Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
—..vi' Íi~
P R . F E L I S B E L L O F R E I R E
H I S T O R I A
C i d a d e d o í ^ i o d e J a n e i r o
Volume I
1 5 6 4 — 17QO
A d e s c o b e r t a p o r Pcdr" A l v a r e s C a b r a l das t e r r a s
de Porto S e g u r o , e m 1600, levou Portugal a preparar
u m a f r o t a q u e fosse ao c o n t i n e n t e r e c o n h e c e r a q u a l i -
d a d e , o v a l o r e e x t e n s ã o d a n o v a t e r r a . E s t a f r o t a fez-
se d e r u m o p a r a seu d e s t i n o e m M a i o d e 1 5 0 1 .
V e i o nesta e x p e d i ç ã o A m é r i c o V e s p u c c i , q u e p e l a
sua c o m p e t ê n c i a n á u t i c a , e r a a v e r d a d e i r a c a b e ç a d i r i -
g e n t e d e l i a , n ã o obst ante s e u c o n l u i a n d o t e r sido e n -
t r e g u e a D . A n d r é G o n ç a l v e s . D e p o i s de t e r a p o r t a d o
c m Bezenoguc, na Á f r i c a , s ó a v i s t o u t e r r a a 16 de
A g o s t o , j u n t o a u m c a b o q u e , p e l a f e s t a do C a l e n d á r i o ,
r e c e b e u o n o m e de Cabo de S. Roque. Seguindo p á r a o
sul, f o r a m d e n o m i n a n d o p e l o m e s m o processo os d i f f e -
r e n t e s lugares da costa q u e a v i s t a v a m ( 1 )
ü r e s u l t a d o desta e x p e d i ç ã o n ã o f o i f a v o r á v e l á s
terras descobertas. A s i n f o r m a ç õ e s de V e s p u c c i desa-
n i m a r a m P o r t u g a l de colonisal-ns, p o r q u e « n a t e r r a n â o
(t) fiisi. Geraldo Bra;ii, pelo VI»,. Porto-Seguro, vol, I , p«g. SS.
h a v i a metaes a l g u n s nem m e r c a d o r i a s d e se a p r o v e i t a r ,
mais q u e a c a n n a f i s t u l a e o l e n h o de t i n t u r a r i a » .
E n t ã o f i c a r a m ellas e n t r e g u e s á a r r e n d a t á r i o s ,
o b r i g a d o s a m a n d a r a n n u a l m e n t e seis navios a desco-
b r i r tresentas l é g u a s de t e r r a . T r a t a r a m de c u m p r i r o
a j u s t e e c m M a i o de 1 Õ 0 3 s a h i r a m os seis n a v i o s .
S e u c o m m a n d o f o i c o n f i a d o a u m dos mais cele-
b r e s nautas d a é p o c a , G o n s a l o C o e l h o , q u e sc r e u n i u a
A m e r i g o V e s p u c c i , c o m o c a p i t ã o de u m dos navios d a
expedição.
N a a l t u r a da i l h a d c F e r n a n d o , u m f o r t e c o n t r a -
t e m p o deu c m r e s u l t a d o o n a u f r á g i o da n á o c h e f e e o
d e s m e m b r a m e n t o da e x p e d i ç ã o , s e g u i n d o u m a s e c ç ã o
d e l i a , a de A m é r i c o p a r a B a h i a e a d c G o n s a l o C o e l h o
p a r a o sul, a t é a b a h i a d o R i o de J a n e i r o , o n d e desem-
barcou e construiu u m arraial. (1)
Esta segunda e x p e d i ç ã o desanimou ainda mais
P o r t u g a l d e t r a t a r d a c o l o n i s a ç ã o do Brazil, f i c a n d o o
n o v o c o n t i n e n t e e n t r e g u e á g a n â n c i a dos p a r t i c u l a r e s ,
q u e a p o r t a v a m a sua costa, p a r a o c o m m e r c i o d o p a o -
Brazil. E muitas e x p e d i ç õ e s f o r a m feitas, dominadas
p o r esse interesse.
O u t r a r a z ã o c o n t r i b u t o para d e s v i a r a a t t e n ç ã o de
Portugal d o c o n t i n e n t e . E r a o seu c o m m e r c i o e s u a s
e x p l o r a ç õ e s na A s i a . E n t r e t a n t o , d i r i g i a m - s e p a r a o
Brasil m u i t a s e x p e d i ç õ e s e os seus g ê n e r o s j á o b t i n h a m
g r a n d e s valores nos m e r c a d o s europeus. D c b a l d e P o r -
t u g a l , p o r vias d i p l o m á t i c a s , p r o c u r a v a p ô r u m p a r a d e i -
(1) Algemas suspeitas (diz Porlo-Scgurw) levam-nos alé suppôr, que esse
primitivo arraial ou alojamento leve logar jun\u do riacho que d'abi tomou o
i.Ciue de Gttripçfi (casa do branco), c que foi ncllc qne foram sacrificados á bru-
talidade dos Bárbaros os dois religiosos arrabidos, qne dos arcliivos da província
constava haverem passado a estas regiões em lfÍ03. Cremos também que a demo-
T* dc Gonsalo Coeiho nestas plagas seiía de ÜÍJÍS a tres aimos, que mandou ex-
plorar a eosta do sul até a bahia de S. M.itliia*; que regressaram 05 explorado-
res, sem persistir mais em basca da paisagem, com que contavam paia seguir,
por esse lado, até Maloca ; e quefinalmenteera da soa expedição a náo do que
sc trata em «ma re.ação ou ga/eu que por esse tempo se publicou, com muitas
notiíias tVeiUs paragens, c ate das grandes riqueza* e tueUcs dc uui paiz (o
PertiJ ua$ cabeceiras do Prata.
ro a esta c o r r e n t e c o m m e r c i a l . O s n e g o c i a n t e s f r a n c e -
zes r e p e t i a m suas v i a g e n s e o r e i O. M a n u e l m a n d o u
e m 1 5 1 6 r e p r e s e n t a r c o n t r a ellas p e r a n t e a corte de
França.
I m p r o f i c u o s os m e i o s d i p l o m á t i c o s p a r a p r i v a r e m
a c o r r e n t e dos a r m a d o r e s p a r a o Brazil, P o r t u g a l r e s o l -
v e u e x p e d i r u m a e s q u a d r i l h a de g u a r d a - c o s t a , c u j o
c o m m a n d o confiou a C h r i s t o v ã o Jarques.
Esta e x p e d i ç ã o n ã o podia produzir a c o l o n i s a ç ã o
d o c o n t i n e n t e , p o r q u e o r e g i m e n t o d e guarda-costa e r a
i n s u f f i c i e n t e para m a n t e r a posse das novas t e r r a s . E n -
t ã o c o m e ç o u a t o m a r c o r p o a i d é a de f u n d a r - s e u m a
colônia forte c vigorosa. O governo portuguez cedeu
á l ó g i c a d e D i o g o de G o u v ê a , q u e lhe p a t e n t e o u os i n -
teresses o c e u l t o s de o u t r a s n a ç õ e s , c o m t a n t a s u g g e s -
t â o , q u e n ã o t e v e m a i s t e m p o de pensar no processo de
c o l o n i s a ç ã o q u e d e v i a p ô r c m p r a t i c a , a f i m de s a n a r e
s a l v a g u a r d a r interesse e d i r e i t o s q u e o u t r a s p o t ê n c i a s
lhe q u e r i a m r o u b a r .
Realizaram-se os i n t e n t o s d e C h r i s t o v ã o Jacques,
c u j a i n f l u e n c i a no e s p i r i t o de G o u v ê a f o i p o d e r o s a , para
d e m o v e r P o r t u g a l da i n a c t i v i d a d e e m q u e se conserva-
v a a t é e n t ã o , r e l a t i v a m e n t e ao B r a z i l .
E M a r t i n A f f o h s o de Souza f o i o e n c a r r e g a d o de
l a n ç a r as bases cesta c o l o n i z a ç ã o , c o m m a n d a n d o a f r o t a
q u e se o r g a n i s o u e e m q u e t o m a r a m parte f a m í l i a s i n -
teiras, v i n d o seu c h e f e m u n i d o de p u d e r e s e x t r a o r d i n á -
rios p a r a r e g e r a c o l ô n i a q u e f u n d a s s e .
A ' 8 0 de A b r i l e n t r o u esta e x p e d i ç ã o , d e p o i s de
ter estado e m P e r n a m b u c o e na Bahia, na b a h i a d o R i o
de J a n e i r o .
A h i suas f o r ç a s d e s e m b a r c a r a m , s e m a m e n o r re-
s i s t ê n c i a dos naturaes d a t e r r a . C o n s t r u í r a m uma casa
forte, c o m c e i c a e i n d e r r e d o r e p e r c o r r e r a m n ã o peque-
na e x t e n s ã o d o H t t o r a l , o n d e se e n c o n t r a r a m c o m os
chefes i n d í g e n a s , q u e f o r a m trazidos á p r e s e n ç a de
Martin Affonso.
N a o p i n i ã o de P o r t o S e g u r o este e s t a b e l e c i m e n t o
f o i e d i f i c a d o na enseada e m q u e d e s e m b o c a o r i o C o m -
p r i d o , e m u m a p a r a g e m q u e m e i o s é c u l o depois se de-
n o m i n o u p o r t o de « M a r t i n A f f o n s o » . ( 1 )
C o n t i n u o u sua e x p e d i ç ã o Martin Affonso, (2)
q u a n d o P o r t u g a l r e s o l v e u c o l o n i s a r o Brazil, p o r m e i o
de capitanias, doadas á c o l o n o s , c o m a c o n d i ç ã o d e
prestarem preito e homenagem á Coroa. Os d o n a t á r i o s
e r a m v e r d a d e i r o s senhores f e u d a e s . Esse r e g i m e n c r e a -
va-se p a r a o B r a z i l , s e m e l h a n t e ao q u e j á se t i n h a a d o -
p t a d u p a r a a M a d e i r a e os A ç o r e s . N ã o s o u b e c o m p r e -
hender as d i f f e r e n ç a s ethnicas e m e s o l o g i c a s e n t r e as
duas p o s s e s s õ e s , para applicar-lhcs o mesmo processo
de c o l o n i s a ç ã o , q u e a l é m d e t u d o , c r e a v a u m r e g i m e n
de a u t o r i t a r i s m o a b s o l u t o , c u j a r e j e i ç ã o , p o r p a r t e d o
soberano, seria i n e v i t á v e l , si t e n t a t i v a s p o r p a r t e d e
outras n a ç õ e s europcas para e o m p a r t i r e m seus d o m í -
nios na A m e r i c a , n ã o apressassem o t r a b a l h o c o l o n i a l ,
c e d e n d o assim a C o r o a g r a n d e parte de suas p r e r o g a t i -
vas, e m f a v o r dos d o n a t á r i o s das c a p i t a n i a s .
M u i t o cedo, p o r é m , ceve o g o v e r n o as p r o v a s d a
i m p r o f l c u i d a d e d o processo c o l o n i a l p o s t o c m p r a t i c a ,
d o q u a l n u n c a sc o r i g i n a r i a u m a c i v i l i s a ç ã o . A d e g e n e -
rescencia m o r a l q u e c o m e ç o u a g r a s s a r nas c a p i t a n i a s ,
pelo c o n t a c t o de e l e m e n t o s q u e d e v e r i a m ser e l i m i n a -
dos d a v i d a social, r e p r e s e n t a d o s nos c o n d e m nados e
exilados que Portugal enviava para o B r a z i l ; o insólito
despotismo contra o indígena, como o melhor estimulo
d o t r a b a l h o e que, e n t r e t a n t o , f o i a f o r ç a p r o d u e t o r a de
m u i t a a c t i v i d a d e q u e se d e s d o b r o u n e s t e paiz ; o abso-
l u t o p o d e r dos d o n a t á r i o s , q n e se u t i l i s a v a m de suas
a t t r i b u i c õ e s c o m a r b í t r i o e e x c e s s o , f o r a m n ã o s ó as
c i r c u m s t a n c i a s oceasionaes d o insur.cesso das capita-
nias, c u j a c o l o n i s a ç ã o n ã o v i n g o u , c o m o a c a u s a q u e
convenceu a m e t r ó p o l e d o erro commetlido, inspirando-
l h e a c a r t a r é g i a de 7 d e Janeiro d e 1 5 4 9 , pela q u a l
c r e a v a a coroa u m g o v e r n o c e n t r a l na Bahia, c o m j u r i s -
d i c ç ã o s o b r e todas as c a p i t a n i a s cio Brazil e c u j a f u n -
c ç ã o era m a i a h e t e r o g ê n e a , por isso q u e o g r a n d e p r i n -
c i p i o da d i v i s ã o do t r a b a l h o f o i mais o b s e r v a d o d o q u e
n o processo a n t e r i o r . ( 1 )
A M a r t i n A f f o n s o f o i doada u m a capitania, a que
p e r t e n c i a o t e r r i t ó r i o da c i d a d e d o R i o d c J a n e i r o .
E s t a d o a ç ã o c o m p r c h e n d i a as t e r r a s da c o l ô n i a d c
S ã o V i c e n t e , q u e e l l e m e s m o f u n d o u , p r e f e r i n d o o local
de S a n t o s ao d o R i o d c J a n e i r o .
C o n t i n u a v a o t e r r i t ó r i o quasi q u e a b a n d o n a d o ,
pelos v i a j a n t e s portuguezes, d a n d o isto l u g a r a q u e os
francezes c o n t i n u a s s e m a negociar c o m os í n d i o s desse
lugar, preparando-se para crear uma c o l ô n i a forte e v i -
gorosa .
S e n d o o R i o d c J a n e i r o u m dos p r i m e i r o s p o n t o s
d e s c o b e r t o s , n ã o f o i u m dos p r i m e i r o s c o l o n i s a d o s .
Passemos a e x p ô r as causas d e s t e f a c t o .
Conquista © £ u n á a £ ã o da cidade
O a b a n d o n o do t e r r i t ó r i o d o R i o d e J a n e i r o deu
l u g a r a ser elle e s c o l h i d o pelos francezes, c o m o sede d a
c o l o n i s a ç ã o que o p r ó p r i o governo intentou realisar.
S i a p r i n c i p i o o m o v e i das e x p e d i ç õ e s e r a o interesse
pessoal, a a m b i ç ã o dos n e g ó c i o s , de c e r t a d a t a e m
d i a n t e , ellas a s s u m i r a m a f e i ç ã o p o l í t i c a , t r a d u z i n d o os
desejos da F r a n ç a de crear p o r sua vez urna c o l ô n i a em
a l é m m a r . ( 1 ) E ' esta a e x p r e s s ã o d a e x p e d i ç ã o de V i l l e -
g a i g n o n , q u e passamos a e s t u d a r .
E ' f ò r a de d u v i d a q u e a f r e q ü ê n c i a dos francezes,
p o r esta r e g i ã o , f o i o facto q u e m a i s v e i o a n i m a r essa
e x p e d i ç ã o . E l l e s j á t i n h a m chegado a t é Tatuaftara,
dez l é g u a s distante da c i d a d e de S a l v a d o r .
S e g u n d o o d e p o i m e n t o de G a s p a r G o m e s , L u i z
A l v a r e s , m o r a d o r e s c m S . V i c e n t e e Braz Cubas, j á se
p r ó p r i a s escadas q u e o i n i m i g o , na f u g a , n e m p o u d e
conduzir. A c o m p a n h a o Conde de Anguillara, como
e m b a i x a d o r a c i d a d e de R o m a .
E figura c o m o heroe p r i n c i p a l no r a p t o dc M a r i a
S t u a r t do C a s t e l l o de D u t n b a r t o n , c o n d u z i n d o - a p a r a
F r a n ç a , t o r n a n d o - s e a s s i m , na o p i n i ã o de B c a n g u é ,
« p e r s o n a g e m m u i t o d i g n o d c se l h e c o n f i a r q u a l q u e r
commissão dc c o n f i a n ç a . »
E i s ahi os p r e c e d e n t e s d o h o m e m q u e v e i o ao
B r a z i l , para f u n d a r urna c o l ô n i a , a t r a v é s dos q u a e s o
l e i t o r p o d e a q u i l a t a r d a v e r d a d e e da j u s t i ç a das p a l a -
v r a s clc L e r y e R i c h e r q u e h i s t o r i a r a m essa e x p e d i ç ã o ,
( 2 ) v i n d o c l l e s na f r o t a d e a u x i l i o p e d i d ; i p o r V i l l e g a i -
g n o n , d e p o i s q u e t i n h a f u n d a d o o seu f o r t e na b a h i a d e
Guanabara.
Q u e essa e x p e d i ç ã o n ã o t e v e o c a r a c t e r r e l i g i o s o ,
n e m f ô r a o r g a n i s a d a p o r C o l i g n y e os c a l v i n i s t a s , os
a r m a d o r e s n o r m a n d o s e b r e t õ e s , a p r o v a e s t á na c a r t a
... ü a
«"balhos cítüo publicados na coll. da Rcc, do Instituto
s c u s
Histórico.
— 13 —
d c H e n r i q u e I I , d e 2 6 de M a r ç o de 1 5 5 4 , ( 1 ) r e f e r e n -
d a d a p o r Claussc, s e c r e t a r i o das finanças, pela q u a l
o r d e n a ao t h e s o u r e i r o da M a r i n h a q u e t o m e d o thesou-
r o g e r a l 1 0 m i l l i b r a s tornezas e as e m p r e g u e na expe-
d i ç ã o á c a r g o d o v i c e - a l m i r a n t e da Bretanha", o c a v a l l e i r o
d e V i l l e g a i g n o n . C o m o se v ê , a e x p e d i ç ã o «é* p o s i t i v a -
m e n t e o f f i c i a l , o r d e n a d a por H e n r i q u e I I , p r e p a r a d a á
sua v i s t n , c o m os seus recursos c b a f e j a d a c o m os s o p r o s
d e sua p o l í t i c a . » ( 2 ) O e l e m e n t o r e l i g i o s o n ã o p o d e
permanecer.
A n t e s de e m b a r c a r , V i l l e g a i g n o n f o i o u v i r missa,
confessar-se c e o m m u n g a r d e p o i s « d e j o e l h o s , s o l e m r i e -
mente, como manda a Igreja Romana. »
Seu confessor f o i ò abbade o D r . Bouthilier, ab-
bade dc Relegue.
O p r ó p r i o T h e v e t , o v e l h o f r a n c i s c a n o de A n g o u -
I ê m e e^ojjc f o i c o m p a n h e i r o de V i l l e g a i g n o n , e m sua
v i a g e m a d ' B r a z i l , c o n f i r m a q u e adisse missa n o m e s m o
d i a de d e s e m b a r q u e , no i l h é u , p e l o franecz c h a m a d o
Ràifár Q p q r n ó s c o n h e c i d o c o m o n o m e de ÍMge. »> '
S e m necessidade de i n t e r m e d i á r i o s p e r a n t e H e n -
r i q u e I I , pelos s e r v i ç o s prestados, t i n h . v o s de s o b r a ,
sc fosse preciso, nos Guises, seus Í n t i m o s a m i g o s e cor-
r e l i g i o n á r i o s , « n ã o somente n a f é r e l i g i o s a , c o m o na
p r ó p r i a p o l í t i c o , q u e os a f a s t a v a o d i o s a m e n t e d o s M o n t -
morency. »
D e 2 6 d e M a r ç o de 1 5 5 4 a 1 2 de J u l h o de 1 5 5 5 ,
q u a n d o l a r g o u d o H a v r e para o Brazil. levou a prepa-
r a r a sua empresa, « d e b a i x o das vistas interessadas do
rei.»
N e s t e p e i i o d o de 15 mezes de g e s t a ç ã o d.i e m -
presa, os e l e m e n t o s s ã o o r g a n i s a d o s c o m o m a i o r c u i d a -
d o e s e g r e d o , para n ã o a fazer t r a n s p i r a r , e n ã o a n n u a -
r i t o r i o . O p r ó p r i o M e n t i o S á , e m u m a c a r t a escripta
d e S . V i c e n t e á D . J o ã o I I I , á 10 de J u n h o de 1 5 6 0 ,
assim f a l l a v a , r e f e r i n d o - s e a Y i l l e g a i g n o n !
« E l l e leva m u i t o d i f f e r e n t e o r d e m com os g e n t i o s
q u e n ó s l e v a m o s : é l i b e r a l e m e x t r e m o c o m elles e
faz-lhes m u i t a j u s t i ç a , enforca os francezes sem c u l p a
n e m processo, c o m isto é m u i t o t e m i d o dos seus, «
a m a d o dos g c n t i o s : mando-os ensinar a t o d o o g ê n e r o
d o f l i c i o s e iTarmas, a j u d a - o s nas suas guerras O gen-
t i o é m u i t o o dos m a i s valentes da cosia em pouco t e m -
po se p o d e fazer m u i t o f o r t e . ( 1 )
O a h i a r a z ã o de V M l e g a i g n o n ser r e c e b i d o sem o
m e n o r s i g n a l d e h o s t i l i d a d e pelos í n d i o s q u e , pela i n -
fluencia dos francezes, f i c a r a m a i n d a mais p r e v e n i d o s
c o m os de S . V i c e n t e , a l l i a d o s dos p o r t n g u e / e s , a q u e m
a j u d a v a m na c o l o n i s a ç ã o d a c a p i t a n i a . V i l l r g a i g n o n
d e s e m b a r c o u e m u m r o c h e d o , c o l l o c a d o á entrada da
barra. ( 2 )
Este local f o i l o g o d e p o i s a b a n d o n a d o e substi-
t u í d o por u m a i l h a mais p r ó x i m a de t e r r a e no i n t e r i o r
da bahia, ( 3 ) a q u a l foi fortificada e guarnecida com
80 h o m e n s .
Pelo t e s t e m u n h o de J o ã o de l - e r y , que-fez p.vrte
d c u m a e x p e d i ç ã o q u e u;n anno d e p o i s veio ao R i o ,
nas e x t r e m i d a d e s desta i l h a e x i s t i a m d o u s o i t e i r o s , o n d e
f o r a m c o n s t r u í d a s duas casas.
A p l a i n a n d o as escabrosidades do t e r r e n o , fizeram
os francezes a l g u m a s p r a ç a s , o n d e e r g u e r a m a casa da
o r a ç ã o , o r e f e i t ó r i o ( o q u e indica q u e c o m i a m e m c o m -
m u m ) e os seus modestos aposentos, c u j a m a i o r parte
e r a de p á o á p i q u e e cobertos de s a p é , ao g o s t o d o s
selvagens q u é h a v i a m sido seus a r c h i t e c t o S . ( 4 )
os i n v á l i d o s e l i t n o r a t o s , c o m o fim d e o b t e r a u x í -
lios d o g o v e r n o .
S a h i o a e x p e d i ç ã o d c H o n f i c u r a '20 d e N o v e m -
b r o de 1 5 5 6 e c h e g o u ao R i o a 1 de M a r ç o d e 1 5 8 7 .
C o m p u n h a - s e de tres n a v i o s a r m a d o s e m g u e r r a
— P e t i t e Roberge, c a p i t a n c a , sob o c o m m a n d o de Bois-
le-Conte, c o m 8 0 h o m e n s ; Grande Roberge, copnaneado
p o r E s p i n e , c o m 1 2 0 h o m e n s ; R o s é c c o m com a t r i p o -
l a ç ã o c passageiros, quasi sommando 9 0 homens. ( 1 )
E ' a v i n d a d e 14 p r o t e s t a n t e s nesta e x p e d i ç ã o ,
entre elles L e r y , D u p o n t , Richier c M a r t i e r , q u e mo-
t i v a a e x p r e s s ã o r e l i g i o s a q u e t o d o s os h i s t o r i a d o r e s
C h e g o u a Bahia a ^ 8 de D e z e m b r o , t e n d o s a í d o
d e B e l c m a 3 0 de A b r i l d e 1 5 5 7 , c o m u m a a r m a d a d c
duas n á o s e oito e m b a r c a ç õ e s menores.
T o m a n d o posse de seu c a r g o , ç m J a n e i r o de 1 5 5 8 ,
M e n de S á e n c o n t r o u a c o l ô n i a c m u m a s i t u a ç ã o de
hostilidades pelos i n d i o s , no r e c ô n c a v o d a Bahia e nas
capitanias d o s u l , a t é E s p i r i t o S a n t o , q u e o o b r i g o u a
u m a p o l í t i c a f r a n c a m e n t e c o n t r a os i n d í g e n a s . P a r a isso
preparou expedições militares que pacificaram a ordem
p u b l i c a c o n t r a os r e s p o n s á v e i s p o r a q u c l l a s h o s t i l i d a -
des. U m a das e x p e d i ç õ e s , a d e E s p i r i t o Santo, c o n f i a d a
ao seu filhoFernão de S á q u e f o i m o r t o p e l o s b á r b a r o s ,
t e n d o elle a l c a n ç a d o a f u g e n t a r os assaltantes d a c a p i -
tania e d e s t r u i r os c e n t r o s de h o s t i l i d a d e s . P e l o pessoal
q u e regressou a Bahia d o E s p i r i t o S a n t o , s o u b e M e n
d c S á do q u e se passava no R i o de Janeiro, o n d e loc i -
lis>aram-sc os francezes. N ã o se d e m o r o u o g o v e r n .tdur
de levar essas n o t i c i a s a c o r t e , c o m os apontamentos
q u e colhera, d i z e n d o : t o d o o seu f u n d a m e n t o é* faze-
rem-se f o r t e s ; t e m m u i t a g e n t e e b e m a r m a d a e suas
r o ç a s n ã o s ã o s e n ã o de p i m e n t a s » .
Essas noticias l h e d e s p e r t a r a m l o g o u m p l a n o do
conquista n o s u l , o n d e d e v i a f u n d a r -sc u m a c i d a d e c o m o
a Bahia, no E s p i r i t o S a n t o , c o m u m c e n t r o de p r o t e c -
ç ã o á s capitanias do s u l , acceitando-se a c e s s ã o q u e
faria Vasco Fernandes, velho d o n a t á r i o do Espirito
S a n t o q u e a n ã o p o d i a c o l o n i s a r , c m vista d o s e u es-
t a d o de p o b r e s a . O p l a n o da c o n q u i s t a d o sul n ã o sv.hio
d o e s p i r i t o de M e n de S á , a i n d a q u e m u d a s s e a e s c o l h a
d o l o c a l d a n o v a c i d a d e p a r a o R i o de J a n e i r o , d e p o i s
q u e v i o a s bellezas n a t u r a e s da bahia d ç G u a n a b a r a .
A e x p e d i ç ã o d e F c r n ã o de S á n ã o a l c a n ç o u p l a n t a r a
o r d e m no E s p i r i t o S a n t o . O s i n d i o s v o l t a i a m á s s u a s
correrias nos seus p r i m i t i v o s centros de h o s t i l i d a d e ,
o b r i g a n d o M e n d c S á a i r c o m o f o i c m pessoa v e n c e l os
e d e r r o t a l - o s no E s p i r i t o S a n t o e I l h c o s .
A n t e s de r e g r e s s a r p a r a a B a h i a , s o u b e M e n de
— 21 —
S á p o r u m g e n t i l h o m e m í r a n c e z q u e se c h a m a v a m o n -
s e n h o r de bolees. pessea d c s a n g u e segundo os f r a n c e -
zes a f f i r m a v a m , o q u a l v i e r a da F r a n ç a p a r a p o v o a r o
R i o d e J a n e i r o , o n d e estava o u t r o fidalgo m r . cie V i l l e -
gnon que tinha f e i t o u m a fortaleza m u i t o forte e que
p o r d e s a v e n ç a s q u e q u e com c l i e t i v e r a saio de sua
c o m p a n h i a e se f o i p a r a S . V i c e n t e e d a h i veio t e r
c o m m i g o e me descobrio algumas ruins determina-
ç õ e s de V i l l a g a g r i o n e m p r e j u i s o d e s t a t e r r a e d o ser-
v i ç o de sua a l t e z a . »
C o m os r e c u r s o s q u e encor.trou na c o l ô n i a , n ã o
p o d i a M e n d e S á t e n t a r u m f e i t o de g u e r r a , c m q u e
e n v o l v i a o seu n o m e e à h o n r a d a n a ç ã o q u e r e p r e s e n -
tava. E s p e r o u os a u x í l i o s p e d i d o s p a r a e x p i d s a r os
francezes, q u e elle a c r e d i t a v a m u i t o b e m f o r t i f i c a d o s e
cheios d c f o r ç a no R i o da Janeiro.
N o mez d e N o v e m b r o d c 1 5 5 9 chegava á B a h i a ,
com ma n d a d a pelo c a p i t ã o - m o r B a r t h o l o m e u d c v á s -
c o n c e i l o s da C u n h a , a a r m a d a d e s t i n a d a ao R i o de Ja-
n e i r o , c o n t r a os francezes, d e v e n d o r e c e b e r d e M e n de
S á as o r d e n s convenientes sobre o m o d o de os a g g r e d i r ,
atacando-os, o u o b r i g a n d o os p e l o b l o q u e i o . T r a t o u
l o g o M e n de S á , a j u d a d o pela i n f l u e n c i a d o n o v o pre-
l a d o D . P e d r o L e i l ã o , c h e g a d o a 9 de D e z e m b r o de
1 5 5 9 , c d o s j e s u í t a s , de r e u n i r todos os g e n t i o s alliados
e homens d c g u e r r a , q u e se j u l g o u d i s p e n s á v e i s na c i -
dade d o S a l v a d o r ; e p a r a a c a p i t a n i a d e S. V i c e n t e
escreveu S á q u e , « c o m as f o r ç a s de q u e pudessem
d i s p o r , pois q u e t a n t o lhes i a a ü é ü s interesses, se
achassem á b a r r a d o R i o d c J a n e i r o , no d i a q u e np;a-
zou, e q u e elle c o m a f o r ç a d a B a h i a contava a l i c h e g a r .
C h e g a d o o a u x i l i o da m e t r ó p o l e , d e i x o u Me.» <"e
S á a B a h i a , a 1 6 d e J a n e i r o de 1 5 6 0 , recebendo p o r
t o d a prirte o c o n t i n g e n t e q u e os m o r a d o r e s l h e p o d i a m
f o r n e c e r e s u r g i u no R i o de Janeiro, a 2 1 de F e v e r e i r o
d o mesmo a n n o .
O s chefes da e x p e d i ç ã o t i n h a m r e s o l v i d o aiacar
_ 22 —
de surpresa o f o r t e , « m a s h a v e n d o s i d o p r e s e n t i d a a
e s q u a d r i l h a pelos s e m i n e l l a s i n i m i g a s , f o r ç a f o i prepa-
r a r e m - s e para u m a renhid? p e l e j a , sendo o b r i g a d o s a
f u n d e a r f o r a d a b a r r a . O s f r a n c e z e s a b a n d o n a r a m seus
navios, c h a m a n d o as t r i p u l a ç õ e s p a r a d e n t r o da p r a ç a ,
que t a m b é m . defendiam oitoccntos frechciros T a -
nioyos. ( 1 )
C o n h e c e u o g o v e r n a d o r g e r a l q u e lhe seria i m -
p o s s í v e l e x p u g n a r a fortaleza, s e m n o v o s soccorros d e
g e n t e c de m u n i ç õ e s e p a r a isso e s p e r o u o c o n t i n g e n t e
p e d i d o de S. V i c e n t e o n d e e s t i v e r a o padre M a n o e l d a
N o b r e g a , que o acompanhara, sendo sempre o seu
m a í s l e a l c o n s e l h e i r o , q u e j á estivera, o n d e p o s s u i a i m -
mensas s y m p a l h i a s , q u e r pelos seus e s f o r ç o s , q u e r
pelos d o i r m ã o " J o s é d ' A n c h i e t a , r e t i d o na c a p i t a n i a
pelos t r a b a l h o s da catecheses. A h i se p o u d e c o n s e g u i r 1
u m a e x p e d i ç ã o c o m p o s t a de um bergantin artilhado c de
m u i t a s canoas t r i p u l a d a s por s o l d a d o s , v o l u n t á r i o s ,
m a m e i ucos e i n d í g e n a s conhecedores da costa, g u i a d o s
p o r d o u s R e l i g i o s o s da C a m p a n h i a , os padres F e r n ã o
L u i z e Gaspar L o u r e n ç o . ( 2 )
O f o r t e , pelas c o n d i ç õ e s naturaes da i l h a , o f f e r e c i a
a l g u m a r e s i s t ê n c i a . T i n h a nos e x t r e m o s d o i s pequenos
m o r r o s , c c m c a d a u m delles h a v i a m os d e f e n s o r e s
construído grandes rancharias; c sobre o meio, c m
c i m a do r o c h e d o q u e sc e l e v a v a uns c i n c o e n t a o u ses-
senta p é s , ficava a casa a b a l u a r t a d a d o g o v e r n a d o r .
C o p i a r e m o s a q u i a d e s c r i p ç ã o desta f o r t a l c z a - i l h a q u e
nos d e i x o u u m c o n t e m p o r â n e o : « T u d o o q u e é i l h a
e r a f o r t a l e z a , e t u d o o q u e era f o r t a l e z a i l h a , e t o d a ex-
c e p t o u m p e q u e n o p o r t o na p r a i a e r a c e r c a d o d c p e -
n e d i a b r a v a , o n d e b a t e o m a r cousa de 1 0 0 b r a ç a s d e
c o m p r i m e n t o c 0 0 de l a r g o , e m c u j a s d u a s u l t i m a s p o n -
tas l e v a n t o u a natureza clous c a b e ç o s talhados no mar,
e no m e i o de ambos u m s i n g u l a r p e n e d o , c o m o d e q u a -
t r o b r a ç a s d c a l t o e seis e m c o n t o r n o . D a c i r c u m f e r e n -
c i a dos recifes e p e n e d i a d e l l e s t i n h a m f e i t o d e f e n s á v e l
m u r a l h a , dos d o u s c a b e ç o s , c o m pouco a r t i f i c i o , d u a s
j u n t a m e n t e naturaes c artificiosas fortalezas : e d o pe-
nedo, u m p o u c o m a i s c a v a d o ao p i c o , caixa de p ó l v o r a ,
s e g u r a e constante c o n t r a t o d o a r t i f i c i o . ) ) ( 1 )
R e s o l v i d o o a t a q u e , c m 15 d e M a r ç o , r o m p e r a m
as hostilidades, e m r e n h i d o f o g o q u e d u r o u d o u s d i a s .
T e n d o M e n d e S á c h e g a d o ao R i o de J a n e i r o a 2 1
de F e v e r e i r o c t e n d o c o m e ç a d o suas h o s t i l i d a d e s so-
m e n t e a 15 de M a r ç o , v ê - s e q u e h o u v e g r a n d e d e m o r a
c m i n i c i a l - a s . E a c r e d i t a m o s q u e a causa d i s t o f o i a
d e m o r a d o c o n t i n g e n t e d c S. V i c e n t e , sem o q u a l n ã o
quiz o chefe da e x p e d i ç ã o ferir nenhuma a c ç ã o m i -
litar. (2)
A r e s i s t ê n c i a dos da p r a ç a a r r a n c o u a a d m i r a ç ã o
do g o v e r n a d o r g e r a l , q u e assim sc e x p r i m e na sua par-
t i c i p a ç ã o o f f i c i a l : Porque suppusto que vy muito e ly menos
a my parece que senão viu outra fortaleza tam forte no
mundo.st T e n t a n d o u m d e r r a d e i r o e s f o r ç o , p o r q u e sua
c o r a g e m j á c o m e ç a v a a f r a q u e a r « c a n ç a d o s d a demasia
d o t r a b a l h o c de c o m b a t e t ã o v i g o r o s o , diz S. de V a s -
concellos na vida a?Anc//ieta, em q u e e r a m j á mortos
m u i t o s e bons soldados c e s t a v a m f e r i d o s m u i t o m a i s »
escalaram os portuguezes as m u r a l h a s pelo lado d o a r -
s e n a l e a p o d e r a r a m - s e ã v i v a f o r ç a do monte das pal-
meiras, q u e era c o n s i d e r a d o c o m o a sua c i d a d c l l a , de
o n d e , f a z e n d o m o r t í f e r o f o g o , o b r i g a r a m os i n i m i g o s
f l ) Itist. Ge>\tl do ftratit, por Vis:, do Porto Seguro, vol. i , p3j«, 288.
i.2j Divergem as opiniões »«>hre se Macoci da Nc-biy-ga foi ou Uãò a 3. Vi-
cenlK reunir os elementos do ãúXilio> pedidos pela expedição do Rio de Jau ei-
ro. A julgai pelo processo de Boiõi e pela caria de Nobrcga ao cardÈal | ) ,
Henrique, vè-se que o jçSoiíá estava a bittáa com o governador e que pois nao
foi a S. Vicente: «tornou-se conselho no que *c fjti-i e vendo Iodos que i for-
tüleM do sitio em quefrsrjivatuosfrancezese que línhín COIUMJÍO os índios da
terra, mas os dc S. Vicente, aabfbdo piimcir^ da vinda do governador HO Riu.
ja vinhio por caminho c como chegaram determiuou-se o governador de O*
combater..
a e v a c u a r e m a i l h a , p r o c u r a n d o s a l v a r as vidas nas ca-
noas, nas quaes passaram ao c o n t i n e n t e . ( 1 )
O s francezes a b a n d o n a r a m a l u c t a , i u g i n d o d o
f o r t e , j u s t a m e n t e q u a n d o t a m b é m aos nossos se acaba-
v a m as m u n i ç õ e s , e e s t a v a m j á pensando n o m o d o d c
recolher a artilheria que haviam desembarcado.
O n u m e r o dos g e n t i o s q u e e s t a v a m c m f a v o r dos
francezes, o r ç a v a o g o v e r n a d o r e m m a i s d c m i l , « t u d o
g e n t e e s c o l h i d a , e t ã o bons e s p i n g a r d e i r o s corno os
francezes.» (2)
O b t i d a a v i c t o r i a , os chefes, c m c o n s e l h o , t i v e r a m
d e r e s o l v e r s o b r e se d e v i a m p r e s i d i a r o u arrazar o
forte.
« ( O p i n a r a m a l g u n s pela necessidade d c d e i x a r u m a
f o r t e g u a r n i ç à o na conquistada i l h a , a f i m d e i m p e d i r < a
v o l t a dos francezes, q u e n ã o d e i x a r i a m de f r e q ü e n t a r a
t e r r a , onde p o r q u a t r o annos h a v i a m p e r m a n e c i d o . A
r a z ã o p o r é m de n ã o ser c o n v e n i e n t e d i v i d i r as f o r ç a s
d c q u e sc h a v i a mister, n ã o s ó p a r a s u b m e t t e r os g e n -
ties, c o m o p a r a rechassar q u a l q u e r i n v a s ã o estranha,
p r e v a l e c e u . Nesta c o n f o r m i d a d e o r d e n o u M e n d c S á
q u e fosse t o t a l m e n t e arrazado o f o r t e C o l i g n y e r e c o -
l h i d o s aos n a v i o s p o r t u g u e z e s a a r t i l h a r i a e g r a n d e
q u a n t i d a d e de d e s p o j o s do i n i m i g o ,
F f i t o s t o d o s os p r e p a r a t i v o s de v i a g e m , d e i x o u o
g o v e r n a d o r g e r a l o nosso p o r t o , d e s e m b a r c a n d o a í t l
d c M a r ç o em S. V i c e n t e , o n d e a nova d o s b r i l h a n t e s
suecessos-operados n o R i o d c Jar.eiro c d a c o m p l e t a
d e r r o t a dos francezes f o i r e c e b i d a c o m g r a n d e r d v o r o ç o
dos m o r a d o r e s , e m u i p r i n c i p a l m e n t e p o r N o b r e g a e
A n c h i c t a , que tanto t i n h a m c o n t r i b u í d o para o b o m
r e s u l t a d o d a arriscada e m p r e z a . » ( 3 )
II
Snuii)>.irii> — Volta dos franceses. Seus no-jns inílttfos, Hílteh de Sã. Amiüo de
•
A. Vicente, Sen desembarque, Fw/tha do tocai da cidade.
Abandonado o porte, em que os francezes se forti-
ficaram, n ã o t a r d a r a m v o l t a r a e l l e , c o m o a u x i l i o dos
naturaes. E i s t o M e n d c S á p r e v i r a , e m sua c o r r e s p o n -
d ê n c i a para a m e t r ó p o l e . T o d a a o p i n i ã o publica na
c o l ô n i a sentia a necessidade d c colonisar-sc o R i o de
J a n e i r o c o m a f u n d p . ç ã o de u m a c i d a d e q u e i m p o r t a r i a
na defeza d o t e r r i t ó r i o c o n t r a a c o l o n i s a ç ã o f r a n c e z a e
q u e p o d e r i a a p e r t a r os l a ç o s d e u n i ã o e n t r e os d o u s
p o n t o s colonisados c m u i t o d i s t a n c i a d o s u m d o o u t r o —
S . V i c e n t e c B a h i a . E esse estado da o p i n i ã o chegava
a t é a m e t r ó p o l e p o r m e i o de r e p r e s e n t a ç õ e s q u e e r a m
d i r i g i d a s , d e v e n d o salientar-sc o j e s u i t a N o b r e g a nesse
e m p e n h o da f u n d a ç ã o de u m a c i d a d e no R i o de J a -
neiro. (1)
M a s , a g o r a t i v e r a m de p r o c u r a r p o n t o s melhores
d o q u e o p r i m i t i v o , o n d e as c o n d i ç õ e s naturaes a j u -
dassem a r e s i s t ê n c i a c o m q u e d e v i a m se o p p o r á pro-
v á v e l o f f e n s i v a das armas p >rtuguezas. E s c o l h e r a m
e n t ã o as aldeias d e n o m i n a i a s Urucnmitim c Paraná-
pitan, A p r i m e i r a s i t u a d a no c o n t i n e n t e , j u n t o a foz do
C a r i o c a ( 2 ) que, corno diz G a b r i e l S o a r e s d e Souza no
Roteiro do Brazil, f i c a v a na e x t r e m i d a d e d a enseada, de
Francisco Velho ( B o t a f o g o ) , no l o g e r d e n o m i n a d o h o j e
òraia da Flamengo « . d e v e n d o o seu n o m e de Ütuçumi-
rim^ s e g u n d o a o p i n i ã o d o nosso i l l u s t r c h i s t o r i a d o r
dades d ' a q n c l l a t e n e b r o s a g u e r r a , q u e t à o e m i n e n t e -
m e n t e os a m e a ç a r a d a mais h o r r i d a d e s t r u i ç ã o . ( 1 )
E s t e iacto d e i m p o r t â n c i a c a p i t a l , c h a m a d o p e l o
C o n e g o P i n h e i r o d e armistício d'Iperohy, celebrado p o r
N o b r e g a , A n c h i e t a e o i n d i o Pindobucú, e c h o o n na c o -
l ô n i a e na m e t r ó p o l e . O f f e r c c i a e l l e a mais feliz o p p o r -
u m i d a d e á c o l o n i s a ç ã o portugueza, de expulsar definiti-
v a m e n t e os francezes d o B r a z i l .
A l e m disto, M e n de S á insistia com a corte para
colonizar o R i o dc Janeiro. ( 2 )
E n t ã o , D . Catharina ordenou a o r g a n i s a ç ã o de
u m a f r o t a , para a q u e l l e f i m , c o n f i a n d o - á ao c a p i t ã o - m ó r
E s t a c i o d e S á , « j á conhecido p e l o s seus g l o r i o s o s p r e c e -
dentes recebeu ordens dc p a r t i r para a Bahia c o m dous
g a l e õ e s , c a r r e g a d o s c o m t o d a a sorte d e p e t r e c h o s d e
g u e r r a c a l i receber as i n s t r u c ç õ e s d o g o v e r n a d o r g e r a l
p a r a o b o m ê x i t o d e sua c o m m i s s ã o . » ( 3 )
C h e g a n d o á a r . l i g a c a p i t a l d o B r a z i l , nos fins d e
1 5 6 3 , e n t r e g o u a seu n o b r e t i o as cartas d a r a i n h a
r e g e n t e , nas quaes d e p o i s d c e l o g i a l - o pelos r e l e v a n t e s
s e r v i ç o s q u e p r e s t a r a ao E s t a d o , c o m a t o m a d a d o f o r t e
C o l i g n y e a e x p u l s ã o dos (rancezes, r e c o m m e n d a v a - l h e
q u e se a p r o v e i t a n d o do f e l i z e n s e j o do armistício d'Ipe-
rohy tratasse de p o v o a r o R i o de Janeiro, d e s l i g a n d o
p a r a s e m p r e os t a m o y o s dos sens a n t i g o s e t e m í v e i s
a l l i a d o s . D e u - s e p r e s s a o z e l ò z o M e n de S á de e x e c u t a r
as o r d e n s d c sua s o b e r a n a , e p o n d o á d i s p o s i ç ã o de
s e u v a l e n t e s o b r i n h o as p o u c a s f o r ç a s c o l ô n i a es, p r e -
s c r e v e u - l h e q u e se d i r i g i s s e ao nosso p o r t o , fazendo
escala p o r a l g u n s o u t r o s d a costa, o n d e pudesse receber
novos a u x í l i o s . ( 1 )
E m c o m p a n h i a de E s t a c i o s e g u i u o o u v i d o r B r a z
Fragoso, q u e r e g r e s s a r a de P o r t o S e g u r o , para a g e n c i a r
a u x í l i o s c o m os c a p i t ã e s d o E s p i r i t o S a n t o e S. V i c e n t e
e P a u l o D i a s A d o r n o ( 2 ) , « e m u m a g a l e o t a sua q u e
r e m a v a dez r e i n o s p o r b a n d a e o u t r o s c a p i t ã e s » .
Fez-se d e v e l a para o s u l « e c h e g a n d o á a l t u r a d o
R i o de J a n e i r o , c o m o r e f o r ç o , q u e c o n s e g u i u no E s -
p i r i t o S a n t o , e q u e f o i de c o n s i d e r a ç ã o , a c o m p a n h a n d o -
ei a t é o p r ó p r i o c a p i t ã o - p r o v e d o r B e l c h i o r de A z e v e d o
c o valente t e r m i m i n ó M a r t i n Affonso A r a r i y - b o y a , c o m
t o d o s seus Indios, e n t r o u na enseada para v e r se t e n -
t a v a f o r t u n a , s e m mais s o e c o r r o s » . ( 3 )
O p l a n o m i l i t a r d a e m p r e z t estava t r a ç a d o no
r e g i m e n t o da f r o t a « q u e d e m a n d a s s e o R i o d e J a n e i r o
c o m a p p a r a t o b e l l i c o , a t t r a h i n d o os francezes p a r a u m a
b a t a l h a n a v a l f o r a d a b a r r a , fazendo sempre por conservar
as pazes com os indios ramoyos».
M a s a f r a n c a p e r s p e c t i v a cie r e s i s t ê n c i a era p a t e n t e
nos n a t u r a e s q u e , nas praias, c s t u r c a v a m suas a r m a s ,
e m defesa de u m d i r e i t o e de u m a a l l i a n ç a q u e lhes
i n s p i r a v a m a r e s o l u ç ã o de l u c t a r .
E s t a c i o de S á e n t r o u na b a r r a d o R i o de J a n e i r o
e m F e v e r e i r o de l õ ( i 4 ( 1 ) , c o m a sua f r o t a e ao e n t r a r
a e n s e a d a « a c h a r a m u m a n á o franceza, q u e l h e q u i z
f u g i r pelo r i o a c i m a , m a s os nossos lhe f o r a m ao a l c a n c e ,
e a p r i m e i r a q u e lhe c h e g o u f o i a g a l é d e Paulo D i a s
A d o r n o , em que t a m b é m iam D u a r t e M a r t i n s M o u r ã o
e B e l c h i o r de A z e r e d o , d e p o i s c h e g o u Braz F r a g o s o e
outros, os q u a c s e n t r a n d o n a n á o , a c h a r a m m u i t o p ã o ,
v i n h o , carne e a s s i m a l e v a r a m p a r a b a i x o o n d e ficava I
a capitanea S a n t a M a r i a a N o v a e o g a l e ã o do c a p i t ã o
m ó r E s t a c i o d e S á q u e fez c a p i t ã o d e l i a a A n t ô n i o da
Costa; mas c o m o n ã o ha gosto n e s t a v i d a q u e n ã o s e j a
m a g o a d o , i n d o u m a m a d r u g a d a t r e s bateis nossos t o m a r
agua á r i b e i r a d a Carioca, d e r a m com nove c a n ô a s de
de indios i n i m i g o s , q u e e s t a v a m a g u a r d a n d o c m c i l -
lada, os q u a e s r e p a r t i n d o - s e tres e tres a c a d a b a t e i ,
m a t a r a m os d a c a p i t a n e a , o c o n t r a - m e s t r e , o g u a r d i ã o
e o u t r o s d o u s m a r i n h e i r o s e no g a l e ã o f e r i r a m a C h r i s -
t o v ã o d e A g u i a r , o m o ç o , c o m seis f r e c h a d a s e o u t r o s
sete h o m e n s e o l e v a v a m , mas P a u l o D i a s A d o r n o lhe
a c u d i u a pressa na sua g a l é e c h e g a n d o a t i r o m a n d o u
p o r f o g o e u m i a l c ã o q u e os fez l a r g a r o b a t e i . E n t e r r a -
dos os m o r t o s e m u m a i l h a , c h a m o u E s t a c i o de S à os
c a p i t ã e s a c o n s e l h o e assent t r a m q u e sc fosse a S, V i -
c e n t e buscar c m ô a s e g e n t i o d o m é s t i c o c a m i g o , c o m
q u e m e l h o r se p o d e r i a fazer g u e r r a á q u e l l e b á r b a r o
inimigo»,
E s t e i n c i d e n t e o b r i g o u E s t a c i o a p e n s a r na f o r ç a
d e seus e l e m e n t o s m i l i t a r e s , sob o p e n s a m e n t o de p e d i r
a u x i l i o s a S. V i c e n t e .
F o i e n t ã o p a r a S. V i c e n t e u m n a v i o p e q u e n o a
chamar Nobrega, afim de, analysada a s i t u a ç ã o , tomar-
se u m a r e s o l u ç ã o d e f i n i t i v a . N o b r f c g a p a r t i u de S. V i -
c e n t e a 19 d c M a r ç o c c h e g o u ao R i o a 3 1 d o m e s m o
mcz, sexta-feira santa, á meta n o i t e . E c m q u a n t o E s -
t a c i o e s p e r a v a os soecorros d c S. V i c e n t e , f e r i r a m - s c
os m a i s e n c a r n i ç a d o s c o m b a t e s e n t r e suas f o r ç a s c os
i n d i o s a l l i a d o s aos francezes.
A c a r n i f i c i n a destes c o m b a t e s e as p e r d a s d c E s -
tacio f o r a m r e g i s t r a d a s p o r A n c h i e t a , c m u m a c a r t a d c
8 d e J a n e i r o d e 1Õ6Õ, e m q u e descreve sua v i a g e m de
S. V i c e n t e ao R i o ( 1 ) , p o r c u j a b a r r a e n t r o u c o m g r a n d e
e s c u r i d ã o e t o r m e n t a , n ã o e n c o n t r a n d o mais os n a v i o s
dc Estacio, c mandando l o g o a terra, a uma iiheta que
f o i d o s francezes, a c h a r a m t o d a s as casas, o n d e os
nossos p o u s a v a m , q u e i m a d a s , c a l g u n s c o r p o s tios escra-
vos, q u e a ] l i h a v i a m m o r r i d o d c sua d o e n ç a , desenter-
r a d o s , as c a b e ç a s q u e b r a d a s , o q u a l h a v i a m f e i t o os
i n i m i g o s , p o r q u e se c o n t e n t a m d c m a t a r os v i v o s ; m a s
t a m b é m d e s e n t e r r a m os m o r t o s e lhes q u e b r a m as ca-
b e ç a s para m a i o r v i n g a n ç a e tomar novo n o m e » .
E i s a h i as p r o v a s dadas p e l o d e p o i m e n t o d c A n -
c h i e t a d a c a r n i f i c i n a nos c o m p a n h e i r o s de E s t a c i o , sendo
isto o m o t i v o de apressar a sua v i a g e m p a r a S. V i c e n t e ,
antes d a chegada d c N o b r c g a q u e e l l e m e s m o h a v i a
c h a m a d o . Julgando-sc e m g r a n d e p e r i g o , sahiu d a en-
seada o n d e estava f u n d e a d o n o d i a 2Í), isto é, dois d i a »
a n t e s d a chegada de A n c h i e t a . B a t i d a sua f r o t a l o g o
ao s a h i r , a r r i b o u ao R i o d c o a d e p a r t i r a , n o s a h b a i o d a
A l l e l u i a , 1 dc A b r i l , encontrando-se e n t ã o com A n -
c h i e t a . Resolveram-se e n t ã o i r a S. V i c e n t e r e u n i r os
a u x í l i o s precisos p a r a a e x e c u ç ã o d a e m p r e z a . E estes
n ã o lhe f o r a m neoados.
o
A ' custa dos maiores s a c r i f í c i o s , a c a p i t a n i i d e
sadas, a m u n i ç ã o l i m i t a d a e nossa g e n t e p o r t u g u e z a
p o u c o d e s t r a no m o d o de p e l e j a r dos i n d i o s : q u e p o -
d e r i a s t i c c e d e r u m a d e s g r a ç a q u e desse q u e c h o r a r ;
que sempre f o i p r u d ê n c i a n ã o a r r í s c o r a graves perigos,
o n d e a e m p r e z a c v o l u n t á r i a e sc p o d e e s p e r a r o c e a s i ã o
s e g u r a . I s t o d i z i a m ; e a este fim m o v i a m m u i t a s t r a -
ç a s , uns c o m zelo, o u t r o s c o m r e c e i o , o u t r o s p o r e n f a -
dados». (1)
Semelhantes r a z õ e s eram combatidas por N o b r e g a ,
p o r q u e « q u e d i r ã o os t a p u i o s i n i m i g o s , esses e depois
de tanta g r a n d e f a m a de p o d e r , v i r e m q u e v o l t a m o s as
costas s e m s a n g u e ?
M a i s honra seria c m t a l caso m o s t r a r essas costas
f e r i d a s na peleja q u e s ã s s e m p e l e j a r ; p o r q u e f e r i d a s ,
m o s t r a r i a m d e s g r a ç a d a f o r t u n a e s ã s m o s t r a r i a m des-
d o í r o da f a m a » . ( 2 )
V ê - s e , p c i s , q u e a figura d o m i n a n t e d o q u a d r o c
N o b r e g a q u e excita e d e s p e r t a a c o r a g e m do c o m m a n -
d a n t e d i f r o t a q u e , sem elle, e e n t r e g u e á s suas p r ó p r i a s
r e s o l u ç õ e s e ao p r o g r a m m a d e p r o t e H a ç S ò dos seus c o m -
panheiros, n ã o p o r i a m ã o s á o b r a , ficando a i n d a a d d i a d a
a r e s o l u ç ã o , d o g r a n d e p r o b l e m a d a c i v i l i z a ç ã o brazi-
l e i r a d a f u n d a ç ã o da c i d a d e d o R i o .
N ã o é d i f r i c i l p r e v e r q u e esse r e s u l t a d o seria ine-
v i t á v e l , si N o b r e g a a b s t è m - s e de envolver-se no assum-
p t o . n ã o s ó pelas s u g g e s t õ e s c o m q u e age no e s p i r i t o
de E s t a c i o , c o m o n o d e seus c o m p a n h e i r o s franca e pro-
f u n d a m e n t e desanimados.
A g l o r i a é pois de N o b r e g a .
D i r i g i u - s e e n t ã o E s t a c i o para o R i o , c m c u j a b a r r a
e n t r o u e m F e v e r e i r o , depois de a l g u n s i n c i d e n t e s de
v i a g e m q u e fizeram separar a c a p i t a n e a d o resto da
e x p e d i ç ã o que seguiu, em p a r a l l c l o á c o s t a , a t é a entrada
do R i o , o n d e a esperou p o r a l g u n s dias.
D u r à n t e a v i a g e m deram-se i m p o r t a n t e s i n c i d e n t e s ,
segundo i n f o r m a a i m p o r t a n t e c a r t a de A n c h i e t a de 9
de J u l h o d e 1 5 6 5 .
N o d i a 2 2 de Janeiro, o m e s m o d a p a r t i d a , c h e g a
a n á o capitanea ( S a n t a M a r i a a N o v a ) á i l h a d e S. Se-
b a s t i ã o , t e n d o f i c a d o e m S. V i c e n t e B r à z F r a g o s o c o n -
c e r t a n d o o g a l e ã o e a n á o fra:icc/,a t o m a d a no a n n o
a n t e r i o r no R i o de J a n e i r o . N o d i a ' 2 7 , s a h c m de Ber-
t i o g a c i n c o navios pequenos, dos quaes tres de r e m o s
e mais o i t o c a n o a s , c o m m a m e l u c o s de S . V i c e n t e ,
i n d i o s do E s p i r i t o S a n t o c conversos d c P i r a t i n i n g a .
F o i nesta remessa q u e v i e r a m os r e l i g i o s o s G o n ç à l o d e
O l i v e i r a e J o s é de A n c h i e t a , r e u n i n d o - s e c i l a á c a p i -
tanea no d i a 2 8 . N o d i a 1 de F e v e r e i r o , t o d o s r e u n i d o s
seguem v i a g e m com pouca marcha, d ã o s ó por causa
das e m b a r c a ç õ e s de r e i n o s , c o m o p o r q u e h a v i a o r d e m
p a r a n ã o se s e p a r a r e m e assim u n i d o s c h e g a r a m á i l h a
G r a n d e no d i a 4 o u 5, o n d e e s p e r a r a m p e l o c a p i t ã o -
m ó r q u e n ã o c h e g a n d o , o b r i g o u - o s a s e g u i r c a 15 c h e -
g a m ao R i o , j á e s t a n d o a h i f r o n t e i r a á b a r r a a c a p i t a n e a .
A 16 h o u v e u m f o r t e t e m p o r a l q u e l e v o u um dos n a v i o s
pequenos e a c á p i t a h e a á i l h a G r a n d e . A 2 7 os o u t r o s
navios j u n t a m - s e á s canoas nas i l h a s f ó r a d a b a h i a e a
2 7 os i n d i o s t e i m a m e m e n t r a r p e l a b a r r a o u e n t r a r
p a r a as suas terras, pois e r a s e n s í v e l a f a l t a d e m m t i -
m e n i o , d e s i s t i n d o d i s t o pelus r o g o s q u e l h e s h z e r a m .
A 2 8 apparece a capitanea c o m o navio desgarrado e
j u n t o s e n t r a r a m ^ o R i o de J a n e i r o , d e b a i x o d e c h u v a e
a 1 dc M a r ç o desembarcam c c o m e ç a m a c o n s t r u c ç ã o
da c i d a d e .
Estacio fundeou logo á entrada, á sombra do P ã o
de A s s u c a r , d e s e m b a r c a n d o na p e n í n s u l a q u e se f o r m a
ao l a d o d e l l e , e n t r e o mar e o p r i m e i r o saeco o u c o n c h a
da b a h i a , j u n t o ao m o r r o Cara de Cão de Gabriel Soares,
h o j e m o r r o de S. J o ã o . E s t e s i t i o i m p u n h a - s e c o m o o
l o c a l para a f u n d a ç ã o d à c i d a d e , c o m e ç a n d o l o g o a
r o ç a r o m a c i o e a fazer, a n t e s d e t u d o , u m a t r a n q u e i r a ,
— 35 —
q u e servisse á d e f e n s a c o n t r a q u a l q u e r s u r p r e s a ; c o n -
s t r u í r a m se a r r u a d o s , a l g u n s ranchos o u t ú j u p a r é s de
t a i p a de sebc, ao n u d o dos dos i n d i o s c a b r í u - s c u m a
c a c i m b a na g a n d a r a j u n t o a p r a i a , t u d o isto apezar das
ciladas q u e p o r t e r r a e p o r mar, i n t e n t a v a m os b á r b a r o s ,
c u j o p r i n c i p a l A m b i r é e r a d e s t r í s s i m o no a r m a l - a s à o
inimigo. ( 1 )
III
(i) Itist. Geraldo Brás., por Porlo Seguro, vol. I . pag. 302. Diver-
o
r e n d é n d o - s e e l l a a 1 2 , com a c o n d i ç ã o de p o d e r r e t i r a r -
se para a F r a n ç a c o m a sua g u a r n i ç ã o composta d.^ 1 1 0
h o m e n s c a t h o l i c o s para « n ã o a u g m e n t a r o n u m e r o d o s
que ficavam em terra, d i f i c u l t a n d o assim a e m p r e z a » .
O insuecesso dos assaltantes n e s t a i n v e s t i d a l e v o u - -
os a p e d i r e m recursos paru C a b o F r i o q u e , de ha m u i t o ,
se t i n h a t o r n a d o o p o n t o p r e d i l e c t o dos francezes, de
o n d e v i e r a m tres navios c c e n t o e t r i n t a canoas. C o m
estes recursos c o m e ç a r a m c m p r i n c í p i o s d c J u n h o u m
n o v o a t t a q u e , e m q u e f o r a m c o m p l e t a m e n t e destro-
çados .
Por esta o c e a s i ã o , d i z o V i s c o n d e d c P o r t o S e g u r o ,
t i n h a m os nossos u m b a l u . - r t e de t a i p a e a l g u n s r a n c h o s
e «casas cobertas e feitas em redor da cerca muitas
r o ç a s e plantado legumes e i n h a m e s » .
E m J u l h o teve l o g a r o u t r a a c ç ã o n o t á v e l , e m q u e
a v i c t o r i a f o i d c B e l c h i o r de A z e r e d o , p r o v e d o r c ca-
p i t ã o - m ó r do E s p i r i t o S a n t o q u e desde 1 5 6 4 sc i n c o r -
p o r a r a á a r m a d a de E s t a c i o , q u a n d o passou p o r a q u e l l a
c a p i t a n i a . D e p o i s d e r e n h i d o c o m b a t e a p r i s i o n o u duas
c a n ô a s i n i m i g a s de v i n t e q u e v i n h a m sobre a p o v o a r ã o .
A a c ç ã o teve l o g a r « e m p a r t e o n d e a i n d a n ã o f o r a m
c a n ô a s de nossa g e n t e , p o r ser d i s t a n t e seis a sete
l é g u a s » , talvez p a r a as b a n d a s d e P a q u e t á .
D o u s dias depois desta v i c t o r i a d o p r o v e d o r d o
E s p i r i t o S a n t o . E s t a c i o de S á c o g i t o u de f u n d a r a c i d a d e
p o l í t i c a e a d m i n i s t r a t i v a m e n t e , p o r q u e este e r a o seu
o b j e c t i v o r e a l . S e m isto os e s f o r ç o s m i l i t a r e s , a s o m m a
de interesses e de a c t i v i d a d e q u e se e n v o l v e r a m n a
l u c t a , p a r a seu b o m ê x i t o , ficariam d e s t i t u í d o s d e v a l o r ,
p o r q u e a a l ü a n ç a dos francezes c o m o g e n t i o f a r i a c o m
que permanecessem a e x p l o r a r a r e g i ã o com a proba-
b i l i d a d e de a c o l o n i s a r . ( 1 )
N o d i a 15 d e J u l h o fez a d o a ç ã o á C â m a r a M u n i -
cipal d o R i o de J a n e i r o p a r a seu p a t r i m ô n i o .
E r a b e m r e c e n t e o f a c t o de M e n de S á . S u a v i -
c t o r i a s o b r e e l l e s de n a d a s e r v i u , p o r q u e n ã o sc p r e o c -
cupou com a colonisação do território, limitando-se a
e x p u l s a r os francezes q u e v o l t a r a m e f o r a m de n o v o
expulsos. Este f a c t o e r a b e m recente p a r a i m p r i m i r na
e x p e d i ç ã o de E s t a c i o , a l é m do c a r a c t e r m i l i t a r , o c a r a -
cter político.
« E s t a c i o de S á , m a l p i s a r a t e r r a s do R io de Janeiro,
fizera l o g o s u r g i r e m sua t o t a l i d a d e , m o r a l e p o l í t i c a , a
c i d a d e d c S. S e b a s t i ã o d o R i o de J a n e i r o . D e s d e a
B a h i a a c i d a d e v i n h a c r e a d a , a a l m a estava f o r m a d a ;
s ó l h e restava o c o r p o — o nttmdus — d e n t r o d o q u a l se
elevassem o c a p i t ó l i o q u e protegesse e unificasse a
p o p u l a ç ã o , os m u r o s e as p o r t a s ( 1 ) . F i x o u o t e r m o d a
c i d a d e q u e se e s t e n d i a a t é u m r a i o p a r a cada l a d o
d e seis l é g u a s c p a r a o p a t r i m ô n i o da C â m a r a d o o u p a r a
rocio legua c meia.
A i n d a q u e e m i n i c i o de c o n s t r u c ç ã o m o d e s t a , Es-
tacio d e u á f o r t a l e z a de S. S e b a s t i ã o , c o m o e r a a t é e n t ã o
c o n h e c i d a , o n o m e d e cidade de S. S e b a s t i ã o d o R i o de
J a n e i r o a 10 de J u l h o de 1 5 6 5 , d a t a d o despacho d c
u m a p e t i ç ã o q u e lhe f o i d i r i g i d a pelos seus m o r a d o r e s
em q u e p e d i a m « t e r r a s p a r a rocio do C o n s e l h o e para
p a s t o s de g a d o » . A posse da d o a ç ã o teve l o g a r a 2 4 do
m e s m o m e z dc J u l h o por J o ã o Prosse, « e e m n o m e d e
t o d o s os m o r a d o r e s e povoadores, assim dos q u e a g o r a
e r a m , c o m o dos q u e a d i a n t e f o s s e m » , i n d o o p r ó p r i o
E s t a c i o de S á n a q u c l l e d i a « c o m os m o r a d o r e s c p o v o a -
dores desta c i d a d e , a m a i o r p a r t e d e l l e s á banda d ^ l é m ,
o n d e sc c h a m a carioca, q u e era t e r m o desta c i d a d e p a r a
t o m a r e m posse das t e r r a s a s s í g n a l a d a s para o C o n s e l h o
e q u e sendo pelos d i t o s m o r a d o r e s c p o v o a d o r e s r e q u e -
r i d o ao d i t o C a p i t ã o - M ó r q u e o mandasse m e t t e r d e
posse das d i t a s terras, q u e assim t i n h a dadas, p e l o q u e
logo pelo dito C a p i t ã o M ó r fora m a n d a d o a A n t ô n i o
M a r t i n s , m é i r j n h o , q u e mettesse de posse a e l l e J o ã o
Prosse das d i t a s terras q u e assim assignava, p o r q u a n t o
para este caso o d a v a p o r P r o c u r a d o r da ü i t a c i d a d e ,
p e l o q u e l o g o os d i t o s m o r a d o r e s e p o v o a d o r e s disse-
r a m q u e elles h a v i a m p o r b e m q u e elle J o ã o Prosse
tomasse posse e m n o m e d e t o d o s , assim presentes,
com o ausentes e q u e o d i t o m e i r i n h o l h e m c t t e r . i nas
m ã o s t e r r a , p e d r a , agua, p á o s e h e r v a s q u e e l l e J o ã o
Prosse passearac a n d a r a p e l a dita t e r r a , assim e l l e , c o m o
os m o r a d o r e s e p o v o a d o r e s q u e presentes f o r a m e se
h o u v e r a m p o r empossados e m e t t i d o s d a d i t a posse,
s e m pessoa n e n h u m a o c o n t r a d i z e r , n e m i r á m ã o e q u e
sendo assim t o m a d a a d i t a posse, se t o r n a r a m p a r a a
cidade ( 1 ) » .
N ã o d e l i b e r o u n e n h u m a u t o d e posse p o r f a l t a d e
t a b e l l i ã o q u e e n t ã o n ã o e x i s t i a . E p o r isso f o i p o r e l l e
l a v r a d o a 6 de O u t u b r o d o m e s m o a r i n o p e l o t a b e l l i ã o
P e d r o da Costa q u e é j u s t a m e n t e o p r i m e i r o n o t a r i o
publico d a ridade d o R i o de Janeiro.
D e d i r e i t o estava f u n d a d a a c i d a d e . S ó l h e r e s t a v a
a e x i s t ê n c i a d e f a c t o , r o d c a l - a d c e l e m e n t o s d e resis-
t ê n c i a c o n t r a as t e n t a t i v a s dos a l l i a d o s , q u e se r e p e t i r a m
por e s p a ç o de d o u s a n n o s , isto c, d e 1 de M a r ç o de
1 5 6 0 , d a t a d o d e s e m b a r q u e dc E s t a c i o j u n t o ao P ã o d c
A s s u c a r , a t é 18 de J a n e i r o d c 1 5 6 7 , q u a n d o a p o r t o u
II) Tombo das Tcrra> Muuinpnfrs por Haddock Lobo, pag. 70. O trecho
acima transcripto deste ducumeulu c intçíéisaute, sob muitos títulos. Além dc
provar a data cm que o Riu dc Janeiro foi elevado a cidade dc fortaleza que
era então, demonstra timbcm que o local da primeira cidade fei o Pão dc
Ã&auçar, porqae só assim elle poderia Usar da phrasc <á banda d'alcm, nnde
sc chama carie ca*, ir.dicando cila uma pcm-tracâo pelo mar entre o local eiri
que estava ella ãituadae o local chamado cntào Carioca. Ainda hoje mesmo
existe ei-io br a Cá de iriár que fôrma justamente a Praia da Saudade. K o local
chamado Cirioo conipiehendia enrüo ;nda a extensão de território desde este
braço de mar até o terreno banhado pfln rio Carioca que desembocava nos
fundos do Hotel dos bMinioieiius, listè documento *us»-íi.a uma importante
questão d* que .idi.mte traeiaiciuos com o desenvolvimento que cila exige;
a origem da palavra Carioca para denominar este rio.
— 39 —
M e n de S á , c o m os s o c c o r r o s levados da B a h i a e o u t r a s
c a p i t a n i a s d o norte.
H a v i a n o m e a d o J u i z o r d i n á r i o da c i d a d e a Pero
M a r t i n s N a m o r a d o , d a n d o posse d a a l c a í a d a r i a - m ó r a
F r a n c i s c o D i a s P i n t o q u e t i n h a s i d o c a p i t ã o da c a p i t a -
nia d c P o r t o S e g u r o , n o m e a d o p o r M e n d e S á na B a h i a ,
p o r p r o v i s ã o de 1 0 d e D e z e m b r o de 1 5 6 5 , « p o r s e r v i ç o s
q u e h a v i a f e i t o no e d i f i c a m e n t o d a c i d a d e e p o r a c ç õ e s
m i l i t a r e s p r a t i c a d a s e m m a r e t e r r a na e n s e a d a d o R i o
Janeiro». (1)
A posse desses f u n e c i o n a r i o s revestiu-se d c f o r m a -
l i d a d e s q u e , p o r sua o r i g i n a l i d a d e perante a l e g i s l a ç ã o
de h o j e , m e r e c e m ser a q u i transcriptas, s e g u n d o f o r a m
descriptas p e l o t a b e l l i ã o P e d r o d a C o s t a : A p r e s e n -
t a n d o o a l c a i d e - m ó r o seu p r o v i m e n t o ao c a p i t ã e - m ó r
E s t a c i o de S á , e s t a n d o p r e s e n t e o Juiz P e r o M a r t i n s
N a m o r a d o , o o alcalde p e q u e n o D o m i n g o s F e r n a n d e s ,
p e d i u q u e o empossasse, s e g u n d o o q u e E l - R e i m a n d a
v a e m suas o r d e n a ç õ e s ; d e tendo-se o g o v e r n a d o r c o m
as m a i s pessoas á p o r t a p r i n c i p a l d a c i d a d e l l a e f o r t a -
leza, l h e d i s s e — Q u e cerrasse as p o r t a s — O q u e f e z ' o
a l c a i d e - m o r c o m as suas p r ó p r i a s m ã o s b e m c o m o os
d o u s p o s t i g o s s o b r e p o s t o s nelles c o m suas a l d r a v a s de
f e r r o ; e f i c a n d o E s t a c i o de Sa f o r a das portas e m u r o s
l h e p e r g u n t o u o a l c o i d e - m o r q u e estava d e n t r o , se q u e -
r i a e n t r a r e q u e e i a o c i p i t ã o da c i d a d e de S. S e b a s t i ã o
e c m n o m e de E l - R e i Nosso S e n h o r , e i m m e d i a t a m e n t e
lhe f o i a b e r t a a p o r t a , dizendo o a l c i i d e - m o r q u e reco-
n h e c i a p o r seu c a p i t ã o c m n o m e dc S . A , , c u j a c i d a d e
e fortaleza e r a » . (2)
A m a i o r i a dos f u n c c í o n a r i o s f o i n o m e a d a p o r M e n
r i o o i t e n t a canoas c p a r e c e - m e q u e a j u n t a n a m g r a n d e
mata de m a d e i r a p a r a se d e f e n d e r e m d a a r t i l h a r i a e
a b a l r o a r e m a cerca ; m a s os nossos t i n h a m j á g r a n d e
desejo de chegar a q u e l l a h o r a , p o r q u e d e s e j a v a m e es-
p e r a v a m fazer g r a n d e s cousas pela h o n r a de D e u s e do
seu R e i e l a n ç a r d a q u e l l a t e r r a os c a l v m o s e a b r i r a l -
g u m a p o r t a para a p a l a v r a d c D e u s e n t r e os T a m o y o s
/ c a r t a d e j . d e A n c h i e t a de 9 d e J u l h o d e 1 5 6 5 , p u b l i -
cada no v o l . I I I da R c v . d o I n s t . H i s t . B r a s . )
E r a r e a l m e n t e d i f f i c i l a s i t u a ç ã o de E s t a c i o d e S á ,
desde q u e elle e m S . V i c e n t e r e u n i a , com a u x í l i o s de
N o b r e g a , os e l e m e n t o s d c sua e x p e d i ç ã o , e m g r a n d e
m a i o r i a f r i o s e i n d i f f e r e a t c s aos interesses d a e m p r e s a
e s u g g e s t i o n a n d o a sua t r a n s f e r e n c i a p a r a m e l h o r e s
t e m p o s o u c o m a u x í l i o s mais p o d e r o s o s d c os q u ê i a m
s e n d o o b t i d o s . A l é m d i s t o , a f a l t a de m u n i ç ã o de bocea
no a c a m p a m e n t o c o n t r i b u í a a i n d a m a i s p a r a d e s a n i m a r
os e s p í r i t o s c p l a n t a r o de - c o n t e n t a m e n t o no s e i o d o
acampamento.
N ã o obstante isto houve, um c o m e ç o dc colonisa-
ç ã o . M u i t o s dos q u e a c o m p a n h a r a m E s t a c i o d c S à o b t i -
v e r a m sesmavias d e t e r r a s nos a r r e d o r e s d o acampa-
m e n t o , e ncllas c o m e ç a r a m o t r a b a l h o a g r í c o l a . M u i t o s
locolisaram-se e m C o p a c a b a n a , na G á v e a , na T i j u c a ,
e m J a c a r é p a g u á , outros pelo littoral, c m B o t a f o g o ,
C a t t c t e , L a p a e o u t r o s d o l a d o de N i t h e r o y . ( 1 )
N ã o o b s t a n t e as d i f i c u l d a d e s e m q u e estava E s -
tacio de S á , n ã o p e d i u soecorros a seu t i o na B a h i a .
U m facto i n l l u i u p a r a isso c f o i a v i a g e m d c J o s é d e
A n c h i e t a p a r a a Bahia, a f i m de t o m a r o r d e n s sacras,
sahindo d o R i o a 3 1 d c M a r ç o de 1 5 6 5 .
(2) A ilha do Governador tomou o nome de Governador pur ter sido dada
em sesmana a Salvador Correia de Sã. depois governador d- Rio de Janeiro
cabendo a oulra metade ao almoxahfc regio Ruy Gonçalves, tendo n i>rimeirõ
obtido confirmação de sua doacçâo cm Lisboa a 13 dc Fevereiro de lõ7ti.
— 45 —
pois a elavicula media 0,14 contimentros o que incoka que o peito na sua
parte superior, dc um extremo cia vincular a outro, otlerecia mais ou meuos
0,0*2 centímetros; por outra que era indivíduo dc typo portuguee dc estatura
regular*.
— 46 —
(1) Intrxmehtã,
t'2j fc'm uma nota á obra dc Porto Seguro diz Oapistraro de Abreu de
que Estacio morreu vinte e cinco a trinta dias dias depois do felimculo, isto
c, entre 15 e 2U de Fevereiro.
Itutante .algum tempo a cidade festejou essa victoria, dando-se uma salva
ás 8 horas da noite nos dias 17, 18 c lí)"de Janeiro.
CAPITULO III
O local e s c o l h i d o por E s t a c i o p a r a a f u n d a ç ã o da
c i d a d e e r a p r o v i s ó r i o . T u d o d e p e n d i a d o ê x i t o da
g u e r r a . N ã o e r a p o s s í v e l q u e c i l a a l i ficasse, á s o m b r a
d o P ã o de A s s u c ar, q u a n d o o u t r o s p o n t o s do t e r r i t ó r i o
e r a m m a i s f a v o r á v e i s ao seu d e s e n v o l v i m e n t o . E m
u m a é p o c a d e a v e n t u r a s , era n a t u r a l q u e d a c i d a d e
p u d e s s e m seus h a b i t a n t e s d o m i n a r a b a r r a , para obser-
v a r e m os n a v i o s q u e a d e m a n d a v a m .
A s s i m , os p r i m e i r o s c u i d a d o s de M e n de S á ,
d e p o i s da e x p u l s ã o d o i n i m i g o , f o i t r a n s f e r i r a c i d :de
p a r a o u t r o p o n t o . O local e s c o l h i d o l o i o m o r r o do
C a s t e l l o , o n d e « a s s e n t o u a n o v a p o v o a ç ã o q u e fez
fortificar, a c o m p a n h a n d o - a dos e d i f í c i o s c o m p e t e n t e s
p a r a a casa da C â m a r a » . ( 1 ) .
{I) V. por o sitio onda Estacio dc Sá edificon nilo ser para mais que
paia defender-se cm tempo dc guerra, com a piecença dos capitães c de
outras pessoas que no diio Rio dc Janeiro eVtàvam, escolhi um siiin que
parecia mais o conveniente para edíficiif urlle a cidade de S. Sebastião, o
qual sitio era dc um grande matto espesso, cheio de muias arvores c grossas
mn que se levou assa/ de trabalho cm as cortar c limpar o dito sitio e edi-
ficar nina cidade grande, cercada dc trasto dc vinte palmos de largo c outros
tantos do altura, ioda cercada dc muro por cima i-Oin muitos baluartes e fortes
F o r a m i n c s t i m w e i s os s e r v i ç o s p r e s t a d o s p o r M e n
d c S á . C o m o m a i o r interesse a j u d o u e a n i m o u a cons-
t r u c ç ã o f l ã c i d a d e , os seus e d i f í c i o s p ú b l i c o s , c o m o a
casa da C â m a r a , a cadeia, as casas dos a r m a z é n s , a S é ,
o c o n v e n t o de j e s u í t a s , a l é m d c f o r t i f i c a l - a c o m
os seus f o r t e s . P r o m o v e u o m e i o d c seu p o v o a m e n t o e
trazer o g a d o para o c o m e ç o d o t r a b a l h o a g r í c o l a q u e
se d e v i a i n i c i a r .
C o n f i r m o u a 10 d c O u t u b r o de 1 5 6 7 , a d o a ç ã o
de leg.ua e m e i a á C â m a r a e de seis l é g u a s p a r a o
t e r m o d a cidade ( 1 ) e t r a t o u de crear a v i d a p o l í t i c a e a
a d m i n i s t r a ç ã o p u b l i c a . P o r p r o v i s ã o de 9 de M a r ç o de
1 5 6 8 , n o m e o u O u v i d o r da c i d a d e a C h r i s t o v ã o M o n -
teiro ( 2 ) .
Fez t a m b é m as n o m e a ç õ e s de e s c r i v ã o e t a b e l l i ã o
d e notas, d o m e i r i n h o , e s c r i v ã o da c â m a r a e o u t r o s
f u n e c i o n a r i o s (<J).
cheios de artilharia, Ií fiz a igreja dos padres dc Jesus onde agora resídetu,
telhada e bem concertada, *• a Sé de tres naves, também telhadada c bem
ronccilada; a cadela, a Cása dos aima/en.' à para fazenda dc Sua Altcza sobra-
dadas s telhadas c com varandas ; dei oídem e favor a ajuda com que fizessem
outras muilas rasas telhadas e .srhia.iadíis. Ma.-.dei vir muito? moradores,
muito gado para povoar a llita çijSàjc. 0 qu.'l se dà muito bem, de que jâha
grande creação. InslrfnífUo, 11—12;>
|I) C do mais alto vülor a seguinte observação dc Varnhagcm. Estas
doações eram feitas cm conformidade dos recentes poderes que trazia c não
do Alvará dc 30 de Novembro dc 1530 como pretenderam os juizes dos feitos
da Coroa do Kio de Janeiro, no injusto accordào dc 20 de Junho de 1812 quo
por consulta do Oes. do Paço foi devidamente ar.nullado em 10 d" Abril de
1821.
(2) Arch. ,ít Dhtr. F?d', pog.
(3i Komeou Juiz dc Orpliãos a Manoel Freire, e a Balthazar Fcrnandus
um dos primeiros povoadores com mulher c filhos alli. deu os orticios de
escrivão e Tabellião das Nolas, que vagara por morto dc Miguel Ferrão.
Nonieóu Mciiiubo da cidade a João da Silveira, dandn por motivo da mercê
os «ervirOs feitos desde a. primeira fundação da Cidade : ao Mestre Vasco, o
de Porteiro e Prcgociro ; a Clcmcute Pires, o dc hsci ivíio da Câmara; a Jorge
da Moita, o dc Dcslribuidor, Inquiridor, Contador e kscrivúo da Alirolacaríat
a Francisco Fernandes, Rcpestciro de Sua Alteza, o dc Gícrivâo do Publico c
Judicial; e para Ale a ide Mõr Titaliciamente, a Francisco Diàs Pinto, tomando
por fundamento da graça, ter estado na companhia de Fslacio de Sá na edi-
ficação e povoamento da nova Cidade, achando. íe todas as guerras e
c m
batalhas com muito valor, dispendendo grandes som má* dc sna fazenda; &
finalmente a Roy Gonçalves, criado de Sua Ahe/.a, Feitor na Fazenda Kcal.
011c sc demorou por tempo de dons mffces pel-s interesses do Kcal Serviço,
nesta Cidade, afim dc deixar todas as cousa* bem ordenadas. (Aimocs do Rio
dt Janeiro ^ pòi S, lisboa, vol. 1", pag. 312).
— 49 —
D o o u t e r r a s aos q u e t i n h a m a j u d a d o a c o n q u i s t a ,
e m n o m e d o r e i , q u a n d o t o d a esta p o r ç ã o d o t e r r i t ó r i o
da c o l ô n i a t i n h a sido d o a d a a M a r t i m A í T o n s o . ( 1 )
E t r a t o u t a m b é m de f o r t i f i c a r a cidade, t a n t o q u a n t o
l h e p e r m i t t i a m as c o n d i ç õ e s .
N a o p i n i ã o do c o n e g o F e r n a n d e s P i n h e i r o , con-
s t r u i u ao l a d o d o P ã o de Á s s u c a r a f o r t a l e z a da G u i a ,
m a i s tarde*de S a n t a Cruz, S . D i o g o e S . T h e o d o s i o .
N a m o n t a n h a q u e ficava á c a v a l l e i r o ( o C a s t e l l o ) o
f o r t e de S . J a n u á r i o . S e m t e r m o s o i n t u i t o de n e g a r
essas a f i u m a t i v a s , t o d a v i a d u v i d a m o s q u e , d u r a n t e o
g o v e r n o de M e n d e S á , se tivessem c o n s t r u í d o t o d a s
estas f o r t í l i c a ç õ c s . Pelo m e n o s j a m a i s e n c o n t r á m o s
documento comprobatorio disto.
N ã o p o d i a p o r m a i s t e m p o demorar-se M e n de S á
no R i o , p o r q u e a s i t u a ç ã o d a c i d a d e de S . S a l v a d o r
e x i g i a a sua p r e s e n ç a .
A necessidade de r e m e t t e r « m a n t i m e n t o s e h o m i -
siados, c o m q u e a j u d a s s e a p o v o a r o R Í O B , como a l l e g o u
n o d o c u m e n t o de n o m e a ç ã o d o seu s u b s t i t u t o , apressou
sua v o l t a .
Por acto d e 4 de M a r ç o de l õ ( i 8 n o m e o u S a l v a d o r
C o r r e i a d c S á , seu s o b r i n h o , c a p i t ã o e g o v e r n a d o r d a
c a p i t a n i a d a c i d a d e d o R i o de J a n e i r o ( 2 ) e r e g r e s s o u
para a ISahia ( í í ) .
(i) Diz Varhhagén e com raiào que a capitartfa J" Rio de Janeiro, de-
pois de luedada a cidade, foi em nosso entender, considerada, como a Kabía.
exclusivamente da coroa,fc"provável que Maitín Ajfoflso, que ainda enlão
vivia, fosse o primeiro a ceder de seus direitos; pelas vaatageus do segurança
contra Os francezes, que dessa fundação colhia a sua capitania dc S. Vicente,
jà iroloilisadn; mas não encontramos a tal respeito declaração alguma nos
arehfvns.
(a) A integra desta provisão esta publicada nu 1 yòL do Arenito do üat.
Ffd,, pag. 23. H' utU d"i''imenlo dicr.o de Icm r i e peb» qual investiu Men dc
Sá no snbstitulo todris ns pod^res cjue goti no* a>sum|)tos de ju*tiça e fazenda.
(j) Noia-sc entre os eser-fptofe** alguma divergência sobiu a época du
represou de Men dc Sd para u Bahia íjn*. segundo Silva Lishoa, loi em 15Ü7-
M siH:- M> n-grcssoo depois do Março, porque, alem do acto cc nomeação de
Salvador para governador •> 4 de Marco, i 21 do mesmo mcz nomeou Clemente
Pires Ferreira escrivão da Câmara c a 15 de Junho Salvador norociu Francisco
Fernandes inquiridor e contador; A volta deu-se pois em 1568, entre Março c
Junho. . -
— 50 —
4*+CT>^A*+^ s u m p t o s . T r o ç o u n o v o p l a n o p a r a a c o n s t r u c ç ã o das
casas. C o m e ç a r a m a ser c o n s t r u í d a s c o m mais s e g u r a n ç a ,
e m s u b s t i t u i ç ã o das h u m i l d e s c h o ç a s , á c u s t a d o b r a ç o
do i n d i o e dos c a t h e c u m e n o s j e s u í t a s , p o r q u e a escra-
v i d ã o a f r i c a n a a i n d a « a b u s o c l a m o r o s o de f o r ç a c o n s t i -
t u í d o e m d i r e i t o , n ã o p o l l u i a a t e r r a de S a n t a C r u z » .
Desde e n t ã o a c o n s t r u c ç ã o urbana edifjcou-se e
n ã o a t t e n d e u p a r a as c o n d i ç õ e s d o c l i m a da c o l ô n i a .
S e r v i u d c m o d e l o a c o n s t r u c ç ã o do r e i n o . I n f e l i z m e n t e ,
diz V a r n a g e n , c o m o j á s u e c e d e r a n a Bahia e nas d e -
m a i s p o v o a ç õ e s , adoptou-se c o m s e r v i l i s m o o s y s t e m a
de c o n s t r u c ç ã o d e P o r t u g a l e n e m d a A s i a , n e m d o s
m o d e l o s d a a r c h í t e c t u r a c i v i l na P e n í n s u l a , i s t o é , d o
uso dos n u m e r o s o s p a t e p s com r e p u d i o e dos c i r a d o s
o u a ç o i c a s h o u v e q u e m se lembrasse, c o m o mais a p r o -
p ó s i t o p a r a o nosso c l i m a . P a r a estas v i a t í c a s t u d o d e -
pende do principio (1).
N o m e o u a l c a i d e - m ó r F r a n c i s c o D i a s P i n t o , ele 3 0 4
mensaes, l o g a r q u e depois f o i e x e r c i d o p o r J u l i ã o R a n -
g e l , p o r P r o v i s ã o d e 2ÍÍ d e d c J u l h o d e 1 0 8 3 - N o m e o u
t a m b é m a A n t ô n i o R o d r i g u e s de A l m e i d a t a b e l l i ã o c
e s c r i v ã o d e notas e j u d i c i a l ; a B a l t a z a r da C o s t a es-
crivão da C â m a r a . ( 2 )
A y i s i n h a n ç a dos francezes c m C a b o F r i o n ã o
d e i x a v a d e p r e o c c u p a l - o . E d a h i a r a z ã o d o s seus p r e -
p a r a t i v o s d e d e f e s a . S e m q u e esperassem, e n t r a r a m
p e l a b a r r a q u a t r o n á o s francezas « q u e sc d i r i g i r a m p a r a
o r e c ô n c a v o d e S . L o u r e n ç o o n d e est ; v a assente, c o m
sua t r i b u , o p r i n c i p a l M a r t i n A f f o n s o A r i r i b o y a ; c o m
m t e n t o s de se a p o d e r a r e m d e l l c p a r a o e n t r e g a r e m á
v i n g a n ç a dos seus c o n t r á r i o s , m a n d a n d o S a l v a d o r Cor-
r e i a á s o r d e n s d c D u a r t e M a r t i n s soecorros ao c h e f e
a l l i a d o . C o m a vasante da m a r é , as n á o s francezas
a p p a r e c e r a m de m a d r u g a d a e m sccco e p u d e r a m ser
canhone.idas a v o n t a d e p o r u m f a l r ã o ú n i c o q u e h a v i a
e m t e r r a ; m a s v i n d o a enchente se fizeram á v e l a e ao
m a r . D e p o i s f o i S a l v a d o r e m pessoa, c o m r e f o r ç o s q u e
r e c e b e u de S V i c e n t e a t t a c a r os i n i m i g o s c m C a b o
F r i o e a h i a p o d e r o u - s e de u m a dessas n á o s . ( 1 )
Poucos dias d e p o i s cio c o n f l i c t o , diz ' : m c h r o n i s t a ,
c h e g o u o soecorro d e Santos e S. V i c e n t e , e a c h a n d o
j á r e t i r a d o s os i n i m i g o s , c o m generoso s e n t i m e n t o d e
n ã o t e r e m p a r t e na v i c t o r i a , se r e s o l v e r a m a i r hostilisar
aos g e n t i o s de C a b o F r i o , e l o u v a n d o - l h e s o g o v e r n a d o r
a q u c l l c i m p u l s o , s a h i r a m m a i s a n i m a d o s c o m a sua
a p p r o v a ç ã o . Chegando a Cabo F r i o acharam uma em-
b a r c a ç ã o , q u e t i n h a v i n d o F r a n ç a c a r r e g a d a de varias
m e r c a d o r i a s ; e v e n d o q u e as suas f o r ç a s e r a m i n f e -
r i o r e s á s d o s francezes, v o l t a r a m l o g o p a r a esta c i d a d e
p a r t i c i p a n d o a q u e l l a n o t í c i a ao g o v e r n a d o r , q u e se
a l e g r o v b a s t a n t e pelo desejo, q u e t i n h a de dar e x e r c í c i o
ao seu v a l o r ; c a p r o m p t a n d o c o m m u i t a b r e v i d a d e u m
s u f i c i e n t e n u m e r o de soldados b e m armados, i n d i o s c
c a n ô a s , p a r t i u c o m elles p a r a C a b o F r i o , o n d e c h e g o u
c o m t o d a a c a u t e l a e segredo, c t e n d o c o g i t a d o na f o r -
m a l i d a d e , e a c e r t o c o m q u e d e v i a d a r o r e p e n t i n a assalto
ao i n i m i g o , d e u as o r d e n s , e dispoz a sua gente, p a r a a
m a d r u g a d a d o d i a seguinte, no q u a l , á h o r a d e t e r m i -
nada, p o n d o e m e x e c u ç ã o o seu p r o j e c t o , a c c o m m e t t e u
a e m b a r c a ç ã o p o r u m e o u t r o b o r d o : a c u d i r a m os
francezes, o p p o n d o - s e v a l o r o s a m e n t e á s u b i d a dos nossos
s o l d a d o s , q u e tres vezes a e m p r e h e n d e r a m , s e n d o e m
(íj Hist. Ocr. fpt Porto Seguro, vol. 1, pag 3U. Duvidamos que o
combate dc Araribuya tivesse logar no recôncavo de S. (ior.çalo, cemo arfirmam
alguns historiadores. Acreditamos que elle Uvé*ffl lido logar na parte da cidade
do Rio, r.as approximaçòes da Bica dos Marinheiros. Por oceasido do combate,
Arariboya não tinha tomadu po«e da *ua sesmaiia. na aldeia dc S. Lourenco,
o que teve logar a 23 dc Nove:"brn .Ir- 1577. Morava por conseguinte ainda no
mesmo lado da cidade. Além disto, c difJieil cnmpiehender como o* governa-
dores do Rio nesse leinpo pudessem dispensar Martim Affonso. consentindo que
elle fosse utofar em um logar distente da cidade, em vista da situação perma-
nente de guerra em que viviam -
— 52 —
p r o g r a m m a d c g o v e r n o . N ã o foi p e q u e n o d u r a n t e o seu
governo o movimento colonizador. A A n t ô n i o de M a -
rins d e u a l g u m a s d o a ç õ e s d e t e r r a s e m X i c t h e r o y , nas
v i z i n h a n ç a s de A r a r i b o y a ; a D i o g o da R o c h a e a P e d r o
L u i z J u l i ã o R a n g e l na m e s m a r e g i ã o . N o s d e r r e d o r e s
d a c i d a d e , d e u sesmarias a Bajthazar da C o s t a e m C a -
rioca, c o m o a E l y s e o M o n t e i r o , C h r i s t o v ã o Z u a r t e e
A n t ô n i o M o n t e i r o , nas v i s i n h a n ç a s d c seu pae C h r i s -
t o v ã o M o n t e i r o ; ; i F r a n c i s c o V e l h o , G a s p a r de F i g u e i -
redo. Na G á v e a e Tijuca a T h o m é dc Alvarenga.
E m Sapupcma a Clemente F e r r e i r a e G o n ç a l o G i l .
Em I r a j á a Antônio de França. E m Inhomcrim, a T h o -
m é R o d r i g u e s , M a n o e l de Biitto. E m M i r i t y a Braz
C u b a s , E m M a g é a S i m à o f a l c ã o e F r a i c i s c o de M i -
randa B r a n d ã o . E m J a c o t i n g a a Braz C u b a s ; c m
I g u a s s ú a J e r o n y m o F e r n a n d e s e t h o m é de A l v a r e n g a ;
em I n h a ú m a a Si m ã o Barriga e em S u r u h y a A n d r é
Lopes.
C o m o se v ê a c o l o n i s a ç ã o e x p a n d i u - s e e m n ã o
p e q u e n a e x t e n s ã o e m r e l a ç ã o ao t e m p o , d e m o n s t r a n d o
i s t o q u e a a l l i a n ç a dos i n 'ios c francezes j á t i n h a sido
v e n c i d a pelas a n u a s portuguezas.
S u c c e d e u a S a l v a d o r no g o v e r n o C h r i s t o v ã o de
B a r r o s, n o m e a d o c a p i t ã o « d a c i p i t i n j a d o R i o p o r c a r t a
d c 3 1 de O u t u b r o d e 1 5 7 1 « p o r t e m p o de q u a t r o
a n n o s , q u e s e r v i r á c o m os p o i e r e s c a l ç a d a q u e teve e
d e q u e usou S a l v a d o r C o r r ê a d c S á . ( 1 )
C o n t i n u o u nos mesmos c u i d a l o . i de Sal va l o r de
d e f e n d e r a cidade dos a t t a q u e s dos indios e « d e p o i s
q u e c h e g o u ao R i o de j a n e i r o e m todas as g u e r r a s q u e
teve c o m os T a m o y o s f i c o u v i c t o r i o s o e p a c i f j c >u de
m o d o o r e c ô n c a v o c rios d a q u u l l a b a h i a q u e , t o n a los
os f e r r o s das l a n ç a s e n fouce> e as espadas e.n l i n -
chados e enxadas, t r a t a v a m os homens j á s o m e n t e d e
(1) Aitn. d* fídi. Nac., vol. 13, pag. 9l). filiar, de Fl V. dn Salvador.
{2} A sesmaría das torraB onde Christovão construiu o seu Engenho foi
talv.z concedida poi gitaciode Sá, porque ella tem a data dc ia de Outubro dc
— 55 —
D e s t a c a m o s e n t r e as d o a ç õ e s feitas a de M a n o e l
de B r i t t o , a s s i g n a d a e m 1 5 7 7 , o n d e e s t á hoje o M o s t e i r o
de S . B e n t o . C o n s t r u i u as m u r a l h a s e t o r r e s d a
cidade.
P e l o l a d o c i v i l , a a d m i n i s t r a ç ã o teve d e r e c e b e r
o r d e n s de c o n s i d e r a r d e v o l u t a s as terras q u e d e n t r o de
u m a n n o n ã o fossem a p r o v e i t a d a s , p a r a s e r e m n o v a -
m e n t e d e s t r i b u i d a s . Pelo l a d o r e l i g i o s o , h o u v e u m a
r e f o r m a , p e l a q u a l o p a r o c h o da c i d a d e f o i i n v e s t i d o de
a t t r i b u i ç õ e s d o o u v i d o r ecclcsiastico, c o n s t i t u i n d o - s e
d e l e g a d o do B i s p o , nos a r t i g o s d o S a n t o - O f f i c i o , « d e
c u j o t r i b u n a l d c L i s b o a era o b i s p o no Brazil, c o m m i s -
sario ou s u b i n q u i s i d o r » . ( 1 )
C o n s t r u i u m u r a l h a s e torres na c i d a d e e n o m e o u
a l g u n s e m p r e g a d o s da a d m i n i s t r a ç ã o p u b l i c a , dentre
elles F r a n c i s c o G o n ç a l v e s mestre cias f o - t i f i c a ç ô c s . Em
seu g o v e r n o o b t e v e o D r . M a n o e l da F o n s e c a a confir-
m a ç ã o , e m J u l h o d e 1 5 7 4 c 12 de O u t u b r o d c 1575, da
d o a ç ã o d i i l h a G r a n d e , f e i t a c m J a n e i r o de 1 5 5 9 .
A i n d a p r e s i d i a os destinos da c a p i t a n i a , q u a n d o a
m e t r ó p o l e r e s o l v e u , e m fins de 1 5 7 2 , d i v i d i r a c o l ô n i a
e m d o u s g o v e r n o s distinetos- com a t t r i b u i ç õ e s imunes,
dosqu-<es u m presidia o n o r t e , c o m a sede na Bahia ;
o u t r o o s u l , c o m a sede no R i o de J a n e i r o , q u e a t é e n t ã o
r5ti(í, dc J.5Q0 braça* ar» lriüg-i da agia e 7-501) para o scrião Fm 29 dc Outu-
bm Je rflOT. oor conseguiu:*- *,,'••< >i governo dc Men de S:i. elle ohleni uma Oulra
se^nam em M
Ora, (.'hnsinvão foi nomeado governador qo Slo biu 3i de Outubro de iy7i-
Parece, pois; que elle obteve esu* i4ains_rias por procuração ou.que estava então
no Rio naquella rpnea. vindo sna nomeação a enconinrl-o no Hi*» dc Jmeíro.
Çlliislovào de R IMOS veio . ornaimd.indü .1 irmada de so^vorro com i|uc MJ:Í dc
Sá foi vencer os fraiiçezéí, *ni llis do c começou de ]5iÍ7, prov-ivebn.niie
acompanb ido por Chniov:ia. lendo ÚIVI*Í;depois di>*lo rc.irc.s.i.Ui á eôrtè, Kol
naquclli esUd* :io Rio que obteve aija«!ta« 'romarias., devendo estar na corto
quaudo foi nomeado tiovcrnaJ->r.
O engenho de M"pé pas-ou ao filho dc Chrí-tovJo—An km Io Cardoso de
Bano* q-ae n vendeu J Alem. Gotn^s Oiorio que tm 12 ,le Abril de liíOS
vendeu a R ihUaiar da Coita .is lerrts p:ricuccntc> ao tugeolio e que riciv.nn
dc uma ouira banda do rio Merery.
(1) IJistaria (Jerj/ iio BrjfH^ por VIM. de INirio Seguro, vol. I", pag.
•3-4. A provisão desi.i nomeação fciti por D. Pudrv Ceitiu, em ^5 dc Agosto oe
Agosto de 15t!í, cíià publicada no 1'* vol. fios Ar.nivos .ío Districto Fcátral.
pag. 93. . ..- ; , . - . . . ' * ... , % .
— 56 —
(11 Hist. Crr. ,!•> Brc:i! por Porto Sdpmó, vol. 1", pag.
t
,2> Nío saiamos a Jata da pos?e do Salema. Diz Fx, Vir.ante do Salva-
dor que 'Salema estava na Bíliiá;, donde st- partia cm o anno de 1575 e foi bem
recebido no Kio de J-nciro, assim pelo capitão-mur Cbrisínvan Barros. corro
de tod"s os rortu£i;-/e* c indios principies jjfcç ovi-ilaram. Hslava de «n rei-
ç&o em reinamhurn quando Tcccbou a n oi id a dc sua nomeação, fcm Coimbra
nregeu uma cartajia üc IrUUtuto c a»c. deira do Çoíiigo e p.issaia â Casa da
Siipplk-açào. sendo irar.dado com alrada. em íorrcicâo em rcrnambur.n. quando
leve a noticiai Hist. Gcr. ,io Brãiil por Varrvagem.
— 57 —
c i ê n c i a s para p ô r e m e x e c u ç ã o a nova l e i s o b r e l i b e r d a d e
dos indios. JZ p o r isso s ó t o m o u posse d o g o v c r n o . d o
R;o c m fins de 1 5 7 5 o u c o m e ç o de 1 5 7 0 .
A p e r m a n ê n c i a d o s francezes e m C a b o F r i o , a
f..serem c o n t r a b a n d o d c p á b r a s i l , n ã o era c o n v e n i e n t e
aos i n t e r e s s e s d a n o v a c a p i t m i a . F o i esse, pois, o p r i -
m e i r o assunipto ã p r c o e c u p a r a a t t e n ç ã o d o , n o v o go-
v e r n a d o r q u e , c o m as f o r ç a s q u e poude r e u n i r , f o i
attacal-os.
Salema, p ò u d c r e u n i r no R i o m i l homens c o m q u e
d e v i a i r c o m b a t e r os a i l i a d o s de C a b o l r i o , v i n d o s do
;
E s p i r i t o S a n t o e S . V i c e n t e a t é o d e l e g a d o do dona-
t á r i o , J e r o n y m o L e i t ã o q u e v e i o l a m b e m trazer o seu
a u x ü i o . (1)
P a r t i u d o U i o a 2 7 de A g o s t o de 1 5 7 5 com a c o m -
panhia que organizara e « n o :ii.i immediato encontraram
u m a a l d e i a d c T« m o y o s , f o r t i f i c a d a m a r a v i l h o s a m e n t e
c o m o a u x i l i o de d o u s francezes e u m i n g l e z , d e r a m - l h e
cerco, a q u e r e s i s t i r a m os indies, m o r r e n d o m u i t a g e n t e
de p a r t e a p a r t e . D i a d c S . M a t h eus, 2 1 de Novem"-
b r o , p a r l a m e n t o u com J a p i g n a ç ú , c h e f e da fortaleza o
jesu*ta l i a l t h a z a r A l v a r e s , q u e c o m L u i z G o n s a l v e s
acompanhava a e x p e d i ç ã o .
N o outro dia, J a p í n g u a ç ú compareceu perante
Salema, q u e e x i g i u a e n t r e g a dos t r ê s e s t r a n g e i r o s , a
d e m o l i ç ã o da f o r t a l c z i , a e n t r e g a dos i n d i o s de o u t r a s
aldeias, q u e t i n h a m a c u d i d o e m a u x d i o . O s estrangeiros
f o r a m e s t r a n g u l a d o s e efeirene une m o r t des plus belles
q u í l erait p o s s i b ' e » ( 2 ) F o i c o m p l e t a a v i c t o i i a de Sa-
l e m ; . p o r q u e « d o s i n d i o s entregues, c e r c a de q u i n h e n t o s
irecheiros, f o r a m uns m o r t o s , reduzidos o u t r o s a escra-
v i d ã o » . C o m e l l a « q u e teve l o g a r a 2 6 de S e t e m b r o ,
Varuaudjcu.
- 58 —
os h a b i t a n t e s de t o d o o C a b o F r i o a t e r r o r i s a d o s d e i x a -
ram suas aldeias e f u g i r a m ; m a s A n t ô n i o S a l e m a desc-
j o s o de p r o s e g u i r sua victoria, c n c a l ç o u os passo a passo,
m a t a n d o mais de dous m i l e fazendo q u a t r o m i l p r i s i o -
neiros, e n t r a n d o nestes q u i n h e n t o s meninos q u e f o r a m
b a p t i s à d o s n o d i a d e Santa Catharina (25 dc N o v e m b r o ) . »
F o i u m a v e r d a d e i r a c a r n i f i c i n a , c u j a influencia f o i pro-
f u n d a no e s p i r i t o do g e n t i o q u e f i c o u e m v e r d a d e i r o
estado de p â n i c o c s u b m i s s ã o , r e n d e n d o se todas as
aldeias d e T a m o y o s d o s e r t ã o de P a r a h y b a até
Macahé (1).
A c i d a d e d o R i o ficou e m c o n d i ç õ e s m a i s f a v o r á -
veis para t r a c t a r d a p r o s p e r i d a d e da l a v o u r a q u e j á se
fazia e m seus a r r c b a l d e s . c o m o T i j u c a , B o t a f o g o , L a r a n -
jeiras, Cattete, G iyeá, S. C h r i s t o v ã o e A n d a r a h y , por-
q u e e m todas estas paragens, c o n s i d e r a d a s n ã o c o m o
r e c ô n c a v o da c i d a d e , ia creando-se u m t r a b a l h e a g r í -
cola d e certa i m p o r t i n c i a . J á se t i n h a m c o n s t r u í d o
. i m p o r t a n t e s e n g e n h o » de assucar, e m M a g é , em R o d r i g o
de F r e i t a s , e S . C h r i s t o v ã o e e m o u t r o s p o n t o s q u e
i n d i c a r e m o s adiante. O p r ó p r i o S a l e m a t i n h a c o n s t r u í d o
e n g e n h o , e n g e n h o de E l - R e i , e m R o d r i g o de F r e i t a s ,
c m q u e gastou m i i d e tres m i l cruzados e q u e n ã o v a l i a
n e m q u i n h e n t o s , c o m o disse C h i s t o v ã o de B a r r o s ao
r e i , em c a r t a d c 18 de N o v e m b r o de 1 5 7 8 , p e d i n d o - l h e
q u e mandasse c o b r e s para o e n g e n h o o u o r d e m d e v e n -
dei o . ( 2 )
Realisou-se a s e g u n d a h y p o t h e s e , isto é , a v e n d a
d o e n g e n h o a D i o g o d e A m o r i m Soares, h o m e m rico,
possuidor de casas em diversas ruas da cidade, morador
no morro do Castello, sobretudo na rua Direita, chãos
e casas que foram vendidas a üiogo Martins, primeiro
escrivão de orphãos do Rio de Janeiro, no anno dc 160».
O comprador do engenho foi Sebastião Fagundes, um
dos mais notáveis de sua geração pela ?üa riqueza c a
venda teve logar em Junho cie 1609, dizendo Amorim
Soares na respectiva escriptura que o vendia engenho
a Sebastião Fagundes ada mesma maneira porque Sua
Magestade lhe vendera. (1)
As communicações que a industria assucareira c
agrícola da Lagôa Rodrigo de Freitas e Botafogo, cha-
mada então praia de João de Souza obrigavam com a
cidade fizeram com que Antônio Salema fizesse um me-
lhoramento para attènder aquella circumstáncia. Con-
struiu uma ponte sobre o braço principal do rio Carioca
que desembocava justamente perto do I lotei dos Es-
trageiros.
Esta ponte durante muito tempo teve o nome de
ponte de Salema e depois ponte dc Leripe. (2)
•
(1) Liara afe Notas do r" ej rio rio do Mio, hoje do Tabrlllà Castro de
llíOã a ltilia, N.i opiuià> do Mello Moraes, este engenho foi vendido a Mariin de
^à Ooe coastriiiii Ü capella de Nõsiá Senhora dá Cabeça, aínda boje rxi-'.cnte.
EviJcnicnie.tie ha um engano dc UtcIU) Mut is*. .porque M-riin de Sá construiu
abi um cage^ho. snn ser ciurcunta o engenho de Ei-Mel sob a invocação dc
Nossa Sen nora da Hiicaroaçan, quand) o outro de Ujrtia.de Sá era da ir.vocacão
ue NOS-^J Sc-Uora d.i Cabeça, Alem diiio, Seh.is:t:iri bagondes. a quem fJÍugo
de Amnrim S. ares ve ideu o Engenho dc Tl-fíeí, em junho dc 1009, allcga em
tfilT, que y-n dcsp.^liit- CiiUira, devu ser elle o níijcj que »i:sassc dos.
Í jSU» que existiam na Lagoa, requerendo o atoramento dei lei que JI<: MIÇOU.
o iexio petição Sebastião K-igaudes ccai?nstra nao só a exi-temúa do
engenho de Mirim dc Sá, com i achat-se tlle cai acimiade ncsia epoei., usu-
fruindo ecultiviodo a S-UJ propriedade. Já se mH»V)i uma grando creação dc
gado nesteâ paaios de pagando» s Martin de csUb-lecendo-se o* primeiro»
dcçnv dviaicntos de nos"a industria ptstoril. paia " abS*lcçiuicuto da cidade.
A*%im, pois. em 1 *í tT f vo Sebastiãotfagunde*o privfíegia d.i pnsse da* partes
clrcumvistnhas di l.agoi, respeitando os Inniics da piopriedade vtiulia dc
Sá' hstes dou* proprietários il.ir^av^m os S;UÍ domínios ícrriiorUc» am direoçâo
opposta : SelusUáo Fagu:'.de^ para o rio dos Macacos c Mjrnn dc Sá para
Botafogo.
Parece que Amoritu Soares ou teve gí.nidèí desgosto* cm sua vida parii>
cul-r ou publica que iiiutjvdram a sua mudança desta cidade, uu veio a incidir
em uma grave crisefinanceiraque o obrigou a vender todas as sua* prl: priedades.
(Notas tiradas da leiiura por nos feitas nos primeiros livros de notas do primeiro
cariorio dc&ta cidade;.
(2) Esciipturas e afournenlo* de começo do tceulo XVII,
— 6 0 —•
s e . I í a h i e s t ã o os d o u s l a c t o r e s m a i s p o d e r o s o s d a
c o l o n i s a ç ã o , a ç u l a u d o a c o b i ç a dos c o l o n o s c d o s g o -
vernos—minas e indios.
O r e g i m e n dos d o u s g o v e r n o s , i n d e p e n d e n t e » e n t r e
si, n ã o d e v i a c o n t i n u a r , na o p i n i ã o d a m e t r ó p o l e . A s
suas i n c o n v e n i ê n c i a s ap cabo d.-í q u a t r o ' annos e r a m
m a n i f e s t a s » . A s f o r ç a s da c o l ô n i a e n f r a q u e c i a m se
n o t a v e l m e n t e , de m o d o q u e se t o r n a v a m m e n o s ap:as
para n c n d i r j u n t a s a u m p o n t o o n d e sc apresentasse o
inimigo». N a opinião dos p r ó p r i o s delegados da coroa
a a d m i n i s t r a ç ã o d e v i a c e r . t r a l í s a r s e , pnra f o r t i f i c a r - s e .
E e n t ã o , emquanto a m e t r ó p o l e annullava a dua-
l i d a d e d e g o v e r n o , n o m e a n d o c a p i t ã o cia B a h i a o g o -
v e r n a d o r g e r a l a L o u r e n ç o da V e i g a , a 12 de A b r i l d c
1 5 7 7 e a 12 de S e t e m b r o d o mesmo a n n o c o n f e r i a a
S a l v a d o r de S á o g o v e r n o cio R i o , « d e v e n d o L o u r e n ç o
d a V e i g a , c m v i r t u d e da distancia a q u e ficava esse g o -
v e r n o , m u n i l - o de m a i s p o d e r e s no acto d c l h e d a r
p o s s e » , d e s m e m b r a v a o b i s p a d o de S . S a l v a d o r as ca-
pitanias d o s u l , n o m e a n d ô - s e p a r a c i l a s u m a d m i n i s t r a -
dor ecclesiastico, i n d é p e n d e t e d a j u r i s d i ç ã o d o bispo.
A a d m i n i s t r a ç ã o c i v i l m a r c h a v a da d e s c e n t r a l i s a ç ã o
p a r a a^ c c n t r a l i s a ç ã o . A a d m i n i s t r a ç ã o r e l i g i o s a , ao
c o n t r a r i o , t i n h a u m m o v i m e n t o opposto. E n o fim d o
s é c u l o ç r e o u - s e o b i s p a d o de S . S e b a s t i ã o . ( 1 )
Salema f o i substituído por Salvador Correia de
S á , q u e de n o v o a s s u m i u a a d m i n i s t r a ç ã o , s e m q u e sai-
b a m o s o d i a e m q u e t o m o u posse d e l i a ' ( 2 )
A norncaçãodcSalvadorfaziarcnascerahegemonia
d a f a m i l i a S á na p o l í t i c a d o R i o de J a n e i r o q u e p e r d e r a
u m p o u c o c o m os g o v e r n o s de C h r i s t o v ã o d c B a i r o s e
A n t ô n i o Salema
A g o r a v o l t a v a e l l a de n o v o a firmar u m p e r í o d o
l o n g o d e p r e s t i g i o , p o r q u e o g o v e r n o de S a l v a d o r l o i
m u n o m a i s l o n g o de q u e os anteriores.
P e l a s e g u n d a vez f o i n o m e a d o c a p i t ã o e g o v e r n a -
d o r d o R i o p o r A l v a r á d c 12 d c S e t e m b r o de 1 5 7 7
( 4 ) , e m v i s t a dos s e r v i ç o s , dizia a c o r o a , q u e m e t e m
f e i t o nas partes d o B r a z i l e d a boa c o n t a q u e de si d e u
no t e m p o q u e s e r v i u de c a p i t ã o da c i d a d e d o R i o de
J a n e i r o , o n d e M e n de S á do m e u ' c o n s e l h o e g o v e r n a d o r
g e r a l q u e f o i das ditas p a r t e s o d e i x o u p r o v i d o d o d i t o
cargo e c o n f i a n d o d e l l e q u e de q u e o e n c a r r e g a r m e
s e r v i r á c f a i á c o m o o m e u s e r v i ç o c u m p r e » , p o r tres
a n n o s c o m os poderes e a t t r i b u i ç õ e s dos g o v e r n a d o r e s
das o u t r a s c a p i t a n i a s » . O g o v e r n a d o r g e r a l p o d i a a m -
p l i a i as, s e g u n d o as e x i g ê n c i a s da a d m i n i s t r a ç ã o e c o m
o o r d e n a d o d c ! 0 0 & annua?s. S a l v a d o r e s t a v a e m
L i s b o a q u a n d o f o i n o m e a d o , sendo q u e a causa p r i n -
cipal de sua v i a g e m á m e t r ó p o l e f o i talvez c o n q u i s t a r
essa n o m e a ç ã o , p o r isso q u e a f a m i i i a S á i a p o u c o
a p o u c o sendo arredada d o g o v e r n o d o R i o , c o m o u m
f a c t o de g r a n d e i n j u s t i ç a , e m v i s t a dos g r a n d e s s e r v i ç o s
prestados pelos seus p a r e n t e s na g r a n d e o b r a da c o n -
quista. R e c e b e u o r d e m expressa da c o m a d e n ã o t o c a r
na B a h i a nem em n e n h u m a o u t r a c a p i t a r i a , d e v e n d o
assumir o g o v e r n o p e r a n t e a C â m a r a d o R i o d e J a n e i r o .
P e s d c q u e S a l v a d o r v e i o c o m o seu l i o M e n d c S á á
o b r a d a c o n q u i s t a , ficou t u r r a n d o no R i o de Janeiro,
c o n s t r u i n d o u m e n g e n h o na ilha do G o v e r n a d o r , c u j a
m e t a d e l h e f o i d a d a em sesmaria. ( I )
N o s p r i m e i r o s annos de seu g o v e r n o t e v e de l u e t a r
c o m a l g u m a s d i r h c u l d a d c s . O d o m í n i o da H c s p a n h a
s o b r e P o r t u g a l inspirara ao P r i o r d o C r a t o u m a p o l í t i c a
de deslealdade e p e r f i d i a s c m r e l a ç ã o ao B r a z i l , no sen-
t i d o de manter-se P o r t u g a l p r o t e g i d o pela F r a n ç a , d i -
zendo-se a t é q u e e l l e c h e g o u a o r í e r e c e r - l h e o B r a z i l a
t r o c o d c 1 2 . 0 0 0 i n f a n t e s . D o m i n a d o p o r essa p o l í t i c a ,
escreveu aos g o v e r n a d o r e s d o B r a z i l c á s suas c â m a r a s ,
c o n f i a n d o as c a r t a s á s n á o s francezas, ainda q u e no Bra-
zil j á se tivesse d a d o a a c c l a m a ç ã o d e F c l i p p e I I .
A l g u m a s destas n á o s e n t r a r a m no p o r t o d o R i o , n ã o
a l c a n ç a n d o a sua g u a r i t i ç ã o d e s e m b a r c a r p o r causa d a
r e s i s t ê n c i a offcrccida p o r Salvador. (2)
, r^trTT" 3
4 !r, >'
q U C p o
Htuaeio dc Bulhões ria mesma ilha
c m
J
M r 3
K ^ « n i ^ ° V . , f "7"^ * ?°
a
«u. 6 de Novembro Jc 1565 e a dc
d 4
„
i l r l ^ " « " " v e o d o a opitúúo de Soares, áit. CapiMu.no em suas notas 3
Í L . 4 . ?' Sebasi.áo <açrade^ndo-lhcs o que haviam feito
c,Ja c dQ
cm seu seu serviço-. Teve i,i» logar cm l&Sr. Antes de 18 dc Maio dr ISSO ha-
viam estado quatro r.áes dc ucrra íranccias 1,0 Rio. tí
— 63 —
I V . V i c e n t e d o S a l v a d o r descreve c m sua o b r a
u m a destas t e n t a t i v a s q u e t e v e l o g a r p r o v a v e l m e n t e
e m 1 5 8 3 : c h e g a r a m t r e s n á o s francezas no R i o d e
J a n e i r o e s u r g i r a m j u n t o ao b a l u a r t e , q u e e s t á no p o r t o
d a c i d a d e , d i z e n d o q u e i a m com u m a c a r t a d c D . A n -
t ô n i o p a r a o c a p i t ã o S a l v a d o r C o r r e i a de S á , o q u a l
n e s t a o c e a s i ã o e r a i d o ao s e r t ã o fazer g u e r r a ao g e n t i o ;
mas o a d m i n i s t r a d o r B a r t h o l o m e u S i m õ e s P e r e i r a q u e
h a v i a ficado g o v e r n a n d o e m seu l o g a r e estava i n f o r -
m a d o d a v e r d a d e p e l a carta d o g o v e r n a d o r g e r a l ( M a -
noel T e l l e s B a r r c t t o ) lhes r e s p o n d e u q u e se fossem
embora, porque j á sabiam q u e m era o r e i . E p o r q u e a
c i d a d e estava s e m g e n t e e n ã o h a v i a m a i s n e l l a q u e os
m o ç o s estudantes e alguns velhos que n ã o p o d i a m i r a
g u e r r a d o s e r t ã o , d e s t e s se fez u m a c o m p a n h i a e D o n a
I g n e z de Souza, m u l h e r d e S a l v a d o r C o r r e i a , fez o u t r a
de m u l h e r e s c o m seus chapeos na c a b e ç a , arcos e fle-
c h a s nas m ã o s , com o q u e c c o m o m a n d a r e m tocar m u i -
tas c a i x a s e fazer m u i t o s f o g o s de n o i t e p e l a p r a i a
fizeram i m a g i n a r aos francezes q u e e r a g e n t e p a r a de-
f e n d e r a c i d a d e e assim, a c a b o de dez a doze dias,
l e v a n t a r a m as â n c o r a s e se f o r a m » . ( 1 )
M a i s o u m e n o s p o r este t e m p o , e n t r o u no R i o d c
J a n e i r o a poderosa a r m a d a de D i o g o F l o r e s V a l d c z , a
2 4 d c M a r ç o d c 1 5 8 2 . E « o t e m p o d a estada no R i o ,
salvo as e n f e r m i d a d e s , passou-se e m resgates de pau
brazil e outras mercadorias e r u s g a s e n t r e os chefes,
s e n d o estes resgates v e r d a d e i r o s peculatos q u e se es-
tenderam a S. V i c e n t e , onde f o i tomada carga de
assucar.)» ( 2 )
P a r t i u e l l a do R i o a 1 de N o v e m b r o ,
(1) Fr. VJC«»1Í do Salvador Obr. Cie Annaes <f.t llibl, N*<, vol. 13
pag, UÍ7.
(2) Azevedo Marquei Apout-xm^iila, 3.219.
— 64
A s entradas r e p e t i d a s d e n á o s estrangeiras n o
R i o d c Janeiro o b r i g a r a m S a l v a d o r a c o g i t a r d a f o r t i f i -
c a ç ã o da c i d a d e , a l é m dos p e d i d o s feitos a m e t r ó p o l e
de remessa d c a r m a m e n t o s q u e l h e f o r a m r e m e t t i d o s .
E p o r esta o c e a s i ã o a c o r t e consulta-o se d e v i a de pre-
ferencia f o r t i f i c a r o R i o o u p o v o a r C a b o Frio, sendo de
parecer q u e « s e r i a f á c i l p o v o a r - s e o C a b o , c o m g e n t e
d e l i a m e s m o c isto c o m t a n t o mais r a z ã o , q u a n t o C a b o
Frio n ã o havia â g u ã s e n ã o muito pela terra d e n t r o » . (1)
S a l v a d o r p r o p o z e n t ã o q u e sc fizesse f o r t a l e z a na L a g e
« q u e e s t á na e n t r a d a da b a r r a » ; p o r é m , d e p o i s c o n -
s u l t a n d o m e l h o r o caso c o m u m e n g e n h e i r o q u e no por-
to ficara da a r m a d a castelhana, c o n v e i o , c m v i r t u d e da
f a c i l i d a d e d c t e r cs materiaes, c e m v o t a r por duas for-
talezas nos p r o m o n t o r i o s da mesma b a r r a , s e g u n d o os
t r a ç o s ou plantas q u e m a n d o u ao s o b e r a n o » . ( 2 )
O s j e s u í t a s p r o s p e r a v a m c cada vez mais p r e p o n -
d e r a v a m sobre o g o v e r n o p a r a , na c o l ô n i a , a g i r e m e m
interesse d a o r d e m , n a q u e t ã o d o c a p t i v e i r o d o i n d i o .
O b t i v e r a m elles d i v e r s a s d o a ç õ e s de t e r r a s . E m 2 4 de
Janeiro f o i c o n f i r m a d a de 1 5 8 3 aos indios das aldeias de
S. B a r n a b c e S. S e b a s t i ã o , u m a s e s m a r i a d e d u a s l é g u a s ,
j u n t o d a fazenda dos padres e aos de S . L o u r e n ç o ,
o u t r a de q u a t r o l é g u a s , de M a c a c ú á S e r r a dos Ó r g ã o s ,
t a m b é m j u n t o á s t e r r a s dos p a d r e s . O s b e n e d i c t i n o s
t a m b é m o b t i v e r a m u m a sesmaria p a r a as b a n d a s d e
M a c a c ú , no r i o G u a p y , e m A b r i l d c 1 5 9 0 .
C o m e ç o u a c o n s t r u c ç ã o da I g r e j a de S. S e b a s t i ã o
q u e ficou c o n c l u í d a c m 1 5 8 3 . ( 3 )
I
— 65 —
D o o u aos r e l i g i o s o s c a p a c h o s d c S a n t o A n t ô n i o ,
e m 15!)2, a e r m i d a de S. L u z i a , os q u a e s n ã o a acceita-
r a m por achar-se v i s i n h a dos j e s u í t a s . ( 1 )
P r o t e g e u os b c n e d i c t i n o s q u e , j á estabelecidos na
B a h i a , o r g a n i s á r a m o u t r a a b b a d i a no R i o de J a n e i r o ( 2 )
e os c a r m e l i t a s . ( 3 )
Estas ordens religiosas q u e t a n t o se desen-
v o l v e r a m no B r a z i l , t i n h a m - s e f u n d a d o n o R i o de Ja-
n e i r o , sob a p r o t e c ç ã o d c S a l v a d o r de S á , e m c u j a ad-
m i n i s t r a ç ã o attendeu solicito para o desenvolvimento
m a t e r i a l da c i d a d e e o d e s e n v o l v i m e n t o da l a v o u r a , q u e
j á sahia da phase r u d i m e n t a r , p a r a a phase d a i n d u s t r i a
a g r í c o l a d a canna. M u i t o s engenhos j á existiam.
E i s os f á c t o s p r í n c i p a e s do g o v e r n o de S a l v a d o r
C o r r e i a de S á q u e m o r r e u , s e g u n d o d i z S i l v a I . i s b ô a ,
c o m c e n t o e tresc annos, e m 1 6 3 1 . (1)
F o i s u c c e d i d o por F r a n c i s c o de M e n d o n ç a e V a s -
concellos. ( 2 )
A e x p l o r a ç ã o das m i n a s j á despertava a a t t e n ç ã o d a
m e t r ó p o l e e d a c o l ô n i a , a c u j a p o l í t i c a associava-se este
e l e m e n t o n o v o , q u e se c o n s t i t u í a c o m o u m f a c t o r d a co-
l o n i s a ç ã o , das e x c u r s õ e s p e l o i n t e r i o r , p a r a c o n h e c e r a
zona o c c i d c n t a l , a b r i n d o assim as p r i m i t i v a s estradas q u e
h a v i a m de c o m m u n i c a l - a c o m o l i t t o r a l c l a n ç a r os g e r -
m e n s d o sen p o v o a m e n t o . A g u e r r a dos í n d i o s p a r a
captival-os e ? e x p l o r a ç ã o das m i n a s , p o d e m ser c o n s i -
d e r a d a s c o m o as causas p r i u c i p a e s d o c o n h e c i m e n t o d a
geographia do interior da colônia c da e x p a n s ã o do seu
povoa m e n t o .
N a o o b s t a n t e o insuecesso d e G a b r i e l S o a r e s n o
R i o d e S. F r a n c i s c o , o p r ó p r i o g o v e r n a d o r da c o l ô n i a
e n t e n d e u v i r e x p l o r a r as m i n a s d e S V i c e n t e , a s s i m
c h a m a d a s e j á t ã o celebres. S u h i u d a B a h i a e m O u t u b r o
d e 1 5 9 8 e d e p o i s d c passar e m E s p i r i t o S a n t o , a p o r t o u
. ao R i o de Janeiro, o n d e f o i r e c e b i d o p o r M e n d o n ç a e
Vasconccllos e do povo todo com m u i t o applauso por
ser p a r t e o n d e n u n c a v ã o os g o v e r n a d o r e s g e r a e s ; e
assim achou tantos p l e i t o s civis c c r i m e s i n d í c i o s , q u e
p a r a os h a v e r d e j u l g a r lhe í ô r a n e c e s s á r i o deter-sc a l i
muito t e m p o » . (1)
«urp . L ?
r
(2
c
âw $abem
?* ° ? ia A
" M C C C M f l
" - fc" opinião de Mello Mornos, o uovu
3
(1) I r . Vicente do Salvador. An. ,i.i 8;òí, tfac, vol. 13, pag. 162.
(2) Chegado o ouvidor o ceando o governador para Sc partir, lhe toma-
ram a barra quatro galeões dc corsários, o qual ctHendeM que haviam dc sahir
á terra a tomar ajiua na ribeira da Carioca, lü" nianduu pôr gSnlc cm ciladas
junto d elle j e assim aconteceu que indo qoalítt lanchas e sahiudo primeiro a
gente sn de uma e tendo jà a água inalada para se torr.arem a embarca., lhes
sahÍT;,m os nossos c os mataram todos, BJtcepto dous que levaram mal feridos ao
governador e os das outras lanchas vendo isto sc tornaram ás gales, nas quavs
sabendo de um uiainaluce que haviam tonfado cm uma canoa, que estava o go-
vernador D. Francisco dr Souza c determinava mandar-lhe* ipir-imar os navios,
os fizeram logo a vela e lhe deixaram a barra livre, para seguir sua viagem, como
seguiu,> Fr. Vicente do Salvador. Obr. Cit.
— 68 —
n a v i o s d c c o m m e r c i o ; 1 0 r é i s nas f a r i n a s da t e r r a q u e
sahiam para fóra e 8 0 r é i s s o b r e os t r i g o s d c B u e n o s
A y r e s . (1)
D e a c c o r d o com a C â m a r a prohibiu o andarem
armados os í n d i o s e escravos de a r c o c flecha e q u e se
devia e m b a r a ç a r a sahida dc mantimentos e mercado-
rias s e m l i c e n ç a do g o v e r n o m u n i c i p a l , s a l v o q u a n d o
excedesse o consumo p u b l i c o e q u e n i n g u é m p o d i a v e n -
d e r em loja p u b l i c a s e m p r é v i a l i c e n ç a d a m u n i c i p a l i -
d a d e . (2) r
S u c c e d e u a M e n d o n ç a de V a s c o n c e l l o s , M a r t i n
C o r r e i a de S á , filho de S a l v a d o r C o r r e i a de S á e d c sua
terceira m u l h e r D . V i c t o r i a d a Costa, ( 3 ) que repre-
s e n t o u i m p o r t a n t e p a p e l na c o n q u i s t a do R i o Não
sabemos a d a t a em q u e assumiu a a d m i n i s t r a ç ã o . M a s
e m 1 6 0 3 j a g o v e r n a v a o R i o ( 4 ) e p o r isso o e s t u d a r e -
mos a d i a n t e , p o r q u e é o p r i m e i r o g o v e r n o d o s é c u l o
A V I I . l i m i t a n d o - s e este c a p i t u l o aos g o v e r n o s do R i o
de J a n e i r o no s é c u l o X V I .
•
CAPITULO IV
A cidade no sceulo X V I
M a s , a escolha do m o r r o t e m para n ó s a s e g u i n t e
e x p l i c a ç ã o : era u m a e s p e c i e d e atalaia, d e f e n d i d a pelas
lagoas q u e a cercavam e q u e s e r v i a m de m e i o de d e f e s a
c o n i r a as m o p i n a d a s i n v a s õ e s dos i n d í g e n a s . A p r o x i -
m i d a d e d o p o r t o e x e r c e u sua i n f l u e n c i a , s e r v i n d o para
t r a ç a r a d i r e c ç ã o das ruas, q u a n d o a c i d a d e descesse
do morro para a p l a n í c i e .
P a r a , a t é c e r t o ponto, a l t e n u a r a p o s s l b i l i b i l i d a d e
das i n v a s õ e s , M e n de S á c o n s e r v o u , p e r t o da c i d a d e , o
seu f i e l a l l i a d o A r a r i b o y a q u e S á , m u i t o - m a i s t a r d e ,
t r a n s f e r i u a r e s i d ê n c i a p a r a o lado o p p o s t o da b a h i a ,
nas t e r r a s cedidas por u m dos p r i m e i r o s p r o v e d o r e s da
fazenda d o R i o , D . A n t ô n i o de M a r i n s C o u t i n h o , o p r e -
t e n d i d o D . A n t ô n i o de M a r i z d o r o m a n c e Guarany.
K m v i r t u d e de a m p l a s c o n c e s s õ e s feitas p e l o r e i
D . S e b a s t i ã o , os j e s u í t a s e s c o l h e r a m no C a s t e i l o l o g a r
p r ó p r i o para a f u n d a ç ã o d e seu c o l l e g i o .
C o m o se sabe, as o b r a s d e s t e c o l l e g i o f o r a m d e -
moradas, mas, j á e m 1 5 8 5 , o p a d r e F e r n ã o C a r d i m ,
g a b a v a as e x c c l l e n c i a s d e s t a casa r e l i g i o s a , a solidez
d o s seus c u b í c u l o s , a c o n s t r u c ç ã o d e u m a n o v a i g r e j a
d e p e d r a e cal e s o b r e t u d o as e x c e l l e n c i a s da c e r c a o n d e
se c u l t i v a v a m fruetos s u p e r i o r e s aos d e P o r t u g a l e a t é
a vinha.
O p a d r e I g n a c i o de A z e v e d o , q u e a c o m p a n h a r a
M e n de S á na c o n q u i s t a do R i o , o b t e v e a d o a ç ã o e r e -
gressando a L i s b o a , d e i x o u N o b r e g a e A n c h i e t a encar-
r e g a d o s da c o n s t r u c ç ã o d o t e m p l o , q u e e m p o u c o t e m p o
estava c o n c l u í d o . ( 1 )
A l é m d o c o l l e g i o dos j e s u í t a s , f o i c o n s t r u í d a a
igreja matriz. C o m e ç a d a por Salvador C o r r ê a e m 1572,
s ó v e i u a ser c o n c l u í d a e m 1 5 8 3 , e m s e u segundo
governo.
E m c o m e ç o , era u m a e r m i d a de taipa que, desde
l õ f í í ) , f o i e l e v a d a a m a t r i z d a f r e g u e z i a de S. S e b a s t i ã o ,
zona e n x u t a da p l a n í c i e , a t e r r a n d o p o u c o a p o u c o as
partes circumvisinhas.
H a b í l a d m i n i s t r a d o r , M e n de S á v i u q u e c m b r e v e
os h a b i t a n t e s d e s c e r i a m d o m o r r o e p o r isso e m 1 5 6 7
a l t e r a v a a d i r e c ç à o das t e r r a s d a d a s ao C o n s e l h o p o r
E s t a c i o , eni 1 5 6 5 .
N e s t e l a r g o , o n d e e s t á h o j e e d i f i c a d a a c a p e l l a dos
T e r c e i r o s do C a r m o , j u n t o a o a n t i g o P a ç o I m p e r i a l ,
e x i s t i a a e r m i d a de Nossa S e n h o r a d o O ' , q u e s e r v i u d e
r e s i d ê n c i a , p o r a l g u m t e m p o , aos b e n e d i c t i n o s f r e i P e d r o
F e r r a z e i r e i J o ã o Porcalho, o f u n d a d o r d a o r d e m , n o
R i o de J a n e i r o . ( 1 )
« N ã o f i c o u l e m b r a n ç a , diz o c h r o n i s t a Dictario
manuscr/pío, d o dia e a n n o c m q u e se m u d a r a m os
nossos m o q g e s f u n d a d o r e s p a r a sua n o v a h a b i t a ç ã o ,
p o r e m , s a b e m o s q u e se d e t i v e r a m p o u c o na e r m i d a d e
Nossa S e n h o r a d o O ' , e c o n t a m q u e , q u a n d o se m u -
d a r a m para este m o n t e , h o u v e u m a copiosa c h u v a na
f o r ç a d u m a secca r i g o r o s a , p r i n c i p i a n d o a c h o v e r l o g o
q u e o p a d r e f r e i J o ã o P o r c a l h o e n t o o u o c a n t i c o » c l o He-
neduttts p a r a a p r o c i s s ã o » .
Mas, « n o g o v e r n o d o p r i m e i r o p r e s i d e n t e — o pa-
dre frei Pedro F e r r a z — c o m e ç o u a c o n s t r u c ç ã o do mos-
t e i r o , á custa das esmolas q u e a n a s c e n t e p o v o a ç ã o
podia fazer» .
N e s t a mesma e r m i d a e s t i v e r a m c m l õ ! > 0 os car-
melitas frei Pedro V i a n n a e o u t r o s . E l l a lhes foi doada
fl) A mora d,i no si'.io onde se- achava esta ermida, isto é. no centro da
cidade e rtó im-iu do tumulto do mando, nio podia convir ao recolhimento usual
dos lilaos de S. B^u'.o, que em todi a parte procuravam os ermos e a solidão
para exercitar a santa regra do patriarchi. Lauçarâfri pois suas vistas sobre o
UVOOIÉ, em qa.ç boie acha e.hlic.ido o rpostajro então propriedade de Manuel
de fínii e dn s'*u filho Dio.30 de Hritt? Lacerda por sesnana pedida aos 14 de
Seiemhrn dt- 1573. comprebendia e*t;i pMpiiediide não sò o próprio outeiro,
'.ode havia mus ermida dedicada ;i Nossa Senhora da Conceiçíln edificada por
AleíJío Manuel o velho, mas roda a teria que o cercava até o morro da Con-
ceição.
Obtiveram-no os monges benedictinos pnr doação em 1590, e paia ahi
cuidaram de transpoihn-se sem demora afim de editle.ir mosteiro ciu que pudes-
sem guardar o rctiio e a observância da lei {ÂMataHcnloM histórico* sobre o
Mosteiro ,íe S, JJell&o do ifio dc J a/taro, ptlo Dt. Hamiz Galvao, pag. 31.)
— 73
p o r u m a senhora. E na v á r z e a , j u n t o a e r m i d a , a c â m a r a
fez-lhes t a m b é m o u t r a d o a ç ã o , para c o n s t r u í r e m , c o m o
c o n s t r u í r a m , o seu c o n v e i . t o . (1)
A l é m destas e r m i d a s . j á e x i s t i a m a de S a n t a L u z i a ,
q u e f o i d o a d a aos f r a d e s de S a n t o A n t ô n i o , e m F e v e -
r e i r o de 1 5 9 2 , ( 2 ) que se passaram d e p o i s p a r a o m o r r o
de S a n t o A n t ô n i o , o n d e e d i f i c a r a m o seu t e m p l o ; a d c
S. F r a n c i s c o X a v i e r , c u j a c o n s t r u c ç ã o d a t a m a i s o u
m e n o s da do E n g e n h o V e l h o ( 1 5 8 0 - 8 3 . )
N a e s c r i p t u r a dc d o a ç ã o f e i i a p o r S a l v a d o r C o r r ê a
e m 1 5 9 2 aos padres FVanciscanos da e r m i d a de S a n t a
L u z i a , s i t u a d a e m b a i x o do b a l u a r t e d a Sc, faz-se a l l u s ã o
a t e r r a s de G o n ç a l o G o n ç a l v e s e o u t r o s , s i t u a d a s na
p a r t e i n f e r i o r da encosta d o m o r r o c nella se d i s t i n g u e o
n i c i o d a r u a d a M i s e r i c ó r d i a . / ! / C o m e t f e i t o , nesta r u a
e x i s t i r a m casas de G o n ç a l o G o n ç a l v e s ; 2 / q u e as l e g o u
á S a n t a C a s a da M i s e r i c ó r d i a , e m seu t e s t a m e n t o de 4
dc O u t u b r o de 1620.
Ate* o fim do s é c u l o e s t a v a m , pois, e s t a b e l e c i d a s
no R i o d c J a n e i r o estas o r d e n s religiosas, q u e h a v i a m
de t i r a r d o p o v o , do solo e d o g o v e r n o , os recursos d e
seu d e s e n v o l v i m e n t o .
M u i t o c e d o cs j e s u í t a s c o m e ç a r a m a c o n s t r u i r no
i n t e r i o r suas f a b r i c a s d c assucar, d a n d o isto l u g a r a
a b e r t u r a de c a m i n h o s q u : as c o m m u n i e a s s e m c o m a
cidade, como estudaremos e m l u g a r opportuno.
A cidade c o n t i n u o u a desenvolver-se pela p l a n í c i e ,
e n t r e os m o r r o s d o C a s t e i l o , S a n t o A n t ô n i o , S. B e n t o
e C o n c e i ç ã o , (í5) os q u a c s representam i m p o r t a n t e p a p e l
c m seu d e s e n v o l v i m e n t o , na d i r e c ç ã o das ruas, c o m o
d e m o n s t r a r e m o s , e m paginas posteriores.
E podemos m a r c a r os s e g u i n t e s l i m i t e s d a c i d a d e ,
por muito t e m p o :
Por dous lados os q u a t r o morros a c i m a m e n c i o n a "
vos; pelo t e r c e i r o a Marinha^ q u e entr.; e l l e s n i e d e i a "
v a ; p e l o q u a r t o u m fosso sinuoso ( 4 ) q u e recebia a s
á g u a s p l u v i a e s d o c h a m a d o Campo da cidade e as ia
|Ü Veja-se esta escriptura no 1" voi. do Are. ,ia Distr. Federal. Vol.
do I&04. pg. 53.
(2) Tem o sen retr.itn em mu dos salões da Misericórdia.
(3) O morro do Casteilo chamava-se antigamente mor/o de S. Sehas
tiã" " de Si Januário,' ode Santo Antônio, monle do Carmo; o de S. Henlov
morro dc Manoel do Hrito.
!4j Deste fosso mio existe boje mais do 4:1c a porção que U" Largo da
Carioca vai deságuar ao mar da Prainua, e que posteriormente foi aproveitado
pela Câmara para se construir cm seu luto um aquedueto, que servisse não só
ao uso primitivo, mas lambem c especialmente ao esgoto das sobras da azua
do chafariz da Carioca, segundo foi determinado pela carta règia de 21 dc Abril
de 1 Por cinta deste aquedneto existe hoje a Hia. de (_*• 'ufjuayana c pane
da rua da Praínha. anllgamonto rua di- Aljuhe,
A outra porção do antigo f.is»o, que do Largo da Carioca Ia dasnguar
ao mar dc Santa Luzia, foi-se insensívelmentè oblilerando pelo andar dos mm*
pos com os aterros e edificações que ^e íiwíani nos siiios qu» boja çonstituèui
as ruas da Guarda Velha, da Ajuda, e sins itnmediações. {T^mbi <1.n Terras
Mynictfaes, por Haddock Lobo, tam primeiro, pag. li».
- 75 -
d e s p e j a r n o m a r , s e r v i n d o de defesa á s e d i f i c a ç õ e s das
i n u n d a ç õ e s a q u e estavam s u j e i t a s , nas e s t a ç õ e s de
chuvas torrenciaes. (1)
U m acto da a d m i n i s t r a ç ã o p u b l i c a v e i u c o n t r i b u i r
p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o d a c i d a d e . R e f e r í m o - n o s ao
a c t o de S a i v a d o r C o r r ê a , p e l o q u a l d a v a aos n o v o s p o -
v o a d o r e s o d i r e i t o d c e d i f i c a r e m o n d e bem lhes pare-
cesse, « s e m n e n h u m oulro emis do q u e o l i v r e a r b í t r i o d c
cada um . » (2)
Durante todo o s é c u l o X V I a c o n s t r u ç ã o urbana
c e n t r a l i s o u - s e no m o r r o do C a s t e i l o , a i n d a q u e a n t e s d e
c o m e ç a r o s é c u l o X V I I a c i d a d e j á procurasse e x p a n -
d ir-sc p e l a plar.icie q u e passou a ser c h a m a d a Campo
da Cidade, a t é mesmo e m t e m p o s p o s t e r i o r e s , e q u e
o a m p r e h e n d e toda a vasta s u p e r f í c i e c o m p r e h e n d i d a
e n t r e o a n t i g o fosso ( h o j e r u a d a U r u g u a y a n a ) e os 9
m a n g u e s d e S. D i o g o , h o j e c i d a d e n o v a . ( 3 )
O s h a b i t a n t e s d o m o r r o a b r i r a m tres c o m m u n i c a -
ç õ e s c o m a p l a n í c i e , v e r d a d e i r a s l a d e i r a s p o r o n d e des-
c i a m c q u e t o m a r a m os nomes de l a d e i r a d a Misericór-
dia, d a A j u d a , c h a m a d a l a m b e m Passo do Porteiro c u m
pouco mais tarde a ladeira do Cotoveílo.
Estas l a d e i r a s f o r ç a r a m a c o n s t r u c ç ã o das r u a s
p r i m e i r a m e n t e a b e r t a s e c o n s t r u í d a s , d e v e n d o - s e assig-
nos fins d o s c e u l o X V I e r e c o n s t r u í d a c m 1 6 0 0 .
F a c i l i t a v a as c o m m u n i c a ç õ . - ! S p r i n c i p a l m e n t e p a r a
a zona a g r í c o l a d a c i d a d e q u e e r a e n t ã o L a p a , C a t t e t e ,
B o t a f o g o e L a g ô a de R o d r i g o d e F r e i t a s .
S ã o p o i s , m a i s o u menos c o n t e m p o r â n e a s as r u a s
—Misericórdia, Direita, S . J o s é , A j u d a e t a m b é m As-
sembléa.
A h i e s t ã o , pois, as linhas a q u e se s u b m e t t e r a m a
d i r e c ç ã o do povoamento e c o n s t r u ç ã o urbana.
U m a dirigindo-se para o s e r t ã o , o interior da cida-
de, o n d e i a m sc c o n s t r u i n d o as p r o p r i e d a d e s a g r í c o l a s e
as-outras para os l i m i t e s e x t r e m o s d o l i t t o r a l , r e p r e s e n -
t a d o s p e l a M i s e r i c ó r d i a e o M o s t e i r o d e S. B e n t o .
U m dos m a i s i m p o r t a n t e s m o r a d o r e s d a r u a d e S.
J o s é , c h a m a d a e n t ã o Caminho para Santo Antônio, era
— 77 —
J o ã o B a r b o s a C a l h e í r o , d e s c e n d e n t e de u m p r i m i t i v o
c o n q u i s t a d o r d a c i d a d e e, por c o n s e g u i n t e , o d e t e n t o r
d a p r o p r i e d a d e t e r r i t o r i a l q u e f o i d a d a p o r sesmaria aos
seus antepassados.
D e K i 0 9 e m d i a n t e , c o m e ç a a v e n d e r , na m e s m a
rua, b r a ç a s d e c h ã o s a o u t r o s i n d i v í d u o s q u e nella
construíram prédios. (1)
C o m o B a r b o s a C a l h c i r o s , j á e r a m m o r a d o r e s na
mesma r u a A f f o n s o G o n ç a l v e s P e r e i r a e F r a n c i s c o V i e -
gas, g r a n d e a g r i c u l t o r p a r a os lados de B o t a f o g o .
D a s e s c r i p t u r a s q u e c o m p u l s a m o s , de vendas feitas
p o r Barbosa C a l h c i r o s , v e r i f i c a m o s q u e chegava a 3 0
b r a ç a s o n u m e r o das q u e f o r a m v e n d i d a s , a l é m dos ter-
r e n o s oecupados pelo p r é d i o e m q u e m o r a v a .
P o r u m c o n f r o n t o d e s t e d o c u m e n t o , p o d e m o s che
g a r á c o n c l u s ã o de q u e B a r b o s a C a l h e i r o s estava a p p r o -
x i m a d o d o becco da r u a d ' A j u d a e G o n ç a l v e s Pereira,
p a r a os lados d o L a r g o da C a r i o c a .
E ' p r e c i s o o b s e r v a r q u e no c o m e ç o da r u a em
1 6 0 9 , e m sua e m b o e n d u r a na r u a da M i s e r i c ó r d i a , a
c o n s t r u c ç ã o dos p r é d i o s j á e r a de p e d r a e c a l , e m ricos
sobrados.
A h i m o r a v a o f i d a l g o L u i z de F i g u e i r e d o c m u m
l u x u o s o s o b r a d o q u e por e l l e f o i v e n d i d o á S e b a s t i ã o
F"agundes, o r i c o senhor d e e n g e n h o d c R o d r i g o de
F r e i t a s (2) p o r 5 0 0 * 0 0 0 .
E" p r e c i s o c o n h e c e r o p r e ç o m é d i o da p r o p r i e d a d e
u r b a n a do R i o de J a n e i r o n a q u e l l a é p o c a , p a r a d e luzir-
se d o p r e ç o da v e n d a a i m p o r t â n c i a d o p r é d i o v e n d i d o ,
e t a m b é m conheccr-sc o valor d o d i n h e i r o n a q u e l l e
t e m p y , p a r a avaliar-se a f o r t u n a d e S e b a s t i ã o F a -
gundes.
R a r o o p r é d i o q'ie excedia d e 2 0 0 & 0 0 0 , m e s m o
nas p r i n c i p a e s ruas d e e n t ã o , c o m o D i r e i t a e M i s e r i c ó r -
d i a , o n d e m o r a v a a aristocracia. C a r i o c a .
E o valor dos objectos c produetos era nullo, c m
r e l a ç ã o ao v a l o r d o d i n h e i r o .
A rua d e S . J o s é r e g i s t r a u m facto d e c e r t a i m p o r -
t â n c i a social c e c o n ô m i c a . X e l l a f o i escolhida u m a casa
que servia dc deposito a africanos importados c o m o
escravos, n a p r i m e i r a phase d o c o m m e r c i o n e g r e i r o ,
q u a n d o n ã o existia o t r a piche p r ó p r i o p a r a o d e p o s i t o d a
mercadoria negra que f o i o trapiche d o Vallongo. Esta
casa f i c a v a j u n t o d a e s q u i n a d a l a d e i r a q u e s o b e p a r a o
Casteilo.
E m 1 6 8 8 ella n ã o s e r v i a m a i s d e d e p o s i t o d e ne-
gros, mas a ella r e f e r e m - s e e s c r i p t u r a s d e p r é d i o s e ter-
renos q u e l h e f i c a m v i s i n h o s . ( 1 )
O c o n v e n t o d * A j u d a q u e e n t ã o n ã o passava ' d e
uma capella f o r ç o u a abertura d a r u a da A j u d a e acima
d c t u d o a zona a g r í c o l a d e B o t a f o g o e R o d r i g o d e
Freitas.
E m 1 6 1 2 j a e s t a v a a d i a n t a d o o seu t r a b a l h o d e
construcção e povoamento.
Por esse t e m p o , n e l l a j á m o r a v a m S e b a s t i ã o G o n -
ç e l v e s , Á l v a r o M e n d e s e o u t r o s e j á p o r e l l a se esten-
de u m terreno dc p a t r i m ô n i o da M i s e r i c ó r d i a .
A s c o m m u n i c a ç õ e s d a rua S. J o s é c o m o c o n v e n t o
d ' A j u d a p e l a r u a h o j e chamada 13 d c M a i o f o i a m d c
f o r m a ç ã o muito tardia. H a v i a u m a r a z ã o de ordem ma-
t e r i a l q u e se o p p u n h a a isto e q u e s ó m u i t o m a i s t a r d e
foi r e m o v i d a p e l o g o v e r n o . E x i s t i a u m a l a g o a q u e c o -
fcnnrai a Antônio na Costa. Pereira que vimos resignado esse facto. Os chãos
yend'üo>, diz a escriptura, sfto sr.os ao pá da ladeira do collegio uO canto da
ma. que vae para 5. José». lt\o dcmon.Mra que o nome dc ladeira do collepin
deve ser dado. wno y, st dava naqaelle. icmpo, á ladeira que communica o
morro do Casteilo com a rua de S. José e náo a ladeira da Misericórdia.
— 79 —
c a m i n h o d c S. B e n t o , passando d a h i c m d i a n t e a t e r o
nome dc rua D i r e i t a . ( 1 )
K m 1 6 0 9 j á e x i s t i a m m u i t a s casas c o n s t r u í d a s na
r u a D i r e i t a e m u i t a s e s c r i p t u r a s d e v e n d a s se passavam
n o c a r t ó r i o . N e l l a m o r a v a m , a l é m de o u t r o s , D i o g o d e
A m o r i m S o a r e s , p r o p r i e t á r i o d e R o d r i g o de F r e i t a s ,
J o ã o F a g u n d e s , s e u g e n r o , T h o m é de A l v a r e n g a q u e
f o i g o v e r n a d o r da c i d a d e , A n t ô n i o N a b o P e ç a n h a e
outros.
A r u a da A s s e m b l é a é q u a s i t ã o a n t i g a c o m o a
r u a d c S . J o s é . S i esta e r a c o n h e c i d a , n o c o m e ç o d o
s é c u l o X V I I , p e l o n o m e d e c a m i n h o de S . A n r o n i o , a
da A s s e m b l é a era c o n h e c i d a p e l o n o m e de c a m i n h o
de S. F r a n c i s c o . A r a s ã o d o n o m e e s t á na e x i s t ê n c i a
de u m e r n s e i r o d c S . F r a n c i s c o q u e e x i s t i a á s p o r t a s
do convento de S. A n t ô n i o .
O seu p r i m i t i v o p r o p r i e t á r i o a d e s e m b o c a r ella
na r u a da M i s e r i c ó r d i a f o i P e d r o Cubas, filho d o cele-
bre Braz Cubas, f u n d a d o r de Santos e que t o m o u
p a r t e saliente na c o n q u i s t a do R i o de J a n e i r o . F m r e -
c o m p e n s a t e v e a sesmaria d a q u e l l e s t e r r e n o s q u e f o r a m
t r a n s m i t t i d o s c o m o h e r a n ç a ao sca filho.
E m 1 6 0 9 v e i o Pedro C u b a s ao R i o e c o m e ç o u a
v e n d e r a d i v e r s o s dos seus h a b i t a n t e s os t e r r e n o s q u e
ali p o s s u í a . E ' essim q u e v e n d e o a A n t ô n i o da Palma,
a A n t ô n i o 1 i m e i i t a de A b r e u , e s c r i v ã o de m e i r i n h o da
a l ç a d a da c i d a d e c a o u t r o s a l g u m a b r a ç a s d c c h ã o s ( 2 ) .
A s e s c r í p t u r a s e vendas de t e r r e n o s feitas p o r Pe-
d r o C u b a s f a z e m insistentes r e f e r e n c i a a u m a r u a q u e
e n t ã o existia com o n o m e de Pedro L u i z F e r r e i r a . E ' es-
cusado d i z e r q u e os nomes de ruas, s e g u n d o o h a b i t o
d o t e m p o , e r a o n o m e d c seu p r i n c i p a l h a b i t a n t e , q u e r
pela p o s i ç ã o social e financeira, q u e r pela p o s i ç ã o p o l í -
t i c a e a u m i n i s t r a t i v a . S e r v i r a m para d c n o m i n a l - a s ,
(Jl Asseveramos isto por causa Ae uma e-iriptura de venda feita por
Antônio Na''o Peçanha, grande liomcin da época c que chegmi ate dar um uo-
III» .i uma Ni a. rumo veremos adiante c que na mesma riu direita, a Jclo
(ioncalves Malheiros.
(2) fccciiptiira no | cartório desta cidade.
c o m o n o c o m e ç o d o s é c u l o X V I I , os nomes de L u i z
Ferreira, dc A n t ô n i o N a b o , dc F e r n â o üaldez e outros
de g e r a ç õ e s subsequentes c o m o v e r e m o s a d i a n t e .
T o d o s os c h ã o s v e n d i d o s p o r P e d r o C u b a s se-
g u n d o d e c l a r a m as p r ó p r i a s e s c r i p t u r a s , ficavam na
f r e n t e da r u a d e L u i z F e r r e i r a c de suas casas.
S o b r e ser de i m p o r t â n c i a c a p i t a l o a s s u m p t o , d e -
vemos t o d a v i a d i z e r q u e essa r u a c o t r e c h o da r u a d o
C a r m o q u e une a r u a da A s s e m b l é a a S. J o s é . E r a u m a
b o a sociedade q u e h a b i t a v a a r u a da A s s e m b l é a , d e p o i s
q u e o processo d c d e s i n t e g r a ç ã o f o i se o p e r a n d o na
sesmaria de l í r a z C u b a s . A n t ô n i o P a l m a m o r a v a n o
t r e c h o p r ó x i m o á rua d a M i s e r i c ó r d i a e e r a o m e i r i n h o
da cidade, t e n d o c u m o v í s i n h o A n t ô n i o V a z q u e e r a
o seu e s c r i v ã o e o u t r o s . D e f r o n t e d e l l c m o r a v a e na
m e s m a r u a o c e l e b r e Á l v a r o P i r e s , cie q u e m a d i a n t e
fallaremos.
I n d i c a m - n o s as escripturas q u e na e s q u i n a d a r u a
do C a r m o existia um oratório, como emblema da reli-
g i ã o q u e o costume da é p o c a c o n s t r u í a nas -esquinas e
o b s e r v a d o p o r mais de d o u s s é c u l o s . A i n d a h o j e e x i s -
t e m v e s t í g i o s , a i n d a q u e raros, destes a n t i g o s h á b i t o s .
Pouco a p o u c o a r u a f o i se p r o l o n g a n d o e p r o g r e -
d i n d o e m c o n s t r u ç ã o e p o v o a m e n t o , c o n s e r v a n d o , po-
l é m , durante iodo o século X V I I , o nome de cami:dio
p a r a S . l " r a n c i c c o ou r u a p a r a S . F r a n c i s c o .
E i s ate o n d e estendeo-se a c i d a d e d u r a n t e o s é -
culo X V I e c o m e ç o d o X V I I .
AssutiiBlos dicersi/s
A v a r 2 c a da c i d a d e e r a m u i t o p a n t a n o s a e c h e i a
de g r a n d e s lagoas q u e d i f i c u l t a r a m p o r c e r t o a e x p a n -
s ã o da cidade p o r e l l a descendo d o C a s t e i l o .
N ã o e r a m pois f a v o r á v e i s á* c o n s t r u c ç ã o u r b a n a ,
p o r q u e os p â n t a n o s c l a g o a s r e c l a m a v a m u m t r a b a l h o
— 83 —
p r e l i m i n a r de a t e r r o s , i m p o s s í v e l de ser f e i t o neste s é -
culo que estudamos e que realmente s ó m u i t o posteri-
o r m e n t e f o i e x e c u t a d o . O m a r p e n e t r a v a m u i t o pelo i n -
t e r i o r d a cidade, e m r e l a ç ã o as c o n d i c ç õ e s de h o j e .
C h e g a v a a o m e i o das r u a s da M i s e r i c ó r d i a c D i r e i -
t a , s e g u n d o a t r a d i ç ã o conservada p o r Balthazar. E na
a s s e r ç ã o d e F r . V i c e n t e d o S a l v a d o r q u e nos diz que,
j u n t o á p o r t a d o p r i m i t i v o c o n v e n t o do C a r m o d e u á
costa u m a b a l e i a , da q u a l se s e r v i r a m ò s m o r a d o r e s
para p r o v i m e n t o dc azeite,
A l é m d i s t o , temos a p r i m i t i v a E r m i d a de S. J<.só,
c u j a capella era batida pelo mar. ( l j
E m r e l a ç ã o á s lagoas, v e m o s q u e n ã o f a l l a n d o na
l a g o a R o d r i g o de F r e i t a s c h a m a d a ate 1 6 0 9 I a g ô a de
Sacopenopan e d a h i a t é certa data lagoa de S e b a s t i ã o
V a r e l l a , e x i s t i a m a l a g o a d o B o q u e i r ã o ou das M a n -
g u e i r a s , o n d e e s t á h o j c o Passeio P u b l i c o e q u e f o i
a t e r r a d a c o m o b a r r o d o M o n t e das M a n g u e i r a s ; a
I a g ô a d o Desterro, entre os m o r r o s d o D e s t e r r o ( h o j e
Santa Thereza) e o de Santo A n t ô n i o , onde c hoje a
rua dos A r c o s ; a I a g ô a d e S a n t o A n t ô n i o q u e existia
o n d e e s t á h o j e a r u a da G u a r d a V e l h a a t é a f r a l d a d o
M o n t e de S a n t o A n t ô n i o ; ( 2 ) a I a g ô a da S e n t i n c l l a o u
de Capueirussú ou d e J o ã o M a r t i n s Castelhano, que ia
desde a r u a d e F r e i C a n e c a c m C a t u m b y , a t é a r u a do
S e n a d o , p e r t o d o m o r r o d c Pedro D i a s .
C o m o sc v ê , as ruas s e r i a m interceptadas e m seu
p r o l o n g a m e n t o p a r a o i n t e r i o r nessa zona a l a g a d i ç a , o
q u e n ã o se d a v a do o u t r o lado d a cidade, a i n d a q u e
também aiagadiço.
(I). Uocumento*, qn* no* foram mostrado» de.um litígio havido entre
a irmandade de S. José em 171.8 com o capiU© Luiz Cabral de Tavora.
)2) Pm 9 dc Janeiro dc 1610 foi aforada por Antônio Felippo Fernan-
des, por lfõOO ao anno, o:ide se-a p*i havia 35 aunfls curtia couros, para nelli
lavar o « I I pellame (eortüuie) pois estando toda devoluta, só servia para nclla
Hl baortarem os gentios, Iiap. -Io Hruul, por Mello Moraes, pag. 144). Mo largo
da Cariocafizeramos frades cemitério dos seus'escravos. lí como o terreno era
pequeno para isso, roquereram elles ao conselho da câmara 18 braças para
alargal-u, as quacs Itics furam con^epidas, cm 14 dc Ncvcmbro dc 1709.
N ã o p o d i a d e i x a r d e ter i n f l u e n c i a p a r a o d e s e n v o l -
v i m e n t o da c i d a d e pelo i n t e r i o r , o c o m e ç o da l a v o u r a
a g r í c o l a i n i c i a d a pelos j e s u í t a s n o Engenho VelJw c p o r
a l g u n s c o l o n o s q u e t i n h a m e d i f i c a d o s u a s fazendas nas
p r o x i m i d a d e s da l a g o a de R o d r i g o d e F r e i t a s ( 1 ) d a
T i j u c a ( 2 ) e depois e m Catumby, . b/du-ahy pequeno,
Andamky g r a n d e e e m Málta-cavallos, hoje rua do Ria-
chuelo.
Esse t r a b a l h o a g r í c o l a a b r i u c a m i n h o s ou estradas,
q u e c o m m u n i c a v a m a zona assucareira com a c i d a d e .
C i t a r e m o s tres das m a i s i m p o r t a n t e s q u e p r o c u r a r e m o s
descrever.
O caminho do Çapuiruçu ou caminho para o Bnginko
Pequem, e m s e g u i m e n c o da r u a h o j e d a A l f â n d e g a e e m
d i r e c ç ã o a lagoa d a S e n t i n e l l a , atravessando o campo da
cidade p a r a o e n g e n h o dos J e s u í t a s . ( 3 ) .
O c a m i n h o de Matta-cavallos que dava passagem
d o D e s t e r r o ( h o j e m o n t e d e Santa T h é r e z a ) p a r a a l a -
g o a d a S e n t i n e l l a . ( 4 ) Chama-se t a m b é m caminho da
ííica e q u e d a v a c o m n i u n i c a ç ã o p a r a S. C h r i s t o v ã o .
Esse c a m i n h o , s e g u n d o as pesquisas d c M e l l o
M o r a e s , í a z i a - s e p e l a fralda cio m o r r o d o D e s t e r r o a t é
a l a g o a da S e n t i n e l l a e d o b r a v a p e l a encosta d o m o r r o
da A l a g o i n h a o u d o J a r d i m , h o j e de P a u l a M a t t o s , c
atravessava o C a t u m b y g r a n d e , s u b i a o m o r r o d c B a r r o
V e r m e l h o (onde e s t á a C o r r c c ç ã o ) , seguia p o r M a t t a
Porcos ( E s t a c i o ) e a t r a v e s s a n d o o v a l l e d o i g u a s s ú ,
( h o j e r i o C o m p r i d o ) se e n t r a v a p a r a o s e r t ã o » .
E l l e f o i m u d a d o mais p a r a b a i x o , t o m a n d o o n o m e
d c caminho da Bica,
A ) í: ^ ÍÍ
1
. tyo* à'Sri9ptR*p\an nu de Diogo de Amorim Soares.
u c ho ,la
JI»BJ e lool.
(3; Arek ào Diste. Ptãeral, vol. 1 \ pag. 3B9.
A , < -' 4
. denominava-so parque/«os lugares eram tào;lamosos que
A s , i u l
A s s i m chamava-se, p o r ser o n o m e d e u m a c h á c a -
r a q u e p o r a h i e x i s t i a — c h á c a r a da Bica—que foi com-
prada pelo tenente-coronel Domingos Rodrigues Frade.
E ' a o r i g e m da r u a d o R i a c h u e l o , p a r t e da r u a de
F r e i C a n e c a a t é o l a r g o d o E s t a c i o , da r u a d o E n g e n h o
V e l h o , h o j e r u a H a d d o c k L o b o c r u a d e S. C h r i s -
tovão . •
A c r e d i t a m o s q u e dos d o i s c a m i n h o s o m a i s a n t i g o
é o d e Capueirussú. Ê ' o mais recto. para communicar
a zona a g r í c o l a do E n g e n h o V e l h o e o u t r a s fazendas
c o m o p o r t o da c i d a d e . A l e m disto, n ã o e x i s t i a m c o m -
m u n i c a ç õ e s e n t r e esta z o n a e a de B o t a f o g o e L a g o : i
R o d r i g o d c F r e i t a s , n ã o o b s t a n t e ahi se t e r i n i c i a d o o
trabalho a g r í c o l a c o n t e m p o r â n e o da outra. Mas, ella
p o r sua vez t i n h a seu c a m i n h o d c c o m m u n i c a ç â o c o m a
cidade, dc que trataremos adiante.
O p o r t o das m e r c a d o r i a s era o n d e é a r u a h o j e de
D . M a n u e l , c o n h e c i d a e n t ã o pelo n o m e de rua d o p o r t o
dos Padres d a C o m p a n h i a . ( 1 ) .
M a s , o q u e é f o r a de c o n t e s t a ç ã o , é q u e o p o r t o de
e m b a r q u e n ã o p o d i a d e i x a r de ser esse. Nas i m m e d i a -
ç õ e s d o Largo do Paço e p a r a a p a r t e d o Nordeste,- o
g o v e r n o p r o h i b i u t o d a e q u a l q u e r c o n s t r u c ç ã o , a f i m de
conservar l i v r e a p r a i a , p a r a o e m b a r q u e e desembar-
q u e d c m e r c a d o r i a s , c c o m o defesa da c i d a d e . Essa or-
d e m é d o i n i c i o d o g o v e r n o de C o r r ê a de S á .
S o b r e esse l o g r a d o u r o t i n h a a c â m a r a senhorio
completo.
M a s , e m D e z e m b r o d e 1 0 3 5 a f o r o u - o ao alcaide
m ó r S a l v a d o r C o r r ê a d e S á e Benevides, e m g r a n d e
p a r t e a b r a n g e n d o t o d a a q u a d r a d o t e r r e n o q u e h o j e se
acha l i m i t a d o pelas ruas D i r e i t a , d o R o s á r i o , d o M e r c a -
do becco dos A d e l o s , o n d e estava c o n s t r u í d o j á o
a ç o u g u e p u b l i c o . D e p o i s d a c c m c c s s ã o , levantou-se u m
Paço, o n d e se c o l l o c o u a b a l a n ç a d e — o peso,—$7irz
v e r i f i c a r o peso das caixas d e assucar q u e sc e x p o r -
tasse. ( 1 )
O caminho d c C a p u c i r u s s ú que é a o r i g e m d a r u a
d a A l f â n d e g a , v i n h a d e s e m b o c a r mais o u m e n o s d e -
f r o n t e d o Paço do peso.
O t e r c e i r o c a m i n h o , de q u e f a l í a m o s n o c o m e ç o
destes c a p í t u l o s , é o q u e c o m m u n i c a v a a c i d a d e c o m a
zona de B o t a f o g o .
E s t e d e v e ser o m a i s a n t i g o , p o r q u e u n i a os dois
pontos p r i m i t i v a m e n t e povoados — a V i l l a - V e l h a , 13a
? p r a i a V e r m e l h a e o local d a n o v a c i d a d e — m o r r o d o
' Casteilo. *
E l l e s e g u i a para a L a g o a . D a G l o r i a s e g u i a p a r a
B o t a f o g o e d e p o i s p e l a praia d a enseada ( p r a i a V e r m e -
lha), t o m a n d o pela e n c o s t a d a s e r r a , c h e g a v a a Piassaba
c a l a g o a d c R o d r i g o d e F r e i t a s , s e n d o m u i t a s vezes o
t r a n s i t o i n t e r r o m p i d o pelas e n c h e n t e s d o r i o d a C a -
beça. (2)
Beirava a I a g ô a e seguia para o engenho da C a b e -
ç a o u d e M a r t i n de S á o u e m c a m i n h o d a G á v e a . ( 3 )
U m p o u c o a l e m deste e n g e n h o e l i m i t r o p h e c o m
elle, e x i s t i a j á o E n g e n h o d c N o s s a S e n h o r a d a C o n c e i -
ç ã o d a L a g o a f u n d a d o p o r D i o g o de A m o r i m S o a r e s , a
q u e j á nos r e f e r i m o s c m p a g i n a s a n t e r i o r e s . ( 4 )
J á no s é c u l o X V U f o i c o n s t r u í d o o i í t r o e n g e n h o
nesta zona, q u e p o d e m o s c h a m a r o vaile da Lagõa de
Rodrigo de Freitas, p o r M a r t i n B a r b o s a F r a n c i s c o C a l -
das, t a l v e z d e p o i s de 1 6 0 6 .
I n s i s t i m o s n o e s t u d o deste v a l l e , o n d e d e s e n v o l -
veu-se u m a das zonas a g r í c o l a s d a c i d a d e .
E ' l i m i t r o p h e a esta b a c i a a de S . C l e m e n t e o u
Botafogo.
N ã o f o i de t a n t a i m p o r t â n c i a a g r í c o l a c o m o a an-
t e r i o r nesta phase p r i m i t i v a d a c i d a d e . N e l l a v e i u esta-
belecer-se F r a n c i s c o V e l h o q u e ern 1 5 Í Í 6 , a c o m p a n h o u
E s t a c i o na c o n q u i s t a , c r e á n d o a i r m a n d a d e d c S à o S e -
b a s t i ã o na i g r e j a de p a l h a d c Viíla V e l h a
D a h i a r a z ã o d o n o m e de enseada de F r a n c i s c o
V e l h o , p e l o q u a l , p o r a l g u m t e m p o , f o i essa p r a i a c o -
nhecida.
D e 1 5 9 0 e m d i a n t e e l l a passou a chamar-se p r a i a
d c J o ã o de Souza e d e p o i s de B o t a f o g o , e m c o n s e q ü ê n -
cia de l á h a b i t a r J o ã o d c Souza B o t a f o g o .
S ó m a i s t a r d e esta zona t o m o u certa i m p o r t â n c i a .
L á foi h a b i t a r o d r . C l e m e n t e M a r t i n s de M a t t o s , de
1060 e m diante.
Q u a n d o estudarmos o d e s e n v o l v i m e n t o da c i d a d e
no s é c u l o X V I I , t e r e m o s o c e a s i ã o de h i s t o r i a r e n t ã o o
p o v o a m e n t o da z o n a e a c o n s t r u c ç ã o u r b a n a q u e se f e / .
T e m o s a i n d a o v a l l e das Laranjeiras ou Cattete, d e
n e n h u m a i m p o r t â n c i a a g r í c o l a neste t e m p o .
Eis a h i as zonas a g r í c o l a s da cidade, q u e se e o m -
m u n i c a v a m com o l i t t o r a l , p e l o c a m i n h o q u e atraz d e s -
c r e v e m o s , o q u a l serviu de d i r e c ç ã o ao p o v o a m e n t o p o r
estes logares, pelas ruas do C a t t e t e , S e n a d o r V< r g u e i r o ,
p r a i a de B o t a f o g o , r u a de S . C l e m e n t e , r u a do J a r d i m
Botânico, etc.
P o r este t e m p o j á h a v i a o estabelecimento da Arma-
ção p a r a a i n d u s t r i a d a pesca d e baleias q u e i n f e s t a v a m
a b a h i a , na p o n t a q u e fica p e r t o d e S . L o u r e n ç o .
X ã o p o d e m o s f i x a r ao c e r t o a d a t a d o p r i n c i p i o
desse e s t a b e l e c i m e n t o . M a s D u a r t e N u n e s e m suas
memórias s o b r e a f u n d a ç ã o da cidade, r e f e r e - s e a u m a
p r o v i s ã o de 18 de N o v e m b r o de 1 5 8 1 , q u e f a l i a e m
u m contracto j á existente. (1)
O s t e m p l o s existentes e r a m , a l é m das capellas e
e r m i d a s , i g r e j a s das o r d e n s religiosas de S. B e n t o e
S a n t o A n t ô n i o , j á descriptas n e s t e c a p i t u l o , a i g r e j a de
S a n t o I g n a c i o ( c o l l e g i o dos j e s u í t a s ) e a i g r e j a d e S ã o
S e b a s t i ã o ( S é v e l h a e h o j e dos B a r b a d i n h o s ) . C o m >
havemos d e v e r , o n u m e r o dos t e m p l o s c a t h o l i c o s a u g -
m e n t o n c o n s i d e r a v e l m e n t e , nos s é c u l o s s e g u i n t e s .
A i d é a r e l i g i o s a e n t ã o d o m i n a v a . A o l a d o d e l i a fi-
g u r a a i d é a de defesa da c i d a d e p e l o n u m e r o d e f o r t a l e -
CAPITULO V m
D e p o i s d o insuecesso d o r e g i m e n dos d o n a t á r i o s ,
c u j o r e s u l t a d o n o f u t u r o , e r a n ã o crear u m a n a ç ã o f o r t e
e u n i d a , a m e t r ó p o l e r e s o l v e u centralizar a a d m i n i s t r a -
ç ã o e m u m s ó g o v e r n o , cem sede na Bahia, a q u e se-
r i a m t r i b u t á r i o s os das o u t r a s capitanias, c u j o s chefes
p o d i a m p o r e l l e ser nomeados, c o m o o f o i o p r i m e i r o
g o v e r n a d o r do R i o , S a l v a d o r C o r r e i a , depois de m u d a d a
W
a c i d a d e p a r a o m o r r o d o Casteilo, pelo g o v e r n a d o r
geral Men de S á . (1)
D e s d e j á , p o d e m o s salientar u m f a c t o d c i m p o r -
t â n c i a . N ã o o b s t a n t e o l o g a r de c h e f e d a n o v a c a p i t a n i a
o r i g i n a r - s e de u m a d e l e g a ç ã o , f e i t a pelo g o v e r n a d o r
g e r a l d o Brazil, p o r acto de n o m e a ç ã o , t o d a v i a precedeu-
lhe u m a i n d i c a ç ã o p o p u l a r c da c â m a r a da c i d a d e . P o - i
demos, pois, dizer q u e a d e l e g a ç ã o o f i c i a l , p o r a u t o r i -
dade c o m p e t e n t e , n ã o fez m a i s d o q u e c o n f i r m a r a
a c c l a m a ç l o do povo, em nome ò a qual Salvador C o r r e i a
g o v e r n o u e a d m i n i s t r o u a cidade, c o m o d e l e g a d o d a
metrópole.
« E assim p ô r e m c o n s e l h o , diz a p r o v i s ã o , sc p r a -
ticar q u e m p o d e r i a ficar c o m os d i t o s cargos, n o q u a l
C o n s e l h o se se n o m e o u ' a e l l e somente pelas r a z õ e s
d a d a s e a elle p e d i r a m , p a r e c e n d o a t o d o s b e m e a f s i t n
m e f o i p e d i d o o d i t o S a l v a d o r C o r r e i a de S á p e l o p o v o
e c â m a r a desta c i d a d e . »
Eis as o r i g e n s d o p r i m e i r o r e p r e s e n t a n t e d o g o -
v e r n o d o R i o de J a n e i r o . E s t u d e m o s as suas a t t r i b u i -
ç õ e s , assim c o m o a a d m i n i s t r a ç ã o pelos seus q u a t r o
a s p e c t o s — a d m i n i s t r a ç ã o d a j u s t i ç a , fazenda, m u n i c i p a l
e m i l i t a r . (1)
A s suas a t t r i b u i ç õ e s e r a m : d a r cartas d e s e g u r o
e a l v a r á d e fiança, a t é a q u a n t i a q u e b e m lhe parecesse,
salvo os tres casos d a c o r o a ; p a g a r os s o l d o s , o r d e n a -
d o s e m a n t i m e n t o s ; fazer a despeza dos s e r v i ç o s p ú -
b l i c o s , o r d e n a r todas as o b r a s e g a s t o s , p r o v i m e n t o s de
navios a r m a d o s c m g u e r r a , p o d e n d o m a n d a i ó s p a r a
o n d e quizer, a s e r v i ç o d o r e i , d a c a p i t a m a e sua d e f e s a .
P o d i a t a m b é m p r o v e r os cargos de P r o v e d o r . ' T h e -
soureiro, A l m o x u i f e e todos os demais funecionarios
d a fazenda p u b l i c a , d a j u s t i ç a e d a c â m a r a , s o b r e os
quaes exercia i n t e i r a j u r i s d i c ç ã o , p o d e n d o suspcndel-os
c d e m i t t i l - o s , p a r a p r o v e r os m e s m o s cargos p o r q u e m
lhe parecer m e l h o r .
P o d i a c o n c e d e r sesmarias n a c i d a d e e na capita-
nia, m a n d a n d o t i r a r duas cartas, e x p e d i r m a n d a d o s e
p r o v i s õ e s s o b r e a c q u m ç à o dc m a n t i m e n t o s e g e n t e e
quaesquer o u t r a s cousas q u e n e c e s s á r i o f o s s e m p a r a
defesa e f o r t a l e z a d a c i d a d e , p o d e n d o i m p o r penas q u e
b e m l h e parecessem p a r a o c u m p r i m e n t o de suas o r -
dens. ( 2 )
E i s a h i o c a m p o de a c ç ã o e m q u e g v r . i v a m as
a t t r i b u i ç õ e s do c h e f e t i o g o v e r n o . C o m o sc v ê , e r a m
p o r d e m a i s l a t a s . E l l e s ò m m a v a e m s i as a t t r i b u i ç õ e s
d e t o d o o g o v e r n o . E r a d e f a c t o c d c d ir ato o u n i c o
p o d e r p u b l i c o . O s p r ó p r i o s representantes d a j u s t i ç a
n ã o t i n h a m a liberdade e a i n d e p e n d ê n c i a para cumprir
a l e i . O poder que representavam s o f f r i a a j u r i s d i c ç ã o
d o g o v e r n o , q u e os p o d i a s u s p e n d e r e d e m i t t i r .
D e s d e o p r o v i m e n t o dos c a r g o s p ú b l i c o s , da f u n -
c ç ã o t r i b u t a r i a , d c i m p o r penas, a t é a a t t r i b u i ç ã o d c
d e c l a r a r a g u e r r a c o r d e n a r despesas, o g o v e r n a . l o r
representiva toda a a u t o r i d a d e .
A p r o v i s ã o foiça e assignada por M e n de S á , a l é m
das f u n e ç õ e s q u e nella estavam catalogadas, a i n d a dizia
q u e o g o v e r n a d o r do R i o de J a n e i r o p o d i a e x e r c e r t o d o s
os p o d e r e s d o g o v e r n a d o r g e r a b e o m o e l l e u s a v á . e t i n h a ,
s e g u n d o o r e g i m e n t o de 1 7 de D e z e m b r o de 1 Õ 4 8 , os
q u a e s f o r a m ampliados p e l o r e g i m e n t o de 7 de M a r ç o
de 1 5 5 7 , q u a n d o j u s t a m e n t e g o v e r n a v a na Bahia M e n
d e S á . E u m a das a m p l i a ç õ e s era o d i r e i t o d c r e c u r s o
p a r a o g o v e r n a d o r dos setos j u d i c i á r i o s .
P o d e m o s , pois, d i z e r q u e o g o v e r n a d o r legislava,
julgava e executava.
F o i n o m e a d o por M e n dc S á para o l o g a i de O u -
vidor C h r i s t o v ã o Monteiro, por provisão dc 9 dc M a r ç o
d c 1 5 6 8 , q u e e r a c h e f e dos s e r v i ç o s d a j u s t i ç a p u b l i c a .
Nessa p r o v i s ã o , ( 1 ) o governador nomeia Chris-
t o v ã o p o r tres annos, dando-lhe as a t t r i b u i ç õ e s q u e t ê m e
usam os o u t r o s o u v i d o r e s das c a p i t a n i a s .
E ' pois no r e g i m e n t o d a d o a Pero Borges, o u v i d o r
da Bahia, q u e d e v e m o s e n c o n t r a r as a t t r i b u i ç õ e s do O u -
v i d o r d o R i o ( 2 ) de J a n e i r o .
{I) Publicada pelos Ârih, Jo Dislr, FeJ, pag. 3n. Acreditamos nâo ter
sido ainda impresso esle documento, senão por esta iieuisl*,
(2) D.z Varnhjgeu ; i" vol.rfrj.-r.» Historia, pjg. 2*i:íj Nàc encontramos
;
até agora o teor deste regiaienio 1 porém temos moiivo- pira suppor que, côm
pequenas diflerenças nos dezoito pi imeiros* srtigos c ontissAo do* cinco uliiniut
era análogo ao de 14 do ab.íl de H!2S, d.do ..o ouvidor geral Paulo Leitão dê
Abicn,
— 94 —
O o u v i d o r c o n h e c i a p o r a c ç ã o n o v a dos casos c r i -
mes, e t i n h a a l ç a d a a t é m o r t e n a t u r a l i n c l u s i v e , nos
escravos, g e n t i o s e p e õ e s , c h r i s t ã o s l i v r e s .
N o s casos, p o r e m , e m que, s e g u n d o o d i r e i t o , c a b e
a pena d c m o r t e i n c l u s i v e , nas pessoas das d i t a s q u a l i -
d a d e s , o o u v i d o r p r o c e d e r á nos f e i t o s a f i n a l , c os des-
p a c h a r á c o m o g o v e r n a d o r s e m a p p e l l a ç ã o , sendo a m b o s
c o n f o r m e s nos v o t o s .
N o caso d e d i s c o r d a r e m , s e r ã o os a u t o s c o m os
r é u s r e m c t t i d o s ao c o r r e g e d o r da c ô r t e .
N a s pessoas d c m o r q u a l i d a d e , t e r á a l ç a d a a t é
cinco annos c!e d e g r e d o .
O o u v i d o r e s t a r á s e m p r e na m e s m a c a p i t a n i a q u e o
g o v e r n a d o r , salvo h a v e n d o o r d e m e m c o n t r a r i o d o
m e s m o g o v e r n a d o r , o u si o b e m d o s e r v i ç o o e x i g i r ,
pois e n t ã o p o d e r á s a h i r f o r a d e l i a » ( 1 )
C o m o j á v i m o s , esta e x t e n s ã o d a d a p e l o r e g i m e n t o
á s f u n c ç ò c s d o r e p r e s e n t a n t e d o s s e r v i ç o s da j u s t i ç a
sóffreu um profundo golpe com o acto da reforma, pelo
q u a l sc creou o d i r e i t o d c r e c u r s o , p a r a o g o v e r n a d o r ,
das d e c i s õ e s j u d i c i a r i a s .
E isto deu-se na a d m i n i s t r a ç ã o d e M e n de S á .
P o r c o n s e g u i n t e , C h r i s t o v ã o M o n t e i r o e x e r c i a as f u n -
c ç õ e s d c o u v i d o r , sob a j u r i s d i c ç ã o i m m e d i a t a d e S a l -
vador Correia.
O p r o v e d o r - m ó r d a fazenda e r a a s u p r e m a a u t o r i -
c dos n e g ó c i o s fazenda p u b l i c a . Ü p r i m e i r o n o m e a d o ,
na c i d a d e d o R i o de J a n e i r o , f o i E s t e v ã o Pires, p o r M e n
de S á . Suas a t t r i b u i ç õ e s s ã o as q u e c o n s t a m d o R e g i -
m e n t o dos p r o v e d o r e s das c a p i t a n i a s . ( 2 )
« E m N o v e m b r o d e cada a n n o annunciava-se a
a r r e m a t a ç ã o dos i m p o s t o s , q u e e r a f e i t a em J a n e i r o , p o r
u m anno o u mais, s e g u n d o o r d e n s d o p r o v e d o r - m ó r ,
p r o c u r a n d o d a r se a m a i o r p u b l i c i d a d e . O m a i o r l a n ç o
e r a aceito e e s c r i p t u r a d o p e l o e s c r i v ã o , e a s s i g n a d o p e l o
r e n d e i r o e tres t e s t e m u n h a s . E r a p r e s t a d a a fiança d a
décima parle.
A escripta d o e s c r i v ã o era entregue ao almo-
xarife.
S i a fiança n ã o f o r p r e s t a d a a t e m p o , i r ã o d c n o v o
os i m p o s t o s a hasta p u b l i c a . E a d i f f e r c n ç a d e s t e a r r e n -
d a m e n t o p a r a o p r i m e i r o s e r á p a g a pelos b e n s dos r e n -
d e i r o s , q u e s e n d o i n s u f f i c i e n t c s , pelos fiadores, e n ã o
b a s t a n d o , h a v e r á a p e n a de p r i s ã o , a t é o p a g a m e n t o
,'ntegral.
A t é o fim de J a n e i r o d e v i a estar a c a b a d a a a r r e c a -
d a ç ã o d e v i d a pelos r e n d e i r o s , d e m a n e i r a q u e a t é 15
de A b r i l e s t e j a m concertadas a receita e a despeza.
O s p r o v e d o r e s t i n h a m c o m p e t ê n c i a de conhecer
p o r a c ç ã o n o v a d e t o d o s os f e i t o s , causas e d u v i d a s q u e
a f f e c t a r e m a Fazenda, s e m a p p e l l a ç ã o e a g g r a v o , a t e
1 0 $ ; c o n h e c e r d o p r o c e d i m e n t o i r r e g u l a r de q u a l q u e r
e m p r e g a d o d a fazenda, p o r e r r o de seu o f f i c i o , das q u e s -
t õ e s dos r e n d e i r o s , c o n h e c e r dos c o n t r a b â n d o s r c o m a
a p p r e h e n s ã o d o n a v i o e sua c ^ r g a e d e g r a d a d o s para a
I l h a de S . T h o m é . O s navios ao c h e g a r e m n o p o r t o
o n d e h o u v e r A l f â n d e g a s e r ã o visitados p e l o e s c r i v ã o e
a l m o x a r i f e , p a r a e x a m i n a r a c a r g a e o l i v r o de c a r r e g a -
ç ã o ou f o l h a das avarias, o u ficaria a c a r g o d o a l m o x a -
r i f e , a t é a c a b a r a descarga. E x a m i n a r ã o t o d a s as caixas,
p a r a ver si nellas vem m e r c a d o r i a s u j e i t a ao d i z i m o e
q u e n ã o o tivessem p a g o . O p r o v e d o r o r d e n a r á q u e a
c a r g a s e j a d e p o s i t a d a n a A l f â n d e g a , depois d e e x -
aminada .
D e a l g u m a s m e r c a d o r i a s , c o m o t r i g o , vinho, l o u ç a ,
a l c a t r ã o , o d i z i m o s e r á pago depois de depositadas n a
Alfândega.
O i m p o s t o era p a g o na mesma m e r c a d o r i a n a re-
l a ç ã o de 1 p a r a 1 0 . Q u a n d o p a g o e m d i n h e i r o s e r i a
a r b i t r a d o o i m p o s t o p e l o j u i z e a l m o x a r i f e , segundo o
valor commcrcial do produeto.
H a v e r á nas A l f â n d e g a s d o u s sellos d c cera, u m
para panno de cor, Unho, e cousas s e m e l h a n t e s e o u t r o
p a r a os p r o d n c t o s q u e p a g a m d í z i m o s . C i r c u l a n d o
alguma mercadoria no commercio sem o scllo, dous
t e r ç o s s ã o para a A l f â n d e g a e u m para q u e m descobrir.
A s m e r c a d o r i a s que r e s u l t a r e m de p a g a m e n t o d a
d i z i m a , s e r ã o v e n d i d a s a q u e m m a i s der, e s e r á escri-
pturado o produeto como receita.
A n t e s de p a r t i r o n a v i o o p r o v e d o r i r á e x a m i n a i o,
ciando l i c e n ç a de s a h i d a .
A s mercadorias que forem para o Reino e Senho-
rios n ã o s ã o o b r i g a d a s a p a g a r os d i z i m o s , os m e s t r e s
, levara c e r t i d ã o dos o f í i c i o s d a A l f â n d e g a . O assucar
pagava o d i z i m o n o p r ó p r i o e n g e n h o , e m sua casa d e
p u r g a r , cabendo ao seu p r o p r i e t á r i o fazer as c o m m u -
n i c a ç ò e s ao a l m o x a r i f e o u aos arrecadadores, p a r a r e c e -
b e r o d i z i m o , n o prazo d e tres clias.
O p r o v e d o r e n c a r r e g a v a se d c fazer o i n v e n t a r i o
dos f a l l e c i d o s , sem t e s t a m e n t o .
P o d i a m c o n h e c e r d c t o d a s as q u e s t õ e s s o b r e ses-
m a rias.
N i n g u é m p o d i a i r de u m a para o u t r a c a p i t a n i a s e m
l i c e n ç a d o p r o c u r a d o r ou p r o v e d o r , c m sua a u s ê n c i a . ( 1 )
Eis ahi as tres p r i n c i p a e s a u t o r i d a d e s d a c a p i t a n i a
e d a c i d a d e , q u e g e r i a m a a d m i n i s t r a ç ã o c i v i l c consti-
t u í a m o g o v e r n o . O s s e r v i ç o s q u e se d i v i d i r a m nestes
tres d e p a r t a m e n t o s , e r a m e x e r c i d o s p o r f u n e c i o n a r i o s
subalternos c sujeitos á j u r i s d i c ç à o d o governador. ( 2 )
A l e m da a d m i n i s t r a ç ã o c i v i l , havia a a d m i n i s t r a ç ã o
militar, c u j o chefe s u p r e m o era o p r ó p r i o governador,
q u e n o m e a v a o a l c a i d e - m ó r , para c o m m a n d a r a guar-
n i ç ã o da c i d a d e .
« A o s senhores d c e n g e n h o e fazendas o b r i g a v a a
q u a t r o t e r ç o s d e espingardas, v i n t e espadas, dez l a n ç a s
o u c h ü ç o s , v i n t e dos d i t o s g i b õ e s ; c a t o d o s os o u t r o s
m o r a d o r e s ao m e n o s a a l g u m a a r m a ; d e v e n d o , os q u e
a n ã o tivessem, t r a t a r d e h a v c l - a d e n t r o d c u m a n n o .
A o p r o v e d o r - m ó r c o m p e t i a fazer este e x a m e , c c o m i n a r
as penas c m caso d e f a l t a . T a l f o i o c o m e ç o d a m i l í c i a
r e g u l a r d c s e g u n d a l i n h a no B r a z i l . ( 1 )
O p r i m e i r o a l c a i d e - m ó r n o m e a d o por M e n de S á ,
por p r o v i s ã o d c 2U de M a r ç o de 1 5 6 8 , f o i F r a n c i s c o D i a s
P i n t o , « p o r ser pessoa de e x p e r i ê n c i a e a u t o r i d a d e ,
pelos s e r v i ç o s prestados n a capitania d o P o r t o S e g u r o ,
c a v a l h e i r o fidalgo da casa de E l - r e i e ter v i n d o e m c o m -
panhia d o c a p i t ã o - m ó r Estacio de S á a p o v o a r c e d i f i c a r
a c i d a d e de S . S e b a s t i ã o d o R i o de J a n e i r o . » ( 2 ) .
A o lado do governo, delegado da m e t r ó p o l e , havia
o g o v e r n o p r ó p r i o da cidade, nascido da v o n t a d e d o
seu p o v o . E r a a c â m a r a .
C o m p o s t a de u m p r e s i d e n t e — c h a m a d o o j u i z or-
d i n á r i o e dois vereadores, o r g a n i s a v a as posturas e
v e r e a ç õ e s , c u j a e x e c u ç ã o era e n t r e g u e ao atmoíacé, que
fiscalisava a a f e r i ç ã o dos pesos e medidas, os p r e ç o s dos
comestíveis.
A l é m de ser o e x e c u t o r das m e d i d a s fiscaes do
• conselh >, encarregava-se d o aceio do c i d a d e e da p o l i c i a
das p o v o a ç õ e s .
EÍS a h í os elementos c o n s t i t u t i v o s d o g o v e r n o e d a
a d m i n i s t r a ç ã o da c i d a d e do R i o de J a n e i r o .
ü ú n i c o i m p o s t o existente era o d i z i m o da a l f â n -
d e g a , n ã o nos r e f e r i n d o a posturas t o m a d a s pela
Câmara.
—'
(1) l/isi. dn Hrj^i/ dc Parto Seguro, vej. |*, pag *J35.
7 .2) A leitura deMe do.*nincuto deTonios a pnbiçaçaO feita pelos Ardi, do
JJillf, Federa/, vol. 1", pag, 5Ü3. Até então náo tinha sido publicado.
— 98 —
r a h y . T e v e t a m b é m u m a sesmaria no m o r r o d c S. A n -
t ô n i o que d o o u ao convento do Carmo. A c r e d i t a m o s
q u e suas posses t e r r i t o r i a e s em N i c t h e r o y n ã o se l i m i t a -
r a m á d o a ç ã o q u e lhe f o i f e i t a e q u e t r a n s f e r i o a A r a r i -
b o y a . E a c r e d i t a m o s isto, p o r q u e , e m 1 6 2 6 , u m A n t ô n i o
d e M a r i n , p r o v a v e l m e n t e f i l h o o u n e t o do c o n q u i s t a d o r ,
v e n d e u ao c a p i t ã o D i o g o d e F a r i a u m a « s o r t e de t e r r a s
d a b a n d a de a l é m » . E a e s c r i p t u r a r e g i s t r a q u e f o r a m
h e r d a d a s de D i o g o d c M a r i n , f i l h o do c o n q u i s t a d o r .
A c r e d i t a m o s q u e A n t ô n i o de M a r i n j á m o r a v a c m
S. V i c e n t e , q u a n d o v e i o prestar s e r v i ç o s na c o n q u i s t a
d o R i o , sob o c o m m a n d o d e M e n d c S á . A l i o b t e v e d e
P e d r o C o l l a ç o , d e l e g a d o de M a r t i n A f f o n s o de Souza,
e m sua d o n a t á r i a , u m a sesmaria e m Y p i r a n g a . D a h i
passou-se p a r a o R i o de J a n e i r o , e m c o m p a n h i a de sua
mulher D . Lauriana S i m ã o .
F o i elle o t r o n c o d e u m a numerosa f a m í l i a f l u m i -
nense, c u j o s representantes, p o r m u i t o s annos, exerce-
r a m i m p o r t a n t e papel na p o l í t i c a e na a d m i n i s t r a ç ã o .
F e m d e r r e d o r de sua i n d i v i d u a l i d a d e q u e J o s é de
Alencar teceu o enredo do « G u a r a n y » .
E ' fidalgo e N e t t o d e L o p o d e M a r i n , conspicuo
r e p r e s e n t a n t e d a nobreza p o r t u g u e z a .
N ã o s a b e m o s o n u m e r o d e f i l h o s q u e teve, s e n ã o
d o u s : D i o g o d c M a r i n c F r a n c i s c o d c M a r i n de q u e m
nada sabemos s e n ã o q u e f o i fazendeiro no R i o de Ja-
n e i r o , c o m o o seu i r m ã o D i o g o , q u e a l i t i n h a u m a i m -
p o r t a n t e p r o p i e d a d e assucareira. E r a o p r o v e d o r da c i -
d a d e e m 1 0 0 6 , exercendo a i n d a o mesmo c a r g o e m
1610, quando o tabellião foi a A l f â n d e g a para lavrar
u m e s c r i p t u r a de t r o c a d e ierras e n t r e elle e F r a n c i s c o
V e l h o , i n d i v i d u a l i d a d e n o t á v e l nessa é p o c a .
A s p r o p r i e d a d e s assucareira dos M a r i n s e r a m loca-
lisadas e m M a g é e M i r i r y . A f a m i l i a e n t r e l a ç o u - s e c o m
outras famílias igualmente importantes. E m 1620,
e n t r e l a ç a - s e c o m a f a m i l i a de Á l v a r o O s ó r i o , ho-
m e m de f o r t u n a e g r a n d e p r o p r i e t á r i o d o t e m p o . Casou-
se coin D . V i c t o r i a d c M a r i n q u e deve ser n e t a d o
— 100 —
c o n q u i s t a d o r . Á l v a r o O s ó r i o m o r a v a na r u a D i r e i t a e
os descendentes d c M a r i n s n a r u a da M i s e r i c ó r d i a . E '
fácil apreciar sua f o r t u n a por u m a e s c r i p t u r a de d o t e a
s u a filha A n n á O s ó r i o c o n t r a c t a d a e m casamento c o m
E s t e v ã o de V a s c o n c e l l o s . N o d o t e figuram ricos v e s t i -
dos d e s e d a e v e l l u d ò , e x e e l l e n t e s p r é d i o s na r u a D i -
reita, c o n s t r u í d o s de p e d r a c c a l , c o m as suas v a r a n d a s
e q u i n t a e s , e x t e n s a s sortes d c t e r r a c m M i r i r y e
Magé.
P o u c o t e m p o d e p o i s do c o m e ç o d o s é c u l o X V I I ,
a f a m i l i a M a r i n s decae de seu p r e s t i g i o p o l í t i c o . O u l t i m o
dos seus descendentes q u e e n c o n t r a m o s de posse de
c a r g o s da a d m i n i s t r a ç ã o p u b l i c a 6 D i o g o O s ó r i o , q u e
e x e r c e c o m o j á dissemos, o l o g a r d c p r o v e d o r da f a -
zenda, e m 1 6 1 0 . D a h i p a r a c á , elles d e s a p p a r c c c r a m ,
como d e s a p p a r é c e o sobrenome de Marins.
Grandes e m e m o r á v e i s pleitos j u d i c i á r i o s foram
t r a v a d o s p e l o s descendentes desta f a m i l i a e os d i r e -
ctores d i c e l e b r e A l d e i a d c S . L o u r e n ç o , o n d e h a b i t o u
A r a r y b o y a . A a l d e i a f o i localisada no t e r r i t ó r i o q u e l h e
f o r a c e d i d o p o r A n t ô n i o de M a r i n .
D a a l d e i a p o u c o restou, p o r q u e " u m s é c u l o a i n d a
n ã o se t i n h a p ; sado, d e p o i s q u e e l l a se f u n d a r a , c j á
as u s u r p a ç õ e s cscandalosissimas se s u e c e d i a m c o m es-
p a n t o e , c o m ellas, os p l e i t o s e d e m a n d a s ; e m v ã o , as
p a r t e s se c o n c e r t a v a m p o r m a i s de u m a vez — c i l a s
p r o s e g u i a m . D e n a d a s e r v i r a m as m e d i ç õ e s e d e m a r -
c a ç õ e s , as c o n s p i r a ç õ e s e p r o t e s t o s ; t u d o f o i b a l d a d o :
as u s u r p a ç õ e s c o n t i n u a r a m e a c a b a r a m p o r a r r u i n a r ,
quasi de t o d o e m todo o p a t r i m ô n i o d o s d e s c e n d e n t e s
de A r a r i b o y a . »
A u s u r p a ç ã o f o i c o m p l e t a pelos p r i m i t i v o s h a b i -
tantes de N i t h e r o y c s e u s d e s c e n d e n t e s ; e de todo
desapparcceu p o r e s s e i l l e g a l c i l l e g i t i m o p r o c e s s o esse
g r a n d e p a t r i m ô n i o dos i n d i o s . Pela l e g i s l a ç ã o da R e g ê n -
c i a as aldeias os í n d i o s f o r a m i n c o r p a r a d a s ao p a t r i m ô -
n i o da n a ç ã o . E i s a h i a p r o v a d o c a r a c t e r e m p h i t h e u t a
de g r a n d e p a r t e d a c i d a d e d e N i t h e r o y , sc n ã o d a sua
— 101 —
t o t a l i d a d e . E seria d c g r a n d e interesse p a r a o E s t a d o o
estudo desta q u e s t ã o ,
Fallemos agora de A r y Fernandes que f o i o u t r o
c o n q u i s t a d o r . Fez p a r t e d a p r i m e i r a e x p e d i ç ã o m i l i t a r
sob o c o m m a n d o de Estacio de S á . D u r a n t e os d o u s
annos de g u e r r i l h a s , c m q u e esteve o f u n d a d o r da c i -
d a d e , a t é a v i n d a de M e n de S á , A y r e s F e r n a n d e s c o n -
t i n u o u s e m p r e a p r e s t a r os seus s e r v i ç o s ,
Localisou-se, como lavrador, cm M a g é , onde
o b t e v e u m a s e s m a r i a , e, na c i d a d e , m o r o u na r u a d a
M i s e r i c ó r d i a . E r a o p r o p r i e t á r i o dos terrenos visinhos
ao A r s e n a l d c G u e r r a , o n d e f o r a c o n s t r u í d a desde essa
época, uma fortificação.
G u a n d o r e q u e r e u a sesmaria destes terrenos, j á
A y r e s F'ernandes t i n h a c o m e ç a d o a c o n s t r u ç ã o d c sua
casa, n a q u c l l a r u a e m M a i o de 1 5 6 8 . Isto i n d i c a q u e o
p o v o a m e n t o e c o n s t r u c ç ã o u r b a n a no seu inicio n ã o
se o p e r a r a m s o m e n t e no m o r r o cio C a s t e i l o . E m q u a n t o
e l l e sc p o v o a v a , a r u a d a M i s e r i c ó r d i a t a m b é m se po-
v o a v a . N e l l a e m c o m e ç o m o r a v a m a a r i s t o c r a c i a , os
r e p r e s e n t a n t e s do g o v e r n o e os f u n e c i o n a n o s p ú b l i c o s .
M a r t i n d e S á t e v e u.na casa no m o r r o do C a s t e i l o q u e
v e n d e u e m 1 6 1 0 ao licenciado R o d r i g u e s V a z e na
p r a ç a da cidade ( 1 ) . O b t e v e a i n d a u m a sesmaria no
c a m i n h o p a r a Santo A n t ô n i o , h o j e r u a de S . J o s é .
Jorge F e r r e i r a f o i o u t r o conquistador. O b t t v e u m a
sesmaria na r u a D i r e i t a , e n t ã o c h a m a d a p r a i a d e M a n o e l
de U r i t t o , o m e s m o q u e fez a d o a ç ã o ao M o s t e i r o de
S. B e n t o d o o u t e i r o e m q u e e s t á h o j e e d í f i c a d o o t e m p l o
c u m a o u t r a c m M a g é . nas v i s i n h a n ç a s d c A n t ô n i o d c
M a r i n s . N ã o e r r a m o s c m localisar essa praia j u n t o ao
A r s e n a l d c M a r i n h a , p o r q u e t o d a esta r e g i ã o f o i dada
c m s e s m a r i a a M a n o e l dc B r i t t o q u e p o r suavez d o o u ao
M o s t e i r o . Parece pois q u e J o r g e F e r r e i r a c M a n o e l d c
B r í t t o e r a m v i s i n h o i e f o r a m os p r i m e i r o s p o v o a d o r e s
d a q u e l l e t r e c h o da r u a D i r e i t a .
M a n o e l de B r i t t o t a m b é m f o i u m dos c o n q u i s t a d o r e s
e f i g u r o u na p o l i t i c a de s e u t e m p o . Q u a n d o fez a doa-.
ç ã o ao M o r t e i r o j á e x i s t i a u m a capella de N o s s a S e n h o r a
da C o n c e i ç ã o , c o n s t r u í d a p o r A l c i x o M a n o e l , o u t r o
conquistador t a m b é m . Eis ahi personagens n o t á v e i s da
é p o c a e m q u e se s a l i e n t a r a m na sociedade e m q u e v i -
v i a m , sob o h a b i t o da pureza do l a r c s i n c e r i d a d e e m
suas r e l a ç õ e s de e s t i m a .
C h r i s p i n da C u n h a f o i o u t r o c o n q u i s t a d o r . O b t e v e
u m a sesmaria na r u a de S. J o s é , d e f r o n t e d o l a r g o d a
Carioca q u e e n t ã o era em g r a n d e parte coberto por u m a
lagoa que serviu justamente dc l i m i t e d a d o a ç ã o c que
sc estendia pelo m o n o de S. A n t ô n i o ( 1 ) F o i ciada
p o r C h r i s t o v ã o d e l i a r r o s a 15 de S e t e m b r o d c 1 5 7 3 .
N a mesma rua j á e s t a v a l o c a l i s a d o B a l l h a z a r C a r d o s o ,
o u t r o c o n q u i s t a d o r . Estes c h ã o s f o r a m d o a d o s p e l o p r ó -
prio C h r i s p i m d a C u n h a aos f r a d e s d o C a r m o c m 4 d e
S e t e m b r o de 1 6 1 ! ) .
A elles t a m b é m fizeram d o a ç ã o A n t ô n i o d c M a r i n
e sua m u l h e r D , I s a b e l de M a r i n s de uns c h ã o s n o
m o r r o de S. A n t ô n i o e m 7 de n o v e m b r o de 1 5 9 1 , q u e
t i n h a m o b t i d o d e sesmaria, p o r isso q u e M a r i n s f o i t a m -
b é m u m dos c o n q u i s t a d o r e s .
O b t i v e r a m t a m b é m sesmarias no l a r g o d a C a r i o c a
em d i r e c ç ã o a G u a r d a V e l h a F e r n à o A f f o n s o , D o m i n g o s
P e r e i r a e J o ã o G o n ç a l v e s , visinhos d c A n d r é L o p e s
doando-as depois aos f r a d e s d o C a r m o q u e sc c o n s t i -
t u í r a m assim c o m o os d o n o s d e s t a zona u r b a n a . A
sesmaria destes é p o u c o a n t e r i o r a de C h r i s p i m da
C u n h a —de 0 de S e t e m b r o de 1 5 7 3 , p o r C h r i s t o v ã o de
B a r r o s . E i s p o i s os p r i m i t i v o s h a b i t a n t e s d o l a r g o d a
C a r i o c a : C h r i s p i m d a C u n h a e P e r e i r a G o n ç a l v e s na
d i r e c ç ã o d a m a d.a G u a r d a V e l h a , assim c o m A n d r é
L o p e s ; e mais t a r d e F e l i p p e F e r n a n d e s no p r ó p r i o
largo .
O s t e r r e n o s da c i r c u m v i s i n h a n ç a do l a r g o f o r a m
doados a Felippe Fernandes em 1610, por aforamento,
p a r a fazer sua i n d u s t r i a d c c o r t u m e de c o u r o s c o m o
a u x i l i o da a g u a da I a g ô a . E ahi f u n d o u e l l e seu p e l a m e
nas f r a l d a s d o o u t e i r o . H a mais d c t r i n t a a n ã o s , a l l e g o u
e m sua p e t i ç ã o , t i n h a c o m e ç a d o c o m seu p a e u m m o -
desto t r a b a l h o i n d u s t r i a l na zona, e m 1 5 8 0 . E nesta é p o c a
a zona por n i n g u é m e r a f r e q ü e n t a d a , s e n ã o pelos i n d i o s
q u e a l l i se r e u n i a m « p o r ser p a r t e escusa. » Estes ser-
viços, allegados por Felippe Fernandes, garantiram-lhe
o a f o r a m e n t o . N ã o s a b e m o s o n o m e d e seu pae. F o i ,
p o r é m , u m c o n q u i s t a d o r da c i d a d e q u e se l o c a l i s o u
no l a r g o da C a r i o c a , c o m a sua m o d e s t a i n d u s t r i a d e
c o u r o s , c o n t i n u a d a p o r seu f i l h o no mesmo l o c a l . C o m
a h a b i l i d a d e c o m q u e t r a t a r a m os i n d i o s a l c a n ç a r a m
a f u g c n t a l - o s d a I a g ô a de S. A n t ô n i o , o n d e r e u n i a m - s e
pela c u r i o s i d a d e de ver os t r a b a l h o s dos c o n q u i s t a d o r e s
n o m o r r o do Casteilo, no i n i c i o d a c o n s t r u c ç ã o d a
cidade.
T o d o s estes m o r a d o r e s do l a r g o f o r a m conquista-
d o r e s da c i d a d e , sendo recompensados pela d o . i ç â o de
terras. ( 1 )
A l é m d e s t e s e x i s t e m os de q u e temos f a l l a d o ante-
r i o r m e n t e , q u a n d o e s t u d a m o s a o r g a n i s a ç ã o adminis-
t r a t i v a d a cidade, g r a n d e parte dos quaes f o i n o m e a d o
p a r a exercer os cargos p ú b l i c o s .
Francisco Fajardo.
Ao a b r i r - s e o s é c u l o X V I I , as q u e s t õ e s q u e mais
directamente prendiam a a t t e n ç ã o da a d m i n i s t r a ç ã o ,
e r a m a e x p l o r a ç ã o das m i n a s e a e m a n c i p a ç ã o do i n d i o .
N ã o t i n h a m o c u n h o l o c a l , nem t ã o p o u c o o r i g i n a v a m -
se de accidentes q u e affectassem a v i d a d a c i d a d e d o
R i o o u d e sua c a p i t a n i a . E r a m q u e s t õ e s q u e a f f e c t a v a m
t o d a a c o l o n i a . p o r q u e d e p e n d i a m n ã o s ó da sua s i t u a ç ã o
e c o n ô m i c a , das c o n d i ç õ e s de seu t r a b a l h o a g r í c o l a ,
c o m o d o s e n t i m e n t o q u e i n s p i r a v a os actos da m e t r ó -
p o l e , e m seus processos d e c o l o n i s a ç ã o . U m a nascia da
i n s u f i c i ê n c i a d c b r a ç o s , p a r a a l a v o u r a , desfalcados
pelos j e s u í t a s e m b e n e f i c i o d c sua i n d u s t r i a , para a
q u a l convergia toda a actividade do indio, transformado,
a s s i m , c m m a c h i n a d e t r a b a l h o , para a prospeiida.de e
d e s e n v o l v i m e n t o d a o r d e m c para accentuar-sc a i n d a
m a i s a crise a g r í c o l a d o colono, c u j a s o l u ç ã o f o i p t r a f i c o
a f r i c a n o , c r e a n d o a e s c r a v i d ã o negra, ao l a d o da escra-
v i d ã o amarella.
— 100 —
O p r e s t i g i o dos J e s u í t a s a s s u m i o taes p r o p o r ç õ e s ,
nos actos p o l í t i c o s da m e t r ó p o l e , q u e a l c a n ç a r a m a
p r i m e i r a l e i d e e m a n c i p a ç ã o d o í n d i o de 3 0 de J u n h o d e
1009, contra a q u a l t o d a a colônia p r o t e s t o u . O resul-
t a d o m a i s d i r e c t o desse a c t o , no R i o d e J a n e i r o e c a p i -
t a n i a , f o i a p e r m i s s ã o ciada p e l o seu g o v e r n a d o r R u y
V a z P i n t o , de 1 6 1 1 a 1 6 2 0 , da i n t r o d u c ç ã o do a f r i c a n o
c o m o e l e m e n t o de t r a b a l h o a g r í c o l a , f e i t o p e l o seu p a -
rente D u a r t e Vaz.
D a h i e m d i a n t e mais a c c e n t u a m - s c os a t t r i c t o s
e n t r e a a u t o r i d a d e c i v i l e r e l i g i o s a . A f e i ç ã o da a d m i -
n i s t r a ç ã o e d o d e s e n v o l v i m e n t o e c o n ô m i c o assume u m
caracter d i f f e r e n t e pela i u j u n c ç ã o desse e l e m e n t o n o v o ,
como veremos adiante.
A o u t r a q u e s t ã o nascia d o s e n t i m e n t o de a v a r e z a
d a m e t r ó p o l e e da i d é a de r i q u e z a , q u e t a n t o a n i m a v a
o colono,
E n ã o o b s t a n t e o insuecesso das e x p l o r a ç õ e s d e
minas, i n s p i r a n d o a b e l l a p h r a s e d o P a d r e A n t ô n i o
V i e i r a d c q u e o o u r o v e r m e l h o t i r a d o das v e i a s d o i n d i o
f o í s e m p r e a m i n a d o E s t a d o , ellas suecediam-se, c o m o
u m r e s u l t a d o d e u m a c o n v i c ç ã o a r r a i g a d a no e s p i r i t o
dps a d m i n i s t r a d o r e s .
A l g u m r e s u l t a d o mais i m m e d i a t o e d c mais v a l o r
d o q u e a d e s c o b e r t a de m i n a s , q u e h a v i a m de d e i x a r ,
c o m o de f a c t o d e i x a r a m , f o i a a b e r t u r a de estradas
p e l o i n t e r i o r , l i g a n d o os tocos de p o p u l a ç ã o q u e j á exis-
t i a m e t r a ç a n d o as linhas de p o v o a m e n t o pelo s e r t ã o .
H a v e m o s de e s t u d a r a i m p o r t â n c i a q u e r e p r e s e n t o u o
R i o d c J a n e i r o nestes factos.
Mas, a p o l í t i c a d c e x p l o r a ç ã o m u i t o c e d o p r o d u -
ziu u m r e s u l t a d o s o b r e a c a p i t a n i a e a c i d a d e d o R i o de
Janeiro.
• F o i serem e l l a s , c o m as capitanias d o E s p i r i t o
S a n t o e S. V i c e n t e , d e s l i g a d a s da Bahia-, p a r a c o n s t i t u í -
r e m u m E s t a d o de j u r i s d i c ç ã o p r ó p r i a .
Governava e n t ã o o £ i o de Janeiro A í T o n s o d c A l b u -
querque, filho do conquistador do M a r a n h ã o e m o ç o
— 107 —
(I) «HIN|. Ger. ilo Ilraz;!-, por Vis;. 1'oulo Seguro, vol. 1° pag. 437.
(2) «tíist, <ier. d<- Brazil». por Vjít, Fort. Segure, vol. 1", pag. 437,
. — 109 —
Mas, p o u c o d e p o i s d a posse de D - L u i z de S o u z a ,
a m e t r ó p o l e t e n d o de n o v o u n i d o as ires c a p i t a n i a s á
B a h i a , p o r a l v a r á de 9 de A b r i l de 1 6 1 2 , G a s p ? r de
Souza, en*ão governador geral, despachou pata o R i o
o desembargador M a n o e l Jacome B r a v o , c o m o seu
commissionado.
E ' fácil c o m p r e h e n d e r q u e os actos v i o l e n t o s j á
praticados por A f f o n s o de A l b u q u e r q u e , despertando
c o n t r a si as: a n t i p a t h i a s p u b l i c a s e d a c â m a r a , m o t i v a -
ram a p o s i ç ã o que elle assumiu perante o commissio-
n a d o d o g o v e r n a d o r g e r a l , l e v a n t a n d o as m a i o r e s d i f i -
c u l d a d e s ao d e s e m p e n h o de suas c o m m i s s õ e s .
E nisto f o i a j u d a d o pelo prelado d a cidade. ( 1 )
A c â m a r a d i r i g e - s e á s tres a u t o r i d a d e s , m o s t r a n d o
as i n c o n v e n i ê n c i a s destes c o n f l i c t e s , q u e p o d i a m p e r t u r -
b a r a o r d e m p u b l i c a e r e q u e r e n d o q u e puzessem c o b r o
á lucta, e m b e n e f i c i o d e t o d o s os interesses. S ã o tv.es
os t e r m o s d e s s e d o c u m e n t o , pelos quaes os c a m a r i s t a s
d c e n t ã o r e v e l a m o interesse q u e s e n t e m p e l o b e m p u -
b l i c o , q u e o n ã o p o d e m o s d e i x a r de t r a s l a d a r para a q u i .
« O j u i z , v e r e a d o r e s é p r o c u r a d o r d o conselho d e s t e
presente anno d e . 1 6 0 3 , abaixo-assignados, fazemos saber
a V . S . e m c o m o , em c â m a r a , p e l o p r o c u r a d o r d o con-
s e l h o nos f o i d i t o q u e o r a neste p o v o h a v i a a l g u m a s
i n q u i e t a ç õ e s d c q u e se t e m i a e recetava r e s u h a r e m
grandes damnos, mortes e o p p r e s s õ e s , e m d e s s e r v i ç o
de D e u s c de S u a M a g c s t a d e , r e q u e r e n d o - n o s c o m o
pessoa a c u j o cargo estava p r o v e r s o b r e o b e m c o m -
m u m , ii b o m r e g i m e n t o desta cidade, e moradoics delia,
a C U d i s s e m ó s a a t a l h a r aos d i t o s m a l e s c p r o v e r n o caso
c o m os r e m é d i o s para isso n e c e s s á r i o s ; pelo q u e acor-
E esse c o n t i n g e n t e e r a t r a z i d o pela a h n í m í t r a ç â o
religiosa, de q u e nos o c u p a r e m o s c m u m c i p i t u l o
especial.
D e s d e o c o m e ç o do s é c u l o , a a d m i n i s t r a ç ã o r e l i -
giosa f i c o u a c a r g o d o D r . J o ã o da C o s t a , q.ue p r o c u r o u
i n v a d i r a esphera de a c ç ã o do g o v e r n o c i v i l , « s e fez o
a r t i g o de d a r a g u e r r a e l e v a n t a r b a n d e i r a c o n t r a os i n -
dios» . Isto custou-lhe uma denuncia á R e l a ç ã o da
Ü a h i a , q u e o depoz d a prclasia, seguindo-se-lhe na j u -
r i s d i c ç ã o ecclesiastica M a t h e u s da C o s t a A l b o i m , que
a d m i n i s t r o u a diocese a t é 1 6 2 9 .
D e n a d a s e r v i u a A l b o i m a s e n t e n ç a do T r i b u n a l
contra C o s t a , c u j o p r o g r a m m a p r o c u r o u s e g u i r « c a m i -
m i n h a n d o pelos desvairados c a m i n h o s de seu antecessor
e t o m a n d o o p a r t i d o de se f a : e r o a r b i t r o da l i b e r d a d e
dos indios, d e c i d i n d o as q u e s t õ e s sobre elles m o v i d a s ,
c o m o levantar-se contra elles a b a n d e i r a e fazer lhes
guerra.»
E neste p r o c e d i m e n t o A l b o i m e n c o n t r a v a nos j e -
s u í t a s os m e l h o r e s a u x i l i a r e s , p a r a h v a r avante a Mia
p o l í t i c a , c u j o excesso c h e g o u a e x c o m m u n g a r «a l o J o s
q u e negociassem com os C a r i j ó s , t o m a n d o por f u n d a -
m e n t o , q u e a e l l e t o c a v a t o d o o conhecimento d o facto,
p o r o n d e pudesse r e s u l t a r p e c c a d o . »
N ã o f o r a m p e q u e n a s as d i f f i ~ u l d a d e s levantadas
p o r este p r e l a d o á marcha d o g o v e r n o c i v i l , c o m o mos-
traremos no c a p i t u l o dedicado á a d m i n i s t r a ç ã o religiosa.
C o m o se v ê , estes factos p e r t u r b a r a m a marcha
dos n e g ó c i o s p ú b l i c o s e descontavam o p o v o , q u e an-
ceava p o r u m g o v e r n o p r u d e n t e e r e s p e i t a d o r dos p r i n -
c í p i o s d e o r d e m , c o m o f o r a m os que p r e s i d i r a m a p r i -
m i t i v a phase da c i d a d e c v i e r a m c o m a sua a d m i n i s t r a ç ã o
a t é o fim d o s é c u l o .
A s m e l h o r e s e s p e r a n ç a s f o r a m depositadas e m
Constantino M c n c l á o , q u e no p e r í o d o de sua a d m i n i s -
t r a ç ã o , soube por seus actos, corresponder a esta espe-
ctativa p o p u l a r .
A s s u m i u a a d m i n i s t r a ç ã o a 2 1 d e D e z e m b r o de
1 6 1 3 e os seus p r i m e i r o s c u i d a d o s f o r a m t r a t a r dos
interesse d a c i d a d e e seus h a b i t a n t e s . « A c c o r d o u v a r i a s
posturas s o b r e as sesmarias d o c o n s e l h o , seus a f o r a -
m e n t o s , pastagens d o g a d o , desvios d a a g u a d a C a r i o c a ,
p r e ç o dos v i n h o s d c P a l m a , e s t a b e l e c e n d o q u e sc n ã o
pudesse v e n d e r p o r p r e ç o s u p e r i o r ; o de 6 4 0 r é i s a
medida.»
E v i t o u os m o n o p ó l i o s q u e faziam o s n e g o c i a n t e s
dos g ê n e r o s da t e r r a , em p r e j u í z o dos h a b i t a n t e s ; i m p o z
t a x a ao assucar, r e p u t a n d o o v a l o r d o b r a n c o a 9 0 0 r é i s
e o mascavo a 6 0 0 r é i s , c a t t e n d e n d o a n ã o h a v e r moe-
d a na t e r r a , m a n d o u q u e corresse o assucar c o m o d i n h e í r o
c o n t a d o , c q u e p o r t a l o r e c e b e s s e m os m e r c a d o r e s .a
q u e m sc devesse d i n h e i r o , r e g u l a n d o os p a g a m e n t o e
o . - p r e ç o p o r q u e se d e v i a m t o m a r , i s t o é, a 1 $ os assu-
cares brancos, a {140 os mascavo.? e a 8 2 0 os m a i s . F u i >
d o u a f o r t a l e z a d e Cabo Frio p a r a e v i t a r a e n t r a d a e
c o m m e r c i o dos estrangeiros, q u e c o m os i n d i o s n e g o -
ciavam em p á o brazil. ( 1 )
T e v e p o r fim essa e x p e d i ç ã o d e s a l o j a r os francezes
q u e n ã o se t i n h a m e s q u e c i d o dessa r e g i ã o , o n d e e n t r e •
t i n h a m o c o m m e r c i o de p á o - b r a z i l c o m os goyaiacazes.
M e n c l á o recebera c o m m u n i c a ç â o d o g o v e r n a d o r geral
d a . v i n d a de c i n c o n á o s francezas á q u e l l a costa. C o m os
v o l u n t á r i o s p o r t u g u e z e s c 4 0 0 i n d i o s cia a l d e i a d c Sepe-
liòa, e m p r e h e n d e a e x p e d i ç ã o , q u e é c o r o a d a d o m e l h o r
ê x i t o , e x p u l s a n d o os francezes e f u n d a n d o n a casa de
pedra u m a f o r t a l e z a a q u e d e n o m i n o u de S . I g n a c i o .
Este facto m o t i v o u a c o l o n i s a ç ã o do logar, d a capitania
d o E s p i r i t o S a n t o , q u e a g o r a passava aos d o m í n i o s d a
corôa. C o m e ç o u - s e e n t ã o a p n v o a ç ã o de S Helena,
ficando d o m a d o s os i n d i o s e c o n q u i s t a d o o t e r r i t ó r i o .
E i s a h i j á u m r e s u l t a d o d a c o l o n i s a ç ã o , q u e se t i -
nha iniciado no Rio de Janeiro. A l é m do p o v o a m e n t o
E este m o v i m e n t o , á c c e n t u ando-se no s u l , c o n t r i -
b u i u poderosamente p a r a o m a i o r d e s e n v o l v i m e n t o e
proeminencia que a l c a n ç o u o R i o dc Janeiro c m r e l a ç ã o
a B a h i a , deslocando-se para a h i a sede d o g o v e r n o
c o l o n i a l , c o m o p a r a as e x p l o r a ç õ e s d o i n t e r i o r , a a b e r -
t u r a de suas vias de c o m m u n i c a ç õ e s e pois o seu po-
voamento.
L o g o q u e c h e g o u ao R i o de Janeiro, n o m e o u , p o r
p r o v i s ã o d e 2 0 d c J u l h o d c 1 6 1 õ , a seu filho M a r t i n
C o r r ê a a d m i n i s t r a d o r das m i n a s de S . Paulo, c m c u j a
a d m i n i s t r a ç ã o p e r m a n e c e u a t é 1 6 2 1 , sendo s u b s t i t u í d o
o s e u í r m ã o G o n ç a l o Corre.» de S á .
Por esse t e m p o , a m e t r ó p o l e r e f o r m o u o s e r v i ç o
das m i n a s p o r conselhos de S a l v a d o r , c r e a n d o o r e g i m e n
l i v r e , -em b e n e f i c i o d e q u e m quizesse e x p l o r a i as, so-
mente c o m o pagamento d o quinto do o u r o . A r e f o r m a
a c t i v o u as e x p l o r a ç õ e s , d e u - l h e s m a i o r e s p r o p o r ç õ e s e
c o n t r i b u i u p a r a s e r e m a l g u m a s m i n a s d e s c o b e r t a s no
t e r r i t ó r i o pelos p a u l i s t a s .
T e r m i n a n d o M c n e l á o o t e m p o l e g a l de sua a d m i -
n i s t r a ç ã o , f o i s u b s t i t u í d o por R u y V a z P i n t o , n o m e a d o
p o r p r o v i s ã o de 13 d c J u l h o d e 1 6 1 6 . T o m o u posse a
1 9 d c J u n h o de 1 6 1 7 .
A administração publica j á tendia a desccntralísar-
se, pela a m p l i t u d e das f u n e ç õ e s da m u n i c i p a l i d a d e c o
z e l o c o m q u e e l l a p r o c u r a v a exercei-as, pela s e p a r a ç ã o
dos s e r v i ç o s de g u e r r a , q u e a g o r a e r a m i n v e s t i d o s e m
M a r t i n de S á , p o r a l v a r á d e 2 2 de F e v e r e i r o d e 1 6 1 8 ,
c o m a s u p e r i n t e n d ê n c i a dos g a d o s e i n d i o s d e t o d a s as
aldeias s i t u a d a s na costa.
M u i t o cedo o governador abriu conílicto com a
c â m a r a q u e , e m face d o s a c t o s d e v i o l ê n c i a d e V a z
P i n t o , representa ao g o v e r n a d o r g e r a l c o n t r a e l l e , o
q u a l , e m p r o v i s ã o d e 17 de J u l h o de 1 6 1 9 , i n t i m a - o
« p a r a q u e se a b s t e n h a d a q u c l l e s p u n i v e i s e x c e s s o s » .
A a d v e r t ê n c i a da a u t o r i d a d e m a i s s e r v i u p a r a
incendiar a p a i x ã o a u t o r i t á r i a do g o v e r n a d o r local, do
q u e trazel-o ao c a m i n h o da p r u d c n c i a e d a l e i . E a p r i -
m e i r a victima foi o presidente d o governo municipal, o
j u i z o r d i n á r i o d a c i d a d e , preso na cadeia p u b l i c a , d e -
p o s t o d c sua v a r a e c o n d e m n a d o a d e g r e d o p a r a o M a -
ranhão.
A C a m a r a . n o i n t u i t o de r e s i s t i r á v i o l ê n c i a c t o -
m a n d o c o m o base l e g a l d o seu p r o c e d i m e n t o a i n c o m -
p e t ê n c i a p a r a c o n d e m n a r q u e m q u e r q u e fosse « s e n ã o
c m o c e a s i ã o d c g u e r r a e c o m o i n i m i g o a v i s t a » , re-
solve q u e fosse s o l t o o j u i z , c o m o f o i , e r e p o s t o e m suas
funeções.
E s t e a c t o m o t i v a maiores v i o l ê n c i a s , c o m a n o v a
p r i s ã o d o j u i z , c o m s e n t i n e l l a a vista c v i g i a d o p o r g u a r -
das, r e c r u t a d o s n a r u a , sob penas p e c u n i á r i a s .
D e b a t d c a C â m a r a convida-o a c o m p a r e c e r á s suas
s e s s õ e s , r e s p o n d e n d o q u e a estava oecupado n o s e r v i ç o
de e l - r e i , c q u e a l é m disso n â o c o n h e c i a aos omeiaes
d a i n t i m a ç ã o d o a c c o r d ã o , q u e t o m a r a m por officiaes
d a C â m a r a , mas s i m p o r h o m e n s l e v a n t a d o s e r e b e l d e s
c o n t r a o s e r v i ç o d o r e i , e d e s o b e d i e n t e s á s suas reaes
d e t e r m i n a ç õ e s , e á s ordens delle capitão governador, e
q u e h a v i a o u t r o s i m p o r levantados t o d o s os h o m e n s das
i l h a s , e p a r a q u e c o m o taes fossem h a v i d o s , m a n d a v a
deitar p r e g õ e s pela cidade. ( 1 ) .
Estes c o n f l i c t o s n ã o se r e s o l v i a m s e g u n d o os p r i n -
c í p i o s d a l e i c d a analyse m i n u c i o s a das c o m p e t ê n c i a s .
A s o l u ç ã o e r a a f a v o r d o p o d e r q u e d i s p u n h a dos ele-
mentos materiaes.
U m s e r v i ç o publico tomava-se palpitante. E r a o
a b a s t e c i m e n t o de á g u a a c i d a d e . Sua p o p u l a ç ã o trazia-a
de L a r a n g e i r a s .
A l o n g i t u d e c a d i f f i c u i d a de d o transito, por vallas
e p â n t a n o s , t o r n a v a m p e s a d o aos m o r a d o r e s o a b a s t e -
c i m e n t o d'aoua.
P e l a p r i m e i r a vez o g o v e r n o , p o r u m a p r o v i s ã o de
2 3 de D e z e m b r o de 1 6 1 7 , l a n ç a um i m p o s t o sobre os
v i n h o s , c o m a a p p l i c a ç ã o especial de fazer esse s e r v i ç o .
K ' a p r i m e i r a t e n t a t i v a neste s e n t i d o e q u e s ó u m
s é c u l o d e p o i s v e í u acabar-se c o m a c o n s t r u c ç ã o dos
arcos c h a m a d o s d a C a r i o c a .
O u t r o i m p o s t o f o i t a m b é m l a n ç a d o , p o r esse
t e m p o , por p r o v i s ã o de 2 6 de O u t u b r o d e 1 6 1 9 — u m a
finta d e 1 0 0 $ , p a r a c o m o seu r e s u l t a d o , proceder-se o
c o n c e r t o d a cadeia, pois as f u g a s d c presos e r a m c o n t i -
nuas e repetidas.
E m suas d e l i b e r a ç õ e s , s o b r e a a d m i n i s t r a ç ã o d a
cidade, a C â m a r a o b r i g o u aos a r m a d o r e s das baleias a
f a z e r e m m u i t o d i s t a n t e d a c i d a d e o sen s e r v i ç o de t r i p a -
g e m , e n ã o p e r t o c o m o sc fazia, d a n d o l o g a r a i n f e c ç ã o
d o a r e a m o l é s t i a s m a l i g n a s de q u e e s t a v a m s e n d o
a c o m m e t t i d o s o s h a b i t a n t e s . O b r i g o u os p h a r m a c e u t i c o s
a t e r e m os m e d i c a m e n t o s precisos,e p r o c e d e u u m a l i g e i r a
d r e n a g e m n o t e r r e n o , p a r a p r i v a r a e s t a g n a ç ã o das
águas.
D e l i b e r o u m a n d a r v i r d a m e t r ó p o l e 1 0 0 ^ 0 0 0 de
p a t a ç õ e s d c 4 0 reis cada u m , p e l a i n s u f f i c i e n c i a d e
n u m e r á r i o que existia, accordando que houvessem
n e g r o s d e s t i n a d o s a c a r r e g a r e m c a i x õ e s c pipas d e n a -
vios p a r a seus d e p ó s i t o s , e n t r e g a n d o - s c esse s e r v i ç o a
Duarte Vaz.
E s t a r e s o l u ç ã o n ã o d e i x o u de e x e r c e r s u a i n f l u e n -
cia n o a u g m e n l o d a i m p o r t a ç ã o d c negros, q u e d a h i
c m d i a n t e se fez.
E m 16*20 e s t a b e l e c e u d u a s posturas, o r d e n a n d o
q u e os p e s c a d o r e s n ã o transitassem, d e s d e a p o n t a d o
b a l u a r t e a t é L i r i p c , ( 1 ) n e m fizessem nesta p r a i a p o n t o
d c d e s e m b a r q u e e q u e as pessoas p o s s u í d a s de t e r r e n o
n a v á r z e a a t é N o s s a S e n h o r a S e n h o r a da A j u d a , n o
p r a z o de l õ dias, r o ç a s s e - o .
P r o h i b i u o uso das a r m a s pelos escravos e q u e as
casas t é r r e a s sitas n o c i r c u i t o da c i d a d e p a g a s s e m f o r o
ao Conselho;, a i n d a q u e os t í t u l o s de sesmarias as i s e n -
tassem d o f ô r o .
i
— 117 —
r é i s ; os vinhos b o n s de S . J o r g e a p e s o e m e i o c os
outros a '100 r é i s ; q u e o assucar corresse e m p a g a m e n t o
das fazendas a d i n h e i r o , r e p u t a d o o assucar b r a n c o a
900 reis e os mascaves a 5 5 0 r é i s , e q u e sendo v e n d i d o
a d i n h e i r o o u p a r a p a g a m e n t o das d i v i d a s , se tomasse o
assucar b r a n c o a 8 0 0 reis, os masca vos a 4 Õ 0 r é i s , e as
p a n ç Ü a S de m e l a p a g a m e n t o a 2 4 0 r é i s c a d i n h e i r o a
2 0 0 r é i s e q u e os m e r c a d o r e s r e c e b e s s e m e m assucar
o p a g a m e n t o dc t o d o s o ; g ê n e r o s q u e v e n d e s s e m , s e m
a isso p o r e m a mais leve d u v i d a . ( 1 )
Prohibiu a e x p o r t a ç ã o de farinha para A n g o l a ,
sem a p r é v i a f i a n ç a d o í e u p r o d u e t o r i m p o r t a r fazenda,
s e n d o isto s o m e n t e p e r m i t t i d o aos i m p o r t a d o r e s d e
negros.
O b r i g o u no prazo de 15 dias, aos m o r a d o r e s d e r r u -
b a r e m e r o ç a r e m os t e r r e n o s d e f r o n t e de S. F r a n c i s c o .
Eis a a d m i n i s t r a ç ã o dc F a j a r d o .
I
SUMMAÍtlO,—Governa ,le Marli* de Sã e seus siueessores. Medidas admi-
nistrativas e potitieas da Câmara. Caba Fria e Campos
Altrieios entre autoridades.
(I) «Brazil Hist.» por Mello Moraes, vol. 2." pag. 175.
— 11!»
E* p r e c i s o n o t a r q u e M a r t i n de S á e r a a d m i n i s t r a
d o r das m i n a s de S . Paulo d e s d e 1 6 1 5 e q u e p o r p r o -
v i s ã o d e 2 2 de F e v e r e i r o d c 1 6 1 8 f o i c n o r r e g a d o dos
n e g ó c i o s d e g u e r r a , s u p e r i n t e n d e n d o todas as aldeias.
A s i t u a ç ã o g e r . d d a c o l ô n i a o b r i g o u - o a iniciar sua
a d m i n i s t r a ç ã o , por m e d i d a s m i l i t a r e s d e defeza d a c i -
d a d e . C o n s t r u i u os f o r t e s de S a n t a Cruz ( l ) , o de S ã o
F h i a g o e o de b . G o n ç a l o , a l é m do d c S . S e b a s t i ã o
q u e j á t i n h a c o n s t r u í d o , n o m e a n d o as respectivas guar-
n i ç õ e s . ( 2 ) C h í . m o u á s armas, os p o v o s da i l h a . D i v i -
d i u a c i d a d e e m d i s t r i c t o militares, e n t r e g a n d o o com-
m a n d o delles aos o f f i c i á e s d c m a i s b r a v u r a e c o n f i a n ç a .
N o t r a b a l h o de f o r t i f i c a ç ã o , c u j o p l a n o t r a ç o u ,
t e v e a i d é a d c l e v a n t a r u m a f o r t a l e z a na L a g e , o b r a
q u e s ó m a i s t a r d e r e a l i s o u , e m vista.da i n s u f l i c i c n c i a de
recursos d c q u e sc ressentia a a d m i n i s t r a ç ã o .
N ã o o b s t a n t e as d i f f i c u l d a d e ; q u e o a r r o d e a v a m ,
M a r t i n de S á t e v e de prestar soecorros a Bahia, na i n -
v a s ã o hollandeza de 1 6 2 4 , m a n d a n d o seu filho S a l v a d o r
C o r t e i a d c . S á c Bencvides aquella capitania, com 200
h o m e n s , o q u a l , de passagem p e l o E s p i r i t o Santo, m e t -
t e u a p i q u e o i t o vasos e bateu as t o r ç a s inimigas, j á
assenhoreadas t i a t e r r a . ( Ü )
E d e p o i s d e i n s t i t u i r suecessores ( 4 ) , escolheu a
fortaleza d e Santa Cruz, corno seu posto de combate,
c o l l o c a n d o - a c m m e l h o r e s c o n d i ç õ e s d c defeza. D ahi
escreveu á C â m a r a a n o t á v e l c a r t a de 5 N o v e m b r o , e m
q u e , a l é m da sinceridade e n a t u r a l i d a d e c o m q u e
[1) Construído onde esti hoje a Ijircja dc Sanu Cnir. Por isso è preciso
núo cnntundil-o com a actunl forlal-za d« S^in.a Cim.
(21 Foi cm virtude-<ie lêO juSUS consi^er-i^n:* nomeado polo novo gover
na dor capitão do Bairro da Mi>n iioi\üa e ÍVOÍSS Senhora da Ainda Matheu* dc
Monr.i, BWim rouio paia a Cavalheiro no Forte da Candelária a Maíbcus dc
Moura 1- • •. ; pari o de Sao ThiaJío a Alvarolle Matlo* e M-inorl Peixoto.
bem como outros para outros pon*.o« que pãrecerííiO suflieietiies, ficando a tiula.lc
inexpugnável, uma vez que •• *eii fogo Cruzasse hem dirigido sohre o inimigo.
^S. li*bòa A111 do Rio d; Janeira vol. 2.' pag. 7).
(3l *Memorias>, Pííarro vol. 2' pai;. 251.
(4) A suecessão rccauiria cm seu irmãe, o capitão Oouçalo Correia de S;i e
na falta seu üllio Salvador Correia, de Sü r BeiicviJcs, ajudado pelo íidminUtra-
dor eclesiástico.
— 120 —
folia, salienta a d i f f i ç u l d a d e d o m o m e n t o , p a r a d i s p u t a r
o fiel c u m p r i m e n t o d o d e v e r , ( l )
A s i t u a ç ã o dos h a b i t a n t e s d a c i d a d e e s t a v a u m
p o u c o p e r t u r b a d a , n ã o *ó p e l a p e r s p e c t i v a d o p e r i g o
externo, c o m o p e l o c o n f l i c t ò a b e r t o e n t r e a C â m a r a , o
d e s e m b a r g a d o r J o ã o de Souza Ç a r d e n a s , d e l e g a d o d o
governa d o r g e r a l D i o g o de M e n d o n ç a F u r t a d o , p a r a
syndicar dos g o v e r n a d o r e s e o u v i d o r e s .
A i n d a f o i M a r t i n de S a q u e m p r i v o u m a i o r e s p r o -
p o r ç õ e s desse c o n f l i c t ò c u j o r e s u l t a d o seria a cstcrilisa-
ç ã o do governo municipal de triennio que entretanto
foi util á cidade.
O r d e n o u a p e r s e g u i ç ã o dos n e g r o s , q u e j á se r e -
u n i a m em q u i l o m b o s p a r a o r o u b o e o c r i m e n o r e c ô n -
cavo da c i d a d e ; p r o h i b i u as pescarias na b a h i a c o m
tresmalhes, r ê d e s o u t a r t r . r a n h a s ; t o m o u as m a i s e n é r -
gicas p r o v i d e n c i a s d è isolamento e m V i l l e g a i g n o n dos
v a r i o l o s o s ; a j u s t o u a c o n d u c ç ã o da agita da C a r i o c a
com o a f c h i t e c t o D o m i n g o s d a R o c h a , a t e o c a m p o d c
S a n t o A n t ô n i o (hoje l a r g o da C a r i o c a ) , n o prazo p r e f i -
x a d o de q u a t r o mezes, p o r ÍIOÍJOOO.
A s p r o v i d e n c i a s t o m a d a s no t r i e n n i o a n t e r i o r ,
a p p K ç à n d o - s e a este s e r v i ç o o t r i b u t o s o b r e os v i n h o s ,
ru.da t i n h a m p r o d u z i d o . C a d a vez m a i s t o r n a v a - s e i n -
(1J Nào podemos deixar de trasladar aqú este r.otavél documeiilo — Bem
farão que Vmcs. viciam c<i lambem a £üiar deste uabalbo. e -ssistireni alguns
«lias c serem testemunhai (Se ttiinlía assíd.uidãflc e do uuballio dc minlia pessóa,
e gasto meu c da fabrica quê lr*go mi: lia ncstai abfaS, para que mc nào quei-
río quando íór loapo rmurerer 3 vurd^de, pcís mc sinto Uío pouco venturoso
•lesta cidade ganhada aos iui ulgos e povoada por meu pai, c por meu pai, e por
parente» meus susiciiúdá, e póí mim qi:e cm occaslio nctiüuma f.ilteí do minha
ubrigaçáo. mostrando em as vccasiôt* que se oflcrcccram o lugar que devia a
quem era c o lionco donde t tua nu, na>cido aqui c cruido. que em lO'>us Vtues.
Ou por nina via, ou por outra, como honracLs que são, acudindoflõque devem
assim por suas pessoas, como p;lo dessas senhoras com quem Vmcs. são
casado*, e por seus parentes, acudindo a todos cs:es rcquí.-iír>íi, quando cm mim
houvera fatiado alguma çousu, corria a Vmcs, a obrigação de me fazerem a
mercê que em iodas as parles por onde andei acho, pois ncllas sou mais aca-
tado, mais atuado, mais cs'.:ma do du que aqui o sóú com a* merces que Sua Ma-
gestade nn- fáíj aurihuo ao provérbio dc «ninguém *• prnphela cm pátria Sua»,pois
poderei cuidar q'jc será inveja? Xan. nào pode haver; per serem Vmcs. quem
sâb e pela» obriga,òcs jniv.a rclcrid.is. e sobretudo, nuus sonàdres e amigos.
O mandar ;iièm de pedir a Vmcs. nonticar. siesiétu assistir COUIÍJÍO, estimarei
que venha" Vmcs., porque certo ha que me obrigou a isso; entre Vmcs. iui,
guc cada mu o que dUse, porque à ytsia e presença, e apalpadu o trabalho-
d i s p e n s á v e l fazer o s e r v i ç o d e abastecimento de a g u a .
E esse c o n t r a c t o ê o c o m e ç o da g r a n d e o b r a c o n c l u í d a
u m s é c u l o depois, d o a r c h e d u e t o da C a r i o c a .
O b r i g o u os m o r a d o r e s a c a l ç a r e m as testadas d c
suas casas, c o m cinco p a l m o s d c l a r g u r a e c m t o d a a
e x t e n s ã o dêilasi
M o d i f i c o u a t a x a d o assucar c o m o m o e d a , v a l e n d o
os assucares b r a n c o s 8 0 0 r é i s , p o r a r r o b a , os mascavos
5 0 0 l é i s e á s panei Ias de m e l 2 0 0 r é i s . E s s e a u g m e n t o
ligava-se á v a l o r i z a ç ã o q u e t i n h a a l c a n ç a d o o assucar
nos m e r c a d o s da E u r o p a , e m c o n s e q ü ê n c i a da g u e r r a
h o l l a n d e z a na Bahia e P e r n a m b u c o , r e d u z i n d o , consi-
d e r a v e l m e n t e sua p r o d u c ç ã o .
E s c o l h e u u m l o g a r , na p r a i a de S . Bento, para a
crena das e m b a r c a ç õ e s , seus reparos e c o n c e i t o s ; fixou
o peso d o p ã o e m 16 o n ç a s .
L e v a n d o M a r t i n de S á ao c o n h e c i m e n t o d a C a -
m a r r a p r o v i s ã o d o g o v e r n a d o r g e r a l creando o i m p o s t o
de 8 0 r é i s sobre c a i x a de assucar, e l l a r e s o l v e u , no uso
d e d i r e i t o de p e t i ç ã o , p o n d e r a r as i n c o n v e n i ê n c i a s desse
t r i b u t o e sua i n o p p o n u n i d a d e , « p o i s se d e v i a a t t e n d e r
para a p o v o a ç à o e os poucos annos de sua f u n d a ç ã o ,
c o m o p a r a a distancia e m q u e a ella v i n h a m pois esses
mesmos q u e a c u d i a m , e r a e m r a z ã o da l i b e r d a d e q u e
gosava este p o r n ã o pagar a i m p o s i ç ã o c t r i b u t o s , q u e
irmão, lembrando que.estamus cspeiando ao inimigo, e que nflo seja parte sua
lardança, poji pode entrar cada hora para haver descuido, antes hoie havemos
de estar nuis a ponto, pois nus tarda aviso que i signal de que o inimigo n â o
e levantado, e eu sou uma pessoa soe não posso estar fazendo esta fniiaíezr, c
deixar e.ta fabnen que entre mãos trago, para aeodir á cidade, a qual deixei iá
eulncheuaua . W** "
c
defensar quando para cá vim. por ver o quo
m o r d c m
feuii a \mcK,comu opitftof governador que era desta cidade, que Vmcs. vis-.
. « Í ^ J ! ^ " J ^ l - V 2& " > P " 4 « aPO"U a ordenação do
X v d c M n à o r
.««^IV1™K" ' ° P° e
S ""lq--ic Sua Mafc-citadc lhe dá, « m i m
S d O T W e rc imei
«rrido, e nào se exceda o modo, que ao mesmo desembargador deve estar ísío
>
— 123 —
P r o h i b i u a v e n d a e m g r c s s p de m e r c a d o r i a s i m p o r t a •
das ao p o v o , r e n o v o u os a f o r a m e n t o s n o prazo d e t r e s
mezes.
Eis as m e d i d a s m u n i c i p a e s n o t r i e n n i o .
A s i t u a ç ã o n ã o p e r i n i t t i a a e s t a b i l i d a d e dos chefes
d a a d m i n i s t r a ç ã o , c o m o M a r t i n dc S á , q u e s ó c u i d a v a
do s e r v i ç o p u b l i c o .
E m v i s t a d i s t o , p o r c a r t a r e g i a d c 2 7 de Junho d e
1626 f o i elle reconduzido.
U m m o v i m e n t o de e x p l o r a ç ã o c o m m e r c i a l se fazia
s e n t i r , c o m g r a n d e p r e j u í z o dos interesses p ú b l i c o s . U m
g r u p o de negociantes, a q u e c h a m a v a m alravessadores^
c o m p r a v a m c m g r o s s o as m e r c a d o r i a s q u e e r a m i m p o i -
tadas, p a r a t e r o p r i v i l e g i o de s ó m e n t e as vender, p e l o
p r e ç o q u e correspondesse ao seu e g o í s m o . A c â m a r a
r e s o l v e u e n t ã o f e c h a r c p r e g a r as p o r t a s das casas c o m -
m e i c í a e s d o s atravessadores, p o r a c t o d e 3 de O u t u b r o
d e 1 6 2 6 , dando-lhes u m prazo d e u m n u z p a r a retira-
ram-se d a c i d a d e .
R e g u l o u t a m b e m o f r e t e dos navios, e n t r e g u e a t é
e n t ã o ao a r b í t r i o e v o n t a d e dos seus donos, b a i x a n d o u n i
r e g u l a m e n t o p e l o q u a l — « n o s n a v i o s de 8 a 1 0 p e ç a s
para c i m a n ã o p o d i a passar o f r e t e de 1 6 $ p o r t o n e l a d . i
e m e i o t o s t ã o d c a v a r i a , e a 1 2 $ a t o n e l a d a para A n g o l a ,
c u j o r e g u l a m e n t o se p r a t i c a r i a d e b a i x o d a pena d c 10O
cruzados, e de s e r e m castigados ao a r b í t r i o d a c â m a r a
l o g o q u e o c o n t r a r i o praticassem, em f r a u d e e c o n t r a a
d i s p o s i ç ã o desta p o s t u r a ; e q u e os navios q u e n ã o
nem, Vmcs. com as provisões unias c outras, cm câmara, mio respoadão perante
as parte-,, que o que cu já pedi a Vmcs. dc uuira vez, e sc nao vao com ellas
aos Sri. religiosos, que uào devem d" ser por nenhumJ das partes, e com elles
tratem o que as provisões dão lugar, mandando lambem chamar os letrados
cpie houver de fóra r atjiuuia* pss&oás que o estendi", que sem •-• i • i " dem os
seus parcccies, porque dista st serve Il;u? c el-rei. e não de deaumocs, de bandos
do particulares de cada um de nós representando a Vmcs., e notificando-lhcs
por esta minha assignada, que o e-i-rivão da câmara buUrà em livro para a
iodo o tempo constar de como pedi e peço a Vmcs. i» contendo iiella, paia
quietaçao desle povu e Saber cada um da jurisdição de que ha de usar, e de
como a cidade está aterrada com estas disseuçoes, com uccasiâo presente do
inimigos qliem se deve ter respeito, além do servi.o deel-rel.
a
•\
— 124 —
viessem f r e t a d o s d e P o r t u g a l s e r i a m c o n s t r a n g i d o s os
mestres delles a d a r e m a m e t a d e da s u a c a r g a p a r a se
repartir pelos m o r a d o r e s d a c a p i t a n i a . » ( 1 )
E ' preciso n ã o e n c a r a r estas m e d i d a s e m f.icc
dos p r i n c i p i e s m o d e r n o s da e c o n o m i a p o l í t i c a e s i m
dos daquelles t e m p o s , e m u m a s i t u a ç ã o p r e c á r i a d e
g u e r r a , em q u e todas as a m b i ç õ e s se e n c a n d e s c i a m .
O c l e r o e os poderosos d e e n t ã o n ã o p o d i a m s e r
i n d i f f e r e n t e s ao m o d o i n d e p e n d e n t e c justo c o m q u e o
o u v i d o r Paulo P e r e i r a c u m p r i a os seus d e v e r e s . C o m e -
ç a r a m a representar c o n t r a e l l e , p e r a n t e o g o v e r n a d o r
g e r a l , q u e . a p r o p ó s i t o d c excesso d e j u r i s d i c ç ã o e o u t r o s
p o n t o s q u e f o r a m a l l e g a d o s , fez-lhe g r a v e s i n e u l p a ç õ e s .
N o g o v e r n o e r e p a r t i ç ã o d o s u l , dizia P a u l o ' P e r e i r a , s o u
eu ouvidor geral, independente d o ouvklor-geral d a
Bahia o D r . J o r g e da S i l v a M a s c a r e n h a , q u e somos
iguaes c m j u r i s d i c ç ã o , o q u a l n e n h u m a s u p e r i o r i d a d e
t e m e p o d e t e r s o b r e m i m , e q u e os n e g ó c i o s q u e o S r .
g o v e r n a d o r g e r a l h o u v e r d e m a n d a r fazer nesta m i n h a
j u r i s d i c ç ã o , de m a t é r i a de j u s t i ç a o u q u a l q u e r o u t r a d o
s e r v i ç o de S u a M a g e s t a d e , q u e elle h a j a de c o m m e t t e r
ao o u v i d o r g e r a l da B a h i a p a r a sc f a z e r e m e m seu dis-
tricto ; mas h a d e . c o m m e t t e r a m i m d o m e s m o modo,
v i a e f ô r m a , q u e os c o m m e t t e r a o u t r o , para eu as fazer
neste m e u d i s t r i c t o . » ( g )
A d e f e s a c a b a l , e x a r a d a neste o f í c i o d e 2 2 d e
Julho d è 1 6 3 1 , i n s p i r a ao g o v e r n o g e r a l da c o l ô n i a a
p r o v i s ã o de 3 0 de N o v e m b r o de 1 6 3 1 , p e l a q u a l e r a
c h a m a d o á B a h i a o o u v i d o r do R i o , no prazo d e 2 0 d i a s ,
sob pena d c p r i s ã o , n ã o d e v e n d o mais o p o v o p r e s t a r -
lhe o b e d i ê n c i a , n e m c u m p r i r suas o r d e n s . . O e m i s s á r i o
para c u m p r i r s e m e l h a n t e v i o l ê n c i a f o i o p r o v e d o r - m ó r
d a Bahia, M i g u e l C i r n e de F a r i a q u e . i m p o s s a d o p o r
M a r t i n de S á , no l o g a r d c O u v i d o r , exec i t o u as o r d e n s
d e q u e vinha e n c a r r e g a d o . D e p o i s d e a p r e g o a d o p e l a s
(!) Hist do Bratil, por V. Foito Seguro, vol. 1" pg. 489.
(2) Brasil Hist, vol. 3 pag. 3Ü.
o
d a q u e l l a zona, c o m as d o a ç õ e s d a d a s p o r M a r t i n de S á
aos « s e t e c a p i t ã e s » , ( 1 ) q u e t a n t o o a j u d a r a m e q u e fo-
r a m os p r i m e i r o s a l a n ç a r as bases do t r a b a l h o . a g r í c o l a
por aquella r e g i ã o (2), assumindo m a i o r desenvolvi-
m e n t o q u a n d o , c o b e r t o d c v i c t o r i a s , v o l t o u de P e r n a m -
buco Salvador Bcncvides, como mostraremos. E m face,
pois, dos s e r v i ç o s de M a r t i n d c S á e da c o n f i a n ç a q u e
inspirava ao p o v o da c i d a d e , é fácil c o m p r c h e n d e r os
m a l e s q u e causou sua m o r t e , a s i t u a ç ã o d o l o r o s a d a
p o p u l a ç ã o , vendo f a l t a r o b r a ç o q u e e r a a m a i s f o r t e
g a r a n t i a da s e g u r a n ç a p u b l i c a .
A C â m a r a , em d o c u m e n t o ofHcial remettido ao
g o v e r n a d o r g e r a l , e x a r a o seu s e n t i m e n t o de pezar, p e l o
fallecimeatode t ã o grande cidadão, aliás fluminense, (3)
sendo n o m e a d o p a r a s u b s t i t u i ! - o , p o r p r o v i s ã o de í) d c
M a r ç o de 1 6 3 8 , R o d r i g o de M i r a n d a I l e n r i q u e s , a t é
e n t ã o c a p i t ã o da c o m p a n h i a de arcabuzeiros do t e r ç o
d o mestre d c c a m p o D . C h r i s t o v ã o M e x i a B o c a n e g r a ,
o q u a l t o m o u posse a 13 d e J u n h o do m e s m o a n n o .
O direito dc s u e c e s s ã o , dictado pelo próprio Mar-
t i n de S á , recahiu c m seu t i o D u a r t e C o r r ê a V a s q u e a -
nes, c a p i t ã o da g u a r n i ç ã o d a f o r t a l e z a de S . J o ã o , q u e
capitães Oonçalo Correia, Mauvcl Correia. Ousttc Carreia e Miguel Ayres Alui-
doiudo « a Autonio Sinto, João dc .Castilhos e Miguel Riscado, por csciipiuia
lavrada a 19 dc ?gosto de 16LT. A sesmaria concedida loinprehcndia as terras
que SÉ est^adcr.i do Km M;i,alie ao rio IgnaçA. do cabo dc S. Thomé para o
norte, mn nido pela <ort.t mire um e o outro rio, e pára o sertão ate' rume .ia
serra, sçguudo dizem Baldiazar da Silva Ijihoa nus seus Anuae$ ,lv Rio de
Janeiro e o visconde de Araruama na sua curiosa c ir.tcrcssante Memória To-
pv*ra6hita e historia •/e.C.iniposdeGoyiataf^. i:ram homtns importantes do
Kio dc J.uiciro, que haviam prestado a eoiòa relevantes a*rvÍ*;os rem as vidas e
Jaienàa. no decurso dr; 30 anr.oi, nas gnenas com iutrusos fraseies e hollandc-
acs c em incursões de barbaras nas capítaujâs do ííio dc Janeiro, o de S. Vicente
ç .-m Caho-Frio. A »;oni'cssào em Ihul feita para a criaçüo de gado e sob a con-
dição d&, si lcvamassc engenhos, pagarem ao dor.a:arío o fòro que lhe competia
e o dizimo ao mesi^do d,t Ordem de Cluisío. fâiv, ,/o Inst. vol. 49 pag 58).
, . '7 Í?.SÍ », " "Je Sã no Kio dc J;-noim em 1560* e morreu a 10 dè
1 r c,! M rl,n
Agosto de 1032 (I-i/.iro eár. <it. vol. 2" pag. 249). Na opinião do mesmo chro-
nista eju) loi a Cabo-frio em 1(120, quando fundou-se a aldeia de S Pedro
ncan^o interina me ulc no governo Duarie Corrêa Vasqueuucs,
— 127 —
q u e assumiu a a d m i n i s t r a ç ã o , c u j a n o t a d o m i n a n t e f o i
a r m a r a c i d a d e d e elementos de d e f e s a , c o n t r a u m a
i n v a s ã o hollandcza, sempre em a m e a ç a . ( 1 ) .
A s i t u a ç ã o do g o v e r n o n ã o era f á c i l . O s prece-
dentes de b o m senso e c r i t é r i o t i n h a m sido f i r m a d o s
p o r M a r t i n de S á . A n t ô n i o C o r r ê a t i n h a c o n s t r u í d o , á
sua custa o p e d r a s t o da Candelária, d o m o s t e i r o de S .
Antônio, c h a m a d o de . V . S. d*Ajuda. I s t o m o t i v o u ser
elle n o m e a d o c a p i t ã o d e s t a f o r t i f i c a ç ã o , s e n d o i g u a l -
mente nomeados J o ã o Rodrigo Bravo e Francisco de
S e i x a s R a b e l l o , c a p i t ã e s da f o r t a l e z a situada no outeiro
de S. Bento e d o forte de Santa Cruz da barra.
P r c o c c u p o u o seu e s p i r i t o o s e r v i ç o d o abasteci-
m e n t o d á g u a q u e , t e n t a d o pelas a d m i n i s t r a ç õ e s passa-
das, c o n t i n u a v a a m e r e c e r a a t t e n ç ã o dos g o v e r n o s . D e
a c c o r d o c o m a c â m a r a , c r e o u o i m p o s t o de 1 6 0 r é i s , so-
b r e c a d a c a m a d a d o v i n h o i m p o r t a d o , para ser applica-
da á q u e l l e s e r v i ç o .
A l é m destas providencias de c a r a c t e r local, outras
f o r a m t o m a d a s , s o b r e assumptos menos i m p o r t a n t e s .
Restabelecendo a c â m a r a q u e n ã o houvessem p i r a q u e s
d a b a r r a para d e n t r o ; q u e os oleiros s ó m e n t e p o d i a m
l e v a r 2 0 $ p o r cada m i l h e u o d e telha, a 3 $ o t i j o l o e a
3 0 reis cada f ô r m a , e c r e o u u m r e g i m e n t o aos a f i l a d o -
r e s , p a r a q u e s ó m e n t e levassem h% de a f f e r i r pesos de
a r r a t e l , 4 0 r é i s os de a r r o b a e 8 0 réis os d c d u a s a r r o -
bas ; das m e d i d a s S0 r é i s e o mesmo p o r a f i l a r v a r a e
covados, c os pesos m i ú d o s a õ r é i s ; a 8 0 r é i s os a l q u e -
res, q u a r t a s e m e i o s a l q u e i r e s , e q u e se fizesse r e g i -
m e n t o para os b o t i c á r i o s , p o r o n d e se d e v i a m r e g u l a r
na v e n d a de seus r e m é d i o s , c finalmente q u e todos g e -
(1) Proveu os posto milharoadas pessoas que julgou t\ahcis para o dosem*
pcr.har, tanto, no tempo ita paz, como da guerra ; piovén de capitão de bairro
da Misericórdia r. Nossa Senhora da Ajuda a Ma:heus de Monr i pÒDaçBj c de
cav.-illiciro cm ü fottts da Candelária a Alvaio do Mattos, e da fuitalr/a de S.
'lhiago, vila na mesma cidade, a Manuel P.íxoto, c todos os mais cvir." poniemts
postos wililares que julgou necessários rara ,i cidade^star defendida, L oppói-se
a qualquer prelençâo inimiga. (BrrtfiVifííVtfrico, vyl, H" pag. 6áJ,
— 128 —
n u n c i a v a a c a l a m i d a d e p u b l i c a ; as m i n a s d e s c o b e r t a s
de ouro, prata, p é r o l a s , salitre e ferro, pareciam sepul-
t a d a s no e s q u e c i m e n t o ; n a d a se a p r o v e i t a v a e m b e n e -
ficio c o m m u m : cada u m se l a m e n t a a si m e s m o , n ã o
h a v e n d o q u e m os pudesse a n i m a r . ( 1 )
II
SUMSArtfO.~A escravidão indígena. A lavoura, o clero e osjesuilas. Os pre-
lados João da Cosia, Mathens da Costa Alboim c Lourenço de
Mendonça. Seus actos. Opiniões de um ehronisla. Invasão na
autoridade civil. O padre Pedro Homem Alhernaf. Bnllis de
SÜ^de Maio de e 29 de Abril de 1620. Sua execução no Rio
Os Jesuítas, o prelado e a câmara. Sua execução em S. Pauto.
Hxpulsão dos Jesuítas, As luetas. Salvador e a opinião publi-
ca. Governo de l.ui( fíarbalko. Sen programma. Governo de
Duarte Vasqueanes. Divergência* na opinião,
!l) K*se ehronisla c o auclor de uma Mcrn. mss. que existe ua Bihlio-
Iheca Naeienal Ann-do Rio dc Janeiro dc Janeiro—dc que Mello Moiacs pu-
blicou alguns cap. Brasil His<"ii<o,
Por essa occasiào i:reou-se Ires terços dc Iufeiilera* e os enviou ao
Conde da Torir, q«e se achava cm Pernambuco, cm «oeeorco daquclla Capitania,
e com elles os precisos mantimentos, alem de ouiros Donativo»; quasi teda
aquella Tropa derramarão ali 0 >eu S3nguc 00 serviço do Estado. {Annaes do
Rio dc Janeiro por Silva Lisboa, vol. 2 pag. 28.
o
— 130 —
N o fim d o s é c u l o X V I firmou o r e g i m e n d o a l d e i a -
m c n t o , q u e n ã o passava d o p r i v i l e g i o dos j e s u í t a s s o b r e
o b r a ç o i n d í g e n a . E m Julho d e 160!), v e i u a l e i d a
e m a n c i p a ç ã o d o i n d i o . M a s , s o m e n t e para o p o v o , p o r -
q u e o r e g i m e n s e r v i ! c o n t i n u o u e m f a v o r dos j e s u í t a s ,
p a r a q u e m c o n t i n u o u o r e g i m e n das aldeias. Essa l e i
m o t i v o u proteste>s e m t o d a c o l ô n i a e nella o r i g i n a r a m - s e
as bandeiras d c S. P a u l o , p a r a c a p t i v a r e m os í n d i o s , f o r a
da j u r i s d i c ç ã o dos padres.
A m e t r ó p o l e r e c u o u e firmou o r e g i m e n m i x t o . N a
aldeia creou u m a a u t o r i d a d e c i v i l , o c a p i t ã o , d e n o m e a -
ç ã o d o g o v e r n a d o r . E* a l e i de 10 de S e t e m b r o d c 1 6 1 1 ,
q u e a i n d a mais v e i u a n i m a r os f a z e n d e i r o s da co-
lônia.
N o R i o de J a n e i r o , c o m o j á v i m o s , o p r e l a d o , b a -
c h a r e l J o ã o da Costa, a l e m de d i l a t a r sua j u r i s d i c ç ã o
ecclesiasticá, abrindo attrictos com a autoridade civil,
p a r a a u g m e n t o dos d i r e i t o s c e m o l u m e n t o s d e sua c h a n -
c e l l a n a , c o n s t i t u i u se o a r b i t r o da c o n d i ç ã o dos i n d i o s ,
« d e c l a r a n d o lhes g u e r r a e l e v a n t a n d o - l h e s b a n d e i r a s » .
E m nome dos interesses a g r í c o l a s , p r o t e s t a m a c â -
mara e o povo c o resultado foi a d e p o s i ç ã o do prelado,
p o r u m a s e n t e n ç a d o t r i b u n a l da tèahia. ( 1 )
N ã o o b s t a n t e isto, c o m e s m o o p r o g r a t u m a da
a d m i n i s t r a ç ã o religiosa dc Malheus da Costa A l b o i m
( 1 6 0 6 ) , « m e t t e i i d o - s e na q u e s t ã o da l i b e r d a d e dos i n -
dios e de l e v a n t a r b a n d e i r a c o n t r a elles, r e s u l t a n d o
acabar os seus dias, e n v e n e n a d o a 8 d c K e v e r e i r o de
162». (2)
D e p o i s de a l g u m a s a d m i n i s t r a ç õ e s i n t e r i n a s , f o i
nomeado, p o r c a r t a r e g i a de 2 3 d c J u l h o de 1 6 3 2 , L o u -
r e n ç o de M e n d o n ç a {;!), c u j o g o v e r n o f o i mais a r b i t r á -
r i o e v i o l e n t o d o q u e o d o s seus predecessores. I n v a -
o u v i d o r F r a n c i s c o F e r r e i r a da V e i g a , em sua e o r r e i ç â o
de 1 6 3 6 , o q u a l l i m i t o u - s e a promessas.
A f a l t a d e m e d i d a s legaes, p a r a f a z e r e m r e c u a r a
a u t o r i d a d e e c l e s i á s t i c a ao l i m i t e s de suas a t t r i b u i ç õ e s ,
d e s p e r t o u o excesso p o p u l a r c o n t r a M e n d o n ç a , chegan-
d o a p o n t o de i n t r o d u z i r em sua r e s i d ê n c i a u m b a r r i l d e
p ó l v o r a e m o r r õ e s , d a n d o i s t o l o g a r a uma devassa, ce-
l e b r e na epocha, c u j o r e s u l t a d o f o i contra o p r e l a d o .
R e p e t i d a s as a c c u s a ç ô c s p e r a n t e o - m c t r o p o l i t a n o
d a B a h i a , sem q u e ellas p r o d u z i s s e m o c o r r e c t i v o , o
p o v o r e s o l v e u o e m b a r q u e f o r ç a d o d o p r e l a d o , do q u a l
p o u d e esquivar-se c o m a f u g a , e m b a r c a n d o para P o r t u -
g a l e m A b r i l de 1(137. ( 1 )
N o f i m de p o u c o s dias, f o i a b s o l v i d o pelo T r i b u -
nal da I n q u i s i ç ã o , p o r s e n t e n ç a de 19 de Junho de
1637. (2)
E m h o m e n a g e m a defeza de M e n d o n ç a e c o m o re-
p r o v a ç ã o d o p r o c e d i m e n t o d o p o v o do R i o de Janeiro,
o r e i m a n d o u r e q u e r e r á S é A p o s t ó l i c a , p o r c a r t a de 7
d e O u t u b r o d c 1 6 3 9 , a c r e a ç ã o d a a d m i n i s t r a ç ã o eccle •
siastica d o R i o e m B i s p a d o , n o m e a n d o M e n d o n ç a b i s p o
d o Rio. (3)
D e s d e sua i d a p a r a P o r t u g a l , ficou g e r i n d o a
a d m i n i s t r a c ç ã o i n t e r i n a m e n t e o p a d r e Pedro H o m e m
A l b e r n a z , na q u a l f o i c o n f i r m a d o por c a r t a r e g i a de 2
de S e t e m b r o de 1 6 3 9 .
Parte n o t á v e l e p r o e m i n e n t e t o m o u este p r e l a d o
na q u e s t ã o da l i b e r d a d e dos indios, q u e agora ia entrar
e m sua phase a g u d a , p r o d u z i n d o os graves aconteci-
mentos q u e v a m o s r e l a t a r e q u e t a n t o p e r t u r b a r a m o
g o v e r n o de S a l v a d o r B e n e v i d e s .
A h i e s t ã o t r a ç a d a s as causas dos factos q u e se de-
e n t r e os j e s u í t a s D . P e d r o d c M o u r a , v i s i t a d o r g e r a l
desta p r o v í n c i a e M a t h e u s D i a s , p r o c u r a d o r do c o l l e g i o ,
a l e m do p a d r e T o r i n h o c d o o u t r o l a d o os m e m b r o s d a
c â m a r a e dos e l e i t o s d o p o v o , para assistirem e firma-
rem o c o n c e r t o — o s a r g e n t o m ó r J o ã o D a n t a s , 0 c a p i t ã o
A l e i x o M a n u e l , o c a p i t ã o D i o g o d e Á v i l a c J o ã o dos
Zeures.
O s j e s u í t a s c o m p r o m e t t e r a m se a d e s i s t i r «tia p r o -
c u r a ç ã o , e x e c u ç ã o e p u b l i c a ç ã o d á s bullas, d a causa
p r i n c i p a l de d i r e i t o q u e p o d e r i a m ter, na q u a l n ã o se-
r j a m p a r t e s , n e m usavam d e i n t e r r u p ç ã o a l g u m a , d i r e c -
t a o u i n d i r e c t a ; d e s i s t i a m a i n d a do a g g r a v o q u e na
causa t i n h a m i n t i m a d o e i n t e r p o s t o ao p r e l a d o , p o d e n d o
a t é fazer t e r m o d c d e s i s t ê n c i a nos mesmos a u t o s ; q u e
nunca t i v e r a m a d m i n i s t r a ç ã o a l g u m a dos i n d i o s que
e s t a v a m c m casa dos m o r a d o r e s , n e m a q u e r i a m , ainda
l h a dessem, o b r i g a n d o - s c a n ã o c o n s e n t i r e m i n d i o a l -
g u m c m suas aldeias, q u e esteja em casa o u s e r v i ç o de
a l g u m m o r a d o r , c o m a d e l i g e n c i a de fazerem t o r n a r a
casa os q u e a ellas se acolhessem ; o b r i g a r a m - s e a n ã o
t r a t a r em n e n h u m t r i b u n a l q u e s t ã o de i n d i o q u e fosse
c m p r e j u í z o da c a p i t a n i a ; o b r i g a r a m - s e ainda a que no
q u e toca ao a g g r a v o o u m o l é s t i a , de q u e se t i n h a q u e i -
x a d o , sc lhes havia feito por r a z ã o da ida desta c â m a r a ,
o f f i c i a e s d e l i a , e j u s t i ç a e mais p o v o , á p o r t a r i a d o d i t o
c o l l e g i o a t r a t a r de sua d e f e n s ã o , em r a z ã o da p u b l i c a -
ç ã o tia d i t a p r o v i s ã o e b u l l a , q u e no d i t o c o l l e g i o se
h a v i a f e i t o , p e n d e n d o a vista e causa dos embargos,
q u e d e l i a n ã o t r a t a r i a m , e c o m e f f e i t o renunciavam t o d o
e q u a l q u e r d i r e i t o q u e neste p a r t i c u l a r o d i t o c o l l e g i o
tivesse o u p r e t e n d e s s e , p o r q u a n t o c a d a u m dos r e v s .
p a d r e s d e l l e p e r d o a v a m a si e a c a d a u m delles, con-
f o r m e as leis da c a r i d a d e e h u m i l d a d e religiosa, c o m o
j á t i n h a m feito, q u a l q u e r a g g r a v o , m o l é s t i a , i n j u r i a , q u e
no caso sc considerasse, e elles ditos padres, c o m o su-
periores, a q u e m t o c a v a esta a c e u s a ç ã o , o p e r d o a v a m
p o r esta t r a n s a c ç ã o , o q u e faziam in tolumpro óouapaas,
e q u e sendo caso p o r q u e q u a l q u e r p a r t e do d i t o c o l l c -
136 -
g i o se q u e i r a fazer a l g u m a a c c u s a ç ã o s o b r e este p a r t i c u -
lar desta l i d e , a elle p o d e r á e n t ã o este p o v o e elles d i t o s
contralietites, e seus succcssores, officiaes da c â m a r a ,
q u e f o r e m a l l e g a r t o d a a m a t é r i a dos c a p í t u l o s q u e n o
a g g r a v o t i n h a m a l l e g a d o , e t u d o mais q u e lhe p a i e c e r
b e m , possa f i z e r a b e m d o seu d i r e i t o e j u s t i ç a e m res-
peito dos d i t o s r e v s . p a d r e s deste c o l l o g i o » . ( 1 )
O s c a m a r i s t a s e d e l e g a d o s d o p o v o , p o r seu l a d o ,
disseram q u e d a « m e s m a m a n e i r a r e n u n c i a v a m e desis-
t i a m dos c a p í t u l o s e resposta q u e t i n h a m d a d o no d i t o
a g g r a v o e delles n ã o t r a t a r i a m d i r e c t a o u i n d i r e c t a ,
a l i á s n e m i n d i r e c t a p o r s i , nem p o r o u t r e m , e m n o m e da
d i t a c â m a r a c p o v o , c s ó delles t r a t a r i a m q u a n d o pelos
ditos revs. padres fosse i n n o v a d a a l g u m a cousa na f o r m a
r e l a t a d a , o b r i g a n d o - s e uns e o u t r o s pelos bens d o d i t o
collegio e da dita c â m a r a a cumprir e guardar, e estar
p o r t o d o o c o n t e ú d o nesta d i t a e s c r i p t u r a , q u e uns e o u -
tros a c c e i t a r a m ; e eu t a b e l l i ã o , c o m o pessoa p u b l i c a
e s t i p u l a n t c e acceitante, a c c e i t e i em n o m e deste p o v o
pelas p a r t e s ausentes delia a q u e m t o c a r . » ( 2 )
C o m o se v ê , a b u l l a f o i e x e c u t a d a p o r u m a
transacção, em que o s j e s u í t a s mais capitula-
r a m , d o q u e os camaristas, pelos c o m p r o m i s s o s d e n ã o
mais se i n g e r i r e m e m q u e s t ã o de i n d i o s .
E no t e r r e n o p r a t i c o p ô d e se dizer q u e os c o m p r o -
missos dos camaristas n ã o r e v o g a r a m o r e g i m e n d a l e i
de 1 6 1 1 , e m q u e v i v i a m . L i m i t a r a m - s e a n ã o d a r a n -
d a m e n t o ao processo j u d i c i á r i o q u e t i n h a m i n t e n t a d o ,
p a r a a e x e c u ç ã o da b u l l a ,
P o d e m o s , p o i s , d i z e r q u e ella n ã o teve e x e c u ç ã o ,
c o m o os factos p o s t e r i o r e s d e m o n s t r a r a m .
N ã o o b s t a n t e i s t o , a n o t i c i a dessa b u l l a e da e s c r i -
p t u r a a m i g á v e l c e l e b r a d a n o R i o de Janeiro, p r o d u z i u
n o espirito p u b l i c o de S. Paulo a mais p r o f u n d a p e r t u r -
b a ç ã o , c o l l o c a n d o seus h a b i t a n t e s na f r a n c a p o s i ç ã o r e -
v o l u c i o n a r i a , c o n t r a os j e s u í t a s , q u e f o r a m expulsos d o
seu c o n v e n t o , em 1.-! de J u l h o de 1 0 4 0 , o m e s m o suece-
d e n d o e m Santos.
O s p r e c e d e n t e s j u s t i f i c a v a m esse p r o c e d i m e n t o .
A s e x p l o r a ç õ e s de minas, a q u e se d e d i c o u m u i t o
c e d o o p a u l i s t a , desde a d e s c o b e r t a de A f f o n s o S a r d i -
nha, c o l l o c a r a m - n ' o na p o s i ç ã o de mais p r e c i s a r e m d o
b r a ç o i n d i o d o q u e o f l u m i n e n s e , de c u j o t r a b a l h o a g r í -
cola o i n d i o e r a o b r a ç o p r i n c i p a l .
E ' n a t u r a l , pois, q u e a r e s i s t ê n c i a d o paulista, fosse
maior.
Por d u a s vezes, os paulistas t i n h a m p r o c u r a d o re-
g u l a r a s i t u a ç ã o d o i n d i o , p a r a suas necessidades de ex-
p l o r a ç ã o , c o m ò s j e s u í t a s , p o r a c c o r d o de l õ de A g o s t o
de 1 0 1 1 e 1 0 d e J u n h o d c 1 6 1 2 , E p o r duas v ^ e s t i -
n h a m esses c o m p r o m i s s o s s i d o revogados p e l o e g o í s m o
jesuitico, cm nome do p r i v i l e g i o d o t r a b a l h o i n d í -
gena. , ^
A s s i m , pois, os paulistas r e s i s t i r a m á e x e c u ç ã o da
b u l l a , a s s u m i n d o uma p o s i ç ã o f r a n c a m e n t e r e v o l u c i o n a -
r i a , d e s d e 13 d c J u l h o . E ' essa u m a bella p a g i n a da his-
t o r i a d e S. P a u l o .
E m s e g u i d a r e p r e s e n t a r a m ao rei D . J o ã o I V , con-
t r a os j e s u í t a s , j u s t i f i c a n d o o p r o c e d i m e n t o da ex-
pulsão.
N o m e a r a m e n v i a d o s especiacs a P o r t u g a l — L u i z
da Costa C a b r a l e Balthazar de B o r b a G a t o — q u e entre-
g a r a m a r e p r e s e n t a ç ã o ao r e i . ( 1 ) U m dos mais n o t a -
y e i s . d o c u m e n t p s e l a b o r a d o s i i s q u e l l e t e m p o , pela f r a n -
queza e c o n v i c ç ã o c o m q u e é d i c t a d o e p e l o c i v i s m o
q u e se espraia e m t o d o s os s e u s c o n c e i t o s .
N e l l a , os paulistas n ã o p o d e r a r n c a l a r o r e s e n t i -
m e n t o de q u e estavam p o s s u í d o s ' c o n t r a S a l v a d o r ,
pelo p r o c e d i m e n t o q u e t i v e r a no R i o de J a n e i r o , d a n d o
uma s o l u ç ã o a m i g á v e l a q u e s t ã o .
M o s t r a n d o ao r e i as g r a n d e s riquezas de S . P a u l o ,
em sua m i n a s , d i z i a m : « m a s c n e c e s s á r i o q u e V . M . se
sirva m a n d a r h o m e n s p r á t i c o s q u e s a i b a m fazer os en-
saios e f u n d i ç õ e s dos d i t o s metaes, como também fidalgo
de sangue, christão e desinteressado, e verdadeiro no s e r v i -
ç o de V . M . , q u e nos g o v e r n e e assista s e m m o v e r o d i o
nem p a i x ã o e amizade, c o m o a q u e t e m m u i t o p a r t i c u -
lar o g o v e r n a d o r S a l v a d o r C o r r ê a d e S á com os padres,
e i n i m i z a d e c o m os m o r a d o r e s d e s t a C a p i t a n i a , e m r a -
z ã o de p a t r o c i n a r e zelar t a n t o esta c a u s a dos d i t o s pa-
d r e s , q u e por t o d o s os m e i o s lhes t ê m p r o m e t t i d o e e m -
penhado p a l a v r a de os n i c t t e r o u t r a vez nesta C a p i t a n i a
c c o m m a i s i s e n ç õ e s o p r o c u r a de n o v o fazer c o m os
cargos de q u e V . M . lhe fez m e r c ê , q u e v e m a ser t o d o s
os q u e t r o u x e o g o v e r n a d o r D . F r a n c i s c o d c Souza, q u e
D e u s t e m , c o m o a esta C â m a r a nos a v i s o u , sc b e m q u e
a i n d a n ã o v i m o s as p r o v i s õ e s e o r d e n s de V . M . , d e
q u e m esperamos, p a r a m e l h o r sc c o n s e g u i r seu r e a l ser-
v i ç o , lhe mande n o v o suecessor no t o c a n t e á a d m i n s -
t r a ç ã o das m i n a s c d e s c o b r i m e n t o d ' e l l a s . ( 1 ) »
A r e v o g a ç ã o de o r d e n s l e g a e s p e l o p o d e r i l l c g i -
l i m o , pela v i o l ê n c i a e pela r e v o l u ç ã o , n ã o p o d i a firmar
precedente.
S a l v a d o r t e v e d e e m p e n h a r t o d o s os e s f o r ç o s , p a r a
serem ellas c u m p r i d a s .
Por cartas d e ' 2 5 de J a n e i r o c 8 de M a r ç o de 1 6 4 1
para Santos e S. V i c e n t e , o b t é m q u e a C â m a r a c o n v i d e
a clc S. P a u l o , a f i m de n o v o a d m i t t i r os j e s u í t a s , d e b a i x o
de certas c o n d i ç õ e s , n ã o sendo a t t e n d i d a s .
O s p a u l i s t a s estavam t ã o resolvidos a m a n t e r a
a t t i t u d e q u e t i n h a m assumido em Junho, q u e g u a r d a r a m
á s e n t i n e l l a os c a m i n h o s q u e c o m m u n i ç a m a c i d a d e
c o m o l i t t o r a l , a f i m de i n t e r r o m p e r o t r a n s i t o . S a l v a d o r
t i n h a d e s p a c h a d o para S . P a u l o o fr.meiscano F r a n c i s c o
de C o i m b r a , c o m o e m i s s á r i o á* C â m a r a e p o v o , a f i m de
p r o p o r os meios de reunirem-se e c o n c i l i a r e m •se c o m os
j e s u í t a s . (1)
I m p e d i r a m a p a s s a g e m do r e l i g i o s o , t o m a n d o a
r e s o l u ç ã o de c o n s t i t u i r e m - s c e m g o v e r n o , c o m p o s t o d a
C â m a r a e 4 8 c i d a d ã o s eleitos pelo p o v o , d e s l i g a d o d o
R i o , a c u j o g o v e r n o d e i x a r i a m de prestar o b e d i e n -
cia. (2)
C o n s t i t u í d o o g o v e r n o , c constando dessa v i n d a de
Salvador a S . Vicente, para debellal-o ; pedem, cm
r e q u e r i m e n t o aos c a m a r i s t a s de S . V i c e u t e , c o m o ca-
b e ç a da capitania, q u e o n ã o a c c e i t e m , fazendo-o reco-
lher- ao R i o , ate* s e g u n d a o r d e m d o R e i .
Mas, a C â m a r a de S. V i c e n t e n ã o quiz ser s o l i d a r i a
com a de S . P a u l o , q u e l h e fez « n o v o p r e c a t ó r i o , pelo
q u a l , t e n d o - o a c e c i t o i n d e v i d a m e n t e , o prendessem, (3)
p o r q u e e r a \ nblico q u e v i n h a com o d e s í g n i o de passar-
se c o m sua casa, m u l h e r c f a m i l i a para os d o m í n i o s da
l l e s p a n h a , q u e r e n d o p r i m e i r o d e i x a r as capitanias asso-
l a J a s e d e s b a r a t a d a s e p r o v a s para ser r e m e l t i d o ao
governador Geral do E s t a d o » .
A o b e d i ê n c i a e fidelidade dos povos d o l i t t o r a l ,
m o t i v a r a m o a g r a d e c i m e n t > de S a l v a d o r , e m carta de 4
de S e t e m b r o de 1 6 4 2 ( 4 ) s e n d o os paulistas r e p u t a d o s
p o r u m a r e p u b l i c a d c f a c i n o r o s o s . E l l e s assim proce-
d i a m n ã o para. se i s e m p t a r da o b e d i ê n c i a ao rei e s i m
pelo o d i o v o t a d o a S a l v a d o r , u n i d o ao j e s u í t a s , seus
F o i S a l v a d o r á S a n t o s , d e i x a n d o no g o v e r n o o seu
t i o D u a r t e C o r r ê a Vasquean.es e ahi f i c a r a m as cousas
c o n c i l i a d a s , por e s c r i p t u r a l a v r a d a e m 1 4 de M a i o
de 1643.
M a s , S . P a u l o p e r m a n e c e u na mesma r e s i s t ê n c i a
e durante alguns annos.
O c h o q u e d e p a i x õ e s , os interesses p r e j u d i c a d o s
pelos actos d o g o v e r n o c pelas o r d e n s q u e v i n h a m d a
m e t r ó p o l e , o e x e r c í c i o de f ú n c ç õ é s g o v e r n a m e n t a e s q u e
sc t i n h a m a m p l i a d o p o r p r o v i s ã o de 9 de M a r ç o de 1 0 4 1 ,
b a i x a d o p e l o g o v r n a d o r g e r a l o marquez de M o n t a i v ã o ,
pela q u a l S a l v a d o r C o r r ê a p o d i a i n g e r i r - s e nos n e g ó c i o s
da g u e r r a , fazenda e j u s t i ç a , d e r a m l o g a r a c o r r e n t e d e
antipathia q u e se c o m e ç a v a a f o r m a r contra e l l e . A í é m
disto, a i d i s t m c ç õ s s d a c o r õ a . i n v e s t i n d o - o d e cargos
honrosos e de alta r e s p o n s a b i l i d a d e p o l í t i c a e a d m i n i s -
t r a t i v a , c o m o os de g e n e r a l d á f r o t a ( M a r ç o d e 1 6 4 4 ) e
g o v e r n a d o r da e x p l o r a ç ã o das m i n a s (Junho de 1 0 4 4 )
a i n d a m a i s d e s p e r t a v a m a c o r r e n t e de d e s p e i t o p r i n c i -
palmente do governador geral A n t ô n i o Tclles da Silva,
q u e o r d e n o u ao p r o v e d o r do R i o u m a n a r r a ç ã o m i n u -
ciosa d o s e r v i ç o p u b l i c o , da despeza q u e se fazia, dos
processos de a r r e c a d a ç ã o fiscal, e m s u m m a , d c t o d o
m o v i m e n t o da a d m i n i s t r a ç ã o .
A isto reuniu-se um í a c t o d c caracter político, que
v e i u o r i g i n a r suspeitas c o n t r a a fidelidade de S a l v a d o r a
c o r o a p o r t u g u e s a — a a c c l a m a ç ã o d e D . J o ã o I V no
R i o , e m M a r ç o d c 1(141, ( l ) p e l o f a c t o de ser hespa-
n h o l a sua esposa.
E ' assim q u e a C â m a r a d o R i o , a 2 6 de J u n h o d e
1(141, r e p r e s e n t o u ao r e i c o n t r a elle, p a r a q u e « a c u d i s s e
c o m r e m é d i o os d a m n o s c o m q u e este p o v o se a c h a
inquieto, com d i s s o l u ç õ e s t ã o depravadas, c o m o hora-
m e n t e se q u e i x a m dos soldados, q u e d e d i a e d c n o i t e
[1) Segundo uma. Hemoria publicada ua *Rcv. do In*t.n vol. 5" pg. 343.
ve-se qiic Salvador tomou as maiores cautelas em lomar effectiva a aclamação,
convidando todas as autoridades y na uma sessão que teve lugar em Marco, no
collegiu dos J'-suüas, sem que deixasse transpirar o assumplo, senão depois dc
aberta a 'cssâo. A aclamação foi feUejada, por alguns dias, na "idade, despa-
chando para S. Paulo, Ar'hur de Sá, com a notícia, ifiú de ser aclamado o rei.
Dc cmre os facto públicos, destacamos o /ogo defimãs, j eorrtdtt de louro,
a torrida de nunilhas, além de um cspcctaculo dramático que houve.
— M3
a n d a m usando de m a l i f i c i o s e s o l t u r a s demasiadas, s e m
o b e d e c e r aos seus o f i i c i a a s » , d a n d o isto e m r e s u l t a d o a
q o a c ç â o dos j u i z e s , a f a l t a de c u m p r i m e n t o das l e i s , a
r e t i r a d a dos m o r a d o r e s d a c i d a d e para o i n t e r i o r .
A i n d i s c i p l i n a e r a g e r a l , p o r q u e os soldados trans-
f o r m a r a m - s e e m t a v e r n e i r o s , a ç o u g u e i r o s , desappare-
c e n d o assim o agente d a s e g u r a n ç a p u b l i c a , p a r a ser
s u b s t i t u í d o pe'o v i o l a d o r d a o r d e m e d o s d i r e i t o s
individuacs.
U m dos p o n t o s d c a c e u s a ç ã o da o p i n i ã o e r a o
a f o r a m e n t o de u m t e r r e n o ( D e z e m b r o d c 1 6 8 5 ) ao e n t ã o
a l c a i d e - m ó r Salvador, para a ç o u g u e publico. O a c t o
era d e facto u m privilegio ( 1 )
E i s a h i os seis annos de g o v e r n o de Salvador, c u j o
suecessor f o i L u i z B a r b a l h o Bezerra, n o m e a d o p o r p r o -
v i s ã o d c 2 1 de F e v e r e i r o de 1 6 4 2 , pelos seus relevantes
s e r v i ç o s prestados e m P e r n a m b u c o , assumindo a a d m i -
n i s t r a ç ã o a 2 d e J u n h o de 1 6 4 3 , q u e l h e passou o p r ó -
p r i o S a l v a d o r , a (piem apresentou seus t í t u l o s e m e r c ê s .
O s j e s u i t a s q u e nada t i n h a m o b t i d o , e m r e l a ç ã o a
r e s t i t u i ç ã o d o c o l l e g i o de S. Paulo, iniciaram de n o v o
para as despezas. ( 1 )
C o m a m o r t e de Bezerra, (2) a c â m a r a p r o c e d e u a
eleição do substituto, que foi Duarte Correia Vasquea
n c s . Esse a c t o d i v i d i o a o p i n i ã o p o l í t i c a e m dous g r u -
pos, dos q u a e s u m p u g n a v a pela e s c o l h a d o s a r g e n t o -
m ó r do p r e s i d i o S i m ã o D i a s S a l g a d o , que, p o r ser a
m a i o r p a t e n t e m i l i t a r , d e v i a ser o suecessor d c Bezerra
e o u t r o s pela escolha de D u a r t e C o r r e i a . E por c e r t o
essa d i v e r g ê n c i a t e r m i n a r se-hia por u m a d e p o s i ç ã o do
g o v c r n o . s i o governador g e r a l n ã o se apressa e m n o m e a r
o c h e f e d o g o v e r n o , o que fez p o r acto de 7 de M a i o d c
1644 ( 3 ) , « p a r a p r i v a r q u e os soldados e mais gentes
e n t r e m e m a l t e r a ç ã o , pela d i f f e r e n ç a dc o b e d i ê n c i a q u e
se segue, d e c u j a d e s u n i ã o se p o d e m oceasionar m do-
res d a n n o s . o
se r e p a r a r as o u t r a s de S J o ã o e S a n t a Cruz, p o r q u e
« n ã o s e conseguindo o acabamentodaquella obra, ficava
a c i d a d e exposta a g r a n d e s desventuras, p o r q u e en-
t r a n d o na b a r r a , todas as d e m a i s p r a ç a s e d e s e m b à r -
cadores s ã o f a c i l l i m o s , m u i t o mais p o r s e r e m d i l a t a d o s
c d i f i c u l t o s o s de sc d e f e r í d e i ; da m e s m a c o n d i ç ã o ficam
algumas das p l a t a f o r m a s e l a n ç o s p o r m u i m a l r e g u l a -
d o s . I \ d a í o o caso d c todas as f o r t i t í c a ç õ e s d a c i d a d e
v i r e m a t e r a p e r f e i ç ã o q u e se pede, n e m c o m t u d o
s e r ã o capazes d e e v i t a r a p e r d i ç ã o d e l i a p o r cerco,
q u a n d o n ã o fosse p o r assalto, por q u e l o g o q u e o i n i -
m i g o n ã o ;.chasse o p p o s i ç à o r a b a r r a f i c a r i a m c o r t a d o s
os b a s t i m e n t o s e o u t r o s soecorros.
E s t e s e c u t r o s effeitos e p e r i g o s d e l l e s nos d e v e m
p e r s u a d i r a i m p o r t â n c i a da f o r t i í i c a ç ã o da L a ^ c m » ( 1 )
O g o v e r n a d o r ; inda observou que tinha a l c a n ç a d o d o
g o v e r n a d o r g e r a l cem a sua v i n d a , « a o r d e m d ê p; ssar
p a r a a f í a h i a o c o f i e d c o i n h e i f o d o q u e r e s u l t o u a sua
M a g e s t a d e os a v a n ç o s do c u n h o da m o e d a , e a i m p o r -
t â n c i a d a v e n d a dos c h ã o s das praias q u e t a m b é m per-
tencia á Sua . M a g e s t a d e p a r a q u e este p o v o tivesse
a q u e l l e a d j u t o r i o , p i r a a Certificação da L a g c m , seus
reparos e e m e n d a das d u a s fortalezas dos l a d o s . » ( 2 )
A c â m a r a m a n t e v e t o d a s as c o n t r i b u i ç õ e s q u e j á
e x i s t i a m , para estes s e r v i ç o s .
O u t r a s m e d i d a s f o r a m t o m a d a s por ella.
A c o r d o u q u e n ã o se vendesse a f a r i n h a d e g u e r r a
i m p o r t a d a por mais de 24G r é i s o a l q u e i r e e a c a r n e p o r
mais d c 10 r é i s a l i b r a .
O p a t r i o t i s m o c o m q u e a c â m a r a olhava p a r a os
interesses p ú b l i c o s , as medidas c o m q u e p r o c u r a v a
c u r ú r das necessidades do p o v o , a s o m m a d e s a c r i f í c i o s
c o m q u e p r o c u r a v a a j u d a r o E s t a d o , na diiíicil e m e r g ê n -
c i a d c g u e r r a , c m que sc achava a c o l ô n i a , p o r m e i o de
(1) Silva Li*boa vol. 2' pn. 149.—Mcm. »(»., dc onde Silva Lisboa tras-
ladou o doe. som entretanto indicat-o.
(2j MCM. mss. tit.
— 148 —
pesados i m p o s t o s l a n ç a d o s s o b r e o c o m m e r c i o e a
l a v o u r a e dos d o n a t i v o s v o l u n t á r i o s sobre s u a p o p u l a -
ç ã o , c a p t i v a m as s y m p á t h i a s d o soberano que,^ agrade-
cido,' h o n r o u - a p o r m e i o d o a l v a r á d e 1 0 d e F e v e r e i r o
de 1 6 4 2 , ( 1 ) c o m os mesmos p r i v i l é g i o s q u e j á t i n h a m
sido c o n c e d i d o s aos c i d a d ã o s d o H o r t o .
III
SUMMARIO — A pirataria. Creação das frotas. O Regimento de/ias. Uma con-
ferência política. A creação de mais impostos. Souto Maior.
Actos da câmara. Segundo goterno de Vasqueanes. Fortaleza dà
Lage. Aforamento* de terras de marinha. A crise financeira e
ecmomiea. Soldados negociantes. Chegada de Salvador e sua
partida para Angola. Governo de D. luii de Almeida e Hritta
Pereira e Antônio Gahão. Seu programma de governo. Crise
monetária. Moeda falsa. Segundo Qoze>no de D. Lvir de
A Imeída
C o m a guerra hollandeza no norte, a pirataria de-
s e n v o l w u - s c c o n s i d e r a v e l m e n t e nos m a r e s d a c o l ô n i a ,
a p p r e h e n d é n d ó os n a v i o s q u e a d e m a n d a v a m c q u e
delia seguiam para o Reino e a respectiva carga. Isto
p r e j u d i c a v a o c o m m e r c i o e t o d o s os interesses d o p o v o
c d a lavoura,^sem os recursos n e c e s s á r i o s p a r a g a r a n t i r
a n a v e g a ç ã o . A m e t r ó p o l e n ã o p o d i a ser i n d i f f e r e n t e a
esse m a l q u e p o r s i a c o l ô n i a n ã o p o d i a c u r a r , j á e x -
h a u s t a d e recursos na s u s t e n t a ç ã o d e u m i g u e r r a q u e
assumira g r a n d e s p r o p o r ç õ e s , j á p e l a e x t e n s ã o t e r r i t o -
r i a l d o seu d o m í n i o , j á pelos e l e m e n t o s c o m q u e o p o v o
i n v a s o r resistia á a c ç ã o d a m e t r ó p o l e . E essa d e f i c i ê n -
cia d e recursos t o m o u m a i o r e s p r o p o r ç õ e s , e m annos
posteriores, c r e a n d o os e l e m e n t o s d e u m a crise f i n a n -
ceiras e e c o n ô m i c a , nas c a p i t a n i a s d o s u l , isemptas e n -
tretanto da a c ç ã o d a guerra. M a s , c que como íactor
dessa crise e n t r a r a m o u t r a s causas, q u e p a s s a r e m o s e m
revista.
(1) A inWyra deste documento consta da Mem. Mss. que letnoj e <?*tá pu-
blicado no 1" voi. dos Ânus. do Disl. Ped., á pg. 201. por olTcrla do Dr. Joa-
quim Pires Machado Ponclla. dircclor cntào do Areh. Publico.
fcis a razão dc cio iranscrevcl-o aqui na intrgr'. Rcmcttcmoí o leitor ao
vol, citado d nquclles Aiehivos.
— 149 —
A m e t r ó p o l e c o m p r e h c n d e u c o r r i g i r a falta de segu-
r a n ç a d a n a v e g a ç ã o c o m a c r e a ç ã o das f r o t a s , q u e d e -
v i a m e p n d u z i r as m e r c a d o r i a s . U n i d o s os navios q u e
deviam viajar juntos, melhor garantiriam a n a v e g a ç ã o
e as m e r c a d o r i a s . E p o r a l v a r á de 2 6 de M a r ç o de 1 6 1 4 ,
f o i S a l v a d o r C o r r e t a d c S á e H e n e v i d c s n o m e a d o o seu
general. ( 1 )
O a l v a r á r e g u l a v a t o d o o s e r v i ç o . A l é m de d i s p o r
sobre a g u a r n i ç â o , seus d e v e r e i , f i x a v a as toneladas de
c a d a n a v i o , sua carga, o f r e t e , as avarias, a data da
viagem, etc. (2)
O R e g i m e n t o trazia d i s p o s i ç õ e s , c u j a e x e c u ç ã o
p r e j u d i c a v a alguns interesses, c o m o p o r e x e m p l o , a p r o -
h i b i ç ã o de f a z e r e m p a r t e d a f r o t a navios n ã o a r t i l h a d o s .
O r a , ao c h e g a r ella ao p o r t o do R i o , e s t a v a m ancora-
dos a l g u n s navios j á c a r r e g a d o s .
E m a n i f e s t o q u e os d o n o s da carga t i n h a m - n ' o s
fretado c m b ô a fé, pago o frete e realizado a t r a n s a ç ã o .
O G o v e r n a d o r convocou e m sua casa os interessados e
a u t o r i d a d e s , a 6 de A b r i l d e I 6 4 õ , p a r a t r a t a r e m desse
ponto do r e g i m e n t o . ( 3 )
E f o i r e s o l v i d o n ã o e n t r a r elle e m e x e c u ç ã o .
F o i p e r m i t t i d o , c o m o se fizera na Bahia, q u e os
navios navegassem, p a g a n d o a a v a r i a a 0 0 r é i s , t o c a n d o
3 0 r é i s aos d o n o s dos navios a r m a d o s com 10 p e ç a s , e
os o u t r o s ííO r é i s applicados a b e n e f i c i o dos soldados
A l é m destas p r o v a s d c c o n f i a n ç a q u e a c o r ô a d a v a
a S a l v a d o r que, s e m a m e n o r c o n t e s t a ç ã o , e r a a i n d i v i -
d u a l i d a d e de m a i s p r e s t i g i o p o l í t i c o da c o l ô n i a , escreveu*
l h e a carta d c 2 1 de D e z e m b r o de 1 6 4 4 c m q u e salienta
« c o m o o m a i s i m p o r t a n t e s e r v i ç o á coroa f o r n e c e r a u x í -
l i o s c o m q u e F r a n c i s c o de S o u t o M a i o r , n o m e a d o go-
v e r n a d o r de A n g o l a , d e v i a p a r t i r para tomai-a das m ã o s
dos hollandezes. » (1)
S o u t o M a i o r estava p r e s i d i n d o o g o v e r n o do R i o
d e J a n e i r o . A sabedoria dos seus actos nesse g o v e r n o
e os s e r v i ç o s j á prestados no n o r t e da c o l ô n i a , g r a n g e a -
r a m l h e a s y m p a t h i a p u b l i c a c a escolha d o soberano
p a r a essa e x c u r s ã o .
D e v i a c o n d u z i r 3 0 0 homens, dos quaes 1 0 0 lhe de-
v i a m ser d a d o s p e l o g o v e r n a d o r g e r a l .
S a l v a d o r n ã o p o u p a e s f o r ç o s para a j u d a r e apressar
a e x p e d i ç ã o de S o u t o M a i o r , q u e p a r t i u para A n g o l a ,
c h e g a n d o a Q u i c o m b o em 26 de Julho de 1 6 4 5 .
F i c a r a i n t e r i n a m e n t e no g o v e r n o C o r r ê a V a s -
queanes, i n d i c a d o c o m o s u b s t i t u t o de S o u t o M a i o r na
p r ó p r i a c a r t a de D e z e m b r o de 1 6 4 4 , e m q u e o rei pe-
d i r a a S a l v a d o r os a u x í l i o s para a e x p e d i ç ã o de S o u t o ,
t o m a n d o posse a 2 7 de M a r ç o de 1 6 4 o . (2)
Entregou-se á a d m i n i s t r a ç ã o d a cidade. A C â -
m a r a t o m o u r e s o l u ç õ e s d i g n a s d e serem a q u i r e g i s t r a -
d a s . R e s o l v e u q u e n i n g u é m pescasse com redes, f o r a
das fortalezas, nos d o u s mezes de J u n h o e J u l h o , p o r ser
(1) Mcm. mss. «7. pag. 308, cujo autor dt>: nomeado governador da -
qucllc lieiao, afimdc que partlsseoa toaa prexsa, fazendo saber ao'General da
Armada que deverá locar na Bahia, para reeãtaBr abi tem homens, qae o Cio-
vemador Geral havia de apromp-ar, para com os duzentos que recehera do
Reino pref.-er trezentas praças, as qitaés com as embarcações necessárias, e
oitenta qníntaes de pólvora, munições, e armas de sobrccclentc, entregasse
tudo a aquclle Francisco de Souto Maior: c que outro sim se applicasse para
as despezas da ciepcdiçan dez mil cruzados que existiam nesta cidade do cunho
da moeda, e qae u/io bastando houvesse tnao dc qualquer outra renda da l'a-
zenda Real; formalísando de tudo couta para ser vista, e certidões do quanto o
mesmo General da Armada entiegava ao Governador nomeado para a eapedicâo
do Reino de Angola,ficandona inteligência dc que seu tio Duarte Corrêa.
Vasqucaues ficaria neste governo.
(2) Reo. do Inst. vol, 2° pag, 51.
m -
(I) Tombo das Ttrrjs Mumcipaci, pai Haddock Lobo, vul. 1" p.ig, 3(1,
— 155 —
o b r i g a d o s a g u a r d a r e m as Posturas da C â m a r a na f o r m a
das suas O r d e n s , e os q u e d e i i n q u i r e m nellas d e v e m
ser j u l g a d o s e sentenciados pelos Juizes, e pessoas des-
tinadas para este e f f e i t o , guardando-Se nos c r i m e s aos
s o l d a d o s seus p r i v i l é g i o s . ( 2 )
E c l a r o q u e essa m e d i d a nada resolvia; p o r q u e
n ã o a f f e e t a v a os e l e m e n t o s p r o d u e t o r e s d a crise q u e
era d c caracter g e r a l . l i g a d a á s c o n d i ç õ e s e c o n ô m i c a s ,
financeiras e p o l í t i c a s da c o l ô n i a .
A m e d i d a q u e se a f i g u r o u ao soberano capaz d e
d e b c l l a r a s i t u a ç ã o f j - i a c r e a ç ã o d i Companhia de Cotn-
mercio, em 1649, q u e n ã o passou de um m o n o p ó l i o e
p r i v i l e g i o do r e g i m e n das frotas, j á existente, deslocados
do E s t a d o para os interesses dos seus accionistas. Essa
m e d i d a , c o r n o havemos de ver, v e i u aggravar p r o f u n -
d a m e n t e a crise.
A 25 de j a n e i r o de 1ÍI4Í) s u c c è d è u - l h e S a l v a d o r
de B r i t t o Pereira, fidalgo, e n o m e a d o por p r o v i s ã o r e g i a
de 3 0 d c O u t u b r o c e 1 Í J 4 8 .
C o m o o anteccessor este g o v i r n o f o i d c p o u c a
duração.
O e s t a d o de m o l é s t i a de B r i t t o P e r e i r a n à o lhe per-
n d t t i u c u i d a r d o interesse p u b l i c o . K n ã o q u e r e n d o o
g o v e r n a d o r g e r a l q u e o R i o fica-se e n t r e g u e a o i i s c o de
lhe f a l t a i ó c h e f e d o g o v e r n o , n o m e o u A n t ô n i o G a l v ã o
11), p o r p r o v i s ã o de 4 de J u l h o de J(!r>0, a s s u m i n d o a
administra ç a o a 23 de J u l h o de l f » 5 1 , p o r t e r f a l l e c i d o
B r i t t p Pereira a 2 0 de J u l h o .
N a r e p r e s e n t a ç ã o q u e d i r i g i u á C â m a r a , a 2 1 de
S e t e m b r o , d e f i n e seu p r o g r a m m a de g o v e r n o .
I n f o r m a n d o q u e os h o ! l a n d « z e s c o n t i n u a v a m a i n -
f e s t a r a costa, s a b i a p o r c o m m U n i c a ç Õ e S recebidas, q u e
u m a n á o achava sc, ha dez ou o u doze dias, na i l h a d c
S . i n t V \ n n i , tornando i n d i s p e n s á v e l tomar-se medida de
defeza « d e a n t e m ã o p a r a q u a l q u e r oceasiao q u e se
offerecer, p o r q u e q u a n d o seja c o m b r e v i d a d e , c o m o d a
c a v i l l a ç ã o e i n d u s t r i a se p ó -le esperar, n ã o nos p o s s a m o s
q u e i x a r da o m i s s ã o e d e s c u i d o d c nos n ã o h a v e r m o s
prevenido, e q u a n d o se d i l a t e e nunca c h e g u e c o m o
Deus Nosso S e n h o r s e r á s e r v i d o , s e m p r e é* a u t o r i d a d e
e r e p u t a ç ã o das R e a e s A r m a s de S . M . e de ( p i e m as
g o v e r n a , t e r .is suas p r V ç a s f o r t i f i c a d a s e postas e m d e -
f e n s ã o , a i n d a no repouso e q u i c t a ç ã o t i a bella p a z ; » ( 2 )
Dc e n t r e os s e r v i ç o s mais u r g e n t e s , a p o n t a v a a
necessidade d e « t e r r a p l a n a r u m b a l u a r t e q u e e s t á na
fortaleza de S. J o ã o . »
onde liramfi* as notas pura o nosso trabalho e que aquelle autor dc todo copiou,
sem que lhe fitesie a menor indicação, diz que Galvao era cabo o governador
ua mianteria. Foi uma nomeação interina,
Nao sabendo a câmara ter sido <lalvão nomeado reuniu-se eiu se*«ão e
procedendo a Hciçao de governador, a eacollia nolle recáliiu. sendo chaujado o
comparecer perante ella, aprcscnlon.se coma sua pr.vjssào. Mem. Mss. pag.
|2) Mtm. nm. cil. pag. 300.
150
N ã o p o d e n d o fazei-o Càrii a i n f a n t a r i a , p a r q u e m a l
chega para o s e r v i ç o guarda, pediu que a C â m a r a
« o b r i g a s s e os m o r a d o r e s d a q u e l l e d i s t r i c t o , para q u e
c a d a u m a j u d e c o m u m o u d o i s n e g r o s , assistentes e
sustentados a t é sc a c a b a r a o b r a . »
O b s e r v a v a a i n d a q u e « c r e a n d o esta p i ; ç.t t a n t o d e
e m b a r c a ç õ e s l i g e i r a s , n ã o ha de presente u m a e m q u e
se possa i r á s fortalezas da b a r r a , sem os quacs n à o se
p ô d e fazer cousa de i m p o r t â n c i a na o c e a s i ã o da p e l e j a
e se d e v e m t e r m u i t o d a n t e s p r e v e n i d a s e o b r i g a d a s as
pessoas q u e t ô m c a n ô a s capazes p a r a este m i n i s t é r i o ,
p a r a q u e a t o d o t e m p o as t e n h a m prestes c npparelha-
das, p a r a a c u d i r e m c e m ellas a esta p r a ç a . »
O b s e r v a v a q u e , se t e n d o f e i t o um l a n ç a m e n t o d e
m e i o s p e c u n i á r i o » p i r a as o b r a s da forta'eza d a barra,
e r a p r e c i s o fazer u n i * e s ç r i p t a g c ; a l d c q u a n t o se arre-
c a d o u e se gastou n a q u e l l a s obras, para q u e ò p o v o f i -
casse s .bundo q u e os p o d e i e s p ú b l i c o s n ã o a b u s a v a m
d e sua a u t o r i d a d e .
A C â m a r a , a 2 8 d e S e t e m b r o , r e s p o n d e u ao g o -
v e r n a d o r , c o m m u n i c a n d o q u e ia p ô r e m e x e c u ç ã o suas
propostas, p o r serem justas, e j á haver o r d e n a d o ao^
m o r a d o r e s q u e « v i v e m desde a p n . i a da C a r i o c a e O l a -
rias a t é a I a g ô a c h a m a d a de K l - r e y . » ( 1 )
A s m e d i d a s tomadas pela C â m a r a , d e i de o g o -
verno de Bezerra, a u g m e n t a n d o o v a l o r da m o e d a , n ã o
c o r r i g i r a m a crise m o n e t á r i a q u e , c o m o ; n.lar dos t e m -
pos, assumiu maiores p r o p o r ç õ e s . A g o r a eda m a n i f e s -
tava -se p c U c i r c u l a ç ã o viciosa de moedas f a l s i f i c a d a s .
E as m e d i d a s da m e t r ó p o l e n ã o c o r r i g i r a m por certo
essa s i t u a ç ã o ; pelo c o n t r a r i o , a g g r a v a r m ainda a escas-
sez da moeda.
« O s h é s p á n h ó è s a c a b a v a m de fazer b a n c a r r o t a .
elles falsificaram t o d a a sua m o e d a c o r r e n t e , c o m o p o r
C a r t a R e g i a de 13 de S e t e m b r o de 16'5"> f o i c o m m u n i -
c a d o ao G o v e r n a d o r c o m a l e i d e 6 d e J u n h o d o m e s m o
anno; q u e ho p r e â m b u l o d e l i a se d e c l a r o u q u e , n ã o bas
t a n d o as R e a e s D i s p o s i ç õ e s de 23 de N o v e m b r o de
1647, e de 2 0 de F e v e r e i r o d c 1651 para n ã o c o r r e r no
R e i n o e C o n q u i s t a s as patacas de n o v o f a b r i c a d a s , p o r
se acharem f a l l i d a s na q u a n t i d a d e dos pesos, e a t é l a l l i -
ficadas pelas noticias q u e se d i v u l g a r a m , m a n d a v a l e -
v a n t a r Casa da M o e d a , p a r a sc f u n d i r e m , e r e d u z i i c m - s e
ao v a l o r r e a l , i m p o n d o - s e a pena de i n c u r s o e m m o e d a
falsa aos q u e da q u e 11a se s e r v i s s e m . P o r é m , sem e m -
b a r g o da l e r , e n t r e g o u s e m p r e em P o r t u g a l u m a i m -
mensa q u a n t i d a d e d c m o e d a falsa, p o r c u j o m o t i v o se
m a n d o u p r o h i b i r c c o r r e r no R e i n o as patacas ue f u n -
d i ç ã o q u e nos c i r c u l o s tivessem c o r d ã o , o u r o s á r i o , de
q u a l q u e r s o r t e e q u a l i d a d e q u e fosse m a n d a n d o se q u e
n ã o fossem r e c e b i d a s , n e m se dessem e m p a g a m e n t o
p o r m o e d a c o r r e n t e ; pois d e v i a m ser levadas á C á s a
da M o e d a cie Evqr.á e P o r t t p a r a sc f u n d i r e i ! , e r e d u -
zirem-se á m o e d a do R e i n o , c q u e p e l o s j u s t o s v a l o r e s
se t o r n a s s e m a e n t r e g a r aos seus d o n o ; , c o m o v a l o r d . i
p r a t a , sem o u t r a despeza q u e a da f u n d i ç ã o e c u n h o s ,
q u e seria o menos p o s s í v e l , e sem a l g u m p r o v e i t o da Fa-
zenda R e a l , p a r a c o r r e r e m p o r m o e d a corrente, t u d o
d e b a i x o das penas da O r d e m d o L i v r o 4 T i t . 2 2 as o
patacas d o G o v e r n o e s t r a n g e i r o q u e tivessem o r e f e -
rido c o r d ã o e rosário.» ( 1 ) .
N o cumprimento d a q u c l l a L e i manifestaram-se
muitos i n c o n v e n i e n t e s no Brazil; p o r q u e , d e s d e a oc-
c u p a ç ã o do Reino por Felippe I I , a geral moeda que
corria, e r a d a q u e l l e M o n a r c h a , q u e se n ã o p o d i a e x t i n -
g u i r no breve R e i n a d o de E l - R e i D . J o ã o I V .
Com a s u p p r e s s ã o i n s t a n t â n e a delia, o C o m m e r c i o
s e n t i u g r a n d e vasto, p o r f a l t a d o r e p r e s e n t a t i v o m e t a l -
(1) Annaes do R*o de Janeira, piir S. Lisboa, vol. 2' pag. 154.
i._ Silva. Lisboa diz. no 2' uol. pag. lõli, «jnc a câmara do Rio mandou
cunhar moedas do Pcrú.
(3) Mem, Mss, pa . ;I75.
R
A crise f i n a n c e i r a e e c o n ô m i c a do r n e i a i o do s é c u l o X V I I
p r ó p r i a de uma c i d a d e f e c h a d a d o q u e d c u m a c i d a d e
q u e c u i d a dos interesses d o seu c o m m e r c i o e de sua
l a v o u r a , c o m a a g g r a v a n t e d e q u e essa s i t u a ç ã o v i n h a
desde 1 6 2 4 , a u g m e n t a v a a d e s p e z a p u b l i c a , a custa d c
impostos c d o n a t i v o s q u e p e s a v a m s o b r e o p o v o , d o
o u t r o , o m o n o p ó l i o c r e a d o a f a v o r de u m a C o m p a n h i a ,
que m a t o u a liberdade d o commercio c d a n a v e g a ç ã o ,
veio p o r sua vez, a l é m de e l e v a r os p r e ç o s dos g ê n e r o s
c m e r c a d o r i a s , r e d u z i r sua c i r c u l a ç ã o p e l a falta d e m o e d a
e matar a p r o d u c ç ã o da economia colonial.
E m M a r ç o de 164!), o c o r p o c o m m e r c i a l de L i s b o a
r e q u e r e u a o r g a n i s a ç ã o de u m a c o m p a n h i a , c o m o f i m
de f o m e n t a r e a-segurar o c o m m e r c i o d o B i a z i l . F o i
ella a p p r o v a d a p o r a l v a r á de 1 0 de M a r ç o de 1 6 4 0 ,
d i r i g i n d o o r e i a c a r t a de 2 2 de M a i o á C â m a r a d o R i o .
e m q u e c o m m u n i c a v a c s t a r ella c o n s t i t u í d a p a r a « p e l o s
u i c i o s de seus c a b e d a e s assegurasse c a d a a n n o c o m a
esquadra d c 18 n á o s , b a s t a m e n t e a r m a d a s e g u a r n e c i d a s
p a r a n a v e g a ç ã o das fazendas d o R e i n o p a r a o B r a z i l e
n a v o l t a d a q e e l l e F.stado os f r u e t o s d e l l c . » ( 1 )
A o s accionistas f o r a m c o n c e d i d a s i m m u n i d a d e s e
p r i v i l e g i o , de f i c a r e m i n d e p e n d e n t e s dos t r i b u n a e s , s u -
j e i t o s s i m p l e s m e n t e ao p o d e r r e a l .
K i s a i n s t i t u i ç ã o de q u e se d e r i v a r a m o s m a l e s
q u e passamos a c x p ó r , c r e a n d o a s i t u a ç ã o m i s e r á v e l a
q u e c h e g o u o R i o de J a n e i r o , n o m e i a d o d o s c e u l o X V I I .
M u i t a r a z ã o tinha u m dos n o s s o s c h r o n i s t a s , q u a n d o
dizia, r e f e r i n d o se á C o m p a n h i a , q u e « a s f r o t a s t i v e r a m
o e x c l u s i v o d i r e i t o de. v e n d e r e m aos m e s m o s nacionaes
as l i c e n ç a s para v e n d e r e m o s d i v e r s o s r a m o s d o seu
trafico c i n d u s t r i a : uma. p e q u e n a p a r t e d o R e i n o t e v e
d i r e i t o d c dizer á u n i v e r s i d a d e d o B r a z i l , de q u e e r a
senhora p r i v a t i v a de t o d o o c o m m e r c i o das C o l ô n i a s ,
p a r a q u e este l h e vendesse p o r í n f i m o p r e ç o os g ê n e r o s
da sua a g r i c u l t u r a , c ella l h e vendesse c a r o os q u e i m -
portava, que ella graduaria a a b u n d â n c i a , n ã o sobre a
necessidade, mas s o b r e o interesse p a r t i c u l a r dos seus
p r i v i l é g i o s , q u e e m f i i n s u b v e r t e r i a a sua i n d u s t r i a , c o m o
os i n i m i g o s e x t e r n o s assolavam o seu c o m m e r c i o , cons-
t i t u i n d o - s e assim nacion;;e> d o m i n a d o r e s ; q u e o abar-
ca men to de t o d o s os l u c r o s era o o b j e c t o s ó m e n t e d a
sua s o l l i c i t u d e , q u e ficava a b o l i d a a c o n c u r r e n c i a , e
a b e r t a s as f o n t e s da f r a u d e , i m m o r a l í d a d e , i n i m i s a d e ,
i n v e j a , e d e s c o n f i a n ç a , r e c e b e n d o da m e t r ó p o l e os B r a -
sileiros os peiores produetos c m q u a l i d a d e , e os m a i s
pequenos em quantidade, reduzida a grande p a r c i m ô n i a
á s e x p o r t a ç õ e s da m e t r ó p o l e , p a r a c o m ella privar-se o
Brazil d a s'."a p r o s p e r i d a d e , r e d u z i d o á p e n ú r i a c á
fraqueza.
M a l e s de t a n t a m a g n i t u d e se p e r p e t u a r a m p o r m u i
l o n g o s annos, apezar das mais e n é r g i c a s r e p r e s e n t a ç õ e s
das C â m a r a s , pois o poder q u e a c o m p a n h i a e x c l u s i v a
g a n h o u pela sua a c c n m l a l a riqueza, as fizeram afastar
das vistas do thono p o r mais de u m s é c u l o . » ( 1 )
N ã o se fizeram m u i t o esperar os m á o s e f f c i t o s d a
i n s t i t u i ç ã o e os seus desastrosos resultados.
• T e n d o o p r i v i l e g i o d o c o m m e r c i o dos q u a t r o i m -
p o r t a n t e s g ê n e r o s , c a l c u l a r a m m a l o t e u consumo no
R i o , d a n d o isso c m resultado a falta delles na c i r c u l a ç ã o
e pos c o n s e g u i n t e o a u g m e n t o do seu v a l o r .
J á e m S e t e m b r o de 1(549. a C â m a r a resolveu fixar
os seus p r e ç o s . D a h i , ; i carta do g o v e r n a d o r g e r a l c o n d e
d e Casteilo M e l h o r , de N o v e m b r o d c l f i õ l ( 2 ) , e m
q u e a l é m de c r i t i c a r o p r o c e d i m e n t o da C â m a r a , p r o -
c u r o u e x p l i c a r a f a l t a dos g e n e i o s pela a p p r e h c n s ã o q u e
s o f f r c r a o c o m b o y da c o m p a n h i a , nos altos mares.
(ll Ann, do Rio de Janeiio. pot S. Lisboa, vol. 2" pae.. 93.
(2) Mtm, MÍS. pag. 379.
— 166 —
(I) A Mem. Mss. puMiéa a iutcgia d slc documenlo, assim como ,1 res-
oosia da ramara.
$ Mem. Mss. pag. 379 v.
— 167 —
m e d i a n t e o zelo d o seu G o v e r n a d o r M a r t i n d c S á , d e
e n v i a r p a r a a j u d a da r e s t a u r a ç ã o d e l i a e seu s o e c o r r ò ,
c a n ô a s d c g u e r r a , q u e v a l e r a m de c a m i n h o , para q u e a
C a p i t a n i a d o E s p i r i t o S a n t o n ã o fosse t a m b é m oecupada
pelos H o l l a n d e z e s q u e a i n t e n t a r a m t o m a r , c o n s i s t i n d o
d e p o i s de D e u s a q u e l l e soecorro, a r e s t a u r a ç ã o d a q u c l l a
P r a ç a e C a p i t a n i a . E se da r e s t a u r a ç ã o d a B a h i a n ã o
f o i e l l a causa efficaz, m o s t r a r a m p e l o menos os n a t u r a e s
d a t e r r a , de q u e m o r r e r a m a l g u n s n a q u c l l a j o r n a d a , o
a n i m o q u e t i n h a m de s e r v i r á sua N a ç ã o , sem o u t r o
i n t e n t o o u p a g a , q u e d e c u m p r i r e m com a o b r i g a ç ã o d c
verdadeiros P o r t u g u e z e s » .
Q u e m p o d e n e g a r a esta c i d a d e , dizia a i n d a , a
g l o r i a da r e s t a u r a ç ã o d a A n g o l a , pois q u a n d o no m e s m o
t e m p o q u e a q u e l l a sc i n t e n t o u c m P o r t u g a l , deliberando-
se t a m b e m a j o r n a d a da A r m a d a R e a l para a Bahia,
c o n c o r r e n d o o c o m m e r c i o de t o d o o R e i n o , p o r e m p r é s -
t i m o s ó m e n t e c o m t r e z e n t o s m i l cruzados, c o n s i g n a d a
l o g o a pagar no r e n d i m e n t o d e todas as A l f â n d e g a s ,
esta C i d a d e q u e a respeito d e t o d o o R e i n o é u m p o n t o
i n v i s í v e l , c o n c o r r e u p á r a a empreza de A n g o l a c o m o i -
t e n t a m i l cruzados, n ã o emprestados, m*is dados por d o -
n a t i v o , c o m m u i t o b o a v o n t a d e e liberal a n i m o , c o m os
q u a c s se a p r e s t á r a a A r m a d a q u e vinha desfabricada de
t u d o , e c o n s e g u i u m e d i a n t e D e u s , a r e s t a u r a ç ã o da-
q u e l l e R e i n o , de o u t r a m a n e i r a i m p o s s i b i l i t a d o de
tudo?»
E m vista d i s t o , j u l g a v a o g o v e r n a d o r q u e « o s na-
t u r a e s d o Paiz t e r i a m j u s t o s p r e s e n t i m e n t o s p a r a pre-
t e n d e r e m isentar-se d o R e a l s e r v i ç o , vendo-se t ã o des-
p r o t e g i d o s c assim t i t u l a r e m - s e n e l l e . »
N ã o ha d u v i d a q u e a m e t r ó p o l e , de ha m u i t o , fir-
mara u m p r o g r a m m a d c i n d i f f e r c n ç a p a r a c o m os h a b i -
tantes d o R i o . p o r q u e ( 1 ) «LC t e m p r o p o s t o d e s t a C â -
m a r a as s e m r a z ã o com q u e a C o m p a n h i a t e m usado
Mas, a c o m p a n h e m o s a m a r c h a da crise ao l a d o
das m e d i d a s da a d m i n i s t r a ç ã o .
A C â m a r a n ã o m e r e c i a a pecha de d e s i d i a , c o m
q u e o g o v e r n a d o r p r o c u r o u n ã o d e c a h i r da c o n f i a n ç a
d o s o b e r a n o , p o r q u e n e m t u d o c m q u e ella l h e o r d e n o u
f o i c u m p r i d o : s e r v i n d o n ó s o anno passado acabou V . S .
a f o r i a l e z a d e P o n t a G r o s s a ; n á o <c p o d e negar t a m -
b é m q u e concorremos para a d i t a f o r t a l e z a c o m t o d o o
d i n h e i r o e c o m t o d a d i s p o s i ç ã o q u e p a r a ella f o i neces-
s á r i o e nos foi p o s s í v e l » ( 1 ) .
S e g u i r a e n t ã o n o m e s m o a n n o , o e m i s s á r i o da
Cam;-:ra F r a n c i s c o da Costa B a r r o s , a corte, c o m i n s t r u -
c ç õ e s d c s u b m e t t e r m e d i d a s á a p p r o v a ç ã o d o soberano
e m n o m e d e l i a , « f o r ç a d a a isto para n ã o v e r a c a b a d a
esta p r a ç a , se m e l h o r n ã o se p o d e dizer q u e e s t á aca-
bada . » ( 2 ) .
A s m e d i d a s e r a m : 1? A n i m a ç ã o do c o m m e r c i o e
l i b e r d a d e d a n a v e g a ç ã o , v o l t a n d o - s e ao a n t i g o r e g i m e n
das f r o t a s ; 2 a s u b o r d i n a ç ã o das capitanias de S. V i -
o
c e n t e c Xossa S e n h o r a da C o n c e i ç ã o m i l i t a r c p o l i t i c a -
m e n t e ao g o v e r n o d o K i o , c o n t i n u a n d o este sob a j u r i s -
d i c ç ã o da B a h i a ; 3 a c r e a ç ã o de u m Juiz de F ó r a na
U
cidade, sendo ao m e s m o t e m p o p r o v e d o r de d e f u n e t o s e
ausentes c o a u g m e n t o d o n u m e r o de vereadores e t a m -
b é m de j u i z e s para dois: a a m o e d a g e m d o o u r o q u e
viesse das m i n a s e m vista da necessidade de d i n h e i r o
q u e h a v i a e o a u g m e n t o d o valor das moedas, 4? a per-
m i s s ã o para a c u n h a g e m d o cobre; 5 a p e r m i s s ã o d o
(l
j u l g a m e n t o d o h a b i t a n t e da c i d a d e p e r a n t e as suas p r ó -
prias a u t o r i d a d e s j u d i c i a r i a s ; 6V a c r e a ç ã o d c dois tabcl-
l i à e s de notas e j u d i c i a l c um de o r p h ã o s .
S c fossem ellas executadas, n ã o ha d u v i d a q u e
j u g u r i a m a crise, p r i v a n d o q u e viesse e x p l o d i r e m u m
a c o n t e c i m e n t o r e v o l u c i o n á r i o , c o m o suecedeu e m lGlíO,
c o m g r a v e p r e j u í z o de t o d o s os interesses.
(1) Mcm. Miss. pag. 393. OarI;i d.t Cam.. .li- 311 da Novembro d<- ItHõ.
Í2) Mcm. MSÍ. pag, 330. Caria da Cam.. A* 17 dc Maio dc 16»,
— 174 —
g e n h o s p e l a falta d e l i a , p o r q u e se é c e r t o , c o m o é, s u p -
p r i r e m c o m o d i n h e i r o do seu p r o c e d i d o a q u i l l o q u e
faziam c o m o d i n h e i r o dos o u t r o s g ê n e r o s q u e lhe h ã o
f a l t a d o ; f a l t a n d o t a m b é m este cá, a i m p o s s i b i l i d a d e
e s t á na m ã o , e j á o d a m n o e s t á c o n h e c i d o , pois se s e g u e
o p r e j u í z o q u e t e r á a Fazenda R e a l , nos mesmos enge-
nhos, com o s quaes ella se a c c u m u l a : estou p a r a a f f i r -
m a r n ã o s ó , q u e m u i t o s sc m a n t é m p( l a a g u a r d e n t e ,
s i n ã c t a m b é m , q u e m u i t o s o u t r o s com ella se levan-
taram .
E c o m o estes; o u todos a n ã o fazem u i õ i s , s i n á o o
q u e r e s u l t a da safra d o s assucares, o q u e s ó faz a g u a r -
d e n t e , c l a r o fica q u e q u a n d o m ó e m t e m S- M . m u i t o s
d í z i m o s , e menos m a l v e m a ser, d c q u e o negro, es-
p u m e m is para a c a c h a ç a de q u e se faz a a g u a r d e n t e ,
q u e de d e i x a r o engenho m o e r para a s s u c a r . »
O p a t r i o t i s m o d e D . L u i z inspirava-lhe a c o n v i -
c ç ã o do d i r e i t o d c q u e t o s q u e t i n h a m p r o c u r a d o d e -
f e n d e r m a i s a a g u a r d e n t e do q u e a c o n s e r v a ç ã o da p r a ç a
q u e S . M . lhe e n t r e g a r a , se n ã o a pudesse a u g m e n t a r ,
n à o consentir q u e a enfraquecessem é a d i m i n u í s s e m » .
E aquelles q u e lhe criticassem de q u e Í.Ó na liber-
d a d e d a venda desse p r o . I u c t o e n c o n t r a v a a s a l v a ç ã o da
crise, r e t o r q u i u q u e t a m b é m « s e p o d e r i a fazer c o m as
sucar, m a s n ã o é t ã o e v i d e n t e e pouca e s t i m a ç ã o d e l l c ,
p o r falta d c d i n h e i r o com q u e se compra, e q u e a i n d a se
v a i c o n s t i t u i r m a i o r a i m p o s s i b i l i d a d e , q u a n t o mais t a r d e
se l h e a p p l i c a r o r e m é d i o , pois estamos v e n d o q u e
q u a n d o se acha q u e m c o m m u m m e n t e pague o assucar
a doze t o s t õ e s p a r a p a g a m e n t o , com q u e possa s u p p r i r
aos moradores nesta, l e v a n t a r os p r e ç o s p a r ã os desem-
penhos das d i v i d a s com que se a c h a m o n e r a d o s , n ã o
achar q u e m lhes d ê de contado, o quando os paga-
m e n t o s s ã o d c doze, a d i n h e i r o n ã o passa de s e t e ; pois
este n ã o é o m e s m o assucar, o q u e sc r e m e d e i a com a
a g u a r d e n t e *• E vem a ser, q u e c o m o assucar n ã o ha
sempre q u e m o compre, a aguardente n ã o falta quem a
gaste, e o assucar q u e se ha de levar, cada u m o quer
— 178 —
t ã o barato q u e se p e r d e os l a v r a d o r e s , o q u a n d o h a j a m
d c c o m p r a r mais caro, os q u e o c a r r e g a m a c o m u i o -
dam-sc m e l h o r c o m o d i n h e i r o c o m o é p r o v a o o r ç a -
m e n t o que eu e V . 5 . ouvimos, d o que levara a A r -
m a d a p ã s s a d a s ó desta p r a ç a mais de c e m m i l cruzados,
e a q u i se v ê q u e esta f a l t a de d i n h e i r o f a z a d e f o r m i -
dade do n e g o c i o , q u e pondo-se o assucar a p a g a m e n t o
de doze t o s t õ e s , n ã o ha q u e m d ê por e l l e sete a d i -
n h e i r o , e v e m a fazer o c a m m o d o d e s t a d e s i g u a l d a d e a
m i s é r i a q u e sc e s t á e x p e r i m e n t a n d o , p o i s n e m os q u e
qUCrem p a g a r c o m assucar p o r doze, c o m p r a m o q u e
vale c á q u a t r o p o r nove; v i n d o - s e a f a z e r i s t o por m i s é r i a
e n ã o p o r r e m é d i o , q u e se h o u v e r a a a b u n d â n c i a
de d i n h e i r o dos annos atraz, p a r a t o d o s t u d o f ô r a
igual. »
Q u a n t o a r a z ã o allegada contra a liberdade da
v e n d a , p r o d u z i n d o a d i m n i ç ã o da e x p o r t a ç ã o d o v i n h o
da c o m p a n h i a « n ã o é a a g u a r d e n t e q u e a t i r a , e s i m a
faz a l a l t a do d i n h e i r o , pois, q u a n d o este g ê n e r o v i n h a
livre, todos o bebiam f i a d o , e hoje n ã o o b e b e m s i n ã o
a d i n h e i r o á v i s t a ; d a q u i nasce o c l a m o r c o m q u e a
c o m p a n h i a tomara m o t i v o s p a r a q u e r e r l a r g a r os g ê -
neros, p o r q u e , v i n d o estes a todos, c h e g a v a a t o d o s q u e
o p a g a v a m c o m assucar, o q u e a g o r a n ã o a l c a n ç a s e m
dinheiro.»
Q u a n t o a o u t r a r a z ã o q u e se a l l e g a v a dos f u r t o s
q u e fazem os escravos p a r a a a g u a r d e n t e a m u i t o s mais
c o m m e t t c r i a para os v i n h o s , por ser t a n t o m a i o r o v a l o r
q u e vae de u m a o u t r o , q u e p r o m o v e r i a os excessos,
q u e d e o u t r a f ô r m a n ã o acontece excitar u m escravo
por u m a pouca dc aguardente que l h e d ã o p o r duas
raizes de a i p i m , q u e traz da sua r o ç a , c p a r a b e b e r o
o v i n h o n ã o se c o n t e n t a r i a o q u e l h e s dessem s e m u m a
p e ç a q u e f u r t a d a casa d c s e u s e n h o r , e n e m pela m u -
d a n ç a dos q u e v e n d e m se m u d a r á o e s t y l o d o q u e se
sente, p o r q u e sendo v e n d i l h õ e s t o d o s s ã o uns, q u e n e m
p o r brancos se l i v r a m d c taes velhacadas, p o i s , p o r
ellas j á d e g r a d e i u m , e d c o u t r o me fez q u e i x a u m m o -
- 179 —
r a d o r , d c q u e l h e achara c m casa q u a n t i d a d e de f e r r a -
g e m q u e t i h h à e m u m c a i x ã o , v e n d i d a t o d a p o r seu es-
c r a v o , e se passava destes o d a m n o q u e faz a aguar-
d e n t e ao j u i z o ; q u a l é o b r a n c o q u e m o r r e pelo b e b e r
q u e n ã o m o r r a b e b e d o de v i n h o , p o r q u e o excesso
n u n c a t e m l i m i t e s : e se a l g u m a s pessoas f o r a m de p a -
r e c e r q u e se extinguisse a a g u a r d e n t e , c o m o os q u e as-
s i g n a r a m o p a p e l , e eu si n ã o i n c o r r e r a no c r i m e de se
m e a r g u i r de q u e s i g o parcialidades, assignara p o r m u i -
tos mais as r a z õ e s p o r q u e se n ã o d e v e t i r a r a a g u a r -
dente a i n d a daquellas mesmas que tiveram contrario
parecer, pois e x p e r i m e n t e i e m m u i t o m a i o r cousa, t a n t o
m a i o r , q u a n t o f o i a p p r o v a r c m u m papel q u e h a v i a de
ir á s m ã o s de sua m a g e s t a d e , c d e p o i s , aquellas mes-
mas a s s i g n a r c m o u t r o c o m d i f f e r c n i e parecer c o n t r a r i o
d a q u e l l e : mas, n ã o m c espanto, p o r q u e si os climas sc
g o v e r n a m pelas i n f l u e n c i a s q u e nelles p r e d o m i n a m , os
t e m p o s e m q u e p r e s e n t e m e n t e v i v e m o s se encontra e m
u m d i a fazer s o l c c h u v a , f r i o e c a l m a , n ã o é m u i t o q u e
nos h o m e n s se v e j a a mesma v a r i e d a d e , p e l o que par-
t i c i p a m c m seu n a s c i m e n t o dellas. mas a m i m c o m o m e
toca d i s c o r r e r s o b r e a sua c o n s e r v a ç ã o , e n ã o da sua
c o n s e r v a ç ã o , c n ã o da sua natureza, d e i x a r e i per isso
de d i z e r a V . S . q u e os mais dos q u e foram d a q u e l l e
parecer, a s s i g h ã r a m p o r p a r t i c u l a r e s o c e o r r e n c i a s q u e
p r e n d e m uns aos o u t r o s , p o r q u e eu vou s ó c o m a l t e i -
ç ã o de d a r a V . S . Í S r a z õ e s da m i n h a r a z ã o , c n á o , s ;
o s a r g e n t ò - m ó r , seu i r m ã o , M a r t i n C o r r e i a V à s q u e s e
o de p r e s i d e n t e da C â m a r a , seu p r i m o , M a n o e l C o r r e i a
Vasqueanes.
K no g o v e r n o q u e lhe succcdeu d o p r ó p r i o Salva-
d o r C o r r e i a de S á c É e n e v i d è s , ;:quelles l u g a r e s c o n t i -
n u a r a m a ser e x e r c i d o s pelos p r o p r i c s p a r e n t e s .
I s t o n ã o podia d e i x a r de f e r i r a p r e v e n ç ã o p u b l i c a ,
q u e assumiu m a i o r e s p r o p o r ç õ e s c o m os f a c t o s p a s s a -
dos de interesse pessoal p r a t i c a d o s p o r S a l v a d o r Hene-
vides, d o a f o r a m e n t o das t e r r a s de m a r i n h a , o n d e f o i
e s t a b e l e c i d o o a ç o u g u e p u b l i c o c a q u e j á nos r e f e r i -
m o s e do seu p r o c e d i m e n t o e m r e l a ç ã o á q u e s t ã o da
e x p u l s ã o dos j e s u i t a s de S . P a u l o c R i o de J a n e i r o .
T o d o s e^tes L c t o s f o r m a r a m u m a c o r r e n t e d e
o p i n i ã o f r a n c a m e n t e a d v e r s a a S a l v a d o r , c m nome d a
q u a l estava e l l e e m um p l e i t o n ã o p e q u e n o p a r a e x e r c e r
o governO d o R i o o u q u a l q u e r d c seus p a t e n t e s , c o n t r a
o q u a l r e s i s t i a m seus i n i m i g o s .
M . s, a g o r a , u m a q u e s t ã o d e g r a n d e interesse q u e
se a g i t a v a na c o l ô n i a , d o m o n o p ó l i o da a g u a r d e n t e , t o r -
nando-se preciso r e s o l v e l - a de accordo s e m os interesses
da C o m p a n h i a , m o t i v o u a e s c o l h a de T h o m a z C o r r e i a
para annullar a r e s i s t ê n c i a com que D . L u i z a protelara
a t é este . n o m e . i t o .
T a n t o assim é q u e , no p r o g r a m m a a p r e s e n t a - l o á
C â m a r a de sua a d m i n i s t r a ç ã o , d a necessidade de sc
r e p a r a r as fortalezas, e m vista d o seu m á o estado, n ã o
acceitou os r e c u r s o s p o r e l l a propostas da c r e a ç ã o de
u m i m p o s t o de 5 0 0 r é i s a t i t u l o de l i c e n ç a s o b r e a v e n d a
l i v r e da a g u a r d e n t e , p o r m u l h e r e s , s o l d a d o s e h o m e n s
casados o u s o l t e i r o s , « p o r n ã o c a b e r na sua a u t o r i -
dade a revog; c ã o d o privilegio que fora dado á Compa-
n h i a q u e o g e n e r a l da F r o t a a f f i n c a d a n i e n t c s u s t e n t a v a
por n ã o t e r s i d o este o s e n t i m e n t o c o p i n i ã o d o seu
antecessor.»
E e m s u b s t i t u i ç ã o desse m e i o , p r o p u n h a t o m a r - s e
o g a d o « o s creadores d o r e c ô n c a v o , a f a r i n h a d o s l a v r a -
d o r e s pa>a se lhes p a g a r e m d i n h e i r o q u e seria o b t i d o '
por u m e m p r é s t i m o que a Câmara trataria de l e -
vantar.
E t a n t o assim é q u e , c m u m a a p p ara tosa s e s s ã o d a
C â m a r a , a q u e c o n c o r r e r a m , a l e m dos altos f u n c i o n á -
rios, o p o v o e a n o b r e i a da cidade, e s p e c i a l m e n t e p a r a
resolver-se d e f i n i t i v a m e n t e a p a l p i t a n t e q u e s t ã o do abas-
t e c i m e n t o d*agua d a c i d a d e , conduzida por canos de
p e d r a do rio C a r i o c a , p r o m p t i f i c a n d o - s e a C â m a r a , em
n o m e d o p o v o , a l e v a n t a r u m subsidio v o l u n t á r i o , T h o m é
C o r r e i a , c o n t r a a e s p e c t a t i v a do a u d i t ó r i o , lc a p r o v i s ã o
d c 13 d c S e t e m b r o de l t í õ í ) , pela q u a l respeitando o
s o b e r a n o « o q u e cie n o v o l h e f o r a representado p o r
p a r t e dos d e p u t a d o s d a J u n t a de C o m m e r c i o G e r a l »
resolvia e x t i n g u i r a v e n d a e i n d u s t r i a da a g u a r d e n t e e
c a c h a ç a no B r a z i l .
E á custa da surpreza, f e i t a pelo g o v e r n a d o r e
o u v i d o r g e r a l , f o i arrancada a e x e c u ç ã o dessa p r o v i s ã o ,
q u e c o n s u m o u o m a i o r a t t e n t a d o aos p r i n c í p i o s da l i -
b e r d a d e d o c o m m e r c i o e aos interesses c o r n m e r c í a e s e
a g r í c o l a s da c o l ô n i a .
A C â m a r a manda p u b l i c a r pelas ruas o b a n d o , pelo
q u a l e n t r a v a c m e x e c u ç ã o a p r o v i s ã o r e g i a , debaixo
das penas as m a i s severas e t y r a n n a s de m u l t a , p r i s ã o e
desterro.
O s factos q u e p r e c e d e r a m esse a t t e n t a d o s ã o e l o -
q ü e n t e s p a r a d a r a e x p r e s s ã o ao governo de T h o m é
C o r r e i a , de u m g o v e r n o d c e m p r e i t a d a para consu-
mai-o.
A o m e s m o t e m p o q u e os d i r e c t o r e s da C o m p a -
nhia, pelos d e p u t a d o s da J u n t a C o m m e r c i a l , reclamam
a p r o h i b i ç ã o da v e n d a e p r o d u c ç ã o da a g u a r d e n t e no
Brazil, T h ò m é C o r r e i a é n o m e a d o g o v e r n a d o r do R i o ,
o r e i b a i x a a p r o v i s ã o , n o m e i a S a l v a d o r á 10 de j a n e i r o
d e l t í õ l ) g o v e r n a d o r , v i n d o e l l e na p r ó p r i a f r o t a da
C o m p a n h i a a assumir as suas l u n e ç õ e s , o q u e fez a 1 de
J a n e i r o de 1 flfiO.
Eis p o r q u e , nesta cidade, restaurava-se o p r e s t i g i o
dos C o r r e i a s de S á , e m nome dos interesses de u m s y n -
- 184 —
dica t o que a r r u i n o u , p o r u m s é c u l o , o c o m m e r c i o e a
l a v o u r a da c o l ô n i a .
N a alta esphera d a a d m i n i s t r a ç ã o p u b l i c a , a C o m -
p a n h i a tinha os seus m a n d a t á r i o s , a z e l a r e m m a i s pelos
seus interesses, d o q u e pelos da c í r c u m s c r i p ç ã o q u e
governavam.
Mas, v o l t e m o s ao e s t u d o d o g o v e r n o d e T h o m é
Correia.
F o i j u s t a m e n t e q u a n d o a crise c h e g a v a a sua phase
a g u d a , q u e se c o n s u m o u a p r o h i b i ç ã o d a v e n d a d a
aguardente.
£ ' b e m de v e r q u e e r a u m f a c t o r de m a i s para a g ^
g r a v a r seus m a u s e f f c i i o s .
O c r e d i t o dos l a v r a d o r e s estava p r o f u n d a m e n t e
abalado.
T o r n o u se i n d i s p e n s á v e l u m a v e r d a d e i r a m o r a t ó r i a ,
b a i x a n d o sc u m a m e d i d a p c l n q u a l o o u v i d o r n ã o c o n -
sentisse na e x e c u ç ã o dos b e n s a g r í c o l a s e esciavos, d e -
v e n d o os credores s e r e m pagos p e l o assucar, s e g u n d o o
p r e ç o g e r a l e n à o p o r 4 0 0 reis a a r r o b a o b r a n c o e 1 0 0
r é i s o mascavo.
O resultado disto foi a s u s p e n s ã o do fornecimento
á l a v o u r a , p o r d e l i b e r a ç ã o do c o m m e r c i o .
A essa f a l t a de c a p i t a l v e i u rcun"r-se a f a l t a de
b r a ç o s . p e l a f u g a dos escravos dos e n g e n h o s pr.ra as m a r -
g e n s do P a r a h y b a , o n d e f o r m a v a m q u i l o m b o s , p a r à c o m -
m e t t e r m o r t e s , r o u b o s e toda a especie de d e p r e d a ç õ e s .
E ' fácil de comprchender que isto era o resultado
da s i t u a ç ã o g e r a l .
A Gamara e n t ã o resolveu r e m u n e r a r a p r i s ã o d c
c a d a escravo, c o m i$2S0 na zona c o m p r e h c n d i d a e n t r e
a c i d a d e e a lagoa d e R o d r i g o de F r e i t a s e o d i s t r i c t o
de I t a ú n a ; 2 $ a t é I r a j á ; 4 * a t é C a m p o G r a n d e e d a h i
e m d i a n t e 8*. N a z o n a f r o n t e i r a á b a h i a s e r i a m pagos
2 * a t é o districto d c 5 . B e r n a b é , 4 8 a t é Saquarema e
8* a t é Cabo F r i o . ( 1 )
e n t r a v a m e m q u e s t õ e s c o m as a u t o r i d a d e s e c l e s i á s t i -
cas, c u j a t e n d ê n c i a m a n i f e s t a , c o m o t e m o s v i s t o , e r a
invadir a j u r i s d i c ç ã o d a auetoridade civil. J á a carta
regia d c 3 d e m a i o d c 1 6 4 6 veiu p ô r t e r m o a u m attrt-
cto de j u r i s d i c ç ã o q u e se t i n h a d a d o , a c a u t e l a n d o o
mais possivcl as p r e r o g a t i v a s da a u e t o r i d a d e c i v i l , t ã o
d i r e c t a m e n t e a m e a ç a d a pelas t e n d e n c i s d o m i n a d o r a s
e d i c t a t o i i a e s dos p r e l a d o s d o R i o d c J a n e i r o .
A g o r a , á p r o p ó s i t o d c uma devassa que tirava o
o u v i d o r D r . P e d r o P o r t u g a l , e m c o n s e q ü ê n c i a de u m a
t e n t a t i v a de assassinato do t a b e l l i ã o S e b a s t i ã o F e r r e i r a
F r e i r e pelos familiares d o p r e l a d o , e x i g e d h e no p r a s o
d c tres o i - s , a remessa d o ; autos, s o b pena de e x c o m -
munhão.
A a u e t o r i d a d e j u d i c i a r i a estava de p a r t i d a p a r a
Espirito-Santo, afim dc providenciar judicialmente
s o b r e o assassinato d o c a p i t ã o m o r da c a p i t a n i a J o ã o
d c A l m e i d a , q u a n d o esse aviso v t i u d e s v i a i - o d o seu
c u m p r i m e n t o d c d e v e r , para t r a t a r da suspen- ã c da
e x c o m m u n h à o t ã o i l l e g i t i m a m e n t e i m p o s t a , p o r isso que,
no t e r r e n o p r a t i c o , c i l a i m p o r t a v a na s u s p e n s ã o do ex-
e r c í c i o de suas f u n e ç õ e s legaes.
Por isso, a c x c o m m u n h ã o era u m a a r m a p o d e r o s a
a q u e se s o e c o r r i a o c l e r o , e m f a v o r de sua p o l í t i c a .
A l é m deste conflictò, o prelado, pouco depois,
levantava um outro. A u t o r i s o u a m u d a n ç a d a S é e
p a r o c h i a de S. S e b a s t i ã o d o a l t o da c i d a d e p a r a a ca-
p e l l a d e S . J o s é , s i t u a d a na v á r z e a . E m a m b o s estes
coniiictos interveiu a c â m a r a , q u e a l c a n ç o u a s u s p e n s ã o
das o r d e n s feitas, p e l o p r ó p r i o p r e l a d o , c o n t r a q u e m
r e p r e s e n t o u ao soberano, p o r c a r t a 6 d e n o v e m b r o d e
1659, (1)
<1) Silva Lisbo.1. fine unto sc inspira na M«m. Mss, a mie nos lemos
r«tl<-nJy, rclau munUçiosamentc as sessíles da cam..ra i jiag. 316 do 8 rol. em
o
(li Ptililkumo! csKi pínvisação, (doe. irtodícto), iinin' ... et Mem. Mss. •
prosiíao dc ] " Jc SclembtO de lu'5S. nntr.e.i.lii S. Her.cvides gnvem ídor do
R^o, cm-auseucia dc loào dc Mullu Frio. vc-;c qna ellé foi nomeado governador
das capitanuj d» sal, fiem dcrsr.dcucia do goví:ii,idor c capitáo (ipral dn Kstido
do Drasil, pussando-lh- patente com esta ola«siiIa. pjra priv.-ir duvida-*, «li
1
Sundo caso que o é'no S.lv.idor vá ás minas, t:ãu eslando o dit« Jofto dc Mello
i»o seu govurjiò do Rio dc Janeiro, hei por hptQ que use «>meii-ie da ririsdicçào
òVi capi-amis S. Paulo e S. Vicen^, mi que as dim* iniiiav cstào sendo
ludo disiin.-io dcais, por nilo locaram tapiUn*as do Kío de Janeiro num lhes
terem nelihuTòà iiihordíníivãn e <> João dc Mcün dar:í a Salvador Correia o
favor que Uic pcair.»
(2> Silva Lisboa jiuhlica-a à pag. 28i» dos seus Amues e a Memi Mss.
a pag. 4*17.
-<3l Po* "rt;i réuia dc Ili dc I>eíem1>ro dc 1GB7, a metrópole indapa com
que ordem Í6\ ínstüuidb esse imposto - CW. de Carla Regias do Arei', Pu-
— 191 —
d i o c a , e m v i s t a dos atravcssadorcs de M a c a c ú , q u e
c o m p r a v a m t o d a a f a r i n h a para r e v c n d c l - a na c i d a d e ,
p o r p r e ç o s e x h o r b i t a n t e s , s e n d o preciso q u e a c â m a r a ,
pr.ra a c a b a r essa e x p l o r a ç ã o , castigasse os t r a f i c a n t e s
c o m a pena de 1 0 0 $ .
P e l o l a d o fiscal, d a v e r d a d e da a i r e c a d a ç ã o , os
GOntracios e r a m d a d o s a f a v o r i t o s da a d m i n i s t r a ç ã o ,
c o m g r a n d e p r e j u í z o d o fisco.
N a u l t i m a a r r e m a t a ç ã o d o d i z i m o , nos ú l t i m o s
t e m p o s d o g o v e r n o de T h o m é C o r r e i a , a C â m a r a re-
piesentara contra cila, p o r q u e o l a n ç o tinha ficado
m u i t o a b a i x o d o q u e í l c a n ç á r a c m annos passados.
E n ã o o b s t a n t e as p r o v a s patentes dos p r e j u í z o s
da fazenda, a p e t i ç ã o n ã o f ò r a a l t e n d i d a ( 1 ) .
Pelo l a d o da l a v o u r a , a s i t u a ç ã o definia-se pela es-
cacez d o b r a ç o , p e l a f u g a dos n e g r o s dos engenhos, c
pelas d i f f i c u i c l a d e s q u e o c o m m e r c i o apresentava de
f o r n e c e r c a p i t ã e s ao l a v r a d o r , a f a v o r de q u e m as
autoridades t i n h a m baixado uma m o r a t ó r i a .
Pelo l a d o social c p o l í t i c o , reinava, a i n d i s c i p l i n a e
o d e s c o n t e n t a m e n t o na g u a r n i ç â o , o g o v e r n o de cama-
r i l h a , em n o m e do q u a l e x e r c i a m cargos p ú b l i c o s os
p r ó p r i o s criados dos g o v e r n a d o r e s ( 2 ) e no p o v o , « a p r e -
hensivo e triste com a n o m e a ç ã o dc Salvador, augu-
r a n d o m a l o n o v o g o v e r n o , pelas e x p l o s õ e s horrorosas,
q u e os t í t u l o s e a s e m e n t e j e s u i t i c a t i n h a p r o d u z i d o e
q u e a s s i g n a i ã r a m o seu g e v e r n o u m g o v e r n o de per-
fídia. »
Eis as c o n d i ç õ e s e m que S a l v a d o r ia g o v e r n a r .
N a d a d i s t o deteve-o de, em sua p r i m e i r a carta dc
2 8 de J a n e i r o d c 1 6 0 0 , d i r i g i d a á C â m a r a e e m q u e t r a -
ç a v a seu p l a n o d c a d m i n i s t r a ç ã o (;>),querer o a u g m e n t 0
II) Por caíU dc 9 tlt Maio, o rei di* ao «ovemadur do Rio, e*iar infor-
mado deque di-smcaminhain-sc geunns e dinLcJi» dos navios que vúo pjrj o
Hêino, sendo preciso que ciles tragam certidão de registro ucslcs baveres. —
An/i. Pubiiio Çirlxs ffrVwJ.
(2) Diversa* caria» regias existem m> Arch. Pubiuo, em que n sobereno
dii que sejam bem avaliada* a* qualidades c condiccòcs dos candidatos aos
cuinicuos. para sc pòr fim a e>**e abuso.
(3) Mem. Mi*, pag. 40b.'Silva Lisboa 3" vol. p*«. 839,
- m -
e porque convém mniio atalhar-so PSIHN e outros semelhantes damr.os que daqui
resultam, hei pnr bem e mandar ao Governador do Rio dc Janeiro e mais capi-
tanias do sul que ora c, e ao diante for que por nenhum caso prcvej.i daqui
em diante cargo algum de guerra senão nds pessoas, cm que ecrreren» as circun-
stâncias e requisitos que só contem nus 10 càpitn*i0i do Regimento das fronteiras
deste Reino assignado por Mirc.is UfJng-'I inoco secretario do meu t-uuseUio
ultramarino, que serão inclusos iiest.i provisão on forem providos poi alguma
particular minha, pnr que as^ím o õrâ?no c quacs qae £4trVárém servindo setu
<«s qualidades refaria"ts hao vençam Soldo nem se Ines pag .a ordenado algum
dc minlta Fazenda por se entender que com a observância e guarda dos dito»
capítulos se evitarão de-.pez.ia imitei* c vir a ser os mais b-nçjiciitos providos
nos cargos do M licii; e esta se registrará das dtt.1i Leis il-i câmara, para que
a todo tempo conste, o que pnr ell-i ordeno e valerá çouio carta feita cm meu
nome c nâo passará pela chancelaria sem *mbargo d,, Oi. do L. 3 t . 39 e 40
cm contrario nesta onfnrutidiule manda pi<*«jr pfOVÍSoSs para a« miu patente»
ulifamarinos. P este se passou por duas vi.is—10 de O i l . dc 1630—Xai;>ha.
O regimento » que se refere o alvaiá, diz ;
Nào se elejera capitães dc infanteria quem nào tiver sidn seis annos cffc-
ctivo, soldado e ties alfercs ou dez armos de soldado offectívp, aiiida que com
licença se haja iüiçiiuuipido, com taci» ijuc o tempo de lícouca c ausência, nâo
— i9;i —
Mas, S a l v a d o r e n t e n d e u p e d i r o a u g m e n t o d a
g u a r n i ç â o , sem justificativa plausível e a c r e a ç ã o de .um
novo imposto predial.
P e d i u mais q u e se desse u r g ê n c i a <-.o t r a b a l h o do
e n c a n a m e n t o da a g u a da C a r i o c a que, p e l o n o v o p l a n o
a d o p t a d o , l i n h a sido c o m e ç a d o sob o g o v e r n o de T h o m é
C o r r e i a (1) e q u e d e v i a ser a c a b a d o no p r a z o dc d o u s
annos.
servido na guerra seis afiijn? «jlfcctivos ou pelo UKIIO* cinco, náo se podendo
dispensai novo» tempos de si-ivíco sob condição d- ?cr excluído.
CAPITULO xvi
Para ser alfcrcs, que ranli» servido qoalro àoriós cffcct-vos mio pojçriíla
os governadores das armas fu/areui a inenor dlspéiúá, porque o contrario não
rerdo tjdns p tr ai feres. Nao poáem ser admittidos <ouiu sãòtn qae- tenhüo ser-
vido com os governadores.
CÂPITUL' > XV|!
Para sargento ser;! prensa o mesma tempo que para alícres, applicando-
se llie» as mesmas dispOAiçúf dos capítulos anteriores.
CAPITULO XVIU
Compete aos capitães dt? irif-MiUrii nom:ir o* alfeiet c sargento* para
suas companhias, ciimprin.l.. a* di«pOsíçú-s anteriores, mando que 'o» oQiciaes
dc soldo náo assentem pr>çi de alíéífcfl Oú sargentos, "ainda que U;nha<> <>. anncs
de serviç;>, que se requerem, sem («varem a previsão do seu Místre de Ca tapo.
firmada por elle, cm qa-t, declare concávrar no noms.iJo reputação e valor qiie
convém e aos He*tres d: Caupos encarreg") oirmado que conlando-lh :s que,
11a os tres nomeados t;ão cou.orram of requisito» necessários «n que são res-
soas defeituosas, dém conta a> gavciadjr da- armas para com sua ordem ser
u capitão castigado, coino cunvèm sem podír ler part: na di:a ck-i;ao, e n sar-
gent J serã promovido a A.lf*res,o ^abo de «squadra mais antigo sargento c quando
nos nomeados coucorrJo todos, os ieqursito>tefertiJflSo governador das armas
por seu despacho lhes mandar assentar praça.
CAPITULO XIX
P.nM promoção de alfcres e sargento a capitão deve se obicivar o mesmo
do disposto anterior.
CAPITULO XX
Às reformas só pelo rei devem ser d;das. precedendo informação do go-
vernador das armas.
CAPITULO XXI
AÍ companhias
{1} Ja estaviu Cdevem ser dc
OD hrtcis de 80 soldado*.
cann prnfnplâs, sflndo orçada 305001 por"
braça e ja se tinha despendido 1.3*ÍW«Í, faltando ainda 1.S30SÜOÚ.
A receita o r d i n á r i a da c a p i t a n i a m o n t a v a e n t ã o e m
1 2 m i l cruzados dos d í z i m o s . íl m i l cruzados do i m p o s t o
de sal e do s u b s i d i o dos v i n h o s .
A C â m a r a passou a e s t u d a r a proposta sobre a
q u a l d e v i a m ser o u v i d a s a l é m cícllas pessoas q u e repre-
sentassem a nobreza, o p o v o (1) e t o d o o clero d a
cidade.
K m v i s t a das o p i n i õ e s s u s t e n t a d a s , ( 2 ) da i n c o m -
p e t ê n c i a d a a u t o r i d a d e de c r e a r u m n o v o i m p o s t o , t o -
m o u a C â m a r a as seguintes r e s o l u ç õ e s q u e f o r a m c o m -
m u n i c a d a s a S a l v a d o r : t o r n a r l i v r e o c o m m e r c i o da
c a p i t a n i a , e l e v a r o p r e ç o do a r r a t e l de c a r n e v e r d e 1 0
reis a l ô reis, s e n d o a p p l i c a d o s os 5 r é i s ao sustento d o
p r e s i d i o ; suspender o s u b s i d i o dos v i n h o s , sendo sub-
s t i t u í d o pelo s u b s i d i o da a g u a r d e n t e , c u j a i n d u s t i i a
a g o r a se p e r m i t t i a , na t a x a d c 1 0 $ , por p i p a .
A c c c i t a s estas propostas p o r S a l v a d o r e ate r e g u
l a m e n t a d o s os n o v o s i m p o s t o s p a r a sua a r r e c a d a ç ã o e
fiscalisação. a C â m a r a , c m c a r t a de 3 0 d e J a n e i r o d e
1 6 6 0 , c o m m u n í c a - a s ao r e i , s o l i c i t a n d o a a p p r o v a ç ã o
dellas.
N o i n t i m o das c o n v i c ç õ e s d o g o v e r n a d o r esse ac-
c o r d o n ã o p o d i a ser u m acto d e f i n i t i v o , c u j a a p p r o v a ç ã o
n ã o passava de u m s i m u l a c r o .
N e l l e estavam d u a s c l á u s u l a s q u e i m p o r t a v a m e m
s u a r e p r o v a ç ã o pelo p r ó p r i o B e n c v i d e s — a l i b e r d a d e
do c o m m e r c i o c a l i b e r d a d e da i n d u s t r i a da a g u a r -
dente.
F o i c m n o m e de sua r u i n a e e m b e n e f i c i o d o m o -
n o p ó l i o da C o m p a n h i a q u e o d e s c e n d e n t e cie E s t a c i o
veiu irovernar o Rio.
(1) O leitor procure lér o* dnrs. que publica Silva Lisboa dessa sessaa,
assim como a Mem. Mss. nos quae» fui »uslcnladi a doutrina de direito da in-
competência do governo municipal dc crear impostas, sem ordem expressa e
previa do rei. u quando a necessidade dc cr;al-os fosse líio urgente, que não
houvesse tempo dc sollicilar a urdem du soberano, entãa a autoridade devia
recorrer ao meio indircclo do pedido ao puvo, ou por meio do emprestimo ou
do donativo.
{2} Porom eleitos então por parte dos nobres o capitòo l.uiz de Freitas
Mattoso o sargento môr Joào Rodrigues Pesuua c o capitão M.:»thías de Mendonça
o por parte do povo Pedro Pinto e Antônio Pcrnandes Vallougo. Mem. Mss,
— 195 —
E m u i t o cedo, r e c u o u do « r e f e r e n d u m » q u e l h e
t i n h a p r e s t a d o , e x i g i n d o uma nova s e s s ã o da C â m a r a ,
perante a q u a l disse q u e , sendo i m p r e s c e n d i v e l o au-
g m e n t o , de r e c u r s o s t o r n a v a - s e preciso u m a outra p r o -
posta, l e m h i a n d o u m d o n a t i v o pessoal, pelo q u a l cada
u m c o n t r i b u i s s e e m p r o p o r ç ã o á s suas rosses, d e v e n d o
suspender-se o s u b s i d i o dos v i n h o s .
E r a u m v e r d a d e i r o imposte pessoal, c u j a taxa mais
e l e v a d a era de 8 $ o 0 0 p a r a os ricos e c u j o s p a g a m e n t e s
e r a m semestraes.
A C â m a r a n ã o ponde resistir á vontade d o gover-
n a d o r , h o m o l e g a n d o os seus desejos e l e g a l i s a n d o o
peso t r i b u t á r i o , com q u e q u e r i a satisfazer os seus c a p r i -
chos de a u g m e n t a r a g u a r n i ç â o .
E s t e a c t o f o i c a u s a occasional de r e b e n t a r o m o -
v i m e n t o r e v o l u c i o n á r i o q u e , p c u c o a p o u c o , se ia p i e -
p a r a t i d o , sob a f o r ç a i r r e s i s t í v e l da p r e s s ã o e c o n ô m i c a ,
e m q u e o p o v o da cidade e c a p i t a n i a v i v i a , l i a
annos.
E m a l S a l v a d o r ausenta-se da c i d a d e para S ã o
Paulo, a f i m d e t r a t a r das minas c conhecer das o u t r a s
p r o d u c ç ò e s da capitania, d e i x a n d o na a d m i n i s t r a ç ã o
d o R i o o seu p r i m o T h o m é C o r r e i a do A l v a r e n g a , q u e
n o m e o u p o r p r o v i s ã o de 11 de O u t u b r o de 1G60, r e -
b e n t o u a r e v o l u ç ã o a 8 cie N o v e m b r o .
D e s d e .'10 d e O u t u b r o a s i t u a ç ã o da cidade era de
franca s i t u a ç ã o r e v o l u c i o n a r i a .
O s r e v o l u c i o n á r i o s , p o r m e i o de deputados esco-
l h i d o s , s o l i c i t a r a m de T h o m é C o r r e i a a e x e c u ç ã o de
m e d i d a s q u e a f i e c t a v a m d i r e c t a m e n t e os interesses do
p o v o , p r i n c i p a l m e n t e o a l v a r á r e g i o d c 1<! de O u t u b r o
d c I 6 . ) 9 , d c q u e j á f i l i a m o s , o q u a l a l é m de regularisar
r
já
s i t u a ç ã o f i n a n c e i r a , n ã o ficando c o m o l e t t r a m o r t a nas
secretarias d o g o v e r n o .
A r e c l a m a ç ã o dos r e v o l u c i o n á r i o s era t a n t o m a i s
l e g i t i m a , q u a n t o a e x e c u ç ã o i m p o r t a v a na s u s p e n s ã o d e
impostos, q u e t i n h a m sido t r i b u t a d o s e p o r c o n s e g u i n t e
no a l i v i o do povo cujas c o n d i ç õ e s financeiras n ã o p e r m i t -
t i a m o peso t r i b u t á r i o , i m p o s t o p o r S a l v a d o r B e n e v i d c s .
N ã o se p ô d e negar, por c o n s e g u i n t e , q u e o p r o -
g r a m m a da r e v o l u ç ã o , f o i r e s t a u r a r o r e g i m e n d a l e i ,
c a l c a d o pela v a i d a d e e p r e p o t ê n c i a do g o v e r n o , s u r d o
a t o d o s os p r i n c í p i o s , a t o d a s as r e c l a m a ç õ e s , p a r a fazer
de seus c a p r i c h o s a p r ó p r i a l e i .
A l e g i t i m i d a d e da causa r e v o l u c i o n a r i a , p o u c o d e -
pois, f o i r e c o n h e c i d a p e l o s p r o p r i o s p o d e r e s c o n s t i t u í d o s ,
pela C â m a r a q u e , e m s e s s ã o d c 2 d c J u l h o d c I 6 6 ( í ,
dizia q u e « e x p o r m o - n o s a p a d e c e r as m i s é r i a s q u e
aquelles pobres e leaes vassollos estão a tonto tempo pade-
cendo nessa C o r t e e m p r i s ã o , sem st; lhes d e f e r i r , c a u -
sado t u d o p o r i n t e l i i g c r . c i a s de M i n i s t r o s e pessoas p o -
derosas, q u e c o m o seu p o d e r e s c u r e c e m a v e r d a d e c a
r a z ã o , q u e s a b e m o s se f o r a p r e s e n t e a V o s s a M a g e s t a d e
a natureza d a sua c u l p a se n ã o p o d i a d u v i d a r do p e r d ã o ,
pois q u e o mesmo zelo exaltado do serviço de Vossa Ma-
gestade com que obraram f o i maior do que a l g u m e r r o
q u e lhes fizera c o m m e t t e r a i g n o r â n c i a , na p e r s u a s ã o
de fazer obséquio e serviço a Vossa Magestade (1).
A s s i m , i n d e f e r i d a s as suas r e c l a m a ç õ e s os r e v o l u -
c i o n á r i o s q u i z e r a m f o r ç a l - a s , c m n o m e da v o n t a d e d o
p o v o q u e os a p p l a u d i a .
O s seus chefes p r i n c i p a e s , — D i o g o L o b o Pereira,
capitão Jcronymo Barbalho, o alferes Lucas da Silva e
J o r g e F e r r e i r a de B u l h õ e s — d i r i g e m - s e p a r a o t e r r i t ó -
r i o f r o n t e i r o a cidade, r e ú n e m se na « P o n t a d o B r a b o » ,
o n d e e l a b o r a m o seu p r o g r a m m a , e d ' a h i v o l t a m p a r a
a c i d a d e , d e b a i x o d c vivas ao s o b e r a n o , c h a m a m os ca-
m a r i s t a s a conselho, e x p õ e - l h e s os seus males c os m o -
(1} Agoiliiilm Barbalho Bezerra foi filho de Lüií B.M(..IIIIO Dezena, que.
também natural ào Rio de J-iticiro. o governou pelos anno* dc 1643, ;omo fica
rrferido: c talvez por esse moiivo sr lembi-iram ns ,1111 min adere* deoojiferii-lhe
o emprego, quando cm volta da UJÍ>Í;I se .icbava re-idcntc nfl íreguezia de S.
Cicmçalo, »i:dc po**ui;< uma fazenda. Teve uni filho, a quem poz o nome do
avô. oflua]foiteceu no P*"to dc Capiiaoimu de t.aho Frio. ao* 18 dias d<* Mar-
co dc l"ir>. o a unem .1 Ordem dc 17 d<- r-tvcrciru d» 1083, rcu.i«tr. ao l.v. í>"
do Rcp. Ocr. da Prov. f. 182. inundou pagar o Soldo competente desde o dia
d» seu embarque cm Lisboa.
|2> Deixamos do publicar a integra da sessio da cantara, 110 pprjodo da
revolução, por st-i um documento por demais extenso. Rev. do lust. vol. 3'
jiaK- 6. _
(31 Fallcccu Luiz Barbalho era 16 dc Abri? dc 1644 e «pultou-sc na Ca-
pcUa-M'>r da Lgreja do Collegio da Companhia,
— 198 —
L a v r a d o r na e n t ã o f r e g ü e z í a de S. G o n ç a l o , o n d e
m o r a v a A g o s t i n h o Barbalho, tornou-se o p o n t o c o n v e r -
g e n t e das s y m p i t h i a s dos habitantes dessa z o n a a g r í -
c o l a o n d e m o r a v a m quasi t o d o s o.sseiis c o m p m h e i r o s d a
causa r e v o l u c i o n a r i a .
E r a o j u i z da i r m a n d i d e d e Nossa S e n h o r a d o B o m
Sucesso, q u a n d o esta c o n f r a r i a c e d e u á I r m a n d a d e d a
M i s e r i c ó r d i a t o d o s os seus bens.
Sua irmã D . Cecília fundou o H o s p í c i o d ' A j u d a ,
para o n d e recolheu-se c o m suas filhas, c o m o f r e i r a s , c m
1 0 7 0 , depois d a t r a j e d i a p o l í t i c a q u e custou a e x e c u ç ã o
de J e r o n y m o . ( 1 )
O b r i g a r a m ao o u v i d o r g e r . d D r . Pedro de M u s t r e
a a b r i r o pelouro. sendo eleitos, c o m o presidente da
C â m a r a e j u i z o r d i n á r i o , D i o g o L o b o Pereira e L u c a s
da S i l v a , F e r n a n d o F a l e r o H o m e m , S i m ã o B o t e l h o de
Almeida e como pro;uraJor üuzebio Dias Cardozo.
A C â m a r a e r a o g o v e r n o d c facto. A i n i c i a t i v a das
r e s o l u ç õ e s delia partia.
A g o s t i n h o B a r b a l h o n ã o passava d e u m a f i g u r a d e
ornato.
E c m sua e l e i ç ã o para chefe d o g o v e r n o , e s t á u m a
das mais poderosas caus.is do insuccesso da r e v o l u ç ã o
ç ã o o u p e l o menos de n à o l e s i s t i r a r e p o s i ç ã o d c S a l -
vador.
E l e i t o contra suas c o n v i c ç õ e s c sem f é p e l a c a u s a
revolucionaria que n ã o apoiou, n e m a p p l a u d i u , como
se v ê de suas p r ó p r i a s palavras, na c i r i a q u e d i r i g i u ao
g o v e r n a d o r da B a h i a , a 15 d c D e z e m b r o de 1 6 6 0 . ( 2 )
t r e m e u v a c i l i a n d o , q u a n d o r e f e r e n d o u as m e d i d a s d a
C â m a r a c o n l i r m a n J o - a s c o m o p r o t e s t o d c l h e n ã o pre-
j u d i c a r e m , p - r q u e o fazia v i o l e n t a d o ( 3 )
sido e x p u l s o p o l o d i t o p o v o .1 p r i m e i r a vez q u e i n t i t u -
l a d o g o v e r n a d o r veiu a esta. c a p i t a n i a e p o r sc l i v r a r e m
da t y r a n m a puc p u b l i c a m e n t e c o m e t t e u , p o r o g e n t i o
andar a l v o r o ç a d o , dizendo que Salvador o vinha
libertar».
Salvador, em Santos, afíixa u m b^ndo, pelo qual
suspende de suas f u n e ç õ e s o j u i z o r d i n á r i o O . S i m â o
de T o l e d o Piza e ao o u v i d o r A n t ô n i o L o p e s de M e d e i -
ros, c h a m a n d o - o s á sua p r e s e n ç a , n o p r a z o de u m mez,
C o m o sc v ê , antes d e r e b e n t a r a r e v o l u ç ã o n o Rio,
o p o v o c m S . P a u l o , p o r sua vez, i n t i m a v a ao p r ó p r i o
S a l v a d o r sua d e s t i t u i ç ã o , c o m e ç a n d o u m a phase de
desobediência.
E n t r e t a n t o , n ã o f o r a m s o l i d á r i o s c o m a causa d o s
f l u m i n e n s e s , a q u e m e m c a r t a d e 18 d e D e z e m b r o ,
d a v a m « o s pe/.ames pelos seus e n f a d o s e q u e n ã o
as m a l f u n d a d a s q u e i x a s desse p o v o ao g o v e r n a d o r S a l -
v a d o r , d e v e n d o acudtr c o m o r e m é d i o , p a r a q u e S . M .
fique m e l h o r s e r v i d o » p o r q u e e l l e s « n ã o f d l t a r i a m a
o b r i g a ç ã o q u e t ê m d c seus leaes v a s s á l i O s » .
A i n d a m a i s . A d h e r i a m á C â m a r a e o p o v o de S ã o
P a u l o a causa d o g o v e r n a d o r , a q u é m p e d i r a m « a s s i s -
tisse na v i l l a » , p o r q u e t o d o s « e x p e r i m e n t a v a m o seu
b o m g o v e r n o , d c g r a n d e s b e n e f í c i o s nas e s t r a d a s e nas
passagens d o R i o , na o b s e r v â n c i a d a j u s t i ç a » . E p o r q u e
« l h e s c o n s t a v a q u e V . S . q u e r passar a v i l l a de A n g r a
dos R e i s , lica 12 l é g u a s da c i d a d e d o R i o de Janeiro,
q u e ao presente è* p u b l i c o e s t á a l t e r a d a c o m a l g u n s
excessos q u e a V . S . s ã o c o n s t a n t e s , t o d o s os m o r a -
d o r e s desta v i l l a em nome seu c t o d o s os d e s t a c a p i t a n i a ,
p e d i m o s nos d e c l a r e si l e v a i n t e n ç ã o á q u c l l a c i d a d e s e m
n o v a o r d e m de S. M . p o r q u e n ó s s o m o s seus lieis vas-
s á l l o s estamos a p p a r e l h a d o s com pessoa e f a z e n d a p a r a
a c o m p a n h a r m o s a V . S . assim c m r a z ã o do s e r v i ç o de
E l - r e i , c o m o da o b r i g a ç ã o e m q u e V . S . nos t e m p o s t o
— 201 —
<
c o m a sua a f f a b i l i d a d e c b o m g o v e r n o de j u s t i ç a » . ( 1 )
Eis c o m o e c b o o u e m S . P a u l o a r e v o l u ç ã o fluminense.
A l é m da a d h c s ã o á l e g i t i m i d a d e d o g o v e r n o de
S a l v a d o r , o f f e r e c e u e l e m e n t o s de r e s i s t ê n c i a . O s factos
de 1 6 4 3 , da e x p u l s ã o dos jesuitas, e m q u e a i n i c i a t i v a
da c o n c o r d a t a e d a t r a n s a c ç ã o d o R i o arrastara S ã o
P a u l o a r e c u a r do seu passo, ainda estavam bem frescos.
Eis a causa d o a p p c l l o d e s o l i d a r i e d a d e dos fluminenses
aos p a u l i s t a s .
S . P a u l o vingava-se a g o r a do R i o de J a n e i r o . N ã o
e r a a o b e d i ê n c i a á l e i e ao p r i n c i p i o de a u t o r i d a d e a
causa r e a l d c r e j e i t a r o a p p e l l o dos r e v o l u c i o n á r i o s .
N ã o , p o r q u e actos p o s i t i v o s de d e s o b e d i ê n c i a ao
g o v e r n o g e r a l d a c o l ô n i a e do R i o t i n h a m sido sueces-
s i v a m e n t e p r a t i c a d o s p o r S . P a u l o . A causa r e a l da
r e j e i ç ã o e s t á na p r o f u n d a m a g u a pela p o l í t i c a d o R í o ,
e m 1 6 4 3 , q u a n d o firmou a c o n c o r d a t a d e r e s t i t u i r os
c o n v e n t o s aos j e s u í t a s , l e v a n d o S. P a u l o de r e b o q u e ,
c o n t r a seus interesses, a firmar, a i n d a q u e 2 0 a n n o s d e -
p o i s , o mesmo d o c u m e n t o .
Mas, é q u e Salvador e r a o a u t o r dessa o b r a de
c o r r u p ç ã o no R i o c a g o r a era o a u t o r da o b r a de cor-
r u p ç ã o e m S. Paulo, p a r a c o r t a r a solidariedade c o m os
fluminenses.
S a l v a d o r sentiu-se f o r t a l e c i d o c m sua p o s i ç ã o de
a u t o r i d a d e c o m essa p r o v a de a p o i o e a d h e s ã o ao seu
p r o c e d i m e n t o ( 2 ) . N ã o ficou c m S . Paulo, n e m t ã o
p o u c o acceitou os e l e m e n t o s de r e s i s t ê n c i a q u e lhe f o -
r a m o f f c r c c i d o s , l i m i t a n d o - s e a m a n d a r publicar c a f f i x a r
nas ruas d o R i o de Janeiro, o seu b a n d o de I . de o
janeiro.
A t e esse d i a a a c ç ã o da r e v o l u ç ã o é calma, t r a n -
q u i l l a . S i m p l e s m e n t e t r a t a de medidas a d m i n i s t r a t i v a s
e n ã o d c m e d i d a s de g u e r r a , de defeza.
A s s i m 6 q u e , no acto d c c o r r e i ç â o d o o u v i d o r e da
c â m a r a , p r o v e u q u e apelas grandes queixas que houve dos
moradores desta cidade, e seu recôncavo se originaram al-
gumas alteraçoens em tazztt de nina finta geral, e perpetua
em que consentiram os Officiaes da Câmara que ate'aqui
serviram, assim pela e x o r b i t â n c i a , c o m o p e l a d e s i g u a l -
d a d e c o m q u e f o i l a n ç a d a , s e m o r d e m de S u a M a g e s t a -
d e , n e m aviso, q u e fizesse a e l l e C o r r e g e d o r , h a v e n d o
o u t r a s m u i t o mais suaves, c o m q u e se pudesse susten-
t a r a i n f a n t a r i a , c o m o ate a g o r a se fez ; m a n d o u O d i t o
o u v i d o r g e r a l , s e m e m b a r g o d o p o v o se h a v e r . . . d e s t a
f o r ç a , e v i o l ê n c i a d e h o j e p o r d i a n t e , se não consmta mais
finta alguma sem ordem de Sua Magestade; e s e n d o caso
que alguns Governadores lhe f a ç a m alguma força, e
v i o l ê n c i a se deixem prender e molestara q u e r e n d o insis-
t i r c o m os d i t o s O f f i c i a e s . . . na d i t a f i n t a e t r i b u t o os
ha p o r s u s p e n ç o s a t h ê recurso de S u a Magestacfc, o u
do G o v e r n a d o r q u e c n t . u n s e r v i r . » ( 1 )
P r o v e u mais « o d i t o C o r r e g e d o r q u e h a v e n d o ef-
f e i t o s d o s u b s i d i o p e q u e n o sc c o n t i n u e c o m as o b r a s
d e s t e Concelho, esse a c a b e as q u e h o u v e r p o r fazer na
f o r m a e m q u e e s t á assentado, c q u e p a r a a b a n d a d o
m a r sc f a ç a huma g r a d e m u i t o f o r t e , e g r o s s a na j a n e l l a
da R n x o v í a p o r o n d e f u g i r a m os presos, p o r q u a n t o este
d i n h e i r o e s t á a p p l i c a d o p a r a estes e f f e i t o s e m p r i m e i r o
logar.; q u e p a r a o u t r o s . » ( 2 )
P r o v e u mais AO d i t o C o r r e g e d o r , q u e p o r q u a n t o
h á g r a n d e s q u e i x a s d o m a l q u e s e c o b r ã o f ó r o s dos b e n s
de C o n c e l h o , p o r s e r e m dados a l g u n s a p e s s ô a s p o d e -
rosas, e o u t r o s a p e s s ô a s E c c l c s i a s t i c ã s m a n d o u q u e da-
q u i e m d i a n t c s e n a ó d e m mais a s e m e l h a n t e s pessoas,
s e n a ó d a n d o f i a d o r e s dos C h ã o s — c a b o n n a d o r e s , e
q u e as pessoas q u e n a ó p a g a r e m os d i t o s f ó r o s trez
annos a r r e i o se c x c m t e c o m e l l e a L c y — p a r a q u e o
P r o c u r a d o r d o C o n c e l h o s e r á o b r i g a d o r e q u e r e l o aos
asiint como I.' não foi olvido e que tod.i ella só dirijo a melhor <• toais desin-
teressado SCÍVÍMI du S, M. cm»» cantará a V. Ks. pej" que o dito povo refere
n^s cr.pünlns qim aprestiita em V. lix. um preleeloí Verdadeiro c benigno no*
informe que fizer neste negocio a S. M. a»Vlrfl cuirto » dito Son-do tem êm V.
Fx, um "dos ministros m-h Selo^o* — 17 Itczombio Jr 1G*Í0, Diopo Lobo
iVí-reir.', Cfcni^nt" Nogueira, Snnàa Botelho de Almeida, 1'efnfió 1'al^ro I4omcm.
Lucas da Silva, buzobio IHas Cardoso. (Does. Hi->. da liíblioiheca Nacional,
pag. 75 inedicto).
•!4) Justificadas parecefam as r»/.ot4 de Vriicê, si rm tudo os vira -ijustado»
a observância ordens de S. M, mas cem V. fniidSn) encontrar no* tumultos
do povo 0 iii«ívos qnercproBeritarm 1 S. M yá Riflaçâo ucitc i stddn, p.ncrcn-
du • ni .'Miftadt* opiifwcsqoe dclb^ < -.vaísalui dc^jS; M-. tipliaju esí-ç^povy qui
f
suas laeiitonstrações.
— 204 —
beldia, a d e p o s i ç ã o d c u m a a u t o r i d a d e c o n s t i t u í d a , n e m
t ã o p o u c o i n t i m a a sua r e p o s i ç ã o , e m n o m e da l e i e d c
seu p r e s t i g i o .
A l i n g u a g e m de q u e usava d e aconselhar a c o n c i -
l i a ç ã o , a l é m de n ã o ser p r ó p r i a do g o v e r n o g e r a l d a c o -
lônia, q u e v i u e m u m a de suas c i r c u m s c r i p ç õ e s a d e r r u -
bada de u m g o v e r n o l e g a l , p e l a r e v o l t a p o p u l a r , c o l -
locava ) p o v o e a a u t o r i d a d e do R i o na p o s i ç ã o de l i t i -
gantes, p e r a n t e u m a causa c o m m u m , q u e de d i r e i t o s ó
lhe p e r t e n c i a .
E' outra a linguagem de que usa na carta a Agos-
tinho Barbalho o coactopela r e v o l u ç ã o , para dirigir-lhe
os destinos. ( 1 )
Ahi, contando com a falta de enthusiasmos e a
f a l t a de f é d o g o v e r n a d o r e l e i t o , firma s e u p r o g r a m m a
d e a u t o r i d a d e — « r e s o l v e r á o q u e f ô r mais c o n v e n i e n t e
ao s e r v i ç o de S . M . , p e l o q u a l d e v e m o s a n t e s nos sa-
c r i f i c a r , do q u e f a l t a r a o b s e r v â n c i a de suas o r d e n s , »
E' ainda outra a linguagem de que usa na carta
que dirigiu a Salvador Benevidcs, de 2 9 de A b r i l ( 2 : .
V. vejo ipie não deixarei dc ser mais conveniente co-h enes talas na rcducçâo
dos ânimos, para a reconciliação do que contii.uar a ter ., para conservar a
obstinação eui que ücam. Como servidores s,lo de S. M, como *emprc o dito
S, cxprimenlon e:n boas açòcs,
[tj km 2fi de Janeiro dc 1664 responde Francisco HarreM, dizendo ficar
creme dos acontecimentos e ter recebido os autos. Nilo accredttava. que elles se
tivessem dado em vi*la do zelo com qu; os hahit-mtes dn Hio "cuque serviam
a 5. M. c como recorrerão ao dito senhor, resolvei;! o que pur uuits conveoieiilc
ao seu real *ervi,-y apelo qual devemos ames r,os sacriltcr, dc que lallar á
obediência de .>uas ordens. [Dcs. Hist. ilê 1648—6? pag. 7C).
(2; Faltam-mc novas o respostas de V. S«" quanlo mais mas ohrigao a
suspirar os anidentes do tempo e as sem raxõe* dos homens. Agora significo
virem mais Indicies sem mandarem noticias de V. S. A um .ibysmo scgue.se
btttro. C>s movimcnlos se occasiourtiao d-i ausência dc V. S. a coja sombra nào
haviio dc Itvanlar olho/ os que obrarão naquclla acçdo. DVUa e$lão ja huje
(segundo estou informado) arrependidos.
A câmara d'aquella cidade e Agostinho PJaihalho (qnc aqui fica) dera
conta a S. M. na Relação d'e*ic K»lado do sucos-o. |',u lhes respondi que para
melhorarem a fortuna devião dispor o perdão de S. M. eotn a restituição de V.
S. E eu fora pessoalmente a este effeito, se a separação das jurísdicçoe* mê
não impossibilitasse os do desejo.
has esperanças de soa leal deliberação, voü cnlrclantn o cuidado de V. S.
2> dc Abril dc 1(161. Livro Üss. £it.
— 205 —
A h i a l é m d c l a s t i m a r « a sem r a z ã o dos h o m e n s » e n t r e -
t e m t o d o o c u i d a d o e m f a v o r de S a l v a d o r . » (1)
C o m o se v ê , a a c ç ã o da r e v o l u ç ã o n ã o t i n h a de
n e n h u m m o d o a f e i ç ã o aggressiva q u e veiu assumir de
pois d a p u b l i c a ç ã o do b a n d o de S a l v a d o r , e m q u e
« d e c l a r a por i n c o n f i d e n t e s os p r o c u r a d o r e s d o p o v o
J e r o n y m o B a r b a l h oJ o r g e F e r r e i r a , P e d r o P i n h e i r o c M a -
theus Pacheco, p o r p a r t e d a nobreza e M a t h í a s G o n -
ç a l v e s , M a n o e l Borges, A n t ô n i o D i a s e A n t ô n i o F e r -
nandes, o V a l l o n g o , por p a r t e dos ofticios. ( 2 ) , s a r g e n t o
m ó r , c a p i t ã e s d o p r e s i d i o e m i n i s t r o s d e l l c , havendo-os
p o r r e f o r m a d o s c i n h a b e i s para m a i s e n t r a r e m no ser-
v i ç o real e os c o n d e m n o p o r t o d a a vida p a r a a c o n -
quista de B c n g u c l l a e mais penas q u e S . M . f o r ser-
v i d o dar-lhes e aos ditos p r o c u r a d o r e s , c o m o c a b e ç a de
m o t i m , e m pena de v i d a e p e r d i m e n t o de bens. i>
* A l é m de o r d e n a r que c o n t i n u e no c a r g o de g o -
v e r n a d o r A g o s t i n h o B a r b a l h o , a d e s p e i t o d e t e r sido
e l e i t o pelos r e v o l u c i o n á r i o s e q u e e x e r ç a o c a r g o d c
p r o v e d o r da fazenda o v e r e a d o r mais velho, i n d i c a o u -
tras m e d i d a s , c o m o « n o s casos em q u e o c a p i t ã o - m ò r
n ã o possa r e s o l v e r p o r si s ó , o f a ç a c o m o o u v i d o r , os
o f f i c i a e s d a C â m a r a e dois letrados q u e ha de e l e g e r o
povo, evitando-o o novo parlamento, »
E « e m n o m e de S . M . p e r d o a v a aos moradores e
a todas as m a i s pessoas de q u a l q u e r q u a l i d a d e , assim
de paz c o m o de g u e r r a , o excesso q u e sc c o m m e t t e u . »
E caso suas ordens n ã o fossem c u m p r i d a s , conti-
n u a n d o os m i n i s t r o s , a u t o r i d a d e s c A g o s t i n h o B a r b a l h o ,
a exercer o c a r g o « p o r e l e i ç ã o f e i t a nelle pelos altera-
dos, declarava c o m o pessoa m a l acceita ao R e a l Ser-
v i ç o , p r o t e s t a n d o c o n t r a e l l e e seus bens, dos O f f i c i a e s
da C â m a r a , do S a r g e n t o M ó r , dos C a p i t ã e s , d o s Pro-
!l) Aonats du H>» "t Janeiro, por S. Lisboa, vol. 4 p.ig, 58, o
('J) Amian do Kw de Janeiro por Silva Lisboa, vol. 4'", pág. .21'. —* -
— 207 —
da l e i e a v o n t a d e d o p o v o , q u e q u e r i a sua r e s t a u r a ç ã o ,
c o m o o ideal destes patriotas.
M a s , e n t r e estas d u a s f o r ç a s estava collocado u m
i m p e c i l i o , u m descrente, u m o b s t á c u l o á v i c t o r i a po-
pular .
E r a a p r ó p r i a pessoa d o c h e f e do g o v e r n o . D e -
v e n d o ser o e x e c u t o r das m e d i d a s r e v o l u c i o n á r i a s , p r o -
telava-as c o m a a l l e g a ç ã o da necessidade d c u m ma-
d u r o e x a m e , cie u m m i n u c i o s o e s t u d o .
A s s i m c q u e a C â m a r a , e m s e s s ã o de 2 de feve-
r e i r o , ( 1 ) c o n s i d e r a n d o « q u e n e n h u m c a p i t ã o de orde-
n a n ç a exercitasse mais o d i t o po.ito. q u e a t é o presente
servia, p o r t e m e r e m estar handeados pelo g e n e r a l S a l -
v a d o r B e n c v i d e s e ( p i e se podia receiar e n t r e elies h o u -
vesse a l g u m a c o n s p i r a ç ã o » r e s o l v e u d e m i t t i l - o s c p r o -
vermos c a r g o s do pessoal de c o n f i a n ç a , usando assim de
u m a a t t r i b u i ç ã o l e g a l , d c q u e t i n h a sido esbulhada
pelos g o v e r n a d o r e s . ( 2 )
N a mesma s e s s ã o , t r a t a r a m de e x e c u t a r o a l v a r á
r é g i o , a q u e j á nos r e f e r i m o s e q u e r e g u l a v a o p r o v i -
m e n t o dos cargos m i l i t a r e s , reduzindo a g u a r n i ç â o d o
R i o de o t t o a q u a t r o companhias, de 8 0 soldados cada
u m a ít) r e m e t t e n d o estes actos e os de d e m i s s ã o e n o -
m e a ç ã o dos o f f i c i a e s ao « c u m p r a - s e d o g o v e r n a d o r , q u e
vacillou e recuou dc homologal-os, pretextando molés-
t i a c a necessidade q u e t i n h a d c ponderar sobre as m e -
didas.
íl) Meia. mss. pae. ">06. Silva Lisboa, publicada essa acIa (4 v«l. pag.
o
2» ) .
(U* Fui conservado ao poslo òV coronel Francisco Sodré Pereira, qaeser-
Tia até então e nomeado saigerito'ulAr Domingos di- Pana e para capitão Chris-
tovão Lopes Leitão, l>ranc».*co de Souza Varcjà», Máthiai dc Mendonça. Matheu*
Correi Pestana. Manoel da Guarda Jc Muni*. Sebastião Pereira Lobo, Miguel
de Azevedo Machado, Sebastião Coelho d= Amoritn, Ma.tháua da Costa, Ambio-
siu Pae» Sardinha (O niocOj Kruiiciseo Ferreira UormUndo, Francisco dc Brillo
Mcitelles e Francisco ds Macedo Frçiru, Pára cnuimandanlcs da companhia de
mercadores nomeeram Francisco Martins Soares.
;3) Por estes actos loraru reíoruiudol os capitães Salvador Correia, Garcia
da ijãtna e Al<rx.<ndrc de Rastro,ficandosómínleõs capitics Francisco Mnnhc-s
Correia. Miguel de Abreu Soares, Agostinho dc Figueiredo e Lúil Machado
Homem, seiido por cUcs distribui ;o> os soldados. Suspenderam o capitão da
fortaleza da ba ra Anlouio NogUelra da Silvj, de Santa Cruz Antônio Gonçalves
r
F i n a l m e n t e , s o b a p r e s s ã o das r e c l a m a ç õ e s r e v o -
l u c i o n á r i a s p e r a n t e as q u a e s se t o r n o u a u t ô m a t o , c o n -
f i r m o u os actos « c o m o p r o t e s t o d e n ã o l h e p r e j u d i c a r ,
p o r q u e o fazia v i o l e n t a d o . »
E n t r a r a m a t o m a r medidas de defeza, g u a r u e c e n d o
as fortalezas e c o l l o c a n d o espias nas estradas.
O p r o c e d i m e n t o de B a r b a l h o d e n ã o t e r p r o t e s -
tado contra o facto dc Salvador o ter nomeado gover-
nador d o R i o c o n v e n c e u á C â m a r a de q u e e l l a d e v i a
assumir de f a e t o e de d i r e i t o o g o v e r n o d a c i d a d e .
J á era t a r d e .
A r e v o l u ç ã o j á t i n h a p e r d i d o b a s t a n t e t e r r e n o , pelo
desanimo q u e j á se ia fazendo s e n t i r no p o v o e nos
seus d i r e c t o r e s .
A s s u m i u o g o v e r n o a 8 d c F e v e r e i r o . P o u c o mais
de u m mez g o v e r n o u , p o r q u e S a l v a d o r B e n e v i d e s , e m
c o m e ç o de A b r i l , e n t r o u na cidade, s o b a a c c l a m a ç ã o
p o p u l a r ; assumiu o c o m m a n d o d a g u a r n i ç â o e m a n d o u
executar o inleliz J e r o n y m o B a r b a l h o « p a r a e x e m p l o » ,
e p r e n d e r os o u t r o s r e v o l u c i o n á r i o s .
J á se achava no R i o o d e s e m b a r g a d o r s y n d i c . i n t c
A n t ô n i o X a b o P e ç a n h a , para iniciar a a c ç ã o j u d i -
ciaria.
O s presos f o r a m r e m e i t i d o s p a r a a B a h i a , o n d e f i -
c a r a m « e m u m a sala f e c h a d a » sob os c u i d a d o s de F r a n -
cisco B a r r e t o . ( 1 )
A h i ficaram d e t i d o s ate J a n e i r o d e 1G63, á e s p e r a
das r e s o l u ç õ e s do r e i , a q u e m F r a n c i s c o B a r r e t o c o m -
m u n i c o u , c m c a r t a de 13 d c M a i o , e s t a r e m os r e v o l u -
c i o n á r i o s nas p r i s õ e s da c a p i t a l da c o l ô n i a « c o m o e x e m -
(l) lhes. Hist. fí.M, Nar pfe 155 v. A ijftrtB dr Sulvadot BenavidM
t
ao Hei é de 10 do Abril. Não a irau*.f-v mo* aqui, por o>t.u publicaúa to vol,
3 Bra/i/ flis! 3'* vol. (y IUI). Pí>*ili «Mu fitiitii ii a ter executado Jcrcnyiri",
sem lorma de processo, ile accordo eâiri o general di frita Maroct Freire de
Ar.dradc e sen irmão o alnurarite Francisco Freire c cultor do ouvidor geral
Sebastião Cardo*ti d^ S. Paio.
(-') Livro Does. fiist. dc 1660—78—O mciriíihn AnlOniO Ri-drlgiies Porto,
carcereiro dn Cadoi • d<**ia cidade entregue*!) Bàlílijijr Pe»o.antte8, mestre QÚ
Barca Sani.i Helena que ora CRVÍO o mi Riu dc J.iuriro o» cupttâes Frãrlcfrçode
Oliveira Vaigai. Lourenço Fígitdr"do Vargj*. Jorye Ferreira B«tlhü<í, Fian-
çísep Gomos S..rdinlia, Lucas da Silva c l)ío§õ Lobo Pereira. Fiurbni Hia' de-
do-.» « José Castilho Pinto que a dtla cadela vlo.ram pre*os diqu.dla capitania
por nrJtint dc S. Ilpurvidcs e como AS relações papá ^rtlrtjjoi a IVdro dc Mello,
Governador do IliO" dí Janeiro *« fará U-rtoa que o Jílo mestre j*iigoará
pira deacarga do carcereiro. H de comn entregue n» Jiio* pré*os a otilefli do dito
governador. 1'iar.i recibo, J'd de Jan:iro dc 1663- Francisco BnrwCo,
l3.' Franciíco Bane:» governador c aoiign. Fu F-i-rei vos envia muiio
saudar Aos novo prezo* quedá capitania du fito ile Janeira SC reineUcrarfl a
essa cid ide, pcLí eis.» d» iw*õhediâ»icia contra o govcrnàdns dVllc, ç ii« que
nie destes contai, por carta ,le 11 do junho d? anno pastado, Hei por*h«in que
nesia cidade e que pelos Ministros da Krdarão que JIIÍ MVJ «erram sc dc livra'
mento urdiaario e que ouvido? d« *ua justiça ( pois cem sua defesa uni' peno )
>C|J T> cenleitciadoi como por suas coíp>> merecem, de que ai.ini.»r«i, conia
pilo meu c.o*elli> Ultramarino porqu- unetõlír enléiidldo. (CurUjegía d- 17
d-- Julho de lUfd, traascripU de um CoJ. Aa Hibl. -W. — Carta R?gia-ns.-5Õl,
— 210 —
dc 1600- 78.
— 211 —
e q u e no t e m p o f o i o m a i o r e s c â n d a l o a d m i n i s t r a t i v o ,
r e g i s t r a m o s o seu p r o c e d i m e n t o c o m os possuidores d a
s e s m a r i a dos C a m p o s d e Goyatacazes ( 1 ) , o ç o n t r a c t o
q u e l a v r o u c o m a c â m a r a e m Õ de N o v e m b r o de 1 6 6 1 ,
a i n d a g e r i n d o a a d m i n i s i r a ç ã o , d o a l u g u e l d c sua casa,
p o r 1 5 0 $ , para m o r a d a d o s g o v e r n a d o r e s (2) ; a v e n d a
ao E s t a d o d o seu g a l e ã o e o b t e r p a r a seu filho a doa-
c ç ã o d e u m a c a p i t a n i a d e 2 0 legnas nos C a m p o s de
Goyatacazes, o v i s c o n d e de A s s e c a . (3)
S u a a c l m i n i s t r a c ç ã o f i r m o u u m p r o g r a m m a d e go-
v e r n o q u e i n s p i r o u á c â m a r a s o l l i c i t a r do r e i « s e j a ser-
v i d o d a r efricazes p r o v i d e n c i a s na escolha de homens
d e s t a t e r r a , l e v a n d o á c o n s i d e r a ç ã o de V . M . pesar
os i n c o n v e n i e n t e s de n u m a a u t o r i d a d e sem l i m i t a ç ã o
na d i s t a n c i a d e m a i s de m i l legbas d o T r o n o , o n d e n ã o
d e v e m cheirar os nossos clamores e g r i t o s da nossa dor.
e se p o r v e n t u r a t o c a r as nossas l a g r i m a s ao P a t e r n a l
C o r a ç ã o de V . M . , a q u e a f f l i c ç õ e s , e p e r s e g u i ç õ e s
n ã o f i c a m o s expostos, d e b a i x o d c u m a a u t o r i d a d e regi-
da m a i s p o r caprichos c p a i x õ e s , q u e p e l o interesse da
J u s t i ç a , c S e r v i ç o de V . M . , sustentados p o r parentes
e amigos poderosos que rodeiam o T r o n o Augusto em
q u e D e u s c o l l o c o u a V . M . , os q u a c s fazem por t a n t o
i m i t e i s i o d o s os nossos s a c r i f í c i o s da fazenda, v i d a e
h o n r a pelo R e a l S e r v i ç o ; t i t u b i a n d o p o r isso os fracos
para a b a n d o n a r e m os v e r d a d e i r o s interesses, q u e o
Real S e r v i ç o pede, a q u e l l a h o n r a q u e e x a l t o u o c n t h u -
s í a s m o de seus A v ó s , q u e j a m a i s f o r a m i n d i g n o s a d u l a -
do res das p a i x õ e s , c v i c i o s dos G o v e r n a d o r e s , e s ó
e m p e n h a d o s d e c o n s e g u i r e m pelo S e r v i ç o d e V . M .
as honras c f a v o r e s c o m q u e s i g n i f i c o u t e r e m s i d o do
R e a l a g r a d o d c V . M>>, c o m o R e i c S e n h o r , e Pai dos
seus vassailos o u v e aos seus C o n s e l h e i r o s e T r i b u n a c s
para o acerto! dos n e g ó c i o s d o E s t a d o , e h u m G o v e r n a -
dor do Brasil, sem o n e c e s s á r i o c o n h e c i m e n t o dí^s L e i s
e D i r e i t o , sem a s a b e d o r i a q u e l h e h c p r e c i s o e m t o d a s
as cousas, s ò c o n s u l t a a p r o t e c ç ã o e c o n f i a n ç a q u e l h e
t e m no R e i n o , c a sua f o r t u n a p r i v a d a , e n ã o a g l o r i a
d e fazer felizes h u m a p a r l e d a q u e l l a f a m í l i a , q u e V . M .
lhe c o n f i o u . » ( 1 )
V ê - s e nestas p a l a v r a s a a í l u s ã o d i r e c t a a S a l v a d o r
p e n e vides, q u e a p r ó p r i a c a r i a l o r n a b e m •expressa,
q u a n d o , L d l a n d o d.t grandeza c da riqueza d o B r a s i l ,
diz « q u e S , M . n ã o j u l g o u b e m d e l l c c da felicidade?
deste p o v o a c o n t i n u a ç ã o d o s e r v i ç o d o g e n e r a l Salva-
d o r C o r .-ei a d c S á e B e n c v i d e s . »
A v e r d a d e d e s t a s p a l a v r a s e s t á c o n f i r m a d a nos
factos d e s c r i p t o s neste c a p i t u l o .
Ris u m d o c u m e n t o i m p o r t a n t e :
S n p p o s t o q u e e m I o d a s as o c e a d õ e s d e v o d a r
c o n t a de m i m a V . E x . n e s t a o f : ç o p a r t i c u l a r m e n t e
(
em r a z ã o d o l u g a r e m q u e e n o u g o v e r n a n d o esta p r a ç a
p o r e l e i ç ã o da m e s m a ; o p o v o d e l i a e seu r e c ô n c a v o ,
q u e c o n s p i r a n d o c o n t r a o G o v e r n a d o r pelas r a z õ e s q u e
d e v e m r e p r e s e n t a r a V . E x . a c u j o respeito se u n i r a m
e c o n f o r m a r a m t o d o s e m u m c o r p o , a b r i r ã o a casa do
S e n a d o , d o n d e assim t a n g i d o , c o m p u b l i c a s e altas v o -
zes, r e t i r a r ã o d o g o v e r n o d e s t a r e p a r t i ç ã o , n ã o s ò S .
C . q u e se h a v i a p a r t i d o a t r a t a r das minas de o u r o a t é
S . P a u l o , m a s t a m b é m o seu p r i m o T h o m é C o r r e i a de
A l v a r e n g a , q u e h a v i a d e i x a d o g o v e r n a r e m e m seu l u -
g a r , o q u a l a v i s t a d o m o v i m e n t o c a l t e r a ç ã o do p o v o ,
d e s a m p a r a n d o a p r a ç a se t i n h a retirado ao m o s t e i r o de
S . Bento, d o n d e , n ã o q u e r e n d o sahir, sendo c h a m a d o
ao p a ç o d o C o n s e l h o , e m n o m e d c S . M . para l h e de-
f e r i r uns c a p í t u l o s q u e lhe t i n h ã o proposto, o qual lhe
respondeu q u e fizessem o q u e quizessem ; c o m o q u e
l o g o assim de c o m m u m c o n s e n t i m e n t o e c o n f o r m i d a d e ,
p r o t e s t a n d o s e m p r e serem lcaes vassallos de S . M . ,
t r a t a r a m dc fazer e l e i ç ã o de pessoa, q u e os governasse,
> te o r d e m d o d i t o S r . a q u e sempre e s t a v ã o sujeitos e
c o m isto m e e l e g e r ã o l o g o p o r g o v e r n a d o r , indo-me
b u s c a r a m i n h a casa, é d a l i a S. F r a n c i s c o d o n d e mc
t i n t a recolhido, por n ã o achar j á o dito governador
i h o m é C o r r e i a na sua onde o f u i buscar para l h e assis-
t i r , e a c h a r - m e c o m elle, assim mc propuzeram o q u e
h a v i a passauo e q u e acceitasse o g o v e r n o a que fiz t o -
das as r e p u g n a n c i a s q u e p u d e , i m i m a n d o d h e s as r a z õ e s
q u e h a v i a m p a r a n ã o m u d a r e m de g o v e r n a d o r , o q u e
nada m o n t o u para d e i x a i em de p r o s e g u i r c o m o seu
i n t u i t o , a t é c h e g a r e m m c a p r o p o r d i a n t e o risco da
v i d a , c o m q u e assim f u r i o s a e v i o l e n t a m e n t e c o m a q u e l -
le t u m u l t o m e l e v a r ã o a casa d o Conselho, a o n d e se-
g u n d a vez m e escusei com d o b r a d o s r e q u e r i m e n t o s q u e
nada i m p o r t a r ã o p a r a q u e deixassem c o m as mesmas
v i o l ê n c i a s de p r o s e g u i r c o m i n t u i t o nos p o z e r ã o de pos-
se d o g o v e r n o no q u a l t a n t o q u e . . . . q u e em 8 de N o -
v e m b r o p r ó x i m o avisei l o g o ao d i t o T h o m é C o r r e i a q u e
viesse para sua casa, lhe m a n d e i p r o v e r . . . . da i n f a n -
taria, o q u e m e p a r e c e u bastante para sua g a r d a e se-
g u r a n ç a , q u e t u d o e r a n e c e s s á r i o , a vista da f ú r i a e
a l t e r a ç ã o do p o v o , e o mesmo ao c a p i t ã o Pedro de
Souza Pereira, seu c u n h a d o , p r o v e d o r da fazenda Real
e ao s a r g e n t o - m ò r , M a r t i n C o r r e i a Vasques. seu i r m ã o ,
e q u e u m e o u t r o exercesse o seu c a r g o , assistindo o
— 214 —
d i d o G u a r d a a mostra, c p a g a a i n f a n t a r i a e m 1 2 d o
d i t o mcz de N o v e m b r o .
Estando as cousas nestes t e r m o s , n ã o e r a m b e m
passados dois dias, q u a n d o se t o r n o u d c n o v o a l e v a n t a r
o p o v o c o m m a i o r excesso e f u r o r q u e o passado, a p '
p l i c a d o m o r t e s c r u í n a s c o n t r a t o d a a f a m i l i a dos C o r -
reias, q u e t ã o a r r a i g a d a estava a q u e i x a e o b s t i n a ç ã o
no a n i m o de todos, a c o d i a t a l h a r esta d e s o r d e m c o m
toda brevidade e p r u d ê n c i a que pude c r c q u c r e n d o d h e
da p a r t e de S. M . q u e c o m t o d o socego c q u i e t a ç ã o t r a -
tassem d o q u e c o n v i n h a a seu R e a l S e r v i ç o e b e m c o m -
m u m , p o r seus p r o c u r a d o r e s q u e a l l i m c t i n h ã o para lhe
d e f f e r i r , c o m q u e s o c e g u e i e m e p e d i r ã o subisse c o m
e l l e s a c â m a r a q u e lá m e d a r i ã o a resposta a q u a l v e i u
a parar e m r e q u e r e r e m , c o m altas e d u p l i c a t a s vozes
q u e fossem l o g o presos nas fortalezas d a b a r r a e d e f ta
p r a ç a n ã o só o dito Provedor e Governador que fôra,
mas t a m b é m seu i r m ã o o s a r g e n t o m ó r M a r t i n C . V a s -
ques c q u e sem isto n ã o h a v i ã o de a q u i e t a r e p o r m a i s
q u e t r a b a l h e i p o r elles d e s i s t i r d e s t e r e q u e r i m e n t o , re-
presentandodh.es a p o u c a r a z ã o q u e h a v i a p a r a os p r e n -
d e r e m sem s e r e m c o n v e n c i d o s e m c u l p a a l g u m a , a l é m
dos i n c o n v e n i e n t e s q u e se s e g u i ã o da d i t a p r i s ã o , e m es-
p e c i a l o s a r g e n t o m ó r v e r q u a n t o estava s u j e i t o as m i -
nhas o r d e n s c d a n d o . . . e x e c u ç ã o c o m t o d a o b e d i ê n c i a
e q u e o g o v e r n a d o r t i n h a ahtes d a r suas contas, c o n f o r -
m e o p o v o r e q u e r i a c m a l o p o d i a fazer estando p r e s o c
m e n o s exercer o seu o f f i c i o , c o m q u e ficava p r e j u d i c a d o
os d c S . M . e d i r e i t o das partes, p o r e m n a d a d i s t o f o i
b a s t a n t e p a r a dissuadil-os, c o m q u e se r e s o l v e u o o u v i -
d o r g e r a l , c o m a p p r o d a ç ã o d o s o f f i c i a e s da C â m a r a , ( p i e
a t u d o e s t i v e r ã o presentes, a p r e n d c l - o s nas d i t a s f o r t a -
lezas sem c o n s e n t i m e n t o m e u .
E m 5 de D e z e m b r o se conheceu e n t r a v a m u i t a
g e n t e d o r e c ô n c a v o desta c i d a d e , c o m o q u e e n c a r r e -
g u e i os o f i i c i a c s das c o m p a n h i a s d e O r d c n a n ç a s d o d i t o
r e c ô n c a v o , q u e c o m t o d o o c u i d a d o a c u d i s s e m a seus
d i s t r i c t o s e a t a l h a s s e m a seus m o r a d o r e s p e l a v i a e sa-
— 215 —
povo, p a r a q u e s e r v i d o m a n d a r p r e v e n i r o r e m é d i o m a i s
c o n v e n i e n t e a estas p e r t u r b a ç õ e s e c o n s e r v a ç ã o dos
seus v a s s a l l o s q u e l h e é o q u e s o b r e t u d o se deve a t t e n d e r ,
e V . S . a p p l i c a r com o zelo q u e c o s t u m a , com q u e alem
das o b r i g a ç õ e s q u e r e c o n h e ç o ao s e r v i ç o de S . M . lhe
f i c a r e i de n o v o a d e v e r a c o n v e n i ê n c i a de q u e S . M . m e
f a ç a m e r c ê m a n d a r m a n d a r a l l i v i a r - m e deste encargo,
q u e v e m a s e r g r a n d e e t r a b a l h o s o , l i d a n d o c o m vassal •
los descontes, e q u e i x o s o s p a r e c e n d o eu sahido de u m a
b e m l a r g a m o l é s t i a , d a n d o m a i o r c u i d a d o o estado e m
que e s t á a p r a ç a .
de 1 6 6 2 . (1)
N a e s c o l h a de P e d r o de M e l l o , o s o b e r a n o pro-
c u r o u c o r r e s p o n d e r ao p e d i d o q u e a C â m a r a lhe t i n h a
f e i t o de escolher h o m e n s dc v a l o r moral e i n t e l l e c t u a l ,
para chefe d o g o v e r n o d a capitania, porque, j á tinha
e x e r c i d o as f u n e ç õ e s d c g o v e r n a d o r d a c i d a d e de M e -
r i d a , de C a s t e i l o , a l é m dos m u i t o s s e r v i ç o s de g u e r r a
p r e s t a d o s desde 1 6 4 1 , c o m o mestre de c a m p o d o exer-
cito da Beira, no s i t i o da p r a ç a de L u a n s e B a d a j ó s e
nas batalhas das linhas de Luases. K r a , pois, u m h o -
mem d e r e p u t a ç ã o f i r m a d a e u m a i n d i v i d u a l i d a d e d a
a l t a p o l í t i c a portuguesa, o q u e v i n h a d i r i g i r os destinos
da capitania do R i o , c u j a s i t u a ç ã o f i n a n c e i r a e p o l í t i c a
d e v i a c h a m a r de p e r t o sua a t t e n ç ã o .
B e m q u e n t e s ainda e s t a v a m os ó d i o s resultantes
d a r e v o l u ç ã o que, e m t o d o caso, p r o d u z i u a v a n t a g e m
da l i b e r d a d e d a i n d u s t r i a d a a g u a r d e n t e e da l i b e r d a d e
r e l a t i v a d o c o m m e r c i o , por u m a c a r t a r é g i a q u e a n n u l i o u
ainda que transitoriamente o privilegio e o m o n o p ó l i o
q u e a C o m p a n h i a t i n h a s o b r e os q u a t r o p r o d u e t o s , de
q u e t e m o s f a l l a d o . (1)
E e n t ã o os p o d e r e s p ú b l i c o s c o m e ç a r a m a t i r a r d o
i m p o s t o da a g u a r d e n t e os e l e m e n t o s da r e n d a p a r a os
serviço publico.
P r o d u z i u mais a v a n t a g e m d a r e v o g a ç ã o do i m -
p o s t o pessoal, c o m q u e S a l v a d o r q u i z a u g m e n t a r a
g u a r n i ç â o da c i d a d e , q u e f i c o u nas q u a t r o c o m p a n h i a s ,
conforme prescrevia « lei, c u j a e x e c u ç ã o s ó o sacrifício
dos r e v o l u c i o n á r i o s a l c a n ç o u .
Mas, o u t r a s causas d a crise e c o n ô m i c a e financeira
continuaram a agir e ella continuou a p r e n d e r a a t t e n ç ã o
dos g o v e r n o s , p o r q u e se de u m l a d o e r a m r e v o g a d o s
iinp.>s:os, p o r o u t r o l a d o e r a m i n s t i t u í d o s d o n a t i v o s ,
pelos q u a e s d e f i n h a v a a p r o d u c ç ã o a g r í c o l a d o R i o .
M a s , e s t u d e m o s o g o v e r n o d e P e d r o de M e l l o .
D o u s factos de a l i a i m p o r t â n c i a c o i n c i d i r a m c o m o
i n i c i o de sua a d m i n i s t r a ç ã o : — u m d e p o l í t i c a i n t e r n a
e outro dc política externa.
A o assumir o g o v e r n o t i a B a h i a , o C o n d e d e Ó b i d o s
achou p r o f u n d a m e n t e anarchisada a a d m i n i s t r a ç ã o , p e l o
excesso de a u t o n o m i a e j u r i s d i c ç ã o eom q u e S a l v a d o r
g o v e r n a r a o R i o de J a n e i r o , c o m g r a v e s p r e j u í z o s das
a t l r i b u i ç õ e s do g o v e r n o g e r a l . E esse seu c o n c e i t o n ã o
c a l a na p r i m e i r a c a r t a q u e escreve a P e d r o de M e l l o ,
a c o m p a n h a n d o o r e g i m e n t o de 1.° de O u t u b r o d c 1 6 6 3 ,
com o qual d e v i a g o v e r n a r e administrar a capitania, e
na q u a l « e s t r a n h a q u e seus antecessores consentissem
na i n v a s ã o q u e fizeram os g o v e r n a d o r e s de P e r n a m b u c o
c R i o á s suas a t t r i b u i ç õ e » . (1)
E r a sem f u n d a m e n t o l e g a l essa estranheza, p o r q u e
o e x c e s s o de j u r i s d i c ç ã o c o m q u e S a l v a d o r g o v e r n a v a
o R i o , f e l - o e m nome de sua c a r t a de n o m e a ç ã o : F ô r a
r o m e a d o g o v e r n a d o r das tres c a p i t a n i a s d o s u l , d e s l i -
gadas de t o d o da B a h i a .
O s seus suecessores n ã o fizeram m a i s do q u e c u m -
p r i r a o r d e m r e g i a . Por carta d c 16 de J a n e i r o de 1 6 Õ 7 ,
o g o v e r n a d o r d a Bahia c o m m u n i c a ao d o E s p i r i t o S a n t o
« q u e o r e i r e s o l v e u s e p a r a r essa c a p i t a n i a da j u r i s d i c ç ã o
d a B a h i a , para s u b m e t t c l a á d o R i o » . ( 2 )
> E s t a r e f o r m a da a d m i n i s t r a ç ã o nas c a p i t a n i a s d o
s u l , c u j a s é d e devia ser o R i o , pelas suas c o n d i c ç õ e s ,
n ã o d e i x o u de trazer i n c o n v e n i e n t e s e d e s v a n t a g e n s ao
serviço publico.
E si n ã o f ô r a a p r u d c n c i a d e P e d r o d c M e l l o e as
suas t e n d ê n c i a s de ser m a i s o b e d i e n t e á s p r e s c r i p ç õ e s da
lei d o q u e á sua v a i d a d e pessoal, por c e r t o q u e u m r o m -
p i m e n t o c e l l o c a r i a e m a t t r i t o os clôis g o v e r n o s , p o r q u e ,
o da Bahia, mais realista d o q u e o r e i , era por demais
cioso de sua j u r i s d i c ç ã o .
A s s i m è* q u e a C â m a r a d o R i o t e n d o l a n ç a d o v e r -
d a d e i r o s impostos d e c o n s u m o s o b r e os p r o d u e t o s ex-
portados pelas capitanias de S. V i c e n t e e Nossa Senhora
da C o n c e i ç ã o de 8 6 r é i s c m cada p i p a de v i n h o e d u a s
patacas sobre a n o b a de f u m o , o conde d e Ó b i d o s o r d e -
nou a r e v o g a ç ã o destes i m p o s t o s . (1)
Esse recurso era p a r a acudir ao p a g a m e n t o dos 2 6
m i l cruzados e m q u e f o i a r b i t r a d a a c a p i t a n i a do R i o ,
c o m o d o n a t i v o á paz d e H o l l a n d a e ao c a s a m e n t o d a
princeza d a G r ã - B r e t a n h a .
R e c o r r e u l a m b e m a C â m a r a a i m p o s t o s s o b r e as
d r o g a s u l t r a m a r i n a s , d e p r e f e r e n c i a aos p r o d u e t o s d a
terra. O Conde ce Ó b i d o s mandou revogal-os. ( 2 )
N ã o q u e r e n d o Pedro de M e l l o d a r posse ao c a p i t ã o -
m ó r de Caco F r i o J o s é V a r c l l a , n o m e a d o p e l o g o v e r n o
da Bahia, pelos precedentes d e seus antecessores q u e
m a n t i n h a m sob sua j u r i s d i c ç ã o essa c a p i t a n i a , o C o n d e
d e Ó b i d o s , c m c a r t a de 7 d e A b r i l , o r d e n a o acto d a
posse, p o r ella estar sob o d o m í n i o d ü g o v e r n o
g e r a l . (Z)
F.m carta a Pedro dc Mello, d? Fevereiro de 1664, (Co.r*. cif.) diz : por
<:ai"lH* que recebeu das capitanias de S. Vicente c K. S. da Conceição, reproícn-
13" que depois dc a cr lançado o donativo que está capitania tem de dar, a câma-
ra dc nio impoz 86 rs. cm c.*da pipa d" vinho que -..iriUse para .1ritesitiácapi-
duas patacas cm cala ario\i de Fumo que dolbts entrassem.
Ordena s"jào suspensas eslas impo-dp'»^.
:21 Carta de 7 de Abril. [Çod. cit.)
(ó) E' um importante do:*. tr-<n cada. cm que iniciamos o nosso estndn
1
p-..:c„s ca-,as que V. S. dií tem. ruína a que chegou pela inv.isão dos francezes
* vismüança il..s cxnpw de (.TlayaUcazcs e c^ss^udo :S:A .ausa, como nau Unha
do : .'ano c ns moradores ,1., Kio ioram povo:mdo aquellcs campos, uao só
houve omisso -m rcodifiear a cidade, s=r\dn uuia das mais antigas da costa
Ou MM ; mas cuidado parti ubtr aos moradores do mesmo Rio, de .1 fazerem con-
servar por seus motivos naquellas ruinas ou...
—2223 -
E tanto que até a artilhem qut* alli havia acabaram com um governador
dessa praça mandou sc llie tirar.
Todas as mais eapilaubu» do Estado tem sens capilão-morcs e os ofliciaes
de justiça, milícia c fa*<-nõa que llics .-ao ueccssartòfc e 0 j j | í,nrr.ediatiis a
c
este governo c aquella lendo uiuiío mais moradores r-ndendo mais que algu-
mas das outras, c a untea qae está som lorma, nem oQjciaés de justiça, sendo
da coroa. E como tal dislmeta c separada desde sua vipgem. da do Rio.
Em vários capitules do Rcgimenio deste governo encarrega Kl-Rci o au-
gmento dn listado, a fortiiica.ào dc todos portos dclle, e coni ene a resci mentor
a conservação da jurisdicção . •..-te governo.
Por todo o referido c náo ser j.is;., e sendo âijnéUa capitania da corAa^^
Se nao attenda ao seu augmeuto, quat,dii se lbc deve fa/er maior favor, para
uão ser menos que os du di^aurius, mandei passara José Varella sua patente
dc capitao-niór, que apresentou a V. S„ seguindo os exemplos que bavia das
patentes que lhes passarão dc capÍMO«mor da mesma capi:aiiia 0 Conde dc
Castclho Melhor c Francisco Barrelio antes a depois de Salvador C.
dc Sá, que foi quem mais pr.-curou iseir.pt»s as capitanias do sul deste governo,
com J que se verifica que sempre os governadores geraei, e nào os do Rio de
Janeiro foráo os que ali provcrài os capita es-mores.
E sendo tanto dos governadores gene* esti jurisdicção e El-Kei Un
cuidadoso deqjie se uão perca cousa alguoia delia, que por carta sua se sem o
mandar estranhar a Francisco Darrctto, qoando 1'randsco de Britto sc introdu-
ziu na jurisdicção da Farahyba, confessando êlle que outrem, sendo subdito seu
pretendesse entrar na dcnc governo, ainda que fosse com subordinação sua
como V. S. vem da copia inclusa, nào devo V. S. querer que deixe eu dc respei-
tar muito aquellc exemplo; principalmente quando £ tanto a favor da jurisdi •
cçào dc um governo a que ccerto vira V. S. muito cudo e então estimaria sol-
Ucitur-lhc maior grandeza e I -ic.
Nem 6 inconveniente para ser capiiania livre rematarem-sc os dízimos
delia no Rio, porque lambem Sergipe, llhòos. Perto Seguro s3o capitanias livres
t deixão seus dízimos lerem HIIVIU.'! idos nestu praça. H meus ler* boje poucas
cisas, porouc de humildes pnucipios nascerão grandes cidades, nem de ser a
patente de El-Rei sò cap>i.io e nflo capitão-tudr", porque facilmente podo ser des-
cuido da secietaiia, uias na mesma posse que pnr ella se deu c no assento que
delia se fez se vè do mesmo papel que V. S. enviou, dc ser capilào-rnór.
Com todas estas razoes mo ptrecc estar justificada a separação daquelli capitania
e a patente de capitao-mòr que delia Jci a José Varclla.
Pelo que deve V. S. ser servido dcixal-o louiar posse delia e qne exerça
o seu posto na forma que o nomiei. ii S o que sobre indo cncommcndo a V. S.
éque tcnba entendido a mim que dcsejii muito que venha V. S. proycr desta
lugar tudo o que locar àq-iella capitania, ainda que vença a morlitii-çào do
voltar ao Brazil."
(I) Do mesmo (-W. cit. ev,trahimos a seguinte t-irta ao governador do
Rio, de 19 de Setembro de lâdfi, pelo da Bahia. Ale* i dre dc S. Freire ;
«Os moradores dc Cabo Frio tem representado a este governo o detrimen-
to que padecem cm sc lhes mandar tomar todo o sal - bs <^ng.<reni a leval-o a
essa capitania, sendo aquelbi ltvr» e isempta dc sens ministros e chegando aqui
um barcu da 1'arabyba souhe que u capiúo daqudle lugar o era por patente do
dar
esphcra,
V.
pode
mente
Frio
Rio
fai S,
exemplo
gosto;
dccestender
V.
Mas
que
aJaneiro,
que
obediência
S.como
folgaria
abi
sabe
da
náo
a sc
aircmala(.io
para
ella
quam
cada
cspcríiucnlas«e
rematam
eu
oaser
provimento
capitania
muito
jurisdicção
amante
isempta
os
das
que'a
di/imos
sou
tem
diziin.i-,
V.
do
delia.
do
jumdiecào
cS.
aRio,
Rio
sua
qne
as
dcnsiu
Ucm
eslrcitesas
eporque
sua*
não
.tÍO
de
pagar-sc
sei
desse
ha
puvoaçoes
aCabo
que
os
este
cousa
dellc.
governo
de
teve
goverim
Frio
ao
em
Sergipe
e pouca
seu
Caiupns
cque
tivesse
detoca
capitào-niór
S.
nito
sc
coma
M.,
arrematam
inimediata-
;tao
deseje
mas
ugrande
scCabo
não
não
no
lhe
T e n d o - s e firmado a c o m p e t ê n c i a j u d i c i a r i a do R i o
de suas p r ó p r i a s a u t o r i d a d e s j u l g a r e m os seus h a b i -
tantes, o g o v e r n o d a B a h i a a n n u l l o u essa a t t r i b u i -
çâo. ( i )
Estes avisos r e i t e r a d o s n ã o p o d i a m d e i x a r de m a g o a r
Pedro de M e l l o , q u e se sentia desgostoso, pelas restric-
ç ô e s á s suas f u n e ç õ e s e á e s p h e r a d e a c ç ã o a d m i n i s t r a -
t i v a e p o l í t i c a da c i r c u m s c r i p ç ã o q u e g o v e r n a v a e p e l a s
d i f i c u l d a d e s q u e t i n h a de vencer. ( 2 )
E i s o facto i m p o r t a n t e de p o l í t i c a i n t e r n a , a q u e a c i -
•toiu nos r e f e r i m o s , ü R i o de J a n e i r o decahia p o l í t i c a e
a d m i n i s t r a t i v a m e n t e d a p o s i ç ã o , ã q u e c h e g a r a , de
m e t r ó p o l e do s u l , j u r i s d i e c i o n a n d o p o r seu p o v o e suas
a u t o r i d a d e s as capitanias d o K s p i r i t o - S a n t a , C a b o F r i o ,
S . V i c e n t e e N . S . d a C o n c e i ç ã o . A g o r a n i v c l l a v a se
com qualquer dellas, '
A e m a n c i p a ç ã o politica e a d m i n i s t r a t i v a do R i o l i -
gava-se p r i n c i p a l m e n t e á q u e s t ã o das m i n a s , de q u e a
m e t r ó p o l e a u l e r i a g r a n d e s v a n t a g e n s c ao p r e s t i g i o pes-
consiste o remédio dos invejosos que V, S. jusinluiente tem, das oceasioes qne
afortuna nega ao Seu valor e deu aos qne sc acharam nas victoiias do anuo pas-
sado. Neste que vem cspciodaia V, S, boa nova de Outras.
As qu> dão os navios que agora chegaram, além das que os da frota trou-
xeram, nãoficaremconcluídos os casamentos Dcl-Rci nem Senhor c Sereníssimo
Infante em braaça Jdâ outras uoticias de Portugal.) As da saúde de V. S.
será sempre de muito gosto, mas. maiores si V, S. sa acompanhar de muitas
Qccasíoes do seu serviço, 1). G. Conde dc Olides,
soai de S a l v a d o r Beneyides, c u j a v a i d a d e , a c o n v i c ç ã o
dos seus grandes serviços, nào lhe permittiamcollocar-se
sob a jurisdicção dos governos da Bahia que se consti-
tuíam antes como seus satélites, do que como centro de
maior grandesa.
Não foi sem protesto do governo da Bahia, que Sal-
vador alcançou a conquista da emancipação do Rio.
Em carta de 22 de Agosto de 1653 ao rei Francis-
co Barretto procura demonstrar que, em face dos ter-
mos de sua provisão dc nomeação, Espirito-Santo e
Cabo-Frio não deviam ser desligados da Bahia. (1)
Mas, o silencio do rei confirmou a legitimidade da
emancipação, que não foi uma conquista real que fizesse
a própria capitania, a custa da sua prosperidade e des-
envolvimento. Oinsuccesso das minas e o fim do governo
de - Salvador vieram cellocal-a na sua posição primitiva.
a esta praça, aonde fica para tomara do Rir> de Janeiro, nié pareceu répí^serltar
a V. M, as duvidas que sc podem otTcrecer com >s intentos de S. Cor. para que
%
Si p e l o lado p o l í t i c o e A d m i n i s t r a t i v o o R i o de Ja-
n e i r o decahia, n i v e l a n d o se c o m q u a l q u e r c a p i t a n i a da
c o l ô n i a , o m e s m o succcdia p e l o lado j u d i c i á r i o .
A p r o v i s ã o d o d i . M a n o e l D i a s Raposo, n o m e a d o
-
o u v i d o r do R i o . de l ( í de J a n e i r o de 16(14, é a c o m p a -
nhada i l o R e g i m e n t o d c 2.Í do O u t u b r o d o m e s m o a n n o
( 1 ) . em q u e a l a t i t u d e das f u n r ç ô e s j u d i c i a r i a s e s t á res-
t r i c t a c o n s i d e r a v e l m e n t e , c o m o m o s t r a r e m o s no c a p i t u l o
c m q u e t r a t a r m o s da o r g a n i s a ç ã o j u d i c i a r i a d a c i d a d e ,
no s é c u l o 1 7 " .
O facto d c p o l í t i c a e x t e r n a q u e v e i u echoar na v i d a
t r i b u t a r i a da c a p i t a n i a , f o i a paz c e l e b r a d a pela m e t r ó -
pole com a H o l l a n d a e o casamento d a I n f a n t a c o m o
s o b e r a n o da I n g l a t e r r a , p a r a c u j o d o t e e as despezas d o
t r a c t a d o da paz d e v i a s ó a C a p i t a n i a d o R i o c o n t r i b u i r
c o m 2(1 m i l cruzados, e m d o i s annos. A o p r ó p r i o g o v e r -
n a d o r P e d r o de M e l l o fez o rei essa c o m m u n i c a ç â o ' p o r
c a r t a de 4 d e F e v e r e i r o de 1 6 6 2 . ( 2 )
N ã o se d e m o r o u e m fazer a d e v i d a c o m m u n i c a ç â o ,
á c â m a r a , c o m q u e m c o m b i n o u as medidas pelas
quaes d e v i a t o r n a r c f f e c t i v o o d o n a t i v o . F o i o assucar
t a x a d o em 4 ° / , q u e r o q u e entrasse p a r a o c o n s u m o ,
0
nscaes f o r ã o t o m a d a s e m r e l a ç ã o ao sal e o u t r a s m e r -
cadorias.
T u d o isto f o i i n s u f i c i e n t e para desobrigar-se a c â -
m a r a d o p a g a m e n t o d o d o n a t i v o . P o r d u a s vezes r e p r e -
sentou ao s o b e r a n o s o b r e o assumpto, demonstrando
c o m os factos a s i t u a ç ã o p r e c á r i a d a c a p i t a n i a , financei-
r a e e c o n ô m i c a e a g o r a d e v a s t a d a pela e p i d e m i a d a
v a r í o l a e p o r u m a secca de dois annos, sem i g u a l a t é
aquella é p o c a .
(1> Anutos do Uio de Janeiro, par S. Lisbia, vol, 4' pig. tW,
— 228 —
S u c c e d e u a P e d r o de M e l l o , D . P e d r o M a s c a r e -
nhas ( 1 ) , i r m ã o d o C o n d e de Ó b i d o s , g o v e r n a d o r g e r a l ,
a s s u m i n d o a a d m i n i s t r a ç ã o á 19 de M a i o de l f i í í í í . (2)
N e s t e g o v e r n o , d e r ã o - s e q u e s t õ e s p o l í t i c a s , fis-
caes e a d m i n i s t r a t i v a s d c c e r t a i m p o r t â n c i a , n a s q u a e s
o critério e tino do administrador d e i x a r ã o muito a
desejar. A crise n ã o m e l h o r a r a . P o r conseguinte, a
r e m e s s a dos d o n a t i v o s e dos i m p o s t o s estava atrazada.
O s contractadorets n ã o p u d i ã o c u m p r i r suas o b r i g a ç õ e s .
U m dos p r i m e i r o s c u i d a d o s d c D . P e d r o f o i p ô r e m
d i a n t e t o d o s os seus c o m p r o m i s s o s . (< {) !
N o seu p r i m e i r o a n n o de g o v e r n o c o b r o u c o m
t a n t o interesse a d i v i d i passiva d a c a p i t a n i a , qu<^ em
4 de M ü r ç o d c lu"f!7, o r e i « r a g r a d e c c o m o d o p o r q u e
t e m c u m p r i d o as o r d e n s passadas a n t e r i o r m e n t e do se
c o b r a r as d i v i d a s atrasadas da C o m p a n h i a , segundo (ora
i n f o r m a d o por ella m e s m a . »
E ' fácil c o m p r e h e n d e r a a n t i p a t h y a q u e esse por-
g r a m m a de a d m i n i s t r a ç ã o , i r n p o p u l a r i s o u D . Pedro, de
somente f o r ç a r a a r r e c a d a ç ã o dos i m p o s t o s , por t o d o s
processos, os mais v i o l e n t o s , e m u m a s i t u a ç ã o de m i -
s é r i a e c o n ô m i c a e financeira, sem a mais simples m e -
d i d a d e u t i l i d a d e ao b e m p u b l i c o e á p r o s p e r í d a m o r a l
e m a t e r i a l da c a p i t a n i a .
D e s d e O u t u b r o de líífUí, a m e t r ó p o l e c o m m u n í -
cava ao g o v e r n o do R i o os intentos de Castella de i n -
v a d i r A n g o l a , o r d e n a n d o q u e recolhesse á c i d a d e t o d a
a i n f a n t e r i a e tratasse d e m e l h o r a r as f o r t i f i c a ç õ e s .
F o r a m e n t ã o l a n ç a d o s os i m p o s t o s d e g u e r r a , c u j a e x e -
c u ç ã o o g o v e r n a d o r d o R i o communicou ao r e i por
carta d e 2 2 d e N o v e m b r o d e 1 6 6 2 . ( p a p e i s e l l a d o ) ( l )
N ã o ha d u v i d a q u e o excesso t r i b u t á r i o p r o l o n -
gava a crise.
A l e m dos d o s i m p o s t o s q u e t e m o s , passado c m
r e v i s ã o e m 1 6 6 4 o R i o f o i o b r i g a d o a s e p a r a r dos c o n -
tractos das dizimas 1 2 3 ^ 1 4 0 , c o m o p r o p r i n a s , p a r a
p a g a m e n t o d o s m i n i s t r o s c mais e m p r e g a d o s d o C o n s e -
l h o U l t r a m a r i n o . ( 2 ) E r a d e b a l d e q u e a c â m a r a re-
clamava.
N e n h u m g o v e r n a d o r a t t e n d i a para essa s i t u a ç ã o ,
a f i m d e fazer u m p r o g r a m m a d e g o v e r n o q u e a l l i v í a s s c
o peso t r i b u t á r i o , s o b o q u a l v i v i a o p o v o .
S ó m e n t e e m 1668 f o i levantado o imposto de
p a p e l selado, q u e e m nada c o n t r i b u i u para c o r r i g i r a
crise, porque applicava-se aos actos c i v i s . ( 3 )
A p r o p ó s i t o d a s u e c e s s ã o d c L). Pedro 11, e m con-
s e q ü ê n c i a da m o r t e d a r a i n h a , a c â m a r a resolveu m a n
dar á c ô r t e u m e m i s s á r i o , para alem de c u m p r i m e n t a r o
p r í n c i p e , i n f o r m a r s o b r e o p é s s i m o e s t a d o da c a p i t a n i a ,
e m r e l a ç ã o ao seu c o m m e r c i o e l a v o u r a c p i n t a r o es-
tado d a o p i n i ã o publica, profundamente adversa ao
g o v e r n a d o r , pela p r i s ã o d o o u v i d o r d r . M a n o e l D i a s
Raposo, arrancado b a r b a r a e t y r a n i c a m e n t e d e s u a ca-
d e i r a pelos agentes d o g o v e r n o , p a r a a p r i s ã o d a c i -
d a d e , simplesmente p o r q u e esse m a g i s t r a d o , c h e i o d e
c i v i s m o , d e altivez, e c o n s c i ê n c i a d o seu d e v e r , a b o r d o u
a q u e s t ã o n o t á v e l c t ã o cheia d e interesses d a d e m a r -
c a ç ã o d a sesmaria d o conselho d a cidade.
A s s u m p t o m u i t a s vezes a g i t a d o c n u n c a r e s o l v i d o ,
(1) Desde 1624 u Ouvidor João de Souza Cardcnas r.a correição de Abril
deste anno. ordenou que se incdis>c a* terras da câmara.
(2) Rui ewrrricáo de 26 dc Maio de 1663. •> ouvidor dr. S*lia*ti9o Cardoso
de Sampaio, proveu na torma da Prnvizam dc Sua Altczs Real, digo dc S. M.
ii*es%em, e ..plicassem, os Oíliciaes da Cani na o tombo do Conselho, por ser
em utilidade dos bens dellc. AnA, do Disl. Fia. vol. de 1895 pjr. 533.
Alcançaram potelar a tentativa deste magistrado.
{Z- Em correição de .11 dc Deíerobro, os membros da tintara ,le accordo
com o ouvidor resolverão que «porquanto o* ditos Officiaes da Cimara estavam
enfim de seu anno, e tinham dado principio as mediçõr* das terras do Conselho.
e traziam actualmcnte demanda com o* Hcverendu* Padres da Companhia da
Jesus nas quacs mcdiçoeiU o dito Senado linha feito «astes, e despeza*. como
hera notório, e os vindouros deviam proseguít -i dita caura.
(4) Tomb. das Terras Muninpaes, por lladdocfc Lobo, pag. 16,
— 232 —
(I) Proveu o dilo ouvidor Geral que visto os < )rfí«:iae$ çh Câmara, que
preze ite estavão. nào. poderem dar cumprimento ao Capitulo da Correição pas-
sada, em qu* sc manda se corre^e cem a catza rio* Reverendos Padres da
Companhia, e mais med^oens, cm razão do avi/o <ie. Sua Magestade, sobre
havei dado o Olaudez ao Estado do Brazil ; por cuja. Kauza andarão elles oceu-
pado- ua õdensa desta Praça qne de bo'e poT diàuic. com todo o calor, e bre-
vidade ;i prossiga.» por tempa de mu *nno, diga a prossÍRao no teimo de utu
anno, e fasvão Sentencias, qae be u maior termo em qne sc"pode Seteneiar huma
cauza de Libello, c que uío faMudo serào ohrigajys a pagar tooa.* a" perdas, c
damsv.s, que dahi resultacm a c*tc Conselho, e na, mais penas, que scjrundo
a qualidade da culpa, e humíssão neste negocio, o arhitno delle, dilo Ouvidor
Geral, ou seu Suecessor, íArcli. do Di.tr. Federal, vol. de 1895. pa-r 568;.
12; Em carta de IR de Sc lembro do 1608. ao prelado do Itio, dízngover-
nador da Bahia que vi tudo o que me diz sobre o ouVidói éera.1 quí aqui veiu
preso. F. na Rotação se via o ca;o. sendo i-: presente, mas un:íorinemeii-.e sen-
tencí.río lodosos Mi:.i-;ros que uin era Miflicion;»; fundamento o uuc V. S.
representou ao governador Je?sa ;;*ral, guando o sen regimento o :sc;-.la tão
exprc-samc:,te de ser preso e privádü du cargo. Saiiiu reslitaido o cílc me disso
sç ia ucsle barc- a cxerccl-o. Teub.. V. S. entendida que se pua .i obrar de cí
de n a v e g a ç ã o e d e i n d u s t r i a , m o n o p o l i s a d o s em f a v o r
da C o m p a n h i a d e C o m m e r c i o .
L o g o a p ó s a paz c o m a n e s p a n h a , d es a p p a r e ce r ã o
t o d o s os m o t i v o s p a r a a g r a n d e c a r g a t r i b u t a r i a q u e
pesava s o b r e o povo. A s i t u a ç ã o d e g u e r r a desapparecera
e p o r c o n s e g u i n t e a q u e l l a perspectiva d e hostilidades,
e m cjue, h a annos, v i v i a a c a p i t a n i a a e x h a u r i r - s e e m
despezas p a r a o r g a n i s a r seus elementos d e defesa.
J á no t e m p o d o g o v e r n o d e D . P e d r o M.>scarenhas,
a c â m a r a , e m c a r t a d e 2 1 d e Janeiro de 1 6 6 7 , d i r i g i d a
ao r e i , a p p c l a v a para esse f a c t o , c m nome d o q u a l u m a
o u t r a p o l í t i c a e c o n ô m i c a e f i n a n c e i r a devia ser s e g u i d a .
Os c o r s á r i o s n ã o i n f e s t a v a m mais os mares. E a paz
e r a u m a r e a l i d a d e c o m os paizes q u e t i n h u n q u e r i d o
t o m a r o Brasil d a c o r o a p o r t u g u e z a .
fe) c o r o l á r i o d e t u d o isto devia ser a l i b e r d a d e d a
navegação.
E n o t e m p o d o g o v e r n o d o tenente general J o ã o
da S i l v a c Souza, n o m e a d o g o v e r n a d o r d o R i o por pa-
tente d c 6 d c S e t e m b r o d e 1 6 6 9 , assumindo a a d m i -
n i s t r a ç ã o a 2 5 d e D e z e m b r o d o m e s m o anno, ella
de novo r e c l a m o u c o n t r a o m o n o p ó l i o d o c o m m e r c i o ,
c h a m a n d o a a t t e n ç ã o d a m e t r ó p o l e para o f a c t o d e ,
n ã o o b s t a n t e as pazes c o m a H e s p a n h a , B u e n o s A y r e s
a i n d a n ã o e r a a b e r t o os seus p o r t o s aus navios p o r -
t u g u ê s , o q u e c o n t r i b u í a bastante para aggravar a crise
do R i o d e J a n e i r o , c o m a q u a l a q u e l l a p r a ç a m a n t i n h a
r e l a ç õ e s c o m m e r c i a e s d c h a m u i t o annos.
A m a i o r c o n c e s s ã o q u e fez o soberano ( 1 ) f o i q u e
«os navios q u e levassem 2 1 p e ç a s d e a r t i l h a r i a p a r a
c i m a , c o m as m u n i ç õ e s e g e n t e s c o m p e t e n t e , pudessem
ir e v i r d o B r a s i l , f o r a do" corpo das f r o t a s , p o r é m o
c o m b o i o á J u n t a d o C o m m e r c i o , como p a g a v a m os
navios d e l i c e n ç a . E os mais navios q u e n ã o l e v a r e m
t o d a a sua p a r t i c u l a r f o r t u n a , pelo q u e p o r t ã o g r a v e s
m o t i v o s i m p l o r a v ã o h u m a e m i l vezes a c l e m ê n c i a
R e a l , c o m o Pai o S e n h o r , p a r a lhes fazer a m e r c ê p o r
c o n v e n i ê n c i a d o seu m e s m o R e a l s e r v i ç o , m a n d a r q u e
n ã o tivesse e f f e i t o a c o n t r i b u i ç ã o 4 0 0 ^ 0 0 0 r é i s , t e n d o
e m sua R e a l a t t e n ç ã o e a t e n u a ç ã o e m i s é r i a dos seus
vassallos, q u e t r a s p a s s a r ã o , os l i m i t e s da p r o v i d e n c i a
h u m a n a , t o c a n d o a da desesper. ç ã õ , pois q u e n ã o pos-
s u i ã o j á c o m q u e a c u d i r aos e m p e n h e s , d i v i d a s , e sus-
t e n t a ç ã o das suas casas e f a m i l i a s . » ( 1 )
&' expressivo d a p e n ú r i a d o tempo a d i s t r i b u i ç ã o
f e i t a d c 5 0 0 a l q u e i r e s de f a r i n h a pelo p o v o q u e a c â -
mara m a n d a r a v i r d a B a h i a .
A m e t r ó p o l e n ã o sahia de sua i n d i f T e r e n ç a em re-
l a ç ã o a s i t u a ç ã o . N ã o e r a o b j 'Cto d c d u v i d a p a r a nin-
g u é m a causa p r i n c i p a l da c r i s e . T o d o s conheciam n a .
r, a c â m a r a p o r mais de u m a vez, r e q n e r e u a l i b e r d a d e
da n a v e g a ç ã o e d a i n d u s t r i a , por isso q u e no m o n o p ó l i o
e m f a v o r da C o m p a n h i a estava a causa d a m i s é r i a
p u b l i c a . F . era t a l a c o n v i c ç ã o da m u n i c i p a l i d a d e cto R i o
s o b r e a i n f l u e n c i a nefasta e desastrosa desse m o n o p ó -
lio, q u e t e n t o u o b t e r a l i b e r d a d e da n a v e g a ç ã o , ainda
mesmo indirectamente.
F.m c a r t a d i r i g i d a ao s o b e r a n o disia q u e a í r a n -
quesa d o c o m m e r c i o p o d i a ser o b t i d a com o estabeleci-
m e n t o de u m a p o v o a ç ã o v i s i n h a a l i u e n o s A y r e s , « p a r a
s e r v i r d e i n t e r m é d i o á c o m m u n i c a ç â o das riquesas da-
q u e l l e p a z . » A s vantagens d a m e d i d a e s t a v ã o « e m
;
s e g u r a r t o d o o v<:sto t e r r i t ó r i o das p r o v í n c i a s do s u l ,
s e n d o u m a b a r r e i r a de í e r r o c o n t r a a v i o l ê n c i a e a m -
b i ç ã o d a H e s p a n h a s e m p r e rival e i n i m i g a a (2)
T a l v e z fosse, c a r t a a causa da m e t r ó p o l e o r d e n a r
p o s t e r i o r m e n t e a f u n d a ç ã o da Colônia do Sacramento e
n ã o a c r e a ç ã o do bispa.lo no R i o de Janeiro, c o m o
s u p p õ e V a r n h a g c n , e s t e n d e n d o os seus l i m i t e s a t é o
R i o d a Prata.
K u t r e t a n t o . a m e t r ó p o l e l i m i t a v a se a o r d e n a r q u e
os g o v e r n a d o r e s n ã o í n t r o m c t t c s = e m nas e l e i ç õ e s dos
camaristas e dos t h e s o u r e i r o s dos d o n a t i v o s ( 1 ) ; f a z e r a
a c o n c e s s ã o aos m o r a d o r e s d o B r a s i l d c p o d e r e m p l a n -
tar a g e n g i b r e ( 2 ) ; a l i b e r t a r o c o m m e r c i o dos p r e t o s
d a Á f r i c a , « c n c M u m e n d e n d o aos g o v e r n a d o r e s sc i n t e -
ressassem c o m os g o v e r n a d o r e s para q n e se e n t r e g a s s e m
;;quel!e c o m m e r c i o e t r a f i c o , f a c i l i t a n d o a i m p o r t a ç ã o
dos n e g r o s nas c o l ô n i a s e m b e n c i c i o de sua a g r i c u l -
!
t u r a . » (íí)
A c â m a r a n ã o p o d i a r e m o v e r os m a l e s . L i m i t a v a -
se a n u l i d a d e s , c o m o d e m o l i r n a í o r m a de d i r e i t o , os
casas p r ó x i m o s a d a c â m a r a , p e r t e n c e n t e s aos p a d r e s
do C a r m o , p o r e s t a r e m situadas e m c h ã o s p e r t e n c e n t e s
ao c o n c e l h o ( 1 6 7 0 ) ; p r o h i b i r e s t a b e l e c i m e n t o s c o m -
merciaes, t a v e r n a s o u v e n d a s , n a zona c o m p r e h e n d i d a
e n t r e N . $. d ' A j u d a e N . S. d o Parto a t é a C a r i o c a ,
« p o r nelles se r e c o l h e r c m m u i t a s casas f u r t a d a s e ser-
v i r e m de v a l h a c o u t o d r s e s c r a v o s » ; n o m e o u u m e m p r e -
g a d o para assistir a v e n d a d o azeite d e p e i x e , a f i m d c
n ã o consentir n a v e n d a desse p r o d u e t o d e t e r i o r a d o ,
p e l o p r e ç o d c dois c r u z a d o s , e m vez de d u a s p a t a c a s
c o m o se fazia ; c r e o u u m j u i z de v i n t e n a nas f r e g u e z i a s
existentes no r e c ô n c a v o d a c i d a d e « p a r a fazer d e l i g e n -
cias das p a r t e s e p r e n d e r os c r i m i n o s o s , dessem p a r t e
de t o d o s os d e l i c t o s e casos a J u s t i ç a , creassem p r i s õ e s
e tivessem g r i l h õ e s o a l g e m a s » , r e s o l v e u a c o n s t r u c ç ã o
d a casa d c a u d i ê n c i a s , p o r c i m a da casa d a c â m a r a ,
c o n t r a c t a n d o a o b r a p o r õ0O:BO0O ( 1 0 7 2 A g o s t o ) ; r e -
solveu n ã o a f o r a r m a i s os c a m p o s de N . S e n h o r a
d ' A j u d a , para s e r v i r e m d c pasto d o g a d o de seus m o -
radores. ( 4 )
U m f a c t o d a m a i o r i m p o r t â n c i a deu-se n o f i m d o
g o v e r n o de S i l v a e Souza, r e v e l a a f a l t a d e j u s t i ç a c o m
q u e c o r ô a l e g i s l a v a sobre os n e g ó c i o s d a c o l ô n i a e re-
s o l v i a suas q u e s t õ e s .
R e f e r i n i o - n o s á c a r t a r e g i a de 1 7 de J u l h o de
1 (>74, p e l a q u a l fez c i l a d o a c ç ã o a S a l v a d o r C o r r e i a d e
S á , v i s c o n d e d c A s s e c a , de u m a c a p i t a n i a de v i n t e
l é g u a s d e terras e a seu i r m ã o J o ã o C o r r e i a d c S á ,
General do Estreito do Estado da índia, oco:n
c o m o b r i g a ç ã o de f u n d a r e m uma v i l l a c m cada u m a das
d o a c ç õ e s , i g r e j a , casa d a c â m a r a c casas para t r i n t a
casaes.»
M a s , antes deste f a c t o , oceurrencias d i g n a s d c
m e n ç ã o t i n h ã o sc d a d o . D e s d e 1663 o g o v e r n a d o r d a
Bahia nomeava õ u v i d ò r e r para Parahyba, em vista da
g r a n d e distancia e m q u e f i c a v a m de C a b o - F r i o .
> Esse i n i c i o de vida a d m i n i s t r a t i v a e j u d i c i a r i a n ã o
era b e m v i s t o p e l o s hebitantes d o l o g a r que, r e c o r r e n d o
ao o u v i d o r d o R i o , o b t i v e r a m o r d e m c o m q u e p r e n d e -
ram o da Parahyba.
N o g o v e r n o de S i l v a e Souza, n o v a m e n t e i n t e n -
t a r a m p o v o a r P a r a h y b a e n ã o q u e r e n d o r e c o r r e r aos
meios v i o l e n t o s de que l a n ç a r a m m ã o s os habitantes d o
R i o d a o u t r a vez ( 1 ) , a c â m a r a reuniu-se, com a s s i s t ê n -
cia d o g o v e r n a d o r , i q u e m pedia para representar ao d a
B a h i a c o n t r a a c r e a ç ã o dessa v i l l a nos campos dos
Goyatacazes, de o n d e d e v i a ser r e t i r a d o o o u v i d o r u l t i -
m a m e n t e p r o v i d o , « p o r q u e de o u t r a m a n e i r a ficaria
p e r d i d o o K i o de Janeiro e q u e quando se resolvessem
f a z e r a d i t a v i l l a , estava este p o v o r e s o l u t o a i r arra-
sal-a.u
Gomes Barroso para ir a Parahyba ã*? sul, alí n d-: pfjsidem* autores da morte
dc André Martins da Palma, capitao-mór da mesma capitania. O seu SOJ-TO
tia«j'ar David dc Alvarenga tratar do processo.
O ajudante leva regimento, Os autores do assassinai" «20 Manuel Ril-eiro
Caldeira, Antônio da Silva, Uicronytti'> Dias, Autonío Kernaadcs e Francisco
dc Arruda.v
— 238 —
E m s e s s ã o de 2 4 d e O u t u b r o de 1 0 7 3 , a c â m a r a
a l l e g a v à que, p o r o r d e m d o d o u t o r o u v i d o r g e r a l J o ã o
V e l h o d e A z e v e d o , os m o r a d o r e s dos c a m p o s de
G o y a t a c a z e s e r i g i r ã o u m a villa, q u e p o s t e r i o r m e n t e
f ô r a suppressa, p o r o r d e m do m e s m o o u v i d o r .
N à o obstante isto, os m o r a d o r e s c o n t i n u a r ã o a
v i v e r sob as ordens d e u m c a p i t ã o q u e o s g o v e r n a v a ,
s e r v i n d o t a m b é m de o u v i d o r para as e x e c u ç õ e s d a
justiça.
D e p o i s disto o u t r a t e n t a t i v a f o i feita p o r u m
G a s p a r M a r i n h o , no sentido de o r g a n i z a r a villa, d c q u e
r e s u l t a v a m dois m a l e s : 1 ° o bern c o m m u m do sustento
desse p o v o : 2 « o s d i r e i t o s d e Sua A l t c z a , p o r q u e he
o
c e r t o q u e h a v e n d o V i l l a h a v e r á m u l t i d ã o de g e n t e , c o m -
m e r c i o . e n a v e g a ç ã o d e e m b a r ç õ e s , e ambas as causas
s e r ã o causa de h a v e r m u i g r a n d e d i m i n u i ç ã o n o g a d o , c
g r a n d e s f u r t o s c d i v e r t i m e n t o s d e l l e , e f a l t a n d o o gfcdo
p a d e c e r á este p o v o g r a n d e f o m e , p o r q u e se h e j e s e m
haver V i l l a sc e x p e r i m e n t a esta f a l t a , q u a n t o mais ao
d e p o i s ; segue-se a d i m i n u i ç ã o dos cabedaes, p o r q u e
f a l t a n d o os bois para os E n g e n h o s n ã o p o d e m e n t ã o
estes s u b s i s t i r e m , e menos f a z e r e m assucar, se d e s f a b r i -
c a r ã o muitos, p o r c u j o respeito p a d e c e r á o b e m c o m -
m u m e d e c r e s c e r à o as rendas R c a e s , a l é m d c o u t r o s
muitos inconvenientes; e aquella V i l l a ainda q u e pela
s u e c e s s ã o dos t e m p o s a d q u i r a g r a n d e p o p u l a ç ã o , e l l a
n ã o p ô d e em t e m p o a l g u m f o r n e c e r r e n d a s a Sua A l -
teza, porque n ã o ha e m q u e t i r a r , p o r s e r v i r e m os C a m -
pos s ó i i r e n t c p a r a a c r i a ç ã o d o g a d o , a l é m de q u e s e n d o
c o m o s ã o t o d o s dos m o r a d o r e s d e s t a C i d a d e , se a t a c a
a p r o s p e r i d a d e dos seus h a b i t a n t e s c o m o f í e n s a d a
J u s t i ç a , q u e f o i e s t a b e l e c i d a para c a d a h u m o q u e h e s c u ,
e os G o v e r n o s q u e r e p r e s e n t ã o a Re.d Pessoa s ó f o r m ã o
a copia fiel do o r i g i n a l de q u e m r e c e b e r ã o bs t o q u e s e
a f o r m a ç ã o quando a d m i n i s l r ã o com r e t i d ã o e sabedo-
r i a , do c o n t r a r i o os h o m e n s se l e v a n t a r ã o c o n t r a os seus
semalhantes c o m o as feras i n d o m i t a s s o b r e suas presas,
e t u d o se c o n v e r t e r á e m h u m vasto l a t r o c í n i o v i v e n d o
— 239 —
da fazenda alheia. E a s s i m p e d i m o s a V . S. c o m o t ã o
zeloso d o s e r v i ç o d c S u a A l t e z a e b e m c o m m u m , m a n d e
r e c o i h c r e s u s p e n d e r a dita P r o v i s ã o ao O u v i d o r , p o r -
q u e só* assim h a v e r á mais q u i e t a ç ã o neste p o v o , m a i o r
a u g m e n t o dos d í z i m o s c d i r e i t o s Reaes; esperamos q u e
V . S. r e m e d i e t u d o com a inteireza e j u s t i ç a q u e cos-
t u m a , e a pessoa d e V . S. a u g m e n t a \ o s s o S e n h o r c o m
as f e l i c i d a d e s q u e d e s e j a . » ( 1 )
. O g o v e r n a d o r da Bahia n ã o attendeu a esta r e -
clamação. (2)
(li Anua«s do Rio ,1c Janeiro, por Silva lisbua.vol. 4" pae. 2fid.
(2| Cod. da colli—Uocs. Hist; da HfliTt, Nac. dc líírja—71:
«ÇOm alleiicàcf l i a' i]ue iitt escreves!** pur caria de Ü7 dc Outubro do
anno passado, acerca, co uma juucla que u câmara, dessa cidade feri cm que vos
as*i»lis(e.«, sobre se náo continuar uma villa que se intentava levantar nos-cam-
pos do CiovalacaZes c que distão quo baviu provisão minha para ouvidor, e
como amigo mo pcdicis ma^bo-se logo recolhei-.» que para aa diligencias bas-
tava a de Cabo-Frio. porque ,í~ Outra maneira ticana perdido o Kio de Janeiro
e que quando sc rc<oÍvcsscm fazer a dita villa, ettava esse povo resoluto a ir
arrasal-a.
Por cerTO que lendo a carta, me não acaba persuadir que era vossa, pois
ninguém melhor que V. S. sabe que nem os pnvos neol-aS n-iries inferiores
podem por si resolver r.jusa al^nm.i contra o quo dispúe os superiores, nem
ainda os superiores nt.-1-r-se nu jurisdição alVía C quando muito o que devem
Jazer, e representar o governa superior os inconvenientes que ha pafa se dar
Cumprimento a uma ordem, rojas raròcs sejao tão jjraves que obriguem a sus-
pendei, a e não dcsobedecel-.i e d«ííber'Ír.. a deiermir.'il-a absolu-
tamente tom tanta inJ^pcnii, que jà ..hcgueii a d;;er qua r>tava o povo
resoluto a arruar a villa se se lev:mras*ê r> depois do ouvido dessa capitania me
baver dad<i vOnU da cxorhít^n:ia da deÀàluçau que com cs moradores da Para-
hyba sc havia irado. A sua carta e a queixa daquellés miscravei» (que. fui a
rtlenor quo a narração que o mesmo ouvidor foz) c se estranhou
mniro nella (Relação) , . , V, não contentei os luiérè^íHdbí em oecepar
aquelles campos e • IM '.erras q'ie :Í'I" pçísuüm por titulo* legítimos (os quacs
impossibilitara o eapiiâo-niur da Puihybu mandando eu por urdem
particular mi-.ha_mos eiivi-irtei pira letrõtn. elles sô a poder c iasolcr.cía o que
è justo -.eja beneficio de muitos e augioenta do Estado, Tinpedem continuasse
ali aquelle 1 ig^r c segurar aquelle porlo contra o< qne 5, A,manda expressamente
no Regimento do governo deste Kstado que s: povoa**.; toda. a carto e se desse
segurança segundit ver a ms a dar bu^ar algemado um ouvidor que o está cum
provisão r:ü i i
Vcriiadair;iuientc que nii.o sei como o ccnscntistcs, uem sc desse tíivor de
soldado pára semelhante acção, devendo allender -*6 ao respeito que sc devia
aí ordens que deste governo se Tiu" ,io mandado, wm 'empo dn <r. ronde de
Allengura eagora ao pruvimen'0 ijue havia leito do ouvidor; cuidava eo que
deviei* preferi i como amigo a conta que era razão se me desse desta matéria
para ea a ter acieádidu e resolver o que mais fosse serviço de S. A. J as razões
appareulcs dos interessado*. As giandeí cidadtís do mundo se li/eiam populosas
dc humildes princípios.
estivera
campos
licào Começarão
villa elle*
na eslão
oParahyba
Bra/il todas
prejudicados
a maior casacque
deseiln,
; anle*
parte dosboje
com
Uahia
nem haver
por ba.no
perdida,
gadotscaÚí Brazil,
fundar
e como
faíèndas que
:o0fcia«f dcsejmiiça
amc.'idade
discis
dos assim oseoâo
moradores
de
CearáSergipe,
líiofôra,
desta
sc ainda
emhouvc
praça,
cujos
— 240 —
A o m e s m o t e m p o q u e se da v ã o estes f a c t o s na
c o l ô n i a , S a l v a d o r Denevides. na c o r t e , p l e i t e a v a a f a v o r
dos seus dois filhos, a sesmaria da a n t i g a c a p i t a n i a de
S. T h o m é , q u e a c o r o a lhe c o n c e d e u , c o m v i o l a ç ã o de
d i r e i t o z d e p r o p r i e d a d e j á a d q u i r i d o , e m sesmarias dadas
anteriormente.
D e f a c t o . K m l i ) de A g o s t o de 16*27, o g o v e r n a -
d o r do R i o . M a r t i n d e S á , c o m o p r o c u r a d o r d o p r i m e i -
r o d o n a t á r i o G i l de G ó e s , d e u d e sesmaria estas t e r r a s
aos c a p i t ã e s G o n ç a l o C o r r e i a , M a n o e l C a r r e i a , D u a r t e
Correia, Miguel Ayres Maldonado, A n t ô n i o Pinto, J o ã o
de C a s t i l h o s e M i g u e l R i s c a d o .
F o r a m estes h o m e n s os p r i m e i r o s a p e r c o r r e r taes
zona da capitania, d a r nomes aos seus r i o s , á s suas c a m -
pinas, aos seus lagos, s e g u n d o o d e p o i m e n t o cio } j r o -
latrocinios c roubos que V*. ccrlo haveria, se os não houvesse. F. como os que
tem a cargo as fazenda* que estarão pelo- campos de Goyalacazcs, nào querem
que haja quem lh'os ímpida benção o meiu de não haver justiça na Parahybj
nem que ali se lava villa qne Ih-s eulorve O que nbrão contra seus próprios
donos. O districto de R1Q JC Jar.riio u.lu tem mais que 12 kgnas, até paitir com
a^capitanias d.-> Cabo frio c estj è Mu UeiivS dos cjfneiaci da câmara do Itin, e
tão immcdiata a este Gc-vçrno, couto essa : c por esta raian sõ o governo geral
tem jurisdicção sobre eus moradores í ainda qx: o ouvidor dessa repailiçâu a
tenha c sò por ordinária sobre o* pleitos c não a dc julgar, *ft ba de baver nella
ou nào; regalia que iomente tora ao príncipe qu; á quíitt tem poder soberano
dc mandar arrasar cidades, precedendo com sabia* razões das Cônsules dc
Lstado.
A S. A. Ieu!io dado conta desta matéria e è este o casa a qne sc devia
mandar um ministro da Rolava" sc a nan tivera diln. Eu náo fui o primeiro que
provi o cargo dc ouvidur, que já o vi conde de Olides havia provido por esiar
vago em Njrolão vUino que o serviu muito tempo como sc vé de sua provisão
passada a 7 de Novembro de 1GG3 qne está regjsirada no< livros da Secretaria
dc Estado, <io:tdc lambem está outra de escrivão da .amara da mesma Parahyba
passado vm li} d<.-Or.tubi0 do mesmo anno Nem c P.-ra da rizão, atile? minto
contorme a ella, que haja ali ouvido:, pois è rigor (irande qns baião os pobres
da Parahyba ir oitenta lego i« pleitear e despachar pc.tçü-s em Cabo Frio. üi:
que d hom exemplo a rapiur.ía de Pem tiuauco. dond:* ã j senco mais qne
: J
uma so que nas vil Ia s e lugares que .» tempo foi íaaen.ln. mais de fl ouvidores
particulares, ^-iido pr.u-a a distancia qae lu de uma* ã outras. Si ouvidor e
ofh-iaes ai .-amara qne se havia fonu.ido ::a Parahyba, estão ah.da abi preso»,
os mandei logo soltai e como ainígo vos cncommtudo os deixe ir logo em paz
para suas casai c o ouvidor exercer o seu officio pela minha provisã. e as razões
que a câmara dsssa cidade eu ouvidor dessa reparação tiverem para destruir o
povo da l arahysa e não haver ali villa, os represente a e»le governo, donde
serão ouvidos.»
— 241 —
mesma r a s ã o , a t o d o t e m p o n ã o d i g a m os h e r d e i r o s q u e
o fizemos p o r d e l i b e r a ç ã o nossa, pois o m e s m o G o v e r
nador n ã o era t ã o r e s p e i t a d o . »
E o concerto t r a n s f o r m o u - s e e m e s c r i p t u r a , l a v r a d a
c m M a r ç o de 1 6 4 8 « r o d e a d o o general de v á r i o s per-
sonagens q u e f o r a m a d m i t t i d o s no d i t o c o m p r o m i s s o
com s o l i c i t a ç õ e s , j u n t a m e n t e a j u d a d o da sua m á o p u -
lencia, fez o q u a n t o quiz m a i o r m e n t e o p a d r e p r o v i n -
cial t i a C o m p a n h i a ; o D o m a b b a d e d c S ã o B e n t o e o
c a p i t ã » Barcellos, q u e f o i o q u e m e l h o r i n f o r m o u o g e -
neral du? m e l h o r e s t e r r e n o s d o paiz, e m r a z ã o de j á t e r
algum conhecimento do território.
E s t e h o m e m f o i t o d a a nossa r u i n a . Fez c o m n o s -
co vezes de Judas, d e p o i s de t r a t a r c o nnosco u m a a m i -
zade.» ;1)
Este d o c u m e n t o j u d i c i á r i o f o i a m a i o r e s p o l i a ç ã o
dos direitos de M a l d o n a d o , seus c o m p a n h e i r o s e 'Seus
herdeiros.
Esses interesses feridos a p p e l a r à o p a r a a j u s t i ç a
que, n o t i f i c a n d o S a l v a d o r c o m o a u t o r do c o m p r o m i s s o ,
o q u a l « n ã o (azendo c o n s i d e r a ç ã o da n o t i f i c ç ã o n ã o
compareceu na i n s t â n c i a j u d i c i a r i a . »
e l i m i t a r ã o - s e a dizer : d e s t a m a n e i r a t r a b a l h a m o s e
passamos g r a n d e s i n c o m m o c í o s ; passando b e m m a l ,
a b r i n d o c a m i n h o s , c o r t a n d o os p á o s p o r a i n d a n ã o h a v e r
c a m i n h o s b e m costeados, c a m i n h a n d o p o r g r a n d e s
areiaes de p é , t o d o s esbaforidos, p a r a estes personagens
se u t i l i z a r e m c o m u m a b o c h c c a d ' á g u a das nossas pro-
priedades por maneira t a l . Deos louvado, aqui irei
d a n d o f i m a esta d e s c r i p ç â o em p o n t o t ã o g r o s s e i r o , ate
a o n d e possa c h e g a r a m i n h a fraca m e m ó r i a . ( 1 )
M a s , a e s p o l i a ç ã o s ó f o i c o m p l e t a , q u a n d o Salva-
d o r o b t e v e na c o r t e a d o a c ç ã o das 3 0 l é g u a s de t e r r a
p a r a seus filhos.
O s q u e e x p l o r a r ã o o v e l h o M a l d o n a d o , seus c o m -
p a n h e i r o s e seus h e r d e i r o s , f o r ã o por sua vez e x p l o r a -
dos p e l o c h e f e do concerto amigável.
j Ja l i n h a assumido o g o v e r n o d o R i o M a t h i a s d a
C u n h a , a 2 6 de A b r i l de l ( ! 7 õ , q u a n d o o g o v e r n o d a
Bahia, e m carta d c 5 de N o v e m b r o de 167(5 (.2), c o m -
m u n i c a - l h e t e r r e c e b i d o a carta de sesmaria, j á a ter
r e g i s t r a d a c o m o c u m p r i a , d a n d o ordens ao e u v i d ó r
para tornar a d o a ç ã o effectiva.
D e b a l d e a C â m a r a r e p r e s e n t o u contra a d o a ç ã o
q u e « f a l t a v a a f é p u b l i c a das d o a ç õ e s dos particulares.
p o r legaes t í t u l o s de Sesmartas, d e p o i s de c a h i r e m na
C o r o a a C a p i t a n i a de G i l de Goes, p a r a se t i r a r e m de
seus l e g í t i m o s possuidores, e d i r e m - s e a pessoas pode-
rosas c o n t r a todas as L e i s do dever, da h o n r a , e da Jus-
t i ç a e da K o l i g i à o .
E q u a n d o estas r a z õ e s n ã o movessem o a n i m o
R e a l para r e v o g a r as d o a ç õ e s do V i s c o n d e de Asseca,
q u e as conseguira c o a i o c c t i l t a ç ã o da verdade, se d i g -
( I j Silva Lisboa obr. cit. vol. 4" p& 263 dos Ans. do Rio.
,2) Coll. de caiu* regias do Arei, Publico,
Í ^ B — :
— 245 —
NSu hwjve devassa dislo. porque o ouvidor deu carta dc seguro ?os creadus,
para rjbiiar a acção da justiça.
NSJ obslnutc o governador fez cercar cs conventos Jc S. Francisco e S.
I Bcnio para prender os dcliqncr.tes,
A- mulheres forào intimadas para negar o delicio,
Em visU de stutírrégu lar idades na administração da fazenda, não tepagão
aus soldados.
Km vista disto pede mandar um Desembargador da cúrle para atírji
devassa, e-ao da HihUj,.pjr serem amidos, Rosolveu-sc mandar um ministro
Üa Bahia abrir devassa.™.
— 249 —
(1) t w . cit.
— 250 —
esmeraldas, l e v a n d o c o m s i g o c o m o c a p i t ã o m ó r o s e u
f u t u r o snecessor M a t h i a s C a r d o s o de A l m e i d a , m u i t o
pratico nos s e r t õ e s , c m vistas das entradas q u e t i n h a f e i t o .
O s officiaes d a C â m a r a d c S . P a u l o e n c a r r e g a r ã o
t a m b :m a F r a n c i s c o C a m a r g o de p e n e t r a r o s e r t ã o c o m
sua trepa, a d e s c o b r i r , m i n a s d c o u r o c p r a t a .
M triuel Pereira S a r d i n h a t a m b é m o r g a n i s o u t r o p a
e e n t r o u pelos s e r t õ e s de P a r a n a g u á e r i b e i r a de
Iguapc
F m vista d e s t e m o v i m e n t o foi d e s p a c h a d o , a 2 8 de
j u n h o d c l 6 . 7 3 , d . R o d r i g o de C a s t e i l o B r a n c o p a r a as
mim-s de I t - b a i a n a . E m 1 1 d c j u l h o deste anno c o m e ç o u
o seu t r a b : l h o .
D e p o i s passou-se p a r a S . P a u l o .
A t é e n t ã o o s e r v i ç o das m i n a s do s u l e s t a v a e n -
t r e g u e á a d m i n í s t r r ç ã o de A g o s t i n h o F i g u e i r e d o , « c a p i -
t ã o - m ó r de S. V i c e n t e , d e v e n d o o g o v e r n o d o R i o e n -
t r e g a r - l h e os s o b e j o s do d i z i m o . ( 1 )
J á t i n h a sido despachado p a r a o s u l e s p e c i a l m e n t e
para as m i n a s de P a r a n a g u á , Braz R o d r i g u e s , e m l í ! 7 3 ,
acompanhado de um engenheiro ( 2 ) . P o r o r d e m ex-
pressa d o g o v e r n o d a B i l l i a , o s e r v i ç o das m i n a s e s t a v a
sob sua j u r i s d i c ç ã o , n ã o d e v e n d o as a u t o r i d a d e d o R i o
peite e n v o l v e r e m - s e , s e n ã o prestar a u x í l i o s q u e f o s s e m
pedidos.
C o m o vimos, d o norte Casteilo Br..nco veiu para o
sul.
E m 2 9 de N o v e m b r o d c 1 C 7 7 , o r e i c o m m u n i c a a
c â m a r a d e S . Paulo que cxp;;de Casteilo Branco, como
a d m i n i s t r a d o r g e r a l das m i n a s c o g e n e r a l J o r g e S o a r e s
d c M a c e d o , n o m e a d o p o r ç à r t á r e g i a de íiO de O u t u b r o
de 1C77 t e n e n t e dc m e s t r e de c a m p o g e n e r a l h o n o r á r i o
i n f a n t e r i a q u e passara d e s c o b r i m e n t o das m i n a s de Pa-
ranaguá e Sarabuçu.
N o R i o d c Janeiro recebeu C a s t e i l o B r a n c o a l e m
d c 2 0 0 $ m u i t o s a u x í l i o s . E m N o v e m b r o de 1 6 7 8 fez
J o ã o de M a t t o s , c o m o cabo da tropa u m a entrada pelo
sertão, p o r é m , improficuamente.
D e s e n g a n a d o no R i o , f o i Casteilo B r a n c o para
Santos, o n d e a 3 0 de N o v e m b r o d o m e s m o a n n o , fez
p u b l i c a r b a n d o , em q u e c o n v i d a v a os m o r a d o r e s p a r a
e x p l o r a r e m as m i n a s a t é B u e n o s A y r e s , o f f e r c c e n d o
p e r d ã o aos c r i m i n o s o s , a l é m de honras c m e r c ê s . A ex-
p e d i ç ã o dividia-se em u m a parte m a r í t i m a c terrestre.
A e s q u a d r a sahiu de S a n t o s e m M a r ç o de 1679
p a r a o R i o da Prata. A esquadra a r r i b o u por diversas
vezes e na u l t i m a despersou sc. E n t ã o o general foi
p o r t e r r a a i l h a d é S . C a t h a r i n a , o n d e fez q u a r t é i s , cas.i
de a l f â n d e g a . D a h i e m b a r c o u p a r a soecorrer d . M a -
n o e f n a c o l ô n i a cio S a c r a m e n t o . Naufragou em cami-
n h o . D . R o d r i g o f o i t r a t a r das m i n a s de P a r a n a g u á .
A h i fez u m a e n t r a d a a t é as a'deias d e S . F r a n -
cisco c c a m p o s de Goy;.n:.zes.
N a d a encontrou e m P a r a n a g u á , n à o obstante todas
as d e l i g e n c i a s q u e fez.
D e u r e g i m e n t o ao s e r v i ç o das m i n a s c m l í l de
A g o s t o de 1 6 7 9 . V e i u d e p o i s p a r a S a n t o s e S. Paulo.
(1680).
R e s o l v e u e n t ã o fazer e n t r a d a nos s e r t õ e s de « S a -
r a b u ç ú o , elegendo a c â m a r a de S. P a i i l ò o cabo M a -
thias C a r d o s o d c A l m e i d a , q u e d . R o d r i g o n o m e o u por
p r o v i s ã o de 2 8 d c j a n e i r o cie 1 6 8 1 . Fez se a entrada ao
s e r t ã o , passando no arraial de S. P e l r o . A h i o filhj? de
F e r n ã o D i a s Paes e n t r e g o u - l h e u m i esn-.eralda encon-
t r a d a por seu p a i . Passou ao a r r a i a l do S u m i d o u r o ,
o n d e f a l l e c c u d . R o d r i g o em 1 6 8 2 .
F i c o u na posse da a d m i n i s t r a ç ã o das minas, o pro-
v e d o r de S . Paulo M a n o e l R o d r i g u e s de O l i v e i r a a t é
que, p o r c a r t a de 1 2 e 15 de M a r ç o de 169-1, ao g o v e r -
n a d o r d o R i o A n t ô n i o Paes de Sandc, o r d e n o u passasse
a S . Paulo, c o m a d m i n i s t r a ç ã o das minas.
— 252 —
F a l l c c e n d o Sandes no R i o , f i c o u no g o v e r n o o
mestre dc c a m p o S e b a s t i ã o de C a s t r o C a l d a s . Neste
t e m p o se e x t r a h i u no s e r t ã o d c « S a b a r a b u c u » os p r i -
m e i r o s f a i s q u e i r o s d c o u r o . Isto f o i c o m m u n i c a d o p a r a
a m e t r ó p o l e por Garcia Rodrigues que foi o descobri-
dor.
M a t h i a s da C u n h a e n t r e g o u o g o v e r n o a d . M a -
n o e l L o b o , n o m e a d o p o r p a t e n t e de 8 d c O u t u b r o d e
CAMTULO X
!-« r.o mesmo dia cm que a câmara reyisíron . i p.i:e:il;, isto c 27 Si At?il.
i U
— 255 —
N o R i o f o i q u e e l l e v e i u r e ü n i l - o s c ò r g á n i s á l os.
F o r ç a s de g u e r r a , m u n i ç õ e s , p e t r e d i c i s » m a n t í m e n -
tos, e m s u m m a t u d o d e q u e necessitava a e x p e d i ç ã o f o i
e x c l u s i v a m e n t e t i n d o d o R i o de j a n e i r o , c u j a s i t u a ç ã o
e c o n ô m i c a c c o m m c r c i a l n à o p c r m U t i a essa d e r i v a ç ã o de
f o r ç a s , c e m q u e c i l a c o r r i g i o a s i t u a ç ã o de d i f h c u l d a d e s ,
e m q u e sc a g i t a v a ha annos, e da q u a l , a custa tó dos
seus e s f o r ç o s , p r o c u r a v a s a h i r .
O r e c r u t a m e n t o f o i f e i t o e m l a r g a : escala, para or-
g a n i s a r sc tres c o m p a n h i a s . Os t r a b a l h a d o r e s dos enge-
nhos, seus mestres d c assucares e outros o p e r á r i o s ,
a b a n d o n a r a m as fazendas para r e f u g i a r e m - s e nas flores-
tas, c o m o u m a g a r a n t i a de sua l i b e r d a d e pessoal.
A s i n c o n v e n i ê n c i a s d i s t o f o r a m patentes ao c r i t é r i o
da c m i r a , q u e n ã o d e m o r o u - s e a i n f o r m a r a d . M a -
noel,* q u e j á se a c h a v a no sul, t e n d o e m b a r c a d o r.o
p o r t o de Santos, p o r carta d c 2 9 de M a i o d c 1 6 8 0 « a
f a l t a q u e a este p o v o c o m e ç a a e x p e r i m e n t a r na leva
q u e sc faz d c g e n t e para essa t e r r a nova, sendo os mais
p r e j u d i c a d o s neste os Senhos es d c E n g e n h o c lavra-
dores, a q u e m r e p r e n d e r ã o os c a r p i n t e i r o s das m o e n -
cias e f e i t o r e s , sendo q u e nestes c a r p i n t e i r o s s ã o conta-
dos os q u e s ã o p e r i t o s neste o f h c i o , p o r q u e n ã o c h e g ã o
a vinte os mestre*., sendo cento e t r i n t a e t i n t o s os E n -
g e n h o s , aos q u e fazem o b r a s com o t e m o r de q u e estes
s e n d o os m a s n e c e s s á r i o s n ã o t i v e s i e m p r i v i l e g i o p a r a
:
-fí'3
(1) Ami-xci <f» Rio por S. twbôa vol. 4' j>g.
!
\
— 256 —
(2; A J.(J dc Junho a HÍIU.U requer seja prordgaJ;i por maivO aiinos o
praso d; natf sçram jwjihofaJo* 05fifrgeuúosc sua* fabricai. Fri concedido pela
iMÓlrreíip do Cons. Ullr. dc 23 de Oulubro.
(3) Çoks,-lÍ9 Çòfís, Cllr, Inst. Hist.
— 257 —
p i t a n i a se d e v i a c o m m a i s especial r a z ã o p r a t ' c â r - s e
aquelle socoiro a favor d a I n f j n t a i i i i , que sahira d o
R e i n o a s e r v i r e m p a i t a t ã o d i s t a n t e , l a r g a n d o as con-
v e n i ê n c i a s da P a u ia e m q u e nascer, m , f a z e n d o se p o r
isso m a i s d i g n o s de t o d a a a t t e n ç ã o , p o r n ã o f i c a r e m
expostos a p a d e c e r e m as i n c o m m j d i d . i d e s q u e d o c o n -
trario experimentariam. Ê s t 1 r e s o l u ç ã o trouxe o maior
r e s e n t i m e n t o á s f a m i i i . s. (1)
Pds as l e i s d.) j u s t i ç a e da m o r a l de u m t h r o n o
i n d i f f e r e n i c á h o n r a da f a m i l i a e ao papel de dev..ssos,
representado; pelos d e f e n s o r e s d a h o n r a , do b r i o e d a
. i n t e g r i d a d e da N a ç ã o . M a s s ó P o r t u g a l m e r e c i a esse
throno !
V o l t e m o s ao g o v e r n o do R i o .
E m a u s e n c i a d e D . M a n o e l L o b o , ficou rio g o v e r n o
d o R i o o mestre de c a m p o d a Bahia, g e n e r a l J o ã o T a -
vares R o l d ã o , q u e f ô r a n o m e a d o g o v e r n a d o r d o R i o p o r
c a r t a d c 12 dc N o v e n a b r o de 1 6 7 8 ( 2 )
F o í u m g o v e r n o t r a n s i t ó r i o , a i s i m c o m o o cio mes-
tre de c t m p o Pedro G o m e s , n o m e a d o a l i ) de O u t u b r o
e t o m a n d o posse da a d m i n i s t r a ç ã o a 2 8 d c J a n e i r o
de 1 6 8 1 .
T o d a v i a , R o l d ã o n ã o a l c a n ç o u m a n t e r u n i d a d e de
vistas c o m a G a m a r a , q u e o d e n u n c i o u ao rVÍ, n ã o s ó
p o r t e r l a n ç a d o m ã o d a m a d e i r a do C o n s e l h o , p a r a
c o n s t r u i r u m patacho para s i , c o m o pelas r e l a ç õ e s i n t i -
m a s c p a r t i c u l a r e s c o m u m j u d e o , p o r c u j a s m ã o s fazia
muitos tractos illicitos, prejudiciaes á R e p u b l i c a . Pedia
e n t ã o i n s t a n t e m e n t e a r e s t i t u i ç ã o de D . M a n o e l .
d e m o n s t r a i ' o e r r o d o s o b e r a n o , p o r q u e , p a r a o acaba-
m e n t o das o b r a s n ã o c h e g a r a m a m e t a d e das c o n J e m n a -
ç Ô e s da j u s t i ç a e os sobejos d a casa da moeda. F o i pre-
ciso fazer se, na a d m i n i s t r a ç ã o de A r t h u r d c S á , u m o r ç a -
m e n t o , p a r a q u e os recursos fossem t i r a d o s d a F a -
zenda R e a l .
C r e o u se a i n d a o t . i b u l o d c 1:000$, p a g o s c m
q u a t r o annos, p a r a d e s e n l u p i r a bar; a d o Viann.v.
A Camri"a cio R : o l u c t a v a c o m serias d i f f i c u I d a d e s
p a r a concertar a p o n t e do rio cio S. C h i i s t o v ã o . c o n a e r t o
indispe nacvel a o s j r . t c r c s s e s da ci Jade, p e l o t r a n s i t o n ã o
s ó para essa zona u r b a n a , c o m o p a r a S. Paulo e as m i -
nas do i n t e r i o r , e q u e se fazia j u ; t ' . m e n ' . e p o r e . t a
estra I a .
A sua s i t u a ç ã o o r ç a m e n t a r i a e r a a p e i o r p o s s í v e l .
S u a s r e n d a s m o n t a v a m e m 3 7 1 $ c as despezas e m
044& (1) ( 1 6 9 6 ) . X e s t e mesmo a n n o a C â m a r a p e d e
p r o r o g a ç ã o por mais seis annos de m o r a t ó r i a dos
lavradores.
E m vista do atraso e m q u e f i c a v a a C â m a r a d o
p a g a m e n t o d o d o n a t i v o , d o d o t e da r a i n h a da I n g l a t e r r a
e paz de H o l l a n d a , e:;tava a c a p i t a n i a a d e v e r e m 1 6 8 7
f » 3 : 3 3 3 $ 3 2 S . F o i despachado o desembargador J o ã o da
R o c h a P i t t a , p a r a fazer a c o b r a n ç a d o d o n a t i v o , e n t r e -
g a n d o - o aos recebeclores d a F a z e n d a R e a l 3 9 : 9 9 2 $ 3 9 4 .
ficando pinda o debito de 13:340*034. (1)
E ' fácil c o m p r c h e n d e r os i n c o n v e n i e n t e s q u e essa
cobrança rápida produziu, aggravando a s i t u a ç ã o da
c a p i t a n i a . E l l a o b i o u c o m o a d e c r e t a ç ã o de m u i t o s
i m p o s t o s a e x h a u r i r as suas f o r ç a s e c o n ô m i c a s , a l e m das
scenas d e e x e c u ç ã o j u d i c i a r i a q u e t i v e r a m l o g a r .
E m J u n h o de 1 6 8 7 , a C â m a r a o r d e n o u a s u s p e n s ã o
do p a g a m e n t o d e s t e d o n a t i v o , o q u e m o t i v o u a c a r t a
r e g i a de 3 1 de O u t u b r o de 1 6 8 9 e m q u e o r d e n a q u e
fltanto q u e a r e c e b e s s e m , fizeísem l o g o c o n t i n u a r com
o d o n a t i v o q u e t i n h a m l e v a n t a d o c o m o p r e t e x t o de q u e
h a v i a m s a t i s f e i t o ao p a g a m e n t o q u e lhe fcr.í l a r ç a d o
p a r a a c o n t r i b u i ç ã o d o d o t e d a lnglat< rra c paz d a 1 l o l -
l a n d a c o c o n t i n u a r e m a t é d a r e m c o m a c Epresen t a r e m
q u i t a ç ã o de c o m o t i n h a m i n t e i r a d o o que a q u e l l a capi-
tania e s t a v a o b r i g a d a , visto o h a v e r e m l e v a : . t i d o sem
ordem de S. M . »
D e n o v o o p o v o passou a p a g a i o, estando e n t ã o
e m a t r a s o a C â m a r a e m C2 m i l cruzados. ( 1 )
A l é m das d i f i c u l d a d e s em q u e sc agitava a capita-
n i a , ^ p r o v i s ã o r e g i a de 18 de Julho de 1GS1, q u e i n -
vestia os j e s u i t a s d a a d m i n i s t i a ç ã o e s p i r i t u a l c t e m -
p o r a l dos i n d i o s , (2) v e i u p r o d u z i r u m a a l t e r a ç ã o no
t r a b a l h o a g r í c o l a das capitanias.
O s paulistas, c o m os h a b i t a n t e s d a l i h a G r a n d e e
v i l l a s . d e S. Sebast ao c P a r a t y , p e n e t r a r a m n o s e n ã o a
c p t i v a r o i n d i o , c h e g a n d o a t é a a p r i s i o n . r os escravos
des l a v r a d o r e s d o R i o , ticst. u i r suas l a v o u r a s e m a t a r
o seu g a d o ,
Isto m o t i v o u u m a r e p r e s e n t a ç ã o da c â m a r a , c m
3 0 d c J u n h o de 1GS4, d a n d o a m e t r ó p o l e ordens t e r m i -
n a n i e j a D u a r t e Chaves, p a r a p r o v i d e n c i . i r a respeito
c ao o u v i d o r de a b r i r devassa a f i m de p u n i r os c r i m i -
nosos.
M a s , a m e t r ó p o l e b e m sabia q u e a u m acto q u a l -
q u e r q u e reformasse o r e g i m e n d o i n d i o de e . t a r sob a
a d m i n i s t r a ç ã o d o g o v e r n o c i v i l , s e g u i r - s e - h i a n i n a per-
t u r b a ç ã o da o r d e m .
C o m o se v ê , os poderes p ú b l i c o s c o n t i i b u i r a m
para a d e c a d ê n c i a e m q u e c a h i o a c a p i t a n i a d o R i o , a ; é
o fim d o s é c u l o , p o r u m c o n j u n e t o de c.uisas que p r o c u -
r a r e m o s a d i a n t e estudar.
J á e m 1G83 n ã o p o u d e c e l e b r a r os f u n e r a e : p e l o
f . d l e c i m e n t o de D . A f f o n s o e da R a i n h a .
Á s c o m m u n i c a ç õ e s para c o m a C o l ô n i a d o S a c r a -
m e n t o d e r a m l u g a r a i n t r o J u c ç ã o na c i r c u l a ç ã o dos
m e i o s rei.es h e s p a n h ó e s .
A c a n u r a r e s o l v e u q u : eiles c.reul issem c o m o
v a l o r d c 4 0 r é i s , par isso q u e a m e n o r f r a c ç ã o m o n e t á -
r i a era de 8 0 r e i s . O r e i a p p r o v o u c s , a r e s o l u ç ã o , p o r
carta de 2 d c D e z e m b r o de 1 6 8 4 .
O u t r a r e s o l u ç ã o de c a r a c t e r g e r a l f o i t o m a d a c m
r e l a ç ã o a s a ú d e p u b l i c a , e m v i s t a de cases r c p c f d o s d e
m o l é s t i a de i n f e c ç ã o . A C â m a r a r e v o g o u as l i c c r . ç s
d : d a s p : . r a c o r t u m c s no i n t e r i o r d i c i d a t e , o b r i g a n d o
q u e e s ^ t r a b a l h o fosse f e i t o c e m b r a ç o s f o r a d o s e u
perímetro.
S u b s t i t u i u a D u a r t e Chaves, J o ã o F u r t a d o de M e n -
d o n ç a , n o m e a d o a 2 5 de A g o s t o de 1 6 8 5 , a s s u m i n d o a
a d m i n i s t r a ç ã o a 2 2 de A b i i l d o anno i c g u i n t e . _ «
E s t u d e m o s a g o r a as causas g e r a e s d a crise q u e
a f í e c t o u o R i o d e j n e i r o p t t esse t e m p o .
L o g o q u e assumiu a a d m i n i s t r a ç ã o , c o m m u n i c o u
ao Soberano q u e e n c o a t r - u « a q u c l l e p o v o c o m o p p r c s -
s ã o da f a i t a d e s m-.ntimentr.s, q u e l h e o o c e a s i o m os
q u e t e d o s os a nios r . m i e t t e m de < o r c o r r o ao p r e s í d i o
e!a C o l ô n i a d o S a c r a m e n t o , sendo i r s i s s e n s í v e l q u e n ã o
t i r a vã o vantagens disto,, p o r q u e os c a s t e l h nos de B u e -
nos A y r e s n ã o p e r m i t t i ã o o m a i s l e v e c o m m e r c i o p e r
a q u e l l a p a r l e , r.em da\ ã o e s p e r a n ç a q u e o consentissem
chi algum tempo.
N ã o h a v i a c o n v e n i ê n c i a pois d c se m a n t e r a q u e l l c
p r e s i d i o ; p e l o c o n t r a r i o f. zia-se a despeza a n n u a l ele
600$ e 300$.
A l é m disto os solda-los p a s s a v ü o - s e p . . r a os caste-
lhanos, (1)
J á c m J u n h o recebe cartas d e C h r i s t o v ã o O i nellas,
g o v e r n a d o r da C o l ô n i a , e m q u e l h e p e d e reir.essa d e
p e d i u i n f o r m a ç õ e s ao o u v i d o r do R i o T h o m é de A l m e i -
da e O l i v e i r a q u e disse q u e « c o m o se g o v e r n a ho.e a
C o l ô n i a , n ã o s e r á de n e n h u m l u c r o , n e m a v . . n ç o á ta-
zsnefa r e a l . mas antes dc despezas, c d e t r i m e n t o ã o s ha-
b i t a n t e s d o R i o , e m r a z ã o de q u e n ã o t i n h ã o c o m m e r -
c i o , c o m os m o r a d o r e s de Buenos A y r e s , [o: q u n t o o
G o v e r n o C h r i s t o v ã o d e O r n e l l a s n ã o consentia q u e os
houvesse, q u e r e n d o os s ó p a r a si, congr; ç m d o - s e com
o de B u e n o s A y r e s c o m estreita amisade e c p r f f h p o n -
d e n c i a de t a l sorte q u e ambos f . z i ã o o seu negeeio e
p a r a o poyo era t ã o p r o h i b i d o da p a r t e do g o v e r n a d o r
castelhano q u e t i n h a - i s t o t o d a a v i g i l a n c i t e da do d i t o
C h r i s t o v ã o q u e l h e fazia a v U o q u a n d o o c c u l l a m e n t e
Uião os P o r t u g u e z e s fazer a j g u m negocio, c o m o s u c e -
dera ultimamente com u m l a n t h ã o . (1)
A Colônia n ã o foi abandonada.
E m 1 6 9 2 o R i o ficou quasi sem g u a r n i ç â o . Os
m e l h o r e s soldados f o r a m r c m e t i i d o s , fiemdo cs inváli-
dos e i m p : c ? t . v e i s . A d e f e a da cidade consistia nos
deus f o r t e s St... C r u z e S. | o ã o , podendo p e l o C a n a l en-
t r a r q u a l q u e r esquadra C desembarcar, p o r f a l i a de ele-
a u g m e n t a d o u m p a l m o de c o n s t r u c ç ã o . P o r u m e s f o r ç o
de g r a n d e p a t r i o t i s m o e l l a t i n h a c o n s t r u í d o de 1 6 8 5 a
1687 m i l e o i t o c e n t o s b r a ç a s de c a n o .
O p r ó p r i o C o n s e l h o U l t r a m a r i n o , e m s e s s ã o de 18
d e N o v e m b r o de 1 7 0 1 , q u a n d o r e s o l v i a sobre as recla-
m a ç õ e s d a C â m a r a para r e p a r a r - s e as fortalezas, e con-
certar-se a c a d e i a e a casa d a p r ó p r i a c â m a r a , d i z i a q u e
« e s t e s m o r a d o r e s d o R i o cie Janeiro s ã o os Vassalos de
Vossa M a g e s t a d e , q u e c o m m a i o r zelo t e m c o n c o r r i d o
de sua fazenda p a r a o b e n i f i c i o e c o n s e r v a ç ã o d a q u e l l a
conquista, achando-se mais gravados que nenhuns ou-
tros das C a p i t a n i a s d o l i s t a d o d o Brazil, c o m q u e se f a -
zem d i g n o s d a r e a l a t t e n ç ã o de Vossa M a g e s t a d e » . ( 1 )
S ó neste a n n o f o r ã o d a d a s as o r d e n s para essas.
obras.
^ E n t r e t a n t o , é preciso p o n d e r a r q u e desde 1693 a
m e t r ó p o l e e a colônia s u s p e i t a v ã o u m a invasão france-
za, n ã o s ó p o r m u i t o s i n d í c i o s , c o m o pela estada na Ilha
G r a n d e d c q u a t r o n á o s francezas. ( 2 )
E o R i o de J a n e i r o mantinha-se nas peiores c o n d i -
c ç õ e s possiveis de d e f e z a a t é 1 7 0 1 !
A o passo q u e os interesses d a c i d a d e e r a m a b a n -
d o n a d o s , os pequenos recursos e r a m applicados á C o l ô -
nia, s e m a m e n o r v a n t a g e m á p r o s p e r i d a d e d o R i o , n e m
mesmo do Brazil.
A q u i l l o q u e a c â m a r a sonhara, q u a n d o l e m b r o u a
c o n s t r u c ç ã o de u m a p r a ç a n o s u l , p o r m e i o d a q u a l con-
quistasse a l . b e r d a l c d c n a v e g a ç ã o , nunca o a l c a n ç a r a .
S e m e n t e n a c a r t a r e g i a de 4 de D e z e m b r o d c
1697 f o i c o n c e d i d o « q u e os m o r a d o r e s d o R i o podessem
m a n d a r seus navios a nova C o l ô n i a , sem i m p e d i m e n t o
a l g u m , p o d e n d o gozar d a q u e l l e n e g o c i o q u e se p ó d c
t i r a r d e l i a . » (3)
(1) Arei. ,'a Diit. FeJ. d? Junlio >1e 1«>7, pap. 259.
,'J) Aclidle trti(>reO)OS uiellinr deste j*mrn|<l«.
(3. Cíd. de S.g. Mss. de 1ÜÜ1-1700 ftattí ffWi,
— 2G6 —
E porque a c â m a r a n ã o q u i z c u m p r i r a e x e c u ç ã o
d a f i n t a cios 5 m i l cruzados, o g o v e r n a d o r S e b a s t i ã o
Caldas teve o r d e m d c « c h a m a i - a a sua p r e s e n ç a p a r a
reprehendel a.» (1)
Eis os e f f e i t o s q u e p r o d u z i u a C o l ô n i a do S a c r a -
m e n t o s o b r e o R i o de J a n e i r o .
E s t u d e m o s agora as causas d e o u t r a o r d e m q u e
c o n t r i b u i r ã o paia o resultado a que chegou a capitania
d o R i o ; m a s antes disto v e j a m o s o g o v e r n o de J o ã o
F u r t a d o de M e n d o n ç a .
O facto q u e m a i s i m p r e s s i o n a v a a c a m a r a e a f f e -
ctava os interesses dos lavradores e r a a d c s v a l o r i s a ç ã o
d o assucar, q u e se d e r i v a v a de u m c o n j u n e t o de causas,
q u e s e r ã o estudadas b r e v e m e n t e . D e s d e j á a p o n t a r e -
m o s c o m o p r i n c i p a l a f a l t a d c m o e d a , d e q u e sc resen-
t i a a c a p i t a n i a , p r i n c i p a l m e n t e deste a n n o e m d i a n t e .
A l é m d i s t o a f a l t a d c l i b e r d a d e de n a v e g a ç ã o , da l i b e r -
d a d e da i n d u s t r i a da a g u a r d e n t e , c o n t r i b u i o p a r a o
m e s m o resultado.
Mas, a m e t r ó p o l e c o m p r e h e n d c o q u e s a n a v a a c r i -
se, v a l o r i s a n d o o assucar c o m a taxa d o m i n í m o do seu
p r e ç o e das p r o d u ç õ e s i n d i s p e n s á v e i s p a r a o s e u f a -
brico.
A s s i m , a l e i d e 2 8 de F e v e r e i r o de 1G88 e s t a t u i u
q u e « d a q u i c m d i a n t e se n ã o possa v e n d e r a a r r o b a d o
assucar fino da B a h i a p e r m e n o s p r e ç o q u e até* 9 5 0 r s . ,
o assucar r e d o n d o a t é 8 5 0 r s . , o b r a n c o b a i x o a t e 7 5 0
r s . , o m a i s corado 4 0 0 r s . ; e o assucar de P e r n a m b u c o
c P a r a h y b a a a r r o b a do b r a n c o fino a t é 9 0 0 r s . , d o
branco redondo a t é 800 r s . , do branco b a i x o a t é 700
r s . , e dos mascavados a t é 3 5 0 r s . ; e d o R i o d c Janeiro
do branco fino a t é 800 r s . , do redondo a t é 700 r s . , c
do mascavado a t é 3 5 0 r s . u ( 2 )
E c t a t u i u t a m b é m , c o m o f i m d e s e p a r a r as quali-
q u a c s d e v i a n a u t o r i d a d e i n q u i r i r dos senhores q u e b a r -
baramente os c a s t i g a v a m , p a r a s e r e m o b r i g a d o s a v e n -
dei-os e processal-os s u m m a r i a m e n t e , q u a n d o i n f l i g i s -
sem as o r d e n s regias q u e p r e s c r e v i a b r a n d o s c a s t i -
gos ( 1 ) .
Estas ordens f u r a m m a l c o m p r e h e n d i d a s pelos i n -
felizes escravos, q u e e n t e n d e r a m p e r t u r b a r a o r d e m
sublevando-se p o r c o n t a r e m c o m as g a r a n t i a s das cartas
regias q u e a l e m d i s t o prestaram-se a d e n u n c i a dos ex-
ploradores.
O G o v e r n a d o r d o R i o apressa-sc a c o m m u n i c a r as
i n c o n v e n i ê n c i a s que iam resultando dasmedidastomadas.
E n t ã o a c o r ô a , n a c a r t a de 23 d c F c v . d e 1 0 8 9 r e v o g a
as o r d e n s a n t e r i o r e s , m a n d a n d o o b s e r v a r o q u e as leis
d i s p u n h a m s o b r e a m a t é r i a c «si p a r e c e s í e n e c e s s á r i o
para evitarem-se p e r t u r b a ç õ e s , q u e j á c o m e ç a r a m e n t r e
os s e n h o r e s e os escravos, p e l a n o t i c i a q u e t i v e r a m da-
q u e l l a s o r d e n s se lhes fizesse s a b e r p o r a l g u m a c t o p o -
sitivo a r e s o l u ç ã o u l t i m a m e n t e t o m a d a . ( 2 )
E ' f á c i l p r e v e r a i n f l u e n c i a q u e e x e r c e u essa r e s o -
l u ç ã o n o e s p i r i t o dos s e n h o r e s de e n g e n h o , q u e c o n t a -
v a m c o m cila p a r a e x a r c e b a r o seu s e n t i m e n t o s a n g u i -
nário. Precisava d a r a p r o v a per « u m acto p o s i t i v o »
da p r o t e c ç ã o e m que estavam collocados pela l e i e d a
i m p u n i d a d e d >s seus m a r t y r i o s e b a i b a r i d a d e s .
Substituiu-lhe na a d m i n i s t r a ç ã o D . Francisco N a -
p e r d e A l e n c a s t r o , n o m e a d o p o r c a r t a r e g i a d e 2 4 de
F c v . d c 168&J t o m a n d o posse d o g o v e r n o a 2 9 de Ju-
nho d o m e s m o a n n o . ( 3 )
O g o v c i n o de D . F r a n c i s c o f o i u m g o v e r n o t r a n -
s i t ó r i o . E s t a r i a na a d m i n i s t r a ç ã o , ate a c h e g a d a de
L u i z C é s a r de M e n e z e s . Devia e n t ã o seguir para a
!1) Oii/. ,/o Cons. L'ilf. do Inst, Iliít. Ncsle IIICÍIT.0 mss. consta que
meitno tfomirgi» de Dritto. cm caria dr 10 de l'"eV. etcievi- a S. M. disendo
qne sé animava a faser .1 coisquistd du Liguna, torra muito fértil e abundante
dc pesca '• cario c para a maíí lavoura, com a TÍsinli»DÇS da dc Bucnoi Ayres,
Para o <\\ic f « .'m is embarcações. 11 nu *~<ic perderU lia H anno» c onlra cm
qu« dc presente iú * sua custa com seu* tildos, pata a exploração de minai de
Prata. Itcsulvcu-sc tormar informaçòcs ao governador do Rio,
': 1 •
270 —
á s a r b i t r a r i e d a d e s q u e p r a t i c o u c o m os a t t r i c t o s , q u e
creou c o m a a u t o r i d a d e c i v i l , m o t i v a r a m as m a i s serias
r e p r e s e n t a ç õ e s d a C â m a r a , as q u a c s d e r a m l u g a r a
v i n d a d o s y n d i c a n t c d r . B e l c h i o r da C u n h a B r o x a d o ,
que a p u r o u no R i o as, a l l e g a ç õ e s dos factos d a m a i o r
gravidade, imputadas á suprema autoridade religiosa
d a capitania.
E r a p a r a l a m e n t a r q u e o b i s p a d o c r e a d o no R i o
p o r b u l l a d c 1 0 de N o v e m b r o d e 1 0 7 6 ( 1 ) iniciasse suas
importantes f u n e ç õ e s , com um representante dc q u e m
f o r a m d a d a s provas d c u m p r o c e d i m e n t o m o r a l e l e g a l
profundamente incorrecto.
Discutida a q u e s t ã o e m s e s s ã s de 14 dc D e z e m -
b r o de 1 6 8 9 , f o i r e s o l v i d o ser o bispo c h a m a d o a
corte. (2)
E m r e l a ç ã o aos interesses d a c i d a d e , a a d m i n i s -
t r a ç ã o d c D . F r a n c i s c o teve de a t t e n d e r p a r a a p i r a t a r i a
q u e se fazia na costa, p r i n c i p a l m e n t e e m C a b o F r i o .
O r g a n i s o u d u a s c o m p a n h i a s , a q u e c h a m o u com-
panhias dos nobres, para guarnecerem u m a n á o que
t i n h a d e v i g i a r a costa, d e v e n d o e x p c l l i r os p i r a t a s d e
Cabo-Frio. ( 3 )
P o u c o mais de u m a n n o a d m i n i s t r o u o R i o , p o r -
q u e , c m A b r i l tle 1 6 9 o , c h e g a r a L u i z C é s a r d c M e n e -
zes, q u e t o m o u posse d o g o v e r n o a 2 6 do m e s m o mez,
povo** raras eiãm as mulheres íieis àos sei;s marido*, <\\\z r.iut iraciavi do i-ullo
divino, que na villi de S. Paulo Onde esteve 3 • unu •. f->i oiuilo murmurado,
em vista dc MUS ieljfõ:s com d v - mulheres; que indo um frade purgar u*n
sentido, pediu que uo fim pedi»;* uma Avc'Mar<a pela sua ruuihcr que estava de
pa*1<>; qje das villas du sul trouxera m-r > lazcnda c uiutto ouro ; impnnlia
tribut»* subre que fosse caçar indio. por cada jurssa 2 patacas para si o por cada
iudío 1 tostão ; que um S. Panlo tinha nm amigo assassino, a qnem encarregou
não consentir na ida do ouvidor cm S. Paula, p3ra nao prejudicar seus. inte-
resses .
(3) Cod. da Prov, <fj / W W a — do Arch. Publ. vol. 13.
— 271 —
t e n d o sido n o m e a d o p o r p a t e n t e de 2 de J a n e i r o d c
1690. (1)
O seu p r i m e i r o acto f o i v i s i t a r as f o r t a l e z a s . Esta-
v ã o i m p r e s t á v e i s , a r r u i n a d a s . M a s , os concertos n ã o
p a s s a v ã o de s i m p l e s r e p a r o s .
A crise f i n a n c e i r a c h e g a v a ao seu e x t r e m o .
A b e x i g a t i n h a d i z i m a d o os escravos.
E a C â m a r a n ã o a l c a n ç a v a p e r m i s s ã o para e x p o r -
tar a g u a r d e n t e p a r a A n g o l a , e m t r o c a d o n e g r o . E m
carta de 4 de N o v e m b r o de 1 6 9 0 , o r e i o r d e n a a L u i z
C c s a r q u e t o m e t o d a s as p r o v i d e n c i a s para p r o h i b i r essa
e x p o r t a ç ã o . (2)
A s remessas p a r a a c o l ô n i a d o S a c r a m e n t o d e
pessoal e m a n t i m e n t o s l i n h ã o ex nau r i d o o R i o d c Ja-
neiro, a l é m d o peso t r i b u t á r i o sob q u e v i v i ã o seus h a b i -
tantes .
E n ã o f a l t a v a , d e n t r e as pessoas consultadas p e l o
r e i , p a r a o p i n a r e m sobre a causa d a crise, q u e m a n ã o
ligasse a essa t r i b u t a ç ã o e x a g e r a d a , c o m a q u a l desva-
l o r i s a v ã o - s e t o d o s os p r o d u e t o s a g r í c o l a s , p r i n c i p a l -
mente o assucar.
Assim é que no parecer dada por J o ã o Peixoto
V e i g a s ao g o v e r n a d o r d a B a h i a d i z i a q u e q u e «o repa-
r o q u e n ã o c a h i a de t o d o o c o m m e r c i o d o R e i n o pelos
f u i c t o s d o Brazil, n ã o consiste e m q u e se f a ç â o m e l h o -
res os assucares d o Brazil e se divise sua q u a l i d a d e pe-
las 3 l e t r a s n e m c m q u e sc d e t e r m i n e o p r e ç o n o Brazil,
nem o r d e n a r se q u e os mercadores v e n d ã o suas fazen-
das a assucar, sem c o n t r a c t a r l o g o o p r e ç o o mas s i m
« e m ttrar-se d o tabaco os r i g o r e s d o estanque a c a r g o
i n s u p o r t á v e l d o v i n t é m p o r l i b r a , ficando os d i r e i t o s
q u e antes t i n h a c alliviar-se o assucar dos q u e lhe car-
r e g a r ã o n o t e m p o q u e elle t i n h a p r e ç o g r a n d e . »
existia, d e s v a l o r i s a n d o a i n d a mais a m o e d a do B r a z i l ,
j á t ã o i n s u f f i ciente p a r a as t r a n s a c ç ò e s . N o B r a z i l s ó
corria a v e l h a m o e d a . A l e i n ã o m a n d a n d o s u b s t í t u i l - a
pela nova, creava d o i s p a d r õ e s m o n e t á r i o s na mesma
q u a l i d a d e de m o e d a , c u j o s i n c o n v e n i o n t e s s ã o i n t u i t i -
vos .
E l l e s a g u ç a r i a m a e s p e c u l a ç ã o p o r u m processo
m u i t o s i m p l e s : as t r a n s a c ç Õ e s c o m m e r c i a e s j á n ã o se
l i q u i d a r ã o e m assucar, c o m o dantes, e s i m em d i n h e i r o
q u e e m i g r a v a p a r a o R e i n o . D a h i a crise que j á e x i s t i a
da i n s u f f i c i e n c i a d a m o e d a . A ç o r a os negociantes
e x i g í ã o no p a g a m e n t o d c seus d é b i t o s a nova moeda,
a u g m e n t a n d o o agio c o n t r a a v e l h a q u e e r a a ú n i c a
q u e c i r c u l a v a no B r a z i l .
N ã o f o r a m i n d i f f é r e n t e s á C â m a r a d o R i o essas
inconviendas, que procurou corrigir dc accordo com o
governador.
L o g o q u e L u i z C é s a r a s s u m i u a a d m i n i s t r a ç ã o tra- •
ctou d c p ô r e m e x e c u ç ã o a l e i , fazendo p u b l i c a r o seu
b a n d o d c 2 7 d c A b r i l , p e l o q u d as novas m o e d a s cor-
r e r i ã o c o m 2 0 */. de a g i o e as velhas, das quaes s ó c:r-
c v l a v ã o no R i o os s e l l o s c patacas, . peso, devendo a
oitava v a l e r 2 $ õ 0 0 , a o n ç a 2 2 $ e o m a r c o 9 6 $ e o g r ã o
20 rs. (1)
A C â m a r a representa c o n t r a essa r e f o r m a . E de-
pois de l a r g a d i s c u s s ã o , c m u m a das suas s e s s õ e s , em
q u e f o r ã o o u v i d a s pessoas c o m p e t e n t e s , orTereçe á con-
s i d e r a ç ã o d o g o v e r n a l o r u m a proposta, q u e sendo
acceita, c o m m u n i c a - a ao r e i , p o r c a r t a de 24 de Ju-
nho. (2)
A C â m a r a j á t i n h a d i r e c t a m e n t e representado a
c o r ô a s o b r e as inconveaie í e h s da r e f o r m a , p e d i n d o q u e
o agio c o n c e d i d o á s novas m o e d a s . s e estendesse á s
velhas.
N a c ^ r í a a l l u d i d a , L u i z C é s a r fez v ê r q u e o des-
c o n t e n t a m e n t o p u b l i c o , causado p e l a !e«, c h e g o u ao ex-
t r e m o de u m c o m e ç o d c a m o t i n a ç ã o q u e p a r a p r i v a r ,
o r á e t í o u q u e se fizesse o q u e fosse m a i s c o n v e n i e n t e ao
serviço reai . A c c e i t c u a p r o p o s t a q u e lhe f i z e r a a j
C â m a r a « p o r l h e parecer capaz de r e m e d i a r o m a l por
ser f urida do na lei Ce S . M . q u e diz a m o e d a a t é a g o r a
f a b r i c a d a no r e i n o c o r r a c o m 2 0 '/• de v a n t a g e n s p a r a
os vassalos. » E c o m o , a i n d a d i z L u i z C é s a r , na c a i t a
a l l u d i d a , a m a i o r p a r t e da m o e d a q u e c o r r i a n e s t a c a p i -
tania s ã o os sellos e patacas q u e V . M . h a v i a m a n d a d o
c i r c u l a r e m a r c a r e q u e estavam c o r r e n d o p o r (540 r s .
os sellos e as patacas por Í Í 2 0 , ficavam v a l e n d o os d i t o s j
sellos 7 6 8 e aS patacas a este r e s p e i t o e c o m o p i r a cor- -J
r e r e m nessa f o r m a h a v i a g r a n d e p r è j u i s o ao p o v o e m
r a s ã o dos t r o c o s s o m e n t e a c e r e s c e n t a r a m 3^' r s . e m
cada sello com o e x e m p l o d e (pie no t e m p o e m q u e se 1
i n v e n t a r a m os sellos se l h e a c r e ç e n t ã O 4 0 r s . pela mes-
m a causa dos t r o c o s o q u e S . M . p e r m i t t i u . E m vista
d i s t o , t e n d o o r e q u e r i m e n t o f u n d a d o na l e i , m a n d e i
qv e s c observe « p o r q u e r.o m a i s d i n h e i r o m i ú d o r e q u e - .
r e r ã o corresse na f o r m a d a l e i e os t e l l o s e as patacas
q u e se achassem p o r s e r v i d i a r e m a r c a r q u e d i r e c t a -
m e n t e s ã o os p r o h i b í d o s p e l a dita l e i t e r ã o v a l o r c e r t o '*
d c peso a r a z ã o <_'e 1 0 0 o ° . o q u e das m< sm;-s l e i se cc- 1
lhe, p o r q u e as d i t a s patacas f o r ã o s o m e n t e p r o h i b i c a s
n;sse R e i n o p a r a n ã o c o r i e r e m m a i s q u e as m a n d e m S.
M . m a r c a r c d r c u l a r a o t e m p o e a s q u e n ã o c h e g a s s e m ao I
d i t o peso q u e c o n e s s e m c e s t a n d o c o r r e n d o os sellos «
s c m i l h a d o s por 6 4 0 c as patacas a este r e s p e i t o na f o r - j t â
m a da l e i de S . M . c se r e p u t a v ã o j á d i n h e i r o f a b r i c a d o ?
na casa da m o e d a c n ã o p o r patacas a oi lava ( ? ) de q i : e 4
d e v e r i ã o t e r o acereseentamento de 2 0 . E m v i ta
d i s t o m a n d e i p u b l i c a r por u m b a n d o q u e c o r r e s s e m os «
sellos s e m i l h a d o s e m a r c a d a s a 8 0 0 r s . e as patacas &J
q u e s ã o m e i o s sellos a 4 0 0 r s . c o m a i s d i n h e h o m i u d o
c moedas de o u r o t u d o , h a f o r m a da l e i . S M . re=ol- .
t
va o q u e f ô r c o n v e n i e n t e , m a s a t t e n d a ao cstaJo a m o -
t i n a l o d o p o v o c as m i s é r i a s d o t e m p o . » ( 1 )
Desde 1688 a m e t r ó p o l e tinha ordenado aocr er- 0V
p o r isso q u e a j u s t i ç a c o d i r e i t o e s t a v ã o do seu l a d o ,
a t é q u e a c a r t a r e g i a de 2 2 de N o v e m b r o de 1 6 9 1 v e i u
e s t e n d e r á s moedas d o Brazil o a i i g m e r t o de p a d r ã o
f e i t o par.i as do R e i n o , o r d e n a n d o q u e os sellos e m e i o s
sellos ( p a t : . c « s de 7 oitavas c m e i a e meias patacas de
3 oitavas e 3 / 4 ) corressem p o r 8 0 0 r s . c 4 0 0 r s . ( 1 ) O
g o v e r n o do R i o v e n c e u a causa c o m q u e a c o r ô a q u e r i a
t i r a r vantagens p a r a o T h c s o u r o d a m e t r ó p o l e , c o n t r a
os interesses d a c o l ô n i a , c u j a m o e !a era t a x a d a pela
l e i c o m o moeda falsa.
Pouco t e m p o depois, o p a d r ã o d a m o e d a s o f f r e u
nova r e f o r m a , por acto d c í i l de m a i o de 1 6 9 - í , e m q u e
se m a n d a v a a u g m e n t a r 6 ° / nos sellos c m e i o s sellos
0
q u e c o r r i ã o no Brazil, c 10 ° / nas m o e d a s d o R e i n o ,
0
a l é m dos 2 0 ° ; e p o r c a r t a r e g i a de 23 de F e v e r e i r o do
0
1 GCWHJ.I. tio Rh—vol. IV. coll, do Arch. PuH. L gi»l. Mss. da USOU
f
S e n d o d i f f i c i l e p e r i g o s a a remessa da m o e d a d o
R i o p a r a a B a h i a , a f i m d c ser cunhada, f o i r e s o l v i d o q u e
se abrisse a casa d a m o e d a , p a r a t r a n s f o r m a r a m o e d a
e x i s t e n t e e m m o e d a p r o v i n c i a l e a 1 8 de M a i o d c 1 0 9 7
depois qvc ncllc s; aliciou o valor extrinseco da moeda radizíndo O que nelle
havia c corria ao mesmo valor íntrcõSCca que tem de prsu e corre cm Por-
tugal.
As razoes que se exponde, âo e prnptizerào a V. M. para decretar esta
resolução o mandarexecutar, nao duvido en que párecejtsem política mente justas
e adequadas aos ministrc>s dc V. M. qne Ia de longe -• espe"ulativatncntc as
ponderarão. Porque razáo be que os membros se enuformem a cabeça ? Qae ao
accessorio siga o principal? K onde nào ha diversidade ms drogas que sc
com então, b. nâo haja respetivamente no valor deilas,
Mas, a experiência na praxe rrio?"rou o contrario. Porque l.<ntu que a
n>oeda que corria neste Estado, perdido o valor extrinseco, ia igualou no inlritir
seco om a rr.ocda corrente nesse Rcir.o, valendo igualmente uma t Outr.i
confofnte o peso, a razão de uni 'oslào cada oilava de prata, se Cúnièçòrt a
levai de todo este Estado para çssç llcin , irreparavelmente *.oda ou qua-i toda
,%
com grande daniRO c ruim , nào semente do-beia publico c conservação do listado,
1
a c â m a r a rcune-se e p õ e e m e x e c u ç ã o a o r d e m r e g i a .
O u t r a » m e d i d a s d c caracter p u b l i c o f o r ã o t o m a d a s .
Prohibe a sabida de q u a l q u e r n a v i o , sem c a r t a t ' c
s a ú d e , m e s m o os da junta do conimercio', prohibe o con-
s u m m o d o sal no R i o , s e n ã o o i m p o r t a d o do R e i n o ;
creia o r e g i m e n da s y n d i c a n c i a s o b r e os e s t r a n g e i r o s
q u e a d o p t a r e m a c i d a d e , i n d a g a n d o os m o t i v o s c i n t u i -
tos d c sua v i a g e m , d e v e n d o ser presos q u e ' l a n ç a r e m ,
fallatido nos dotes que cada. anr.o vã;> cotn as inuUi?rcs que leva a metrer reli-
yioías f as das que se casam com btmetis íiWri pita lá torrão.
Todos estos atO agora, que o valor extrinseco da moeda exrendia neste
Estudo ao desse reino, fozião estes negócios levando ou reuielleu-V' efleito* õu
letras seguras, mas agora que não lia quem passe estas e nos eü"eit;is- evperi-
irientâo tanta dir.:ir.uicáo c d;:::ota como teuliu dito, valeuãu-llle o di-lt?jio o
mesmo que cá,o mandão ou lcvào,e«»uio mvío mais pfozoptó e infallivel ds entrar
logo ou aos seis requerimentos ou aos seus negócios, li quanta Seja a sumuia
do dinheiro que desle modo ts leva Iodos anr.os. os negócios, re.iluei iui?rU<>5> :
du.los ÍU)|)i>fCadiis augtDO«liire^i ce valor. O cobre que *c vendia 240 rs. a libra,
vetid*-'* b"_c- par üiíO e 400. *K ferro que sc vendia a 3S rs. o quíntol. vtitde-
gehojea õfbVU. O* fifnfiroi di terra lambe ui Icvir.tararn dc preço. Oi caixòcs
de oiji) rs. p.issai ã.. a lãOO. Á leclu de 2/4 a tarefa. 2500; Os negros iWSOOO
;i Ií05i>')0 s todo.-, os OtitrÇj objeclos. A situação c miserável com a baixa do
preço de assurai a ISOJOc 15100 c excessos dc preço dos produetns para ter
elle fabricado.
PlsjO resulta a diminuição dos impostos di alfán^cgai assisi como, da
falta de inoeda, u^o luv:r quero arremate o* itotilr.i.lus^ porque a vista os
i*«iii11íiiíadpTe» lètti de Jar luplKKi pira propinas e outros 10Í para gastos. Já
diminuiu de V2i> mil cruzados a S0 mil.
A cansa de tudo sendo falta de moeda, o meio para corrigir c mandar
lavrai fluis miMiO:-'* de moeda provi nijal de p'Jla c ouro para todo o Br.iíií,
iíto r, 1 niilb,i!o pira Bahia, fifli) tr.il crtri^uos para Pcriumbuco, Ai)]] <fiíl papa
o fí!:. e qiiã tenha lauto mais valor, «xtriuseco quanto baste para obrigar a que
setiaii leva do EstâdoV.còwi prohihi^ão e pena imposta por Si M. aos ourives
para que liflo levar.eai prata ou ouro que sirva a outros usos.
n'J nií-io p ira i-to se co^ségují mais cfiicaz c su.tventetit? íc r.ic rrpre-
sei.ti è quB sen do S. M. servido deve rttãtidar qne estando o diultciiu Iodo no
valor iiiüiiWeèrt de tosta i por oitava aos dois mithôis d; peío, *é lhe acrescento
rta fabric;i valo» extrinseco dc *2i) ' a saber J;í para r> dono dellc c 5 para o
dispendiosaa fabrica,ficandoas sobra- para a real fazenda.» As moedas devem
ser de Õ oita vo-, dr pc*o ie prata que valhão íiOO rs, I mpreSsas no cu-d-.o. 1)^ '1
oitavas e n^eia valltio ^0U, tambcni iniptcssas, dc 2oUavá» 240 c uma nüava 120
dc nwi.i oitava l^ií.
O itiçs.ttío se fará na* moedas dc ouru de 3 oitavas e citava e meio dc
p:so. levaridõriõ cunha o vilor extrinseco de 20 ';'„.
O dm.i^iro quo circula deve ser todo récblhiibj c o qne ficai; cm circula-
ção te'a o so valor intrínseco de tostão a oitava. Lembre que se fabrique ainda
41 niil cruzados
miserável. Bahia dc4 demoeda
Julhomiúda -de cobre. Diz que o estado da colônia i
do 1692.
s u s p e i t í . s no e s p í r i t o da a u t o r i d a d e ; m a n t e v e a p r o h i b i -
ç â o íJa e x p o r t a ç ã o para A n g o l a e dos f o g o s nas f e s t i -
v i d a d e s ; l a n ç o u suas vistas sobre o t r a b a l h o das m i s s õ e s ,
i n f o r m a n d o f a v o r a v e l m e n t e j . o b r c ellas ao r e i ; i n f o r m o u
f a v o r a v e l m e n t e a p r e t e r i ç ã o da o r n a r a , p a r a o r d e n a r a
c o n s t r u c ç ã o c e trapieht-s ria c i d . i d e , c o m b a l a n ç a p a r a
pesar o assucar, n ã o obstante os protestos d . i viscon-
dessa A s s e c a , p a r a m a n t e r o m o n o p ó l i o q u e t i n h a neste
r a m o de s e r v i ç o .
N ã o a l c a n ç o u q u e a c o b r a n ç a das dizimas nas
villas de S. V i c e n t e . S. Paulo c S a n t o s pelos c o n t r a -
ctadores ficasse c m elia, porque as c â m a r a s destas v i l l a s
i m p u g n a r ã o suas o r d e n s , S ó a t t e n J i a m ao g o v e r n o
g e r a l da B a h i a .
L e v o u ao c o n h e c i m e n t o do r e i esse ataque ao seu
^ i n c i p i ò de a u t o r i d a d e , p e l o q u a l n à o p u d i a p r o h . b i r a
e s c r a v i s ã o dos i n d i o s f e i t a pelos paulistas e p l a n t a r
e n t r e elles o r e g i m e n d a l e i e da j u s t i ç a .
O e x c e s s o de fiscalisação dos i m p o s t o s assumiu
tacs p r o p o r ç õ e s , q u e n i n g u é m q ú i z mais exercer o logar
d e A l m o x a r i f e da Fazenda R e a l , « e m v i s t a da o p p r e s -
s ã o e v e x a ç â o cios q u e o peco p a v ã o » q u a n J e q u e n â J
l i q u i d a r s ú a s contas, « t e n d o sido a m i n a d c m u i t a s f a -
m:II;.s.»
A corôa corrigiu o mal, augmentando e mandando
l i q u i d a r no R i o c n ã o no R e i n o , as contas, para dar
q u i t a ç ã o ao p r o v i d o p o r m e i o de traslados dellas, r o -
m c t t i d c s para a m e t r ó p o l e .
U m a r e f o r m a fez-se no soldo dos g o v e r n a d o r e s
que f o i augmentado, porque a nová lei prohibiu que
elles tivessem p a r t e c l i i e c t a ou i n d i r e c t a e m t r a n s a ç õ e s
e n e g ó c i o s c o m m c n ia<s.
2> v c a r t a r e g i a de 27 de F e v e r e i r o d c 1G8'J (1) o
soldo dos g » v e n v d o i e s f o i e l e v a d o a 4 5 0 0 cruzados,
(1) E aatf de Ü* dc Outubro, como di* Si!va U«UÔJ. E«U carta foi a que
veiu cuufirmar a crcaç;io du impo^ c o cnntra;Ju dellc.
— 280 —
devendo a c â m a r a c r i r . r o i m p o s t o s o b r e o azeite d o c e
i m p o r t a d o d o R e i n o . A c â m a r a t o c o u e m 8 0 0 rs. c a d a
b a r r i l d c azeite. M a s , a c r e d i t a n d o q u e e r a i n s n f f i c i e t i t e
para o l i m d e s e j a d o , c r e o u mais o d e 2 0 rs. s o b r e c a d a
m e d i d a dc azeite de p e i x e f a b r i c a d o na c a p i t a n i a , sub-
m e t t e n d o seu ficto á a p p r o v a ç ã o r e g i a , q u e l e m b r o u de
serem t a x a d o s os c o u r o s do s e r t ã o e as g a r a p á s d a
terra, n à o a p p r o v a n d o o i m p o s t o s o b r e o sello.
F.m carta d e 2 1 de J u n h o , a c â m a r a o b s e r v a q u e
o p o v o sentia m a i s a i m p o s i ç ã o nos azeites do R e i n o ,
d o q u e nos d á t e r r a , « p o r q u e se l h e d i m i n u ú i o as r e -
messas q u e o d i t o azeite f a z i ã o dos m o r a d o r e s a q u e l l a
conquista c sc lhes a u g m e n t a v a o seu p r e ç o c o m g r a n -
de i n c o n v e n i e n t e de todos p o r ser m a t é r i a com estivei e
n e c e s s á r i a , sendo p r e f e r í v e l c o n t i n u a r e m as coúsas
como estavão.» «•
A s g a r a p a s da t e r r a e o ; couros d o s e r t ã o n a d a
d a r i ã o . Basta dizer q u e p o r a n n o s ó se a b a t i ã o no R i o
de J a n e i r o 8 0 0 rezes, ü f u t u r o pois veiu c o n f i r m a r as
p r e v i s õ e s da cum i r a , p o r q u e c m 1 6 9 4 estes i m p o s t o s
ainda n à o d a v ã o para pagamento d o soldo. A vista
d i s t o , a c â m a r a creou, para o m e s m o fim, o i m p o s t o de
8 0 rs. s o b r e ô sal, c o m m u n i c a n d o - o ao r e i p o r c a r t a de
2 0 de M a i o .de 1 Í I 0 Í . ( 1 )
N eslc d o c u m e n t o , a c â m a r a p e d e q u e s e j à o l e -
r
v a n t a d o s os impostos s o b r e o azeite c q u e s e j a r e v i g a -
do o r e g i m e n d o s o l d o cios g o v e r n a d o r e s , p o d e n d o e l l e s
n e g o c i a r e m , c o m o faziam d a n t e s .
E m s e s s ã o de O u t u b r o de 1 6 9 4 , O C o n s e l h o U l t r a -
m a r i n o resolveu p e r m j t t í r q u e os g o v e r n a d o r e s p u d e s -
sem negociar, sendo castigados p o r q u a l q u e r excesso,
mas n à o a p p r o v o u a r e v o g a ç ã o dos i m p o s t o s .
E m c a r t a de 18 de J u n h o de 1 6 9 3 i n f o r m o u á c o r o a
« t e r sido e n c o n t r a d a u m a c r e a n ç a e n j e i t a d a e m u m a es-
quina que elle mandou receber e crear, p o r q u e a M i -
s e r i c ó r d i a n e m a C â m a r a n ã o q u i z e r ã o fazer, por n à o
t e r e m renda . Casos iguaes j á se t i n h ã o d a d o I a s t i m o -
sos d e c r e a n ç a s m o r t a s ao d e s a m p a r o , o u t r a s c o m i d a s
de c ã e s , sem q u e a M i s e r i c ó r d i a e a C â m a r a t e n b ã o r e -
p r e s e n t a d o a S . M . , o q u e a g o r a fazia o G o v e r n a d o r ,
p a r a S . M . a c u d i r ao r e m é d i o d o s c o r p o s e a l m a s
d a q u e l l e s i n n o t e n t c s , m a n d a n d o applicr.r a este s e r v i ç o
a p r o p i n a q u e S . M . m a n d o u r e m e t t e r ao R e i n o , p a r a
ser a p p l i c a d o a o b r a p i a . » ( 2 )
Esta c o m m u n i c a ç â o m o t i v o u a c a t t a r e g i a d c 1 2
de D e z e m b r o d e 1 6 3 3 , « m a n d a n d o q u e a c a m a i a t i r a s -
se dos bens d o C o n s e l h o u m a c o n s i g n a ç ã o p a r a m a n d a r
sustentar as c r e a n ç a s e n j e i t a d a s e q u e , q u a n d o n à o bas-
(1) K' destituído Jc verdade diícr Silva Lisboa que Arthur do Sa *uc-
Cgd'.*u no g>vcmo em começo de ltüX . 1
Eis a h i , c m s y n t h c s e , a i n f l u e n c i a q u e as m i n a s
e x e r c e r a m no p o v o a m e n t o do sul,de q u e t r a t a r e m o s e m
capitulo a parte.
O s antecessores d c A r t h u r de S á n a d a p u d e r à o
fazer de p r a t i c o neste s e n t i d o . S o m e n t e S e b a s t i ã o d c
Castro, n ã o obstante grandes d i í f i c u l d a d e s , a l c a n ç a r a
e r i g i r e m c o m e ç o de p o v o a ç ã o M a c a c ú . E na c a r t a
r e g i a de 6 de N o v e m b r o de 1 6 9 6 , em q u e o r e i appro-
va o p l a n o p e l o q u i l e l l e e x e c u t o u a o r d e m r e g i a de
crear focos r e g u l a r e s e l e g a e s de p o v o a m e n t o , diz a
A r t h u r de S á « s e n d o o m e i o de q u e se v a l e u e m
M a c a c ú o mais p r ó p r i o p a r a o fim q u e se pretende,
pareceu-me dizer-os q u e sc a p p r o v a o q u e elle o b r o u
nesta p a r l e e r c c o m m e n d o - v o s q u e isto f a ç a e s g u a r d a r
c m A g u a s s ú , S. Gonsalo, C a m p o G r a n d e e P i e d a d e » .
•Mas, q u a l f o i o p r o c e s s o de S e b a s t i ã o de Castro?
F o i m e l h o r a r o processo j á existente, desde 1 6 9 2 ,
d c d i v i d i r a zoi.a a g r í c o l a c m districtos m i l i t a r e s , sob *
° g o v e r n o de u m c a p i t ã o d c o r d e n a n ç a s e um j u i z de
vintena, c r e a n d o o l u g a r d e c a p i t ã o - m ó r do d i s i r i c t o d c
M a c a c ú , c m 1 6 9 5 , a q u e d e v i a prestar c b e d í e n c i a os
o u t r o s c a p i t ã e s de o r d e n a n ç a s .
b o i esta a p r i m e i r a phase d a vida p o l í t i c a e a a d m i -
n i s t r a t i v a do R i o c o processo p e l o q u a l se c u m p r i o a
o r d e m da m e i r o p o l c d c crear-se fecos legaes c r e g u l a -
res da p o p u l a ç ã o . A a u t o r i d a d e m i l i t a r d e s e m p e n h a v a
í u n e ç õ e s c o m p l e x a s de a d m i n i s t r a ç ã o c i v i l c militar,
abarcando o p r ó p r i o g o v e r n o m u n i c i p a l . S o m e n t e as
f u n e ç ò c s j u d i c i a r i a s e s t a d ã o d e l l e separadas. N o Brazil
podemos, a f . r m a r , a f u n e ç ã o j u d i c i a r i a sempre teve seu
órgão próprio.
M a s , A r t h u r dc S á a d i a n t o u e c o m p l e t o u essa o r -
g a n i s a ç ã o , sem e n t r e t a n t o r e v o g a l - a .
A 2 0 d e A g o s t o d e 1 6 9 7 (1) f o i a f r e g u e z i a d c
L a g e , ( 1 ) A r t h u r d e S á i n i c i o u o seu t r a b a l h o das m i -
nas, e m o b e d i ê n c i a a c a r t a r e g i a d e 2 7 d c Janeiro de
1 6 9 7 , « c m q u e se l h e e n c a r r e g o u a a v e r i g u a ç ã o das
m i n a s de o u r o e p r a t a d c P a r a n a g u á , I t a b a i a n a c S a b a
r a b u s s ú , declarando-se a j u r i s d i c ç ã o e proeminencia
q u e l h e c o m p e t i a e o q u e p o d i a e d e v i a fazer para o
bom exito daquelle descobrimento por cuja deligencía,
alem d o s o l d o teve a q u a n t i a dc 6 0 0 $ 0 0 0 . »
A c a r t a r e g i a d e 2 7 de D e z e m b r o de 1 6 9 6 n o -
m e a v a o mestre de c a m p o M a r t i n C o r r e i a V a s q u c sub-
s t i t u t o d e A r t h u r , e m q u a n t o estivesse nas capitanias
d o s u l , e m s e r v i ç o das minas, v e n c e n d o s ó m e n t e o s o l d o
d c sua p a t e n t e , ( c a r t a r e g i a d c 2 d e Janeiro de 1 6 9 5 . )
A 15 d c O u t u b r o de 1 6 9 7 e n t r e g a o g o v e r n o ao
seu s u b s t i t u t o i n t e r i n o e p a r t e para a v i l l a d c S. Paulo,
j á t e n d o n o m e a d o , ia 6 de J u n h o do m e s m o anno,
A m a r F e r n a n d e s G a n t o , p a r a e x p l o r a r as m i n a s da »
V a c á r i á , até* os s e r r o s de S è r r a n a y , de c u j a e x p e d i ç ã o
f o r a m nomeados c o m o t e n e n t e g e n e r a l G a s p a r de G o -
d o y C o l l a ç o , a 3 de M a r ç o d e 1 6 9 8 , j á achan Jo-sc A r -
t h u r em S , P a u l o . ( 2 )
E no m e s m o dia e m q u e passou o g o v e r n o d o R i o ,
n o m e o u t a m b é m M a n o e l de B o r b a G a t o tenente g e n e -
r a l da e x p l o r a ç ã o das m i n a s d c p r a t a de S a b a r a b u s -
s ú . (3)
N e s t a v i a g e m , A r t h u r nao f o i pessoalmente á zona
a u r i f e r a , c m vista d e a c o n t e c i m e n t o s dados e m S . P a u l o
e q u e p r e n d e r a m d i r e c t a m e n t e sua í t t e n ç ã o , para re-
solvei-os.
(1) fim Jullio dc 1693 esiavao bem adiantados o* reparo» das fortifica-
(2) Corem. <h Río—voi.'* COÚ. d Arch. PUbl.
v
A n t e s de s u a p a r t i d a do R i o , t i n h a c h e g a d o ao
sen c o n h e c i m e n t o q u e os paulistas t i n h a m a l t e r a d o o
valor d a moeda, p o r p r e s s ã o tios poderosos e que, q u a n -
do t i n h a m necessidade de d i n h e i r o d c e m p r é s t i m o bai-
x a v a m o v a l o r d e l i a c o c o n t r a r i o , sendo o p r i n c i p a l
m o t o r d i s t o P e d r o de C a m a r g o . Por mais r e i t e r a d o s q u e
fossem as o r d e n s do g o v e r n o da B a h i a , n ã o a l c a n ç a v a a
o b e d i ê n c i a s dc Pedro dc C a m a r g o , que era j u i z o r d i -
n á r i o e p o r c o n s e g u i n t e o p r e s i d e n t e ela c â m a r a . C o n -
stituira-sc o r e g u l o d a q u c l l a s pairagens, fazendo c h e g a r
aos o u v i d o s de A r t h u r de S á q u e n ã o d e v i a i r a S.Paulo
p o r q u e o p o v o q u e r i a se g o v e r n a r p o r s i . A a m e a ç a
n à o p r i v o u a ida d o g o v e r n a d o r do R i o , q u e ao c h e g a r
e m S. Paulo, s o u b e d o r e c e n t e assassinato d e P e d r o
de C a m a r g o , p o r u m dos m e l h o r e s h o m e n s t;o l u g a r ( I ) .
A t r a g é d i a i m p r e n s s i o n a r a o p o v o , q u e se d i v i d i r a e m
p a r t i d o s , preparando-se p a r a g r a v e s p e r t u r b a ç õ e s , si
n ã o fôra a c r i t e r i o s a i n t e r v e n ç ã o de A r t h u r . E a f a t a l i -
d a d e q u í z q u e C a m a r g o fosse e x p i r a r j u n t o ao p e l o u r i -
nho ( 2 ) . K c s t i t u i u o v a l o r l e g a l d a m o e d a e v o l t o u ao
R i o ele Janeiro, sem t r a t a r das minas.
P o r q u e ? S e d o i s t o u m dos m o t i v o s d c sua e s c o -
lha para g o v e r n a r o R i o c s e g u i n d o p a r a S . P a u l o , e m
fins de 1697, p o r q u e v o l t o u ?
N ã o e r a a necessidade d e sua p r e s e n ç a na s é d e d o
g o v e r n o , o m o t i v o dessa v i n d a , p o r q u e , d e i x a r a substi-
tuto, M a r t i n V a s q u e s q u e creara, e m M a r ç o de 1 6 9 8 , a
c o m p a n h i a de i n f a n t e r i a ele o r d e n a n ç a dos h o m e n s p r e -
tos e f o r r o s , assim c o m o n ã o f o r a a q u e s t ã o das m i n a s o
col. do Arch. P«b!. Parece que ucsla data jã eslava no Rio. F- i «omeilc mais
Tarde que foi a S. Paulo, para tratai das mirai. Os ch^nistas r.a> faliam nessa
m o t i v o de sua v i a g e m e s i m a b a f a r u m c o m e ç o de per-
t u r b a ç ã o d a o r d e m c mostrar que nenhum effeito tinha
p r o d u s i d o e m seu e s p i r i t o a a m e a ç a d e C a m a r g o , de
uma s u p p o s t " c m a n i p a ç ã o d c S . Paulo.
E m c a r t a de 21 de D e z e m b r o de 1 6 9 7 , d i r i g i d a
ao r e i , diz q u e estava e m t o d a d i l i g e n c i a para e n c o n i r a r
u m m i n e i r o q u e o acompanhasse, na a v e r i g u a ç ã o das
m i n a s . E s t a n d o e m S . Paulo, mais convenceu-se da
necessidade d i s t o . E e m o u t r a carta de 2 7 de M a i o j á
e s c n p t a d o R i o, ç o m m ü ni c a t e r m a n d a d o F r a n c i s c o M o -
r e i r a da C r u z a B u e n o s A y r e s . e m busca d c u m m i n e i r o .
Essa d i l i g e n c i a f o r a f r u s t r a d a pela g r a v e m o l é s t i a de
M o r e i r a na C o l ô n i a do S a c r a m e n t o . E r a de t o d a incon-
v e n i ê n c i a t e n t a r a e x p l o r a ç ã o , sem u m l e c h n i c o , para
p o u p a r despezas. E o C o n s e l h o U l t r a m a r i n o !ez v e r a
necessidade de r e m e t t e r o m i n e i r o . ( 1 )
Mas, S . Paulo l u c r o u c o n s i d e r a v e l m e n t e c o m essa
e x c u r s ã o de A r t h u r S á e n ã o m e n o s a fazenda r e a l .
E ' assim q u e i n f o r m o u a coroa de q u e a arrecada-
ç ã o dos d i n ' : e i r o s d o c o f r e de ausentes e d e f u n t o s , em
Santos, n ã o se fazia r e g u l a r m e n t e , p o r q u e os ministros
encarregados desse s e r v i ç o t i n h a m e x t r a v i a d o t o d o o
d i n h e i r o pertencente ao c o f r e . ( 2 )
A c o n s e l h o u a necessidade d à c r e a ç ã o de u m j u i z
de l é t t r a s e m S . Paulo, para a d m i l i s t r a r j u s t i ç a á q u e ! -
les povos, « o r n a u a i m a i o de se e v i t a r os repetidos in-
s u l t o s » . O o u v i d o r d o R i o s ó u m a vez c m seu t r i e n n i o
f o i á q u e . b zona fazer sua c o r r e i ç ã o . Os seus anteces-
sores o mesmo faziam, n ã o s ó pelas grandes distancias,
c o m o pelo excesso de affazeres da o u v i d o r i a do R i o e
t a m b é m p o r q u e , m u i t i s ve;cs, u i t u l l e s a m o r a d o r e s
n ã o os q n i z e r a m a d m i t t i r o , ficando a ^ i m o p o v o p r e j u -
d i c a d o e m sct:s d i i c i t o s . ( 1 )
T o d o s esles s e r v i ç o s l e v a r ã o a p r ó p r i a c â m a r a a
p e d i r ao rei fosse S . P a u l o d e s l i g a d o da B a h i a c s u j e i t o
ao g o v e r n o elo R i o a e j a n e h o « p e l o d i l a t a d o r e c u r s o
que tem as causas c p l e i t o s d a q u e l l e s m o r a d o r e s c
factos q u e se e x p e r i m e n t a da e x e c u s ã o das o r d e n s dos
g o v e r n a d o r e s geraes, pela g r a n d e d i s t a n c i a e n t r e S .
Paulo e B a h i a . »
E a c a r t a r e g i a de 2 2 de N o v e m b r o d c 1(198, v e i u
s a t i s f a z e r os desejos dos camaristas, continuando
p o r é m as causas j u d i c i a r i a s a l e r a p p l í c a ç ã o p a r a a
Bahia. (2)
A c o n s e l h o u a c o n s t r u c ç ã o da lort.deza de I p a n e m a
em Santos.
I m p o r t a n t e s f o r ã o l a m b e m as q u e s t õ e s a d m i n i s t r a -
tivas q u e resolveu n o R i o , d e p o i s de s u a v i n d a fie S .
Paulo.
L e m b r o u a c r e a ç ã o do c o m m e r c i o de c a r n e ele
vacca da C o l ô n i a d o S a c r a m e n t o p a r a o R i o e m e t r ó p o -
le, f p o r q u e P a n t a l e ã o da S i l v a q u e a l c a n ç a r a I c v a l - a
ao R e i n o sem d e c o m p o s i ç ã o . M o d i f i c o u p r o f u n d a m e n t e
o c o n t r a t o das baleias, c u j o s c o n t r a c t a d o r e s c r ã o o b r i -
gados a n ã o t e r mais d c q u a t r o t a n q u e s p a r a l a n ç a r e m
í z e i t c e cinco lanchas p a r a a pesca. E s s a p r o h i b i ç ã o
l a z i a c o m q u e n ã o m a t a s s e m e m m a i o r n u m e r o de b a -
leas, p o r q u e os t a n q u e s , e s t a n d o cheios, p a r a v a a pes-
c a r i a , r e s u l t a n d o s o b e j a r m u i t o azeite de u m ç o n t r a c t o
para o u t r o , sendo o b r i g a d o s os c o n t r a c t a d o r e s , a c o m -
p r a r e m esse azeite. I s t o reduzia o v . d o r dos l a n ç o s . A
m o d i f i c a ç ã o c o n s i s t i u e m q u e o azeite q u e restasse
d c u m ç o n t r a c t o p a r a o u t r o s fosse r e m e t t i d o para o
Reino. (1)
A p r o p ó s i t o d e s t e ç o n t r a c t o , j á se t i n h a a b e r t o d e -
vassa c o n t r a o P r o v e d o r d a fazenda c p o r d e n u n c i a d o
g o v e r n a d o r C a l d a s , q u e d i z i a t e r h a v i d o dolo, p o r q u e
e r a s ó c i o d o c o n t r a c t a n t e , o g e n r o do p r o v e d o r . E l l e
c h e g a m e m 1 6 9 6 c m hasta p u b l i c a a 2 0 m i l cruzados.
E depois d a a u t o r i d a d e q u e à n n u l a r á o ç o n t r a c t o de
1 6 9 7 , d e r a m a i s 9 m i l cruzados no n o v o l a n ç o q u e se
fez.
E x p e d i u e m M a i o de 1 6 9 8 , A n t ô n i o M o r e i r a da
C r u z , e m u m a sume ca, a t é C a s t i l h o s , p a r a e x a m i n a r o
g a d o e x i s t e n t e e fazer c a ç a d a ; a b r i u a casa d a m o e d a
e m u m d o s a r m a z é n s d a j u n t a ; creou u m a n o v a verba
d c r e c e i t a d o i m p o s t o s o b r e os ecuros, c u j o ç o n t r a c t o
p r o d u z i u e m hasta p u b l i c a 1 8 m i l e 0 0 0 cruzados, p a r a
p a g a m e n t o da i n f a n t a r i a ; poz em e x e c u ç ã o a c a r t a re-
gia, pela q u a l s ó d c 2 8 d c N o v e m b r o d c 1696 po-
d i ã o c o r r e r no R i o a m o e d a do R e i n o c a moeda p r o -
v i n c i a l e s ó p u d i a m t r a b a l h a r 2 o u :t o u r i v e s .
O m o v i m e n t o d e c o l o n i z a ç ã o já r e c l a m a v a medidas
q u e viessem a c t i v a r o p o v o a m e n t o c o t r a b a l h o a g r í c o l a
das t e r r a s q u e e r a m doadas c m g r a n d e e x t e n s ã o , per-
m a n e c e n d o incultas e dcspovor.das, por f a l t a de recur-
sos dos d o n a t á r i o s . E m c a r t a de 2 2 de O u t u b r o de
1 6 9 8 o r e i o r d e n o u a A r t h u r de S á q u e n ã o concedes-
se sesmarias m a i o r e s d c 3 l é g u a s de e x t e n s ã o c uma de
l a r g o , assim c o m o q u e l a n ç a s s e bandos, chamando
t o d o s os s i s m e i i o s para c u l t i v a r e m e p o v o a r e m as ter-
ras e m d o u s annos, sob c o n d i ç ã o de serem doadas
a outros.
P o r esta o c e a s i ã o f o i r e v o g a d o o m o n o p ó l i o da
E m m a i o de 1699 r e c e b e cia c â m a r a r e s p o s t a d a
i m p o s s i b i l i d a d e e m q u e se acha, p a r a s o e c o r r e r as
despezas c o m a c r e a ç ã o de u m hospital de l á z a r o s n o
h o s p í c i o d o m o r r o da C o n c e i ç ã o .
C o m os e l e m e n t o s p r o m p t o s c j u l g a n d o o p p o r -
t ú n o a e x p l o r a ç ã o das m i n a s , d i r i g i o - s e de n o v o a
S . Paulo c m fins de a n n o de 1699- E m sua a u s ê n c i a
foi executada a c a r t a r e g i a de 5 d c D e z e m b r o d c
1 6 9 9 , pela q u a l m a n d a v a o r e i a s s u m i r o g o v e r n o
do R i o o m e s t r e d e c a m p r o F r a n c i s c o d c C a s t r o M o -
raes, j á n o m e a d o g o v e r n a d o r d a C o l ô n i a d o S a c r a -
m e n t o , p o r achar-se i m p o s s i b i l i t a d o M a r t i n C o r r ê a d a
f u n e ç õ e s de g o v e r n o , p e l a sua i d s d e .
N ã o n o ; compete aqui descrever a e x c u r s ã o de
A r t h u r d c S á p e l a zona a u r i f e r a . Basta-nos d i z e r q u e
mais visinhas q n e s ã o a I l h a G r a n d e , P a r a t y , U b a t u b a
e S. S e b a s t i ã o . »
Este a c t o de A r t h u r f o i a p p r o v a d o p e l o C o n s e l h o
U l t r a m a r i n o e pela C o r ô a .
L ) e m o r o u - s c A r t h u r M e n e z e s na zona a u i i l e r a a t é
1 7 0 2 , q u a n d o , c m Julho, e n t r e g o u o g o v e r n o ao seu
suçcessor.
N o g o v e r n o de A r t h u r iniciou-se u m a p h a s e n o v a
d e c o l o n i s a ç ã o , e m d i r e c ç ã o a S. P a u l o e a M i n a s ,
q u a n d o a t é e n t ã o e l l a t i n h a t o m a d o a d V c c ç ã o das ba-
cias dos mais i m p o r t a n t e s rios d a capitania, c o m a Para-
h y b a , M a c a c ú , M a c a h é , etc.
Por isso mesmo q u e o t r a b a l h o a g r í c o l a s ó a s s u m i a
a f o r m a da l a v o u r a da canna c dos cercaes, o c o l o n i s a -
d o r n ã o t i n h a necessidade de f u r a r a serra c p e n e t r a r
nos s e r t õ e s . c
L o g o , p o r é m , q u e c l l c assumiu a j o r n a d a da i n d u s -
tria aurifera, t o m o u aquella d i r e c ç ã o .
N ã o se l i m i t a s ó a isso a i n f l u e n c i a d a m i n e n t "
ç ã o . E l l a v e i o a f f e c t a r a a d m i n i s t r a ç ã o , a p o l í t i c a , as
r e l a ç õ e s d a c o l ô n i a c o m a m e t r ó p o l e , como m o s t r a r e -
m o s nos c a p í t u l o s s u b s e q u e n t e s .
CAPITULO XII
O r g a n i s a ç ã o ' a d m i n i s t r a t i v a , política, t r i b u t a r i a , m i -
l i t a r e judiciaria da cidade no s é c u l o X V I I .
(3.i An. ilv Riu Jc Janeiro, por S. Liabua vol 2" p?g. 27.
— 299 —
p r ó p r i o g o v e r n a d o r d a B a h i a t r a c t o u de r e i v i n d i c a r at-
t r i b u i ç õ e s q u e l h e t i n h ã o s i d o u s u r p a d a s , s e g u n d o diz
e m suas p r ó p r i a s c o r r e s p o n d ê n c i a s , q u a n d o f o r a m m u i -
t o l e g i t i m a m e n t e e x e r c i d o s p o r S a l v a d o r , p o r um acto
dc d e l e g a ç ã o .
Essa e m a n c i p a ç ã o p o l í t i c a e a d m i n i s t r a t i v a f o i con-
firmada pela corôa.
E ' assim q u e 0 M a r q u e ? de M o n t a l v ã o , e m p r o v i -
s ã o de 9 d c M a r ç o d e 1 6 4 1 , dizia q u e « p o r p a r t i c u l a r
i n f o r m a ç ã o m e consta q u e nas capitanias d o s u l sc c o m -
m c l t e m i n s u l t o s e casos atrozes q u e necessitam d c cas-
tigo exemplar e S . M . f o i s e r v i d o fazer m e r c ê a
S a l v a d o r C o r r e i a de S á e Benevides, p o r o u t r o s s e r v i -
çt s q u e l h e h a v i a f e i t o , de c a r g o de G o v e r n a d o r d o R i o
de Janeiro, c o n c e d e n d o - l h e q u e usasse de t o d o s os p o -
de res, j u r i s d i c ç ã o c a l ç a d a q u e l i v e r â o c de q u e u s a r ã o
os c a p i t ã e s - n i ó o r e s e g o v e r n a d o r e s d a q u e l l a c a p i t a n i a ,
seus antecessores, assim c o n c e d i d o s pelo d i t o P e n h o r , •
c o m o pelos g o v e r n a d o r e s deste Estc.do c n o v a m e n t e o
d i t o S e n h o r f o i s e r v i d o de lhe conceder q u e usasse dos
p o d e r e s q u e n a q u c l l a r e p a r t i ç ã o do s u l t e m c o m o car-
g o de G o v e r n a d o r d e l i a o g o v e r n a d o r H . F r a n c i s c o de
Souza e c o m q u e f o i g o v e r n a d o r da d i t a r e p a r t i ç ã o
A n t ô n i o S a l e m a ; e o u t r o s i m lhe fez m e r c ê de q u e
usasse o soldo de mestre de c a m p a e q u e tivesse a ad-
m i n i s t r a ç ã o das m i n a s d c S . P^ulo c o m o a t e v e Salva-
d o r C o r r e i a d c S á , seu a v ô c u l t i m a m e n t e o C o n d e da
T o r r e l h e concede os seus p e d e r e s na dita c a p i t a n i a d o
R i o e na de S . P a u l o , q u e t u d u consta p o r c a r t a de
S. M . (1)»-
E m q u a n t o S a l v a d o r e s t e v e r.o g o v e r n o f o r a m
m a n t i d a s essas a t t r i b u i ç õ e s de q u e n ã o p u d e r ã o usar
e n t r e t a n t o os seus suecessores.
Uma só prerogativa ficou dessa conquista: a p a -
(1) Ann. do Hio de Janeiro, pur S. Lisboa Vol. 2' pag. ii.
— 300 —
por anno e f a r á e x e r c í c i o s m i l i t a r e s , i n f l i n g i n d o c a s t i g o s
moderados e multas que s e r ã o applicadas n o sustento
do p r e s i d i o , r e m e t t e n d o lista das pessoas capazes p a r a
o serviço militar;
3 e m caso d c precisar defesa d c o u t r a c a p i t . i n i a
o
a n t e r i o r si o c a p i t ã o m o r t i v e r sido c a p i t ã o de i n f a n t e -
r i a , mas t e n d o sido e i n d o soccorel-o a l g u m c a p i t ã o
de i n f a n t e r i a a m b o s g o v e r n a r ã o j u n e t o i c d i s p o r ã o so-
o u t r o s o f f i c i a e s de j u s t i ç a , p o d e n d o s o m e n t e d e n u n -
ciai-os ;
• 9 o
o mesmo procedimento t e r á em r o l a ç ã o a C â -
mara ;
10 no caso d e p r e n d e r a l g u m a pessoa, n e n h u m a
o u t r a a u t o r i d a d e p o d e r á r e v o g a r sua o r d e m ;
1 1 n á o c o n s e n t i r á em a p p c l l a ç ã o o u a g g r a v o , se-
n ã o p .ra a R e l a ç ã o da B a h i a , salvo causas tia fazenda
que i r ã o a provedoria m ó r ; »
12 n ã o p o d e r á d a r sesmarias, s e n ã o i n f o r m a r as
petições ;
13 ficarão revogadas tod"s as ordens c m con-
trario. (1)
C o m o se v ô , f i c a r a m e x t r a o r d i n a r i a m e n t e r e s t r i c t a s
as a t t r i b u i ç õ e s de g o v e r n a d o r , e m r e l a ç ã o ao r e g i m e n -
to d a d o no s é c u l o 16?, p o r M e n de S á
A s a u t o r i d a d e s j u d i c i a r i a s e fiscaes ficaram com
u m a m a i o r esphera d e a c ç ã o e menos s u g e i t a s ao c h e f e
do governo.
A o ; i p p r o x i m a r - s c o fim cio s é c u l o , f o i novamente.
o R i o c o n q u i s t a n d o a sua e m a n c i p a ç ã o p o l í t i c a e a d -
m i n i s t r a t i v a e m r e l a ç ã o ; i Bahia, tornando-se m a i s am-
plas as a t t r i b u i ç õ e s d o c h e f e d o g o v e r n o , a l é m da m a i o r
c o m p l e x i d a d e f o r a m t e n d o os s e r v i ç o s t i a f a z e n d a c da
justiça publica,
E ' assim q u e , p o r c a r t a r e g i a de 2 de M a r ç o d c
1 6 8 9 , os g o v e r n a d o r e s p u d í ã o p r o v e r os postos d c m i l í -
cia c o r d e n a n ç a s . (1)
P o r c a r t a r e g i a de 14 d c J a n e i r o de i 6 9 3 , a c o r ô a
invistio no gavernador amplíssima j u r i s d i c ç ã o em tudo
o q u e tivesse r e l a ç ã o c o m as m i n a s . ( 2 )
E p o r carta regia de 27 de Dezembro recebia a m -
p l í s s i m o s poderes para fazer t u d o q u a n t o f o s ^ í c o n v e -
niente a defeza da c a p i t a n i a , p o d e n d o crear p o v o a ç õ e s ,
dar-lhes r e g i m e n t o s pelos quaes se g o v e r n a s s e m na
administração política, civil e judiciaria.
P o r carta r e g i a de 5 c!c N o v e m b r o d e 1 6 9 7 é c o n -
stituída como a única autoridade competente para dar
ordens d e p r i s ã o , r e q u i s i t a d a s p e l o O u v i d o r q u e as n ã o
p o d i a fazer d i r e c t a m e n t e .
E e m c a r t a d e 2 7 d e D e z e m b r o de 1 7 9 7 r e c e b e
a i n d a amplas a t t r i b u i ç õ e s sobre o s e r v i ç o d ís minas,
sem o u t r a d e p e n d ê n c i a mais q u e a da R e a l Pessoa.
E a c a r t a r e g i a d e 2 2 de N o v e m b r o d e 1 6 9 8 v e i o
c o l l o c a r S . Paulo sob a j u r i s d i c ç ã o d o R i o d e Janeiro,
menos, no q u e se r e f e r e aos f e i t o s d e j m t i ç a q u e a i n d a
c o n t i n u a r ã o d e p e n d e n d o da B a h i a . ( 3 )
E e m 1 6 9 9 ( c a r t a r e g i a de 9 de N o v e m b r o ) f i c o u
t a m b é m sob a j u r i s d i c ç ã o d o R i o a C o l ô n i a d o S a c r a -
mento.
rendas de C o n s e l h o e a p p r o v a d o p o r c i r i a regia d e 5 de
O u t u b r o de 1 6 5 6 .
R e s o l v e n d o a C a m a a fazer o e n c a n a m e n t o da
a g u a da C a r i o c a , a p p l i c o u o i m p o s t o a esse s e r v i ç o
s e n d o a p p r o v a d o esse acto por c a r t a regi.i de 6 dc M a i o
de 1 6 7 2 . S e n d o m s u f f i c i e n t e , f o r a m por carta r e g i a de
2-4 d c N o v e m b r o , a p p l i c a d o s para o m e s m o s e r v i ç o os
restos da casa da M o e d a .
3 ° Centrado das aguardentes da tetra Foi creado
pela c a n v r a e p o v o a 18 cie Junho de 1 6 6 1 e a p p r o v a d o
pela c r t a r e g i a de 2 1 t'e D e z e m b r o de i 6 9 2 . Essa
d e m o r a da a p p r o v a ç ã o r e g i a explica-se pela p r o t e c ç ã o
dada pela c o r ô a á C o m p a n h i a d o C o m m e r c i o , c o n t r a o
p r o g r a m m a da c a m a r a do R i o q u e d e f e n d e o a l i b e r d a -
de d o c o m m e r c i o d a a g u a r d e n t e . Este i m p o s t o applica-
N o s c c u l o 17? f o r m a r ã o - s e os c o r p o s de o r d e n a n -
ças e auxiliires.
J á e s t u d a m o s as a t t r i b u i ç õ e s d o o u v i d o r , t r o ç a d a s
n o p r i m e i r o r e g i m e n t o b a i x a d o p o r M e n de S á no s é -
culo K l * ' . D o s t e u s p r i n c í p i o s geraes p e r m a n e c e r ã o por
m u i t o t e m p o alè* lGGíi, q u a n d o f o i b a i x a d o o u t r o r e g i -
mento.
A t e e n t ã o d e r ã o - s e algumas modificações.
Transporte., 4:712*470
n meio conego da dita sé' 44* Ml)
u vigário da igrcjii matriz 7.13920
» (i,'.ir« da igreja dc ordinário... 20fc 00
* vigário da ígroj<a dc ordinário... MfAjO
» coadjulor • lV)fliO0
>• vigário da Candelária « wtam
» vigário ípi? 1 t celebração da semana S . i n i . 0 . . . 308800
v {toalhas lavagens etc; I:ÍSO<ÍO
» coadjntor da mesma igreja l'5t000
v vigário de Angra dos lieis..,, 73*920
>> vigário, mais 30*0:10
a coadjutnr , 1Í3S000
v vigário dns HmjfdS d; Iraia 73*030
II coadjuztor , mm
» vigário da Cass.irabn 7at!>iío
e cojdjut-r..,, . 2S30CO
» vigário de 5. Gonsalo 733KM
» coadjiilor 255Q0Q
i> vigaiio dc Tar&runaponga 735920
» enadjutur.,. . . . . . . . 255000
> vigário dc Cabo Frio. 73593»
> vig.iriu dc N . S. do I.oreto da mesma capUaaiã.^.. 73SÍJ20
» coiiiljuTor S5«00
* Vigário dc Salvador dc Campo» 73J9>0
> vig.irio da villa de S. Joan _ .... 73SÓãO
* rerebedor da fabrica dai igreja."-..'. OTiSOOO
u padre. D. Ahbado !í.'fO0O
ai s padres da Companhia de Jesií.?..,. 1:0JÕS0OO
» religiosos do monia do (.'irmu... oosoon
an SynJicos dos padres Oapuchos (5. FJ >a Ventura!.... 903000
» Syudicos dos padre* de S. líeriurdino oosnoo
* ouvidor g«ra] , , rotsi,. 2003000
« provedor dá fiiarinla t01000
* cscrivflo d.i í z;n,hi real.. 17*400
» almovai ife ."Í07COO
» escrivão da alfaudcgac almoxirifado 305000
* procurador dos indios forros 25300}
» portt-irn da alfândega 3S200
* lícitor do füllogio dos jss'.ii:;:5 1753O07
> procurador da Companhia dc Jesus , SOSOftO
N ã o p o d f m o s e n c o n t r a r em nossas pesquizas a
c a r t a r e g i a q u e os c r e o u .
E m c a r t a r e g i a de 3 d c n o v e m b r o d c 169(1 r e c o m
me nd au-se q u e s è desse i n s t r u c ç ã o m i l i t a r á s ordenan-
ças. E m c a r t a r e g i a de 11 de s e t e m b r o d c 1 6 9 7 f o r ã o
c o n c e d i d a s á s o r d e n a n ç a s os mesmos p r i v i l é g i o s d o s
a u x i l i a r e s d o R e i n o e e m o u t u b r o f o r m o u sc mais u m a
c o m p a n h i a de p r e s i d i o .
E m 160!) f o r m a r a m - s e d u a s c o m p a n h i a s d e p r i v i -
l e g i a d o r e s , q u e foi a p p r o v a d a p o r c a r t a r e g i a de 2 0 de
s e t e m b r o d o m e s m o anno, a q u a l o r d e n o u a c r e a ç ã o d c
mais d u a s .
P o r c a r t a r e g i a de 10 de n o v e m b r o ordenou-se a
c r e a ç ã o de u m t e r ç o pago, d e v e n t l o a e l l e i n c o r p o r a r se
as d u a s c o m p a n h i a s da g u a r n i ç â o da f o r t a l e z a de
S. J o ã o e Santa Cruz.
?) c o r p o d e o r d e n a n ç a s e r a destacado pelos d i s t r i -
ctos da c a p i t a n i a . D c 1 6 9 2 c m d i a n t e e r a m as se-
guintes.
G u a x a n d i b a , M a r i c á , I r a j á , I c a r a h y , S . Bento,
Campo Grande, Inhomirim, Suruhy, T a y p ú , Pirati-
n i n g a , I g u a s s ü ' , S. J o ã o de T a p a c u r á , M a c a c ú ' , B o t a -
f o g o , T a i n b y , G u a h i m i r i m , G u a p i u g u a s s u ' , Jacarcpa-
g u á , Tarahiraponga, Sarapuhy e M a r u b a h y .
O d i s t r i c t o , c o m o se v ê , e r a u m a simples c i r c u m -
s c r i p ç ã ) militar, cellular dc uma f u t u r a vida.
E m 1 6 9 5 f o i c r e a d o o l u g a r de c a p i t ã o m ó r do
d i s t r i c t o d c M a c a c ú , a q u e d e v i a m prestar o b e d i ê n c i a os
c a p i t ã e s de o r d e n a n ç a s dos o u t r o s d i s t r i c t o s e e m 1 6 9 9
( c a r t a de 15 de J u l h o ) ordenou-se a c r e a ç ã o de u m a
aula de f o r t i f i c a ç ã o . K m 1 6 9 4 . f o i creada u m a c o m p a n h i a
d e homens pardos, p o r A n d r é Cussaco e C o r r e i a V a s -
q u e a n e s creou c m 11)98 o u t r a d c homens p r e t o s e
f o r r o s . U n i d o s mais i m p o r t a n t e s d i i t r i c tos d o t e m p o ,
a l é m d o M a c a c ú , e r a o c o m p r e h c n d i d o entre as b a r r a s
de G u r a t i b a e M a r a m b a i a , p o r ser o p o n t o o n d e desem-
b a r c a v a o o u r o q u e v i n h a das minas.
— 308 —
K m 1 7 0 1 foi n o m e a d o seu c a p i t ã o m ó r M e l c h i o r
da F o n s e c a D o r i a , o h o m e m rico do l u g a r e q u e (oi
eamarista no R i o . ( 1 )
J á e i t u d a m o s as a t t r i b u : ç ã e > d o o u v i d o r t r a ç a d o s
no p r i m e i r o r e g i m e n t o b a i x a d o por M e n de S á , no
s é c u l o 1(!.
O s seus p r i n c í p i o s p e r m a n e c e r ã o os m e s m o s a t é
1669, q u a n l o um outro r e g i m e n t o f o i baixa lo pe'a
corôa.
Mas, d u r a n t e esse t e m p o , f o r ã o feitas m o d i f i c . ç õ e s
que n ã o podemos o m i l t i r a q u i .
R* assim q u e p o r c a r t a r e g i a d c "2ii de J u l h o d e
1647 f o i o r d e n a d o a J g o v e r n a d o r q u e n ã o m a n d a s s e
os r é o ; do R i o a I 3 d i i i ; p o d e n d o e l l e s l i v r a r e m se pe-
r a n t e as j u s t i ç a s d a q u e l l a c a p i t a n i a .
É m 2 o de O u t u b r o cie 1664 f o i b a i x a d o u m n o v o
r e g i m e n t o d o o u v i d o r M a n o e l D i a s Raposo, c o m Ç p s t o
de 2(1 a r t i g o s .
Por e i l e o o u v i d o r devia residir na c i d a d e do R i o
de J a n e i r o , d e v e n d o visitar as capitanias dc sua j u r i s -
d i c ç ã o ; v i s i t a r as min;:s d e S . P a u l o p a r a p r o v i d e n c i a r
r.o que foSsé preciso, c o n h e c e r de a c ç ã o n o v a n o c r i m e
e c i v i l . s e m a p p e l l a ç ã o r.em a g g r a v o , a t é 1 0 0 $ c m l u g a r
que e s t e j a e na d i s t a n c i a de 15 l é g u a s e m d e r r é d o r ;
savir de iusímctôr dos s o l d a d o s ; j u l g a r as causas dos
h o m e n s do msr"•; dar cartas de soque; passar. a l v â / á s
dc f i a n ç a . ( 2 )
O governo municipal conquistou muita autonomia
c ampliou c o n s i d e r a v e l m e n t e sua> a t t r i b u i ç õ e s . I n f l u í a
d i r e c t a e p o d e r o s a m e n t e s o b r e a a d m i n i s t r a ç ã o e a po-
lítica.
Rnarnição.
Pod:mo> fazer nm calculo }>.•]. s forcas do Rio em 17)1, p ir çecaSjflo da
invasão frar.cãia.
(2) A Mté&rj ilcstc rejílmenlo está p^blcadi no vol. 1' do Arch. do
Pitlllçtò Fed, vo\ I p i'. LÕy.
o
— 309 —
P o r carta r e g i a dc 2 6 d e de 1 6 7 1 f i c o u ex-
pressamente p r o l i i b i d o que o governador interviesse
nas e l e i ç õ e s da camara e nos preenchimentos de a l g u r s
cargos, c o m o : T h c z o u r e i r o d a c o b r a n ç a dos d o n a t i v o : ,
e m p r e g a d o d o lancaniínto, a f o i ç a da i n f a n t e r i a .
N a c a r t a de 7 d c N o v e m l r o de 1 6 8 3 a c o r o a
mvesíio os c a m a r i s t a s d e prerogáiivas de t e r e m o seu
f ò r o e n ã o p o d e r e m s^r presos, « s e n ã o nos casos c o m -
p r e b e n d i d o s p e a s o r d e n a n ç a s D.
E i s u m a a r m a c o m q u e o g o v e r n o m u n i c i p a l poude
d a h i e m d i r n t e m a n t e r suas v o n t a d e s e o p i n i õ e s e m
face do p r o g n . m m a dos g o v e r n a d o r e s q u e p a r a t o r n a i - o
e f l e c t i v p , c h e g a r ã o m u i t a s v e L e s a v i o l ê n c i a de p r e n d e r
os r e p r e s e n t a n t e s do m u n i c í p i o .
E p o r c a r t a de l í ) d c J a n e i r o de 1 7 0 5 f o i a cama-
ra i n v e s t i d a da visita dos navios d o p o r t o . ( 1 )
N ã o t e m o s a q u i q u e e s t u d a r a historia r e l i g i o s a
e m suas m i n u d c n e l a s , s e n ã o to-a*' em suas p a i t c s m a i s
importantes.
N o s é c u l o 1 6 ° a capitania d o R i o de Janeiro
p e r t e n c i a ao bispado da B a h i a .
(1) Sio tomos aqui. que repetir o qi\?. j-i e*crcvemas no cap. sobre
as aliiibuiçõcs da camara nu ncyoeios e sííyjyOS da cíáade, q*ae e-tavJo todos
1
d i a d a a sua r e s i d ê n c i a , s o n d o o b r i g a d o a f u g i r d o R i o
d e Janeiro, e m b a r c a n d o - s e p a r a P o r t u g a l e m 1 0 3 7 .
I'"oi n o m e a d o p r e l a d o i n t e r i n o P e d r o H o m e m A l -
bcrnaz c m c u j o cargo foi confirmado e m 1639. S u b s t i -
t u t o lhe Josc C o e l h o p o r e l l e m e s m o e s c o l h i d o c m c o n -
s e q ü ê n c i a d c v e s t i r o h a b i t o de j e s u í t a .
A elle s u b s t i t u i o e m 8 de J u n h o de 1 6 4 4 , o p r e s -
b i t o r o s e c u l a r A n t ô n i o de M a r i z L o u r e i r o . T e v e o mes-
m o f i m de A l b o i m . P e r s e g u i d o p e l o p o v o , r e f u g i o u - s e
e m S ã o P a u l o c depois n o E s p i r i t o S a n t o , o n d e f o i e n -
v e n e n a d o . E depois d e a d m i n i s t r a ç õ e s i n t e r i n a s de
M a n o e l d c A r a ú j o e D . J o s é d c Castro, f o i e s c o l h i d o
pelo R e i a 12 d e D e z e m b r o d c 1 6 5 8 o D r . M a n o e l de
S o u z a A l m a d a . O mesmo d e s c o n t e n t a m e n t o dos seos
a n t c c c c s s o r c s l e v a n t o u no p o v o . T e v e e n t ã o de r e t i -
rar-se para P o r t u g a l , d e i x a n d o na prelasia o D r . F r a n -
cisco da S i l v e i r a D i a s , n a t u r a l do R i o de Janeiro, v i g á -
r i o g e r a l e p a r o d i o d a M a t i i z de S ã o S e b a s t i ã o . F o i
c o n f i r m a d o p o r c a r t a r e g i a d c 7 de M a r ç o d c 1 6 7 1 ,
C o m o os o u t r o s , fez u m a m á a d m i n i s t r a ç ã o . J á es-
t u d a m o s os seus excessos na q u e s t ã o dos m a n g u e s .
A b d i c o u de suas f u n e ç õ e s d e i x a n d o no g o v e r n o o v i -
g á r i o da C a n d e l á r i a S e b a s t i ã o B a r r c í o d c B r i t o . C r e a d a
a S é foi Silveira Dias nomeado cm 1685 fallecendo em
1690.
A b u l a d c 16 de N o v e m b r o de 1 6 7 6 e l e v o u a A r -
c e b i s p a d o o Bispado da B a h i a e creou os Bispados d o
R i o c P e r n a m b u c o , dcvcnelo a q u e l l e e s t e n d e r - s e d o
E s p i r i t o S a n t o ao R i o d a Prata, c o r r e n d o a costa d o
m a r p e l o s e r t ã o a t é entestar c o m os d o m i n w s H e s -
panhós.
F o i n o m e a d o B i s p o F r e i M a n o e l Pereira, sendo
sua e l e i ç ã o c o n f i r m a d a pelo Papa a 16 d c N o v e m b r o
de 1 6 7 6 . R e n u n c i o u o Bispado e m 1 6 8 0 . F o i e n t ã o
e l e i t o D . J o s é de B a r r o s de A l a r ç ã o , sendo a e l e i ç ã o
c o n f i r m a d a em 1 9 d e A g o s t o de 1 6 8 0 . C h e g o u ao R i o
a I de J u n h o de 1 6 8 2 . E m 1 6 8 5 creou a S é . C h a m a -
o
d o a P o r t u g a l , d e i x o u no Bispado o V i g á r i o d a Canele-
— 312 —
lana» T h o m é d e F r e i t a s da F o n s e c a . F m 2 8 de M ; . r ç o
de 1 7 0 0 v o l t o u D . J o s é p ; r . i o s é o B i s p a d o . C o m a
c r e a ç ã o do R í s o a d o , « c e s s o u a g u e r r a e n t r e o p o d e r
civil e o eclesiástico; recebeo o clero melhor d i r e c ç ã o
e firmou-se m e l h o r d e c i p Ü n a na I g r e j a , o
A s p r i m e i r a s bacias dos rios c . i l o n i s a d a s f o r a m as
do r i o J g u a s s í i d e s d e 1 5 5 5 ; M a g é , S u r u y , M a c a c ú ,
Inhomeiriiii, Merity, M i r i r i , F r i r y , Sarapuy, Saracuruna,
C a s s e r u b ú . L a g o a de M a r i c á , C a p i v a r y , a l é m d e doa-
ç õ e s feitas na ilha de P a q u e t á , T i j u c a , C a r i o c a , I t a m b y ,
I n h a ú m a , Leripc, Gavca, Sapupcma, Iraiá, Jacotinga,
Giuxandiba, Guaratiba, G a a d ú , Gcrisinó e Icarahy.
Eis a m a r c h a da c o l o n i s a ç ã o no s é c u l o X V I . D u z e n t o s
c sessenta e n o v e colonos i n s t a l l a r a m - s c c o m as suas
lavouras n a q u e l l a s zonas d u r a n t e esse s c c u l o .
N o s e c u L s X V I I a c o l o n i s a ç ã o chegou a CabroJ^r.o
a C a m p o G r a n d e , d i i i g i n d o - s e pelos r i o s G u a p i a s s ú ,
G u a p i m c r i m , s u b i o pelo M a c a c ú , G u a g ú â s s ú , d i r í g ; o - s e
p a r a a s e r r a d o T i n g u á para o vallc de M ; : c a é , U b . i t i b a ,
C a m p o de Goiatacazes, c I t a b a r a h y . A 4 3 2 c o l o n o s
f o r a m f e i t a s d u r a n t e o s e . u l o d ' a ç õ c > de t e r r a s p o r
r q u c l l a s z.jnas.
S o m
CAPITULO XIII
A cidade ao s é c u l o XVII.
Q u a n d o e s t u d a m o s o d c . í c n v o l v i i u e n t o d a cidade
no s é c u l o X X T , v i m o s q u e as p r i m e i r a s ruas abertas na
v á r z e a f o r a m as da M i s e r i c ó r d i a , D i r e i t n , S . J o s é . A s -
sembléa. E m 1(180 j á c h e g a t r a b a l h o d c c o n s t i u -
c ç ã o , no L a r g o da C a r i o c a , a i n d a q u e b a s t a n t e i n t e r -
callado P o r
longos t r e c h e s de t e r r e n o s sem c o n s t r u c ç ã o
u r b a n a . S e r v e de p r o v a d i s t o - a e s c r i p t u r a de venda.de
q u i n z e b r a ç a s de t e r r e n o feifia p o r L o u r e n ç o de S o b r a l
A t t o u g u i a a M a n u e l Luiz Correia, importante nego-
ciante da c i d a d e . 13 a sua t r i t u r a leva-nos a localis;.r
os tCirei:os v e n d i d o s na e.-quina da r u a G o n ç a l v e s p i a s
q u e , desde e n t ã o , estava aberta, pelo menos n o t ; e d i o
e n t r e A - s e m b l é a e Sete da S e t e m b r o . A e s c r i p t u r a e n -
s'na-no> t a m b é m q u e n ã o estava ainda c m c o n s t r u c ç ã o
o lado do L a r g o d a C a r i o c a q u e se p r o l o n g a da ru i
G o n ç a l v e s D.'as á r u a d c U r u g t u . y n a . :
E>sa e x t e n s ã o e r a oecupada p o r t e r r e n o s p e r t e n -
centes a A n t ô n i o G o n ç a l v e s M o r e i r a , e n t r e aqucllas
duas r u a s . O s terrenos v e n d i d o s p o r S o b r a l A t t o u g u i a
— 314 —
e r a p r ó x i m o do c a m i n h o de S . F r a n c i s c o q u e e r a e n t ã o
o n o m e da r u a . O seu p r i m i t i v o <iono f o i F r a n c i s c o
G o m e s q u e os h e r d o u de seus antepassados q u e t o m a -
r a m p a r t e na conquista da c i d a d e , s e n d o recompensados
pela sesmaria destes t e r r e n o s . A G o m e s f o r a m os ter-
renos c o m p r a d o s p o r L o u r e n ç o . p r ó p r i o v e n d e d o r .
Q u a s i u m s é c u l o g a s t o u a r u a d a A s s e m b l é a de i r
da Mis* r i c o r d i a ao L a r g o d a C a r i o c a , c o m o a r u a d c S.
J o s é para chegar ao mesmo l a r g o .
E r a u m a e x p a n s ã o d e m o r a d a c l e n t a , c m vista d c
circunstancias q u e o p o v o a m e n t o n ã o p o d i a v c n c c r , s e n ã o
c o m a u x i l i o da a u t o r i d a d e , i n t c i r a m e n t c a l h e i a a esse p r o -
b l e m a . E l l a se o p e r a v a a custa de seus e l e m e n t o s p r ó -
prios, p o r m e i o q u a s i q u e e x c l u s i v a m e n t e das g e r a ç õ e s
q u e se suecediam. N e n h u m e l e m e n t o d c a u x i l i o t i n h a a
e m i g r a ç ã o q u e quasi n ã o e x i s t i a , s e n ã o d c r a r o s p a r e n -
tes dos m o r a d o r e s v i n d o s d a m ã i p á t r i a . A i n d a q u e
lento, todavia o povoamento e c o n s t r u c ç ã o urbana se-
g u i a m o seu c u r s o n a t u r a l , e m p r o c u r a d o i n t e r i o r d a
c i d a d e q u e e r a sua zona a g r í c o l a .
J á t i v e m o s o c c a s i à o de dizer q u e o L a r g o d a C a -
rioca era c o b e r t o p o r u m a l a g o a . N ã o a c r e d i t a m o s q u e
suas á g u a s se c o m m u n i c a s s e m c o m u m a l a g o a e x i s -
tente na r u a d ' A j u d a , i n t e r c e p t a d a s p o r u m a ele-
v a ç ã o de terreno, onde e s t á a antiga rua d a Guarda
V e l h a , c o n s t i t u í d a j u s t a m e n t e pelas f r a l d a s d o m o r r o
d e S. A n t ô n i o q u e por a h i se e s t e n d i a . Essa e l e v a ç ã o ,
e n t r e as d u a s l a g o a s a b r i o u m a v i a d e c o m m u n i c a ç â o
dos h a b i t a n t e s da c i d a d e p a r a o D e s t e r r o , q u e se fazia
[.ela r u a E v a r i s t o da V e i g a .
O l a r g o da C a r i o c a é u m dos t r e c h o s d a c i d a d e
q u e mais interesses e a o mesmo t e m p o , m a i o r e s d i f n c u l -
dades o f í c r e c e ao nosso e s t a d o . T o d a a sua e x t e n s ã o
t e r r i t o r i a l , c o m p r c h e n d e n d o a das r u a s q u e n e l l e des-
e m b o c a m , passou s u e c e s s i v a m e n t e p o r d i v e r s o s p r o -
prietários.
De l a d o d a r u a de S . José o seu p r i m i t i v o p r o -
p r i c t a r i o f o i C h r i s p i i n d a C u n h a q u e o b t e v e p o r sesma-
ria os t e r r e n o s , e m 1 6 7 3 , « a t é e a t e s t a r c o m a l a g o a »
e x p a n d i n d o se c m a l g u m a s b r a ç a s sobre o outeiro
de S. A n t ô n i o . D o l a d o da r u a da C a r i o c a estava F e r -
n a n d o A f f o n s o , t e n d o c o m o visinhos A n d r é L o p e s e
Atina Maia.
E i s a h i os p r i m i t i v o s h a b i t a n t e s d o L a r g o d a C a -
r i o c a e sua c i r c u m v i s i n h a n ç a s . N ã o d e i x a de c h a m a r -
nos a t t e n ç ã o s e r e m t a r d i a m e n t e r e q u e r i d a s as sesmarias
p o r esta zona q u e , a l i á s t ã o p r ó x i m a ao p r i m i t i v o c e n -
t r o p o p u l o s o da c i d a d e — o C a s t e i l o — e nas v i s i n h a n -
ç a s d e u m a rua c o m o a d c S. J o s é , s ó e n t ã o se c o m e ç o u
a a b r i r c p o v o a r . S o m e n t e c m 1 5 7 3 c o n v e r g i r a m as
a t t e n ç õ e s dos h a b i t a n t e s para a h i , a t t r a h i d a s p a r a o u t r o s
p o n t o s da c i d a d e , c o m o r u a s D i r e i t a , da M i s e r i c ó r d i a ,
A s s e m b l é a . etc. E é p r e c i s o a i n d a observar (pie estas
s e s m à r i a s n à o p o v o a r a m a zona, p o r q u e n ã o c o g i t a r a m
de n e l l a fazer n e n h u m a c o n s t r u c ç ã o u r b a n a . T o d o s
elles, C h r i s p i m da C u n h a , F c r n ã o A f f o n s o e s e u s c o m -
p a n h e i r o s f i z e r a m d o a ç ã o d o s seus c h ã o s aos f r a d e s d o
C a r m o , q u e sc t o r n a m , assim, os ú n i c o s p r o p r i e t á r i o s
do Largo da Carioca.
D u r a n t e m u i t o t e m p o e x i s t i o a l a g o a neste l a r g o ,
sem q u e os g o v e r n o s se preoecupassem de aterral-a,
n ã o obstantes os processos de escoamento q u e f o r a m
postos e m p r a t i c a p o r m e i o de a b e r t u r a s de v a l l a s . E '
assim q u e a C a m a r a fez u m ç o n t r a c t o e m 1 6 4 6 c o m o
p e d r e i r o A n d r é T a v a r e s p a r a a b r i r u m cano c o m tres
p a l m o s de f u n d o c q u a t r o de l a r g o , pela rua S e t e de Se-
t e m b r o , c o n s t r u í d o de p e d r a e c a l . E é j u s t a m e n t e p o r
isso q u e por m u i t o s annos esta r u a f o i conhecida c o m o
nome de r u a d o C a n o . O u t r o escoamento dco se pela
r u a de U r u g u a y a n a , por m e i o de u m a v a l i a q u e íoi
a b e r t a p o u c o antes de 1 6 4 1 , pela i n i c i a t i v a da C a m a r a
e sob sua s u p e r i n t e n d ê n c i a . A despeito disto, a l a g o a
d a q u e l l e l a r g o c o n t i n u o u c o m o u m f o c o de i n f e c ç ã o da
c i d a d e . P o d e m o s assegurar q u e a t é 1747 ella e x i s t i a
no mesmo l a r g o ,
— ate —
q u e é* p o r é m incostestavel é q u e o g o v e r n o m i n i c i p a l
possuo na r u a da A s s e m b l é a u m a zona d o t e r r e n o de
dez b r a ç a s q u e faz p a r t e i n t e g r a n t e do seu p a t r i m ô n i o .
A t é b e m p o u c o t e m p o e r a t o d o este t r e c h o d a
r u a oecupado p o r a ç o u g u e s , d e m o n s t r a n d o i s t o a f o r ç a
do p r e c e d e n t e h i s t ó r i c o q u e a q u i se fez s e n t i r d u r a n t e
tres séculos.^
A vencía a municipalidade effcctuou-se e m 1612,
r e c e b e n d o A n t ô n i o Palma a i m p o r t â n c i a d e l i a d o s ca-
maristas que eram M a n u e l D o m i n g o s Reis, L u i z M a r i -
nho, A l e i x o M a n u e l e A n t ô n i o G o m e s A l b e m a z . ( 1 )
E x í s t i o no c o m e ç o d o s é c u l o X V I I u m a r u a cha-
m a d a r u a d c A ç o u g u e V e l h o . Pelo e s t u d o e c o n f r o n t o
q u e fizemos das escripturas, f o m o s levados a l o c a l i s a l - a
no t r e c h o d a r u a A s s e m b l é a q u e vae d a r u a d o C a r m o a
da M i s e r i c ó r d i a , n o q u a l e x i s t i r a m a ç o u g u e s a t é antejs das
d e s a p r o p r i a ç õ e s para o a l a r g a m e n t o da r u a .
O e m i n e n t e d r . V i e i r a F a s c n c l a d i v e r g e de nossa
o p i n i ã o e diz q u e a r u a d o A ç o u g u e V e l h o e r a o t r e c h o
da r u a d a Q u i t a n d a v i s i n h o a de S. J o s é . E p e n s a m o s
b a s t a n t e s o b r e as razoes e m q u e este i l l u s t r c e s c r i p t o r
baseia sua o p i n i ã o . A r a z ã o p r i n c i p a l q u e nos l e v o u a
localisar na r u a d a A s s e m b l é a a r u a d o A ç o u g u e V e l h o
foi a seguinte :
E m 2íí de N o v e m b r o cie 1 6 1 2 r e c e b e o A n t ô n i o
Palma a i m p o r t â n c i a d a v e n d a q u e h a v i f e i t o a m u n i c i -
p a l i d a d e dos t e r r e n o s e m q u e e s t a v a o a ç o u g u e , q u e
j á e x i s t i a q u a n d o se d c o esse p a g a m e n t o . O s t e r r e n o s
v e n d i d o s e r a m i n c o n t e s t a i v e m t n t c l o c a ü s a d o s na r u a d a
A s s e m b l é a , porque f o r a m comprados a Pedro Cubas
que somente naquella rua p o s s u í a terreno.
A t é o fim d o s é c u l o a c o n s t r u c ç ã o p o u c o t i n h a
se a d i a n t a d o , p o r q u e as e s c r i p t u r a s q u e p o d e m o s l e r
r e g i s t r a m a v e n d a de m q i t a s b r a ç a s de c h ã o s e m u i t o
poucos p r é d i o s .
E m g e r a l se diz q u e a r u a 7 d e S e t e m b r o n à o se
a b r i a na r u a D i r e i t a , d c q u e era i n t e r c e p t a d a pelo c o n -
v e n t o dos C a r m e l i s t a s . M a s isto n ã o é v e r d a d e , p o r q u e
lemos a s e g u i n t e e s c r i p t u r a . E m 4 d c A g o s t o d c 1 6 0 9
o conegp A n t ô n i o Pina vendeo a Vicente A l v a r e s de
A r a ú j o uma casa na r u a q u e c b a m à o h o j e r u a do C a n o
R e a l para a p a r t e d o c a m p o e faz c a n t o c o m a r u a D i -
r e i t a d c u m lado q u e Váe p r r a S. A n t ô n i o d e t e r m i n a d a
p e l a C a m a r a p o r c u j a causa sc d i m i n u í r a m b r a ç a : ; deste
c h ã o para a d i t a r u a .
T e n t e m o s j u s t i f i c a r este p o n t o . N a r u a d o C a r m o ,
no l u g a r o e c u p a d o h o j e p o r u m a casa de banhos, ^ x t s -
tia a c a p e l l a dos t e r c e i r o s d o C a r m o , s i t u a d a i n t e r
claustra d a cerca dos C a r m e l i t a s , f u n d a d a c m 1 6 4 8
p c l r o u v i d o r B a l t h á s a r de C a s t i l h o . D e s s a r u a p a r a a
D i r e i t a h a v i a u m a n t i g o becoo q u e n ã o se d e v e c o n f u n -
d i r c o m o a c t ú a i b e c c o dos B a r b e i r o s . O p r i m i t i v o
b e c c o existia e n t r e a p a r e d e l a t e r a l d a h o j e c a t h e d r a l e
a u l t i m a casa d o q u a r t e i r ã o c h a m a d o d e p o i s d o C a r c c l -
agu&s quo sahirfcin e qne rsvj* U'<ÍIII A** l.igojs ciif.imvisir.!i3s a Mia cidadã ite
nimicira qtte »no ejHftjiU rjíis ruas CIUMCII"» quê CÓ* a abertura do dito cílrt.O
sc fiquem livre* dás dita» -g» IÍ * d\pg.'iã » dj«i i ul" até o mar passando por
detraz du cas.i* dc Pliyst.» Crinpir Cioaves e leri u dito cann tros palitos dc
akn o qaâ:ro .li- largo c >eíá feito dc pedra e tal c se Hvs pagará da dita ohri
Irei r.'.il réis poi caca auça. po- VJ\O eSclto sc 11>T* dava ""£0 ao principio deli 1
cem rr i) riíis ciu diah-?iro dc tutiudo c leaòu feito vinte braças á,\ díí-i obia $«
Ibe daido giilro cem mil r:is c 110 Qm do tempo cai que sc obriga a firei a
dito obra quo ba d-: ser de tresmcrcí primeiros seajeinles da feitura-desta cs-
criptur.i por plante sc liJB lia dc dar outros cem mil réis c porque disserem
qr.e toOh biaca d» dita chia scrí Je duremos c çbicocrita palmos co i: dccliTa-
CÃO qnfe no íuii da dita obra sc llie darío outros cem mil rc:í o r.eçta conl-rrr.i-
d.ide »e obriga por *u.. pcsío.i e b;ns a faz;* a •• hra no praso de ires more*
com lodi a scgur.iní.: c perfcieio que semelhante obra reqr.er e pitos diu>*
vo: -üidores : (.liicíaes da marca ar>a:io a*si«nadns ínj CÍTO q.i.s 6<TÍv.ini snuTen-
t.- e sé obriga ..iui a (jue fazendo o duo Anoiá ' IV.HSÍ p<rdi>í'u a dita "bra
n i forma reler ida se lbi paga.nl o preço âélUi áSSiái como i;.-1 declarado que
Ohllg» os bens .1-. Çüiisellie», üo .ydo awitò lofios rombinado* e contrdC.jJo*.
(A :sciiptura 65ta assigiwda |'0/ 0.i8p <ir Gonçalvs* da Costa Fjia, Siuião Car-
do«oa Pisarro, Jfiige l-,rreirj Jíulllúcs, Francisco Freire da FoiisccaJ,
l'i /«retro Cjr/ano </es!.i cijitdc.
ler. F o i b e m nesta e s q u i n a q u e f i c a v a a casa v e n d i d a
p e l o c o n c g o A n t ô n i o P a u l a V i c e n t e A l v a r e s . Esse
becco existe hoje, ainda que m u i t o reduzido. E ' o
q u e e s t á e n i r e os d o u s t e m p l o s e q u e se t e r m i n a p o r
dous p o r t õ e s .
Esta escriptura demonstra t a m b é m que o nome
p r i m i t i v o d a r u a 7 de S e t e m b r o e r a r u a de N . S . d o O .
O s t e r r e n o s d a r u a 7 de S e t e m b r o desde a r u a o u
travessa de S . F r a n c i s c o de Paula a t é a de G o n ç a l v e s
D i a s faziam p a r t e da s e s m a r i a de Á l v a r o Pires, u m dos
conquistadores d a c i d a d e e q u e a passou aOs seus des-
cendentes q u e c o n s t i t u e m a f a m i l i a G o m e s T o r r e s , —
q u a s i t o d a m o r a d o r a na r u a 7 de S e t e m b r o .
A r u a d ' A j u d a c quasi t ã o a n t i g a c o m o as ruas de
S. J o s é c A s s e m b l é a . J á encontramos nella escripturas
d c venda de t e r r e n o s e predios d e s d e 1 6 1 2 .
S u a a b e r t u r a explica-se p e l a c o m m u n i c a ç â o p e l o
m o r r o do C a s t e i l o e da r u a S. J o s é c >m a e r m i d a d ' A j u -
da, o n d e e s t á h o j e o c o n v e n t o d ' A j u d a , d e m o l i d o ha
poucos mezes p a r a a c o n s t r u c ç ã o d c u m g r a n d e h o t e l .
D a h i a r a z ã o de e l l a desembocar na r u a d c S . J o s é ,
c u j a s c o m m u n i c a ç õ e s com a q u e l l e c o n v e n t o pela r u a
h o j e 13 d c M a i o e r a m e n t ã o i m p o s s í v e i s pela lagoa d c
S . A n t ô n i o q u e se e s t e n d i a pelo l a r g o da C a r i o c a e
parte daquclla rua.
A c o n s t r u c ç ã o na r u a d ' A j u d a c o m e ç o u do seu
t r e c h o j u n t o a S . J o s é e m d i r e c ç ã o ao q u e e n t ã o c h a -
mava-se C a m p o d ' A j u d a , o n d e e s t á h o j e c o n s t r u í d o o
p a l á c i o M o n r ó e . E m g r a n d e e x t e n s ã o d e l i a e m seu tre-
cho final, e x i s t i a m grandes c h á c a r a s e q u e v i e r a m a t é o
s é c u l o X V 1 1 I . E ' assim p o r e x e m p l o que, em 3 de f e v e -
r e i r o de 174!), o p a d r e J o ã o de A r a ú j o M a c e d o , c o m o
p r o c u r a d o r d o bispo D . A n t ô n i o d c G u a d e l u p e , « c o m -
prou a M a n o e l Pereira d a Silva u m a c h á c a r a em terras
p r ó p r i a s j u n t o a i g r e j a de N. S. d ' A J u d a p a r a a b a n d a
da fortaleza de S. J a n u á r i o q u e p a r t e d c u m a banda
c o m terras d o c o n v e n t o d A j u d a e da o u t r a com a cha-
(
— 322 —
cara q u e f o i do c a p i t ã o J o ã o d c C a m i n h a , f a z e n d o testa-
da c o m a r u a q u e vae sahir no c a m p o de N . S. d ' A j u d a
c o r r e n d o os f u n d o s a i n t e s t a r c o m a f o r t a l e s a de S. Ja-
n u á r i o que comprou a M a r g a r i d a Mattos F i l g u e i r a para
nella e d i f i c a r u m s e m i n á r i o . ( 1 ) »
A c h á c a r a de C a m i n h a a q u e se r e f e r e a escri-
p t u r a oecupava t o d o o t e r r e n o q u e se e s t e n d e d o Pas-
seio P u b l i c o a t é u m a g r a n d e e x t e n s ã o d a r u a de S. L u -
z i a . Estes t e r r e n o s f o r a m dados e m 1 1 de s e t e m b r o d c
1 5 7 3 de sesmaria a N u n o A l v a r e s , f i c a n d o p o r sua mor-
te p e r t e n c e n d o ao seu n e t o I l e i t o r M e n d e s q u e os v e n -
d e o a l í e n t o d e O l i v e i r a Prates, a q u é m f o r a m c o m p r a -
dos por J o ã o C a m i n h a S o u t o M a i o r . ( 2 )
N o c o m e ç o da rua E v a r i s t o d a V e i g a e x i s t i a u m a
outra c h á c a r a de que trataremos adiante, porque a aber-
t u r a desta rua c o b r a do s e c u l ò X V I I I e n ã o d o s é c u l o
XVII. 9
A r u a do O u v i d o r d a t a t a m b é m d o s é c u l o X V I I ,
mas e m sua s e g u n d a m e t a d e , s e n d o menos a n t i g a
do q u e as r u a s d c q u e t e m o s t r a t a d o a t é a q u i . O seu
p r i m e i r o n o m e f o i travessa do G u d e l h a ( 3 ) , e m 1 6 7 3 , d e -
pois r u a d o B a r b a l h o c e m 1*11)0 r u a da C r u z , q u e se
conservou quasi durante l o d o o s é c u l o X V I I I . (1).
A l g u n s p r é d i o s vendidos j a eram c o n s t r u í d o s dc
p e d r a c cal e alguns eram assobradados. A t é o f i m d o
século, a rua do O u v i d o r mal chegou a r u a Nova do
Ouvidor.
A abertura da r u a do Rosário data t a m b é m do
s é c u l o 1 7 , mas m u i t o d e p o i s cio seu m e i a d o .
D e s d e 1G88 e n c o n t r a m o s e s c r i p t u r a s de venda d e
t e r r e n o s na r u a d o R o s á r i o q u e chamava-se e n t ã o r u a
d c P e d r o d a Costa ( 2 ) .
D e s d e 1 6 8 8 t e m c i l a esse n o m e , p o r q u e e m escri-
p t u r a de v e n d a d e c h ã o s f e i t a p o r L u i z M a c h a d o H o -
m e m a A n d r é d e Sousa é esse o n o m e da r u a q u e d u -
r a n t e t o d o o s é c u l o 17 t i n h a m u i t o p o u c a s casas cons-
t r u í d a s . E m 1 7 2 2 a i n d a e x i s t i a u m c o r t u m e na p r ó p r i a
n i a . E é interessante a s e g u i n t e e s c r i p t u r a pelos ensi-
n a m e n t o s q u e e l l a nos f o r n e c e . E m 2 0 d c j u l h o d c a
1 7 2 2 , M a n >cl de A r a ú j o v e n d e o a R o b e r t o R i b e i r o 14
b r a ç a s d c c h ã o s na r u a de P e d r o da Costa q u e h o j e
c h a m a m d o R o s á r i o os quaes desde a face da d i t a rua p a r a
a r u a da Q u i t a n d a do M a r i s c o i n c l u s i v e , o e c u p a n d o t o d a
esta d i s t a n c i a no m e i o da q u a l fica a r u a da P o r t u -
gueza hoje chamada t a m b é m d o padre Mattoso c par-
t e m d o l a d o d o p o e n t e n a r u a d c P e d r o da Costa c o m
o c o r t u m e a n t i g o q u e f o i de G o n s a l o A n d r é c h o j e de
B a l t h á s a r B c r n a r d e s desde o q u a l a m e d i r e c o r r e r as
14 b r a ç a s p a r a o c a m p o c poente c o m c h ã o s q u e no
fim destas 14 b r a ç a s l a r g o u o c o r o n e l F r a n c i s c o da S i l -
veira S o u t o M a i o r s e n h o r (pie f o i delles a Joanna de
A l v a r e n g a c na face da r u a da Q u i t a n d a elo M a r i s c o
p a r t e m do nascente e p o e n t e p a r t e m com c h ã o s q u e
t a m b é m f o r a m d o d i t o c o r o n e l . (Primeiro Cartório desta
Cidade).
E s t a e s c r i p t u r a é interessante, p o r q u e ella e l u c i d a
e esclarece m u i t a s d u v i d a s s o b r e a a n t i g a t o p o g r a p h i a
da c i d a d e . E ' a s s i m p o r e x e m p l o q u e e l l a ensina q u e
a rua da P o r t u g u e z a era o t r e c h o da r u a T h e o p h t i o O l t o m
e n t r e a r u a l ° d e M a r ç o e a da Q u i t a n d a q u e p o r sua vez
e r a chamada a r u a da Q u i t a n d a do M a r i s c o , q u a n d o e m
g e r a l á p p l i c á - s e este n o m e a r u a da A l f â n d e g a a t é
Q u i t a n d a , p o r q u e n^sta u l t i m a existia a q u i t a n d a dos
mariscos. Desde 1 7 0 4 t e m e l l a o n o m e de r u a do R o -
sário e e n t ã o j á tinha chegado á t u a da Quitanda.
A a b e r t u r a d a r u a d o H o s p í c i o d a t a dos ú l t i m o s
annos d o s é c u l o X V I I . O seu p r i m e i r o n o m e f o i r u a d o
L i c e n c i a d o D o m i n g o s C o e l h o ) 1 ) , r u a da P o r t u g u ê s ^
( 2 ) , r u a d o Padre M a t t o s o e finalmente r u a do H o s -
p í c i o . (3).
£ ' da mesma d a t a a r u a da A l f â n d e g a , c o n h e c i d a
c o m o n o m e de Q u i t a n d a d o M a r i s c o , p o r e x i s t i r na es-
quina c o m a rua actual da Q u i t a n d a o c o m m e r c i o de
mariscos. E ' este n o m e q u e v e m nas e s c r i p t u r a s de v e n -
d a d c p r é d i o s e m l f ! 7 5 . È m 17t)!> ella c h e g o u a t é a e s q u i -
na d a r u a h o j e dos O u r i v e s . O s nomes p o r e x e m p l o r u a
d o S a b ã o com que por a l g u m tempo f o i conhecida f o -
r a m m u i t o p o s t e r i o r e s . D a t a m d o s é c u l o 1 H. D u r a n t e o
s é c u l o 1 7 o ú n i c o nome f o i Q u i t a n d a d o M a r i s c o .
A r u a d o G e n e r a l C a m a r a é mais o u menos con-
t e m p o r â n e a das ruas q a e a t é a g o r a t e m o s e s t u d a d o
como H o s p í c i o , R o s á r i o , e t c . E m 1 6 9 0 j á e n c o n t r a -
(I; Verlfiia-ae isto_ pela escrlptun Ai Venda dc uma casa dc pedra e cal
feita a Ü de Julho dc Ji>7* pnr Antônio llodragucs Gaia, Ofrieia.1 dc caíafate j
Matheus Alvares, ferreiro.
;2) Verifica-ac pata eseriplutá A" venda de w.-.s chãos feita a ]3 dc
Agoslo .de 17U4 por Joflo dc Almeida a Domingos Barroso na rua de Domingos
' •• .h. C\'AV chamam rua da Poriugucza.
01 Verifica-se istu pela escriptura de venda de umas casa. a 5 dc Ja-
neiro de 17-51 porrtutuuioJosé Alildor.ado e Phelipp- da Rocha, na ru* "do
Padre Mal toso c hoje rua do tras do Hospício.
— 32Õ —
A r u a de M a r e c h a l F l o f i a r í o P e i x o t o é m a i s a n t i g a
de q u e as q u e lhe ficam i n t e r m e d i a s a t é a r u a d o Q u v i -
v i d o r. E l l a existe desde 1 6 1 7 , q u a n d o n e l l a e n c o n t r a m o s
escripturas de v e n d a de c h ã o s . E r a e n t ã o u m b a i r r o d a
c i d a d e c o n h e c i d o c o m o nome de V i l l a V e r d e , sem q u e
s a i b a m o s a t é a g o r a a r a z ã o de s e m e l h a n t e n o m e . A escri-
p t u r a usa e n t ã o desta phrase : f o i o t a b e l l i ã o a zi!la
verde, t e r m o desta c i d a d e etc O u t r a s usam da s e y u i n t e
p h r a s e : e p o r a m b o s f o i d i t o q u e antes de se c o m e ç a -
r e m a m o v e r a l g u m a s d u v i d a s s o b r e a m e d i ç ã o dos
c h ã o s q u e elles c o n f i n a n t e s t ê m no b a i r r o d e seritorio
v u l g a r m e n t e c h a m a d o d c V i l l a V e r d e q u e c no c a m i n h o
da Prainha He S . B e n t o e t c » .
Pela l e i t u r a q u e fizemos das e s c r i p t u r a s v e m o s q u e
o nome de V i l l a V e r d e applicnva-se a toda e x t e n s ã o
t e r r i t o r i a l ate o m o r r o da C o n c e i ç ã o n ã o se l i m i t a n d o a
Prainha ate S . Bento. A c r e d i t a m o s q u e o n o m e V r l j a
V e r d e c o m p r e h e n desse os t e r r e n o s a t é a rua d e * U i u -
• g u a y a n a , em vista cie escripturas de venda de c h ã o s f e i t a
por J o s é d e Sonsa F e r r e i r a q u e s ã o l i m i t a d o s j u s t a -
mente p o r a q u e l l a r u a , O n o m e d e V i l l a V e r d e v. e
a t é 1 7 4 6 o u talvez d e p o i s .
Eis ahi a data da a b e r t u r a das r u a s p e r p e n d i c u l a -
res ao m a r . V e j a m o s a g o r a as r u is p a r a l l e l a s .
t a m b é m de J o ã o M e n d e s C a l d e r c i r o , assim corno a r u a
dos O u r i v e s , conhecida c o m o nome de r u a para a
C o n c e i ç ã o o u rua para o P a r t o .
A t e a r u a dos O u r i v e s c h e g o u .o p o v o a m e n t o d a
c i d a d e cio Rio no s é c u l o X V I I com a c o n s t r u c ç ã o u r -
bana.
A s ruas G o n ç a l v e s D i . s e Uruguayana s ã o obra
00 s é c u l o X V 1 1 1 , c o m o veremos no p r ó x i m o c a p i t u l o .
E s t u d a d a s as ruas, v e j a m o s agora as causas c m o -
tivos de sua a b e r t u r a e d i r e c ç ã o .
— 328 —
M a n t é m a t é h o j e e m seus n o m e s HS t r a d i ç õ e s das
causas q u e a b r i r a m a r u a da Q u i t a n d a . S e u p r o l o n g a -
mento a t é a rua Marechal Floriano era inéviti.vél, pelo
c e n t r o p o p u l o s o s de villa verde q u e a n t e c e d e o de m u i -
tos annos o p o v o a m e n t o de q u a s i t o d a a c i d a d e .
F i c a v a elle na r u a M a r e c h a l F l o r i i n o e T h c o p h i l o
O t t o n i , por o n d e fazia-se a c o n d u ç ã o de cargas e p r o d u -
ctos a g r í c o l a s das zonas s u b u r b a n a s , E b a s t a isto p a r a
dar-lhe o c a r a c i e r de u m c e n t r o t u r b u l e n t o , de po-
p u l a ç ã o a d v e n t i e i t, c o m p o s t a de c a r g u e i r o s c c o n d u e t o -
res e n t r e g u e s ao á l c o o l e a o v i c i o . F o i o p r i m e i r o c e n t r o
de c r i m e s da c i d cie, o n d e h o m i s i a v a m - s c os v a g a b u n d o s
a b . i i x a socie Ia le d a q u e l l e s t e m p o s . E m t o d o o caso,
precisava a l i m e n t . r-se e f o r c o u assim o p r o l o n g a m e n t o
da rua da Q u i t a n d a a t é lá. E l l a t e r m i n a v a - s e na g r a n d e
c h á c a r a o u h o r t a p e r t e n c e n t e aos f r a d e s b e n e d i c t i n o s
q u e i . b r a n g i a a g r a n d e z o n a dos m o r a d o r e s das ruas
Beneaietinos e MimicipaL *
F o r a m abert s e m nossos t e m p n s a r u a n o v a de
S. B e n t o e m I 73'~« e o becco dos CaeÁorrosonàeGâ*p r
G o n ç a l v e s ( q u e c o m m u n i c a v a a rua dos Pescado-
res c o m a ila Prainha) fez o a n t i g o j o g o da b o l a dos
b e n e d i c t i n o s qu<* n ã o d e v e ser c o n f u n d i d o c o m o j o g o
da B o l a d e Be..to Esteves na r u a d o H o s p í c i o , c a n t o
da d o Sacramento e j u n t o da L a g o a de Polè q u e p o d e
ser considerada c o m o o p r o l o n g a m e n t o da l a g o a d a
Pavuna.
A a b e r t u r a da rua da C a n d e l á r i a e x p l i c a se pela
e x i s t ê n c i a d o t e m p . o , isto é, da i g r e j a da C a n d e l á r i a ,
c o m o u m a v i a de c o m m u n i c a ç â o dos h a b i t a n t e s cio o u -
t r o lado cia c d a le E t a n t o assim é q u e a r u a d a C a n -
d e l á r i a t e r m i n a se j u n t a m e n t e na i g r e j a o u por o u t r a
na rua d o H o s p í c i o . Esta r u a t e r m i n a v a - s e n a a n t i g a
r u a dos Q u n t e i s a b e r t a pelos b e n e d i c t i n o s e m 1 0 1 5 ,
h o j e C n n s e l h e i r o -varaiva.
N e s t a rua e s t iva s i t u a d o o a ç o u g u e dos b e n e d i c t i -
nos e no seu canto c o m a r u a dos Pescadores e x i s t i a o
— 320 —
fim d e s t a s 14 b r a ç a s l a r g o u o c o r o n e l F r a n c i s c o da S i l -
veira Souto M a i o r senhor que f o i dcllas a Joanna de
A l v a r e n g a e na face da r u a da Q u i t a n d a d o M a r i s c o
a ç o u g u e de M a r i a n o L i n h a r e s , c m t e r r e n o s p e r t e n c e n -
tes a M i s e r i c ó r d i a .
A rua dos O u r i v e s n ã o tem a e x p r e s s ã o commer-
cial d a r u a da Q u i t a n d a e m r e l a ç ã o a sua a b e r t u r a ,
a i n d a q u e se c o n s t i t u í s s e o c e n t r o d o c o m m e r c i o d e
ouro na cidade.
O p e n s a m e n t o de seu t r e c h o nas a p p r o x i m a ç õ c s
d a i g r e j a d o Parto explica-se p e l a p r e s s ã o dos i n t e r e s -
ses r e l i g i o s o s . M a s , o p e n s a m e n t o de seu t r e c h o opposto
e m d i r e c ç ã o ao m o r r o da C o n c e i ç ã o e o n d e c e n t r a l i -
sava-se o c o m m e r c i o d o o u r o , o b e d e c e á i n f l u e n c i a d c
o u t r a o r d e m . A a l t r a ç ã o q n e o trecho desta r u a e x e r c e u
sobreoeste r a m o de c o m m e r c i o explica-se e m d o i s factos
A r u a e r a s o l i t á r i a e d i s t a n c i a d a d o c e n t r o da a u t o r i -
d a d e , e m c o m e ç o do s é c u l o X V I I , q u a n d o iniciou-se o
c o m m e r c i o d o o u r o , q u e e n t r e n ó s f o i o q u e mais se
p r e s t o u ao c o n t r a b a n d o . A s c o n d i ç õ e s de d i s t a n c i a e so-
l i d ã o d a r u a a j u d a v a m á f r a u d e d o fisco. E esta c i r c u m -
s t a n c i a i n f l u i u para a e s c o l h a da sede d o c o m m e r c i o .
q u e n u n c a m a i s a a b a n d o n o u . Seus h a b i t a n t e s e r a m m a l
vistos pela a u t o r i d a d e , p o r q u e e n t r e elles f i g u r a v a m
os p r i m e i r o s j u d e u s q u e a q u i a p o r t . i r a m , trazidos pela fe-
b r e do o u r o . R u a de h a b i t a ç ã o d c j u d e u s c o m o a r u a d a
d a C a r i o c a o f o i de c i g a n o s . Si sob o p o n t o de vista
social t í n h a e m st os elementos inconcussos da s u s p e í ç ã o ,
sob o p o n t o de vista m a t e r i a l era a sede das mais s ó l i d a s
fortunas.
Nasceu a agiotagem com o contrabando do ouro e
a i n d u s t r i a d o d i n h e i r o f a l s o . M a s , o t e m p o apaga, d e
t o d o , esse precedente c o m u m f a c t o q u e attesta o g r a n -
d e p r e s t i g i o p o l í t i c o da r u a dos O u r i v e s d e q u e nos
oecuparemos.
Q u a n d o t r a t a m o s da r u a D i r e i t a , t i v e m o s o c c a s í ã o
dc f a l l a r s o b r e a s i t u a ç ã o dc d o m i n í o t e r r í t o r i a h q u e nella
t e m o g o v e r n o m u n i c i p a l da cidade. Os p r o p r i e t á r i o s
— 330
do l a d o da r u a q u e ficam a p p r o x i m a d o s ao mar s ã o e m p h y
teutas, n ã o p a r t i c i p a n d o dessa r e s t r i c ç ã o de d i r e i t o d a
p r o p r i e d a d e os q u e lhe s ã o f r o n t e i r o s . S ã " , á p r i m e i r a
v i s t a , anomalias i n e x p l i c á v e i s , essas c o n d i ç õ e s de d o m í -
n i o d i r e c t o s o b r e os t e r r e n o s desta r u a . N ã o é s ó m e n t e
isto.
A s m a r i n h a s , q u e ficam e m t o d a a e x t e n s ã o d a r u a ,
desde o m o r r o d o C a s t e i l o a t é o d c S . B e n t o , n ã o s ã o
p a r t e i n t e g r a n t e do p a t r i m ô n i o d o E s t a d o q u e s o b r e
cilas n ã o p ô d e c n ã o deve e x e r c e r a menor j u r i s d i ç ã o .
Pertencem, dc facto e dc direito, á Camara M u n i c i p a l .
Q u a n d o sc a g i t o u a c e l e b r e q u e s t ã o s o b r e o d o -
m í n i o das marinhas da cidade, e l l a s n ã o u l t r a p a s s a v a m
aquella e x t e n s ã o c e n t ã o j á estavam aforados e v e n d i -
dos todos os t e r r e n o s q u e s ã o c o n t í g u o s . #
A c o n s e q ü ê n c i a f o i q u e a r e s o l u ç ã o da c o r ô a , a fa-
v o r dos seus d i r e i t o s p a t r i m o n i a e s nas t e r r a s d c m a r i n h a
d a cidade, n ã o p o d i a a b r a n g e r as q u e estavam s o b r e o
d o m í n i o particular, por venda o u aloramento.
E i s a r a z ã o de n ã o p e r t e n c e r e m ao E s t a d o estas
t e r r a s de m a r i n h a .
A n t e s d o m e a d o d o s é c u l o X V I I , os g o v e r n o s d a
cidade mantiveram-se c m u m a s i t u a ç ã o permanente
de defesa m i l i t a r , e m vista d a i n v a s ã o hollaueleza no
n o r t e c da e x p a n s ã o sempre v i c t o r i o s a d a q u e l l e p o v o
n a q u c l l a r e g i ã o . A cidade d o R i o d e J a n e i r o n ã o t i n h a
e n t ã o , o m e n o r e l e m e n t o de d e f e s a , o f f e r e c c n d o as
m a i o r e s f a c i l i d a d e s d e ser i n v a d i d a e c o n q u i s t a d a . N e m
g u a r n i ç â o , n e m f o r t a l e z a s , nem reduetos e x i s t i a m p a r a
oppor a m e n o r resistência a q u a l q u e r c u b i ç a estrangeira.
O s r e p r e s e n t a n t e s dos p o d e r e s p ú b l i c o s n ã o p o d i a m
n e m d e v i a m ser i n d i f f e r c n t e s a essa s i t u a ç ã o p e r i g o s i s -
s i m a a t o d o s os interesses, a t é m e s m o á v i d a dos h a b i -
tantes cia c i d a d e .
F i r m o u - s e e n t ã o , o p r o g r a m m a de u m a p o l í t i c a
e x c l u s i v a m e n t e m i l i t a r , q u e sc a c c e n t u o u na c o n s t r u -
c ç ã o dc fortalezas j u l g a d a s i n d i s p e n s á v e i s , a i n d a m a i s
do q u e o a u g m e n t o d a g u a r n i ç â o . D a h i nasceu a i d é a
d a c o n s t r u c ç ã o da f o r t a l e z a da L a g e . E , c o m o n ã o e x i s -
t i a m recursos o r ç a m e n t á r i o s para custear a o b r a , r e c o r -
reu-se ao m e i o d o a f o r a m e n t o c da v e n d a dos t e r r e n o s
da r u a D i r e i t a .
A a u t o r i d a d e , e m vez de r e s o l v e r o p r o b l e m a or-
ç a m e n t á r i o p o r m e i o d a t r i b u t a ç ã o , c o m o se faz h o j e ,
r e c o r r e u á s verbas p a t r i m o n i a e s . S o m e n t e á custa d a
t r i b u t a ç ã o procuramos resolver o p r o b l e m a militar mo-
d e r n o . N i n g u é m c o g i t a de g o s a r as riquezas p a t r i m o -
niaes, q u e p e r m a n e c e m i m p r o d u e t i v a s e todos c o n v e r -
g e m para o imposto como o meio mais fácil, e suave d a
s o l u ç ã o das crises financeiras. A t r i b u t a ç ã o d e c o n s u m o
é o b r a e x c l u s i v a do fundingloaii, assim como o prote-
c i o n i s m o i n d u s t r i a l c o r r e á c o n t a d c u m a e n o r m e sobre-
carga sobre a i m p o r t a ç ã o estrangeira.
N ã o p r o c e d e r a m assim os nossos a v ó s .
C o m p r e h c n c l e r a m f o r t i f i c a r a c i d a d e c o m as r e n d a s
patrimoniaes. E o a l c a n ç a r a m .
E ' verdade q u e h o u v e u m precedente g r a n d e c d e
i n c o n t e s t á v e l i n f l u e n c i a p a r a essa p o l í t i c a f i n a n c e i r a . A
C a m a r a j á t i n h a a f o r a d o u m a n ã o p e q u e n a zona da r u a
D i r e i t a , q u e se estende da r u a do R o s á r i o ao a n t i g o
l a r g o d o P a ç o com o p r i v i l e g i o da c e l e b r e b a l a n ç a de
(de v e r o peso).para o s e r v i ç o de e x p o r t a ç ã o d o assucar
q u e p o r si s ò , e l a v a u m a f o r t u n a cie n a b a b o e m v i s l a dos
r e c u r s o s c dos valores d a é p o c a .
O privilegiado f o i Salvador Bencvides, e n t ã o al-
çai de da c i d a d e , p c r t c n c c n t c ao t r o n c o de uma das mais
n o t á v e i s f a m i l i a s cariocas.a q u e m a i s se e x p a n d i u e p r e -
p o n d e r o u nos destinos p o l í t i c o s da é p o c a . S a l v a d o r B e -
n e v i d e s e r a u m h o m e m v e r d a d e i r a m e n t e de n e g o c i o s . A o
lado de suas altas q u a l i d a d e s moraes de g o v e r n o , da
sua b r a v u r a m i l i t a r , d o seu instineto de g u e r r e i r o , re-
u n i a o e s p i r i t o c o m m e r c i a l , q u e n ã o p o d i a se f u r t a r á s
responsabilidades dos c a r g o s q u e exercia. Suas trans-
a c ç ò c s e r a m m ú l t i p l a s e seus p l a n o s e r a m elaborados á
s o m b r a de u m a sabedoria i n g e n i t a á sua o r g a n i ç ã o .
— 332 —
A c a b o u c o m o u m d e p o s i t á r i o de u m a g r a n d e f o r t u n a ,
associada a u m e n o r m e p r e s t i g i o p o l í t i c o q u e , e n t r e -
t a n t o , s o f í r e u u m eclipse p r o j e c t t d o p e l o c i v i s m o ca-
rioca, q u a n d o na l o u c u r a das g r a n d e s p a i x õ e s , q u i z
exceder-se no a u t o r i t a r i s m o d a sua v o n t a d e .
Essa r e s i s t ê n c i a é u m a b c l l a p a g i n a d o h e r o í s m o
dos h a b i t a n t e s desta c i d a d e , q u e e n f r e n t a r a m o g i g a n t e
c o depuzeram. Mas n ã o antecipemos acontecimentos.
S a l v a d o r Benevides d o m i n a todo o m o v i m e n t o de
c i v i l i z a ç ã o b r a s i l e i r a no s u l d a c o l ô n i a .
E , si a g o r a fosse o c e a s i ã o u p p o r t u n a d e t r a ç a r d h e
o r e t r a t o , d e s c e r í a m o s a i n c i d e n t e s q u e , m u i t a s vezes,
e m p a n a r a m o seu r e n o m e .
E r a o a l c a i d e m o r d a c i d a d e , q u a n d o se c r e o u o es-
t a b e l e c i m e n t o d c u m m o n o p ó l i o de a f o r a m e n t o d a q u c l l a
zona de t e r r e n o c o m as v a n t a g e n s d o p r i v i l e g i o , d o m o -
v i m e n t o fiscal de assucar. E* sem j u s t i f i c a t i v a o a<to c m
face dos a c o n t e c i m e n t o s e das necessidades d a é p o c a .
A sua d e c r e t a ç ã o creou, na p o p u l a ç ã o . m o v i m e n t o í
d e p r o t e s t o e de critica c o n t r a os d e p o s i t á r i o s do suf-
fragio municipal, destituídos dc razões que o justifi-
cassem .
N ã o f o i p o r é m , r e v o g a d o . E pesou c n o r m e m e n t e
no a f o r a m e n t o a v e n d a d c t o d o s os t e r r e n o s da r u a D i -
r e i t a , nas a p p r o x i m a ç õ e s das m a r i n h a s , d e s d e o A r s e n a l
d e G u e r r a ate o m o r r o cie S . B e n t o , a f i m d e t o r e m os
recursos f i n a n c e i r o s p a r a a c o n s t r u c ç ã o da f o r t a l e z a d a
Lage.
Eis porque a t u a D i r e i t a é uma parte foreira c uma
parte n ã o . Ü d o m í n i o directo n ã o é, p o r é m , d o g o v e r n o
e s i m d c u m a p a r t i c u l a r , q u e o o b t e v e e m n o m e de seu
p r e s t i g i o e q u e o t r a n s m i t i i u a seus d e s c e n d e n t e s , v i n -
culado em um m o r g a d o .
A r u a c t o r t u o s a . p o r q u e sua c o n s t r u c ç ã o o b e d e c e u
á s i r r e g u l a r i d a d e s da p r a i a ,
O p r o g r a m m a d a defeza m i l i t a r d a c i d a d e , e m q u e
se e m p e n h a r a m os g o v e r n o s antes d o m e a d o do s é -
c u l o X V I I , n ã o se l i m i t o u á c o n s t r u c ç ã o da f o r t a l e z a da
- 333 -
pastagens, e s t e n d i a sc d o o u t e i r o d a C o n c e i ç ã o , p o r
l i n h a d í r e c i a , a t é os m a n g u e s d a c i d a d e e d a h i q u e b r a v a
c m angulo recto a t é a entrada d a r u a d o Kiachuelo e
chegava a t é o m o r r o d o D e s t e r r o e a p r a i a d a C a r i o c a ,
nas a p p r o x i m a ç õ e s d o o u t e i r o d a G l o r i a .
E i s a h i u m a g r a n d e zona a f o r a d a por 2 7 & 0 0 0 p o r
a n n o e pela q u a l desenrolou-se d e p o i s a g r a n d e con-
s t r u c ç ã o das ricas c h á c a r a s dos p o t e n t a d o s cariocas e
por o n d e d e p o i s estendeu-se a c i d a d e , n o c o m e ç o d o
s é c u l o X I X , c o m o h a v e m o s de v e r .
Ü c o n c e s s i o n á r i o teve 0 prazo i m p r o r o g a v e l d e
p r e p a r a r os campos e m dois annos, r e c e b e n d o r e l a t i v a -
m e n t e a cada rez a ser a b a t i d a , seis v i n t e n s , a s s i m c o m o
« d e cada h a b i t a n t e q u a t r o vaccas p a r i d e i r a s , q u e a h i
quizessem trazer p a r a seu r e g a l o » .
E ' o c o m e ç o d a a c ç ã o d o governo no c o m m e r c i o
d o l e i t e , s o b r e o q u a l j á agia, n ã o c o m o caracter o b r i -
g a t ó r i o c sim facultativo.
E ' preciso a g o r a t i r a r deste f a c t o as c o n c l u s õ e s d c
o r d e m p o l í t i c a e social q u e d e l l e e m a n a m . M a s , a n t e s
disto p r e c i s a m o s assignalar u m f a c t o de c e r t a i m p o r -
t â n c i a . E m g e r a l f a l l a - s e no m o n o p ó l i o a r r a n c a d o p o r
S a l v a d o r Benevides, d a C a m a r a n o p r i v i l e g i o d o T r a -
p i c h e . E ' p r e c i s o p o r é m , o b s e r v a r q u e a n t e s de S a l v a d o r
A l e i x o M a n o e l tinha obtido da Camara e m dezembro
d e 1(114 o m e s m o p r i v i l e g i o e a l c a n ç a d o c r e a r o ser-
v i ç o d c q u e t o m o u posse e m 1 0 1 6 , r e c e b e n d o p o r c a d a
q u i n t a l que f l s s e p e s a d > 3 0 r é i s . ( 1 )
q«ei\am que acham em Portugal muita falta de assucar que daqui levam parj
O que iora muito em proveito desta cidade o credito des moradores, haver um
passo cia elle as hilanças c pezo para separarem os caixas quo se embarcam.
tomo havia «"'» Iodas Capitanias desta costa c porquanto elle supplicante tem
as partes que sc rcquereiem para ser o dito pasfo, e cabedaes para pyder la«
335 —
II
zer pe o que pede a vossas mercês Hic façam rcercé. lhe fjçara licença p.in
que elle supplicante possa fazer hum passo ne«a cidade aonde lhe bem convier
e ncUe ler pezos balança para se pezarem n assucar e Iodas as mais conn.s que
por pezo s venderem e que nenhuma outra pessoa possa ter pcios nem o dito
C
pa««o sem.» o dito suppUrjntc pessam que a vossas mercês lhe parecer, c rece-
bera mercê. Despacho : Vistoque o .supplicante pede em sua petição »cr tanto
em proveito desta cidade e conselho, lhe damos licença para poder ler um
passo em que se receberão todos os. assucares que nelle quizerem mcticr Do
caaa caixito dc ãssncar que no dito passo entrar, lhe paparao o qne de uso c
de costume... e vindo e assim mais p..derá for no dito passo ha lança em uno
sc pezem os ditos av-neare* dc pessoas que nellc quizerem pczar nos dita* ba-
lanças e sera juiz o suppliciintc do pezo e levará de cada quintal que se rtfwr
^0 reis. que para tudo se lhe dá licença e as pessoas que tivrrem pezo em sua
casa nào poderão przar nelle mais do que o que for seu, e d- fora nada, com
pena dacir.cn cruzados !>>) para o curador, c cairara e a dita licença sc lhe da
por tempo dt ires a nove annos dentro dos quae. não poderá pessoa aluiima
filiei outro passo nem ter pezo nelte, e o supplicante será obrigádn a pastar de
loro e pensão, por cada um anno, cinco cruzados, o* quacs começará a pafinr do
dia que uzar a dita balança, a um anno em camara 2S dc dezembro de Iül4—*
o e*ciiv;V> da camara lhe passará a ct>rta na conformidade deste nos-o dr«pacho
—João Gomes de Souza— Manoel do Couto—cm Camara sobre áitaa condições
lhe a-oramos c damo* licença para fazer o dito paco c pízn. - pela sobre dila
maneira lhe mandamos passar a presente carta d* aforamento por rôs ssíipnada
neste livro de tombo desla camara dc que se lhe darão todos os traslados an*
interessado* com o«tas coucerlados e scllados com o scllo que »<-rvrm ne'f.i
(.amara feita aos 29 dias d* ICM a qual carta de aforamento ÍII Gonçalo de
Aguiar rícrivão da Camarafiztrasladar e subscrevi em o dito dia acima. Pero
Luiz Ferreira—Manoel do Couto—João Gome* da Silva—Pero Gsgo da Camara.
Autos de poss «No anno de N. S. J. Chri-lo de J6I7-7diasdo me* de
K
s ã o existente na é p o c a e r a a p r o f i s s ã o a g r i c o l a . A s
artes l i b e r a e s quasi n ã o e x i s t i a m , assim c o m o as p r o -
f i s s õ e s i n t e l l e c t u a e s . ( ) R i o dc Janeiro n ã o t i n h a a r t i s -
tas, n e m t ã o p o u c o m é d i c o s e a d v o g a d o s .
N o s é c u l o X V I , u m o u o u t r o licenciado existia en-
carregado da defesa das causas, p e r a n t e os t r i b u n a e s .
I I s ó a l g u n s a n n o s d e p o i s do c o m e ç o do s c i . u l o X V I I
vemos a p p a r c c e r os c i r u r g i õ e s c o m os seus r u d i m e n t o s
de pharmacia.
U m ou outro pedreiro, carpinteiro ou f e r r e i r o exis-
t i a , d e a c c o r d o com o a n d a r lento da c o n s t r u c ç ã o urba-
n a . T i n h a , p o r e m , u m c e r t o d e s e n v o l v i m e n t o a indus-
tria c e r â m i c a .
E x i s t i a m m u i t a s olarias, p r i n c i p a l m e n t e no C a t t e t e
e na zona das r u a s T h e o p h i l o O t t o n i e F l o r i a no P e i -
xoto . *
O q u e p r e d o m i n a v a e r a o l a v r a d o r . E as zonas
q u e m a i s a t t r a i a m a a t t e n ç ã o dos c o n q u i s t a d o r e s f o r a m
as d o C a t t e t e , B o t a f o g o , R o d r i g o d e F r e i t a s , S ã o C h r i s -
t o v a m , Engenho Pequeno e Engenho Velho.
S ã o cilas as m a i s antigas n o t r a b a l h o a g r í c o l a .
c u j o i n i c i o é c o n t e m p o r â n e o d o c o m e ç o cia c o n s t r u c ç ã o .
1 Ia, p o r é m , u m a o b s e r v a ç ã o interessante a fazer-
se, e m r e l a ç ã o a estas d u a s zonas a g r í c o l a s da c i d a d e .
A s zonas de- S . C h r i s t o v a m , E n g e n h o V e l h o e E n -
g e n h o Pequeno t o r n a r a m se, d e s d e o c o m e ç o , u m p r i -
v i l e g i o dos j e s u i t a s p e l a s e s m a r i a q u e o b t i v e r a m , c u j a
testada e r a l i m i t a d a pelo r i o , e n t ã o c h a m a d o I g u a s r . ú ,
q u e b a n h a o b a i r r o de I t a p i r ú e d e s e m b o c a v a nos
m a n g u e s de S. C h r i s t o v a m .
Toda a e x t e n s ã o de t e r r e n o , q u e f i c a ao o c e i d e n t e
desta linha, c o i n p r e h e n d e n d o desde A n d a r a h y a t é S .
C h r i s t o v a m e p e n e t r a n d o pela e x t e n s ã o e m q u e h o j e
e s t ã o os « S u b ú r b i o s » , era de p r o p r i e d a d e d o s j e s u i t a s
desde 1 5 6 8 .
C l a r o e s t á q u e os c o n q u i s t a d o r e s n ã o q u e r i a m ser
e m p h y t e u t a s da O r d e m . C o m o esta, q u e r i a m g o s a r d c
propriedade plena.
— 337 —
Este e n g e n h o f o i a . c é l u l a do g r a n d e m o r g a d o i n -
s t i t u í d o p o r u m d e s c e n d e n t e de S a l v a d o r C o r r ê a — o
p r i m e i r o V i s c o n d e de A s s e c a — d e p o i s n o m e a d o n o
século X V I I .
A p r o p o r ç ã o q u e a f a m i l i a sc f o i d e s e n v o l v e n d o
c m g e r a ç õ e s , a f o r t u n a t e r r i t o r i a l foi-se a m p l i a n d o a t é
c o m p r e h e n d e r , T i j u c a , J a c a r é p a g u á e C a m p o s dos G o i -
tacazes.Em d e r r e d o r deste m o r g a d o , a g i t a r a m - s e pleitos
n o t á v e i s , l u t a s de j u r i s d i ç õ e s na p r i m e i r a phase d a
c i d a d e de C a m p o s , q u e e r a p a r t e i n t e g r a n t e de u m a
grande donatária.
O e n g e n h o d e S a l v a d o r C o r r ê a passou aos seus
descendentes. E m 1 6 1 0 , e r a o seu p r o p r i e t á r i o C a p i t ã o
G o n s a l o C o r r ê a de S á . F a l t a - n o s e l e m e n t o s p a r a dizer
se G o n ç a l o C o r r ê a é filho o u n e t o de S a l v a d o r c, p o r
c o n s e g u i n t e , f i l h o de M a r t i n de S á . V i s i n h o d o engenlv>
do C o r r ê a de S á existia ( 1 6 1 2 ) M i g u e l A y r e s M a l d o -
n a d o , t a m b e m d o n o de uma p r o p r i e d a d e a s s u c a r e i r a .
A y r e s M a l d o n a d o t e v e sua c e l e b r i d a d e d e q u e
t e r e m o s de f a l l a r . M a s , elle n à o f o i a d m i n i s t r a d o r na
cidade.
Feios m e n o s , os m a n u s c r i p t o s q u e c o m p u l s a m o s
n ã o f a l i a m d e l l e , n e m d e n i n g u é m q u e t e n h a o seu
s o b r e n o m e . P r o v a v e l m e n t e fez p a r t e das levas q u e
f o r a m a t t r a i d a s de P o r t u g a l , depois d a c o n q u i s t a da
cidade.
Pertence á s e g u n d a g e r a ç ã o dos c o n q u i s t a d o r e s ,
q u e se a b r e no c o m e ç o d o s é c u l o X V I I . R e p r e s e n t o u
i m p o r t a n t e p a p e l na sociedade de seu t e m p o . Basta
dizer q u e f o i p r o v e d o r da M i s e r i c ó r d i a , c a r g o q u e era
u m a d a s maiores d i s t i n e ç õ e s d o t e m p o .
E m 1 6 1 2 , casou sua f i l h a , M a r i a M a l d o n a d o , c o m
Francisco Cabral, que devia pertencer a alta linhagem
carioca p o r q u e A y r e s M a l d o n a d o e r a u m h o m e m r e a l -
m e n t e rico.
P o s s u í a g r a n d e p a r t e d a T i j u c a , casas n a cidade,
p r i n c i p a l m e n t e na r u a d a M i s e r i c ó r d i a , c l e r r e n o s c m
Guaxembiba.
A e s c r i p t u r a de d o t e d c u m a filha r e v e l a a r i q u e z a
d o sogro Francisco C a b r a l . Maria Maldonado foi dotada
c o m « v e s t i d o s de v e l l u d o , s e t i m , sua c a m a c o m seu p a -
v i l h ã o e seu c a v a l l o c o m r i q u í s s i m o s a r r e i o » .
N ã o era, p o r c o n s e g u i n t e , u m e s p i r i t o u s u r a r i o . u m
agiota.
Sua m u l h e r e r a da celebre f a m i l i a dos M e d e i r o s ,
de que, b r e v e , ( a l i a r e m o s c chamava-se M a r i a de M e -
deiros.
E s t u d e m o s a e v o l u ç ã o t e r r i t o r i a l dos b a i r r o s d a c i -
d a d e e comecemos por B o t a f o g o .
T e r e m o s , e n t ã o , o c e a s i ã o d c c o n t i n u a r a analyse
de l o c a l i s a ç ã o dos c o n q u i s t a d o r e s d a c i d a d e . A n t ô n i o
P a l m a , g o v e r n a d o r d o R i o de Janeiro, p o u c o s a n n o s d e -
pois d a c o n q u i s t a , c o n s t r u i o u m e n g e n h o e m R o d r i g o
dc Freitas, que f o i d e n o m i n a d o engenho de E l - R e i .
Esse e n g e n h o f o i t r a n s f e r i d o a M a r t i n de S á que
c o n s t r u i o a c a p c l l a de Nossa S e n h o r a d a C a b e ç a ,
ainda hoje existente.
A n t e s de chegar ao J a r d i m B o t â n i c o e p o r detraz
da a n t i g a c h á c a r a de R o d r i g u e s F e r r e i r a , e s t á a r e f e r i d a
c a p e l l a de Nossa S e n h o r a da C a b e ç a .
Estas i n f o r m a ç õ e s s ã o dadas p o r M e l l o M o r a e s ,
e m seus estudos. Jamais encontramos, p o r é m , as provas
q u e d e m o n s t r a s s e m a e x i s t ê n c i a desse e n g e n h o sob a
i n v o c a ç ã o de N o s s a S e n h o r a da C a b e ç a . A c r e d i t a m o s ,
m e s m o , q u e o e n g e n h o e m q u e s t ã o e r a u m o u t r o en-
g e n h o sob a i n v o c a ç ã o de Nossa S e n h o r a da Encarna-
ç ã o , p o r q u e este f o i de p r o p r i e d a d e de e l - r e i .
N ã o ha d u v i d a de que M a r t i n de S á c o n s t r u i o na-
quella paragem um engenho.
O q u e sabemos de p o s i t i v o e r e a l , s o b r e a e v o l u -
ç ã o d c d i r e i t o de p r o p r i e d a d e t e r r i t o r i a l desta p r o p r i e -
dade, é o s e g u i n t e : o seu p r o p r i e t á r i o , c m j u n h o dc
1 6 0 9 , era D i o g o A m o r i m Soares, m o r a d o r na cidade d o
R i o d c Janeiro, q u e v e n d e u , por sua vez, a S e b a s t i ã o
Fagundes, « d a mesma m a n e i r a por q u e sua magestade
jhe v e n d e r a » .
D i o g o A m o r i m Soares f o i , por mais d c u m a vez,
m e m b r o da C a m a r a M u n i c i p a l da C i d a d e , c a s a d o c o m
u m a d e s c e n d e n t e dos « D i a s » de S . Paulo, c h a m a d a
Andreza Dias.
N a é p o c a dessa t r a n s m i s s ã o de p r o p r i e d a d e , D i o g o
d c A m o r i m Soares j á estava e n t r e l a ç a d o c o m a f a m i l i a
dos F a g u n d e s , porque u m i r m ã o d o c o m p r a d o r de sen
e n g e n h o ( J o ã o F a g u n d e s ) e r a casado c o m u n i a sua
filha.
A m o r i m Soares e r a u m h o m e m rico, p o s s u i d o r d e
casas e m d i v e r s a s ruas da c i d a d e ; m o r a v a no m o r r o cio
C a s t e i l o e p o s s u í a , s o b r e t u d o , na r u a D i r e i t a , c h ã o s cie
casas q u e f o r a m v e n d i d o s a D i o g o M a r t i n s , p r i m e i r o es-
c r i v ã o de o r p h ã o s d o R i o d e J a n e i r o , n o m e s m o r e f e r i d o
a n notei e 1 0 0 9 .
Nessa mesma r u a , m o r a v a o seu g e n r o J o ã # F a -
g u n d e s , v i z i n h o do c e l e b r e T h o m c de A l v a r e n g a q u e
pouco depois, f o i g o v e r n a d o r do R i o de J a n e i r o . Essa
d a t a assignala, a i n d a , a descida d a a r i s t o c r a c i a f l u m i -
nense do C a s t e i l o p a r a a r u a da . M i s e r i c ó r d i a e r u a D i -
reita.
O s F a g u n d e s , os Britos, os L e i t õ e s , os C a l h e i r o s ,
os P i n t o s , j á i a m a h i m e s m o c o n s t r u i n d o s u a s m o r a d a s
ricas, s o b r a d o s , e m suas c o m p e t e n t e s cercas l i m i t a n d o
os j a r d i n s , c o n f o r m e o g o s t o d o t e m p o .
D a t a desse t e m p o a e x i s t ê n c i a d a p r a ç a a n t i g a -
m e n t e d e n o m i n a d a l a r g o d o P a ç o c, h o j e , P r a ç a Q u i n z e
d e N o v e m b r o , o n d e , a o m e a d o do s é c u l o X V I I , f o i d e -
capitado o infeliz J e r o n y m o Baibalho á vista d c toda a
p o p u l a ç ã o da c i d a d e , c o m o u m c a s t i g o de suas aspira-
ç õ e s revoluciodarias.
J á e x i s t i a , t a m b é m , o celebre guindaste dos j e s u i -
t o s , p e l o q u a l se fazia a a s c e n s ã o dos p r o d u e t o s c o m -
merciaes da O r d e m p a r a o m o r r o do C a s t e i l o , m a r c a n -
do, na p r a ç a D . M a n u e l , o p o n t o d c d e s e m b a r q u e de
passageiros e de m a i o r m o v i m e n t o e c o n ô m i c o e social
do porto.
- 311 -
S e b a s t i ã o F a g u n d e s , c o m p r a d o r d o engenho de
A m o r i m Soares, era u m d o s m a i s r i c o s da é p o c a .
J á p o s s u i d o r desse e n g e n h o , e l l e o b t é m , 1 6 1 1 , o
a f o r a m e n t o « d e u m a s o r t e dc terras de t e r r a s , q u e es-
t a v a no c a b o da P r a i a G r a n d e , i n d o p a r a a L a g o a , a t é
quatrocentas b r a ç a s . »
E m 1617, a l l e g a que, p o r d e s p a c h o s a n t i g o s da Ca-
m a r a , d e v i a ser e l l e o ú n i c o q u e gosasse dos p a s t o s q u e
e x i s t i s s e m na L a g ô a . R e q u e r a f o r a m e n t o s desses pas-
tos, e q u e l h e f o i d a d o .
O t e x t o dessa p e t i ç ã o d c S e b a s t i ã o F a g u n d e s d e -
m o n s t r a n ã o s ó a e x i s t ê n c i a d o e n g e n h o de M a r t i m d c
S á c o m o se a c h a | e l l c e m a c t i v i d a d e , nesse t e m p o , usu-
f r u i n d o e c u l t i v a n d o a sua p r o p r i e d a d e .
N o t a v a - s c e n t ã o , u m a g r a n d e c r i a ç ã o de g a d o nes-
sas f e r r a s e nesses pastos de F a g u n d e s e M a r t i m de S á ,
estabeiecendo-se os p r i m e i r o s d e s e n v o l v i m o n t o da nos-
sa i n d u s t r i a p a s t o r i l , para o a b a s t e c i m e n t o da c i d a d e .
D i o g o de A m o r i m Soares, d e p o i s d e t e r v e n d i d o
a sua p r o p r i e d a d e t ? r r i : o r i a l a S e b a s t i ã o F a g u n d e s V a -
r e l l a , q u e , depois, t a m b é m , c o m o seu i r m ã o , tornou-se
g e n r o , mudou-se do R i o de J a n e i r o . Nessas t r a n s m i s -
s õ e s de p r o p r i e d a d e s , d e v e m os v e r trechos f o r e i r o s d e
propriedade plena.
A p r o p r i e d a d e v e n d i d a por A m o r i m Soares a Se-
b a s t i ã o F a g u n d e s V a r e l l a é o r e s u l t a d o de u m a sesmaria;
s ó d e p o i s v i e r a m os a f o r a m e n t o s p a r a e x p a n d i l - a sob o
d o m í n i o d o seu g e n r o .
Parece q u e A m o r i m Soares, ou teve grandes des-
gostos na sua v i d a p a r t i c u l a r o u p u b l i c a , q u c m o t i v a r a m
a sua m u d a n ç a d e s t a cidade, o u veio i n c i d i r c m u m a
g r a v e crise f i n a n c e i r a , q u e o obrigasse a vender todas
as suas p r o p i i c d a d e s .
C o m o j á v i m o s , S e b a s t i ã o F e r n a n d e s f o i u m dos
p r i m e i r o s p r o p r i e t á r i o s da l a g ô a do R o d r i g o de F r e i t a s ,
p o r o n d e c o m e ç o u a c o l o n i z a ç ã o a g r í c o l a do b a i r r o de
llotafogo.
— 342 —
P e l o menos, a f f l u i r a m p a r a esse p o n t o as i n d i v i d u a -
lidade d c m a i o r p r e s t i g i o social da é p o c a . O e x e m p l o
f o i d a d o p a r M a r t i n de S á q u e , c o m o g o v e r n a d o r , cons-
t r u i o a l i sua p r o p r i e d a d e assucareira. E b a s t o u i s t o ,
para abrir uma corrente de prentendentes aquella
zona.
E m 1617, S e b a s t i ã o Fagundes tem da Camara
M u n i c i p a l o p r i v i l e g i o d a posse das p a r t e s c i r c u m v i z i -
nhas á L a g ô a , r e s p e i t a n d o os l i m i t e s da p r o p r i e d a d e v i -
zinha, dc M a r t i n d e S á .
E s t e s dois p r o p r i e t á r i o s a l a r g a v a m os seus d o m í -
nios l e r r i t u r i a e s e m d i r e c ç ã o o p p o s t a : S e b a s t i ã o F a g u n -
des p a r a o r i o dos M a c a c o s e M a r t i n de S á p a r a B o t a -
fogo- : 0 t
E m 1 6 0 6 , A f f o n s o F e r n a n d e s , q u e , a l i á s , n ã o fez
p a r t e cios c o n q u i s t a d o r e s , l e v e u m a f o r a m e n t o j u n t o ao
P ã o d e Assucar, e m d i r e c ç ã o . á p r a i a de J o ã o de S o u z a
( h o j e p r a i a d e B o t a f o g o ) c ern o u t r a d i r e c ç ã o , a t é i n t e s -
tar c o m M a r t i n d e S á .
A v i u v a ele A f f o n s o F e r n a n d e s j a m a i s p o t i d e co-
lonisar estas 3 0 0 b r a ç a s de t e r r a d e t e s t a d a , c o m o f u n d o
p a r a o s e r t ã o a t é a costa b r a n c a . E p o r isso t r a n s f e r i o
a sua posse a M a r t i m de S á , asem i n t e r e s s e a l g u m , so-
m e n t e g r a c i o s a m e n t e , p a r a b e n e f i c i o cio seu g e n r o . »
A d e s p e i t o tlesta t r a n s f e r e n c i a g r a t u i t a , os cama-
ristas e x i g i r a m , p a r a sua l e g i t i m i d a d e , u m a p e t i ç ã o de
a f o r a m e n t o . E r a u n i despacho expressivo d e i n d e p e n -
d ê n c i a p o l í t i c a dos ca r.araristas p a r a u m d e s c e n d e n t e
de M e n d c S á , c q n e j á t i n h a sido r e c e n t e m e n t e g o v e r -
nador, a t é 1 6 0 8 . E o d e s p a c h o e r a d c 1 6 0 9 .
E r a , p o r c o n s e g u i n t e , bastante o seu p r e s t i g i o .
O s C a m a r i s t a s e r a m , p o r é m , h o m e n s d c alta r e p r e -
s e n t a ç ã o da é p o c a , talvez os m a i o r e s p r o p r i e t á r i o s ur-
banos d o t e m p o : M a n o e l dos R e i s , p r o p r i e t á r i o na r u a
D i r e i t a , j u n t o ao M o s t e i r o d e S ã o B e n t o ; A l e i x o M a -
n u e l , q u e p r i m e i r o d e u seu n o m e á r u a do O u v i d o r , Á l -
v a r o Pires, d o n o da sesmaria j u n t o ao l a r g o d a C a r i o c a
e t a m b é m na r u a D i r e i t a , a d i a n t e da i g r e j a d a C r u z
tios M i l i t a r e s , e A n t ô n i o M a r i a n o , m e n o s n o t á v e l , t a l -
vez, d a r e p r e s e n t a ç ã o m u n i c i p a l , nesse a n n o .
D u r a n t e m u i t o s annos.o e n g e n h o de S e b a s t i ã o F a -
g u n d e s , c h a m a d o t a m b é m de N . S . d a l n c a r n a ç ã o . f o i u m
p a t r i m ô n i o d c f a m í l i a , t r a n s f e r i d o p o r h e r a n ç a , a filhos
t netos.
E m 1 6 3 4 , e l l e p e r t e n c e ao p a d r e S e b a s t i ã o F a g u n -
des e ao seu c u n h a d o M a n u e l T e l l e s . A t e e n t ã o , n ã o
soffrcu a menor s u b d i v i s ã o territorial. M a s j á o trabalho
d c c o l o n i s a ç ã o pelos seus p r ó p r i o s p r o p r i e t á r i o s chega
a C o p a c a b a n a , a t é o n d e i a o d i r e i t o d a p r o p r i e d a d e ter-
r i t o r i a l de S e b a s t i ã o F a g u n d e s . A h i c o m e ç a a e x i s t i r o
t r a b a l h o d a pesca, e m u m sitio q u e e n t ã o c h a m a v a m
« S a c u p e n a p a n » , h a b i t a d o p e l o s a g g r c g a d o s d o enge-
nho, pescadores c o m as suas c h o u panas, f o r e i r o s de seu
proprietário.
N e s t e a n n o , deu-se o p r i m e i r o processo d a d i v i s ã o
d a g r a n d e p r o p r i e d a d e de S e b a s t i ã o F a g u n d e s , O pa-
d r e , seu f i l h o o n n e t o , v e n d e u nessa é p o c a ( 1 6 3 4 ) , a
J o ã o A n t u n e s , d c q u e m f a l a r e m o s adeante, o s i t i o d c
« S a c u p e n a p a n » , q u e c h e g a v a a t é p e r t o das sensalas d o
engenho, a c o m e ç a r d a p r a i a .
E s t á claro q u e o e n g e n h o ficava para os lados d a
L a g ô a , e outro s ã o dc propriedade plena.
A q u e l l e r e p r e s e n t a o a f o r a m e n t o de S e b a s t i ã o F a -
g u n d e s , para a l a r g a r os pastos cio e n g e n h o , e este a
p r i m i t i v a s e s m a r i a q u e o b t e v e . D a h i se conclue q u e a
p r i m i t i v a l o c a l i s a ç ã o de S e b a s t i ã o Fagundes, o u , por
o u t r a , de D i o g o de A m o r i m Soares, seu sogro, f o i mais
a p r o x i m a d a de C o p a c a b a n a d o q u e de R o d r i g o de
Freitas.
F i c a m , pois, a h i , b e m a c c e n l u a d a s as c o n d i ç õ e s
d o d i r e i t o de p r o p r i e d a d e : e m p h y t e u t a c m R o d r i g o de
F r e i t a s e p l e n a c m Copacabana.
Paremos u m p o u c o a q u i c a d i e m o s para mais t a r d e
o estudo d o processo de s u b d i v i s õ e s , q u e se o p e r o u
— 344 -
nessa g r a n d e p r o p r i e d a d e e no e n g e n h o de M a r t i n de
S á , c o m o a n d a r dos t e m p o s .
V i m o s a t r á s a transferencia gratuita feita a M a r t i n
de S á , dc u m a s o r t e de t e r r a , pela v i u v a d c A f f o n s o
F e r n a n d e s — D o m i n g a M e n d e s — q u e loca Usamos s e m
o m e n o r r e c e i o na p r a i a q u e h o j e c h a m a m o s Praia V e r -
melha.
O a c t o da t r a n s f e r e n c i a diz « q a e a s o r t e da t e r r a
c o m e ç a no P ã o d c A s s u c a r , c o r r e n d o ao l o n g e d o m a r
sagrado á p r a i a J o ã o de S o u s a . »
N ã o p o d e m o s assegurar si J o ã o de S o u s a f o i u m
dos conquistadores d a c i d a d e . M a s a c r e d i t a m o s q u e o
n ã o fosse, p o r q u e u m seu filho, c h a m a d o J o ã o dc Sousa.
o m o ç o , m o r r e u e m I í í l l na p r a i a de B o t a f o g o , e m ter-
ras foreiras, herdade de seu pac.
A h i i n i c i a r a m elles c d e s e n v o l v e r a m a i n d u s t r i a
cerâmica na pobre olaria que construíram.
O s l o g a r c s e r a m c o n h e c i d o s pelos nomes de seus
primitivos habitantes.
D a h i a r a z ã o de chamar-se p r a i a d c J o ã o de Sousa,
n o m e q u e p e r m a n e c e u a t é u m pouco antes de 1 6 7 õ ,
q u a n d o a p r a i a . c o m e ç o u a sei c h a m a d a « P r a i a de B o -
tafogo».
F a l t a m nos os e l e m e n t o s precisos p a r a a c o m p a -
nhar o processo da s u b d i v i s ã o , q u e se o p e r o u na
g r a n d e p r o p r i e d a d e de S e b a s t i ã o F a g u n d e s , nas m a r -
g e n s da l a g ô a de R o d r i g o de F r e i t a s .
A p r i m e i r a s u b d i v i s ã o , a q u e j á nos r e f e r i m o s , t e v e
l u g a r em 1 0 3 4 .
N a o p i n i ã o de M e l l o M o r a e s , f o i a p r o p r i e d a d e
v e n d i d a , p o r S e b a s t i ã o F a g u n d e s V a r e l l a , a R o d r i g o de
F r e i t a s M e l l o e Castro, q u e r e t i r a n d o - s e p a r a P o r t u g a l ,
a t r a n s f e r i o a seu f i l h o R o d r i g o de F r e i t a s .
K , d e s d e e n t ã o , o n o m e da f a m i l i a a p p l i c o u - s e ao
l u g a r . Sabemos que, d e f a c t o , R o d r i g o da F r e i t a s f o i
u m dos p r o p r i e t á r i o s d e s t e c e l e b r e e n g e n h o .
N ã o a c r e d i t a m o s , p o r é m , q u e o tivesse c o m p r a d o
— 345 —
F o i g r a n d e a v a l o r i s a ç â o do t e r r i t ó r i o da c i d a d e d o
R i o , a ã o ha d u v i d a .
Ella foi, porem, muito m a i o r durante o s é c u l o X I X "
M a i o r d o q u e na phase q u e acabamos de a s s i g n a l a r .
O u t r o fidalgo, c o n t e m p o r â n e o dc S e b a s t i ã o Fagundes
c de M a r t i n d e S á , localizou-sc t a m b é m c m C o p a c a -
b a n a e na L a g ô a .
F o i F r a n c i s c o d c C a l d a s , c a v a l h e i r o f i d a l g o da
c i s a cie e l - r e i , c o m o d i z e m sua p e t i ç ã o ao Conselho
Municipal em 1616, pedindo augmento do terieno
p a r a p a t r i m ô n i o de seu engenho, q u e e n t ã o j á e x i s t i a .
Desconhecemos, e m absoluto, a e v o l u ç ã o territorial
dessa p r o p r i e d a d e e sua l o c a l i z a ç ã o .
A o l a d o destes aristocratas, I o c a Ü z a r a m - s e p o b r e s
l a v r a d o r e s , dos quacs salientamos u m — A n d r é de L e ã o ,
que, t:ilvez, fosse u m dos p r i m e i r o s , p o r q u e f o i u m dos
conquistadores da c i d a d e .
K m 1605. j á n ã o existe A n d r é de L e ã o . E , e n t ã o ,
sua v i u v a , F e l i p p a da F o n s e c a , para legalizar o a f o r a -
m e n t o , q u e f o r a f e i t o ao seu m a r i d o , r e q u e r á C a m a r a
uma segunda carta.
N ã o t i n h a m p r o p r i e d a d e assucareira. E r a uma m o -
desta l o c a l i z a ç ã o de p e q u e n a l a v o u r a e pequenos can-
i l a via es.
E s t a f a m í l i a e n t r e l a ç o u - s e c o m os C a l h e i r o s , dos
quacs u m , A n t ô n i o Pacheco C a l h e i r o s casou-se c o m u m a
filha d c A n d r é d e L e ã o . E m I ô I I , C a l h e i r o s r e q u e r
n o v a carta de c o n f i r m a ç ã o de a f o r a m e n t o das m e s m a s
t e r r a s c m o r a na p o b r e v i v e n d a cio seu s o g r o , vizinho
ao abastado D i o g o de A m o r i m S o a r e s . E m 1 (516, C a -
l h e i r o s a l a r g a u m p o u c o as suas posses t e r r i t o r i a e s , nos
novos a f o r a m e n t o s q u e l h e l o r a m c o n c e d i d o s , c m d i r e -
c ç ã o á G á v e a e pelo c a m i n h o q u e c o i n m u n i c a a L a g ô a
á Tijuca.
A l é m destes, localizaram-se, na m e s m a sona, J o ã o
M a r t i n s f outros.
Eis os p r i n c i p a e s e p r i m i t i v o s m o r a d o r e s da C o -
p a c a b a n a c da L a g õ a de R o d r i g o de F r e i t a s . «
A zona e r a de p r o d u c ç ã o a s s u c a r e i r a e se c o n i m u -
nicava d í r e c t a m e n t e com a c i d a d e .
Passemos, agora á p r o p r i e d a d e de M a r t i m de S á ,
ao e i i g e n h o de e l - r e i . S u a posse j á c h e g a v a ao P ã o d c
Assucar, c o m e ç a n d o nas v i z i n h a n ç a s do e n g e n h o d e
A m o r i m S o a r e s . F o i u m a das p r o p r i e d a d e s q u e t e n d e u
a a m p l i a r - s e com o a n d a r dos tempos, s e g u i n d o u m a
e v o l u ç ã o opposta á s dos seus vizinhos, q u e t e n d e r a m a
s u b d i v i d i r - s e pelas v e n d a s c s u e c e s s õ e s h e r e d i t á r i a s .
Passou e l l a , c m sua i n t e g r i d a d e , aos seus h e r d e i r o s .
E n t r e t a n t o , ella n ã o faz p a r t e d o m o r g a d o i n s t i t u í d o
p e l o c o n d e d e A s s c c a , d e p o i s d o m e a d o do s é c u l o
X V I I . A c r e d i t a m o s que a familia transferiu a proprie-
dade.
Suas a t t e n ç õ e s c o n v e r g i r a m p a r a s u a s p r o p r i e d a -
des assucarciras na T i j u c a , o n d e sc localizou S a l v a d o r
C o r r ê a de S á desde o fim d o s é c u l o X V I I , e e m Jacare-
paguá.
Mas, p o r ora, n ã o d e v e m o s sair d a zona de B o t a -
f o g o , q u e p r e d o m i n a v a , e m p r o c L i c ç ã o a g r í c o l a , sobre
Tijuca e Engenho Velho.
S u a s necessidades de c o m m u n i c a ç â o c o m a c i d a d e ,
n à o s ó p a r a a e x p o r t a ç ã o dos p r o d u c t o s , c o m o p a r a seu
a b a s t e c i m e n t o de ecreaes, c r e a r a m u m c a m i n h o , q u e
e s t á , f i e l m e n t e , r e p r e s e n t a d o , h o j e , p o r B o t a f o g o , Cat-
tete e L a p a .
C l e m e n t e d c M a t t o s e r a fluminense e f o r m a d o e m
C â n o n e s . Segundo affirma Pizarro, oecupou a vara dc
v i g á r i o g e r a l e f o i t b e s o u r e i r o m ó r da S é . N ã o d e i x a
d o causar-nos c e r t a estranhesa essa o p i n i ã o de n o t á v e l
cbronisla, p o r q u e em muitas escripturas que temos lido
e e m que entra Clemente d c Mattos como vendecor ou
c o m p r a d o r , n ã o v c m õ s r e g i s t r a d a , no t e x t o d e l l a s , a p r o -
fissão s a c e r d o t . d desse I l u m i n e n s c .
Fdlas s i m p l e s m e n t e r e g i s t r a m q u e elle c i a d o u t o r .
D e v i a ser o ú n i c o na sociedade dc seu t e m p o , p e l o m e -
nos elos (ilhos d a t e r r a . N ã o nos r e f e r i m o s aos o u v i d o -
res q i i e e r a m despachados pela m e t r ó p o l e , t o d o s elles
d i p l o m a d o s . A c r e d i t a m o s , pois, n ã o e r r a r asseverando
q u e C l e m e n t e d e M a t t o s f o i , na sua é p o c a , o ú n i c o I l u -
m i n e n s c q u e se d i p l o m o u .
E é preciso o b s e r v a r a i m p o r t o n c i a de n o s s a p o n -
d e r a ç ã o , p o r q u e os t a b e l l i ã e s d a q u e l l e t e m p o r e g i s t r a -
v a m c o m o m a i o r c u i d a d o a p r o f i s s ã o dos c o m p r a d o r e s ,
vendedores e doadores.
Mas, si C l e m e n t e ele M a t t o s era s a c e r d o t e e r a t a m -
b é m u e g o c i a n t e . r i c o e i n i c i a d o r de empresas i n d u s t r i a e s
no R i o de J a n e i r o .
F o i elle q u e m p r i m e i r o c o g i t o u da i n d u s t r i a d o
a n i l , s o l ü c i t a n d o l i c e n ç a da c o r t e p a r a m o n t a r no R i o
de J a n e i r o u m a f a b r i c a .
N ã o s a b e m o s si elle a l c a n ç o u r c a l i s a r os seus d e -
sejos. M a s , s a b e m o s q u e e l l e d i r i g i u uma p e t i ç ã o ao
r e i , sobre a q u a l d e v i a i n f o r m a r o g o v e r n a d o r d a cidade,
s e g u n d o d e t e r m i n a u m a carta r e g i a de ICí)2. N ã o tive-
m o s t e m p o cie l e v a r nossas pesquizas ao A r c h i v o P u -
b l i c o , onde existe o o r i g i n a l desta c a r t a , a f i m d e v e r
os t e r m o s de p e t i ç ã o c d a i n f o r m a ç ã o do g o v e r n a d o r .
— 348 —
pella a (pie d e u o n o m e de c a p e l l a de S . C l e m e n t e e
q u e ainda h o j e e x i s t e ha r u a d c S . C l e m e n t e .
F a l l e c c u c m 8 d c j u l h o d e 1092.
N ã o f o i sob o d o m í n i o d o D r . C l e m e n t e de M a t t o s
que a c h á c a r a de S ã o Clemente c o m e ç o u a subdividir-
se e s i m s o b o d o m í n i o dos seus suecessores. Dentre
elles, o p r i m e i r o f o i P e d r o F e r r e i r a B r a g a , q u e v e n d e u
p a r t e d e l i a , e m 3 de M a r ç o de 1708, na e x t e n s ã o de d u -
zentas b r a ç a s de testada e c o r n o s f u n d o s até* a serra, a
J o s é dc A l m e i d a Cardozo.
A escriptura registra que Ferreira Braga adquirira
a c h á c a r a p o r c o m p r a f e i t a ao D r . C l e m e n t e , s e m , a l i á s ,
declarar a d a t a e m q u e e l l e a f e z . Parece, p e r conse-
g u i n t e , q u e o f i d a l g o de S ã o C l e m e n t e desfez-se de sua
p r o p r i e d a d e antes d o seu f a l l c c i m e n t o , q u e t e v e l o g a r
e m 1692 c o m o j á dissemos.
Q u e m o t i v o s teve elle p a r a desfazer-se d c s u ^ p r o -
p r i e d a d e , c m v í s t a d c seu g ê n i o e m i n e n t e m e n t e c o m -
m e r c i a n t e ? Seria q u e sentindo-se p e r t o da m o r t e q u i z
reduzir á moeda t o d a s as suas p r o p r i e d a d e s i m m o v e i s ?
N ã o sabemos e:n q u e f o n t e f o i o ((historiador d o
t o m b a m e n t o » beber a n o t i c i a de u m f a c t o da v i d a i n t i -
ma do D r . Clemente de Mattos.
D i z elle que «este Clemente M a r t i n s dc M a t t o s
era l i c e n c i a d o c m leis, mas s e n d o p e r s e g u i d o p e l o S a n t o
Orricio, p o r u m crime que lhe i m p u t a r a m , f u g i u p a r a
R o m a , lá se o r d e n o u e v o l t a n d o ao B r a z i l , d e p o i s d c
perdoado, o c c ú p o u e n t ã o a dignidade de Vigário Geral
deste B i s p a d o » ,
T a l v e z e m c o n s e q ü ê n c i a dessas f u n e ç õ e s r e l i g i o s a s
fosse a c h á c a r a c o n h e c i d a pelos c o n t e m p o r â n e o s c o m o
chácara do Vigário Geral.
E ' cora este n o m e q u e e l l a apparecc e m m u i t a s
escripturas. E ' p r e c i s o o b s e r v a r q u e a c h á c a r a j á t i n h a
s o f f r i d o u m a d e s m e m b r a ç ã o , e m 1 6 7 5 , na p a r t e q u e
fica na r u a B e r q u ó , d e q u e a d i a n t e f a l t a r e m o s .
A o u t r a d e s m e m b r a ç ã o , q u e sc d e u q u a n d o a c h a -
— 351 —
c a r a passou á p r o p r i e d a d e de F e r r e i r a B r a g a , refere-se
aos t e r r e n o s q u e ficam m u i t o á q u e m da rua de S ã o
C l e m e n t e . A s duzentas b r a ç a s v e n d i d a s a A l m e i d a
C a r d o s o d e v e m c o m e ç a r p o u c o a d i a n t e d a C a p e l l a das
Irmãs de Caridade.
O q u e ficou, c o n t i n u o u a p e r t e n c e r a F e r r e i r a
B r a g a . M a s A l m e i d a C a r d o s o , poucos dias d e p o i s d a
compra feita a Ferreira Braga, vendeu a propriedade
ao C a p i t ã o A n t ô n i o M a r q u e s S e z i m b r a .
E d i f f i c i l a t i n a r com as r a z õ e s q u e l e v a r a m A l m e i d a
C a r d o s o a v e n d e r u m a p r o p r i e d a d e seis dias d e p o i s de
a ter c o m p r a d o .
A p o r ç ã o d a a n t i g a c h á c a r a q u e f i c o u sobre o d o -
m i n i o de F e r r e i r a B r a g a passou aos seus herdeiros c o m
grandes desmembramentos. T o d o e s p a ç o comprehen-
didospntre a r u a B e r q u ó e a r u a S ã o C l e m e n t e e t o d o s
os f u n d o s ate a Piassava veio c o n s t i t u i r , depois, a c h á -
c a r a d e n o m i n d a da G l o r i a e q u e c a h i u sob a p r o p r i e -
d a d e d o C o n d e dos A r c o s , rio t e m p o d o v i c e - r e i n a d o .
E o r e s t o q u e vae d a r u a de S ã o C l e m e n t e a t é p e r t o da
capella das I r m ã s é a p a r t e q u e f o i v e n d i d a a A l m e i d a
C a r d o s o c p o r este aa M a r q n e z S e z i m b r a .
E i s a h i f e i r a a h i s t o r i a d a e v o l u ç ã o t e r r i t o r i a l da
q u a l si d o n a t á r i a d o fidalgo de S ã o C l e m e n t e , q u e . e m
mais d c u m s é c u l o , se t r a n s f o r m o u em tres c h á c a r a s :
a do B e r q u ó a da G l o r i a e a d e S e z i m b r a .
N ã o ha d u v i d a q u e a e v o l u ç ã o f o i d e m o r a d a e l e n t a
o processo d e d e s m e m b r a m e n t o . M u i t o mais r á p i d o s
f o r a m elles d a h i c m d i a n t e , p r i n c i p a l m e n t e no fim d o
s é c u l o X V I I I e c o m e ç o do s é c u l o X I X , q u a n d o come-
ç a r a m a b r i r - s c as r u a s do b a i r r o de B o t a f o g o , q n e ,
todas, ficam d e n t r o cio p e r í m e t r o da a n t i g a c h á c a r a de
S ã o Clemente.
O h i s t o r i a d o r do T o m b a m e n t o c o n s i d e r a f o r c i r o
todo o t e r r e n o desta c h á c a r a . M a s é p r e c i s o confessar
q u e elle n ã o e x h i b e d o c u m e n t o a u t h e n t i c o dessa p r o -
p o s i ç ã o . Basta dizer q u e elle n ã o e x h i b e o a f o r a m e n t o
d o p r i m e i r o h a b i t a n t e da z o n a q u e , c o m certeza n ã o f o i
o D r . Clemente de Mattos, porque s ó depois d o meado
do s é c u l o X V I I f o i q n e e l l e alíi sc íocalisQii; E j á fize-
mos observar q u e os d o i s annos de estadia d c E s t a c i o
d c S á e seu e x e r c i t o á s o m b r a d o P ã o de A s s u c a r , fi-
zeram c o m q u e essa zona fosse e x p l o r a d a e c h a m a s s e
a a t t e n ç ã o dos c o n q u i s t a d o r e s d a c i d a d e .
S o b r e ella fizeram-sc os p r i m e i r o s a f o r a m e n t o s ,
sem q n e fossem e x h i b i d o s pelo h i s t o r i a d o r d o t o m -
bamento.
E s U s o b s e r v a ç õ e s n ã o traduzem que neguemos o
caracter de f o r e i r o s aos p r o p r i e t á r i a d c B o t a f o g o . O
único documento que o prova e que, aliás n ã o mereceu
n e n h u m i referencia do illustre escriptor c a escriptura
de :S da M a r ç o de 1 7 0 8 d a v e n d a feita p o r P e d r o Fer-
reira Braga a José de Almeida Cardoso. Nella f i s t á
c o n s i g n a d o q u e a c h a c a r a v e n d i d a é c m t e r r e n o s forei-
ros ao S e n a d o d a C a m a r a , do q u a l o v e n : l e d o r o b t e v e
a p r é v i a (ice.iça para fazar a respectiva escriptura.
O s visinhos cia c h á c a r a do D r . C l e m e n t e d c M a t t o s
e r a m os f r a d e s d e S . P a u l o .
F a ç a m o s a e v o l u ç ã o histórica desta propriedade
dos b e n e d i c t i n o s .
111
— 353 —
Essa c o m p r a f o i f e i t a e m 1 6 4 6 . M a s F a g u n d e s
Paris n ã o f o i o p r i m e i r o p r o p r i e t á r i o dos t e r r e n o s , p o r -
que, na e s c r i p t u r a de v e n d a a J o ã o R o d r i g u e s elle diz
q u e os h o u v e d e c o m p r a de S a l v a d o r C o r r e i a de S á e
B e n e v i d e s q u e , talvez, n ã o fosse a i n d a o p r i m e i r o pos-
s u i d o r e s i m M a r t i n de S á .
S o m o s levados a esta s u p p o s i ç â o c m v i s t a da
d o a c ç ã o g r a t u i t a que fizera D o m i n g a s Mendes, m u l h e r
d c A f f o n s o F e r n a n d e s dos t e r r e n o s d e s d e o P ã o de
A s s u c a r a t é a p r a i a de B o t a f o g o a M a r t i n d e S á . Pare-
ce, p o i s , q u e a phase p r i m i t i v a d a c o l o n i s a ç ã o d e s t a
zona f o i o p r ó p r i o M a r t i n de S á o p r i m e i r o p r o p r i e t á -
r i o d o s é c u l o X V I , c o m e ç a n d o e l l a a d e s m e m b r a r se
no s é c u l o X V I I , p o r e n t r e d i v e r s o s p o s s u i d o r e s e n t r e
os q u a c s e s t ã o os B e n e d i c t i n o s . E s t e J o ã o F a g u n d e s
P a r i s s e r á f i l h o de S e b a s t i ã o F a g u n d e s V a r e l l a d a n o d o
E n g e n h o d a I n c a r n a ç à o , na L a g o a e e m C o p a c a b a n a ?
A c r e d i t a m o s q u e s i m , a l é m de e x i s t i r o u t r o J o ã o F a -
g u n d e s q u e é seu i r m ã o .
Passemos, p o r é m , aos terrenos dos b e n e d i c t i n o s .
T e m r a z ã o o encarregado do tombamento municipal
I n n o c c n c i o da R o c h a M a c i e l , q u a n d o estranha q u e nos
mesmos r e l i g i o s o s sc c h a m e m senhores d o t e r r e n o q u e
fica na r u a S e n a d o r V e r g u e i r o a t é a p e d r e i r a » , n ã o
e n c o n t r a n d o d o c u m e n t o s e m q u e elles sc f i r m e m p a r a
assim p r o c e d e r .
R e a l m e n t e , elles n ã o e x i s t e m , p o r q u e os ú n i c o s
títulos q u e p o d e m e x h i b i r o s b e n e d i c t i n o s d o seu d i r e i t o
n a q u e l l a zona, é o a f o r a m e n t o d c *2 d c N o v e m b r o de
1 6 8 1 , r e s u l t a n t e d o traspasse q u e lhes fez M i g u e l d a
S i l v a dos m e s m o s terrenos, q u e sua m u l h e r h e r d a r a de
seu pae J o ã o R o d r i g u e s e o u t r o a f o r a m e n t o , d e 2 8 d e
D e z e m b r o de 1 6 1 8 , « d c v i n t e b r a ç a s de p e d r e i r a e m
u m o i t e i r o q u e e s t á rias t e r r a s d o C o n s e l h o , i n d o p a r a a
C a r i o c a , á m ã o e s q u e r d a da b a n d a m a r , passada p r i -
m e i r a p r a i a » . A h i e s t á c l a r o q u e estas v i n t e b r a ç a s n ã o
d e v e m ser l o e a ü s a d a s na v á r z e a , e n t r e o m o r r o d a V i u v a
e a r u a S e n a d o r V e r g u e i r o e s i m na p r ó p r i a p e d r e i r a
— 355 —
que e s t á j u n t o ao m o r r o a p r o x i m a d a a praia d ò
Flamengo.
N e m este t i t u l o , n e m o q u e ficou atraz t r a n s c r i p t o ,
d á aos b e n e d i c t i n o s o d i r e i t o d c p r o p r i e d a d e á z o n a q u e
v a c d a r u a S e n a d o r V e r g u e i r o ao m o r r o da V i u v a , q u e
e r a o antigv> m o r r o de l . e r i p e .
V i m o s que quando J o ã o Fagundes Paris obteve
l i c e n ç a p a r a d e s m e m b r a r o seu g r a n d e a f o r a m e n t o ,
realisou vendas a J o ã o R o d r i g u e s c M a n o e l R o d r i g u e s .
E f o i a q u e l l a q u e j u s t a m e n t e da t r a n s f e r e n c i a aos b e n e -
dictinos. E ella n ã o comprehende a e x t e n s ã o territorial
da rua S e n a d o r V e r g u e i r o ao m o r r o da V i u v a .
A l é m desta, o u t r a s r a z õ e s v-amos apresentar.
IV
P e d i r a m v i n t e b r a ç a s de p e d r e i r a no o u t e i r o
( M o r r o da V i u v a ) p e g a d o s a p e d r e i r a » . l i s t a c l a r o q u e
estas v i n t e b r a ç a s s ã o s o b r e a p r ó p r i a p e d r e i r a c n ã o
e m n e n h u m a zona q u e v e m do o u t e i r o a r u a S e n a d o r
Vergueiro.
F o i o ú n i c o o u t e i r o da c i d a d e do R i o d c J a n e i r o
q u e o f f e r c c c o aos B e n e d i c t i n o s as m e l h o r e s c o n d i ç õ e s
p a r a e x t r a c ç ã o de pedras para a c o n s t r u c ç ã o d o seu
convento.
N ã o é q u e na c i d a d e n ã o existissem e n ã o e x i s t a m
o u t r a s p e d r e i r a s q u e ficassem m a i s a p p r o x i m a d a s ao
local c m que elles o c o n s t r u i r ; . n i . A h i e s t ã o as p e d r e i r a s
chamadas h o j e d a C a n d e l á r i a , d o M o r r o d o S e n a d o , d c
S. D i o g o e o u t r a s .
M a s é q u e estas j á e s t a v a m dadas e m a f o r a m e n t o s
ou c m sesmaria. F i c a r a m assim, os b e n e d i c t i n o s na
c o n t i n g ê n c i a de explorar uma pedreira situada a n ã o
p e q u e n a d i s t a n c i a d o seu c o n v e n t o .
F i c a m o s s a b e n d o d e s d e j á q u e f o i d a q u e l l a pe-
d r e i r a q u e f o r a m t i r a d a s as pedras p a r a o s u m p t u o s o e
secular M o s t e i r o d e S. B e n t o , q u e na c i d a d e d o R i o
dc Janeiro tem exercido f u n e ç ã o h i s t ó r i c a d o mais alto
r e l e v o . F o i u m c e n t r o de e d u c a ç ã o p u b l i c a , de c u l t u r a
intellcctual, além de u m centro de caridade.
J á vimos, e m paginas anteriores, a influencia que
exerce na p r ó p r i a t e p o g r a p h i a d a c i d a d e . A a t t r a c ç ã o
q u e exereco s o b r e os h a b i t a n t e s d o m o r r o do C a s t e i l o
fez a a b e r t u r a da r u a 1^' d e M a r ç o . A p r o p o r ç ã o q u e
a q u e l l e m o r r o se p o v o a v a , suas v i s i n h a n ç a s t a m b é m sc
p o v o a v a m . Se elle a b r i u a r u a 1? de M a r ç o , f o r ç o u t o m -
b e m o p r i m e i r o c a m i n h o p a r a S. C h r i s t o v ã o . E a g o r a ,
c o m a sua p e d r e i r a e m B o t a f o g o , t i n h a d c a p r o v e i t a r - s e
do c a m i n h o j á a b e r t o da c i d a d e p a r a a L a g o a R o d r i g o
de F r e i t a s e q u e a c o m p a n h a v a o l i t t o r a l . M a s , c p o s -
s í v e l q u e as p e d r a s fossem c o n d u z i d a s p o r m a r . D a r i a
p e l o m e n o s m a i s e c o n o m i a de t e m p o e menos d i s t a n c i a
a percorrer, porque o caminho p o r terra s ó poderia
c h e g a r q u a n d o m u i t o a t é a L a g ô a (Passeio). D a h i e m
d i a n t e , o l i t t o r a l estava l o d o c o b e r t o de lagoas p e l o
m e n o s desde o passeio p u b l i c o f e i t o s o b r e a L a g o a do
B o q u e i r ã o ate o c o m e ç o d a r u a S . L u z i a .
O a f o r a m e n t o c de 1 6 1 8 - M a s , d e s d e 1 6 1 0 , Se-
b a s t i ã o G o n ç a l v e s S a p a t e i r o j á se t i n h a l o c a l i z a d o na
p r a i a d o F l a m e n g o , desde o m o r r o da V i u v a , a t é o
f u n d o do H o t e l dos E s t r a n g e i r o s . T o d a esta e x t e n s ã o
p e r t e n c i a - l h e p o r a f o r a m e n t o q u e lhe f ô r a d a d o pela
C a m a r a . q u e e r a m 100 b r a ç a s , a p a r t i r d a q u e l l c
m o r r o d a V i u v a p a r a a c i d a d e . Q u a n d o S e b a s t i ã o re-
q u e r e i ! este a f o r a m e n t o , j á t i n h a c o n s t r u í d a sua casa na
p r a i a d o F l a m e n g o . F o i talvez o seu p r i m e i r o h a b i -
t a n t e . P e l o i i i è n o s , f o i o de mais i m p o r t â n c i a , p o r q u e ,
d u r a n t e m u i t o s a n n o s , i a p r a i a d o F l a m e n g o , chamou-se
a p r a i a do S a p a t e i r o . E ' c o m esse n o m e q u e c i l a ap-
p a r ç c c nos v e l h o s d o c u m e n t o s .
O p e r í m e t r o do aforamento dc S e b a s t i ã o G o n ç a l -
ves é t r a ç a d o pelo m o r r o , a p r a i a c o b r a ç o d o r i o Ca-
r i o c a q u e d e s á g u a p e r t o do H o t e l dos E s t r a n g e i r o s .
E i s o u t r a r a z ã o c o n t r a o a l l e g a d o d i r e i t o dos bene-
d i c t i n o s s o b r e os t e r r e n o s de q u e a c i m a t r a t a m o s . Estes
ficavam d e n t r o desse p e r í m e t r o c, p o r c o n s c g u i n t e . p e r -
tenciam a S e b a s t i ã o G o n ç a l v e s . A linha do p e r í m e t r o
d o m o r r o ao b r a ç o d o r i o C a r i o c a é r e p r e s e n t a l o h o j e
pela p r ó p r i a r u a d o S e n a d o r V e r g u e i r o .
N ã o d e i x a de ser d c diffícil e x p l i c a ç ã o a r u a q u e -
brar-se p o u c o a d i a n t e cio h o t e l . A e x p l i c a ç ã o q u e
m a i s se a p p r o x i m a da v e r d a d e é a s e g u i n t e : o ca-
m i n h o da cidade acompanhava a p r a i a do F l a m e n g o c
' a d e i x a v a j u s t a m e n t e no a n g u l o , p a r a e n t r a r na p r ó p r i a
r u a , inantendo-sc mais o u m e n o s , c m u m a d i r e c ç ã o r e -
c t l i n c a . M a s , q u a n d o o c a m i n h o do Cattete c o m e ç o u a
ser p e r c o r r i d o , elle c o m m u n i c o u - s e c o m a r u a d o Sena-
d o r V e r g u e i r o , que, e n t ã o se chamava Caminho Velho
de B o t a f o g o , f o r m a n d o o a n g u l o . E m t o d o o caso isto
n ã o passa d c u m a h y p o t h e s c . O a f o r a m e n t o de Sebas-
t i ã o G o n ç a l v e s é o primeiro documento que compul-
samos c m q u e o M o r r o da V i u v a a p p a r e c e c o m o n o m e
A casa q u e c o n s t r u i r á na p r a i a f ô r a d e s t r u í d a pelo
m a r j a m a i s se p o d e n d o fazer a l g u m t r a b a l h o a g r í c o l a e m
faixa de t e r r e n o , q u a l seja a c o m p r c h e n d i d a e n t r e a r u a
de Eêripe i d a d o ao m o r r o da V i u v a , liga-se ao n o m e
de um c o m p a n h e i r o de V i l l e g a i g n o n , na phase da c o l o -
n i s a ç ã o franceza n o R i o d e j a u c i r o — L e r y , q u e f o i o
historiador da t e n t a t i v a dessa c o l o n i s a ç ã o . L e r y m o r o u
na fortaleza por m u i t o t e m p o e f o i u m cios m a i o r e s des-
contentes de V i l l e g a i g n o n contra q u e m se escreveu u m
t r e m e n d o l i b e l i o , na h i s t o r i a d a c o l o n i s a ç ã o f r a n c e z a .
f o r m u i t a s vezes fez e x c u r s õ e s pelo t e r r i t ó r i o f l u m i n e n s e
n ã o sendo dilTiçi] q u e tomasse, c o m o u m p o n t o d e re-
p o u s o , as i m m e d i a ç õ e s d a q u e l l c m o r r o .
Mas, n à o ha a m e n o r filiação entre o n o m e d o
m o r r o e L e r y , q u e a l l e g a até* e m sua Historia^ que ne-
n h u m a c o n s t r u c ç ã o f o i f e i t a n o c o n t i n e n t e , pelos f r a n -
cezes. E na d e s c r i p ç ã o g c o g r a p h i c a q u e fez da b a h i f i de
G u a n a b a r a , n ã o ha a m e n o r r e f e r e n c i a a o m o r r o d a
Viuva.
Leripe é o n o m e i n d í g e n a d a d o pelos s e l v a g e n s á s
ostras a d h c r c n t c s á s pedras, nas p r a t a s .
M u i t a s vezes elles m e r g u l h a v a m p a r a a p a n h a l - a â
c trazcl-as á f l o r d á g u a , cheias de p e q u e n a s ostras. E '
de p r e s u m i r q u e a zona d o m o r r o , q u e cstudamos.fusse
t ã o rica destas p e d r a s e destas ostras,quc d c l l a s tomasse
o nome.
N ã o ha o u t r a e x p l i c a ç ã o a d a r ao n o m e Leripe.
L e r y d í z e m sua o b r a : « A l é m desta, e x i s t e m n e s t e
b r a ç o de mar, o u t r a s p e q u e n a s ilhas deshabitadas, nas
quaes e n t r e o u t r a s cousas, acham-se v o l u m o s a s c m u i
saborosas ostras ; os selvagens m e r g u l h a m nas praias
d o m a r c t r a z e m g r a n d e s pedras, ao r e d o r das ^ u a e s
e s t á u m a i n f i n i d a d e d e p e q u e n a s ostras a q u e c h a m a m
leripes, t ã o a g a r r a d a s o u antes, t ã o c o l l a d a s ao c a l h á o ,
q u e p r e c i s o é arrancal-as a f o r ç a , O r d i n a r i a m c n t c . m a n -
davamos c o z i n h a r g r a n d e s panelladas destas ostras, e m
a l g u m a s das quaes q u a n d o as a b r í a m o s c c o m í a m o s ,
achavamospequenas p é r o l a s » . E m 1620 S e b a s t i ã o G o n -
ç a l v e s d e s i s t i u desse a f o r a m e n t o , r e q u e r e n d o u m o u t r o
de t e r r e n o s s i t u a d o s m a i s p a r a o i n t e r i o r da bacia de
B o t a f o g >.
S e n a d o r V e r g u e i r o , a costa e o b r a ç o do r i o C a r i o c a
q u e d e s e m b o c a v a na aguada dos marinheiros. N o novo
aforamento, que solicitou, limitou-se a pedir 50 b r a ç a s
de t e s t a d a , metade d o q u e o b t i v e r a no o u t r o a f o r a m e n t o
q u e f ô r a 100 b r a ç a s . P r o c u r e m o s r e c o n s t r u i r a i d e n t i -
d a d e dessa posse e locelisal-a. D i z o v e l h o m a n u s c r i p t o :
« l h e a f o r a m a t e r r a q u e se a c h a r o n d e c o m e ç a M a n o e l
F e r n a n d e s a t é a p o n t e de L e r i p e . q u e p o d e m ser 5 0
b r a ç a s de t e s t a d a , c o m t o d o o s e r t ã o q u e se a c h a r . »
A h i e s t ã o d o i s p o n t o s e x t r e m o s do a f o r a m e n t o
novamente requerido por S e b a s t i ã o G o n ç a l v e s : — O
a f o r a m e n t o de M a n o e l F e r n a n d e s e a p o n t e de L e r i p e .
O n d e e r a m elles localisados ? A c r e d i t a m o s q u e a ponte
de L e r i p c é a m e s m a p o n t e q u e , desde o s é c u l o X V I c
c o m e ç o d o s é c u l o X V I I , e r a c o n h e c i d a p e l o nome de
p o n t e de Salema. P r o v a v e l m e n t e c i l a ficava no r i o C a -
rioca, no seu b r a ç o p r i n c i p a l q u e banhava o l a r g o d o
M a c h a d o e d e s e m b o c a v a na A g u a d a dos M a r i n h e i r o s .
A s á g u a s deste r i o sempre abasteceram os h a b i -
t a n t e s da c i d a d e . K m p r i m i t i v o s tempos elles i a m lá
buscal-as, pelos seus escravos em baldes a p r o p r i a d o s
c o b e r t o s de folhr/.s. F m t e m p o s posteriores, os g o v e r n o s
t r a t a r a m d c cncanal-as p a r a a cidade, p o r m e i o dos ce-
lebres arcos da Carioca. A despeito de ser n i n a o b r a por
sua natureza u r g e n t e , realisou-se, e n t r e t a n t o , d e p o i s de
u m s é c u l o clc t r a b a l h o e r e s o l u ç õ e s officiaes. E ' n a t u r a l
q u e A n t ô n i o Salema, q u e f o i um dos g o v e r n a d o r e s d a c i -
dade, tratasse de fazer uma p o n t e para os seus h a b i -
t . m t e s . E c i l a s ó podia ser f e i t a n o r i o C a r i o c a . A c r e d i -
t a m o s t e r l o c a l i s a d o u m dos pontos e x t r e m o s do a f o r a -
m e n t o de S e b a s t i ã o G o n ç a l v e s — A p o n t e de L e r i p e .
Q u a n t o á l o c a l i s a ç ã o do a f o r a m e n t o de M a n o e l
F e r n a n d e s , é preciso confessar q u e é d i f f i c i l f.tzel-o.
A n t e s de t u d o , é preciso pontlerar q u e nessa é p o c a e x i s -
t i a m dois i n d i v í d u o s c o m o nome de M a n o e l F e r n a n -
— aoo —
t ã o , t u d o era c o n h e c i d o com o n o m e de C a r i o c a . A n o v a
d e n o m i n a ç ã o a p p a r e c e q u a n d o a c o n c e n t r a ç ã o da p o p u -
l a ç ã o se o p e r a a h i f o r ç a n d o a s u b d i v i s ã o das g r a n d e s
c h á c a r a s . E r a preciso, e n t ã o , d i s t i n g u i r os h a b i t a n t e s d o
C a t t e t e e das L a r a n g e i r a s q u e e r a m c o n h e c i d o s c o m o
habitantes d a Carioca.
A o m e s m o t e m p o q u e se fez essa d i f f e r c n ç a d c
d e n o m i n a ç ã o e m r e l a ç ã o ao C a t t e t e , fez-se, t a m b é m e m
r e l a ç ã o á praia de Botafogo, que c o m e ç a a perder o
seu p r i m i t i v o n o m e de J o ã o de S o u z a .
M a s t r a t e m o s d e L a r a n g e i r a s , c u j o s p r i m e i r o s ha-
bitantes desconhecemos, s e n ã o u m , q u e f o i a Marque-
za Ferreira^ m u l h e r de P e d r o M a r t i n s N a m o r a d o . N ã o
se pense, pelo n o m e , q u e se t r a t a de u m a t i t u l a r . Mar*
qneza a h i n ã o é u m t i t u l o , c o m o s u p p o z M e l l o M o r a e s .
E ' u m simples n o m e . F o i c o n s t r u í d o a h i u m ^ n o i -
n h o d e v e n t o q u e e x i s t i o p o r m u i t o s annos, s e m q u e
s a i b a m o s q u e m f o i o seu c o n s t r u e t o r . A d e s p e i t o d e
n ã o ser u m a t i t u l a r , Marquesa Ferreira era u m a i n d i v i -
d u a l i d a d e i l l u s t r e c p r o v a v e l m e n t e r i c a , — v i m o l - a figu-
r a n d o nas a g i t a d a s q u e s t õ e s d a d o n a t á r i a d c M a r t i n
A f f o n s o , e m S a n t o s , e f a z e n d o g r a n d e s d o a ç õ e s aos b e -
n e d i c t i n o s . T e m o s certeza d e sua m o r a d a , e m L a r a n g e i -
ras.pclas r e f e r e n c i a s d o a f o r a m e n t o d a v i u v a M a r i a Soa-
res,em 1 0 1 0 e q u e a n t e s d e s t a epoca j á e s t a v a t a m b é m
localisada e m L a r a n g e i r a s , c o m as suas r o ç a s e casas d e
v i v e n d a . O a f o r a m e n t o de M a r i a Soares é j u s t a m e n t e n o
m e s m o local e m q u e e s t a v a a m a r q u e z a F e r r e i r a , j u n t o
d o q u a l j á e x i s t i a o c e l e b r e moinho velho.
D a h i dirigia-se acompanhando o r i o a t é 2 0 0 bra-
ç a s p a r a as suas n a s c e n ç a s e p a r a o s e r t ã o a t é o p é d a
serra. Eis o aforamento de Maria Soares.
M u i t o s dos p r i m i t i v o s h a b i t a n t e s d a c i d a d e l o c a l i -
saram-se n o v a l l e de L a r a n g e i r a s . F o r m a r a m a h i .'í
i m p o r t a n t e s c h á c a r a s c o m a p e q u e n a l a v o u r a de cerenes
0 u m a p l a n t a ç ã o d e s e n v o l v i d a de f r u e t a s .
Pela continuidade do território, Larangeiras
r e p t e s e n t a u m a e x p a n s ã o d o p o v o a m e n t o d o v a l l e de
— 363 —
A d o a ç ã o d o O u t e i r o f o i j u s t a m e n t e p á r a n e l l e ser
e d i f i c a d a a E r m i d a de d e N . S. da G l o r i a .
N ã o e r r a m o s e m dizer q u e a p r ó p r i a i r m a n d a d e
d e s c o n h e c e esta e s c r i p t u r a de d o a ç ã o , p o r q u e n ó s n u n c a
a vimos publicada.
A e l l a se r e f e r e M e l l o M o r a e s e m seu t r a b a l h o ,
dizendo ter sido a E r m i d a c o n s t r u í d a pelo e r m i t ã o A n -
tônio Caminha em 1671.
E ' u m p o u c o difícil c o n c i l i a r essa o p i n i ã o c o m o
t e x t o cia e s c r i p t u r a de d o a c ç ã o , p o r q u e n e l l a sc l e q u e e l l a
f o i f e i t i « p a r a sc eclificar u m a E r m i d a d c N . S. d a
G l o r i a » . Parece, p o r c o n s e g u i n t e , q u e n e n h u m a cons-
t r u c ç ã o e x i s t i a ate e n t ã o .
A l é m d i s t o , a d o a ç ã o f o i de toclo o O u t e i r o q u e o
p r ó p r i o D r . C l á u d i o G u r g e l t i n h a c o m p r a d o ao c a p i t ã o
G a b r i e l d a R o c h a F e r r e i r a . E ' d i f f i c i l , p o r conseguinte,
c o m p r e h e n d e r c o m o o e r m i t ã o C a m i n h a viesse cons-
t r u i r uma E r m i d a e m terrertos q u e l h e n ã o p e r t e n c i a m .
O D r . C l á u d i o h a b i t a v a e m sua c h á c a r a , q u e se
estendi t pela p l a n í c i e , o e c u p a n d o a e x t e n s ã o d o l a r g o
d a G l o r i a , e c o m e ç o d a r u a do C a t t e t e e da r u a da
Gloria.
A f a m i l i a G u r g e l d o A m a r a l t o r n o u - s e c e l e b r e no
R i o de Janeiro, nos p r i m e i r o s annos d > s c e u l o X V I I I
pelo c h o q u e d c v i n g a n ç a s e m q u e e n t r o u , r e s p o n s á v e l no
R i o d c J a n e i r o d c u m r e g i m e n de assassinatos que,
para n ã o ficarem impunes, p r e n d e u a a t t e n ç ã o do p r ó -
prio governo da metrópole.
D e p o i s d o processo i n s t a u r a d o nesta c i d a d e para
a p u r a r as r e s p o n s a b i l i d a d e s dos desastres da i n v a s ã o
franceza de D u g u a y - T r c o u i n , os ó d i o s atearam-se
e n t r e a l g u m a s f a m í l i a s , p r i n c i p a l m e n t e as de G u r g e l d o
A m a r a l , dos V e l h o s e dos B a r b a l h o s .
Francisco G u r g e l d o A m a r a l tornou-se de u m cele-
b r i d a d e t a l n o assassinato, q u e f o i entregue á s j u s t i ç a s
dc L i s b o a , p e l o g o v e r n a d o r d o R i o , com a r c c o m m e n -
c l a ç ã o de q u e a sua a b s o l v i ç ã o i m p o r t a r i a c m p e d i r elle
o seu suecessor.
— m —
F r a n c i s c o a t t r a i r a os ó d i o s de q u e f o i v i c t i m a o
padre C l á u d i o Gurgel do Amaral.
Esse padre, q u e f i g u r a nesses a c o n t e c i m e n t o s em
Í Ü 4 , s e r á o m e s m o D r . C l á u d i o G u r g e l do A m a r a l ?
Nossas pesquizas a t é a g o r a s ã o i n s u f i c i e n t e s para q u a l -
q u e r resposta.
J á sabemos, p o r é m , q u e o p a d r e m o r a v a na mes-
ma c h á c a r a d a G l o r i a d o D r . C l á u d i o d o A m a r a l
F a ç a m o s , agora, u m p o u c o d c h i s t o r i a social dessa
época. •_
F o i dc c o n s e q ü ê n c i a s desastrosas a e v a s ã o traia-
ceza no R i o dc Janeiro.
E ' fácil c o m p r c h e n d e r a s i t u a ç ã o d c e s p i r i t o dos
h a b i t a n t e s da c i d a d e . P r o f u n d a m e n t e p r e j u d i c a d o s pelo
saque, q u e fizeram os francezes, p e r m a n e c e r a m e m u m
sobresalto c o n t i n u o pelas e x c u r s õ e s c p i r a t a r i a s q u e
c o n t i n u a r a m os n a v i o s franceses a fazer, c o m o pelo ap-
p a r a t o da devas-a, q u e se i n s t a l l o u c o m t o d a s as f o r m a -
lidades d c d i r e i t o , a a b r i r os i n q u é r i t o s . A m a l e d i c c n -
cia e a f a l s i d a d e a b r i r a m v á l v u l a s e a h i , neste p e r í o d o ,
aggravana as p a r c i a l i d a d e s e ó d i o s d e f a m í l i a s , p r o d u -
zindo os assassinatos q u e se r e p e l i r a m , e x i g i n d o as m a i s
serias m e d i d a s da m e t r ó p o l e .
D e s t e processo r e s u l t a r a m d i v e r g ê n c i a s p r o f u n d a s
e n t r e o.; h a b i t a n t e s d o R i o .
Os ódios foram alimentados, vinganças foram nu-
tridas e o assassinato veio c o r o a r essa s i t u a ç ã o , c r e a n d o
u m a phase m o r a l , cheia de c r i m e s e v í c i o s , p a r a a q u a l
a justiça f o i impotente.
T o r n a n v s e celebres na I l h a G r a n d e os c r i m i n o s o s
M a n o e l I I o m e m c Franct! to O l i v e i r a L e i t ã o .
Por m a i s d c u m vez, a p o l i c i a t e n t o u p r e n d e i o s ,
mas i m p r i f i c u a m e n t e , pela r e s i s t ê n c i a a r m a d a q u e lhe
offcrcciam.
T o r n o u - s e preciso u m g r a n d e e s f o r ç o por p a r t e d c
F r a n c i s c o d c T . t v o r a q u e , f i n a l m e n t e , a l c a n ç o u l e v a i os
á c a d e i a e i n i c i a r a devassa.
— 373 —
N ã o m e n o s c e l e b r e e r a o assassino F r a n c i s c o
G u r g e l d o A m a r a l , de q u e m T a v o r a j á linha mandado
t i r a r a devassa, p a r a ser r e m e t t i d a p a r a a m e t r ó p o l e .
E n a c a r t a q u e a a c o m p a n h a , dizia q u e « e r a u m h o m e m
t ã o prejudicial que, si, por qualquer hypcthcse, f ò r ab-
s o l v i d o , S . M . d e v i a m a n d a r suecessor, p o r q u e e r a i m -
p o s s í v e l g o v e r n a r , c o m esse e l e m e n t o d e p e r t u r b a ç ã o » .
O p a d r e G u r g e l d o A m a r a l , tornando-se o a l v o d e
ó d i o s , f o i f i n a l m e n t e assassinado, j u n t a m e n t e c o m u m
seu i r m ã o d e h a b i t o .
Mas, o crime que mais impressionou a o p i n i ã o foi
o d e J o ã o M a n o e l d c M e l l o , d a d o no r e c i n t o d a i g r e j a
de Campo Grande, por 2 5 e m i s s á r i o s de J o s é Pacheco e
J o s é G u r g e l d o A m a r a l filho do padre G u r g e l d o A m a -
r a l . A esposa da v i c t i m a traz o c a d á v e r a i n d a q u e n t e
d c seu m a r i d o aos p a ç o s d o g o v e r n a d o r , a q u e m p e d e
o castigo da j u s t i ç a .
Essas q u e s t õ e s i m p r e s s i o n a r a m t a n t o o e s p i r i t o
p u b l i c o , q u e f o r a m affcctas ao e s t u d o e ao v o t o d o C o n -
selho U l t r a m a r i n o , sendo d c i m p o r t â n c i a e x t r a t a r m o s
a q u i a acta d a s e s s ã o desta i n s t i t u i ç ã o , e m q u e f o r a m
I r a t a d o s esses f a c t o s :
« E m s e s s ã o d e 17 d e Janeiro d e 1 7 1 7 , o Conse-
lho discute a c a r t a d o O u v i d o r d o R i o , F e r n a n d o Pe-
r e i r a d e Vasconcellos, c o m m u n i c a n d o q u e , s ó depois
q u e sc r e c o l h e r a da c o r r e c ç ã o , d e c o r r e r a i r J o s é Pa-
checo a f r e g u e z i a de C a m p o G r a n d e c o m 2 5 h o m e n s
armados e José G u r g e l d o A m a r a l e estando dentro da
i g r e j a J o ã o M a n o e l cie M e l l o , h o m e m p r i n c i p a l cia t e r r a
com q u e m a n d a v a m d e r i x a . A o a c a b a r a missa, avan-
ç o u a c o m i t i v a , travou-sc a l u t a , de q u e r e s u l t o u a m o r t e
de M e l l o .
A o u d i n d o o v i g á r i o , a i n d a c o m as vestes SaCerdO-
te '
tacs, foi assassinado. O s altares ficaram manchados d e
sangue. A viuva t r o u x e o c a d á v e r d o m a r i d o ao g o v e r -
nador, e s p e d a ç a d o , p e d i n d o j u s t i ç a . O g o v e r n a d o r p u -
b l i c o u u m bando, c o n s i d e r a n d o J o s é Pacheco e J o s é G u r -
g e l r é o s d c m o i t e , d a n d o f a c u l d a d e p a r a q u e fossem
presos e m o r t o s . M a n d a r a arrasar a c h á c a r a c m q u e
v i v i a o padre G u r g e l do A m a r a l , pae de J o s é . M a n d a r a
m e t e r soldados no e n g e n h o de F r a n c i s c o V i e g a s , pae
dc J o s é Pacheco e s e q u e s t r a r d h e os bens, p e l a c o n i -
v ê n c i a c o m as m o r t e s . C o l l o c o u f o r ç a s nas estradas de
P a r a t y c da c a p i t a n i a i l e S . P a u l o , p a r a p r i v a r a s a b i d a
dos d e l i n q ü e n t e s . l e n d o de p r o c u r a l - o s nas mattas, c o n -
v i d o u gente para i r p r e n d c l - o s , c o m o aplauso d o p o v o .
Saindo uma noite o padre G u r g e l e o padre Ignacio
C o r r e i a , m a t a r a m este c f e r i r a m g r a v e m e n t e a q u e l l e
m o r r e n d o dez dias depois na M i s e r i c ó r d i a . P o r m a i o r e s
q u e fossem as pesquisas n ã o e n c o n t r a r a m P a c h e c o n e m
Gurgd.
E r a tal a a r i t h í p a t i a pelos G u r g e i s q u e a p p a r c c i a m
pasquins pelas r u a s e m q u e se dezia d e v i a m elles m o r -
r e r . J o s é G u r g e l f o i preso p e l o g o v e r n o de S, P a u l o e
r c m c t l i d o p a r i o R i o , d e t t i d o nas f o r t a l e z a s » . ^
Durante muito tempo manteve-se a c h á c a r a do
D r . G u r g e l d o A m a r a l sob o seu d o m í n i o e seus d e s -
cendentes. F o i m u i t o t a r d i a m e n t e q u e se o p e r o u sob
e l l a o processo de s u b d i v i s ã o , pelas e x i g ê n c i a s d o a u -
g m e n t o da p o p u l a ç ã o q u e se t o r n o u m a i s d e n s a . A t é ,
p o r é m , d e p o i s d o m e a d o d o secnlc X V I I I ella m a n t é m -
se na i n t e g r i d a d e t e r r i t o r i a l d e seu p r i m i t i v o h a b i t a n t e ,
p o r q u e todas as e s c r i p t u r a s de v e n d a d c c h á c a r a s l o c a -
lisadas e n t r e a G l o r i a e a L a p a , r e g i s t r a m c o m o c o n -
finante a c h á c a r a do D r . C l á u d i o G u r g e l . E l l e j á t i n h a
f a l l e c i d o ha m u i t o s annos, c o n t i n u a n d o a c h á c a r a a ser
c o n h e c i d a c o m o n o m e de c h á c a r a d o D r . C l á u d i o
G u r g e l q u e f o i u m f o r c i r o da C a m a r a c o m o q u a s i t o d o s
os seus v i s i n h o s .
Para o lado d o Cattete, abre e x c e p ç ã o o antigo largo
d o V a l d e t a r o ( p i e é o t r e c h o m a i s l a r g o da m e s m a r u a .
Essa zona é d c p r o p r i e d a d e plena, p o r q u e c o r e -
s u l t a d o de uma sesmaria q u e f o i dada p o r u m dos g o v e r -
nadores da c i d a d e q u a n d o t o d o s os d e m a i s t e r r e n o s d o
Cattete, da G l o r i a e d a L a p a f o r a m c o n c e d i d o s p o r a f o -
ramento.
— 375
D e f a c t o , o g o v e r n a d o r S a l v a d o r C o r r e i a de S á e
B e u c v i d c s d e u d e s e s m a r i a a q u e l l a zona a H e i t o r F e r -
nandes C a r n e i r o , a 2 9 de a b r i l de 1 6 4 2 .
O peticionario n ã o allegou r a z õ e s d e alt i monta
q u e j u s t i f i c a s s e m u m a e x c e p ç ã o a b e r t a e m seu f a v o r ,
q u a n d o t o d a s as c o n c e s s õ e s n a q u c l l c s b a i r r o s d a L a p a ,
G l o r i a e C a t t e t e n ã o passavam d c s i m p l e s a f o r a m e n t o s -
N ã o p o d e m o s a t i n a r c o m os m o t i v o s dessa exce-
p ã o , s i n ã o u m acto de filhotismo m u i t o n a t u r a l no ca-
r a c t e r de B e n e v i d e s c o m o p a g a m e n t o dc s e r v i ç o s pres-
tados á sua v a i d a d e c seu interesse.
A s s c s m a r j à s q u e f o r a m dadas n o fim d o .século
X V I , t i n h a m uma j u s t i f i c a t i v a nos s e r v i ç o s prestados na
c o n q u i s t a d a c i d a d e pelos seus p r i m i t i v o s h a b i t a n t e s .
M a s a sesmaria d c H e i t o r F e r n a n d e s n ã o t e m u m a
razã-?| s i n ã o aquelles m o t i v o s a c i m a apontados. L i m i t o u -
se a l o c a l i s a r a zona e m q u e p o s s u í a sua s e s n u r i a .
R c q u c r e u - a a f o r a dos l i m i t e s d a c i d a d e , e n t r e os
l i m i t e s das t e r r a s d o m o r r o d a G l o r i a , L ? r i p e , depois
cia V i u v a , costeando o c a m i n h o q u e vae para a L a g ô a
d o lado e s q u e r d o . »
A h i e s t á u m d o c u m e n t o , a l é m dos q u e t e m o s c i -
t a d o p a r a p r o v a r q u e o a n t i g o m o r r e de L e r i p e é o
m e s m o q u e p o s t e r i o r m e n t e foi c h a m a d o m o r r o d a V i u v a .
Nes,sa d o a ç ã o f o i c o n s t r u í d a u m a c h á c a r a p a r a
a h a b i t a ç ã o de H e i t o r F e r n a n d e s , a q u a l passou á s m ã o s
do D r . M a n o e l Jesus V a l d e t a r o .
V a l d e t a r o é uma g r a n d e i n d i v i d u l i d a d e cio s é c u l o
X I X , E s t á c l a r o q u e a c o m p r a n à o f o i f e i t a directa-
mente a Heitor Fernandes. A compra f o i feita a Luiz
A n t ô n i o Fernandes, a 5 de j u l h o d c 17S7.
M a s v o l t e m o s ao nosso assumpto, p o r q u e na p r i -
m e i r a serie deste e s t u d o l i m í t ^ m o nos á t o p o g r a p h i a d o
R i o dc Janeiro, n o s é c u l o X V I I .
O D r . C l á u d i o G u r g e l n ã o teve as v a n t a g e n s de
H e i t o r F e r n a n d e s para o b t e r a sesmaria.
A l ç a n ç o u a f o r a m e n t o dos terrenos em q u e c o n s t r u i u
sua bella c h á c a r a , os quaes estendiam-se para a L a p a .
— 377 —
N e s t a e x t e n s ã o da G l o r i a a L a p a n ã o e x i s t i a m s i -
n ã o ires p r o p r i e t á r i o s q u e a d i v i d i a m e n t r e s i : C l á u d i o
G u r g u e l , n a e x t r e m i d a d e da G l o r i a ; M a n o e l G o m e s
T o r r e s , no c e n t r o , o n d e sc c h a m a v a boqueirão da Ca-
rioca e o antecessor d o C a p i t ã o A n t ô n i o R i b e i r o Pe-
r e i r a , d o n o da c e l e b r e c h á c a r a das M a n g u e i r a s e q u e
c o n s t i t u e h o j e , o r i c o p a t r i m ô n i o cios f r e i r a s d o c o n v e n t o
do D e s t e r r o q u e m e r e c e u os mais p a t e r n a e s c u i d a d o s
do conde de I í o b a d e l l a .
P o d e m o s c o n s i d e r a i : o c o m o seu v e r d a d e i r o f u n -
dador.
V i m o s q u e t o d o o t e r r e n o da G l o r i a a L a p a per-
tencia a tres p r o p r i e t á r i o s , q u e n e l l c t i n h a m l o c a l i s a d o
suas c h á c a r a s .
T o d o elle é foreiro á Municipalidade desta c i d a -
d e . N ã o sabemos p o r e m o.; p r i m i t i v o s h a b i t a i u c s f ( u e
nelle se l o c a l i s a r a m . N ã o a c j e d i t . i m o s q u e o d r , C l á u -
d i o G u r g e l cio A m a r a l , h a b i t a n t e cia G l o r i a e o c a p i t ã o
A n t ô n i o P e r e i r a R a b e l l o , h a b i t a n t e da L a p a , fossem os
p r i m e i r o s m o r a d o r e s dassas zonas. E m r e l a ç ã o ao ca-
p i t ã o Rabello, podemos afiançar que n ã o o foi, porque
elle a r r e m a t o u a c h á c a r a c m p r a ç a p u b l i c a , t e n d o sido
e l l a p r o p r i e d a d e de M a n u e l F e r r e i r a P o r t o .
Essa d e c l a r a ç ã o , e s t á expressa na e s c r i p t u r a d e
v e n d a e m q u e elle a t r a n s f e r i u , e m 1 7 5 0 , ao c o n d e de
i í o b a d e l l a , para d e l i a fazer d o a c ç ã o , c o m o fez, as f r e i r a s
d c Nossa S e n h o r a do D e s t e r r o . A a r r e m a t a ç ã o q u e o
c a p i t ã o R a b e l l o P e r e i r a fez dessa c h á c a r a f o i a n t e r i o r a
1713, p o r q u e na e s c r i p t u r a c v e n d a d e s t a d a t a d e
o u t r a s c h á c a r a s v i s i n h a s dessa g r a n d e p r o p r i e d a d e ,
fazem referencia a c i l a , c o m o p r o p r i e d a d e c o n f i n a n t e ,
V ê - s e por conseguinte, que o c a p i t ã o R a b e l l o residiu,
m u i t o s a n n o s e m sua c h á c a r a , p e l o m e n o s de 1 7 1 3
a 1 7 5 0 , i s t o é , 3 7 annos.
N a e s c r i p t u r a c o m q u e a t r a n s f e r i u ao c o n d e B;>-
b a d e l l a , c l l c declara q u e e r a s o l t e i r o , q u a n d o a a d q u i -
r i u . D e v i a , p o r c o n s e g u i n t e , ser m a i o r d e GO annos,
quando a vendeu.
377 —
D u r a n t e t o d o esse t e m p o , fez i m p o r t a n t e s b e m -
f e i t o r i a s e m sua c h á c a r a q u e e r a u m a das mais ricas
d o R i o de Janeiro, n a q u e l l e t e m p o , T i n h a u m rica casa
de v i v e n d a , u m a c o c h e i r a , t u d o c o n s t r u í d o d c p e d r a e
cal, a l e m de u m a o l a r i a de fazer adobes, u m d e p o s i t o e
as senzalas de escravos.
A i n d a hoje existem vestígios desta importante
v i v e n d a e d a c o c h e i r a a n n e x a na l a d e i r a de S a n t a T h e -
reza, c o m a f r e n t e p a r a a r u a d e R i a c h u e l o e dos
Arcos.
L a m e n t a m o s p r o f u n d a m e n t e n ã o poder e l u c i d a r a
phase p r i m i t i v a dessa p r o p r i e d a d e urbana e assueces-
sivas t r a n s m i s s õ e s p o r q u e e l l a passou, ate c h e g a r á s
m ã o s do c a p i t ã o P e r e i r a R a b e l l o .
E m u m a u t o de c o r r e i ç ã o de 16(17, e n c o n t r a m o -
nos c o m u m a r e s o l u ç ã o da Camara M u n i c i p a l s o b r e
u m a [ í o n t e e x i s t e n t e no O u t e i r o do D e s t e r r o , p e r t e n -
c e n t e a u m a c h á c a r a chamada <ta c h á c a r a do L i v r e i r o » .
Parece-nos q u e ê a m e s m a c h á c a r a da « M a n g u e i r a q u e
a g o r a estamos e s t u d a n d o e de p r o p r i e d a d e d o c a p i t ã o
Rabello.
N a q u e l l e t e m p o e r a de p r o p r i e d a d e d c J o ã o d c
A l m e i d a R a n g e l , c a p i t ã o da fortaleza de S . J o ã o .
E n t r e estas d u a s c h á c a r a s , do D r . C l á u d i o , na
G l o r i a , e d o c a p i t ã o R a b e l l o , na L a p a , existia, no B o -
q u e i r ã o d * Carioca, que c hoje a praia a c h á c a r a do
c a p i t ã o Luiz Louzada.
A sua testada d i v a p a i a a p r a i a e o f u n d o para o
o u t e i r o . E r a essa t a m b a m a p o s i ç ã o da c h á c a r a da
Mangueira.
Pela f r e n t e d c ambas essas c h á c a r a s passava o
c a m i n h o q u e ia para a G l o r i a , c o m o m e i o cie c o m m u n i -
c a ç â o dos h a b i t a n t e s da c i d a d e para o seu i n t e r i o r .
O c a p i t ã o L o u z a d a v e n d e u sua p r o p r i e d a d e a M a -
n o e l G o n ç a l v e s da Costa, e m Julho de 1 7 1 3 . E , c m
D e z e m b r o d o - m e s m o anno, o m e s m o G o n ç a l v e s d a
Costa v e n d e u - a ao s ^ r g e n t o - m ó r P e d r o d c A z a m b u j a
Ribeiro.
E ' dírrlcil e x p l i c a r as r a z õ e s d e s t a u l t i m a v e n d a ,
n ã o s ó pela e x i s t ê n c i a de u m pequeno prazo d a c o m p r a
para a v e n d a , c o m o p e l o p r e j u í z o e n o r m e q u e G o n ç a l v e s
d a C o s t a teve e m t r a n s f e r i l - a ao s a r g e n t o - m ó r A z a m -
buja .
C o m p r o u - a p o r q u a t r o m i l cruzados, i s t o é , u m
c o n t o e seiscentos m i l r é i s , e v e n d e u - a p o r m i l c r u z a d o s ,
isto é , q u a t r o c e n t o s m i l r é i s .
C o m o explicar-se i s t o ?
O m o r r o , e m q u e e s t á c o u s t r u i d o o c o n v e n t o de
S a n t a T h e r e z a , chamava-sc m o r r o d o D e s t e r r o a t é
1 7 6 3 , q u a n d o passou a ser c o n h e c i d o p o r m o r r o de
S a n t a T h e r e z a , depois, j u s t a m e n t e d a c o n s t r u c ç ã o d o
convento.
E m 1 6 2 0 n e l l c f o i c o n s t r u í d a a e r m i d a consagrada
á Nossa S e n h o r a do D e s t e r r o , por A n t ô n i o Gor&es d o
D e s t e r r o . Esse f a c t o e x p l i c a s u f i c i e n t e m e n t e o a n t i g o
nome do morro.
T o d a a z o n a da c i d a d e , desde a p r a i a d a L a p a a t é
a d o Passeio P u b l i c o , o u m e s m o a Praia d c S a n t a L u z i a ,
e r a conhecida, d e s d e os p r i m i t i v o s t e m p o s , p e l o n o m e
d c « B o q u e i r ã o da C a r i o c a » .
T o d a s as c o n c e s s õ e s d c terrenos, q u e r por sesma-
r í a s , q u e r p o r a f o r a m e n t o s , f e i t a s nesse l a d o da cidade,
desde o fim d o s é c u l o X V I , fazem r e f e r e n c i a á q u e l l e
n o m e . E l l e era t o m a d o pelos d o c u m e n t o s c o m o o p o n t o
para as l o c a l i z a ç õ e s dos t e r r e n o s dados p e l a a u t o r i d a d e .
T o d o s fazem referencia para o lado do « B o q u e i -
r ã o da C a r i o c a » .
H o j e , ainda permanece quasi que o mesmo nome
q u e n ã o sc a p p l i c a mais á g r a n d e e x t e n s ã o t e r r i t o r i a l
dos p r i m i t i v o s tempos c, s i m , e x c l u s i v a m e n t e , á p r a i a d e
Santa L u z i a . A l é m disto, cila perdeu a dupla d e n o m i -
n a ç ã o q u e t i n h a de B o q u e i r ã o , c o m o a i n d a h o j e é c o -
n h e c i d a a p r a i a de S a n t a L u z i a .
A c r e d i t a m o s q u e essa a n t i g a d e n o m i ç ã o l i g o u - s e
ao n o m e de u m a l a g o a q u e e x i s t i a n o m e s m o l o c a l , e m
q u e e s t á h o j e o Passeio P u b l i c o , m a n d a d a a t e r r a r p e l o
— 379 —
v i c e - r e i L u i z d c V a s c o n c e l l o s no fim d o s é c u l o X V 1 I 1 e
a q u e m a c i d a d e d e v e esse m e l h o r a m e n t o , c h a m a d a
lagoa do B o q u e i r ã o .
N o local d a r u a dos A r c o s , e x i s t i a o u t r a l a g o a —
l a g o a do D e s t e r r o , c u j o a t e r r o sc fez e m d a t a m u i t o
a n t e r i o r á d a l a g o a d o B o q u e i r ã o , q u e servia dc l i m i t e
á c h á c a r a das M a n g e í r a s , de q u e t e m o s t r a t a d o c m p a -
g i n a s a n t e r i o r e s , c q u e se e s t e n d i a a t é os A r c o s . E m
seu p e r í m e t r o e s t ã o , h o j e , o l a r g o da L a p a , a r u a e
p r a i a do m e s m o n o m e , a r u a M a r a n g u a p e , a l e m da
p o r ç ã o de t e r r e n o q u e fica para o m o r r o d o D e s t e r r o .
E m d i r e c ç ã o ao l a r g o d a L a p a , a L a g o a do B o q u e i r ã o
servia de l i m i t e á c h á c a r a da M a n g u e i r a . E m d i r e c ç ã o ,
p o r é m , á r u a de E v a r i s t o da V e i g a , d e s c o n h e c e m o s
q u a l fosse a c h á c a r a , q u e c o n f i n a v a c o m a q u e l l a . E
p o s s i v j l q u e nessa d i r e c ç ã o ella sc prolongasse a t é a
r u a das Marrecas, p o r q u e , , d a h í e m d i a n t e , e x i s t i a a
c h á c a r a de M a n o e l V e l l o s o D o r i a , m o r a d o r e m G u a r a -
t i b a , a q u a l se e x t e n d i a p o r q u a s i t o d a a e x t e n s ã o d a
r u a E v a r i s t o d a V e i g a . N ã o p o d e m o s assegurar q u e
V e l l o s o fosse o p r i m e i r o h a b i t a n t e desta zona, p o r é m ,
asseguram q u e , por m u i t o s annos do s é c u l o X V I I , elle
nella h a b i t o u .
S i a c h á c a r a das M a n g u e i r a s se prolongasse a t é a
c h á c a r a d c ^ V c l l o s o D o r i a , a e s c r i p t u r a de v e n d a , c o m
q u e foi ella t r a n s f e r i d a ao C o n d e d c B o b a d c l l a , h a v i a
de registral-a c o m o u m c o n f i n a n t e .
M a s assim n ã o suecede. Parece, pois q u e , e n t r e
esta c h á c a r a e a de V e l l o s o D o r i a , d e v i a e x i s t i r u m a
o u t r a . A t é a g o r a n ã o p u d e m o s esclarecer esse p o n t o .
E ' p o s s í v e l que, mais adiante, possamos r e s o l v c l - o .
U m facto d e g r a n d e e s c â n d a l o para a é p o c a se d e u
no v i d a de V e l l o s o D o r i a . A g i t o u , p e r a n t ; o j u i z o
ecclesiastico, u m a q u e s t ã o d c d i v o r c i o , q u e serviu de
m o t i v o a c o m m e n t a r i o s da o p i n i ã o p u b l i c a r l u m i n e n s c .
Q u e s t õ e s desta natureza e r a m m u i t o raras e as poucas
q u e se f e r i a m , i m p r e s s i o n a v a m p r o f u n d a m e n t e o p u -
blico.
— 380 —
D e s c o n h e c e m o s as a l l e g a ç ô e s d o d i v o r c i o . S ó sa-
bemos q u e e l l e p e r c o r r e u t o d a a sua m a r c h a j u d i c i a r i a
a t é a s e n t e n ç a definitiva. E m c o n s e q ü ê n c i a disto, a chá-
cara c o u b e p o r p a r t i l h a á sua m u l h e r A n n a C a t h a r i n a
de A l a r c ã o , q u e r e s i d i u na c h á c a r a p o r m u i t o s annos,
a t é 1 7 0 1 , o n d e f a l l e c e u . O d i v o r c i o l e v e . pois, l o g a r n o
s é c u l o X V I I , q u a n d o q u e s t õ e s d e s t a natureza s ó e r a m
suscitadas p o r m o t i v o s m u i t o poderosos, i m p o r t a n d o
em u m verdadeiro e s c â n d a l o .
J á vamos nos a p p r o x i m a n d o d o c e n t r o d a c i d a d e ,
p o r q u e j á chegamos na L a p a e a r u a E v a r i s t o da V e i -
ga c v e m o s q u e a i n d a n ã o estamos, e m zona v e r d a d e i r a -
m e n t e u r b a n a . E i s t o no c o m e ç o d o sceulo X V I I I . P o r
ahi a i n d a n ã o e x i s t i a m r u a s . T o d a a e x t e n s ã o a i n d a era
oecupada p o r c h á c a r a s , q u e p e r m a n e c e r a m i n t a c t a s d u -
rante muitos annos deste s é c u l o . *
D u r a n t e quasi todo o s é c u l o X V I I , toda a e x t e n s ã o
da cidade, da L a p a ate o m o r r o d o C a s t e i l o , e r a oe-
c u p a d a p o r c h á c a r a * , q u e c h e g a v a m at eperto d a a n t i g a
rua da A j u d a .
A c h á c a r a das M a n g u e i r a s , q u e t ã o e x t e n s a m e n t e
temos f a l a d o e c u j a testada chegava a l é o Passei Pu-
b l i c o , representa j u s t a m e n t e o l i m i t e cia z o n a f o r e i r a d a
cidade, q u e se estende desde C o p a c a b a n a e a I a g ô a
d c R o d r i g o de F r e i t a s a t é a h i , c o m e x c e p ç ã o de u m
ou o u t r o i r e c h o de p r o p r i e d a d e p l e n a p a r t i c u l a r .
C o m o se v ê , é u m a zona e x t e n s i s s i m a e r i c a e q u e
faz p a r t e d o p a t r i m ô n i o t e r r i t o r i a l d a C a m a r a M u n i c i -
p a l . D a testada desta c h á c a r a para a c i d a d e , t o d a a
zona é de p r o p r i e d a d e p l e n a dos p a r t i c u l a r e s , o u , por
o u t r a , n ã o é f o r e i r a . D e s d e sua p r i m i t i v a phase, e l l a
foi d a d a p o r t i t u l o cie sesmaria aos p r i m i t i v o s c o n q u i s -
tadores da c i d a d e . I s t o n ã o suecedeu c o m a zona d o
i n t e r i o r , c m q u e o t i t u l o p r i m i t i v o de p r o p r i e d a d e c o
a f o r a m e n t o . F o i j u s t a m e n t e pela testada d a c h á c a r a
d r s M a n g u e i r a s q u e passou a l i n h a d o t o m b a m e n t o ,
q u a n d o a C a m a r a M u n i c i p a l , no m e a d o d o s é c u l o X V I I I ,
— 381 -
t u d o era p o r d e m a i s r u d i m e n t a r . F o i a h i q u e c o m e ç o u
a riqueza a g r í c o l a e a p r e d o m i n a r na s o c i e d a d e , o t y p o
d o a g r i c u l t o r , c a n t e v e r na p o l í t i c a . I v , a é p o c a tias
fortunas particulares. E a época da origem da
aristocracia t e r r i t o r i a l . K a é p o c a d o s B a r t h a z a r B o r -
ges, Balthazar L e i t ã o , F r a n c i s c o V e l h o , F r a n c i s c o V e i -
ga, S e b a s t i ã o F a g u n d e s , C i i s p . m da C u n h a , Á l v a r o P i -
res, A l e i x o M a n o e l c o u t r o s .
E i s ahi os t y p o s p r e d o m i n a n t e s d a s o c i e d a d e f l u -
minense, pelo p r e s t i g i o de q u e g o s a v a m c f o r t u n a q u e
possuíam.
E ' , por c o n s e g u i n t e , a d a t a r cio s é c u l o X V I I I , q u e
a sociedade c o m e ç a a a s s u m i r u m a f o r m a m a i s n í t i d a ,
pela f o r m a ç ã o de todos os seus e l e m e n t o s , e uma v i d a
p o l i t i c a mais r e g u l a r , c acentuar-se a classe a g r í c o l a , a
detentora da maior riqueza particular.
A c o l o n i s a ç ã o e p o v o a m e n t o do o u t r o l a d o da c i -
dade, desde a r u a C a r i o c a a t é S . C h r i s t o v ã o c c o m p r e -
h e n d o C a t u m b y . H a d d o c k L o b o , C o n d e do B o n i f i m ,
T i j u c a , A n d a r a h y , e t c . , s ã o t ã o a n t i g o s c o m o os d c Bo-
tafogo, Laranjeiras e R o d r i g o de Freitas,
U m dos p r i m e i r o s p o v o a d o r e s d a z o n a f o i J o ã o
M a r t i n s Castelhano, c m 1 6 0 7 . E l l e l o c a l i s o u - s e c o m
suas posses d e t e r r a s desde a l a g ô a d o S e n t i n e l l a a t é a
C a n c c l l a dos padres j e s u í t a s , s e g u n d o clizcm oe o r i g i -
naes d o seu a f o r a m e n t o . Isto q u e r dizer q u e as t e r r a s
d c C a s t e l h a n o i a m d e s d e mais o u menos p o u c o a d i a n t e
d a e m b o c a d u r a da r u a d o R i a c h u e l o na r u a F r e i C a -
neca, a t é o c o m e ç o d a r u a d c S. C h r i s t o v ã o , o n d e estava
a Cancella dos Padres.
Este aforamento obteve M a r t i n s Castelhano e m
160!). E quando o requereu, j á tinha c o n s t r u í d o uma
olaria no seu p r i m e i r o a f o r a m e n t o q u e f ô r a s ó m e n t e de
2 0 0 b r a ç a s q u e l i m i t a r i a m suas posses e m B a r r o V e r -
melho juneto á C o r r e c ç ã o , porque a olaria foi c o n s t r u í d a
o n d e e s t á h o j e a C a i x a d ' A g u a . J á estava l o c a l i s a d o na
mesma r e g i ã o E s t e v ã o de A r a ú j o na esquina da r u a d o
— 383 —
R i a c h u e l o , s c n d o - í i o s i m p o s s í v e l dizer a t é o n d e c h e g a v a
o tliteito de propriedade deste f o r e i r o . G r a n d e parte
destas posses t e r r i l o r i a e s de C a s t e l h a n o f o i t r a n s f e r i d a
a S i m ã o L e i t ã o e m 1 6 1 9 , j u s t a m e n t e na zona d o p r i -
m e i r o a f o r a m e n t o o n d e C a s t e l h a n o c o n s t r u i r á a sua
o l a r i a . Podemos: l i m i r a r da s e g u i n t e m a n e i r a o t r e c h o
q u e passou a p e r t e n c e r a S i m ã o L e i l ã o pelo a f o -
r a m e n t o f e i t o e m 2 1 d e S e t e m b i o de 1 0 1 9 : s o b e j o s
q u e f o r a m de J o ã o M a r t i n s C a s t e l h a n o q u e e s t ã o o n d e
esteve a o l a r i a da b a n d a de b a i x o d o c a m i n h o q u e vae
p a r a S. C h r i s t o v ã o p e l o . p é dos o u t e i r o s o u t r o c a m i n h o
q u e yae pelo dos areiaes aos m a n g u e s da b a n d a dos
o u t e i r o s d e Á l v a r o Pires, e n t r e u m c a m i n h o e o u t r o ,
d i r e i t o a passagem da l a g ô a das A r e i a s G r a n d e s a t é
d a r na A g u a dos P a d r e s e m a n g u e » .
» F a z e n d o a i d e n t i d a d e h i s t ó r i c a , as posses de S i m ã o
L e i t ã o , p o r c o n s e g u i n t e „ i a m d a r u a F r e i Caneca, na
e m b o c a d u r a da r u a do A r e a i a t é C a t u m b y , B a r r o V e r -
m e l h o a t é as f r a l d a s dos m o r r o s do Pinte L i v r a m e n t o e
S . D i o g o q u e se c h a m a v a m o u t e i r o s de Á l v a r o Pires.
N a mesma zona, nas i m m c d i a ç õ e s da l a g ô a d o
S e n t i n e l l a , l o c a l i s o u - s e o sapateiro D i o g o D i a s , p a r a
fazer sua i n d u s t r i a de c u r t i r couros, o b t e n d o u m a f o r a -
m e n t o e m O u t u b r o d c 1 6 1 1 da p r ó p r i a l a g ô a .
S i m ã o L e i t ã o construiu u m engenho que acabou
p o r desapparccer, p o r q u e v e n d e u suas terras a G o n s a l o
Cardoso q u e o b t e v e o a f o r a m e n t o delles d a C a m a r a
c m M a r ç o de 1 6 2 0 . D e p o i s passaram se a J o r g e Fer-
nandes da F o n s e c a .
N a mesma zona localisou-se o s a p a t e i r o D i o g o
D i a s , nas i m m e d i a ç ò e s da L a g ô a , para fazer sua i n d u s -
t r i a de c u r t i r c o u r o s , o b t e n d o u m a f o r a m e n t o e m O u -
t u b r o .de 1 6 1 1 da p r ó p r i a l a g ô a .
M o r t o C a s t e l h a n o , suas terras c a h i r a m e m c o m m i s s o
e e m 1 6 1 7 , P e r o d e S o u z a o b t c v e o a f o r a m e n t o dcllas c m
2 0 0 b r a ç a s . T e m o s pois q u e as 4 0 0 b r a ç a s de M a r t i n s
C a s t e l h a n o passaram a d o u s d o n o s : S i m ã o L e i t ã o e
384 -
P e r o cie S o u z a ; a q u e l l e e m C a t u m b y c B a r r o V e r m e l h o
c este m a i s a d i a n t e e m d i r c c ç à o a E s t a c i o .
X a m e s m a zona l o c a l i s o u - s e S a l v a d o r C o r r e i a de
Labanda, o b t e n d o em 1606 dous a f o r a m e n t o s da Ca-
m a r a , u m de 2 0 0 b r a ç a s « a o l o n g o d o c a m i n h o i n d o
desta c i d a d e p a r a S. C h r i s t o v ã o , á m ã o e s q u e r d a o n d e
se t i v e r a o m o i n h o c c e m b r a ç a s p a r a c a d a l a d o , á g u a s
vertentes p a r a a serra, e o u t r o a f o r a m e n t o t a m b e m de
2 0 0 b r a ç a s nas cabeceiras das p r i m e i r a s 2 0 0 b r a ç a s
chegando a t é o alto d o cume da s e r r a » .
Parccc-nos q n e os a f o r a m e n t o s d c C o r r e i a d c L a -
banda eram na rua Frei Caneca e m d i r e c ç ã o a Ca-
tumby.
F s t a s terras f o r a m t r a n s f e r i d a s p o r S a l v a d o r a o s
f r a d e s d o C a r m o em D e z e m b i o de 1 6 0 9 ,
A d i a n t e dc S a l v a d o r d e L a b a n d i l o c a l i s o u - s ^ J c -
r o n y m o S a n c h e s e m 2 0 0 b r a ç a s de t e r r a e a d i a n t e d e s t e
Belchior Ferreira.
N o m o r r o Paula M a t t o s l ú c d i s o u - s e A n d r é F e r -
nandes, o b t e n d o d a C a m a r a u m a í o r a m e n t o a h i de 1 0 0
b r a ç a s , cm Junho dc 1617, que tinham p e r t e n c i d o a
G o n s a l o L u i z , o H o r t c l ã o , q u e n ã o as a p r o v e i t o u . A n d r é
Fernandes o b t e v e n a mesma o c e a s i ã o m a i s 2 0 0 b r a ç a s
entre a L a g ô a da Sentinella c o mangue, isto é, entre
a r u a F r e i Caneca e a p r a ç a 11 de Junho. O jèrimitivo
e m p h y t e u t a destas t e r r a s f o i G r c g o r i o R i b e i r o , passando
ellas d e p o i s a M a n o e l F e r n a n d e s e finalmente, e m 1 6 1 7
a A n d r é F e r n a n d e s q u e e m Paula M a t t o s c o n s t r u i u u m a
fazenda.
N a c a n c e l l a de S, C h r i s t o v ã o , n o c o m e ç o d a r u a d o
m e s m o n o m e o u M . i t a d o u r o . localisou-se J o ã o F e r n a n -
des F o n t e s , o b t e n d o e m 1 6 2 1 trezentas b r a ç a s d e t e r r a .
Kstas terras t i n h a m sido de S y l v c s l r c F e r n a n d e s q u e as
t r a n s f e r i u a l^crnanclcs F o n t e s . M a i s t a r d e l o c a l i s o u - s c
e m C a t u m b y , e m 1 6 3 6 , M a u r i c i a G o m e s c m u m en-
g e n h o q u e c o n s t r u i u e m t e r r a s c o m p r a d a s aos j e s u i t a s
« a s quaes p a r t e m tia b a n d a d a c i d a d e c o m t e r r a s d o
B
— 385 —
C o n s e l h o e c o m e ç a m no n a s c i m e n t o d o r i o I g u a s s ú ,
v i n d o pelas v o l t a s do r i o a b a i x o a t é o m a r da o u t r a
b a n d a corn terras q u e o d i t o c o l l e g i o v e n d e u a F r a n c i s c o
V i c g a s , B a l t h a z a r L e i t ã o e M a n o e l F e r n a n d e s e da
b a n d a da costa b r a v a p a r t e m c o m t e r r a s d o C o n s e l h o
p e l o r u m o d e sudoeste q u e se c o m e ç a r á a l a n ç a r da
v e r t e n t e do d i t o r i o » .
r e i r a , e f o r e i r o á M u n i c i p a l i d a d e . Por a h i e s t a v a
t a m b é m localisado o D r . F r a n c i s c o d a S i l v e i r a S o u t o
M a i o r . N o p r i m i t i v o A n d a r a h y Pequeno, h o j e F a b r i c a
das C h i t a s , e s t a v a o e n g e n h o de M a r t i n C o r r e i a V a s -
queianes, assim c o m o e m C a t u m b y ex.stia o u t r o enge-
nho de F r a n c i s c o da C o s t a H o m e m , h e r d a d o de seu pae.
N a o p i n i ã o d c M e l l o M o r a e s Costa H o m e m r e q u e r e u ao
C o n s e l h o , c m 4 de S e t e m b r o de 1 6 1 5 , o o u t e i r o h o j e
de S . R o d r i g u e s para t i r a r l e n h a .
E i s o m o v i m e n t o de c o l o n i s a ç ã o por esse lado da
c i d a d e d u r a n t e o secuh* X V I I c os nomes dos m a i s
i m p o r t a n t e s l a v r a d o r e s q u e n e l l a c o n s t r u í r a m suas c h á -
c a r a s e e n g e n h o s de assucar.
D u r a n t e o s é c u l o a c i d a d e c h e g o u a t é á r u a dos
O u r i v e s q u e as ruas q e r p c n d i c u l a r e s ao m a r n ã o alcan-
ç a i ) m exceder.
Prefacio --• •
CAPITULO I
•
A descoberta
5
CAPITULO II
CAPITULO I I I
CAPITULO IV •
CAPITULO V
Pdgs,
n 29 de A b r i l dc 162$. Sua e x e c u ç ã o no
R i o . Os jesuitas, o prelado e a Camara.
Sua e x e c u ç ã o CÜX S. Paulo. Expulsão, dos
j e s u í t a s . A s luetas. Salvador c a o p i n i ã o
p u b l i c a . O governo dc Luiz Barbalho.
Seu programma. Govt m o do Duarte Vas-
queanes. D i v e r g ê n c i a na o p i n i ã o iaçj
CAPITULO VIII
O ultimo governo de Salvador Correia de Sá e Benevides
P*gs.
1.650. O augmento da g u a r n i ç â o c o i m -
posto predial. A o p i n i ã o da Camara. Os
actos que motivaram a r e v o l u ç ã o . A u -
sência do -Salvador. Rebenta a r e v o l u ç ã o .
Os representantes da r e v o l u ç ã o perante o
governo legal... Seus requerimentos, Re-
u n i ã o na Ponta do t j r a b o . Jeronymo
Barbalho e os outro* chefes da r e v o l u ç ã o
e seus actos. A g o s t i n h o B a i b a l h o . O
Bando de Salvador de 1° de Janeiro. A p -
pollo do R i o a S . P a u l o . Procedimento
dos paulistas. ' U ] t i m o s actos da revolu-
o
CAPITULO XI
ção da villa dc S. A n t ô n i o dc S á . C r e a ç ã o
de freguczias. Sua viagem a S. Paulo.
Ponpie nessa viagem n á o tratou das m i -
nas. S e r v i ç o s dc A r t h u r em S . P a u l o e
no R i o . Seus actos. Segunda viagem a
S. Paulo. Actos de sou substituto no
R i o . Leis sobre n a v e g a ç ã o , t . r e a ç à o da
ouvhhtria dc S. Paulo. Os seus limites.
Influencia da m i n e r a ç ã o 285
CAPIJULO XTT
CAPITULO XIII
Pags,
Sele de Setembro. Processos de desairua-
ràento das ruas. Ruas do ('armo, A j u d a
c S. J o s é ' 313
e c o n ô m i c a de B o t a f o g o , Laranjeiras c
R o d r i g o de Freitas. Morro da G l o r i a .
Suas i m m c d i a c õ e s . A sociedade e os c r i -
mes. Os Gurgcis. L a p a . Desterro. Eva-
risto da V e i g a . O direito dc propriedade
territorial. Conctusôes. 355
m
9
3
3
o.
*—
1
1
•í m