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Os Rumos Da Televisao Musical MTV - YouTube e o Fim Do Videoclipe PDF
Os Rumos Da Televisao Musical MTV - YouTube e o Fim Do Videoclipe PDF
Videoclipe1
Resumo: A partir da reconfiguração da grade de atrativos da Music Television Brasil (MTV), que
anunciou extinguir os videoclipes de sua programação em 2007, o artigo problematiza o novo panorama
da televisão musical. Identifica-se o alargamento do conceito de emissora de TV musical, que passa a
abranger tanto os sistemas produtivos televisivos quanto as plataformas online de disponibilidade de
vídeos. Nesta perspectiva, sinaliza-se uma especificidade no conceito de remediação, atrelado ao fato de
que um novo meio (a internet) não só age no terreno da televisão musical a partir das lógicas de
conservação e ruptura, mas cria elos de dependência.
1. Introdução
O compartilhamento de vídeos através de plataformas digitais (YouTube, My
Space, Yahoo! Videos etc.) mudou a dinâmica de circulação dos videoclipes. Antes
sujeito às grades de programação e horários das emissoras de televisão musical, o clipe
passou a estar arquivado e disponível em sites, problematizando a principal “moeda de
troca” da televisão: o “ineditismo”. Aparentemente, este novo cenário de circulação do
videoclipe fez com que o diretor de programação da MTV Brasil, Zico Góes, declarasse
que “o videoclipe não é tão televisivo quanto já foi. Apostar em clipe na TV é um
atraso”. E encenou-se, na MTV Brasil, uma polêmica que colocou em questionamento o
futuro deste audiovisual3. O anúncio do “fim” de um determinado formato, gênero ou
3 A discussão tornou-se central, em dezembro de 2006, quando a MTV Brasil anunciou uma nova grade
de programação para o ano de 2007 que excluía o videoclipe de seus “horários diurnos”. O videoclipe
estaria na programação apenas em horários noturnos, de madrugada, cumprindo a função de “encher”
meio é uma “prática” recorrente no campo da Comunicação. No entanto, a despeito de
conclusões apressadas ou de “visões futuristas” apocalípticas, este artigo tenta ampliar o
espectro de compreensão do fato apontando para a direção tal que ao se discutir o futuro
do videoclipe, na verdade, está se encenando um debate sobre as novas configurações
da televisão musical.
A discussão requer a visualização dos dois campos de práticas em tensão: a
televisão e a música popular massiva4. Como estratégia de endereçamento do gênero
televisivo, de maneira geral, o videoclipe herda:
1. Aspectos ligados, na televisão comercial, aos números musicais televisivos e
todas as suas características ligadas à performance do artista protagonista;
2. Elementos que caracterizariam um uso mais experimental dos recursos
audiovisuais, apontando para um universo de práticas próximos da videoarte.
É desta tensão entre se configurar um número musical sobre a performance do
artista e um atrativo que experimenta recursos sinestésicos audiovisuais que o clipe se
origina. Dos gêneros musicais, o videoclipe imbrica uma série de estratégias discursivas
atreladas às dinâmicas da indústria fonográfica, possibilitando, através deste
audiovisual, empreender um conjunto de ações que reforcem elementos ligados à
autenticidade e cooptação dos produtos musicais em circulação. Acrescente-se à
dinâmica dos gêneros musicais no universo de práticas da música popular massiva, as
novas configurações de circulação dos produtos musicais, através dos
compartilhamentos de arquivos em plataformas online.
Para podermos compreender de que forma o universo de práticas da televisão e
da música popular massiva agem sobre o clipe, devemos radiografar este objeto levando
em consideração as ingerências de ordem de uma economia política atrelada a este
audiovisual. De maneira simplista, o videoclipe serve como alicerce de divulgação
massiva de uma canção de um álbum fonográfico. Sua produção se apresenta atrelada
ao universo do artista que a obra sintetiza. Clipes de artistas pertencentes a gravadoras
são financiados, de maneira geral, por estas instâncias. Aqueles que se encontram fora
a grade televisiva da emissora. Nos horários mais “nobres”, programas de auditório, de entrevistas,
debates, documentários, reality shows, entre outros gêneros, integrariam o conteúdo disponível pela
MTV Brasil em seu canal de televisão.
4 Remetemos à definição de Janotti Jr.(2005) de que, a música massiva supõe as expressões “que se
valeram do aparato mediático contemporâneo, ou seja, técnicas de produção, armazenamento e
circulação tanto em suas condições de produção bem como em suas condições de consumo.”
dos ditames institucionais da indústria fonográfica, grosso modo, também produzem
clipes fora destes parâmetros. A problematização da instância produtiva deste
audiovisual apresenta três eixos que agem na sua forma de circulação televisiva:
1. Videoclipes podem ser produzidos por meio de verba e contratos com
gravadoras, fazendo com que haja uma negociação entre artista e a própria
gravadora para a realização do audiovisual e a posterior possibilidade de
inserção nas instâncias de circulação televisiva;
2. Podem ser produzidos fora das gravadoras, sem verba destas instâncias
produtivas, mas sendo apropriados como material de divulgação pela indústria
fonográfica e, através da mediação das gravadoras, tendo a possibilidade de
inserção nas instâncias de circulação televisiva;
3. Clipes podem ser produzidos fora das gravadoras, sem verba destas instâncias
produtivas e também sem possibilidades de inserção nas instâncias de circulação
televisiva.
Diante do quadro visualizado através da compreensão da lógica produção-
circulação televisiva dos videoclipes, percebe-se que a entrada das plataformas online
de compartilhamento de vídeos é um elemento capaz de problematizar as dinâmicas
massivas de circulação destes audiovisuais. O videoclipe não é mais um produto
somente televisivo. Passa a integrar as dinâmicas de consumo da “cibercultura” e
precisa ser compreendido também através desta lógica. Circunscreve-se um debate que
atravessa uma problemática acerca do papel da televisão musical na circulação deste
audiovisual e das novas formas de apropriação do videoclipe que passa a ser inserido
em gadgets (Ipods, reprodutores de MP3 com vídeo), celulares, videologs, blogs e sites
específicos.
A questão pressupõe enxergar uma instância de recepção que atrela conceitos
como imediatismo e disponibilidade (no acesso a informações online) em contraponto a
aspectos ligados a controle e determinação (no assistir a conteúdos da televisão). A
complexidade está em perceber como as características destas duas ações de acesso ao
videoclipe pela instância da recepção convergem num modelo de televisão musical que
agrega o canal de TV à plataforma online de disponibilidade de vídeos. O percurso
argumentativo deste artigo passa pela compreensão do conceito de remediação no
campo das práticas da televisão musical e da música popular massiva na cibercultura
para, assim, tentarmos compreender as novas dinâmicas de circulação do videoclipe na
cultura contemporânea.
2. Sobre Remediação
O conceito de remediação, como proposto por Bolter e Grusin (1999), traduz-se
como a propriedade de incorporação de características de um media em outro. A
remediação não é inaugurada através dos objetos da cibercultura, mas, nota-se que a
problemática ganha relevo na análise de produtos e processos que atravessam as
dinâmicas digitais. O princípio da remediação visa traçar considerações sobre de que
forma os novos media remetem a elementos dispostos em media anteriores. O conceito
auxilia na compreensão das lógicas de circulação que, aparentemente, “inaugurais”, são
demonstrativas de processos já anteriormente instaurados, na verdade.
A dinâmica da remediação no campo dos produtos musicais já foi discutida por Sá
(2005; 2006), que aponta a disseminação dos “tocadores do formato MP3, as trocas de
arquivos musicais a partir do advento de ferramentas par-a-par, download de ringtones
para celulares, bandas que dispensam gravadoras e divulgam seu trabalho na rede,
podcasting; além do incontável número de sites, blogs, listas e comunidades no orkut”
(SÁ, 2006: p. 3) como sintomas de uma certa efervescência das práticas musicais na
cibercultura. O problema para a autora é compreender, de maneira efetiva, “o que se
remedia na cibercultura - ou seja, como as novas tecnologias de audição se imbricam
com as anteriores, e quais os pontos de ruptura” (SÁ, 2006: p. 3). Tentando dar um
relevo da discussão sobre as dinâmicas de disponibilização de vídeos nas plataformas
online, a nossa problemática se encena sobre os possíveis pontos de aproximação e
distanciamento deste processo nas dinâmicas de circulação de produtos da televisão
musical.
A entrada das plataformas online de compartilhamento de vídeos se configura como
uma nova instância de circulação. Ainda a partir dos conceitos de Sá (2006),
compreende-se que o processo de formação de uma nova instância de circulação
permite visualizar uma gramática do novo meio. Segundo a autora, quatro variáveis são
articuláveis: aspectos cognitivos e práticas sociais dos usuários; linguagens e
tecnologias envolvidas na estocagem da informação; aspectos político-institucionais
envolvidos na produção-circulação-recepção da informação através dos meios e o
contexto macro-econômico em que se insere tal meio. Na medida em que nossa
argumentação for tomando escopo, os elementos relacionados serão articulados na
compreensão dos momentos distintos de observação dos novos caminhos da televisão
musical.
5 É preciso considerar a relevância da imagem no campo da indústria da música. Das capas dos discos,
para os encartes, os artistas da música passam a criar pequenos filmes que sintetizavam suas canções.
Na década de 60, os Beatles fizeram “curtas musicais” para as canções “Penny Lane” e “Strawberry
Fields Forever”. Tais filmes tinham circulação restrita, funcionavam apenas como material
experimental do grupo. A indústria fonográfica se apropria do dispositivo da imagem com a criação de
filmes estrelados por popstars, como Elvis Presley (”Jailhouse Rock” de 1957) e The Beatles (”A
Hard Days Night”, de 1964). A relevância da imagem no campo da música é proporcional ao
fortalecimento do star system no terreno da música popular massiva. Programas de televisão como o
“The Kenny Everett Video Show” e o “Top of The Pops”, que reproduziam a estrutura das paradas
radiofônicas no ambiente televisivo, inseriam na programação das TVs abertas, atrativos musicais em
apresentações ao vivo, voltadas, de maneira geral, para o público jovem - nova matriz de
endereçamento dos produtos da indústria da música.
Segundo Kellner (2002) a história das rádios comerciais norte-americanas no final
dos anos 70 ajuda a perceber sintomas de aproximação entre os sistemas radiofônicos e
televisivos, compreendendo que tais aproximações estariam circunscritas na perspectiva
aglutinadora da cultura da mídia.
O ano de 1977 foi particularmente decisivo para tal aproximação: as rádios viviam
nos EUA um período de recessão, com suas programações maciçamente voltadas para o
público adulto enquanto a indústria fonográfica passava por um período de crise em
função das baixas vendagens de seus álbuns. Artistas da soul music e da música country
não funcionavam mais como alavancas de vendagens de LPs. Tratando a questão a
partir de uma perspectiva econômica, as gravadoras não detinham retorno financeiro
com seus artistas; verbas, apoios ou suportes materiais não seriam também repassados
para os meios de comunicação de massa. A crise das rádios norte-americanas no final
dos anos 70 reverberava na indústria fonográfica.
Visualizando esta cartografia, é possível perceber a profunda dependência que,
dentro da indústria fonográfica, os meios de comunicação de massa possuem das
instâncias produtivas da música popular massiva - e vice-versa. Neste período, as
emissoras de rádio funcionavam como um ambiente capaz de gerar circulação para os
produtos da indústria da música, apresentando-se como a principal peça da engrenagem
de divulgação massiva da música.
Um quadro de novas configurações da circulação de produtos da música, neste
momento histórico, se apresenta:
1. Necessidade de um novo ambiente de divulgação dos produtos da indústria
fonográfica, uma vez que se vivia uma visível saturação do espaço radiofônico
como meio de circulação;
2. Entrada de novos sistemas imagéticos de legitimação do artista no terreno
musical, sobretudo o cinema musical e os filmes que se apresentavam como fortes
aparatos para a construção do conceito de celebridade na dinâmica do star system
musical;
3. Crescimento e progressiva popularização da televisão como eletrodoméstico nas
residências, fazendo com que a programação das emissoras de TV tivesse que se
apresentar para “toda a família”. São criadas, assim, orientações a partir dos
públicos que estivessem “em casa” em horários pré-determinados;
4. A progressiva ocupação de espaços publicitários na televisão por produtos
segmentados para mulheres, jovens, crianças e que, de início, não se apresentavam
como público-alvo potencial da TV comercial.
A visualização destas variáveis ajuda na identificação das necessidades de
implementação de uma televisão musical que tivesse circunscrita no princípio da
segmentação e fosse alicerce da formatação imagética do star syste m no terreno da
música popular massiva.
A MTV, emissora síntese da chamada televisão musical, nasce dentro de um
contexto de segmentação dos conteúdos da televisão aberta e busca por espaços na
televisão por assinatura. A história da TV por assinatura pressupõe enxergar duas fases
distintas na sua expansão: a primeira, com vistas a fazer chegar sinais de TV nas mais
longínquas localidades e a segunda, de endereçamento segmentado dos conteúdos
dispostos.
A criação da MTV articula-se a esta segunda etapa de expansão e pode ser percebida
a partir do princípio da junção de instituições da mídia6. A televisão musical incorpora
procedimentos de geração de seus produtos que integram espaços do rádio, da televisão
segmentada e das indústrias fonográfica e cinematográfica.
As características da televisão musical estariam marcadamente articuladas a uma
dinâmica de circulação radiofônica através:
1. Do uso das listas e paradas dos “mais pedidos” artistas ou videoclipes que
ocupariam os “horários nobres” de seus principais programas;
2. Da conjunção do chamado single (ou “música de trabalho”) entre rádio e
televisão, ou seja, uma canção era divulgada a partir de um único fragmento
integrante do álbum fonográfico e imposto pela instância da indústria fonográfica;
3. Do fortalecimento do star system da indústria fonográfica e a importância de
formatação de conteúdos concomitantes ao lançamento dos álbuns (reportagens,
cobertura de eventos, festas de premiação etc.);
6 A emissora nasceu da união de um canal infantil Pinwheel , que mais tarde virou o Nickelodeon, em
parecria com a Warner-Amex Cable (a empresa de TV a cabo da Warner) e subsidiada pela
financiadora de cartões de crédito American Express. Em 1985, com a gigantesca adesão de clientes
aos serviços da MTV, a emissora passou a ser administrada pela Viacom.Inc que, mais tarde, se
transformaria na MTV Networks.
4. “Da aparição de uma escala transnacional de exibição do videoclipe, criando
demandas até então inexistentes no campo da música popular massiva, o que pode
ser compreendido a partir de uma lógica da cultura pop mundial” (STRAW, 1993).
Este cenário sinaliza a idéia de que a televisão musical teria que seguir rumo ao
natural processo de digitalização de seus atrativos assim como os produtos musicais já
se apresentavam.
O processo de remediação da televisão musical nas plataformas online de
compartilhamento de vídeos pode ser observado, inclusive, na própria programação da
MTV. Programas com a participação do internauta votando nos seus atrativos ou
videoclipes preferidos (”Video Clash”), atrativos em que os espectadores deixavam
“recados” no site e os textos se presentificavam na tela da TV (”My Own”) ou mesmo
vinhetas com vídeos pessoais postados pelos espectadores (”VidaLog”), são indicativos
das inúmeras formas de presentificação de uma forma de se relacionar com os atrativos
da internet e que atravessavam os programas da televisão musical.
Neste caso, é possível avançar e compreender que até a própria configuração da tela
da televisão assume características de interface computacional, com “janelas”, “caixas
de texto e imagem” e afins. Compreende-se, então, que a MTV adota procedimentos
extensivos dos ambientes de compartilhamento de conteúdos musicais na sua
programação.
O site da MTV é, por sua vez, pautado pelos atrativos da própria emissora. Navega-
se pelos programas de TV da MTV (”Ponto Pê”, “Disk MTV”, “Ya Dog!”, “Chapa
Coco”) no próprio site e o apresentador, durante o atrativo, faz inúmeras convocações
para que se visite o site do programa e, consequentemente, o da MTV.
Compreende-se que não só a televisão musical, mas a própria televisão passaria pelo
processo de remediação com a disseminação da internet. Fischer (2006) enumera uma
série de caraterísticas para se pensar a disponibilização dos produtos audiovisuais na
web.
A principal diz respeito à diferenciação da noção de “uso” e “apropriação” destes
produtos. Para o autor, “o âmbito do ‘uso’ é entendido como focado na colocação de
produções por parte dos ‘proprietários’ corporativos7, enquanto que a noção de
“apropriação” remete a “um agir individual ou coletivamente por sujeitos ou grupos
sem vínculo autoral de origem, por assim dizer, com a produção” disponibilizando este
material em fóruns, websites temáticos e páginas pessoais. Destaca-se, em sua
argumentação, um princípio norteador da disseminação dos conteúdos online: a
desintermediação.
Quando se remete à noção de “uso”, Fischer (2006) sinaliza para a disponibilização
do conteúdo através da intermediação da instância produtiva; na sua idéia de
“apropriação”, o autor deixa transparecer a noção de desintermediação. Podemos, então,
partir para a compreensão da disponibilidade de conteúdos da televisão musical com
base nesses aportes.
Seriam conteúdos da televisão musical: programas, trechos de programas,
videoclipes, fragmentos de números musicais, apresentações ao vivo, entregas de
premiação musical, entre outros. A partir de quem disponibiliza este tipo de conteúdo
teríamos dois eixos sobre o qual poderíamos categorizar as práticas da remediação da
televisão musical nas plataformas online de compartilhamento de conteúdo.
7 “O autor usa como exemplo, o Globo Media Center, pertencente à Rede Globo e que disponibiliza
trechos ou programas da própria Rede Globo, através de sua plataforma online.” (FISCHER, 2006: p.
2)
No primeiro, estariam as plataformas que fazem “uso” do conteúdo da televisão
musical, ou seja, os próprios sites das emissoras de TV que disponibilizariam seus
conteúdos, além da criação de novas plataformas, em banda larga, que ampliariam a
oferta de produtos disponíveis. São exemplos deste primeiro eixo de atrativos os sites
MTV, VH1, Multishow, MTV Overdrive.
No segundo eixo, aparecem as plataformas que se “apropriam” de conteúdos da
televisão musical e disponibilizam através de sujeitos ou grupos desintermediados das
instâncias produtivas formatando uma noção colaborativa, como se apresenta em sites
como o YouTube, Overmundo, MySpace, entre outros.
A compreensão da idéia de “uso” ou de “apropriação” dos conteúdos da televisão
musical pelas plataformas online de compartilhamento de vídeos pode sinalizar aspectos
ligados à noção de intermediação das instâncias ligadas à indústria fonográfica no
processo de circulação dos produtos musicais. Ao mesmo tempo, o efeito de
“intermediar” ou “desintermediar” pode ser uma eficiente estratégia discursiva das
instâncias produtivas com o intuito de gerar a noção de uma atitude colaborativa do
espectador em relação ao meio.
3. Considerações finais
O duplo endereçamento - televisivo e musical - do videoclipe está circunscrito numa
lógica midiática. Portanto, é possível delimitar produções de sentido que demarquem
aspectos ideológicos dos textos, bem como seu alcance comercial (de público-alvo).
Pensar o videoclipe a partir da noção dos estudos de gênero significa enxergar as
dinâmicas de condições de produção e reconhecimento, os indicativos de possibilidades
de produção de sentido e de interação entre os modos de produção, circulação e
consumo. A abordagem dos gêneros ajuda a dar conta dos rótulos e das manifestações
particulares, bem como do processo de produção de sentido na cultura midiática.
Pressupõe-se compreender as manifestações materiais dos videoclipes ancoradas
em seus aspectos expressivos e, consequentemente, na materialidade dos suportes em
que circulam. As condições de produção e de reconhecimento, as estratégias de leitura e
o campo social que abarca a produção do videoclipe também devem ser incluídos numa
leitura midiática deste audiovisual.
Compreender o videoclipe a partir da chave analítica dos gêneros pressupõe
visualizar um entrelugar nas estratégias de produção e no sistema de recepção que está
inscrito nos próprios produtos.
Referências
STRAW, W. Popular Music and Post Modernism in the 1980s. In: FRITH, Simon;
GOODWIN, A. et GROSSBERG, L. Sound & V ision: T he M usic V ideo Reader.
New York: Routledge, 1993. p. 3-24.