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Casa de Bonecas é uma obra da dramaturgia trágica norueguesa do final do século XIX,

de autoria de Henrik Ibsen. Escrita em 1897, ela representa nos palcos as atitudes
hipócritas e as convenções sociais vigentes nesta época. A mulher deste período não é
mais submissa as suas paixões, não tem os mesmos elos de dependência com o sexo
masculino, tão comuns em suas antecessoras.
Nesta peça apresentada em três atos, não há nem leves indicações da presença do
adultério entre Nora e o Doutor Rank. Ibsen insinua essa possibilidade, para em seguida
negá-la, deixando claras as transformações pelas quais as mulheres estão passando neste
final de século. Não é este o obstáculo que se interpõe entre o casal Helmer, mas sim a
conscientização gradual de Nora, que percebe o quanto abdicou de sua própria vida,
primeiro em benefício do pai, depois do marido e de seus filhos.
Aqui está em jogo a tradicional renúncia e o sacrifício quase obrigatório da mulher em
prol da família. Casa de Bonecas é um reflexo dos movimentos de liberação feminina.
Neste sentido, pode-se dizer que é uma criação profundamente subversiva e polêmica. Na
época, ela foi amplamente debatida em todo o continente europeu, provocando celeumas
e severas críticas da protagonista, rejeitada por ter deixado tanto o marido quanto os
filhos.
Nora Helmer, com o auxílio de Cristina Linde, passa a ter consciência de sua existência,
de tudo que abriu mão em nome dos outros, das suas potencialidades, do quanto ela é
capaz de viver sozinha, sem a ajuda de ninguém. Ela decide se afastar de todos
justamente para ter um encontro consigo mesma, e assim descobrir quem é realmente, se
emancipando, então, enquanto sujeito.
Desta forma, o autor põe em cheque as tradições que envolvem o matrimônio. Ele se
inspirou em uma matéria jornalística que abordava a falsa elaboração de uma nota
promissória pela esposa de um indivíduo que agia como se ela fosse uma boneca,
mantida no total desconhecimento da vida. É justamente o que sua protagonista não
deseja, continuar a viver em uma casa de bonecas; ela conclui que sua única saída é
desconstruir este castelo de areia.
Cansada de agir como uma fanática, que aceita tudo que lhe é imposto com os olhos
fechados, Nora sente que deve partir em busca de sua independência, dos seus desejos
concretos, de sua identidade desconhecida. Ela não quer mais ser modelada e manipulada
como um fantoche, nem protegida como se fosse de cristal. Além de tudo, ela se dá conta
da ausência de gratidão do marido, a quem ela salvou, um dia, a própria vida.
Nora tem a clara percepção de que seus sonhos românticos jamais se concretizarão, que
seus sentimentos mais elevados não serão recompensados, e que suas expectativas com
relação ao casamento são meras ilusões. De real e concreto, só as imperfeições e as
atitudes egoístas de seu cônjuge. Resta a ela aprender com a vida, cultivar a si mesma,
assim como Cristina, que ainda crê no casamento, mas já realizou seu processo de
aprendizagem, e tem plena consciência das falhas de caráter do marido.

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