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Ano XXXVIII | # 59
Jul. • Ago. • Set. | 2010
ISSN 1809-7197
www.ibracon.org.br
IBRACON
Instituto
Instituto Brasileiro
Brasileiro do
do Concreto
Concreto
Congresso técnico-científico
do IBRACON em Fortaleza
n PRODUTOS DO CONCRETO
Pré-moldados
Macrofibras poliméricas
no concreto
seções
& Construções 4 Editorial
Ano XXXVIII | # 59
Jul. • Ago. • Set. | 2010
ISSN 1809-7197
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IBRACON
6 Converse com IBRACON
12 Personalidade Entrevistada:
Instituto
Instituto Brasileiro
Brasileiro do
do Concreto
Concreto
Sidonio Porto
n ACONTECE NAS REGIONAIS
Congresso técnico-científico
do IBRACON em Fortaleza
27 Mercado Nacional
n PRODUTOS DO CONCRETO
37 Entidades Parceiras
Macrofibras poliméricas
Pré-moldados
56 Mantenedor
Créditos Capa:
no concreto
soluções sustentáveis e 75
82 Mercado Editorial
ABNT NBR 15823 – Norma brasileira 5
do concreto autoadensável
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e de infraestrutura
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0
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editorial
editorial
Foram aprovados 477 trabalhos para apresentação nas sessões orais e Luiz Prado Vieira Júnior
pôsteres, provenientes de todas as regiões do país. Para a verificação e Diretor de Eventos - IBRACON
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tuar tais aplicações. Ensinou-me Fortran 1960), o Victor começou a estudar “Análi-
IV, linguagem com a qual escrevi a tese; se Matricial das Estruturas” (tema de sua
ajudou-me a perfurar os “decks” de cartões tese de livre-docência, em 1964.) Lembro-
e prontificou-se a levá-los à USP, para pro- me das explicações, que me dava, escritas
cessar meus exemplos. Nunca esquecerei a com precisa caligrafia e com a clareza que
emoção (minha, é claro, mas também dele), o caracterizava:.... “matriz de rigidez do
quando apareceram os primeiros resultados elemento”, “matriz de rigidez da estrutura
impressos: estavam certos!!! desmontada”, “matriz de incidência”.... Era
Enquanto escrevia minha tese (levou alguns a aurora da nova era da “Análise Matricial”,
anos e só foi defendida em 1967, diante de disciplina da qual foi, em seguida, professor
uma banca da qual o Victor participou), ele na Poli, juntamente com “Teoria dos Ele-
defendeu a dele e, em seguida, em 1964, mentos Finitos”. Logo, escreveu programas
enfrentou a livre-docência. Fui à Poli assis- para a análise de pórticos planos e grelhas;
tir à defesa. Lá estava a família do Victor, e foi, em 1964, que, prestando consultoria
lá estavam os colegas e amigos. Um dos a meu Escritório, processou, com programa
membros da banca era o Prof. Figueiredo por ele desenvolvido, um grande pórtico
Ferraz. Chegada a vez dele argüir, fez uma destinado suportar os pesados fornos elétri-
série de graves objeções e, finalmente, cos da Eletrosiderúrgica Brasileira (SIBRA),
pegou um pequeno livro, dizendo: “O que em Salvador. Foi a primeira estrutura pro-
Vossa Senhoria apresenta em sua tese está jetada em minha empresa com auxílio de
tudo aqui, neste livro russo” (o Prof. Fer- computador.
raz tinha estudado Russo). Gelei. Pensei: “o Em 1969, Victor foi a Portugal com a famí-
Victor está perdido, será reprovado!” Mas, lia. Estavam em Lisboa, quando ocorreu o
enganava-me: chegada a vez de responder, grande terremoto daquele ano, que, voltan-
ele levantou-se calmamente, rebateu ponto do ao Brasil, nos descreveu dramaticamen-
por ponto todas as questões levantadas, in- te, com minúcias. Lá teve contatos com os
formou que conhecia, sim, o tal livro russo, professores Júlio Ferry Borges, Eduardo de
mas que o que ele apresentara na tese não Arantes e Oliveira e José de Oliveira Pedro,
estava naquele livro. Ao que o Prof. Ferraz iniciando sólidas amizades e alcançando
disse: “Sabia disso tudo, mas minha inten- o merecido respeito dos portugueses, que
ção era justamente evidenciar a força do marcou profundamente toda a sua vida pro-
candidato”. Deu nota máxima, como, aliás, fissional. Visitou a Ponte sobre o Tejo (en-
deram os demais membros da banca. tão, Ponte Salazar) e trouxe ao Brasil exem-
Quando, em 1967, defendi tese, minha mu- plares do livro publicado, em 1966, pelo
lher Gabriella estava muito doente, com leu- Gabinete da Ponte, doando-me um deles.
cemia, vindo a falecer em janeiro de 1968, Em 1971, participou, na África Portuguesa,
depois de 14 anos de casados. Tínhamos 4 das Jornadas Luso-Brasileiras de Engenharia
filhos, com 13, 11, 10 e 4 anos. Foi o perí- Estrutural, experiência que, depois, com-
odo mais sombrio de minha vida. Em 1969, partilhou, como sempre com entusiasmo,
estava pensando em casar novamente, com com seus amigos.
a Ilda, que é 16 anos mais jovem. Diante de A partir do pórtico pioneiro da SIBRA, o Vic-
vários pareceres contrários, fui pedir conse- tor, paralelamente à sua brilhante carreira
lho ao Victor, cuja opinião eu prezava acima universitária, passou a atuar como consultor
de qualquer outra. Lembro até hoje os de- de diversas empresas de projeto estrutural,
talhes de nossa conversa. “Victor, eu gosto entre as quais a SERETE e, também, a JKMF.
muito dela, mas é bem mais jovem do que Em 1969, processou a meu pedido, a esbelta
eu”. “Sorte sua! Case!”, disse ele enfatica- casca poliédrica do Palácio das Convenções
mente. Foi decisivo: casei e fiquei devendo do Parque Anhembi. Tinha passado a épo-
ao amigo Victor os mais de 40 anos desse ca da tediosa rotina dos primeiros tempos,
meu feliz segundo casamento e da filha que as estruturas tornavam-se mais complexas
dele nasceu. e desafiadoras, já havendo programas po-
Nessa época (continuo falando dos anos derosos, que ele passou a dominar e que
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mas no qual eu nunca havia estado. O Vic- Outro tema de interesse comum prendia-se
tor estudou minuciosamente os detalhes da à personalidade e à obra de Einstein; em
viagem. Em Los Angeles, primeira etapa, lá 1985, deu-me o Victor a belíssima biogra-
estavam eles nos esperando: hotel,visita a fia “Subtle is the Lord”, de Abraham Pais.
Disneyland, aluguel de carro, tudo prede- Intrigavam-no as equações da Relativida-
terminado por ele. Viagem espetacular pela de Restrita. Anos mais tarde, retomamos
costa da Califórnia, passando por Monterey o tema: havíamos lido ambos um peque-
e Carmel, até San Francisco. Lá também, no volume, escrito em 1916, por Einstein,
conhecia tudo: hotel Francis Drake, Embar- “Relativity”, e o Victor, não satisfeito com
cadero, Ghirardelli Square, Pier 31.... Até uma das deduções ali contidas, apresentou-
um musical, “Annie”, ele tinha escolhido me, nada menos, outra dedução, desenvol-
para assistirmos. E, finalmente, a última vida por ele, mais rigorosa. Isso, em 2008,
etapa, New York: hotel com vista para o quando me deu outro livro sobre a vida de
Central Park, Museum of Modern Art, Me- Einstein, de Walter Isaacson. Ele pretendia
tropolitam Museum, Museum of Natural voltar ao tema das equações de Einstein,
History, a “Frick Collection”, de que ele para novas discussões; infelizmente, não
tanto gostava, circum-navegação da ilha de houve tempo.
Manhattan, jantar no restaurante mais alto Creio que foi, em 1989, que se desligou
do mundo, numa das Torres Gêmeas. Será da PROMON, para ficar na Poli em tempo
impossível voltar a New York sem lembrar integral. Já há bom período Professor Ti-
aquela primeira, longínqua viagem em com- tular, foi, pela segunda vez, Chefe do De-
panhia deles. partamento de Engenharia de Estruturas e
No começo dos anos 1980, a minha atenção Fundações. Desta vez, era o professor mais
e a dele voltaram-se para os problemas de idoso daquele Departamento, fato que,
instabilidade, flambagem, “snap through”, divertido, gostava de comentar. Naquela
não-linearidade física e geométrica. Tive- época, foi também Presidente do Instituto
mos inúmeras conversas (sempre noturnas) de Pesquisas Tecnológicas e Pró-Reitor de
sobre esses temas, que ele dominava com Gradução da USP. Recebeu o título de Pro-
sua peculiar clareza. Eu estava projetan- fessor do Ano.
do uma estrutura particularmente alta e Em 1995, tanto o Victor como eu, estáva-
esbelta, e pretendia efetuar uma análise mos notando que nosso amigo Décio de Za-
P-Delta, por iterações manuais sucessivas gottis não estava bem de saúde. Combina-
(não havia ainda programas disponíveis mos um jantar com ele, para transmitir-lhe
para efetuá-la automaticamente). Para a nossa percepção e alertá-lo. Estávamos
verificar a precisão desse método, com- realmente preocupados e, pouco tempo
binamos que ele processaria o modelo, depois, soubemos tratar-se de doença gra-
através do programa NO-LINE ao qual tinha víssima, que acompanhamos juntos passo
acesso, para depois apresentarmos ambas a passo e que o levou à morte poucos me-
as soluções numa palestra no Instituto de ses depois, em 1996. Foi um luto profundo,
Engenharia. No entanto, não houve tem- que compartilhamos, pois o Décio era um
po para compararmos nossos respectivos nosso grande amigo, cuja falta se fez dolo-
resultados e, assim, chegamos à palestra, rosamente sentir.
cada um sem saber o que o outro tinha Em 1995, “inventamos”, por iniciativa do
encontrado: comecei apresentando minha Victor, outra palestra no Instituto de En-
metodologia e meus números, e o Victor genharia, que denominamos “Novos diá-
me acompanhava dando os números dele. logos sobre a ciência das construções”.
Fomos, assim, descobrindo, na hora, que Tratava-se de falar dos recentes progres-
os resultados praticamente coincidiam, o sos da engenharia estrutural. Resolvemos
que acrescentou “suspense” a nossa apre- apresentá-la de forma original e que pu-
sentação. Anos mais tarde, faríamos outra desse motivar os ouvintes, sem aborrecê-
palestra improvisada, esta “a 10 mãos” de los. Fizemos a palestra, iniciando-a sob
que falarei adiante. forma de diálogo entre Galileu (represen-
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personalidade entrevistada
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I bracon – M as , existem discordâncias ? mais nessa minha decisão de fazer ar-
Sidonio - Olha, se existem, não podem quitetura, de ser um profissional se
ser levadas muito a sério. É preciso saber possível, criador, o que me incentivou a
onde é que pode haver, eventualmente, fazer arquitetura. Agora, a arquitetura
uma discordância. Claro, se você tem um dele, a liberdade com a qual ele procura
engenheiro que tem pouca sensibilidade criar, é algo que sempre influencia, de
para as exigências de um projeto, e tam- modo geral, os arquitetos. A gente não
bém, pelo lado contrário, um arquiteto tem, obviamente, toda a liberdade que
que não tem noção daquilo que ele está o Oscar pôde ter durante seu desenvol-
querendo, se faz sentido, não há como vimento profissional, pois em geral, ele
entrar num diálogo de parceria. Dos dois fez obras de governo, palácios, obras
lados deve haver um bom conhecimen- de uma importância que transcendem
to: o arquiteto não precisa saber cal- essa coisa do dia a dia, como uma indús-
cular uma estrutura, mas tem tria, um prédio administrati-
que saber o comportamento vo, um hospital, o que seja,
do material – se é concreto, se obras que exigem um conhe-
é aço, o que seja, ele precisa cimento intenso do programa,
saber como o material se com- com restrições de economia,
porta para que se tire o máxi- etc. O Oscar pôde trabalhar,
mo proveito do material; exercendo sua liberdade
tem que ter uma noção criativa com muito mais
do que seja uma estrutu- generosidade. Você pode
ra bem equilibrada. Por fazer obras funcionais,
outro lado, o engenhei- uma obra industrial ou
ro deve ter sensibilidade A busca da uma obra comercial, e
arquitetônica e artística, personalidade da atingir níveis de grandes
para saber o que venha empresa, através da obras de arquitetura,
a ser uma solução esté- obra, é um aprendizado não é impossível, mas,
tica. Essa atitude pode que tive com quanto mais liberdade
contribuir para o seu de- o Oscar Niemeyer. você tem, maior será o
senvolvimento profissio- resultado arquitetônico
nal. Foi o que aconteceu do projeto.
com a parceria do Oscar Enfim, a influência é
Niemeyer com o Joaquim essa busca da liberdade,
Cardoso: havia um jogo da criatividade, de fa-
de reciprocidade, onde um se zer com que a obra marque a
virava para conseguir entender instituição, seja governo, seja
e interpretar o que queria o ou- empresa; essa busca da per-
tro, com todo entusiasmo, com sonalidade da empresa, atra-
todo empenho, não fazendo vés da obra, é um aprendiza-
coisas impossíveis, mas tirando do que tivemos com o Oscar;
partido daquilo. A contribuição suas obras são emblemáticas,
dos arquitetos brasileiros para o desen- tudo mundo lembra, é um ponto forte
volvimento estrutural foi muito grande na arquitetura dele.
por isso, porque havia este diálogo, que
é perfeitamente possível. Ibracon – Um dos primeiros projetos seus em São
Paulo foi a fábrica da Velnac, em 1966. Por
I bracon – Q ual foi a influência que o O scar que a escolha do pré-moldado para a construção
N iemeyer teve em sua formação e em suas desse projeto? Foi uma inovação, não?
obras ? Sidonio - Foi uma inovação. Existiam
Sidonio - Olha, a influência foi muito poucas fábricas de pré-moldado no Bra-
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I bracon – D o ponto de vista arquitetônico , Sidonio - Por causa dos princípios tra-
que vantagens traziam os pré - moldados na zidos pela construção industrializada.
fachada ? A construção artesanal, com fôrmas de
Sidonio - Na época, o que estava em madeira feitas na obra, pontaletes de
moda era a fachada envidraçada. Que- madeira e toda a parafernália necessá-
ríamos sair daquilo, porque já tínhamos ria, nós já tínhamos consciência, na épo-
consciência, naquele momento, de que, ca, de que era uma coisa pouco susten-
num país tropical, um prédio com facha- tável e pouco racional, embora a conta
da toda envidraçada, sem as devidas pre- na ponta do lápis indicasse que aquilo
cauções, não é adequado; pelo menos, era ainda mais viável economicamente.
não em todas as fachadas – você pode ter Tínhamos o exemplo de países – Estados
uma fachada sul em vidro, com vidro la- Unidos e Europa – que estavam buscan-
minado ou de baixa emissão, para o caso do a industrialização da construção. A
de, na incidência de muita luz construção industrializada,
e sol, o vidro corrigir. Mas, um seja de aço ou concreto, é
prédio com as quatro fachadas mais lógica, porque não usa
em vidro é inviável, porque fica fôrmas nem escoramentos,
muito quente, requer muito ar permitindo uma construção
condicionado e o custo de ener- mais limpa, mais rápida, va-
gia torna-se muito eleva- riáveis que se encaixam
do. hoje dentro do concei-
Neste aspecto, a própria to de sustentabilidade.
arquitetura industriali- Na época falávamos em
zada já entrava no con- ecoeficiência, racionali-
A arquitetura
ceito que hoje chamamos dade. A primeira vez que
industrializada
de sustentabilidade, por- ouvi a expressão ‘casa
entra no conceito de
que também ela gera me- ecológica’ foi no ter-
sustentabilidade, porque
nos desperdícios e requer ceiro ano de faculdade,
gera menos desperdícios
uma mão-de-obra mais e requer mão-de-obra
numa aula de história
especializada. especializada. da arquitetura, ilustra-
Então, quais as contri- da por uma casa colonial
buições que esta solução brasileira, uma constru-
traria? Primeiro: evita- ção do século XV ou XVI,
mos o prédio todo en- com grandes beirais, pé
vidraçado. Segundo: a direito alto, com estru-
forma dos módulos da facha- tura independente de madei-
da cumpria a função de redu- ra, como se fosse pré-fabri-
zir a superfície envidraçada e, cada, que depois era fechada
também, o próprio desenho do com adobe ou pau-a-pique;
módulo já trazia uma redução enfim, um sistema muito ra-
da incidência de sol (efeito de cional: fazia-se o esqueleto
quebra-sol). Terceiro: a ques- da estrutura independente-
tão estética, achávamos que, por ser um mente; depois vedavam-se os vãos com
elemento com aquele formato, traria outro elemento; depois vinha a cober-
uma personalidade ao prédio, diferente tura com grandes beirais, protegendo
dos demais. contra o sol e a chuva, com ventilação
cruzada - uma casa ecológica, de acor-
I bracon – O k , com relação às razões para do com o meio ambiente, com o clima,
a fachada , mas , por que sua concepção feita racionalmente, com uma lógica
original de querer construir todo o prédio construtiva exemplificativa de como
em pré - fabricados de concreto ? construir racionalmente, transplantada
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Por outro lado, tem a questão da ra- se consegue. Então, a industrialização
pidez da construção, o que impacta a da construção chega sob medida para
questão do financiamento: quanto mais estes programas, ganhando em qualida-
rápido você fizer a obra, mais barata a de e rapidez.
obra fica. Você pode mensurar melhor a Agora, é importante que os sistemas
questão do custo: se você faz uma enco- sejam suficientemente abertos, permi-
menda fechada a uma indústria, você já tindo uma disponibilidade maior de ma-
sabe o quanto vai custar. Tem uma pre- teriais e de soluções, onde a cobertura
visibilidade de prazos e de custos. é fornecida por uma empresa diferente
Isso tudo soma em favor da industriali- daquela que fornece a estrutura, pro-
zação na construção. piciando uma certa intercambialidade
Em contrapartida, na construção artesa- entre os elementos. Por exemplo, tenho
nal, você tem uma maior falta de con- mostrado em palestras essa questão do
trole; às vezes, até uma coisa casamento de soluções: mol-
criminosa de querer economia dadas “in loco”, pré-fabrica-
na obra, economia de cimento, das de concreto, estruturas
o que torna mais difícil garan- em aço. Porque este intercâm-
tir qualidade numa obra assim, bio facilita a construção, você
feita tradicionalmente. Na in- não se limita – não vou usar
dústria, não. Você tem a o concreto pré-moldado
presença mais marcante aqui porque esta peça
do profissional em todos eu não consigo fazer.
os níveis, tem os respon- Antigamente, as solu-
sáveis com algo a perder ções de cobertura eram
se houver um problema. Nos grandes muito pesadas, porque
O produto é mais confi- empreendimentos, nós usávamos o concre-
ável, porque os contro- quanto mais controles, to pré-moldado; hoje,
les são mais eficazes. que são facilitados a gente faz a estrutura
No final, você tem um com a industrialização, em pré-moldado de con-
lucro social com isso. Se maiores os ganhos. creto, eventualmente as
estamos falando de uma vedações em concreto, e
construção em massa, se a cobertura em aço. Que
aquilo tem um problema, dizer: usamos os dois
o prejuízo é muito gran- sistemas, tudo mundo
de e em todos os senti- fica satisfeito e se re-
dos. Por isso, nesses grandes solve bem a questão. Eu acho
empreendimentos, quanto que esse espírito da parceria
mais controles, que são facili- é fundamental, essa abertura
tados com a industrialização, para você poder intercambiar
maiores os ganhos. Esse é meu sistemas e soluções.
ponto de vista.
Ibracon – Quais são os fatores que
I bracon – E ntão , o B rasil deve buscar a limitam, no Brasil, a maior industrialização do
industrialização da construção como solução processo construtivo hoje?
racional para os programas do G overno Sidonio - Acho que é ainda a questão
F ederal – o PAC e o M inha C asa M inha Vida ? dos custos, das distâncias. O Brasil é um
Sidonio - Sem dúvida, porque você aten- país muito grande. Temos regiões muito
de com isso qualidade e prazo. Nós te- afastadas – como a Amazônia – onde, às
mos um déficit de milhões de moradias, vezes, torna-se muito difícil entrar com
e para cumprir um programa deste leva os pré-moldados como solução. Mas, isso
tempo; com a construção artesanal, não é imponderável: uma obra minha foi to-
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marcou bastante porque foi uma obra viga de 50m de comprimento foi usada
na Avenida Paulista, num momento em várias vezes nela: ela foi pré-fabricada
que se buscava prédios envidraçados. na obra, numa fôrma de aço preparada
Vamos de um extremo ao outro: neste no canteiro de obras, e depois içada; eu
estariam as obras que tenho feito para procurei repetir para justificar o cus-
a Petrobras, onde procurei marcar com to daquela viga, o que foi um a solução
a industrialização a questão da susten- inédita em contrução civil naquela épo-
tabilidade, porque a Petrobras é muito ca, no Brasil.
preocupada com isso. Um dos argumen-
tos que tive para que aceitassem o ní- I bracon – P or que nesta obra para a Viação
vel de industrialização proposto foi o da Itapemirim o senhor passou de uma concepção
sustentabilidade, como também o da ra- de estrutura metálica para uma concepção de
pidez na execução, do bom acabamento estrutura em pré - moldados ?
das superfícies e dos elemen- Sidonio - Na minha busca de
tos. Foram várias obras para a fazer experiência com novos
Petrobras, onde conseguimos materiais, que tem sido uma
imprimir essa característica da atitude muito constante em
industrialização. minha trajetória, a intenção
Outro projeto foi o para a Via- inicial era fazer a obra em
ção Itapemirim, no meio aço, porque se achava
desse caminho, em 1979. que, pelo volume e pelo
Foi um projeto marcan- prazo, era viável; mas a
te para mim porque num idéia não se viabilizou,
momento de virada: eu na época, o Brasil não
estava fazendo muitos Nas obras que fiz fazia os perfis que ve-
projetos para a área fi- para a Petrobras, mos hoje. O que fez com
nanceira, onde deixei um procurei marcar com que partíssemos para a
pouco de lado a questão a industrialização idéia do pré-moldado,
da industrialização da a questão da que, eu tinha certeza,
construção (os projetos, sustentabilidade. até pelas experiências
em concreto aparente, passadas, que poderia
eram muito diferentes resolver os problemas.
uns em relação aos ou-
tros); quando entrou esse Ibracon – D e que forma
projeto da Itapemirim, entidades como o IAB,
um projeto muito grande, onde IBRACON e ABCIC podem
era possível viabilizar a obra contribuir para a industrialização
com o concreto pré-fabricado, da construção ?
retomei projetos, a partir daí, Sidonio - Acho que quanto
com a utilização intensa do mais interrelação, melhor
pré-fabricado. A obra foi tam- para todos. Quanto mais os
bém muito importante para grupos e os profissionais se
a época, porque, a partir dela, parece conhecerem e se comunicarem melhor,
que houve uma intensificação do uso do pois os profissionais ficam conhecendo
pré-fabricado. É uma obra muito visível as possibilidades e os limites e é assim
na Dutra. Nela, eu consegui fazer pra- que se resolvem as questões. Neste sen-
ticamente tudo em pré-fabricado. Mas, tido, as publicações de projetos mar-
você olhando o prédio, não acha que é cantes abrem portas para os dois lados:
feito de estrutura pré-fabricada; você para o cliente, para quem executa e
apenas vê que é, quando você entra. para o arquiteto. É importante que haja
Esta obra é emblemática porque uma essa comunicação. n
Industrialização em
concreto – solução para
o desenvolvimento
habitacional
David Férnandéz- Ordónez - Professor Doutor e Coordenador
Universidade Politécnica de Madrid
Grupo de Habitações Econômicas no âmbito da Comissão 6 de Pré-fabricados
da fib (federação internacional do concreto)
N
o mundo todo, há uma necessida- uma síntese dessa abordagem da fib, apre-
de crescente para a construção sentando também soluções desenvolvidas
habitacional, que tem acontecido e disponíveis no Brasil.
de forma exponencial nas últimas décadas,
principalmente nos países em desenvolvimen- 2. Diretrizes gerais
to, onde a população tem uma taxa de cres- para uma
cimento elevada, sem falar da migração da construção
população das zonas rurais para as cidades, industrializada
gerando uma maior concentração urbana. de qualidade
A Comissão de pré-fabricação da fib A UNESCO estabelece que o direito de
(Fédération Internationale du Béton - Fe- moradia para uma pessoa e sua família é
deração Internacional do Concreto), cons- uma condição para a cidadania. A Declara-
ciente do problema, decidiu criar um grupo ção dos Direitos Humanos estabelece que
de trabalho para desenvolver um docu- todas as pessoas têm o direito a um nível
mento sobre habitações pré-fabricadas de de vida adequado e estabelece a moradia
concreto. Por ser uma questão social, o dentro deste contexto.
problema deve ser tratado além das ques- As condições de moradia digna devem pre-
tões técnica e de negócios, abrangendo ver a proteção contra chuvas e condições ad-
requisitos de desempenho do ambiente versas, o isolamento térmico e as instalações
construído, de rapidez e economicidade, sanitárias adequadas, além das condições de
no sentido de propor soluções que possam segurança requeridas das habitações.
ser executadas com rapidez, mas que asse- A industrialização da construção, por
gurem a qualidade e o custo de construção meio da pré-fabricação, é uma alternativa
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viável para a construção de moradias dignas a qualidade do ambiente construído passa
em grande escala, na medida em que busca a estar integrada. O desafio é de garantir
racionalizar a construção de habitações, o que, neste momento de transição, no qual
que possibilita, por um lado, a construção as normas estão sendo revisadas ou introdu-
de uma grande quantidade de moradias em zidas, os sistemas construtivos estão sendo
curto prazo e, por outro,a otimização de validados, a demanda seja atendida com a
processos e do uso adequado dos materiais qualidade requerida, a fim de que passivos
para a construção. não venham a ser gerados. Neste contexto,
Existem muitos exemplos de sistemas a industrialização da construção e, em par-
industrializados por todo o mundo que uti- ticular, a pré-fabricação em concreto, se
lizam a pré-fabricação com elementos de apresenta como uma possibilidade real de
concreto. Ainda assim, se faz necessário se alcançar as metas de custo, de prazo e
ampliar e divulgar o conhecimento relativo de qualidade requeridas, vencendo, inclu-
a esses sistemas, pois em muitas partes do sive, a carência da mão de obra.
mundo esses sistemas são desconhecidos. Existem vários níveis de complexidade
Primeiramente, a industrialização da na industrialização da construção: desde
construção deve ser entendida como o re- sistemas pré-fabricados de ciclo fechado
sultado da aplicação da tecnologia à pro- (completamente pré-fabricados) até siste-
dução (engenharia de processos) e ao pro- mas abertos (que permitem composições
duto (engenharia do produto) mistas com diferentes materiais e tecno-
Em segundo lugar, é de vital importân- logias distintas, abrindo inúmeras possibi-
cia ter em conta as possibilidades técnicas lidades de projeto).
da construção industrializada em cada re- Por sua vez, o concreto é um material
gião. Para isso, importa considerar, por um que apresenta inúmeras vantagens para as
lado, a capacidade de equipamento de pro- construções habitacionais: sua maior dura-
dução, de transporte e de montagem, para bilidade implica menor custo de manuten-
a definição de elementos a serem utiliza- ção; seu bom desempenho térmico pode
dos nas construções habitacionais; e, por ser associado à sua função estrutural; sem
outro lado, a capacidade e a infraestrutura contar também o bom acabamento possibi-
da região, que podem limitar a solução a litado pela tecnologia
ser adotada em cada região.. Tendo em conta esses aspectos, a Co-
Outra diretriz para a adoção de solu- missão de pré-fabricação da fib realizou
ções em sistemas industrializados para a um trabalho de investigação, de busca e de
construção diz respeito à grande variabi- desenvolvimento das soluções disponíveis
lidade de custos e de disponibilidade de em pré-fabricação de concreto, no sentido
materiais de construção. Nesse sentido, de contribuir para a solução do problema.
deve-se buscar sempre a tecnologia mais Os trabalhos foram selecionados com base
adequada para cada situação. em sua tipologia, localização geográfica,
A industrialização é interessante na capacidade técnica e econômica necessá-
medida em que é um meio para harmoni- rias para a construção.Iniciado em 2004, o
zar a construção, a indústria e o resultado trabalho está atualmente em fase de con-
final da obra construída.O uso eficiente dos clusão.. Por ter âmbito geográfico mundial,
materiais devem ser combinados com uma o estudo inclui soluções pré-fabricadas dis-
utilização estrutural que assegure a dura- poníveis no Brasil.
bilidade das habitações.
Considerando os aspectos mencionados, 3. SISTEMAS
o Brasil vive um momento privilegiado, BRASILEIROS
porque sua política habitacional voltada CADASTRADOS
para os segmentos de baixa renda baseia- Em paralelo ao desenvolvimento da Co-
se não apenas em aspectos financeiros e de missão de pré-fabricados fib, no Brasil, a
viabilidade técnica, mas também na racio- ABCIC (Associação Brasileira da Construção
nalização dos processos construtivos, onde industrializada de Concreto), através de
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acabamento, como as divisórias internas em
Dry-Wall, a vedação com esquadrias e pla-
cas cimentícias entre os painéis alveolares
das fachadas, serviços de elétrica, hidráuli-
ca, incêndio, gás, ar condicionado, pintura,
cerâmica e acabamentos em geral.
Vantagens
n Qualidade Assegurada (Durabilidade,Re
sistência,Estética);
n Sistema Construtivo Modular adaptável
às necessidades da arquitetura proposta
para a edificação e compatível, na inter-
Sistema com adoção de paredes duplas, durante
face, com projetos complementares; a montagem
n Produtividade: totalmente industria
lizado – as peças são produzidas Outro ponto a ser destacado no sistema
na indústria e montadas na obra); de paredes duplas é a possibilidade dessas
velocidade;atendimento a cronogramas. serem entregues com as caixas elétricas
instaladas, assim como com os pontos hi-
2) Paredes Duplas dráulicos. Os conduítes e tubos hidráulicos
As paredes duplas consistem em duas pla- também são instalados entre as placas du-
cas de concreto armado, unidas por treli- rante o processo produtivo, evitando, as-
ças de aço. Elas podem ser utilizadas para sim, que paredes sejam rasgadas na obra e
a produção, desde casas de pequeno porte que material seja desperdiçado.
até edifícios multi-pavimentos. O sistema
confere à construção um acabamento ex- 3) Painéis e Lajes pré-moldadas
celente, mas também permite que outros Consiste na industrialização da constru-
sistemas sejam mesclados a ele. ção, através da utilização de paredes e la-
jes pré-moldadas de concreto armado com
Montagem um vazio interno, que proporciona ventila-
O sistema todo é baseado na união entre as ção entre as faces, baixando a umidade e
paredes duplas e a pré-laje treliçada, com demonstrando-se eficaz no isolamento tér-
a finalidade de forro ou piso, onde, após mico e acústico (“plenun”).
montada a laje,os vazios entre as placas Destina-se à construção de residências
das paredes duplas são concretados, cons- e edifícios horizontais e verticais, tendo
tituindo, assim, uma estrutura monolítica. como principais benefícios a alta produti-
vidade, o aumento da qualidade e a dimi-
Vantagens nuição dos custos.
O excelente acabamento e o alto grau de
precisão das peças são devidos ao sistema Componentes do sistema
produtivo automatizado. A produção acon- n Fundações com radier moldado “in loco”
tece em um sistema circular, onde uma ou profundas, em função do tipo de edi-
central controla todo o processo. As formas ficação e das condições do terreno;
são aferidas através de lasers; o concreto é n Painéis de paredes pré-moldados com
distribuído automaticamente, assim como “plenun” interno, com espessura variá-
todo o sistema de cura das peças. vel conforme projeto;
Podem ser agregados às paredes duplas n Lajes pré-moldadas ;
materiais que proporcionem um ótimo n Cobertura com diversos tipos de telha;
isolamento térmico e acústico. A adição n Instalações elétricas e hidráulicas em-
desses materiais pode, inclusive, reduzir butidas nos painéis de parede;
o valor final de uma casa construída com n Caixilhos e outros acabamentos podem
este sistema. ser aplicados na própria fábrica.
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Um grande número de soluções técni- desses sistemas são a elevada resistência
cas e sistemas desenvolvidos pela indús- e durabilidade e a resistência ao fogo. A
tria de concreto pré-moldado, podem ser melhor solução será determinada através
agrupados em número reduzido de siste- do custo x benefício, levando em consi-
mas básicos. Dessa forma, diferentes so- deração as condições específicas de um
luções podem ser citadas a exemplo das
determinado empreendimento.
referenciadas neste artigo.
A pré-fabricação em concre-
to pode ser usada para todas as ca- 5. AGRADECIMENTOS:
tegorias de elementos estruturais Os autores agradecem as empresas
(pilares,vigas,painéis,lajes) utilizadas brasileiras que disponibilizaram informa-
em residências e edifícios habitacionais. ções sobre seus sistemas construtivos:
As vantagens fundamentais da utilização CASSOL,SUDESTE,BRASITHERM e PREMO.
Referências Bibliográficas
[01] D.Fernández-Ordoñez;J.Fernández Gómez; Idustrialización para la construcción
de viviendas. Viviendas asequibles realizadas com prefabricados de hormigón.
In: Informes de la Construcción,Publicada por el INSTITUTO DE CIENCIAS DE LA
CONSTRUCCIÓN EDUARDO TORROJA. Volume 61/514 Abril-junio2009.
[02] fib,Planning and Design Handbook on Precast Building Structures, 2nd edition 2004.
[03] BANCO MUNDIAL,2005,World Development Indicators worldbank.org
[04] ARROYO,S.Pérez; Industrializar (Do it Industrial):Informes de la
Construcción, EDUARDO TORROJA.Volume 61/513 enero-marzo 2009. n
O avanço do consumo
aparente de cimento no
país nos últimos anos
José Otavio Carvalho – Vice-presidente executivo
Sindicato Nacional da Indústria do Cimento - SNIC
A
indústria do cimento no Brasil longo e teve momentos de altos e bai-
dos dias de hoje é fruto de uma xos, com resultados que refletiram bem
trajetória de investimentos e o desenvolvimento da economia do país.
empenho das empresas nacionais e es- Hoje, o setor atinge números bastante po-
trangeiras que aqui se instalaram desde sitivos: 71 fábricas localizadas nas cinco
1926. Foi nesse ano que o cimento come- regiões do país, pertencentes a 12 grupos
çou a ser fabricado em escala industrial, industriais nacionais e estrangeiros, com
após um período pioneiro dessa atividade capacidade instalada da ordem de 67 mi-
no país, nos idos do fim do século XIX. lhões t/ano, suficiente para atender à
O caminho percorrido de lá pra cá foi demanda interna.
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Em 2009, o consumo aparente de cimen- mente, um grande aumento de produção.
to* atingiu o maior nível de sua história, to- A produtividade desenvolvida na época da
talizando 51,9 milhões de toneladas. estagnação foi extremamente eficaz para a
Um dado a se destacar nos números obtenção dos resultados nessa fase: o ano
da indústria do cimento no Brasil em de 1999 alcançou a marca de 40,2 milhões
2009 é relativo aos segmentos que mais de toneladas de cimento.
consumiram o produto. Condizente com A partir de 2000, a crise da constru-
as mudanças que vêm ocorrendo no perfil ção civil no país teve como conseqüência
das construções e refletindo a evolução uma redução no consumo do cimento que
nos métodos construtivos brasileiros, fo- se prolongou até 2003. No ano seguinte,
cada hoje na utilização mais intensiva de o consumo estabilizou, indicando o início
concreto usinado em central, as vendas de uma retomada que levou a indústria,
diretas para concreteiras e construtoras/ em 2006, ao patamar de 40 milhões de
empreiteiras cresceram, respectivamen- toneladas de cimento consumidas. Nos
te, 2,3% e 16,4%, elevando suas partici- dois anos posteriores – 2007 e 2008 – o
pações para 18% e 12% do total das ven- setor foi batendo recordes de consumo
das. No final dos anos 90, as concreteiras do produto, se mantendo praticamente
representavam menos de 10% e as cons- estável em 2009.
trutoras, menos de 6%. Nos últimos quatro anos, quando o se-
tor retomou de fato o crescimento, foram
Retrato do Brasil fatores determinantes para esse novo mo-
Para analisarmos o atual momento do mento algumas medidas do Governo e da
setor, é necessário voltar no tempo e per- iniciativa privada, tais como: o crescimen-
ceber como o comportamento da indústria to do emprego e da renda real; a expan-
do cimento no passado recente está dire- são das construções imobiliárias, incenti-
tamente relacionado aos diferentes mo- vadas pelo marco imobiliário de 2004 (Lei
mentos da economia brasileira. Nos anos nº 10.931) e Resolução nº 3.177, do Banco
70, período conhecido por “Milagre Eco- Central; a capitalização das construtoras e
nômico”, a produção passou de 9 milhões incorporadoras; a expansão do crédito imo-
de toneladas por ano para 27,2 milhões de biliário pelo governo e bancos privados; e
toneladas no início dos anos 80. Já, a partir as obras de infraestrutura do Programa de
daí, o setor refletiu a expressão “Década Aceleração do Crescimento (PAC).
Perdida”, quando a recessão interna levou
a uma forte queda no consumo. A complexa Logística
Na década seguinte, veio uma nova fase Para fazer chegar ao consumidor final
de crescimento econômico e, conseqüente- toda essa produção de cimento, no en-
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das Américas, inferior ao dos Estados Uni- estimativas de mercado indicam que
dos, Canadá, México, Chile e Venezuela. as vendas de cimento para o mercado
Se o comparativo for com a média interno brasileiro acumuladas no perí-
mundial de consumo per capita – 422 kg/ odo de julho de 2009 a junho de 2010
habitante – os números do Brasil tam- atingiram 55,0 milhões de toneladas.
bém saem perdendo. Ao comparar com Isso representa um crescimento de 7,4%
um país como a China, maior produtor e sobre igual período anterior (jul/08 a
maior consumidor do produto, essa dife- jun/09).
rença é gigantesca: lá, são consumidos Ao todo, no primeiro semestre des-
1.038 kg por habitante.
te ano, foram vendidas 27,6 milhões de
Já ao analisarmos o preço do cimen-
toneladas de cimento, com aumento de
to do Brasil em relação aos demais pa-
14,6% sobre o mesmo período de 2009.
íses, conforme o estudo Construction
Em junho de 2010, foram 4,7 milhões
and Building Materials Sector, realizado
de toneladas no mercado interno, o que
semestralmente pelo Banco JPMorgan
(o último dado disponível é de setem- significou uma expansão de 10,2% sobre
bro de 2009), este é o mais baixo de junho de 2009.
todo o continente americano e um dos A previsão é de que o ano de 2010 re-
menores em comparação com os demais presente um novo recorde no consumo de
países pesquisados. cimento no Brasil. As estimativas prelimi-
nares do Sindicato Nacional da Indústria do
Perspectivas Cimento (SNIC) indicam que esse número
Dados preliminares da indústria e cresça 12%, em comparação com 2009. n
A
avaliação de Trata-se de um pe-
uma fissura queno instrumento
e/ou trinca em forma de uma
em uma peça de con- régua graduada em
creto deve, antes de frações decimais de
qualquer coisa, estar milímetros, ao qual
sempre embasada em se justapõe a fissura
grande parcela de ou trinca a ser ana-
bom senso. Na prá- lisada, de tal forma
tica diária, se uma a ajustar a medida
estaca encontra-se da fissura a uma de-
fissurada, parece ha- terminada medida
ver tendência, quase universal, de condená- prefixada na régua. Assim fazendo, pode-se
la ao uso. Nem sempre esse procedimento é tentar quantificar a magnitude da abertura
correto, pois a simples observação visual que da fissura analisada, correlacionando-a, as-
culmina com o descarte da peça, por mero sim, a determinados parâmetros prefixados
sentimento de que uma fissura ou até mes- de aceitabilidade. A Figura 1 apresenta trin-
mo uma pequena trinca possa significar um ca em estaca sendo analisada com fissurô-
problema mais sério, não caracteriza expe- metro.
riência de quem o fez e nem tampouco bom Conforme se pode observar, trata-se de
senso. Um mecanismo muito simples e práti- um processo bastante simples e que utiliza
co para efetuar observação de uma fissura, equipamento muito simples, prático e ba-
de tal modo a estabelecer um parâmetro que rato. O bom senso deve preponderar, pois
quantifique sua abertura, é o fissurômetro. é certo que a quantificação da abertura de
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1.1 Classe 1 – Fissuras Transversais
São aquelas que apresentam abertu-
ras inferiores a 1 mm (Figura 2), em plano
transversal ao eixo da estaca. Neste caso,
não são consideradas preocupantes quando
as fissuras (ou pelo menos 85% delas) não
ultrapassem os seguintes valores:
n 0,4 mm – para estacas não protegidas e
cravadas em meio de agressividade am-
biental fraca;
n 0,3 mm – para estacas não protegidas e
cravadas em meio de agressividade am-
biental moderada a forte;
n 0,2 mm – para estacas não protegidas e
cravadas em meio de agressividade am-
biental muito forte.
Assim, se as fissuras estiverem dentro
dessas faixas, nenhuma providencia espe-
cial deverá ser adotada. Quando as fissuras
ultrapassarem esses valores, porém não ex-
cederem 1 mm, a estaca deverá ser marca-
da com lápis de cera no local da ocorrência
da fissura para identificá-la, posicioná-la na
torre do bate estacas e novamente medi-
la. Como as fissuras tendem a fechar até os
uma fissura dessa forma pode, em alguns limites acima estabelecidos, principalmen-
casos, gerar dúvida entre uma determina- te no caso das estacas protendidas, indi-
da medida e outra imediatamente inferior cando, assim, que a armadura longitudinal
ou imediatamente superior. não ultrapassou o estado elástico, segue-se
Trabalho efetuado por Alonso (1998) normalmente a cravação da estaca. Caso
procura abordar esse assunto e estabelecer contrário, a estaca deverá ser rejeitada.
critérios técnicos para dirimir tais dúvidas.
Assim, sugere-se classificar como fissuras 1.2 Classe 2 – Fissuras Longitudinais
as aberturas cujo limite esteja situado em (estacas ainda não cravadas)
1 mm. Acima desse valor, as aberturas são São aquelas que apresentam abertu-
consideradas trincas. ra não superior a 1 mm, paralelamente
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podem aparecer em um ou outro ponto ao
longo do fuste. No caso de ocorrência de
inúmeras trincas, principalmente em um
determinado trecho do fuste, a estaca
deve ser recusada. A Figura 6 ilustra uma
estaca com inúmeras trincas em um pe-
queno trecho do fuste, a qual certamente
deve ser inutilizada.
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tificar a rejeição de estacas, porém recur-
sos técnicos devem ser adotados para que
sejam evitadas. Raramente ultrapassam
alguns centímetros de comprimento e 2
a 3 milímetros de profundidade, apresen-
tando-se sempre de forma desordenada na
superfície das estacas. A Figura 11 ilustra
esse tipo de problema.
Referências Bibliográficas
[01] Alonso, U.R (1998) – Estacas Pré-Moldadas – Fundações – Teoria e Prática – Editora Pini
– Capítulo 9.2 – Págs. 373 a 399
[02] Gonçalves, C; Bernardes, G.P. E Neves, L.F.S. (2007) – Estacas Pré-Fabricadas de
Concreto – Teoria e Prática – 1ª Edição – Editora Pini – Págs. 1 a 46
[03] Gonçalves, C; Bernardes, G.P. e Neves, L.F.S. (2010) – Estacas Pré-Fabricadas
de Concreto – Quebras, Vibrações e Ruídos (?) – 1ª Edição – Abcic – Págs. 1 a 105 n
Entidades sociais e
empresas preocupadas
com a qualidade
das construções
O
Brasil possuía, em
2007, 56,3 milhões
de moradias, se-
gundo a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios
– PNAD 2008, realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística – IBGE. A
esse montante, são adicio-
nadas, a cada ano, entre 1
e 1,5 milhão de novas resi-
dências, estimativa lançada
pela Associação Nacional dos
Comerciantes de Materiais
de Construção - Anamaco,
em 2009. Desse estoque de
moradias, 77% das unidades
foram produzidas em regime Demóstenes Moraes, da Habitat Brasil, Zoltan Geocze,
gerente de microcrédito do Santander, Julie Gattaz,
de auto-gestão, constatou gerente de marketing da Votorantim Cimentos,
pesquisa da Booz Allen & Hamil- Sandra Kokudai, da Fundação Bento Rubião, Grasiella
ton para a Anamaco. Drumond, da Ashoka e Valter Frigieri Júnior, gerente de
Em outra pesquisa, dessa Desenvolvimento de Mercado da ABCP.
vez da Latin Panel para a Ana-
maco, foram detalhados mais própria família ou de amigos e, apenas,
aspectos dessas habitações: 1% utilizará os serviços de uma constru-
n 79% das residências brasileiras têm ape- tora ou empreiteira;
nas um banheiro; n Mais da metade dessas reformas será de
n 70% têm, no máximo, dois dormitórios; até 25m2.
n 77% dos lares necessitam de algum tipo Preocupada com essa realidade do
de reforma; mercado de reforma brasileiro, setor que
n Destes, apenas, 39% pretendem reformar; enfrenta dificuldades estruturais, como a
n Destes, 65% utilizarão serviços de um escassez de crédito, a oferta de materiais
pedreiro, 34% utilizarão mão-de-obra da de baixa qualidade, a falta de mão-de-obra
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qualificada, os desperdícios com compra nico para orientação de profissionais, mo-
equivocada ou a mais de materiais para a radores, vendedores e produtores”, desta-
reforma, as patologias decorrentes dos fa- cou Frigieri.
tores anteriores, a Associação Brasileira de Um primeiro desafio é a mobilização de
Cimento Portland - ABCP, conjuntamente agentes financeiros, para ampliar a oferta
com outras entidades sociais, empresas, e a qualidade do crédito para a reforma
associações, instituições acadêmicas e mo- habitacional. Esse desafio passa pelas fa-
vimentos sociais, somaram esforços numa ses de estudo do potencial do mercado de
empreitada para dar respostas a esses pro- reforma, de estudo do processo de reforma
blemas: o Clube da Reforma. autogerida e de estudo da relação desse
Lançado no último 8 de junho, em setor com o crédito. Tem como última fase
evento na sede da ABCP, o Clube da Re- prevista a mobilização de agentes para
forma tem a missão de melhor estruturar o implantação de produtos diferenciados de
mercado da reforma brasileiro, objetivan- crédito para a melhoria habitacional. “O
do assegurar condições de moradia mais Clube da Reforma representa uma oportu-
dignas e construções de maior qualidade nidade para que o Santander crie um novo
e durabilidade para a população de baixa crédito voltado para o setor de reforma de
renda no país. A meta inicial é que suas habitações populares, com a expertise dos
ações impactem um milhão de famílias de parceiros no Clube, de modo que seja sus-
baixa renda nos próximos cinco anos, de tentável”, destaca Zoltan Geocze, gerente
um gargalo estimado em 14 milhões. de microcrédito do Santander, presente no
Segundo o idealizador do programa, Val- lançamento do Clube.
ter Frigieri Júnior, gerente de Desenvolvi- Outro foco de atuação é o desenvol-
mento de Mercado da ABCP, os gargalos nes- vimento de conhecimento técnico sobre
te setor são complexos, os agentes atuam sob reformas de obras, criando ferramentas
óticas particulares e as experiências não são práticas que auxiliem moradores, profis-
acumuladas. “O Clube da Reforma vem para sionais, lojistas e assistentes técnicos na
agregar os diferentes interesses dos agentes contratação e no acompanhamento da re-
a uma causa: a melhoria habitacional da po- forma. Este desafio passa pelo processo de
pulação”. Ele completa: “às empresas inte- identificar, cadastrar e mapear iniciativas
ressam ações que melhorem seus produtos no setor de melhorias habitacionais, tarefa
e serviços, adequando-os à necessidade do a que se dedicarão os parceiros do Clube
usuário final e, com isso, aumentando o in- nos próximos 12 meses. “O Clube desen-
teresse do consumidor por esses produtos e volverá uma plataforma na Web que reu-
serviços; ao governo interessa a mobilização nirá as boas práticas existentes, consistin-
social, que integre o engenheiro, o arquiteto do de uma rede de iniciativas dos diversos
e o técnico neste mercado da reforma; e às agentes espalhados pelo país, que atuam
organizações sociais em geral interessam ati- na melhoria habitacional, para que as solu-
vidades e programas que venham aumentar ções alcançadas cheguem ao maior número
o impacto de suas ações”, explica. de profissionais, atores e famílias”, deta-
Os membros até agora envolvidos com lhou Frigieri.
o Clube – 38 instituições, no total – são jus- O Clube almeja ainda criar uma campa-
tamente as entidades sociais com alguma nha de comunicação integrada para mostrar
tradição na reforma habitacional e as em- à população os benefícios de investir na me-
presas com programas de responsabilidade lhoria da moradia. Serão explorados aspectos
social voltados para esse mercado. Reuni- como satisfação pessoal, conquista familiar,
dos nos últimos 10 meses, essas institui- qualidade de vida e valorização do imóvel
ções, num intercâmbio de conhecimentos nessas campanhas, no sentido de incentivar
e de práticas, formularam um programa de a população, em especial a de baixa renda, a
ação para os próximos 12 meses. “Traba- promover melhorias em sua residência.
lharemos com a adequação de produtos de Para saber mais:
crédito, kits de campanha e material téc- www.clubedareforma.com.br
O concreto com
reforço de macrofibras
poliméricas
Antonio Domingues de Figueiredo - Professor Doutor
Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
D
esde as primeiras aplicações de públicos disponíveis, pode-se lançar mão de
concreto com fibras (CRF) até avaliações comparativas de desempenho,
hoje, muitas inovações ocorre- como ocorreu para a avaliação do concreto
ram. Exemplo disso foi o desenvolvimento projetado reforçado com fibras de aço, que
de vários tipos de fibras de aço com ca- demonstrou desempenho igual ou superior
racterísticas específicas para melhorar o às telas metálicas, desde que se tenha utili-
desempenho do material, tanto no estado zado um teor adequado (Figueiredo, 1997).
plástico como no endurecido. Com isso, via- Atualmente, outra inovação tecnológica
bilizaram-se várias aplicações, como o con- chegou ao mercado brasileiro: as macrofi-
creto projetado reforçado com fibras desti- bras plásticas para o reforço do concreto e,
nado ao revestimento de túneis, que trouxe como tal, também devem ter sua aplicação
uma facilidade executiva muito grande; e embasada nos fundamentos de engenharia.
o uso de fibras em tubos de concreto que,
além da simplificação do processo de pro- 2. Fibras e
dução, diminui perdas de peças por quebra macrofibras
de bordas durante o processo de transporte poliméricas
e aplicação. Inovações ocorrem, em geral, As fibras poliméricas, como as de po-
pelo fato de pesqui- lipropileno (PP), já
sas terem sido desen- são utilizadas no
volvidas de modo a concreto há um bom
embasar essas aplica- tempo. Sua aplica-
ções sob o ponto de ção tradicional tinha
vista da engenharia. o objetivo de promo-
Vale ressaltar que, ver um maior con-
para aplicações com trole da fissuração
finalidade estrutural, nas primeiras idades
é fundamental ha- ou proporcionar a
ver uma verificação proteção passiva do
do desempenho do concreto durante
material compatível incêndios (Figueire-
com um modelo de do, Tanesi, Nince,
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ao contrário do que se espera das fibras
de PP convencionais, essas macrofibras são
produzidas para se obter um reforço estru-
tural, nos mesmos moldes que uma fibra
de aço.
O uso dessas macrofibras tem vários
atrativos em relação às fibras de aço,
como o fato de não estarem sujeitas à
corrosão eletrolítica, o que possibilita
uma maior durabilidade em ambientes
mais agressivos. Outra vantagem está no
menor impacto que essas fibras causam
na trabalhabilidade do concreto pelo fato
delas serem mais flexíveis que as fibras de
aço. Com isso, as macrofibras dificultam
menos a mobilidade relativa dos agrega-
dos, facilitando, inclusive, o bombeamen-
to do material, para mesmos teores em
volume. Isso é, particularmente, interes-
2002). Nesse caso, são utilizadas fibras de sante para o caso do concreto projetado,
pequenas dimensões feitas a partir de poli- onde as fibras poliméricas irão represen-
propileno de baixo módulo de elasticidade tar uma chance menor de entupimentos
(Foto 1). Apesar de ainda haver algumas no processo. Para os pavimentos, a menor
questões associadas à otimização da apli- densidade da fibra irá representar um me-
cação dessas fibras, que deverão ser mo- nor risco de segregação e, com isso, evitar
tivo de pesquisas futuras, a sua aplicação falta de reforço na superfície da placa de
foi possível em uma série de obras impor- concreto. Todavia, a maior flexibilidade,
tantes, como os túneis da Rodovia dos Imi- devida ao menor módulo de elasticidade,
grantes. Isso ocorreu porque é sabido que o em conjunto com a menor resistência, irá
uso das fibras, mesmo não otimizado, trará demandar teores em volume diferentes
algum benefício técnico para a estrutura. daqueles utilizados para o reforço do con-
Em outras palavras, pode-se questionar se
o teor de fibras de PP é exagerado ou insufi-
ciente, mas sabe-se que será obtido algum
ganho em termos de desempenho quando
comparado com o concreto sem fibras.
As macrofibras de base polimérica sur-
giram no mercado internacional nos anos
1990, quando começaram a ser fornecidas
em cilíndros que consistiam em feixes de
um grande número de fibras unidos por
uma fita externa (Foto 2). As primeiras
aplicações ocorreram com o concreto pro-
jetado, especialmente na Austrália e no
Canadá (Morgan, Rich, 1996). Aos poucos
essa tecnologia se disseminou e chegou ao
Brasil em anos mais recentes. Atualmen-
te, existem vários fabricantes disponibili-
zando diferentes tipos de macrofibras no
mercado brasileiro (Foto 3). No entanto,
3. Dosagem do
concreto com
fibras
Para realizar um bom estudo de dosa-
gem, é fundamental a especificação dos
requisitos de desempenho estrutural em
projeto e que se tenha uma metodologia
de ensaios bem estabelecida para a sua
determinação. Metodologias de dosagem
para o reforço do concreto com fibras de
aço já foram desenvolvidas e publicadas no
Brasil (Figueiredo, 1997; Higa et al, 2007)
e, como é natural, essas procuram deter- minação da tenacidade fica ainda mais
minar o teor ótimo de fibras, que atende complexo, dificultando o seu controle e
aos requisitos de tenacidade do concreto. dosagem. Apesar de alguns trabalhos já
Isso é avaliado por métodos de ensaio já terem sido desenvolvidos no Brasil, como
padronizados no exterior, mas que, com a se trata de um material de disponibilidade
exceção dos tubos de concreto, ainda não recente, o volume de pesquisas específicas
contam com norma brasileira. Apesar des- ainda é reduzido.
sa limitação, é possível realizar os estudos
que permitam estabelecer teores distintos 4. O controle
de diferentes fibras, que atendam aos mes- das macrofibras
mos requisitos de desempenho. O exemplo poliméricas
da Figura 1 contém diferentes curvas de O primeiro trabalho acadêmico brasilei-
dosagem para fibras de diferentes fatores ro realizado sobre o assunto foi desenvolvi-
de forma (relação entre o comprimento do na Universidade de São Paulo e abordou
da fibra e o diâmetro do círculo com área justamente a metodologia de controle da
equivalente à sua seção transversal) refor- tenacidade (Tiguman, 2004). O objetivo
çando a mesma matriz de concreto. Nota- fundamental do trabalho era comparar os
se que fibras com diferentes resistências resultados obtidos segundo dois procedi-
do aço (fs) apresentam também diferentes mentos de ensaio para determinação da
desempenhos, mesmo quando possuem fa- tenacidade: o ensaio contínuo (JSCE-SF4
tores de forma similares. Por essa razão, e EFNARC) e o ensaio descontínuo (ASTM
a norma de especificação de fibras de aço C1399). Isso ocorreu pelo fato dos ensaios
NBR 15530:07 classificou as mesmas segun- de flexão em prismas feitos em concretos
do o fator de forma e a resistência do aço. com macrofibras apresentarem respostas
Extrapolando o raciocínio, é natural espe- bastante instáveis, dificultando a análise
rar que haja diferenças de comportamento dos resultados. Demonstrou-se que a utili-
do concreto com fibras de aço em relação zação de ensaios contínuos é pouco eficaz
àquele com macrofibras poliméricas, dado para avaliar o concreto com baixos teores
que estes materiais possuem resistência e de fibras, tornando a quantificação da tena-
fatores de forma bem distintos. cidade praticamente impossível. Já os en-
Quando o concreto é reforçado com saios descontínuos permitiram a avaliação
fibras poliméricas, o problema da deter- dos concretos com valores muito baixos de
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tenacidade. O problema é que os ensaios
descontínuos não são utilizados como re-
ferência nas recomendações internacio-
nais para o dimensionamento de estruturas
com o reforço de fibras, o que gera dúvidas
quanto à sua aplicabilidade no controle de
obras como pavimentos e túneis. Como a
respostas desses ensaios são diferentes, es-
tudos vêm sendo desenvolvidos na direção
de atender essa demanda e espera-se que,
num futuro próximo, o ensaio descontínuo
possa ser encarado como uma alternativa
viável para o controle da tenacidade des-
ses concretos.
5. Perigos da
falta de controle
tecnológico
Assim, com as dificuldades apontadas,
muitas vezes se lança mão de teores abso- com a informação do teor recomendado de
lutamente empíricos para se especificar o macrofibras para a obra, sem fazer qual-
material. Essa prática, infelizmente, tam- quer verificação.
bém acontece para as fibras de aço, apesar Mas, é preciso concluir que, indepen-
de toda a tecnologia disponível e de todas dentemente do tipo fibra a ser utilizada
as pesquisas já realizadas sobre o assunto. como reforço do concreto, deve-se especi-
O problema é que especificar apenas um ficar um parâmetro de desempenho quanto
consumo de fibras, sem realizar o controle à tenacidade para a sua dosagem e contro-
de qualidade, não garante o desempenho le. Vale lembrar que, pelo fato do controle
do material. Para exemplificar, na Figura 2, de recebimento ter um custo muito baixo,
são mostrados os resultados obtidos no con- quando comparado ao montande de inves-
trole regular de uma obra de pavimento in- timento destinado a obras de pavimentos e
dustrial, ficando claro que a resistência da túneis, onde o CRF é freqüentemente apli-
matriz implicou um aumento da tenacidade cado, não se pode justificar sua elimina-
do compósito. Vale ressaltar que esses resul- ção, tanto pelo ponto de vista tecnológico,
tados representam apenas a variação natural como pelo ponto de vista econômico.
do material de uma obra específica. O fato de não haver uma prática do
O maior limitante para a introdução controle do material em campo faz com
dessa tecnologia no mercado é a carência que o mercado perca referências impor-
de uma cultura de incentivo a programas tantes de avaliação de desempenho e, com
de controle de qualidade na execução de isso, torne a tecnologia mais suscetível do
obras de pavimentos, que é o principal ponto de vista de confiabilidade. Em ou-
campo de aplicação dessas fibras no Bra- tras palavras, como a decisão sobre que
sil, o que permitiria uma melhor condição fibra utilizar e em que teor é normalmen-
de avaliação das tecnologias alternativas. te embasada de maneira muito restrita no
Ou seja, como os usuários já estão acos- custo da fibra e no consumo especificado,
tumados a realizar obras, onde a fibra de sem verificação do desempenho mínimo
aço é especificada apenas fixando-se um adequado, acaba-se por comprometer
consumo, sem haver controle tecnológico gravemente a tecnologia, por descurar
do material, é natural esperar que esses de aspectos técnicos fundamentais. Isso
mesmos usuários fiquem satisfeitos apenas é equivalente a uma situação hipotética
Referências Bibliográficas
[01] FIGUEIREDO, A.D. Parâmetros de Controle e Dosagem do Concreto Projetado
com Fibras de Aço. São Paulo. Tese (Doutorado). Escola Politécnica, Universidade de
São Paulo. 1997.
[02] FIGUEIREDO, A. D., MOURAD, F. A., CARVALHO, J. L. C. Aspectos do controle do
concreto reforçado com fibras de aço para pavimentos. In: 42o Congresso Brasileiro
do Concreto do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON). Fortaleza, CE, 2000.
[03] FIGUEIREDO, A. D., TANESI, J., NINCE, Andréia Azeredo. Concreto com fibras de
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[06] Tiguman, M. P. Estudo comparativo entre métodos de quantificação de tenacidade
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(mestrado). Engenharia Civil. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. n
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normalização técnica
ABNT NBR 14861
A norma brasileira de
lajes alveolares: ações
conjuntas da cadeia
produtiva do setor
Enga Msc. Daniela Gutstein - coordenadora
CE de Lajes e Painéis Alveolares de Estruturas de Concreto Pré-fabricadas
E
m 2006, foi publicada a revisão detalhadas nesta norma.
da norma de Projeto e Execução Por outro lado, a atual norma que trata
de Estruturas Pré-moldadas de do tema[3] está desatualizada e contempla
Concreto (ABNT NBR 9062)[1]. Essa revisão apenas aspectos gerais das lajes alveolares.
teve como objetivo a atualização frente No contexto internacional, normas especí-
às prescrições da norma de Projeto de Es- ficas de produtos pré-fabricados têm sido pu-
truturas de Concreto (ABNT NBR 6118)[2], blicadas e revisadas constantemente, sendo a
bem como às tendências internacionais EN 1168[4] o eurocódigo relacionado ao produ-
de normalização e inovações tecnológicas to laje alveolar. O PCI (Precast/Prestressed
na área de estruturas pré-fabricadas. A Concrete Institute) e a fib (Fédération Inter-
ABNT NBR9062[1] trouxe especificações im- nationale du Béton) também têm desenvolvi-
portantes para estruturas pré-moldadas e do o tema por meio da publicação de manuais
pré-fabricadas*, a partir das quais elemen- de referência para lajes alveolares, onde es-
tos pré-moldados podem ser projetados, tão contidos os tópicos projeto, fabricação,
tendo como base ensaios de comprovação montagem, controle tecnológico e sistemas
experimental. Mas, a metodologia para a estruturais compostos pelas lajes alveolares.
realização dos estudos experimentais não A importância da laje alveolar na cons-
é definida ou indicada e as especificações trução civil brasileira e o desenvolvimento
*Elementos pré-fabricados são elementos pré-moldados executados
industrialmente em instalações permanentes de empresa destinada para
[Concreto & Construções] | 44 | este fim com as características definidas no item 12.1.2, da ABNT NBR9062.
normalização técnica
do setor nos últimos anos motivaram ações apresenta características estruturais e fun-
conjuntas de fortalecimento do projeto, cionais diferenciadas das lajes alveolares.
produção, controle tecnológico e ainda de Além da elaboração dessas normas, dentro
parcerias entre fabricantes e entidades de do planejamento da Comissão, poderão
pesquisa. Essas ações têm sido coordenadas existir outras iniciativas para a elaboração
pela ABCIC (Associação Brasileira da Cons- de boas práticas de projeto, produção e
trução Industrializada de Concreto), desde montagem dos produtos, por exemplo.
2001, envolvendo fabricantes associados Os trabalhos da Comissão de Estudo
e grupos de pesquisa, como o NETPRE/ (CE) estão sendo desenvolvidos e preten-
UFSCar (Núcleo de Estudos e Tecnologia de-se que a norma de lajes alveolares seja
em Pré-moldados de Concreto da Univer- publicada em breve, mantendo-se o núme-
sidade Federal de São Carlos). Destacam- ro ABNT NBR 14861, mas com novo esco-
se os programas de ensaios desenvolvidos po e título: “Lajes alveolares protendidas
em parceria entre fabricantes e o NETPRE, de estruturas de concreto pré-fabricadas
bem como a filiação à fib, em 2008, onde – Requisitos e procedimentos”. Os demais
representantes da ABCIC e do NETPRE têm produtos de lajes pré-moldadas terão suas
atuado junto ao comitê de pré-fabricação normas específicas.
da entidade. A ABCIC tem buscado a certi- A Comissão escolheu a coordenação e
ficação de produtos e promovido o desen- secretaria, em função da experiência em
volvimento tecnológico e empresarial do normalização na área de estruturas pré-fa-
setor, de forma a atender às necessidades bricadas e do conhecimento técnico sobre
do mercado, o que requer a revisão e ela- o tema. Inicialmente, a CE foi coordena-
boração das normas técnicas em consonân- da pelo Prof. Marcelo de Araújo Ferreira,
cia com as tendências mundiais, bem como pesquisador na área de lajes alveolares e
com a experimentação e a experiência bra- coordenador do NETPRE/UFSCar. Este par-
sileira adquiridas na área. ticipou também da revisão da ABNT NBR
Assim, este artigo descreve o processo de 9062[1] e é atual representante brasileiro
elaboração da norma brasileira de lajes alve- do comitê de Lajes Alveolares da fib (Fédé-
olares, as etapas e setores envolvidos, ilus- ration Internationale du Béton), organiza-
trando a importância da normalização das ção não lucrativa criada em 1998, através
lajes alveolares no Brasil, bem como alguns da integração do CEB (Comité Euro-Inter-
desafios que a Comissão tem enfrentado. national du Béton) e da FIP (Fédération
Internationale de la Précontrainte). Este
2. Comissão de Comitê fib vem trabalhando na elaboração
Estudos de Lajes e de um manual que virá a complementar a
Painéis Alveolares atual norma européia EN 1168[4], dentre
A Comissão de Estudos de Lajes e Pai- outros assuntos. No entanto, mudanças na
néis Alveolares de Estruturas de Concreto coordenação da Comissão foram necessá-
Pré-fabricadas (CE-18:600.19) foi instala- rias, devido a não permanência de seu co-
da em 2008 no âmbito do Comitê Brasilei- ordenador no país e à necessidade de dar
ro de Cimento, Concreto e Agregados da continuidade aos trabalhos de desenvolvi-
Associação Brasileira de Normas Técnicas mento da Norma. Assim, a coordenação da
(ABNT/CB-18). O objetivo principal da Co- Comissão está atualmente a cargo da Enga.
missão é a normalização de Lajes e Painéis Daniela Gutstein, representante de fabri-
Alveolares de estruturas de concreto pré- cantes, lotada anteriormente na secretaria
fabricadas, com a participação de pessoas e com experiência advinda de seu trabalho
diretamente envolvidas e especializadas na revisão da ABNT NBR 9062, e a secreta-
no assunto. ria, do Eng. Fernando de Menezes Almeida
A elaboração da norma de lajes alve- Filho, representando o meio acadêmico,
olares constitui a primeira atividade des- como pesquisador do NETPRE/UFSCar.
ta Comissão. O produto painel alveolar A CE conta com membros dos diversos
será tratado posteriormente, uma vez que setores da cadeia produtiva, tais como: fa-
| 45 | [www.ibracon.org.br]
bricantes de lajes alveolares, projetistas, norma e demais manuais do fib e PCI tam-
fornecedores de insumos e fabricantes de bém têm sido consultados na elaboração
equipamentos, bem como pesquisadores, do texto-base.
em especial, os representantes do NETPRE, Foram formados três grupos de traba-
e consumidores do produto. lho para o desenvolvimento de parte do
texto-base a ser apreciado em plenária. Os
3. Norma de grupos são coordenados por membros da
Lajes Alveolares CE e todo o processo é acompanhado pela
coordenação da CE. São os grupos:
3.1 Etapas do processo n Grupo 1 - Materiais, Produto e Produ-
As diretrizes da ABNT para o desenvol- ção: responsável pela elaboração dos Capí-
vimento das Normas Brasileiras seguem tulos 5, 6, 12 e parte do Capítulo 11 (Tabe-
padrões internacionais de normalização la1), a partir da análise dos procedimentos
e visam obter documentos com conteúdo de produção e montagem de fabricantes e
coerente, claro e preciso, que considerem das especificações do Selo de Excelência
o estado da arte, que sirvam de base ao ABCIC[5], que foi elaborado por meio de um
desenvolvimento tecnológico e que sejam Comitê desta Associação, tendo como base
suficientemente completos para a apli- normas de qualidade internacionais e as
cação a que se destinam, permitindo que normas técnicas ABNT que são aplicáveis.
toda a sociedade possa deles fazer uso. O Selo consiste num programa de qualida-
Como a ABNT é signatária do Código de de evolutivo específico para as indústrias
Boas Práticas em Normalização da Orga- de pré-fabricados que busca a melhoria das
nização Mundial do Comércio, as Normas empresas com o avanço dos níveis do Selo.
Brasileiras devem ser elaboradas conside- O Grupo 1 é coordenado pela Enga. Íria Lí-
rando o estado da arte no País e também cia Oliva Doniak. Fazem parte do texto do
o tratamento dispensado ao tema interna- grupo os aspectos de fabricação, de mon-
cionalmente. tagem, equipamentos e do controle tec-
Seguindo essas diretrizes, para a ela- nológico de produção. Neste último, são
boração do texto-base, a CE 18:600.19 de- tratados, por exemplo, os tipos de ensaios,
finiu o sumário apresentado na Tabela1, a frequência mínima e aqueles ensaios es-
tendo como base a norma EN 1168[4] e sua pecíficos ainda não normalizados (em con-
aplicabilidade no contexto nacional. Esta junto com o Grupo 2).
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qualidade. Diversos fatores influenciam indicações importantes para a escolha das
nos mecanismos resistentes e nas formas formulações de verificações de esforços na
de ruptura das lajes alveolares. A verifi- nova norma. As características nacionais
cação ao esforço cortante é uma das mais devem ser levadas em conta, uma vez que
importantes a ser normalizada. Os meca- a normalização internacional é baseada em
nismos de ruptura ao cisalhamento são crí- pesquisas de produtos comumente empre-
ticos, em geral, nas lajes de menores vãos gados nos países europeus.
e/ou de maiores carregamentos. Uma vez
que a laje alveolar não utiliza armadura à 3.3 Sistemas estruturais compostos
força cortante, é projetada para atender por lajes alveolares
aos requisitos de dispensa de armadura de Dentre os assuntos a serem abordados
cisalhamento em lajes e, algumas vezes, na nova norma, merece destaque também
utiliza-se de artifícios, como o preenchi- o Capítulo 8, que trata do dimensiona-
mento dos alvéolos e a adoção de capa mento de sistemas estruturais compostos
estrutural, para melhorar o seu comporta- por lajes alveolares. Este Capítulo trará
mento ao cisalhamento. a definição do elemento capa estrutural,
Os ensaios realizados possibilitaram a especificará a obrigatoriedade de projeto
validação da metodologia de ensaio do ma- estrutural deste elemento e também os re-
nual da FIP[7] em fábrica nacional, que será quisitos de projeto e de execução da seção
referência para ensaios de controle de qua- composta, formada pela laje alveolar e ca-
lidade de produto em fábrica. Embora os peamento estrutural, entre outros.
resultados desses ensaios não solucionem Sistemas estruturais de edificações mul-
todas as dúvidas sobre o assunto, trazem tipiso formados por lajes alveolares apoia-
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talhado. Vem a preencher lacunas de pa- fib International Congress 2010 e demais
dronizações mínimas relacionadas às lajes eventos nacionais, que permitiram, den-
alveolares e aos sistemas estruturais for- tre outros, a validação de metodologia
mados pelas mesmas, bem como de especi- apropriada para aplicação em fábrica e
ficações e orientações para minimizar pro- motivou parcerias entre fabricantes,
blemas, discussões técnicas e contratuais ABCIC e NETPRE.
entre produtores, projetistas e proprietá- À empresa CMA-Carlos Melo & Associa-
rios. Também a concorrência desleal ten- dos, responsável pelo projeto da estrutura
de a ser reduzida, uma vez que passam a pré-fabricada do Shopping Via Brasil-RJ,
existir padrões mínimos pré-estabelecidos pelos dados fornecidos.
em norma. Às empresas Cassol Pré-fabricados/PR,
O setor de estruturas pré-fabricadas e Premodisa Sorocaba/SP, Protensul Pré-fa-
de consumidores (demais obras que utili- bricados/SC e T&A Pré-fabricados/PE, por
zam as lajes alveolares) tende a crescer viabilizarem estudos visando a normaliza-
quando se estabelecem padrões mínimos ção técnica de lajes alveolares.
de segurança estrutural, de produção e de Às empresas Cassol Pré-fabricados/
controle de qualidade. Essa normalização PR, Munte Construções Industrializadas/
está sendo desenvolvida de forma que não SP e Premo Construções e Empreendi-
impeça a evolução tecnológica e que possa mentos/MG, que disponibilizaram seus
ser atendida pelos fabricantes, projetistas procedimentos e bibliografias referentes
e demais responsáveis envolvidos. às lajes alveolares, para a análise e fonte
de consulta.
5. Agradecimentos Ao proprietário da obra do Shopping Via
À Cassol Pré-fabricados pelos dados Brasil, pela possibilidade de uso das ima-
fornecidos sobre o projeto das lajes al- gens do empreendimento.
veolares do Shopping Via Brasil e pelos À empresa Zamarion e Millen Consulto-
ensaios de lajes alveolares realizados na res, que disponibilizou seu escritório para
fábrica de Araucária/PR. Estes ensaios, reuniões e ao Eng. Eduardo Millen, que tem
feitos em parceria com o NETPRE, origi- tido participação ativa como representante
naram referências internacionais impor- da ABECE, bem como aos demais integran-
tantes, como as apresentadas nos even- tes da CE que têm se dedicado aos traba-
tos PCI 2008 Anual Convention e Third lhos de normalização.
Referências Bibliográficas
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de estruturas de concreto pré-moldado. Rio de Janeiro, 2006.
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Requisitos. Rio de Janeiro, 2002.
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Documentos integrantes do sistema de gestão do Selo Excelência ABCIC. São Paulo, 2003.
Disponível em: <http://www.abcic.org.br/selo_excelencia.asp>. Acesso em: 05 de
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Março, 2008.
[07] FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DA PROTENSÃO - FIP. Guide to good practice: Quality
assurance of hollow core slab. London, England, 1992. n
Paredes duplas:
o sistema circular
na construção
industrializada
FAbio Casagrande – engenheiro civil e diretor
Sudeste Pré-Fabricados
C
onhecido como “Planta Carros- faz parte da realidade brasileira. Da ne-
sel” no Velho Continente, o sis- cessidade e do conhecimento acumulado
tema circular para produção de resultaram a produção totalmente auto-
painéis em concreto foi aprimorado du- matizada e contínua de painéis em con-
rante as últimas três décadas e, hoje, é creto armado customizados, chamados de
amplamente utilizado para a construção paredes duplas.
da parede dupla, uma importante evolu- Com função estrutural, cada parede
ção tecnológica que incorpora o conceito dupla é composta por duas placas de con-
de construção industrializada. Essa con- creto, pré-fabricadas, unidas por treliças
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função do proje-
to. O módulo de
deformação é de
25GPa. Só depois
de fixadas as pa-
redes duplas e as
lajes treliçadas,
a concretagem é
feita, simultâne-
amente, tornan-
do a estrutura
monolítica.
Modelo de laje treliçada Sudeste, que permite a redução dos trabalhos
em armaduras Expostas as ca-
racterísticas téc-
de aço. A aplicação de um modelo externo nicas das paredes duplas, vale enfatizar
ao tradicionalmente aplicado na constru- a segurança e o cumprimento das normas
ção civil brasileira, como qualquer meio técnicas brasileiras a que o sistema cons-
inovador, requereu o estudo do layout do trutivo está sujeito.
sistema circular, fator determinante para
o sucesso do produto brasileiro, que hoje Tecnologia que
é flexível para atender todos os tipos de oferece segurança
obras. O sistema de produção de paredes O sistema construtivo de paredes du-
duplas foi concebido para obter painéis de plas possui algumas particularidades que
dimensões e espessuras diversas, sem a visam dar garantia ao construtor quanto
necessidade de mudanças na fabricação. à segurança do produto. Como as pare-
As variações dos painéis que com-
des são produzidas na horizontal e ao
põem as paredes duplas podem ter a di-
nível do chão da fábrica, garante-se a
mensão de até 3,20m de altura por até
cobertura das armaduras pelo concre-
13,30m de comprimento, com a espessu-
to, conforme especificado. O concreto
ra total da parede variando entre 0,15m
é lançado através de um distribuidor de
e 0,36m. A estrutura de uma edificação
que utiliza paredes duplas também irá concreto automatizado, projetado espe-
contemplar o uso de lajes treliçadas. cialmente para esse produto, o que ga-
As lajes treliçadas, por sua vez, podem rante a espessura de projeto da parede.
ter a dimensão de até 2,60m de largu- O sistema de vibração utilizado, deno-
ra (dada a limitação do transporte) por minado “shaking”, em que a vibração é
até 13,30m de comprimento. Cada placa executada em função do peso do concre-
do painel da parede de concreto pode to lançado, garante que a superfície da
variar de 4,5cm a 7,0cm. A resistên- parede em contato com a fôrma (palete)
cia mínima do concreto é de 30,0MPa, fique isenta de bolhas, evitando, por-
havendo possibilidade de alteração em tanto, acabamentos posteriores.
Ambientalmente
correto
Todos os meses o Departamento de
Limpeza Urbana da Prefeitura de São
Paulo (Limpurb) recolhe cerca de 144
mil m³ de entulho. Extraoficialmente,
estima-se que essa quantidade seja três
vezes maior. Dados do departamento re-
velam que 10% de todos os materiais en-
tregues em canteiros de obras são des-
perdiçados. A imprecisão na compra, a
ineficiência no processo de construção
artesanal e os equívocos na elaboração e
execução dos projetos, somados às per-
Ligação entre paredes duplas e laje treliçada
das no transporte e no armazenamento,
O que confere a qualidade dimensional geram esse desperdício.
da peça é o sistema de projeção a laser, O fato chama a atenção de ambienta-
que garante a precisão necessária para não listas e vira problema de saúde pública em
haver retrabalhos. grandes centros urbanos, que encontram
No projeto do palete foram feitas várias dificuldades na deposição dos resíduos. Em
simulações de elementos finitos, até se che- poucos anos, estima-se que a escassez de
gar à melhor estrutura, relacionando a de- lugares para descarte elevará o preço para
formação com o peso e o volume ocupados. aterrar o material.
A construção dos paletes foi feita em aço A geração de resíduos deveria ser uma
especial, caracterizado no mercado como preocupação ainda na fase inicial do proje-
chapa grossa de aço soldável, de alta re- to, em sua concepção. A racionalização dos
sistência à abrasão, com dureza mínima de materiais e a eficiência são determinantes
500HB e espessura na faixa de 6 a 19mm, para uma obra limpa e sem prejuízos. As
tratado termicamente e laminado em uma paredes duplas seguem a classificação dada
só chapa, sem qualquer emenda. Posterior- à matéria-prima, concreto, pelo Conselho
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A automatização de
um sistema construtivo
de paredes duplas re-
quer algumas observân-
cias, como a simulação
de elementos finitos, no
projeto do palete, até se
chegar à melhor estrutu-
ra, relacionando a de-
formação com o peso e
volume ocupados. A au-
tomatização do processo
envolve ainda a escolha
de softwares que geren-
ciam todas as fases, des-
de o recebimento dos
Obra industrial com fechamento em Paredes Duplas
projetos até a gestão de
Nacional do Meio Ambiente (Conama) que, cada módulo no ciclo produtivo, para chegar
de acordo com a resolução 307, de 5 de ju- ao canteiro de obras. A produção, controlada
lho de 2002, determina que os resíduos de digitalmente, garante precisão, uniformida-
concreto podem ser considerados de classe de e rapidez, já que não há incorreções. Há
A e os resíduos de aço de classe B. Quanto exatidão quanto à geometria dos elementos,
à destinação, isso significa que os resíduos à mistura do concreto e ao posicionamento
de classe A são reutilizáveis ou recicláveis das telas e das treliças metálicas. A produ-
como agregados e os de classe B são reci- ção pelo sistema circular permite também a
cláveis para outras destinações. incorporação de pontos hidráulicos e elétri-
Além da reciclagem, que favorece o re- cos, abertura de portas, caixilhos e rebaixos
aproveitamento do concreto estrutural de para apoio de lajes.
RCD (resíduos de construção e demolição)
e de centrais dosadoras em relação aos ti- O Processo que
jolos cerâmicos e argamassas, a alternati- Envolve a Produção
va, ecologicamente correta, também gera da Parede Dupla
peças com maior capacidade de carga e A produção da parede dupla é dita cir-
evita deformações e patologias. cular porque o sistema se dá sobre mesas de
superfície metálica polida que circulam pela
A Automatização do área de produção. O exato posicionamento
Sistema Construtivo das réguas que compõem os moldes se deve
de Paredes Duplas
aos projetores de laser e a imãs integrados às
O Sistema Circular de construção em
réguas. As armações de treliça e de aço tam-
concreto consiste em uma planta, cujos
bém são montadas sobre as mesas. A estação
moldes são paletes que se movimentam ci-
de concreto, por sua vez, prepara a mistura
clicamente em todas as fases do processo
produtivo. O movimento longitudinal ocor- automaticamente, que é lançada por meio
re através de dezenas de moto-redutores e de um distribuidor sobre a mesa. Na estação
fricções espalhados estrategicamente pela de “shaking”, é feita a compactação. A esta-
fábrica. Já, os movimentos transversais são ção gira 180º e realiza a união entre os dois
realizados por carros autônomos que, por elementos. A espessura também é controla-
sistema hidráulico, elevam o palete através da por meio de processo automático. O últi-
dos moto-redutores e movimentam-no en- mo passo é o da câmara de cura: ali a parede
tre as linhas longitudinais de transporte. dupla permanece por oito horas
Referências Bibliográficas
[01] ______. ABNT NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio
de Janeiro, 2007.
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[06] ______. ABNT NBR 12655: Concreto de cimento Portland - Preparo, controle
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[09] BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação.SINAT - Sistema
Nacional de Avaliação Técnica .Brasília, DF, 2006. n
| 55 | [www.ibracon.org.br]
mantenedor
Selo de Excelência
ABCIC: compromisso
com a construção
sustentável
Íria Lícia Oliva Doniak - Diretora Executiva
Abcic
A
ABCIC (Associação da cia, pois ela vem ao encontro às
construção Industria- necessidades de treinamen-
lizada de Concreto), to especificadas no pro-
que representa os produto- grama de certificação do
res de estruturas pré-mol- setor,denominado SELO DE
dadas com ênfase na pré- EXCELÊNCIA Abcic.
fabricação (pré-moldados O selo, lançado em
produzidos na indústria, 2003, teve como referência
conforme designação da de estruturação o Programa
ABNT NBR 9062), está asso- de Certificação de Plantas
ciada ao IBRACON, como sócia de Produção do PCI (Precast
mantenedora, desde 2006. Prestressed Concrete Institu-
Atualmente, a ABCIC integra o te- Chicago) e seus requisitos foram
Conselho Diretor do IBRACON e possui re- estabelecidos de acordo com as normas
presentação no Conselho e no Comitê de técnicas ABNT aplicáveis, como a NBR9062
Certificação, responsável pelo programa e suas complementares, e também com a
de qualificação de mão de obra, operacio- ISO 9001 e 14001, para gestão da qualidade
nalizado pelo NQCP (Núcleo de Qualifica- e da ambiental, respectivamente. O Selo
ção e Certificação de Pessoal), acreditado leva também em conta a NR-18, enfatizan-
pelo INMETRO como organismo certifica- do os princípios de segurança no trabalho
dor de pessoas, que conduz a certificação e, por esta razão, foi chamado de excelên-
de profissionais em controle de qualidade cia e não apenas de qualidade.
de concreto. Atualmente, das 50 empresas associa-
Para a diretoria da Associação, incen- das à entidade, 17 possuem o Selo, totali-
tivar os profissionais das empresas pré- zando 21 plantas de produção.Trata-se de
fabricadoras associadas a buscarem essa um programa evolutivo, que procura, ao
certificação é de fundamental importân- longo dos níveis, ressaltar importantes as-
| 57 | [www.ibracon.org.br]
normalização técnica
ABNT NBR 15823
A Norma Brasileira de
Concreto Autoadensável
Ricardo Alencar
SIKA
Inês Battagin
ABNT/CB18
1. Introdução 2. Classificação
D
esde o início de 2008, o Comitê do concreto
Brasileiro de Cimento, Concre- autoadensável
to e Agregados da Associação no estado fresco
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/ As características do concreto autoa-
CB-18) vem desenvolvendo atividades densável no estado fresco dependem do
de normalização visando estabelecer di- tipo de aplicação, da geometria da es-
retrizes para o concreto autoadensável trutura, do equipamento de lançamento
(CAA). A Comissão de Estudo responsá- (bomba, caçamba, grua), da importância
vel pelo tema foi formada por produto- do acabamento, entre outros. A seguir, são
res, consumidores de concreto, seus ma- apresentados os quatro parâmetros princi-
teriais constituintes, representantes de pais para a especificação do CAA.
institutos de pesquisa, laboratórios da
iniciativa privada, universidades, entre 2.1 Fluidez e escoamento (SF)
outros. Apesar do uso crescente desse O valor do espalhamento, medido através
material no País, não havia ainda nor- do ensaio do slump-flow, fornece indicações
ma brasileira específica para disciplinar da fluidez do CAA e de sua habilidade de pre-
o assunto. enchimento das fôrmas em fluxo livre.
Os esforços nesse sentido culmina- O ensaio previsto na Parte 2 da ABNT
ram com a aprovação, em 2010, de seis NBR 15823 é realizado pelo espalhamen-
textos normativos, que estabelecem os to do tronco de cone de Abrams. O mol-
requisitos para classificação, controle de tronco-cônico é posicionado sobre
e aceitação do CAA no estado fresco, o centro de uma base plana e a seguir
prescrevendo ensaios específicos. Este preenchido com o concreto sem compac-
trabalho apresenta os principais aspec- tação. Após o preenchimento, o molde
tos e comenta as bases técnicas para é levantado e o concreto flui livremen-
o desenvolvimento da ABNT NBR 15823, te. O resultado do ensaio é a média de
a partir de documentos europeus, nor- dois diâmetros perpendiculares do círcu-
te-americanos e da experiência dos lo formado pela massa de concreto. Esse
envolvidos nos trabalhos da Comissão ensaio é especificado para todas as apli-
de Estudo. cações do CAA.
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to na Parte 4 da Norma e que segue a li-
nha estabelecida pela EPG (2005), mede a
habilidade passante, sob fluxo confinado,
através da razão entre as alturas H2 e H1
da superfície do concreto nas extremidades
posterior e anterior da câmara horizontal,
respectivamente, após aberta a grade de
separação entre os compartimentos, como
mostra a Figura 3.
A EN 12350-10 (2007) considera o tem-
po que o CAA leva para atingir as marcas de
20cm e 40cm da fase de contenção. Pelos
estudos realizados para o desenvolvimento
da Norma Brasileira, verificou-se que essa
medida não é operacional, particularmente
para concretos de baixa viscosidade, pois
se necessita de duas marcações de tempo
em um intervalo muito curto. Além disso,
o foco do ensaio é a habilidade passante e
não a viscosidade do concreto.
Como o CAA não se comporta total-
mente como um fluído Newtoniano (fluído
ideal) é necessário um tempo mínimo para
sua estabilização no equipamento, normal-
mente entre 30s e 60s , evitando mascarar
lidade em fluir e, por isso, é chamada, na resultados em obra, pois se o CAA for des-
Norma, de viscosidade plástica aparente. pejado e imediatamente for aberta a com-
O t500 é um ensaio que avalia a viscosida- porta do equipamento de ensaio (caixa-L),
de do concreto em fluxo livre, normalmente o escoamento do concreto será facilitado.
realizado simultaneamente ao ensaio de es- Normalizado pela ASTM 1621, o ensaio
palhamento e consiste na medida do tem- do anel J, previsto na Parte 3 da Norma Bra-
po que o CAA leva para atingir a marca de
500 mm de diâmetro (centrada na base da
placa de ensaio), após a retirada do molde
tronco-cônico (Parte 2 da Norma).
Outro ensaio, denominado funil V, de-
termina a viscosidade sob fluxo confinado,
a partir do registro do tempo que o concre-
to leva para escoar pelo equipamento mos-
trado na Figura 1. Este ensaio é previsto na
Parte 5 da ABNT NBR 15823.
A determinação da viscosidade do concre-
to é particularmente importante quando for
requerido um bom acabamento superficial e/
ou quando a densidade de armadura for ex-
pressiva na peça a ser concretada; caso típico
de concreto pré-fabricado da Figura 2.
| 61 | [www.ibracon.org.br]
[Concreto & Construções] | 62 |
gem do concreto em laboratório, mas pres- deve(m) ser realizado(s), pelo menos,
creve, como ensaios de aceitação em obra, uma vez ao dia por traço produzido;
apenas aqueles previstos nas Partes 2 e 3, n Elementos estruturais protendidos:
normalização técnica
ou seja, o ensaio de espalhamento, t500 e o(s) ensaio(s) deve(m) ser realizado(s)
habilidade passante pelo anel J. com o concreto destinado a cada pista
de protensão, no início dela;
3.1 Ensaios de aceitação para concreto n Em ambos os casos, um novo ensaio
dosado em central e recebido na obra deve ser realizado sempre que houver
A aceitação do CAA no estado fresco alteração no proporcionamento dos
deve ser baseada, no mínimo, na compro- materiais, ou paralisação e posterior
vação das seguintes propriedades: retomada dos trabalhos.
n Fluidez e viscosidade – avaliadas pelo Estabeleceu-se uma importante dife-
ensaio de espalhamento e t500, para cada renciação entre o controle de qualidade do
betonada (caminhão); CAA recebido em obra e o produzido em
n Habilidade passante – avaliada pelo en- uma fábrica de pré-moldados, principal-
saio do anel J, a cada 30 m³. mente, porque, neste último caso, não se
Caso sejam especificados os ensaios da trata de um controle de recebimento, pois
caixa L e/ou funil V, pode ser dispensada a a produção é própria.
realização dos ensaios do anel J e/ou t500, Apesar disso, percebe-se que, devido a
respectivamente. um maior controle possível de se obter em
Quando for realizada a introdução de instalações fixas, aliado a uma necessida-
aditivo na obra, deve ser feito previa- de de uma resistência e acabamento supe-
mente o ensaio do abatimento. Depois de rior (peças são aparentes), na maioria dos
completada a mistura do concreto com os casos, é realizado um ensaio a cada peça
aditivos, deve, então, ser coletada uma produzida. Ou seja, muito mais do que o
nova amostra para os ensaios de espalha- estabelecido na Norma.
mento e t500.
Acredita-se que uma avaliação do CAA 4. Sugestões para
apenas por meio do ensaio de espalhamento desenvolvimento
pode não ser suficiente para comprovar o de trabalhos
nível de autoadensabilidade adequado à es- futuros
trutura. Não é à toa que existem quatro ca- Praticamente, não há, na bibliografia
racterísticas de avaliação no estado fresco. (sobretudo nacional), estudos a respeito
Por essa razão e a fim de dar maiores garan- de repetitividade e reprodutividade dos
tias de conformidade do CAA, foi escolhido, ensaios apresentados.
além do teste do espalhamento, também o Além disso, a ABNT NBR 15823 se aplica
t500 e o anel J para avaliação em obra. Isso ao concreto com massa específica normal
porque, o primeiro teste é realizado de for- (2000 kg/m3 a 2800 kg/m3). Deve ser ava-
ma simultânea ao próprio espalhamento, liada, de forma individualizada, a aplica-
não demandando mais tempo de execução bilidade dos requisitos desta Norma para o
e permitindo uma informação adicional da CAA com inclusão intencional de ar, agre-
viscosidade aparente. Já, o segundo é o tes- gados leves, agregados pesados ou fibras.
te mais simples de avaliar a habilidade pas- Entretanto, verifica-se no mercado uma
sante e permite uma análise qualitativa da grande demanda por aplicações especiais,
resistência à segregação, através da visuali- particularmente na utilização de Paredes
zação da capacidade dos agregados graúdos de Concreto, em razão do Programa do
acompanharem a movimentação da arga- Governo Federal: Minha Casa, Minha Vida.
massa, após passarem pelas armaduras. Nesses projetos, muitas construtoras têm
adotado soluções com a incorporação de
3.2 Ensaios de controle para concreto fibras, a fim de reduzir a microfissuração
na indústria de pré-moldados ou devido a desforma rápida e ar incorporado,
em casos especiais para o melhor conforto térmico.
Neste caso, os ensaios prescritos na Encontra-sem, na bibliografia, alguns
NBR 15823 são determinados em função da casos da execução desses ensaios em obras
aplicação e sua freqüência é dada de acor- de paredes (um caso é apresentado na Fi-
do com o processo produtivo, de forma a gura 6). Contudo, os estudos científicos
atender os seguintes requisitos mínimos: realizados nesta área ainda são poucos.
n Elementos estruturais armados: o(s) Com o maior desenvolvimento, espera-se
ensaio(s) (função da aplicação do CAA) poder incluir, em um futuro próximo, um
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tópico sobre aplicações especiais na revi-
são desta Norma.
5. Considerações
Finais
Todos os parâmetros de trabalhabilida-
de devem ser cuidadosamente definidos,
controlados e justificados com base na ex-
periência do contratante e do responsável
pela dosagem experimental. Além disso, o
CAA deve manter as propriedades requeri-
das no estado fresco durante o período de
transporte, lançamento e acabamento.
Como a classificação da viscosidade apa-
rente é feita com base em dois equipamentos
diferentes (sob fluxo livre e confinado), pode
acontecer do mesmo CAA ser classificado
como de baixa viscosidade no primeiro ensaio
e de alta viscosidade no segundo, por uma di-
ferença de pouquíssimos segundos. Muito em-
bora se acredite que, na grande maioria dos
casos, isso não irá acontecer. O mesmo pode
acontecer com a habilidade passante.
Os parâmetros não podem ser con-
siderados de forma isolada, pois todas
as propriedades no estado fresco são
interdependentes.
Referências Bibliográficas
[01] ALENCAR, R. S. A. Dosagem do concreto auto-adensável: produção de pré-fabricados
-São Paulo, 2008. 179p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo;
[02] ALENCAR, R. S. A; HELENE, P. R. L. Self-compacting concrete for in loco molging walls
system for low cost housing, 2010. 8p. Sixth International Conference: Concrete Under
Severe Conditions, Mérida, México;
[03] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C 1621. Standard test for passing
ability of self-consolidating concrete by j-ring. Philadelphia, 2006.
[04] ______. ASTM C 1610. Standard test for static segregation of self-consolidating concrete
using column technique. Philadelphia, 2006.
[05] ______. ASTM C 1611. Standard test method for slump flow of self-consolidating concrete.
Philadelphia, 2006.
[06] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 12655. Concreto de cimento
Portland – Preparo, controle e recebimento. Rio de Janeiro, 2006.
[07] ______. ABNT NBR 15823 Concreto auto-adensável (Partes 1 a 6). Rio de Janeiro 2010.
[08] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION (CEN). EN 206-9. Concrete - Part 9:
Additional Rules for Self-compacting Concrete (SCC). Brussels, 2010.
[09] ______. EN 12350-8. Testing fresh concrete – Part 8: Self-compacting concrete – Slump-
flow test. Brussels, 2010.
[10] ______. EN 12350- 9. Testing fresh concrete – Part 9: Self-compacting concrete –
V-funnel test. Brussels, 2010.
[11] ______. EN 12350-10. Testing fresh concrete – Part 10: Self-compacting concrete – L-box
test. Brussels, 2010.
[12] ______. EN 12350-12. Testing fresh concrete – Part 12: Self-compacting concrete – J-ring
test. Brussels, 2010.
[13] EPG – European Project Group (BIBM; CEMBUREAU; ERMCO; EFCA; EFNARC).
The European guidelines for self compacting concrete. 63p., Surrey, 2005 n
Pré-fabricados de
concreto: cenário atual
e necessidades especiais
de produção e controle
Joaquim Correia Xavier de Andrade Filho
Tecomat – Tecnologia da Construção e Materiais Ltda
A
grande quantidade de obras grandes volumes, como pilares, vigas e
de construção projetadas e lajes, como elementos de menor porte,
em execução em todo o Brasil, como blocos, peças para pavimentação,
seja no campo das edificações, das in- entre outros.
dústrias, ou mesmo da infra-estrutura
urbana, tem demandado o uso cada vez 2. Cenário dos
mais constante das peças pré-fabricadas pré-fabricados
de concreto, especialmente em face da no Nordeste
velocidade de construção e da racionali- Na década de 60, o mercado dos pré-
zação obtida nos serviços. fabricados iniciou seus primeiros passos
Nos casos de construções seriadas, no Nordeste. Empresas de pequeno por-
muito comuns, por exemplo, em conjun- te produziam peças para estruturas me-
tos habitacionais, essas características nores, como galpões, estacas, postes de
de velocidade e racionalização deixam energia elétrica e similares.
de ser apenas interessantes e passam a Já no início da década de 80, uma
ser essenciais para o adequado cumpri- obra de grande destaque na Região Me-
mento de prazos, dentro dos custos de- tropolitana do Recife foi a construção do
finidos para as obras. metrô, na qual foram produzidos 80.000
Com isso, a indústria dos pré-fabri- dormentes de concreto armado em 2
cados de concreto tem tido um elevado anos. Para a produção utilizou-se pro-
crescimento nos últimos anos em decor- cesso de prensagem e vibração simultâ-
rência dessa imposição do mercado, en- nea do concreto, obrigando a utilização
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mesmo nos dias atuais (Figura 1, Figura
de uma mistura bastante seca (consis- 2 e Figura 3).
tência Vêbe), agravado pela inexistên- Em virtude dessa evidência de ade-
cia, na época, de aditivos eficientes. Ao quação do comportamento em uso, já na
todo foram confeccionadas mais de 100 década de 90 foram utilizadas técnicas
dosagens de concreto, resultando em similares para a execução dos dormen-
peças com características que podem tes utilizados na ampliação do metrô do
ser consideradas de alto desempenho, Recife (Figura 4).
Com o passar do tempo, o cenário
competitivo na região alterou o compor-
tamento das empresas. A concorrência
cresceu de tal forma que retirou do mer-
cado os fabricantes que não possuíam a
visão estratégica de que, muito em bre-
ve, a demanda por obras mais rápidas
e com maior controle tecnológico seria
uma realidade.
Atualmente, o cenário que despon-
| 67 | [www.ibracon.org.br]
revisão da NBR 6118, juntamente com a
NBR 12655 (2006), que tratam do projeto
de estruturas de concreto e das operações
de preparo, controle e recebimento, res-
pectivamente, os projetistas passaram a
utilizar parâmetros de dosagem que asso-
ciam os níveis de resistência e durabilida-
de às condições de exposição das peças de
concreto, obrigando a utilização de ele-
mentos com valores mais altos de resis-
tência. Essa mudança, entretanto, acabou
gerando outro problema. Boa parte das
construtoras usa concreto com resistência
de 40 MPa produzindo-o como se fabricava
o de antigamente, de 20 MPa.
Os critérios que devem ser observa-
também suas dimensões reduzidas, o dos em todo o procedimento de fabrica-
que facilita as operações de transporte ção do concreto envolvem sempre alguns
e montagem das peças em face do seu aspectos, que variam a cada projeto. O
menor peso. primeiro deles é a dosagem adequada do
concreto, considerando a relação água/
4. Exigências atuais cimento. Em seguida, deve se analisar
de durabilidade fatores relativos à mistura, transporte,
Atualmente, aliado à necessidade de lançamento e adensamento.
capacidade mecânica, é também preciso Porém, dentre todos esses pontos,
atender às exigências de durabilidade, um dos que merece mais atenção é o da
o que é obtido a partir da utilização de cura do concreto – procedimento que,
peças com maiores níveis de resistência normalmente, é ignorado pelo meio téc-
à compressão (às custas da redução na nico, mas que necessita de providências
relação água/cimento, principal parâ- importantes para que não haja a perda
metro de dosagem) e maiores espessuras precoce da água, de forma a reduzir a
de cobrimento da armadura. Com isso, o possibilidade de surgimento de fissuras.
que se vê são construções com pilares de A utilização e o aperfeiçoamento
concreto com resistência à compressão de constante dos aditivos é também um fa-
40 a 60 MPa. Esse avanço tecnológico tem tor significativo para o progresso do con-
que ser acompanhado pelos profissionais creto nos últimos cinqüenta anos, posto
do setor para que os concretos sejam, de que permitem a fabricação de peças
fato, mais resistentes e mais duráveis. com baixa relação água/cimento, den-
E não se pode referir somente à qua- tro de um mesmo nível de fluidez. Além
lidade do concreto, mas também à qua- de outros aspectos, como a manutenção
lidade de execução das obras. Alguns da consistência por maiores períodos de
edifícios da cidade do Recife, a título de tempo, permitindo transporte adequado
exemplificação, apresentam patologias do concreto até a obra, sem perda das
porque foram construídos em uma épo- suas características, incremento na vis-
ca em que os concretos eram concebidos cosidade do material, importante para
pensando-se, exclusivamente, na sua re- peças auto-adensáveis, entre outros.
sistência mecânica, deixando as questões Há no mundo, hoje, dois sistemas de
de durabilidade em segundo plano. pré-fabricados de concreto. O fechado,
A partir de 2007, com a publicação da em que o próprio construtor produz as
Referências Bibliográficas
[01] ANDRADE, T.W.C.O. Avaliação do concreto de alto desempenho utilizado
nos dormentes de concreto protendido nas linhas do Metrô da Região Metropolitana
do Recife. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado),
2001.
[02] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR-9062: Projeto e Execução
de Estruturas de Concreto Pré-Moldado. Rio de Janeiro. ABNT, 1985.
[03] BARBOSA, F. R.; MOTA, J. M. F.; COSTA E SILVA, A. J.; OLIVEIRA, R. A.. Análise
da influência do capeamento de corpos de prova cilíndricos na resistência à compressão
do concreto. In: 51º Congresso Brasileiro do Concreto, 2009, Curitiba.
51º Congresso Brasileiro do Concreto, 2009.
[04] CRUZ NETO, J. M.; COSTA E SILVA, A. J.; ANDRADE, A. S. A. C.; ANDRADE,
T. C. Avaliação da despassivação da armadura por meio de perfil de cloretos
e carbonatação em estrutura de concreto em região agressiva com 20 anos de
idade - Porto do Recife. In: 47º Congresso Brasileiro do Concreto, 2005, Recife.
47º Congresso Brasileiro do Concreto - CBC2005, 2005. v. VIII. p. 104-115.
[05] GEHBAUER, Fritz. Racionalização na construção civil – como melhorar processos
de produção e de gestão. Recife. Projeto Competir (Senai, Sebrae, GTZ), 2004.
448p.
[06] ISAIA, Geraldo Cechella, ed. Concreto: Ensino, pesquisa e realizações.
São Paulo: IBRACON, 2005. 2v. p953-983.
[07] JOHN, V. M.; COSTA E SILVA, A. J.; DELGADO, C. B.; ANDRADE, T. C. Avaliação
de desempenho em postes de energia elétrica em concreto armado (região
não agressiva). In: 41º Congresso Brasileiro do Concreto, 1999, Salvador.
IBRACON, 1999. n
| 69 | [www.ibracon.org.br]
acontece nas regionais
Projeto de Revisão da
Norma Brasileira ABNT
NBR 15146 está em
Consulta Nacional
O
projeto de revisão da Norma Brasi- Participaram das reuniões da Comissão
leira para a qualificação de pessoal de Estudo do ABNT/CB-18 representantes
de controle tecnológico do con- de toda cadeia produtiva do concreto: cons-
creto (ABNT NBR 15146) está disponível para trutoras, laboratórios de ensaio, usinas de
Consulta Nacional, desde 20 de agosto, no site concreto, fabricantes de cimentos, de adi-
da Associação Brasileira de Normas Técnicas tivos e de outros tipos de materiais consti-
(ABNT), no endereço www.abnt.org.br. tuintes do concreto, instituições de ensino,
Produto de seis meses de trabalhos con- pesquisa e divulgação, como a Associação
tínuos, o projeto objetivou reavaliar ativi- Brasileira de Cimento Portland (ABCP), o
dades e requisitos das categorias profissio- Núcleo de Qualificação e Certificação de
nais responsáveis pelo controle tecnológico Pessoal (NQCP) e o Instituto Brasileiro do
do concreto e adequar os seus procedimen- Concreto (IBRACON). A coordenação dos
tos de ensaios com suas respectivas atuali- trabalhos coube ao professor da Univeridade
zações nas normas técnicas específicas. Mackenzie, Simão Priszkulnik, a relatoria,
“A Norma está no momento certo de ao engenheiro da Petrobras, Bruno Alves de
ser revisada, pois acaba de completar cin- Carvalho, e a secretaria, à engenheira da
co anos”, ressalta a engenheira Inês Batta- Odebrecht, Roseni Cezimbra.
gin, superintendente do Comitê Brasileiro A Consulta Nacional é franqueada a
de Cimento, Concreto e Agregados, quem quem queira opinar, bastando acessar o
reativou a Comissão de Estudo para a revi- texto, fazer seus comentários e encami-
são da Norma pelo ABNT/CB-18. nhar seu voto até 11.10.2010 ao Projeto
A ABNT NBR 15146 tem papel estratégico de Revisão da Norma (identificado na Con-
no contexto atual de crescimento do setor sulta Nacional como Projeto 18:300.01-
construtivo brasileiro, porque regulamenta 005/1), através do site www.abnt.org.br.
a qualificação profissional de quem realiza o Após essa data, as sugestões recebidas
controle tecnológico do concreto, exigindo serão analisadas pela Comissão de Estudo
deste profissional os requisitos técnicos mí- em reunião específica e, se apropriadas,
nimos para o bom desempenho ocupacional. serão implementadas no texto do Projeto.
Por conta disso, a revisão da Norma tornou-se Pretende-se, ainda este ano, que o Projeto
imperativa, tanto para atender as necessida- final, aprovado pela Comissão, seja enca-
des crescentes do mercado por profissionais minhado para homologação e publicação
mais qualificados, como para contribuir com como Norma Brasileira, para substituir a
ambiente mais saudável de negócios. versão até então vigente.
M
aior fórum nacional e latino-ame- apresentar os trabalhos que vem desen-
ricano de debates sobre a tecnolo- volvendo sobre o concreto e seus mate-
gia do concreto e suas aplicações riais constituintes, as técnicas e sistemas
em obras civis, a 52ª edição do Congresso construtivos, o controle tecnológico do
Brasileiro do Concreto vai ser realizada no concreto, a análise estrutural e a normali-
Centro de Convenções de Fortaleza, de 13 a zação, entre outros assuntos correlatos.
17 de outubro de 2010. Promovido pelo Ins-
tituto Brasileiro do Concreto – IBRACON, o Conferências
evento vai discutir as Novas Tecnologias do Plenárias
Concreto para o Crescimento Sustentável. O Especialistas renomados internacionalmen-
tema será abordado em: te vão apresentar e discutir suas pesqui-
sas científicas e tecnológicas em projeto e
Palestras Técnico- análise estrutural, execução e controle de
Científicas qualidade de obras de concreto, materiais,
Pesquisadores do Brasil e do exterior vão suas propriedades e aplicações, normaliza-
| 71 | [www.ibracon.org.br]
ção, gestão e manutenção de obras, entre toramento e identificação e as técnicas de
outros temas. Estão confirmadas as pales- recuperação das estruturas afetadas.
tras dos seguintes especialistas:
Roberto Stark Seminário “Concreto
(Universidade do México, México) sob Ações Dinâmicas”
“Comparação do projeto de estruturas de Painel de especialistas vai abordar o
um edifício de Fortaleza, considerando as impacto de terremotos sobre as estruturas
ações dinâmicas, com o projeto original” de concreto, tais como: pontes, edifícios e
Benoit Fournier barragens; como também vai expor técni-
(Laval University de Quebec, Canadá) cas de construção mais seguras e que de-
“O estágio atual do conhecimento sobre a mandam menos manutenção, capazes de
Reação Álcali-Agregado – RAA“” resistir à ação de terremotos.
Ernie Schrader
(Schrader Consulting, Estados Unidos) Seminário Copel
“O projeto do Canal do Panamá e o uso do de Sustentabilidade
Concreto Compactado com Rolo: os desa- Repetindo o sucesso do ano passado, a
fios e a questão da durabilidade” segunda edição do Seminário prosseguirá
Jacky Mazars os debates com os especialistas acerca dos
(Instituto Politécnico passos que estão sendo dados e que pre-
de Grenoble, França) cisam ainda ser tomados na indústria da
“As ferramentas de avaliação de danos na construção civil, com vistas a assegurar a
modelagem dos efeitos de cargas severas sustentabilidade no setor construtivo.
em estruturas de Concreto Reforçado”
Hani Nassif Painel de Assuntos
(Universidade de Controversos
Nova Jersey, Estados Unidos) Mesas interdisciplinares de profissionais
“O potencial de fissuração em Concretos debate com os congressistas temas polêmi-
de Alto Desempenho e Concretos Auto- cos no setor construtivo.
adensáveis sob condições de retração
restrita” A programação do 52º Congresso Bra-
sileiro do Concreto vai contar ainda com:
Seminário de Segurança Concursos Estudantis; Cursos de Atualização
de Barragens Profissional; Sessões Pôsteres; Palestras Téc-
Especialistas em projetos de constru- nico-Comerciais; Reuniões Institucionais; Visi-
ção de barragens debatem as normas téc- ta Técnica; e a VI Feira de Produtos e Ser-
nicas e leis em vigor e as que estão em viços para a Construção - Feibracon, onde
discussão na comunidade técnica, no sen- será apresentada uma variedade de produtos
tido de compor um consenso sobre o mar- e soluções construtivas para obras de concre-
co regulatório necessário para a manuten- to de diversos tipos e portes. A VI FEIBRACON
ção preventiva e corretiva de barragens, será aberta ao público profissional.
que assegure as condições adequadas de O evento espera receber mais de 1000
segurança dessas construções. congressistas, de todos os estados brasilei-
ros e do exterior, dos mais variados seg-
Seminário “A Reação mentos da cadeia produtiva do concreto:
Álcali-Agregado – estudantes, pesquisadores, professores,
causas, diagnóstico técnicos, calculistas, tecnologistas, ven-
e soluções” dedores técnicos, diretores e gerentes de
Especialistas em patologias em obras de empresas, empresários, construtores, fun-
concreto discutem as causas e consequên cionários públicos e demais profissionais do
cias dessas reações deletérias em estru- setor construtivo.
turas de concreto, assim como expõem os Acompanhe as novidades sobre o even-
métodos mais avançados para o seu moni- to, acessando: www.ibracon.org.br.
| 73 | [www.ibracon.org.br]
pesquisa aplicada
ligações em pré-moldados
Q
uando a estabilidade lateral pré-moldadas. Por outro lado, Alva et al.
das construções pré-moldadas (2009) argumentam que mesmo as liga-
é provida por ação de pórtico, ções monolíticas não são perfeitamente
as ligações viga-pilar devem ser capazes rígidas, pois apresentam deformações
de transmitir com eficiência os momen- com liberação de rotações para momen-
tos fletores nas extremidades das vigas, tos inferiores ao escoamento.
atendendo aos requisitos de resistência, A aplicação de pórticos pré-moldados
rigidez e ductilidade. O desempenho das com ligações viga-pilar resistentes à fle-
ligações viga-pilar afeta tanto o compor- xão com pilares contínuos se tornou uma
tamento local das vigas adjacentes quan- prática corrente no Brasil. O uso de li-
to o comportamento global da estrutura gações com maior rigidez, no caso de li-
pré-moldada. gações com chapas soldadas, traz a di-
Embora em situações correntes de ficuldade para absorver as deformações
projeto as ligações com resistência à decorrentes das mudanças de volumes,
flexão sejam idealizadas como perfeita- originando forças não intencionais nas
mente rígidas, Elliott et al. (2003a) de- ligações e na estrutura. Assim, é prefe-
monstraram que as ligações típicas viga- rível o adotar o conceito do engastamen-
pilar pré-moldadas com armaduras de to parcial, onde o momento resistido é
continuidade e concretagem no canteiro alcançado para um determinado nível
apresentam comportamento semi-rígido, de rotação. Atualmente, as soluções tí-
havendo uma rotação associada ao mo- picas empregam vigas segmentadas com
mento resistido pela ligação. Em geral, seções compostas apoiadas em consolos
as ligações pré-moldadas possuem rigi- de concreto, com pilares pré-moldados
dezes inferiores às ligações monolíticas, contínuos, onde a armadura negativa de
devido à presença de outros mecanismos continuidade das vigas atravessa os pila-
| 75 | [www.ibracon.org.br]
A University of Nottingham esteve à convênio com a ABCIC - Associação Bra-
frente do programa de pesquisa europeu sileira de Construção Industrializada de
COST Cl: Semi-Rigid Behaviour of Ci- Concreto, foi construído um laboratório
vil Engineering Structural Connections, para estudo do concreto pré-moldado.
com a colaboração de outras universida- Pesquisas de pós-doutorado do coorde-
des européias. Dentre os seus objetivos, nador do NETPRE enfocaram o desen-
pretendeu-se realizar ensaios de ligações volvimento de modelos analíticos para
pré-moldadas e, num segundo momen- a rigidez à flexão de ligações viga-pilar,
to, extrapolar os resultados experimen- além de procedimentos para análise e
tais por meio de modelagens numéricas projeto de estruturas pré-moldadas com
para um número maior de geometrias e múltiplos pavimentos. Dentro da inte-
condições de carregamentos. Entretanto, ração de pesquisa com a University of
chegou-se à conclusão de que o compor- Nottingham, em Elliott et al. (2003b),
tamento semi-rígido não ocorreu em uma foram feitas comparações dos modelos
única posição nodal, como ocorre nas li- teóricos propostos por Ferreira (2001)
gações metálicas, tornando-se mais difí- com resultados experimentais do COST
cil de se obter expressões racionais para C1, onde houve boa correlação dos re-
a relação momento-rotação em estrutu- sultados. Atualmente, tem-se trabalhado
ras pré-moldadas. para o melhoramento e a calibração dos
No Brasil, a pesquisa em ligações se- modelos analíticos desenvolvidos no NET-
mi-rígidas pré-moldadas foi iniciada na PRE, onde esses equacionamentos foram
SET-EESC-USP, onde foram realizadas testados contra resultados experimen-
várias outras pesquisas teóricas e experi- tais recentes, dentro de um trabalho de
mentais. Através de um Programa FAPESP doutorado em andamento na University
(2004-07) foi criado o NETPRE - Núcleo of Nottingham, cujos resultados prelimi-
de Estudo e Tecnologia em Pré-Moldados nares estão apresentados em Hasan et
de Concreto na UFScar, onde, através do al. (2010). Nessa pesquisa, foi adotado
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connection”, a resistência está bem aci- as chamadas ligações “emulativas”, onde
ma do momento elástico na extremidade é necessária a utilização de escoramen-
da viga, onde as tensões e deformações to, mas onde se tem a continuidade com-
na região da ligação acabam sendo pe- pleta de todas as armaduras longitudinais
quenas para as solicitações de projeto e, das vigas e dos pilares.
portanto, a ligação pode ser considerada
com comportamento quase rígido na aná- 4. Análise de
lise estrutural. Estruturas com
Adicionalmente, considerando as re- Ligações Semi-Rígidas
ferências internacionais, é importante Negligenciar o comportamento semi-
distinguir os requisitos de desempenho rígido na análise da estabilidade dos pór-
para ligações em zonas sísmicas dos re- ticos pré-moldados pode conduzir a uma
quisitos para zonas não sísmicas. No caso situação não realista e contra a seguran-
das regiões sísmicas, os critérios de de- ça. As ligações semi-rígidas atuam como
sempenho estão baseados na resistência molas rotacionais nas extremidades das
e na capacidade de deformações inelás- vigas pré-moldadas, gerando um aumen-
ticas (após o escoamento). Já, no caso to da flexibilidade da estrutura, modifi-
das ligações em zonas não sísmicas, os cando a distribuição de rigidez entre os
critérios de desempenho estão relaciona- elementos e causando uma “redistribui-
dos com as características de resistência ção elástica” dos esforços internos. Além
e de rigidez à flexão da ligação (antes do disso, tem-se o aumento dos deslocamen-
escoamento). Neste contexto, o termo tos globais de primeira ordem, que, por
“emulative connections” é utilizado nos sua vez, conduzem ao aumento dos efei-
manuais técnicos do PCI e no ACI-318 para tos de segunda ordem. Devido ao elevado
designar ligações com ductilidade equi- peso próprio das estruturas pré-moldadas
valente às ligações monolíticas em zonas de concreto, o efeito das ligações semi-
sísmicas, mas não se aplica para a equi- rígidas fica ainda mais crítico para a esta-
valência da rigidez. Além disso, existem bilidade da estrutura. Portanto, sem um
diferenças construtivas e de desempenho conhecimento adequado da resposta de
entre as ligações empregadas no Brasil e rigidez das ligações é difícil se obter uma
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ração de rotação na extremidade da viga mente no caso de ocorrência combinada
pré-moldada, ainda para a fase elásti- de fissuras verticais e diagonais. Além
ca, anterior ao escoamento da armadura disso, o alongamento da barra no trecho
tracionada. Entretanto, existe uma não fissurado é aumentado de forma signifi-
linearidade da curva momento-rotação cativa por causa do somatório de escor-
após o aparecimento da fissuração, a regamentos localizados entre a armadu-
qual é acentuada com a propagação e ra e as regiões de concreto nas posições
estabilização da fissuração, especial- das fissuras, onde as armaduras de con-
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Precast Concrete Beam‐Column Connections. PhD Research Report. University
of Nottingham. n
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