuais
pré-fabricadas*, a partir das quais elemen- de referência para lajes alveolares, onde es-
tos pré-moldados podem ser projetados, tão contidos os tópicos projeto, fabricação,
tendo como base ensaios de comprovação montagem, controle tecnológico e sistemas
experimental. Mas, a metodologia para a estruturais compostos pelas lajes alveolares.
realização dos estudos experimentais não A importância da laje alveolar na cons-
é definida ou indicada e as especificações trução civil brasileira e o desenvolvimento
*Elementos pré-fabricados são elementos pré-moldados executados
industrialmente em instalações permanentes de empresa destinada para
[Concreto & Construções] | 44 | este fim com as características definidas no item 12.1.2, da ABNT NBR9062.
normalização técnica
do setor nos últimos anos motivaram ações apresenta características estruturais e fun-
conjuntas de fortalecimento do projeto, cionais diferenciadas das lajes alveolares.
produção, controle tecnológico e ainda de Além da elaboração dessas normas, dentro
parcerias entre fabricantes e entidades de do planejamento da Comissão, poderão
pesquisa. Essas ações têm sido coordenadas existir outras iniciativas para a elaboração
pela ABCIC (Associação Brasileira da Cons- de boas práticas de projeto, produção e
trução Industrializada de Concreto), desde montagem dos produtos, por exemplo.
2001, envolvendo fabricantes associados Os trabalhos da Comissão de Estudo
e grupos de pesquisa, como o NETPRE/ (CE) estão sendo desenvolvidos e preten-
UFSCar (Núcleo de Estudos e Tecnologia de-se que a norma de lajes alveolares seja
em Pré-moldados de Concreto da Univer- publicada em breve, mantendo-se o núme-
sidade Federal de São Carlos). Destacam- ro ABNT NBR 14861, mas com novo esco-
se os programas de ensaios desenvolvidos po e título: “Lajes alveolares protendidas
em parceria entre fabricantes e o NETPRE, de estruturas de concreto pré-fabricadas
bem como a filiação à fib, em 2008, onde – Requisitos e procedimentos”. Os demais
representantes da ABCIC e do NETPRE têm produtos de lajes pré-moldadas terão suas
atuado junto ao comitê de pré-fabricação normas específicas.
da entidade. A ABCIC tem buscado a certi- A Comissão escolheu a coordenação e
ficação de produtos e promovido o desen- secretaria, em função da experiência em
volvimento tecnológico e empresarial do normalização na área de estruturas pré-fa-
setor, de forma a atender às necessidades bricadas e do conhecimento técnico sobre
do mercado, o que requer a revisão e ela- o tema. Inicialmente, a CE foi coordena-
boração das normas técnicas em consonân- da pelo Prof. Marcelo de Araújo Ferreira,
cia com as tendências mundiais, bem como pesquisador na área de lajes alveolares e
com a experimentação e a experiência bra- coordenador do NETPRE/UFSCar. Este par-
sileira adquiridas na área. ticipou também da revisão da ABNT NBR
Assim, este artigo descreve o processo de 9062[1] e é atual representante brasileiro
elaboração da norma brasileira de lajes alve- do comitê de Lajes Alveolares da fib (Fédé-
olares, as etapas e setores envolvidos, ilus- ration Internationale du Béton), organiza-
trando a importância da normalização das ção não lucrativa criada em 1998, através
lajes alveolares no Brasil, bem como alguns da integração do CEB (Comité Euro-Inter-
desafios que a Comissão tem enfrentado. national du Béton) e da FIP (Fédération
Internationale de la Précontrainte). Este
2. Comissão de Comitê fib vem trabalhando na elaboração
Estudos de Lajes e de um manual que virá a complementar a
Painéis Alveolares atual norma européia EN 1168[4], dentre
A Comissão de Estudos de Lajes e Pai- outros assuntos. No entanto, mudanças na
néis Alveolares de Estruturas de Concreto coordenação da Comissão foram necessá-
Pré-fabricadas (CE-18:600.19) foi instala- rias, devido a não permanência de seu co-
da em 2008 no âmbito do Comitê Brasilei- ordenador no país e à necessidade de dar
ro de Cimento, Concreto e Agregados da continuidade aos trabalhos de desenvolvi-
Associação Brasileira de Normas Técnicas mento da Norma. Assim, a coordenação da
(ABNT/CB-18). O objetivo principal da Co- Comissão está atualmente a cargo da Enga.
missão é a normalização de Lajes e Painéis Daniela Gutstein, representante de fabri-
Alveolares de estruturas de concreto pré- cantes, lotada anteriormente na secretaria
fabricadas, com a participação de pessoas e com experiência advinda de seu trabalho
diretamente envolvidas e especializadas na revisão da ABNT NBR 9062, e a secreta-
no assunto. ria, do Eng. Fernando de Menezes Almeida
A elaboração da norma de lajes alve- Filho, representando o meio acadêmico,
olares constitui a primeira atividade des- como pesquisador do NETPRE/UFSCar.
ta Comissão. O produto painel alveolar A CE conta com membros dos diversos
será tratado posteriormente, uma vez que setores da cadeia produtiva, tais como: fa-

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bricantes de lajes alveolares, projetistas, norma e demais manuais do fib e PCI tam-
fornecedores de insumos e fabricantes de bém têm sido consultados na elaboração
equipamentos, bem como pesquisadores, do texto-base.
em especial, os representantes do NETPRE, Foram formados três grupos de traba-
e consumidores do produto. lho para o desenvolvimento de parte do
texto-base a ser apreciado em plenária. Os
3. Norma de grupos são coordenados por membros da
Lajes Alveolares CE e todo o processo é acompanhado pela
coordenação da CE. São os grupos:
3.1 Etapas do processo n Grupo 1 - Materiais, Produto e Produ-
As diretrizes da ABNT para o desenvol- ção: responsável pela elaboração dos Capí-
vimento das Normas Brasileiras seguem tulos 5, 6, 12 e parte do Capítulo 11 (Tabe-
padrões internacionais de normalização la1), a partir da análise dos procedimentos
e visam obter documentos com conteúdo de produção e montagem de fabricantes e
coerente, claro e preciso, que considerem das especificações do Selo de Excelência
o estado da arte, que sirvam de base ao ABCIC[5], que foi elaborado por meio de um
desenvolvimento tecnológico e que sejam Comitê desta Associação, tendo como base
suficientemente completos para a apli- normas de qualidade internacionais e as
cação a que se destinam, permitindo que normas técnicas ABNT que são aplicáveis.
toda a sociedade possa deles fazer uso. O Selo consiste num programa de qualida-
Como a ABNT é signatária do Código de de evolutivo específico para as indústrias
Boas Práticas em Normalização da Orga- de pré-fabricados que busca a melhoria das
nização Mundial do Comércio, as Normas empresas com o avanço dos níveis do Selo.
Brasileiras devem ser elaboradas conside- O Grupo 1 é coordenado pela Enga. Íria Lí-
rando o estado da arte no País e também cia Oliva Doniak. Fazem parte do texto do
o tratamento dispensado ao tema interna- grupo os aspectos de fabricação, de mon-
cionalmente. tagem, equipamentos e do controle tec-
Seguindo essas diretrizes, para a ela- nológico de produção. Neste último, são
boração do texto-base, a CE 18:600.19 de- tratados, por exemplo, os tipos de ensaios,
finiu o sumário apresentado na Tabela1, a frequência mínima e aqueles ensaios es-
tendo como base a norma EN 1168[4] e sua pecíficos ainda não normalizados (em con-
aplicabilidade no contexto nacional. Esta junto com o Grupo 2).

[Concreto & Construções] | 46 |


normalização técnica
n Grupo 2 - Dimensionamento de seções construção e de vida útil, sem emprego de
transversais de lajes alveolares pré-fabri- fôrmas, mesmo com grandes sobrecargas.
cadas – Verificações de projeto: responsá- A qualidade e durabilidade dos elementos
vel pela elaboração dos Capítulos 7 e 11, são garantidas pela dosagem do concreto
a partir dos resultados das pesquisas, tan- com baixa relação água-cimento, elevada
to na área experimental quanto analítica resistência característica à compressão e
e numérica, do NETPRE em parceria com cura controlada, muitas vezes a vapor. A
fabricantes e a ABCIC, dentre outras. Este armadura predominante é a ativa (proten-
grupo é coordenado pelo Prof. Marcelo de são), não se adotando armaduras frouxas
Araújo Ferreira e conta com a colaboração ou de cisalhamento nos processos por ex-
de outros pesquisadores do NETPRE e UFS- trusão e por moldadora. Os alvéolos (va-
Car. São assuntos do grupo: as verificações zios na seção transversal da laje) conferem
de projeto da seção transversal propria- economia de concreto, maior altura útil da
mente dita, tais como, flexão, cisalhamen- laje alveolar,bom comportamento térmico
to, fendilhamento e outras. e acústico da seção transversal da laje.
n Grupo 3 – Dimensionamento de siste- Dessa forma, a produtividade e rapidez
mas estruturais - Critérios de projeto: da produção é maximizada pelo arranjo de
responsável pela elaboração dos Capítulos produção, feito por cada fabricante, que
8 e 9, bem como pela análise dos assuntos envolve a extensão da pista, tipos de equi-
desenvolvidos para o Capítulo 7 quanto aos pamentos e materiais, padronização dos
critérios de projeto usualmente adotados. elementos e mínimas intervenções nos
Este grupo é coordenado pela Enga. Danie- mesmos, como recortes e preenchimento
la Gutstein e conta com apoio de demais de alvéolos.
membros projetistas e produtores. Fazem A normalização desse produto visa, en-
parte dos tópicos do grupo: efeito diafrag- tão, a garantir a qualidade aliada a rapidez
ma, comportamento de lajes contínuas, de todas etapas porque passam os elemen-
capeamento estrutural, detalhamento e tos, para diferentes processos produtivos.
outros sobre o tema. Devem ser estabelecidas na norma as ve-
rificações de esforços a serem adotadas e
3.2 Dimensionamento das seções as condições de carregamento de análise.
transversais e pesquisas de apoio O projeto deve considerar as condições
São consideradas lajes alveolares pro- de carregamento transitórias, tais como:
tendidas pré-fabricadas os elementos protensão, içamento, transporte, armaze-
produzidos por pré-tração, moldados em namento e montagem (Figura1), além das
pistas de protensão de até 200m, de ins- condições de carregamento de vida útil.
talações industriais. Os processos mais A normalização do dimensionamento
difundidos em instalações industriais, de- das seções transversais de lajes alveola-
vido à mecanização e produção elevada, res (Capítulo7 do Projeto de Norma) está
são os de moldagem por extrusão e por sendo feita a partir do estudo das pesqui-
moldadora, que empregam concreto de sas internacionais, como as realizadas em
abatimento nulo, com alto grau de com- parceria com a fib e o PCI, e também das
pactação. As lajes produzidas apresentam pesquisas nacionais. Conforme artigo pu-
características compatíveis com o tipo de blicado sobre a resistência de lajes alve-
equipamento adotado. olares pré-fabricadas ao cisalhamento[6],
A protensão e o emprego de cimento essas pesquisas têm sido realizadas em
de alta resistência inicial (ARI ou ARI/RS parcerias entre fabricantes associados à
- resistente a sulfatos) possibilitam que se ABCIC e o NETPRE, comparando os dados
tenha grande produtividade na fabricação obtidos com a normalização brasileira e
das lajes alveolares e consequente agilida- internacional de referência.[1],[2][3]e[4]
de no processo construtivo das lajes alveo- Essas pesquisas fornecem subsídios para
lares. Vãos elevados de até 20m podem ser fins de normalização quanto à avaliação de
vencidos por lajes alveolares nas fases de desempenho de produto e ao controle de

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qualidade. Diversos fatores influenciam indicações importantes para a escolha das
nos mecanismos resistentes e nas formas formulações de verificações de esforços na
de ruptura das lajes alveolares. A verifi- nova norma. As características nacionais
cação ao esforço cortante é uma das mais devem ser levadas em conta, uma vez que
importantes a ser normalizada. Os meca- a normalização internacional é baseada em
nismos de ruptura ao cisalhamento são crí- pesquisas de produtos comumente empre-
ticos, em geral, nas lajes de menores vãos gados nos países europeus.
e/ou de maiores carregamentos. Uma vez
que a laje alveolar não utiliza armadura à 3.3 Sistemas estruturais compostos
força cortante, é projetada para atender por lajes alveolares
aos requisitos de dispensa de armadura de Dentre os assuntos a serem abordados
cisalhamento em lajes e, algumas vezes, na nova norma, merece destaque também
utiliza-se de artifícios, como o preenchi- o Capítulo 8, que trata do dimensiona-
mento dos alvéolos e a adoção de capa mento de sistemas estruturais compostos
estrutural, para melhorar o seu comporta- por lajes alveolares. Este Capítulo trará
mento ao cisalhamento. a definição do elemento capa estrutural,
Os ensaios realizados possibilitaram a especificará a obrigatoriedade de projeto
validação da metodologia de ensaio do ma- estrutural deste elemento e também os re-
nual da FIP[7] em fábrica nacional, que será quisitos de projeto e de execução da seção
referência para ensaios de controle de qua- composta, formada pela laje alveolar e ca-
lidade de produto em fábrica. Embora os peamento estrutural, entre outros.
resultados desses ensaios não solucionem Sistemas estruturais de edificações mul-
todas as dúvidas sobre o assunto, trazem tipiso formados por lajes alveolares apoia-

[Concreto & Construções] | 48 |


normalização técnica
das em vigas e pilares pré-fabricados, ou diafragma, devido aos pisos e ligações viga-
mesmo em pilares moldados no local (Figu- pilar semi-rígidas. A modulação desta obra
ra 2), têm sido cada vez mais utilizados no é de 8mx8m e a sobrecarga típica global é
Brasil. É usual a solução com capeamento de 3,5 kN/m2 nas áreas de estacionamento
estrutural e a consideração das lajes alveo- e de 10kN/m2 nas demais áreas do shop-
lares com efeito diafragma no pórtico estru- ping. Esse carregamento pode ser utilizado
tural, com ou sem continuidade. A continui- pelo proprietário e lojistas como for mais
dade pode ser considerada com a inclusão adequado, compondo o total entre cargas
na obra de armação superior nas regiões de permanentes e acidentais.
momento negativo e solidarização da seção
composta formada pela laje e capeamento 4. Conclusões
com seus apoios. Mesmo sem continuidade, Este trabalho apresentou as ações con-
é comum a utilização de tela soldada em juntas entre a ABCIC, fabricantes, proje-
todo o plano das lajes, para controle de re- tistas e pesquisadores de lajes alveolares,
tração e variação de temperatura. que culminaram na elaboração de um tex-
Para destacar a importância da laje al- to-base para a norma de lajes alveolares.
veolar na engenharia brasileira, apresen- A Norma, quando aprovada, será uma im-
ta-se, na Figura 2(b) um exemplo de obra portante contribuição à construção pré-
onde são empregadas lajes alveolares de fabricada no Brasil e já está em estágio
estruturas de concreto pré-fabricadas. Esta adiantado de desenvolvimento no âmbito
obra é uma das mais altas do Brasil com do ABNT/CB-18.
este sistema estrutural. Segundo os res- A sua importância foi destacada ao lon-
ponsáveis pelo projeto, nesta obra, com 10 go deste trabalho a partir de alguns temas.
pavimentos, são empregadas lajes alveola- Outros tópicos importantes, como os re-
res nos pisos de pavimentos, apoiadas em quisitos do produto acabado, os métodos
vigas pré-fabricadas e estas, por sua vez, de produção, o comportamento quanto ao
em consolos de pilares pré-fabricados. Os incêndio, por exemplo, têm sido extensi-
pilares são compostos por dois ou três ele- vamente debatidos na CE e farão parte da
mentos ao longo da altura da edificação. Os norma. Outro enfoque será a definição das
pisos de lajes são formados pela solidariza- responsabilidades, para garantir o atendi-
ção das lajes alveolares com o capeamento mento de seus requisitos.
estrutural e seus apoios, considerando-se, A tendência é que a nova norma apre-
no modelo estrutural de pórtico, o efeito sente requisitos para um projeto mais de-

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talhado. Vem a preencher lacunas de pa- fib International Congress 2010 e demais
dronizações mínimas relacionadas às lajes eventos nacionais, que permitiram, den-
alveolares e aos sistemas estruturais for- tre outros, a validação de metodologia
mados pelas mesmas, bem como de especi- apropriada para aplicação em fábrica e
ficações e orientações para minimizar pro- motivou parcerias entre fabricantes,
blemas, discussões técnicas e contratuais ABCIC e NETPRE.
entre produtores, projetistas e proprietá- À empresa CMA-Carlos Melo & Associa-
rios. Também a concorrência desleal ten- dos, responsável pelo projeto da estrutura
de a ser reduzida, uma vez que passam a pré-fabricada do Shopping Via Brasil-RJ,
existir padrões mínimos pré-estabelecidos pelos dados fornecidos.
em norma. Às empresas Cassol Pré-fabricados/PR,
O setor de estruturas pré-fabricadas e Premodisa Sorocaba/SP, Protensul Pré-fa-
de consumidores (demais obras que utili- bricados/SC e T&A Pré-fabricados/PE, por
zam as lajes alveolares) tende a crescer viabilizarem estudos visando a normaliza-
quando se estabelecem padrões mínimos ção técnica de lajes alveolares.
de segurança estrutural, de produção e de Às empresas Cassol Pré-fabricados/
controle de qualidade. Essa normalização PR, Munte Construções Industrializadas/
está sendo desenvolvida de forma que não SP e Premo Construções e Empreendi-
impeça a evolução tecnológica e que possa mentos/MG, que disponibilizaram seus
ser atendida pelos fabricantes, projetistas procedimentos e bibliografias referentes
e demais responsáveis envolvidos. às lajes alveolares, para a análise e fonte
de consulta.
5. Agradecimentos Ao proprietário da obra do Shopping Via
À Cassol Pré-fabricados pelos dados Brasil, pela possibilidade de uso das ima-
fornecidos sobre o projeto das lajes al- gens do empreendimento.
veolares do Shopping Via Brasil e pelos À empresa Zamarion e Millen Consulto-
ensaios de lajes alveolares realizados na res, que disponibilizou seu escritório para
fábrica de Araucária/PR. Estes ensaios, reuniões e ao Eng. Eduardo Millen, que tem
feitos em parceria com o NETPRE, origi- tido participação ativa como representante
naram referências internacionais impor- da ABECE, bem como aos demais integran-
tantes, como as apresentadas nos even- tes da CE que têm se dedicado aos traba-
tos PCI 2008 Anual Convention e Third lhos de normalização.

Referências Bibliográficas
[01] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 9062: Projeto e execução
de estruturas de concreto pré-moldado. Rio de Janeiro, 2006.
[02] ______.ABNT NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto. Rio de Janeiro, 2007.
[03] ______.ABNT NBR 14861: Laje pré-fabricada - Painel alveolar de concreto protendido –
Requisitos. Rio de Janeiro, 2002.
[04] COMITÊ EUROPEU DE NORMALIZAÇÃO. EN 1168: Precast concrete products - Hollow core
slabs. Brussels, 2005.
[05] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA DE CONCRETO - ABCIC.
Documentos integrantes do sistema de gestão do Selo Excelência ABCIC. São Paulo, 2003.
Disponível em: <http://www.abcic.org.br/selo_excelencia.asp>. Acesso em: 05 de
agosto de 2010.
[06] Ferreira, M. A.; Fernandes, N. S; Carvalho, R. C.; Ortenzi, A.; Doniak, I. L. O.; Livi, L. O.
Resistência de lajes alveolares pré-fabricadas ao cisalhamento. Revista Téchne no. 132,
Março, 2008.
[07] FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DA PROTENSÃO - FIP. Guide to good practice: Quality
assurance of hollow core slab. London, England, 1992. n

[Concreto & Construções] | 50 |


melhores práticas
melhores práticas
paredes duplas

Paredes duplas:
o sistema circular
na construção
industrializada
FAbio Casagrande – engenheiro civil e diretor
Sudeste Pré-Fabricados

Interior da fábrica da Sudeste Pré-Fabricados, Estação de giro


em Nova Odessa, região de Campinas/SP

O Sistema Circular vergência, externamente, ocorreu em vir-


e a origem das tude do gargalo de falta de mão-de-obra
Paredes Duplas especializada, carência que hoje também

C
onhecido como “Planta Carros- faz parte da realidade brasileira. Da ne-
sel” no Velho Continente, o sis- cessidade e do conhecimento acumulado
tema circular para produção de resultaram a produção totalmente auto-
painéis em concreto foi aprimorado du- matizada e contínua de painéis em con-
rante as últimas três décadas e, hoje, é creto armado customizados, chamados de
amplamente utilizado para a construção paredes duplas.
da parede dupla, uma importante evolu- Com função estrutural, cada parede
ção tecnológica que incorpora o conceito dupla é composta por duas placas de con-
de construção industrializada. Essa con- creto, pré-fabricadas, unidas por treliças

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função do proje-
to. O módulo de
deformação é de
25GPa. Só depois
de fixadas as pa-
redes duplas e as
lajes treliçadas,
a concretagem é
feita, simultâne-
amente, tornan-
do a estrutura
monolítica.
Modelo de laje treliçada Sudeste, que permite a redução dos trabalhos
em armaduras Expostas as ca-
racterísticas téc-
de aço. A aplicação de um modelo externo nicas das paredes duplas, vale enfatizar
ao tradicionalmente aplicado na constru- a segurança e o cumprimento das normas
ção civil brasileira, como qualquer meio técnicas brasileiras a que o sistema cons-
inovador, requereu o estudo do layout do trutivo está sujeito.
sistema circular, fator determinante para
o sucesso do produto brasileiro, que hoje Tecnologia que
é flexível para atender todos os tipos de oferece segurança
obras. O sistema de produção de paredes O sistema construtivo de paredes du-
duplas foi concebido para obter painéis de plas possui algumas particularidades que
dimensões e espessuras diversas, sem a visam dar garantia ao construtor quanto
necessidade de mudanças na fabricação. à segurança do produto. Como as pare-
As variações dos painéis que com-
des são produzidas na horizontal e ao
põem as paredes duplas podem ter a di-
nível do chão da fábrica, garante-se a
mensão de até 3,20m de altura por até
cobertura das armaduras pelo concre-
13,30m de comprimento, com a espessu-
to, conforme especificado. O concreto
ra total da parede variando entre 0,15m
é lançado através de um distribuidor de
e 0,36m. A estrutura de uma edificação
que utiliza paredes duplas também irá concreto automatizado, projetado espe-
contemplar o uso de lajes treliçadas. cialmente para esse produto, o que ga-
As lajes treliçadas, por sua vez, podem rante a espessura de projeto da parede.
ter a dimensão de até 2,60m de largu- O sistema de vibração utilizado, deno-
ra (dada a limitação do transporte) por minado “shaking”, em que a vibração é
até 13,30m de comprimento. Cada placa executada em função do peso do concre-
do painel da parede de concreto pode to lançado, garante que a superfície da
variar de 4,5cm a 7,0cm. A resistên- parede em contato com a fôrma (palete)
cia mínima do concreto é de 30,0MPa, fique isenta de bolhas, evitando, por-
havendo possibilidade de alteração em tanto, acabamentos posteriores.

[Concreto & Construções] | 52 |


melhores práticas
mente, esta lâmina foi polida, o que con-
feriu às paredes uma melhora sensível nas
condições de durabilidade e qualidade final
tidas como padrões.
Os projetos das paredes duplas, uma
vez utilizados para fins industriais, comer-
ciais, em hospitais, escolas, presídios ou
habitações, seguem as Normas Brasileiras,
notadamente as abaixo relacionadas.

Ambientalmente
correto
Todos os meses o Departamento de
Limpeza Urbana da Prefeitura de São
Paulo (Limpurb) recolhe cerca de 144
mil m³ de entulho. Extraoficialmente,
estima-se que essa quantidade seja três
vezes maior. Dados do departamento re-
velam que 10% de todos os materiais en-
tregues em canteiros de obras são des-
perdiçados. A imprecisão na compra, a
ineficiência no processo de construção
artesanal e os equívocos na elaboração e
execução dos projetos, somados às per-
Ligação entre paredes duplas e laje treliçada
das no transporte e no armazenamento,
O que confere a qualidade dimensional geram esse desperdício.
da peça é o sistema de projeção a laser, O fato chama a atenção de ambienta-
que garante a precisão necessária para não listas e vira problema de saúde pública em
haver retrabalhos. grandes centros urbanos, que encontram
No projeto do palete foram feitas várias dificuldades na deposição dos resíduos. Em
simulações de elementos finitos, até se che- poucos anos, estima-se que a escassez de
gar à melhor estrutura, relacionando a de- lugares para descarte elevará o preço para
formação com o peso e o volume ocupados. aterrar o material.
A construção dos paletes foi feita em aço A geração de resíduos deveria ser uma
especial, caracterizado no mercado como preocupação ainda na fase inicial do proje-
chapa grossa de aço soldável, de alta re- to, em sua concepção. A racionalização dos
sistência à abrasão, com dureza mínima de materiais e a eficiência são determinantes
500HB e espessura na faixa de 6 a 19mm, para uma obra limpa e sem prejuízos. As
tratado termicamente e laminado em uma paredes duplas seguem a classificação dada
só chapa, sem qualquer emenda. Posterior- à matéria-prima, concreto, pelo Conselho

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A automatização de
um sistema construtivo
de paredes duplas re-
quer algumas observân-
cias, como a simulação
de elementos finitos, no
projeto do palete, até se
chegar à melhor estrutu-
ra, relacionando a de-
formação com o peso e
volume ocupados. A au-
tomatização do processo
envolve ainda a escolha
de softwares que geren-
ciam todas as fases, des-
de o recebimento dos
Obra industrial com fechamento em Paredes Duplas
projetos até a gestão de
Nacional do Meio Ambiente (Conama) que, cada módulo no ciclo produtivo, para chegar
de acordo com a resolução 307, de 5 de ju- ao canteiro de obras. A produção, controlada
lho de 2002, determina que os resíduos de digitalmente, garante precisão, uniformida-
concreto podem ser considerados de classe de e rapidez, já que não há incorreções. Há
A e os resíduos de aço de classe B. Quanto exatidão quanto à geometria dos elementos,
à destinação, isso significa que os resíduos à mistura do concreto e ao posicionamento
de classe A são reutilizáveis ou recicláveis das telas e das treliças metálicas. A produ-
como agregados e os de classe B são reci- ção pelo sistema circular permite também a
cláveis para outras destinações. incorporação de pontos hidráulicos e elétri-
Além da reciclagem, que favorece o re- cos, abertura de portas, caixilhos e rebaixos
aproveitamento do concreto estrutural de para apoio de lajes.
RCD (resíduos de construção e demolição)
e de centrais dosadoras em relação aos ti- O Processo que
jolos cerâmicos e argamassas, a alternati- Envolve a Produção
va, ecologicamente correta, também gera da Parede Dupla
peças com maior capacidade de carga e A produção da parede dupla é dita cir-
evita deformações e patologias. cular porque o sistema se dá sobre mesas de
superfície metálica polida que circulam pela
A Automatização do área de produção. O exato posicionamento
Sistema Construtivo das réguas que compõem os moldes se deve
de Paredes Duplas
aos projetores de laser e a imãs integrados às
O Sistema Circular de construção em
réguas. As armações de treliça e de aço tam-
concreto consiste em uma planta, cujos
bém são montadas sobre as mesas. A estação
moldes são paletes que se movimentam ci-
de concreto, por sua vez, prepara a mistura
clicamente em todas as fases do processo
produtivo. O movimento longitudinal ocor- automaticamente, que é lançada por meio
re através de dezenas de moto-redutores e de um distribuidor sobre a mesa. Na estação
fricções espalhados estrategicamente pela de “shaking”, é feita a compactação. A esta-
fábrica. Já, os movimentos transversais são ção gira 180º e realiza a união entre os dois
realizados por carros autônomos que, por elementos. A espessura também é controla-
sistema hidráulico, elevam o palete através da por meio de processo automático. O últi-
dos moto-redutores e movimentam-no en- mo passo é o da câmara de cura: ali a parede
tre as linhas longitudinais de transporte. dupla permanece por oito horas

[Concreto & Construções] | 54 |


melhores práticas
Testes que
asseguram o
desempenho do
sistema de
paredes duplas
A importância de um instituto impar-
cial para atestar a qualidade e aprovar o
sistema construtivo confere credibilidade
ao sistema das paredes duplas. A avaliação
técnica do Instituto de Pesquisas Tecnoló-
gicas (IPT) sobre o desempenho do sistema
incluiu os seguintes testes:
n 1 – Desempenho estrutural
n 2 – Segurança ao fogo
Unidas entre si por treliças metálicas, as
n 3 – Estanqueidade à água paredes formam um painel, que quando é
n 4 – Desempenho térmico montado na obra, realiza a dupla função de
estrutura portante e fechamento.
n 5 – Desempenho acústico
n 6 – Durabilidade Todos os relatórios foram considerados
A avaliação técnica teve como base de acordo com os requisitos exigidos pelas
a DIRETRIZ SINAT Nº 002 (Sistema Nacio- normas brasileiras e o sistema apto a ser
nal de Avaliação Técnica), os critérios aplicado. As paredes duplas já são consi-
de desempenho estabelecidos na ABNT deradas pela Gerência de Desenvolvimen-
NBR 15.575 e os requisitos constantes to Urbano (GIDUR) um sistema construtivo
na normalização brasileira, tendo sido homologado a ser utilizado em unidades
emitidos os relatórios apresentados na habitacionais financiadas pela Caixa Eco-
tabela acima. nômica Federal.

Referências Bibliográficas
[01] ______. ABNT NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio
de Janeiro, 2007.
[02] ______. ABNT NBR 6120: Cargas para o cálculo de estruturas de edificações –
Procedimento. Rio de Janeiro, 2000.
[03] ______. ABNT NBR 6123: Forças devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 1990.
[04] ______. ABNT NBR 8681: Ações e segurança nas estruturas. Rio de Janeiro, 2003.
[05] ______. ABNT NBR 9062: Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado –
Procedimento. Rio de Janeiro, 2006.
[06] ______. ABNT NBR 12655: Concreto de cimento Portland - Preparo, controle
e recebimento – Procedimento. Rio de Janeiro, 2006.
[07] ______. ABNT NBR 15575: Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho.
Rio de Janeiro, 2008.
[08] BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resão 307. Brasília, DF, 2002.
[09] BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação.SINAT - Sistema
Nacional de Avaliação Técnica .Brasília, DF, 2006. n

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mantenedor

Selo de Excelência
ABCIC: compromisso
com a construção
sustentável
Íria Lícia Oliva Doniak - Diretora Executiva
Abcic

Giancarlo de Filippi - Auditor


CTE

A
ABCIC (Associação da cia, pois ela vem ao encontro às
construção Industria- necessidades de treinamen-
lizada de Concreto), to especificadas no pro-
que representa os produto- grama de certificação do
res de estruturas pré-mol- setor,denominado SELO DE
dadas com ênfase na pré- EXCELÊNCIA Abcic.
fabricação (pré-moldados O selo, lançado em
produzidos na indústria, 2003, teve como referência
conforme designação da de estruturação o Programa
ABNT NBR 9062), está asso- de Certificação de Plantas
ciada ao IBRACON, como sócia de Produção do PCI (Precast
mantenedora, desde 2006. Prestressed Concrete Institu-
Atualmente, a ABCIC integra o te- Chicago) e seus requisitos foram
Conselho Diretor do IBRACON e possui re- estabelecidos de acordo com as normas
presentação no Conselho e no Comitê de técnicas ABNT aplicáveis, como a NBR9062
Certificação, responsável pelo programa e suas complementares, e também com a
de qualificação de mão de obra, operacio- ISO 9001 e 14001, para gestão da qualidade
nalizado pelo NQCP (Núcleo de Qualifica- e da ambiental, respectivamente. O Selo
ção e Certificação de Pessoal), acreditado leva também em conta a NR-18, enfatizan-
pelo INMETRO como organismo certifica- do os princípios de segurança no trabalho
dor de pessoas, que conduz a certificação e, por esta razão, foi chamado de excelên-
de profissionais em controle de qualidade cia e não apenas de qualidade.
de concreto. Atualmente, das 50 empresas associa-
Para a diretoria da Associação, incen- das à entidade, 17 possuem o Selo, totali-
tivar os profissionais das empresas pré- zando 21 plantas de produção.Trata-se de
fabricadoras associadas a buscarem essa um programa evolutivo, que procura, ao
certificação é de fundamental importân- longo dos níveis, ressaltar importantes as-

[Concreto & Construções] | 56 |


mantenedor
pectos. Inicialmente, ele assegura o cum- conseguindo detectar e corrigir deficiên-
primento das Normas Técnicas da ABNT e cias e analisar sua evolução, conquistando
das práticas recomendadas para o setor. Ao expressivos ganhos técnicos e gerenciais.
atingir o segundo nível, a empresa passa a Além do valor agregado a cada organiza-
garantir a qualidade (conceito de Garantia ção, o selo cumpre um importante papel
da Qualidade) e, por fim, ao conquistar o ao melhorar o desempenho do segmento
nível III, a empresa aprimorou aspectos re- de pré-fabricados de concreto no mercado
lativos à gestão, tais como: abordagem de da construção.
processos, segurança e meio ambiente. To- O CTE (Centro de Tecnologia de Edifi-
dos os níveis colaboram para que o sistema cações) é o órgão responsável pela opera-
em pré-moldados de concreto seja susten- cionalização, incluindo as auditorias inicial
tável, tanto ecologicamente correto, como e de manutenção, que são semestrais e
socialmente justo. validadas por uma comissão de credencia-
Fornecer um produto durável é uma mento, composta por representantes de
questão de consciência para com a socieda- entidades afins: ABNT-CB-18, ABECE, SIN-
de e isso deve ser demonstrado na prática, DUSCON-SP, IAB-SP,entre outras.
com os resultados comprovados pelo Con- Para saber se um fornecedor de pré-
trole de Qualidade. Aderindo ao programa, fabricado é certificado, basta solicitar o
a empresa se mostra comprometida com atestado e verificar o nível, o escopo, a
o mercado, intensifica o relacionamento planta de produção e a validade. Todas
com os fornecedores, utiliza de maneira as informações referentes ao programa
racional os recursos naturais e diminui os encontram-se disponíveis em nosso site,
impactos ambientais. bastando acessar em certificação ou dire-
Com a certificação, a empresa tem tamente sobre a logo do selo disponível na
uma visão ampla sobre diversos aspectos, home www.abcic.org.br. n

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normalização técnica
ABNT NBR 15823

A Norma Brasileira de
Concreto Autoadensável
Ricardo Alencar
SIKA

Marco Aurélio Cupertino


FURNAS

Inês Battagin
ABNT/CB18

1. Introdução 2. Classificação

D
esde o início de 2008, o Comitê do concreto
Brasileiro de Cimento, Concre- autoadensável
to e Agregados da Associação no estado fresco
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/ As características do concreto autoa-
CB-18) vem desenvolvendo atividades densável no estado fresco dependem do
de normalização visando estabelecer di- tipo de aplicação, da geometria da es-
retrizes para o concreto autoadensável trutura, do equipamento de lançamento
(CAA). A Comissão de Estudo responsá- (bomba, caçamba, grua), da importância
vel pelo tema foi formada por produto- do acabamento, entre outros. A seguir, são
res, consumidores de concreto, seus ma- apresentados os quatro parâmetros princi-
teriais constituintes, representantes de pais para a especificação do CAA.
institutos de pesquisa, laboratórios da
iniciativa privada, universidades, entre 2.1 Fluidez e escoamento (SF)
outros. Apesar do uso crescente desse O valor do espalhamento, medido através
material no País, não havia ainda nor- do ensaio do slump-flow, fornece indicações
ma brasileira específica para disciplinar da fluidez do CAA e de sua habilidade de pre-
o assunto. enchimento das fôrmas em fluxo livre.
Os esforços nesse sentido culmina- O ensaio previsto na Parte 2 da ABNT
ram com a aprovação, em 2010, de seis NBR 15823 é realizado pelo espalhamen-
textos normativos, que estabelecem os to do tronco de cone de Abrams. O mol-
requisitos para classificação, controle de tronco-cônico é posicionado sobre
e aceitação do CAA no estado fresco, o centro de uma base plana e a seguir
prescrevendo ensaios específicos. Este preenchido com o concreto sem compac-
trabalho apresenta os principais aspec- tação. Após o preenchimento, o molde
tos e comenta as bases técnicas para é levantado e o concreto flui livremen-
o desenvolvimento da ABNT NBR 15823, te. O resultado do ensaio é a média de
a partir de documentos europeus, nor- dois diâmetros perpendiculares do círcu-
te-americanos e da experiência dos lo formado pela massa de concreto. Esse
envolvidos nos trabalhos da Comissão ensaio é especificado para todas as apli-
de Estudo. cações do CAA.

[Concreto & Construções] | 58 |


normalização técnica
zados no laboratório de FURNAS mostraram
que a posição do molde tronco-cônico não
interfere significativamente no resultado
do ensaio de espalhamento, porém com
o molde na posição invertida, há aumento
do tempo de escoamento (t500).
Na aplicação do concreto, normalmente
se obtém melhor qualidade de acabamento
da superfície da peça concretada quando
o concreto apresenta maior espalhamento,
nesse caso, é mais difícil controlar sua re-
sistência à segregação.

2.2 Viscosidade plástica aparente


(VF ou VS)
A viscosidade do concreto é uma pro-
priedade relacionada à sua consistência
no estado fresco e influencia a resistência
deste ao escoamento. Quanto maior a vis-
cosidade do concreto, maior a sua resistên-
cia ao escoamento. Na prática, o CAA com
baixa viscosidade apresenta um rápido es-
coamento. Já, o CAA com alta viscosidade
se movimenta de forma mais lenta.
O ensaio para determinação direta da
viscosidade é realizado em reômetro e o
resultado obtido é expresso em pascal por
A Norma Brasileira prevê a realização segundo (Pa.s). Uma avaliação qualitativa
do ensaio com o cone na posição normal, da viscosidade do concreto pode ser obtida
seguindo uma tendência internacional através da medida do tempo de escoamen-
(ASTM 1611 e EN 12350-8). Ensaios reali- to do CAA em ensaios que medem sua habi-

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to na Parte 4 da Norma e que segue a li-
nha estabelecida pela EPG (2005), mede a
habilidade passante, sob fluxo confinado,
através da razão entre as alturas H2 e H1
da superfície do concreto nas extremidades
posterior e anterior da câmara horizontal,
respectivamente, após aberta a grade de
separação entre os compartimentos, como
mostra a Figura 3.
A EN 12350-10 (2007) considera o tem-
po que o CAA leva para atingir as marcas de
20cm e 40cm da fase de contenção. Pelos
estudos realizados para o desenvolvimento
da Norma Brasileira, verificou-se que essa
medida não é operacional, particularmente
para concretos de baixa viscosidade, pois
se necessita de duas marcações de tempo
em um intervalo muito curto. Além disso,
o foco do ensaio é a habilidade passante e
não a viscosidade do concreto.
Como o CAA não se comporta total-
mente como um fluído Newtoniano (fluído
ideal) é necessário um tempo mínimo para
sua estabilização no equipamento, normal-
mente entre 30s e 60s , evitando mascarar
lidade em fluir e, por isso, é chamada, na resultados em obra, pois se o CAA for des-
Norma, de viscosidade plástica aparente. pejado e imediatamente for aberta a com-
O t500 é um ensaio que avalia a viscosida- porta do equipamento de ensaio (caixa-L),
de do concreto em fluxo livre, normalmente o escoamento do concreto será facilitado.
realizado simultaneamente ao ensaio de es- Normalizado pela ASTM 1621, o ensaio
palhamento e consiste na medida do tem- do anel J, previsto na Parte 3 da Norma Bra-
po que o CAA leva para atingir a marca de
500 mm de diâmetro (centrada na base da
placa de ensaio), após a retirada do molde
tronco-cônico (Parte 2 da Norma).
Outro ensaio, denominado funil V, de-
termina a viscosidade sob fluxo confinado,
a partir do registro do tempo que o concre-
to leva para escoar pelo equipamento mos-
trado na Figura 1. Este ensaio é previsto na
Parte 5 da ABNT NBR 15823.
A determinação da viscosidade do concre-
to é particularmente importante quando for
requerido um bom acabamento superficial e/
ou quando a densidade de armadura for ex-
pressiva na peça a ser concretada; caso típico
de concreto pré-fabricado da Figura 2.

2.3 Habilidade passante (PL ou PJ)


A habilidade passante informa sobre
a capacidade de o concreto fresco fluir,
sem perder sua uniformidade ou causar
bloqueio, através de espaços confinados
e aberturas estreitas, como áreas de alta
densidade de armadura e embutidos.
O ensaio utilizando a caixa L, previs-

[Concreto & Construções] | 60 |


normalização técnica
sileira e mostrado na Figura 4, consiste no
mesmo molde tronco-cônico do ensaio de
espalhamento, só que posicionado de forma
invertida, para verificar se o concreto passa
por 16 barras de aço igualmente distribuídas
no anel. A medida da habilidade passante é
obtida pela diferença entre o espalhamento
medido com o anel J em relação ao espalha-
mento medido no ensaio de slump-flow.
A determinação da habilidade passante
pode ser desnecessária no caso de ausência
ou baixa densidade de armadura.

2.4 Resistência à segregação (SR)


A resistência à segregação é a capaci-
dade do concreto de permanecer com sua
composição homogênea durante as etapas
de transporte, lançamento e acabamento.
Sendo que, a segregação pode ocorrer de
duas maneiras:
n Estática: associada aos fenômenos de se-
dimentação, que ocorre quando o concre-
to está em repouso dentro das fôrmas;
n Dinâmica: durante o lançamento, en-
quanto o CAA flui dentro da fôrma.
O concreto sofre segregação dinâmica
durante o lançamento e segregação estáti- isso, se estabelece o índice de segregação
ca após o lançamento. A segregação estáti- em função da porcentagem de agregado
ca é mais danosa em elementos estruturais graúdo em cada porção da amostra.
altos, mas também em lajes pouco espes- A norma americana, contudo, não pre-
sas, podendo levar a defeitos, como fissu- vê uma classificação como a recomenda-
ração e enfraquecimento da superfície. A da pela Norma Européia, que utiliza outra
segregação dinâmica é facilmente detecta- metodologia para a mesma determinação.
da nos ensaios de estado fresco e pode ser Baseado no ensaio da ASTM, Alencar (2008)
corrigida durante a etapa de dosagem. A obteve satisfatória correlação com a clas-
resistência à segregação é particularmente sificação da EN 206-9 (Anexo L, informati-
importante em concretos autoadensáveis vo) para aplicações em produção.
de maior fluidez e baixa viscosidade. A ABNT NBR 15823 classifica o CAA no
Na Norma Brasileira (Parte 6), a ava- estado fresco em função dos parâmetros
liação da resistência à segregação é dada apresentados e, seguindo a linha européia
pelo ensaio da Coluna de Segregação, que da EN 206-9, recomenda, em anexo infor-
teve como base o que estabelece a ASTM C mativo, a correlação dessa classificação
1610. Este ensaio tem sido muito difundi- com a aplicação do concreto em campo,
do, pela sua facilidade de execução, como como exemplifica a Tabela 1.
mostra a Figura 5. A aparelhagem consta
de um tubo de PVC seccionado em três par- 3. Preparo, controle
tes de medidas padronizadas, que são de- e recebimento
vidamente fixadas, apoiadas sob uma base As operações de preparo, controle e rece-
rígida, onde o CAA é despejado. Após cerca bimento do concreto auto-adensável devem
de 20min, é possível extrair as porções de cumprir com o que estabelece a ABNT NBR
concreto, com auxilio de uma chapa metá- 12655, exceto quanto aos requisitos de acei-
lica. As amostras são lavadas e peneiradas tação para o estado fresco. Além disso, a mol-
para remoção da argamassa e separação dagem dos corpos de prova deve ser realizada
dos agregados graúdos, com a determina- sem adensamento manual ou mecânico.
ção da massa daqueles que ficaram aloja- A Norma exige que todos os ensaios se-
dos no topo (mT) e dos da base (mB). Com jam realizados durante os estudos de dosa-

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[Concreto & Construções] | 62 |
gem do concreto em laboratório, mas pres- deve(m) ser realizado(s), pelo menos,
creve, como ensaios de aceitação em obra, uma vez ao dia por traço produzido;
apenas aqueles previstos nas Partes 2 e 3, n Elementos estruturais protendidos:

normalização técnica
ou seja, o ensaio de espalhamento, t500 e o(s) ensaio(s) deve(m) ser realizado(s)
habilidade passante pelo anel J. com o concreto destinado a cada pista
de protensão, no início dela;
3.1 Ensaios de aceitação para concreto n Em ambos os casos, um novo ensaio
dosado em central e recebido na obra deve ser realizado sempre que houver
A aceitação do CAA no estado fresco alteração no proporcionamento dos
deve ser baseada, no mínimo, na compro- materiais, ou paralisação e posterior
vação das seguintes propriedades: retomada dos trabalhos.
n Fluidez e viscosidade – avaliadas pelo Estabeleceu-se uma importante dife-
ensaio de espalhamento e t500, para cada renciação entre o controle de qualidade do
betonada (caminhão); CAA recebido em obra e o produzido em
n Habilidade passante – avaliada pelo en- uma fábrica de pré-moldados, principal-
saio do anel J, a cada 30 m³. mente, porque, neste último caso, não se
Caso sejam especificados os ensaios da trata de um controle de recebimento, pois
caixa L e/ou funil V, pode ser dispensada a a produção é própria.
realização dos ensaios do anel J e/ou t500, Apesar disso, percebe-se que, devido a
respectivamente. um maior controle possível de se obter em
Quando for realizada a introdução de instalações fixas, aliado a uma necessida-
aditivo na obra, deve ser feito previa- de de uma resistência e acabamento supe-
mente o ensaio do abatimento. Depois de rior (peças são aparentes), na maioria dos
completada a mistura do concreto com os casos, é realizado um ensaio a cada peça
aditivos, deve, então, ser coletada uma produzida. Ou seja, muito mais do que o
nova amostra para os ensaios de espalha- estabelecido na Norma.
mento e t500.
Acredita-se que uma avaliação do CAA 4. Sugestões para
apenas por meio do ensaio de espalhamento desenvolvimento
pode não ser suficiente para comprovar o de trabalhos
nível de autoadensabilidade adequado à es- futuros
trutura. Não é à toa que existem quatro ca- Praticamente, não há, na bibliografia
racterísticas de avaliação no estado fresco. (sobretudo nacional), estudos a respeito
Por essa razão e a fim de dar maiores garan- de repetitividade e reprodutividade dos
tias de conformidade do CAA, foi escolhido, ensaios apresentados.
além do teste do espalhamento, também o Além disso, a ABNT NBR 15823 se aplica
t500 e o anel J para avaliação em obra. Isso ao concreto com massa específica normal
porque, o primeiro teste é realizado de for- (2000 kg/m3 a 2800 kg/m3). Deve ser ava-
ma simultânea ao próprio espalhamento, liada, de forma individualizada, a aplica-
não demandando mais tempo de execução bilidade dos requisitos desta Norma para o
e permitindo uma informação adicional da CAA com inclusão intencional de ar, agre-
viscosidade aparente. Já, o segundo é o tes- gados leves, agregados pesados ou fibras.
te mais simples de avaliar a habilidade pas- Entretanto, verifica-se no mercado uma
sante e permite uma análise qualitativa da grande demanda por aplicações especiais,
resistência à segregação, através da visuali- particularmente na utilização de Paredes
zação da capacidade dos agregados graúdos de Concreto, em razão do Programa do
acompanharem a movimentação da arga- Governo Federal: Minha Casa, Minha Vida.
massa, após passarem pelas armaduras. Nesses projetos, muitas construtoras têm
adotado soluções com a incorporação de
3.2 Ensaios de controle para concreto fibras, a fim de reduzir a microfissuração
na indústria de pré-moldados ou devido a desforma rápida e ar incorporado,
em casos especiais para o melhor conforto térmico.
Neste caso, os ensaios prescritos na Encontra-sem, na bibliografia, alguns
NBR 15823 são determinados em função da casos da execução desses ensaios em obras
aplicação e sua freqüência é dada de acor- de paredes (um caso é apresentado na Fi-
do com o processo produtivo, de forma a gura 6). Contudo, os estudos científicos
atender os seguintes requisitos mínimos: realizados nesta área ainda são poucos.
n Elementos estruturais armados: o(s) Com o maior desenvolvimento, espera-se
ensaio(s) (função da aplicação do CAA) poder incluir, em um futuro próximo, um

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tópico sobre aplicações especiais na revi-
são desta Norma.

5. Considerações
Finais
Todos os parâmetros de trabalhabilida-
de devem ser cuidadosamente definidos,
controlados e justificados com base na ex-
periência do contratante e do responsável
pela dosagem experimental. Além disso, o
CAA deve manter as propriedades requeri-
das no estado fresco durante o período de
transporte, lançamento e acabamento.
Como a classificação da viscosidade apa-
rente é feita com base em dois equipamentos
diferentes (sob fluxo livre e confinado), pode
acontecer do mesmo CAA ser classificado
como de baixa viscosidade no primeiro ensaio
e de alta viscosidade no segundo, por uma di-
ferença de pouquíssimos segundos. Muito em-
bora se acredite que, na grande maioria dos
casos, isso não irá acontecer. O mesmo pode
acontecer com a habilidade passante.
Os parâmetros não podem ser con-
siderados de forma isolada, pois todas
as propriedades no estado fresco são
interdependentes.

Referências Bibliográficas
[01] ALENCAR, R. S. A. Dosagem do concreto auto-adensável: produção de pré-fabricados
-São Paulo, 2008. 179p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo;
[02] ALENCAR, R. S. A; HELENE, P. R. L. Self-compacting concrete for in loco molging walls
system for low cost housing, 2010. 8p. Sixth International Conference: Concrete Under
Severe Conditions, Mérida, México;
[03] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C 1621. Standard test for passing
ability of self-consolidating concrete by j-ring. Philadelphia, 2006.
[04] ______. ASTM C 1610. Standard test for static segregation of self-consolidating concrete
using column technique. Philadelphia, 2006.
[05] ______. ASTM C 1611. Standard test method for slump flow of self-consolidating concrete.
Philadelphia, 2006.
[06] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 12655. Concreto de cimento
Portland – Preparo, controle e recebimento. Rio de Janeiro, 2006.
[07] ______. ABNT NBR 15823 Concreto auto-adensável (Partes 1 a 6). Rio de Janeiro 2010.
[08] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION (CEN). EN 206-9. Concrete - Part 9:
Additional Rules for Self-compacting Concrete (SCC). Brussels, 2010.
[09] ______. EN 12350-8. Testing fresh concrete – Part 8: Self-compacting concrete – Slump-
flow test. Brussels, 2010.
[10] ______. EN 12350- 9. Testing fresh concrete – Part 9: Self-compacting concrete –
V-funnel test. Brussels, 2010.
[11] ______. EN 12350-10. Testing fresh concrete – Part 10: Self-compacting concrete – L-box
test. Brussels, 2010.
[12] ______. EN 12350-12. Testing fresh concrete – Part 12: Self-compacting concrete – J-ring
test. Brussels, 2010.
[13] EPG – European Project Group (BIBM; CEMBUREAU; ERMCO; EFCA; EFNARC).
The European guidelines for self compacting concrete. 63p., Surrey, 2005 n

[Concreto & Construções] | 64 |


melhores práticas
melhores práticas
construção racionalizada

Pré-fabricados de
concreto: cenário atual
e necessidades especiais
de produção e controle
Joaquim Correia Xavier de Andrade Filho
Tecomat – Tecnologia da Construção e Materiais Ltda

Angelo Just da Costa e Silva


Universidade Católica de Pernambuco

Tibério Wanderley Correia de Oliveira Andrade


Universidade Federal de Pernambuco

1. Introdução volvendo tanto a produção de peças de

A
grande quantidade de obras grandes volumes, como pilares, vigas e
de construção projetadas e lajes, como elementos de menor porte,
em execução em todo o Brasil, como blocos, peças para pavimentação,
seja no campo das edificações, das in- entre outros.
dústrias, ou mesmo da infra-estrutura
urbana, tem demandado o uso cada vez 2. Cenário dos
mais constante das peças pré-fabricadas pré-fabricados
de concreto, especialmente em face da no Nordeste
velocidade de construção e da racionali- Na década de 60, o mercado dos pré-
zação obtida nos serviços. fabricados iniciou seus primeiros passos
Nos casos de construções seriadas, no Nordeste. Empresas de pequeno por-
muito comuns, por exemplo, em conjun- te produziam peças para estruturas me-
tos habitacionais, essas características nores, como galpões, estacas, postes de
de velocidade e racionalização deixam energia elétrica e similares.
de ser apenas interessantes e passam a Já no início da década de 80, uma
ser essenciais para o adequado cumpri- obra de grande destaque na Região Me-
mento de prazos, dentro dos custos de- tropolitana do Recife foi a construção do
finidos para as obras. metrô, na qual foram produzidos 80.000
Com isso, a indústria dos pré-fabri- dormentes de concreto armado em 2
cados de concreto tem tido um elevado anos. Para a produção utilizou-se pro-
crescimento nos últimos anos em decor- cesso de prensagem e vibração simultâ-
rência dessa imposição do mercado, en- nea do concreto, obrigando a utilização

| 65 | [www.ibracon.org.br]
mesmo nos dias atuais (Figura 1, Figura
de uma mistura bastante seca (consis- 2 e Figura 3).
tência Vêbe), agravado pela inexistên- Em virtude dessa evidência de ade-
cia, na época, de aditivos eficientes. Ao quação do comportamento em uso, já na
todo foram confeccionadas mais de 100 década de 90 foram utilizadas técnicas
dosagens de concreto, resultando em similares para a execução dos dormen-
peças com características que podem tes utilizados na ampliação do metrô do
ser consideradas de alto desempenho, Recife (Figura 4).
Com o passar do tempo, o cenário
competitivo na região alterou o compor-
tamento das empresas. A concorrência
cresceu de tal forma que retirou do mer-
cado os fabricantes que não possuíam a
visão estratégica de que, muito em bre-
ve, a demanda por obras mais rápidas
e com maior controle tecnológico seria
uma realidade.
Atualmente, o cenário que despon-

[Concreto & Construções] | 66 |


melhores práticas
ta já mostra algumas grandes indústrias
que têm se destacado no Nordeste, a
exemplo da cearense T&A e da mato-
grossense-do-sul Metron, recém-chegada
à região. As fábricas que entenderam que
os investimentos em qualidade, aliados a
um acompanhamento técnico constante,
eram um elemento fundamental para o
seu crescimento, sobreviveram e têm,
agora, um mercado aquecido para atuar
e se sobressair. No complexo portuário de
Suape, são vários os exemplos de obras
com pré-fabricados de concreto, em es-
pecial os galpões de grande porte.
Ao mesmo tempo, as empresas lo-
cais também passaram a entender tais
necessidades, além da iminente atuação de significativa às obras, mas para ser
da concorrência, e vêm procurando in- rápido e econômico também necessita
vestir na modernização de equipamen- de um concreto que possa ser proten-
tos e treinamento de pessoal. Nesse sen- dido em menos de 24 horas.
tido, a própria Associação Brasileira de Um exemplo do que o mercado tem
Cimento Portland (Regional NNE) presta demandado é a estrutura montada para
um serviço de assessoria e consultoria o controle das peças executadas nas
para as empresas do setor no Estado e obras da Ferrovia Transnordestina (PE/
região, por meio de palestras, fóruns PI). Para essa obra, de grande porte,
de debate, missões técnicas etc., todas a construtora precisará fabricar 4.800
ações no sentido de aperfeiçoar os ser- dormentes por dia. Isso quer dizer que
viços prestados e fomentar o uso do Ci- cada fôrma metálica terá que ser usada
mento Portland. ao menos duas vezes ao dia. Será, sem
dúvida, um processo de produção que
3. Aspectos demandará uma tecnologia arrojada,
de controle passando pela escolha insumos conheci-
tecnológico dos e controlados, processos especiais
O ponto de partida para qualquer fa- de cura e equipamentos de ponta (Fi-
bricante de peças pré-fabricadas é o con- gura 5).
trole tecnológico do concreto. Esse tipo Situações como essa confirmam a
de insumo exige condições técnicas espe- tese de que o concreto, ao contrário do
cíficas, muitas vezes relegadas nos pro- que pode parecer, não é somente uma
cessos de fabricação, o que faz com que o mistura de cimento, areia, brita, água
surgimento de patologias nas edificações, e aditivo. Para cada aplicação existem
ao longo do tempo, seja inevitável. características especiais, que conce-
O concreto pré-fabricado necessi- derão ao produto as características
ta, na maioria das situações, de um necessárias, em conformidade com as
cimento de alta resistência (principal- condições de exposição e as exigências
mente, nas primeiras idades), de adi- requeridas.
tivos, de adições minerais, e de pro- À medida que o setor da construção
cessos diferenciados de cura térmica. civil se desenvolve, o concreto preci-
Esse sistema, em especial, tem a gran- sa ser cada vez mais resistente, a fim
de vantagem de conceder uma agilida- de que as peças pré-fabricadas tenham

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revisão da NBR 6118, juntamente com a
NBR 12655 (2006), que tratam do projeto
de estruturas de concreto e das operações
de preparo, controle e recebimento, res-
pectivamente, os projetistas passaram a
utilizar parâmetros de dosagem que asso-
ciam os níveis de resistência e durabilida-
de às condições de exposição das peças de
concreto, obrigando a utilização de ele-
mentos com valores mais altos de resis-
tência. Essa mudança, entretanto, acabou
gerando outro problema. Boa parte das
construtoras usa concreto com resistência
de 40 MPa produzindo-o como se fabricava
o de antigamente, de 20 MPa.
Os critérios que devem ser observa-
também suas dimensões reduzidas, o dos em todo o procedimento de fabrica-
que facilita as operações de transporte ção do concreto envolvem sempre alguns
e montagem das peças em face do seu aspectos, que variam a cada projeto. O
menor peso. primeiro deles é a dosagem adequada do
concreto, considerando a relação água/
4. Exigências atuais cimento. Em seguida, deve se analisar
de durabilidade fatores relativos à mistura, transporte,
Atualmente, aliado à necessidade de lançamento e adensamento.
capacidade mecânica, é também preciso Porém, dentre todos esses pontos,
atender às exigências de durabilidade, um dos que merece mais atenção é o da
o que é obtido a partir da utilização de cura do concreto – procedimento que,
peças com maiores níveis de resistência normalmente, é ignorado pelo meio téc-
à compressão (às custas da redução na nico, mas que necessita de providências
relação água/cimento, principal parâ- importantes para que não haja a perda
metro de dosagem) e maiores espessuras precoce da água, de forma a reduzir a
de cobrimento da armadura. Com isso, o possibilidade de surgimento de fissuras.
que se vê são construções com pilares de A utilização e o aperfeiçoamento
concreto com resistência à compressão de constante dos aditivos é também um fa-
40 a 60 MPa. Esse avanço tecnológico tem tor significativo para o progresso do con-
que ser acompanhado pelos profissionais creto nos últimos cinqüenta anos, posto
do setor para que os concretos sejam, de que permitem a fabricação de peças
fato, mais resistentes e mais duráveis. com baixa relação água/cimento, den-
E não se pode referir somente à qua- tro de um mesmo nível de fluidez. Além
lidade do concreto, mas também à qua- de outros aspectos, como a manutenção
lidade de execução das obras. Alguns da consistência por maiores períodos de
edifícios da cidade do Recife, a título de tempo, permitindo transporte adequado
exemplificação, apresentam patologias do concreto até a obra, sem perda das
porque foram construídos em uma épo- suas características, incremento na vis-
ca em que os concretos eram concebidos cosidade do material, importante para
pensando-se, exclusivamente, na sua re- peças auto-adensáveis, entre outros.
sistência mecânica, deixando as questões Há no mundo, hoje, dois sistemas de
de durabilidade em segundo plano. pré-fabricados de concreto. O fechado,
A partir de 2007, com a publicação da em que o próprio construtor produz as

[Concreto & Construções] | 68 |


melhores práticas
peças, muito comum para a construção consigam atender, de forma simultânea, às
de conjuntos habitacionais e de com- exigências de custo, durabilidade e, princi-
ponentes de grande porte em obras de palmente, prazos para execução das obras.
arte (pontes e viadutos), como vigas O emprego de elementos pré-fabri-
longarinas e transversinas; e o aberto, cados de concreto é uma alternativa
através do qual a indústria é que forne- interessante para esses propósitos, fa-
ce os produtos já padronizados, comu- cultando aos construtores a possibilida-
mente destinado à execução de galpões, de de encomenda das peças, que devem
edifícios e outras estruturas de grande chegar já prontas para serem fixadas no
porte. Mas, independentemente de qual local definitivo, ou podem ser produzi-
sistema seja escolhido, a viabilidade dos das no próprio canteiro de obras, con-
pré-fabricados dependerá, sempre, do forme as necessidades de cada caso.
balanceamento entre a repetitividade e Entretanto, é sempre imprescindível
o fator tempo. E isso só é visto de caso que sejam tomados todos os cuidados
a caso, motivo pelo qual um acompanha- durante a concepção e a produção para
mento técnico mostra-se essencial. que se assegure uma adequada vida útil
a essas estruturas. Assim, o presente
5. Considerações estudo discute alguns dos cuidados con-
finais siderados mais importantes durantes as
O desenvolvimento em curso no país, fases de projeto e de controle tecnológi-
com perspectiva de crescimento elevado co, garantindo ao construtor a execução
nos próximos anos, demanda uma natural de uma obra limpa, racional e, com cer-
procura por técnicas de construção que teza, longa vida às estruturas.

Referências Bibliográficas
[01] ANDRADE, T.W.C.O. Avaliação do concreto de alto desempenho utilizado
nos dormentes de concreto protendido nas linhas do Metrô da Região Metropolitana
do Recife. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado),
2001.
[02] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR-9062: Projeto e Execução
de Estruturas de Concreto Pré-Moldado. Rio de Janeiro. ABNT, 1985.
[03] BARBOSA, F. R.; MOTA, J. M. F.; COSTA E SILVA, A. J.; OLIVEIRA, R. A.. Análise
da influência do capeamento de corpos de prova cilíndricos na resistência à compressão
do concreto. In: 51º Congresso Brasileiro do Concreto, 2009, Curitiba.
51º Congresso Brasileiro do Concreto, 2009.
[04] CRUZ NETO, J. M.; COSTA E SILVA, A. J.; ANDRADE, A. S. A. C.; ANDRADE,
T. C. Avaliação da despassivação da armadura por meio de perfil de cloretos
e carbonatação em estrutura de concreto em região agressiva com 20 anos de
idade - Porto do Recife. In: 47º Congresso Brasileiro do Concreto, 2005, Recife.
47º Congresso Brasileiro do Concreto - CBC2005, 2005. v. VIII. p. 104-115.
[05] GEHBAUER, Fritz. Racionalização na construção civil – como melhorar processos
de produção e de gestão. Recife. Projeto Competir (Senai, Sebrae, GTZ), 2004.
448p.
[06] ISAIA, Geraldo Cechella, ed. Concreto: Ensino, pesquisa e realizações.
São Paulo: IBRACON, 2005. 2v. p953-983.
[07] JOHN, V. M.; COSTA E SILVA, A. J.; DELGADO, C. B.; ANDRADE, T. C. Avaliação
de desempenho em postes de energia elétrica em concreto armado (região
não agressiva). In: 41º Congresso Brasileiro do Concreto, 1999, Salvador.
IBRACON, 1999. n

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acontece nas regionais

Projeto de Revisão da
Norma Brasileira ABNT
NBR 15146 está em
Consulta Nacional
O
projeto de revisão da Norma Brasi- Participaram das reuniões da Comissão
leira para a qualificação de pessoal de Estudo do ABNT/CB-18 representantes
de controle tecnológico do con- de toda cadeia produtiva do concreto: cons-
creto (ABNT NBR 15146) está disponível para trutoras, laboratórios de ensaio, usinas de
Consulta Nacional, desde 20 de agosto, no site concreto, fabricantes de cimentos, de adi-
da Associação Brasileira de Normas Técnicas tivos e de outros tipos de materiais consti-
(ABNT), no endereço www.abnt.org.br. tuintes do concreto, instituições de ensino,
Produto de seis meses de trabalhos con- pesquisa e divulgação, como a Associação
tínuos, o projeto objetivou reavaliar ativi- Brasileira de Cimento Portland (ABCP), o
dades e requisitos das categorias profissio- Núcleo de Qualificação e Certificação de
nais responsáveis pelo controle tecnológico Pessoal (NQCP) e o Instituto Brasileiro do
do concreto e adequar os seus procedimen- Concreto (IBRACON). A coordenação dos
tos de ensaios com suas respectivas atuali- trabalhos coube ao professor da Univeridade
zações nas normas técnicas específicas. Mackenzie, Simão Priszkulnik, a relatoria,
“A Norma está no momento certo de ao engenheiro da Petrobras, Bruno Alves de
ser revisada, pois acaba de completar cin- Carvalho, e a secretaria, à engenheira da
co anos”, ressalta a engenheira Inês Batta- Odebrecht, Roseni Cezimbra.
gin, superintendente do Comitê Brasileiro A Consulta Nacional é franqueada a
de Cimento, Concreto e Agregados, quem quem queira opinar, bastando acessar o
reativou a Comissão de Estudo para a revi- texto, fazer seus comentários e encami-
são da Norma pelo ABNT/CB-18. nhar seu voto até 11.10.2010 ao Projeto
A ABNT NBR 15146 tem papel estratégico de Revisão da Norma (identificado na Con-
no contexto atual de crescimento do setor sulta Nacional como Projeto 18:300.01-
construtivo brasileiro, porque regulamenta 005/1), através do site www.abnt.org.br.
a qualificação profissional de quem realiza o Após essa data, as sugestões recebidas
controle tecnológico do concreto, exigindo serão analisadas pela Comissão de Estudo
deste profissional os requisitos técnicos mí- em reunião específica e, se apropriadas,
nimos para o bom desempenho ocupacional. serão implementadas no texto do Projeto.
Por conta disso, a revisão da Norma tornou-se Pretende-se, ainda este ano, que o Projeto
imperativa, tanto para atender as necessida- final, aprovado pela Comissão, seja enca-
des crescentes do mercado por profissionais minhado para homologação e publicação
mais qualificados, como para contribuir com como Norma Brasileira, para substituir a
ambiente mais saudável de negócios. versão até então vigente.

[Concreto & Construções] | 70 |


acontece nas regionais
Em outubro, Fortaleza
será a Capital Brasileira
do Concreto

M
aior fórum nacional e latino-ame- apresentar os trabalhos que vem desen-
ricano de debates sobre a tecnolo- volvendo sobre o concreto e seus mate-
gia do concreto e suas aplicações riais constituintes, as técnicas e sistemas
em obras civis, a 52ª edição do Congresso construtivos, o controle tecnológico do
Brasileiro do Concreto vai ser realizada no concreto, a análise estrutural e a normali-
Centro de Convenções de Fortaleza, de 13 a zação, entre outros assuntos correlatos.
17 de outubro de 2010. Promovido pelo Ins-
tituto Brasileiro do Concreto – IBRACON, o Conferências
evento vai discutir as Novas Tecnologias do Plenárias
Concreto para o Crescimento Sustentável. O Especialistas renomados internacionalmen-
tema será abordado em: te vão apresentar e discutir suas pesqui-
sas científicas e tecnológicas em projeto e
Palestras Técnico- análise estrutural, execução e controle de
Científicas qualidade de obras de concreto, materiais,
Pesquisadores do Brasil e do exterior vão suas propriedades e aplicações, normaliza-

| 71 | [www.ibracon.org.br]
ção, gestão e manutenção de obras, entre toramento e identificação e as técnicas de
outros temas. Estão confirmadas as pales- recuperação das estruturas afetadas.
tras dos seguintes especialistas:
Roberto Stark Seminário “Concreto
(Universidade do México, México) sob Ações Dinâmicas”
“Comparação do projeto de estruturas de Painel de especialistas vai abordar o
um edifício de Fortaleza, considerando as impacto de terremotos sobre as estruturas
ações dinâmicas, com o projeto original” de concreto, tais como: pontes, edifícios e
Benoit Fournier barragens; como também vai expor técni-
(Laval University de Quebec, Canadá) cas de construção mais seguras e que de-
“O estágio atual do conhecimento sobre a mandam menos manutenção, capazes de
Reação Álcali-Agregado – RAA“” resistir à ação de terremotos.
Ernie Schrader
(Schrader Consulting, Estados Unidos) Seminário Copel
“O projeto do Canal do Panamá e o uso do de Sustentabilidade
Concreto Compactado com Rolo: os desa- Repetindo o sucesso do ano passado, a
fios e a questão da durabilidade” segunda edição do Seminário prosseguirá
Jacky Mazars os debates com os especialistas acerca dos
(Instituto Politécnico passos que estão sendo dados e que pre-
de Grenoble, França) cisam ainda ser tomados na indústria da
“As ferramentas de avaliação de danos na construção civil, com vistas a assegurar a
modelagem dos efeitos de cargas severas sustentabilidade no setor construtivo.
em estruturas de Concreto Reforçado”
Hani Nassif Painel de Assuntos
(Universidade de Controversos
Nova Jersey, Estados Unidos) Mesas interdisciplinares de profissionais
“O potencial de fissuração em Concretos debate com os congressistas temas polêmi-
de Alto Desempenho e Concretos Auto- cos no setor construtivo.
adensáveis sob condições de retração
restrita” A programação do 52º Congresso Bra-
sileiro do Concreto vai contar ainda com:
Seminário de Segurança Concursos Estudantis; Cursos de Atualização
de Barragens Profissional; Sessões Pôsteres; Palestras Téc-
Especialistas em projetos de constru- nico-Comerciais; Reuniões Institucionais; Visi-
ção de barragens debatem as normas téc- ta Técnica; e a VI Feira de Produtos e Ser-
nicas e leis em vigor e as que estão em viços para a Construção - Feibracon, onde
discussão na comunidade técnica, no sen- será apresentada uma variedade de produtos
tido de compor um consenso sobre o mar- e soluções construtivas para obras de concre-
co regulatório necessário para a manuten- to de diversos tipos e portes. A VI FEIBRACON
ção preventiva e corretiva de barragens, será aberta ao público profissional.
que assegure as condições adequadas de O evento espera receber mais de 1000
segurança dessas construções. congressistas, de todos os estados brasilei-
ros e do exterior, dos mais variados seg-
Seminário “A Reação mentos da cadeia produtiva do concreto:
Álcali-Agregado – estudantes, pesquisadores, professores,
causas, diagnóstico técnicos, calculistas, tecnologistas, ven-
e soluções” dedores técnicos, diretores e gerentes de
Especialistas em patologias em obras de empresas, empresários, construtores, fun-
concreto discutem as causas e consequên­ cionários públicos e demais profissionais do
cias dessas reações deletérias em estru- setor construtivo.
turas de concreto, assim como expõem os Acompanhe as novidades sobre o even-
métodos mais avançados para o seu moni- to, acessando: www.ibracon.org.br.

[Concreto & Construções] | 72 |


acontece nas regionais
Visita técnica ao
novo Centro de
Eventos do Ceará
N
o sábado, dia 16 de outubro, rojado, por seu tamanho e pelas caracte-
como parte da programação do rísticas das peças pré-fabricadas:
52º Congresso Brasileiro do Con- n Pilares de 28m que, para serem trans-
creto, vai ser realizada visita técnica às portados da fábrica à obra, são fabri-
obras em andamento do Centro de Even- cados em duas partes (15,5m e 12,5m,
tos do Ceará. respectivamente), sendo soldadas na
O Centro de Eventos será o segun- obra a uma média de dois pilares por
do maior do país, com capacidade para dia; no total, a obra terá 300 pilares;
30 mil pessoas. Sua área total será de n Lajes pré-fabricadas de concreto capazes
173 mil metros quadrados, sendo 73 mil de resistirem a sobrecargas de 1500kg;
para exposição. A estrutura será cons- n Vigas protendidas, que além da proten-
tituída de dois blocos subdivididos em são inicial aderente contam também
módulos e uma praça de convivência. com um reforço extra dado por cordo-
Suas peças pré-fabricadas de concreto alhas engraxadas protendidas, de forma
estão sendo fabricadas pela empresa a suportar as elevadas cargas previstas;
T&A Pré-Fabricados, patrocinadora da serão 90 vigas desse tipo;
visita técnica aos congressistas. A obra n Peças de concreto de 30 toneladas,
está a cargo do consórcio Galvão/An- em média;
drade Mendonça. n Volume de concreto pré-fabricado:
A obra impressiona por seu projeto ar- 26 mil metros cúbicos.

IBRACON na Concrete Show


O
Instituto Brasileiro do Con-
creto participou, conjunta-
mente com a Associação Bra-
sileira de Cimento Portland – ABCP,
Associação Brasileira de Serviços de
Concretagem – Abesc e o Sindicato
Nacional da Indústria de Produtos de
Cimento – Sinaprocim, de um espaço
de exposição na Concrete Show 2010,
chamado Concrespaço.
O evento aconteceu de 25 a 27 de
agosto no Transamérica Expo Center, atividades ao seu público-alvo, entre as
em São Paulo. Na ocasião, o IBRACON quais seu evento nacional, o 52º Con-
teve a oportunidade de receber seus gresso Brasileiro do Concreto, que vai
associados e de divulgar sua missão e acontecer de 13 a 17 de outubro.

| 73 | [www.ibracon.org.br]
pesquisa aplicada
ligações em pré-moldados

Avanços para análise e


projeto de estruturas
pré-moldadas com
ligações semi-rígidas
Marcelo de A. Ferreira – Professor Doutor e Coordenador
Roberto Chust Carvalho – Professor Associado e Pesquisador Sênior
NETPRE – UFSCar

Kim S. Elliott, PhD – Professor Associado


University of Nottingham (UK)

1. Introdução de deformação presentes nas ligações

Q
uando a estabilidade lateral pré-moldadas. Por outro lado, Alva et al.
das construções pré-moldadas (2009) argumentam que mesmo as liga-
é provida por ação de pórtico, ções monolíticas não são perfeitamente
as ligações viga-pilar devem ser capazes rígidas, pois apresentam deformações
de transmitir com eficiência os momen- com liberação de rotações para momen-
tos fletores nas extremidades das vigas, tos inferiores ao escoamento.
atendendo aos requisitos de resistência, A aplicação de pórticos pré-moldados
rigidez e ductilidade. O desempenho das com ligações viga-pilar resistentes à fle-
ligações viga-pilar afeta tanto o compor- xão com pilares contínuos se tornou uma
tamento local das vigas adjacentes quan- prática corrente no Brasil. O uso de li-
to o comportamento global da estrutura gações com maior rigidez, no caso de li-
pré-moldada. gações com chapas soldadas, traz a di-
Embora em situações correntes de ficuldade para absorver as deformações
projeto as ligações com resistência à decorrentes das mudanças de volumes,
flexão sejam idealizadas como perfeita- originando forças não intencionais nas
mente rígidas, Elliott et al. (2003a) de- ligações e na estrutura. Assim, é prefe-
monstraram que as ligações típicas viga- rível o adotar o conceito do engastamen-
pilar pré-moldadas com armaduras de to parcial, onde o momento resistido é
continuidade e concretagem no canteiro alcançado para um determinado nível
apresentam comportamento semi-rígido, de rotação. Atualmente, as soluções tí-
havendo uma rotação associada ao mo- picas empregam vigas segmentadas com
mento resistido pela ligação. Em geral, seções compostas apoiadas em consolos
as ligações pré-moldadas possuem rigi- de concreto, com pilares pré-moldados
dezes inferiores às ligações monolíticas, contínuos, onde a armadura negativa de
devido à presença de outros mecanismos continuidade das vigas atravessa os pila-

[Concreto & Construções] | 74 |


pesquisa aplicada
res dentro de bainhas grauteadas ou por 2. Pesquisas sobre
meio de acopladores rosqueados, confor- ligações viga-pilar
me Figuras 1a e 1b. Para o caso das cone- pré-moldadas
xões positivas, são empregadas soluções Embora exista na literatura técnica
por meio de chapas soldadas, conforme um grande número de trabalhos com en-
Figura 1c. Para momentos de menor in- saios de ligações viga-pilar em estruturas
tensidade, um segundo detalhamento pré-moldadas, ainda são poucos os traba-
emprega chumbadores parafusados e lhos específicos sobre o comportamento
grauteados para prover um efeito de pino semi-rígido. Isso se deve ao maior inte-
na ligação, conforme Figura 1d. resse nas ligações com desempenho para
Em função do grau de restrição à ro- zonas sísmicas, nos países como EUA, Ja-
tação, haverá um engastamento parcial pão, Nova Zelândia e Itália. Nesses casos,
associado, o qual depende da relação o projeto é governado pelo desempenho
entre a rigidez da ligação e a rigidez quanto à ductilidade, não sendo consi-
da viga pré-moldada, após sua solidari- derada a rigidez à flexão na fase pré-es-
zação. O fator que relaciona estes dois coamento da armadura longitudinal. Por
parâmetros é denominado de fator de essa razão, as principais pesquisas sobre
restrição (ou fator de rigidez). O com- ligações semi-rígidas pré-moldadas ocor-
portamento semi-rígido nas extremi- reram em países onde não se têm zonas
dades das vigas faz com que haja uma sísmicas, como Brasil, Inglaterra, França
transmissão parcial dos momentos fle- e Finlândia. Entretanto, a maior parte da
tores nas ligações, com o aumento de pesquisa existente está concentrada na
momentos positivos nos vãos devidos Inglaterra (University of Nottingham) e
às ações gravitacionais. Além disso, as no Brasil (SET-EESC-USP – Departamento
ligações semi-rígidas aumentam os des- de Engenharia de Estruturas da Escola de
locamentos laterais globais de primeira Engenharia de São Carlos e NETPRE-UFS-
ordem na estrutura pré-moldada, afe- Car – Núcleo de Estudos e Tecnologia em
tando assim a redistribuição de momen- Pré-Moldados de Concreto da Faculdade
tos entre vigas e pilares, mas principal- Federal de São Carlos). Na Figura 2, são
mente aumentando os efeitos globais apresentados alguns dos ensaios realiza-
de segunda ordem. dos em Nottingham e em São Carlos.

| 75 | [www.ibracon.org.br]
A University of Nottingham esteve à convênio com a ABCIC - Associação Bra-
frente do programa de pesquisa europeu sileira de Construção Industrializada de
COST Cl: Semi-Rigid Behaviour of Ci- Concreto, foi construído um laboratório
vil Engineering Structural Connections, para estudo do concreto pré-moldado.
com a colaboração de outras universida- Pesquisas de pós-doutorado do coorde-
des européias. Dentre os seus objetivos, nador do NETPRE enfocaram o desen-
pretendeu-se realizar ensaios de ligações volvimento de modelos analíticos para
pré-moldadas e, num segundo momen- a rigidez à flexão de ligações viga-pilar,
to, extrapolar os resultados experimen- além de procedimentos para análise e
tais por meio de modelagens numéricas projeto de estruturas pré-moldadas com
para um número maior de geometrias e múltiplos pavimentos. Dentro da inte-
condições de carregamentos. Entretanto, ração de pesquisa com a University of
chegou-se à conclusão de que o compor- Nottingham, em Elliott et al. (2003b),
tamento semi-rígido não ocorreu em uma foram feitas comparações dos modelos
única posição nodal, como ocorre nas li- teóricos propostos por Ferreira (2001)
gações metálicas, tornando-se mais difí- com resultados experimentais do COST
cil de se obter expressões racionais para C1, onde houve boa correlação dos re-
a relação momento-rotação em estrutu- sultados. Atualmente, tem-se trabalhado
ras pré-moldadas. para o melhoramento e a calibração dos
No Brasil, a pesquisa em ligações se- modelos analíticos desenvolvidos no NET-
mi-rígidas pré-moldadas foi iniciada na PRE, onde esses equacionamentos foram
SET-EESC-USP, onde foram realizadas testados contra resultados experimen-
várias outras pesquisas teóricas e experi- tais recentes, dentro de um trabalho de
mentais. Através de um Programa FAPESP doutorado em andamento na University
(2004-07) foi criado o NETPRE - Núcleo of Nottingham, cujos resultados prelimi-
de Estudo e Tecnologia em Pré-Moldados nares estão apresentados em Hasan et
de Concreto na UFScar, onde, através do al. (2010). Nessa pesquisa, foi adotado

[Concreto & Construções] | 76 |


pesquisa aplicada
o conceito de “strong connection” para bitrária de cada projetista, não havendo
se conseguir a continuidade com espa- um critério padronizado do cálculo.
lhamento das fissuras ao longo das vigas Segundo Ferreira (2010), as ligações
conectadas, conforme Figura 3. viga-pilar em zonas não sísmicas devem
ser projetadas segundo critérios de resis-
3. Critérios de tência e rigidez, onde se recomenda que
desempenho para as ligações sejam dimensionadas para
ligações viga-pilar resistir aos momentos elásticos, ficando
semi-rígidas a deformação limitada ao início do es-
Na literatura técnica internacional coamento da armadura, de modo que a
para estruturas de concreto pré-molda- armadura permaneça na fase elástica,
do, ainda não se tem o conceito de li- garantindo o máximo de eficiência para
gações semi-rígidas de forma clara para a ação de pórtico. Na Figura 4, estão
aplicação no projeto. Nos manuais técni- apresentados três critérios de desempe-
cos do PCI - Precast Concrete Institute, nho quanto à rigidez para ligações com
o conceito de desempenho quanto à rigi- resistência à flexão. Inicialmente, o ter-
dez ainda não é apresentado como crité- mo “moment-resisting connections” foi
rio de projeto de ligações. Já, na Europa, definido para designar as ligações com
o manual FIB Structural Connections for resistências próximas aos momentos
Precast Concrete Buildings (2008) apre- elásticos, mas cuja deformação está re-
senta esse conceito como princípio para lacionada a um comportamento semi-rí-
o comportamento das ligações, mas não gido, onde o grau de transmissão dos mo-
apresenta critérios para a sua aplicação. mentos depende do fator de restrição da
No Brasil, a NBR-9062 recomenda a con- ligação viga-pilar. Já, no segunto tipo de
sideração das ligações semi-rígidas para ligação, denominado “partially moment-
fatores de restrição entre 0,15 e 0,85, resisting”, a resistência da ligação está
onde se deve considerar a rigidez secante muito abaixo do momento elástico, onde
da curva momento-rotação para a análi- a transmissão dos momentos se dá pela
se da estabilidade. Entretanto, a questão capacidade plástica da ligação, não im-
do valor da rigidez a ser adotado na aná- portando a distribuição da rigidez entre
lise estrutural ainda depende de ensaios a viga e a ligação. Finalmente, no tercei-
de ligações ou fica a cargo da decisão ar- ro tipo de ligação, denominada “strong

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connection”, a resistência está bem aci- as chamadas ligações “emulativas”, onde
ma do momento elástico na extremidade é necessária a utilização de escoramen-
da viga, onde as tensões e deformações to, mas onde se tem a continuidade com-
na região da ligação acabam sendo pe- pleta de todas as armaduras longitudinais
quenas para as solicitações de projeto e, das vigas e dos pilares.
portanto, a ligação pode ser considerada
com comportamento quase rígido na aná- 4. Análise de
lise estrutural. Estruturas com
Adicionalmente, considerando as re- Ligações Semi-Rígidas
ferências internacionais, é importante Negligenciar o comportamento semi-
distinguir os requisitos de desempenho rígido na análise da estabilidade dos pór-
para ligações em zonas sísmicas dos re- ticos pré-moldados pode conduzir a uma
quisitos para zonas não sísmicas. No caso situação não realista e contra a seguran-
das regiões sísmicas, os critérios de de- ça. As ligações semi-rígidas atuam como
sempenho estão baseados na resistência molas rotacionais nas extremidades das
e na capacidade de deformações inelás- vigas pré-moldadas, gerando um aumen-
ticas (após o escoamento). Já, no caso to da flexibilidade da estrutura, modifi-
das ligações em zonas não sísmicas, os cando a distribuição de rigidez entre os
critérios de desempenho estão relaciona- elementos e causando uma “redistribui-
dos com as características de resistência ção elástica” dos esforços internos. Além
e de rigidez à flexão da ligação (antes do disso, tem-se o aumento dos deslocamen-
escoamento). Neste contexto, o termo tos globais de primeira ordem, que, por
“emulative connections” é utilizado nos sua vez, conduzem ao aumento dos efei-
manuais técnicos do PCI e no ACI-318 para tos de segunda ordem. Devido ao elevado
designar ligações com ductilidade equi- peso próprio das estruturas pré-moldadas
valente às ligações monolíticas em zonas de concreto, o efeito das ligações semi-
sísmicas, mas não se aplica para a equi- rígidas fica ainda mais crítico para a esta-
valência da rigidez. Além disso, existem bilidade da estrutura. Portanto, sem um
diferenças construtivas e de desempenho conhecimento adequado da resposta de
entre as ligações empregadas no Brasil e rigidez das ligações é difícil se obter uma

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pesquisa aplicada
análise precisa do comportamento global funçao do fator de restrição para obter
das estruturas deslocáveis em concreto uma rigidez equivalente ao efeito das
pré-moldado. ligações semi-rígidas na distribuição in-
Com o objetivo de fornecer um proce- terna das ações horizontais, conforme
dimento prático para análise, em Ferrei- ilutrado na Figura 6b, onde são obtidos
ra (2010) é apresentado um procedimen- os deslocamentos corrigidos de primeira
to simplificado aplicando a técnica da ordem e os momentos corrigidos nas vi-
superposição para o pórtico deslocável gas e pilares. Finalmente, a análise de
com nós semi-rígidos, ilustrado na Figura segunda ordem é feita a partir do parâ-
5, onde as ações gravitacionais são apli- metro γz, conforme Figura 6c. Isto pos-
cadas num pórtico contraventado (Figura sibilita que a análise utilize programas
5b), enquanto que as ações horizontais ordinários para pórticos com nós rígidos,
são aplicadas num pórtico não contra- sendo uma ferramenta simplificada muito
ventado com nós semi-rígidos, conforme útil para a fase de projeto na definição
Figura 5. Assim, as ligações semi-rígidas da estrutura.
afetam somente o comportamento local
das vigas semi-contínuas sob ações verti- 5. Modelos analíticos
cais, mas afetam o comportamento global para a relação
da estrutura sob ações horizontais (deslo- momento-rotação
camentos e distribuição dos esforços en- Na literatura técnica internacional
tre vigas e pilares). Nesse procedimento, não existem modelos para cálculo da re-
as ligações viga-pilar são dimensionadas lação momento-rotação em ligações vi-
com base nos momentos elásticos (nós rí- ga-pilar em estruturas pré-moldadas. De
gidos), enquanto os momentos nos vãos acordo com os modelos analíticos pro-
das vigas e momentos nos pilares são postos em Ferreira (2001) e Elliott et al.
dimensionados com base nos momentos (2003), as rotações efetivas nas ligações
da distribuição semi-rígida. Assim, para viga-pilar são decorrentes de mecanis-
as cargas verticais, os momentos positi- mos de deformação que ocorrem tanto
vos nos vãos das vigas podem ser obtidos na interface (junta) quanto na zona de
por equações escritas como funções do transição viga-pilar, chamada de região
fator de restrição. Adicionalmente, para da ligação. Devido às deformações de
as ações horizontais, aplica-se um proce- flexão na extremidade da viga pré-mol-
dimento simplificado onde os momentos dada, existe um alongamento natural
de inércia das vigas são modificados em das barras tracionadas, causando a libe-

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ração de rotação na extremidade da viga mente no caso de ocorrência combinada
pré-moldada, ainda para a fase elásti- de fissuras verticais e diagonais. Além
ca, anterior ao escoamento da armadura disso, o alongamento da barra no trecho
tracionada. Entretanto, existe uma não fissurado é aumentado de forma signifi-
linearidade da curva momento-rotação cativa por causa do somatório de escor-
após o aparecimento da fissuração, a regamentos localizados entre a armadu-
qual é acentuada com a propagação e ra e as regiões de concreto nas posições
estabilização da fissuração, especial- das fissuras, onde as armaduras de con-

[Concreto & Construções] | 80 |


pesquisa aplicada
tinuidade são liberadas para se alongar 6. Conclusões 
nessa região. Assim, o mecanismo por Neste artigo foram apresentados os
alongamento é responsábel pela libera- principais aspectos das estruturas pré-
ção de rotações, causando a diminuição moldadas com ligações viga-pilar resis-
da rigidez na zona de transição e geran- tentes à flexão, considerando o efeito
do a descontinuidade da curvatura na semi-rígido no comportamento global
extremidade da viga pré-moldada, onde das estruturas com múltiplos pavimen-
a resposta momento-rotação é equiva- tos. A partir da pesquisa que vem sen-
lente ao comportamento de uma mola do realizada no NETPRE-UFSCar, em
semi-rígida. Portanto, a rotação efetiva colaboração com University of Nottin-
é uma função do alongamento dividido gham, tem-se conseguido avanços com
pela distância entre a posição das bar- desenvolvimentos de procedimentos
ras tracionadas e o centro de rotação de análise e projeto. Aplicações desses
na seção transversal. Na Figura 7, são estudos mostram que pode-se projetar
apresentadas idealizações empregadas estruturas pré-moldadas com ligações
em Ferreira (2010), com posicionamen- semi-rígidas que, embora não tenham
tos para o centro de rotação e conside- a mesma rigidez que as monolíticas,
rações para o mecanismo de deformação são estáveis ou mesmo de nós fixos. É
nas armaduras longitudinais. O compor- preciso alertar que a bibliografia in-
tamento semi-rígido é representado pela ternacional muitas vezes refere-se a
rigidez secante da curva momento-rota- ligações projetadas com o intuito de
ção, dentro do limite da fase elástica da absorver ações sísmicas, o que muda
armadura tracionada, o qual pode ser todo o procedimento de cálculo e cri-
empregado para a análise estrutural. térios de desempenho.

Referências Bibliográficas
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Beam-Column Connections in Reinforced Concrete Structures. Revista IBRACON
de Estruturas e Materiais, v. 2, p. 356-367
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Can Precast Concrete Structures be Designed as semi-rígid frames: Part 1 The
experimental evidence.. Structural engineer (London. 1988), London - England, v. 81,
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[03] Elliott, K.S. ; Davies, G. ; Ferreira, M. A. ; Gorgun, H. ; Madhi, A. A. (2003b).
Can Precast Concrete Structures be Designed as semi-rígid frames: Part 2
Analytical Equations and Column Effective Length Factors.. Structural engineer
(London. 1988), London - England, v. 81, n. 16, p. 28-37.
[04] Ferreira, M. A. (1993). Estudo de Deformabilidades de Ligacoes para a Analise Linear
em Porticos Planos de Elementos Premoldados de Concreto. 1993 (Dissertacao
de Mestrado).
[05] Ferreira, M. A., Elliott, K.S. (2002). Strength-Stiffness Requirement Approach for
Semi-Rigid Precast Connections. Pos-Doctoral Research Report. University
of Nottingham.
[06] Ferreira, M. A. (2010). Multi-Storey Precast Concrete Framed Structures with
Semi-Rigid Connections. Post-Doctoral Research Report, University of Nottingham.
[07] FIB (2008). Guide to good practice: Structural Connection for Precast Concrete Buildings.
FIB Commission C6: Prefabrication TG 6.2 Connections.
[08] Hasan, S. A., Elliott, K.S., Ferreira, M.A. (2010). Behaviour of Discontinuous
Precast Concrete Beam‐Column Connections. PhD Research Report. University
of Nottingham. n

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