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História do Brasil 4 -

Gabriela Santos Almeida


Ficha de leitura: Crises da República: 1954, 1955 e 1961 - Jorge Ferreira:

É sabido hoje em dia à opção das classes dominantes em todo espectro latino-americano
desde a implantação do modo de produção capitalista neste continente. Elas optaram,
desde muito cedo, pela aliança com latifundio e com o capital internacional para à sua
própria reprodução
enquanto classe. Desse modo se explica o quão o Estado político brasileiro se configurou de
forma muito contraditória ao longo de todo o século XX e início do século XXI. As pequenas
variações admissíveis no que diz respeito às liberdades político-econômicas que se
encontram nos países centrais são recebidas pelas classes dominantes de nossos países
de forma não muito amistosa. E não basta qualificações morais negativas para designar a
"burguesia brasileira"(como se suas "qualidades inferiores" fossem a força motriz do
conservadorismo), sem mencionar o seu determinante estrutural.

Entre 45 e 64, com o fim do Estado Novo e a volta da democracia no cenário nacional,
vários projetos disputavam o âmbito político brasileiro. Englobam tais projetos, para Jorge
Ferreira, o nacional-
estatismo e o liberal-conservadorismo, de modo que eles podem ser considerados como
frentes (frentes de projetos) de diretrizes completamente opostas. Uma era nacionalista,
repudiava o capital
externo na economia brasileira e defendia as conquistas dos trabalhadores das diversas
lutas históricas passadas. O outro se configurava como anticomunista, antitrabalhista, e
defendia a entrada massiva de capitais externos no país. Tais projetos, ou frente de
projetos, aglutinavam vários setores da sociedade, de modo que as lideranças políticas de
ambos tinham ligações muito íntimas com a sociedade, que nesse momento vivia uma
efervescência política.

A grande influência da frente liderada pelos trabalhista na política institucional e econômica


brasileira já basta para explicar o conflito entre a sociedade civil. Setores das classes
dominantes não poderiam aceitar de mãos atadas as conquistas cada vez maiores das
classes subalternas brasileiras. Era inadmissível para a elite uma reforma agrária. A opção
pelo golpe militar tinha grande voz no âmbito conservador desde 55, mas ela nem sempre
foi unânime como foi em 64. E é desse conflito entre os diferentes projetos, que se davam
entre as classes, e até entre membros das classes dominantes, que se pode explicar os
anos que se desdobram de 45 a 64, marcados por perigos de eminentes guerras civis
exatamente pela crescente participação da
população na política nacional.

Para retratar os grandes embates que se davam entre os distintos campos políticos, o autor
pega predominantemente suas fontes em jornais e periódicos da época. Correio da Manhã,
O Dia, Tribuna da Imprensa, O Estado de S. Paulo, Última Hora, dentre outros, foram
usados pelo autor para retratar o conturbado momento político de modo minucioso e
descritivo. Os atos de rua de comoção pela morte de Getúlio Vargas, as ações dos militares,
a resistência ao golpe em 55 e 61, o movimento democrático, a renúncia de Jânio Quadros
etc, foram retratados pelos jornais conforme a cultura política dos seus produtores. Tais
jornalistas não eram neutros, eles eram a expressão de um determinado projeto político que
visava convencer atores sociais.

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