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Eficiência energética

e uso racional
da energia na edificação
Ana Lígia Papst
Enedir Ghisi
Fabrício Colle
Samuel Luna de Abreu
Solange Goulart
Thomaz Borges

Eficiência energética
e uso racional
da energia na edificação

Organização e edição:
Alexandre de A. Montenegro
Ana Lígia Papst

Florianópolis
2005
SUMÁRIO

PREFÁCIO___7

1. INTRODUÇÃO À ENERGIA SOLAR___8


1.1. Introdução___8
1.2. O Sol___8
1.3. Relações astronômicas Sol-Terra___8
1.4. Determinação da radiação solar___11
1.5. Referências bibliográficas e leitura recomendada___22

2. CLIMA, HOMEM E ARQUITETURA___23


2.1. Introdução___23
2.2. Macro, meso e micro-clima___24
2.3. Conforto térmico___28
2.4. Bioclimatologia aplicada à arquitetura___34
2.5. Referências bibliográficas e leitura recomendada___41

3. EDIFICAÇÕES EFICIENTES___42
3.1. Introdução___42
3.2. Uso da vegetação como sombreamento___43
3.3. Uso da cor___43
3.4. Ventilação___43
3.5. Tipo de vidro___44
3.6. Redução da transmitância térmica das paredes, janelas e coberturas___44
3.7. Uso racional da iluminação___45
3.8. Aquecimento de água___46
3.9. Utilização correta dos sistemas propostos___46
3.10. Uso de proteções solares___46
3.11. Referências bibliográficas e leitura recomendada___51

4. CÁLCULO DE PROPRIEDADES TÉRMICAS E DESEMPENHO TÉRMICO DE ELEMENTOS E


COMPONENTES DE EDIFICAÇÕES___52
4.1. Introdução___52
4.2. Transmitância térmica___52
4.3. Capacidade térmica de componentes___56
4.4. Atraso térmico de um componente___58
4.5. Fator de calor solar___59
4.6. Exemplos resolvidos___60
4.7. Desempenho térmico de paredes___65
4.8. Desempenho térmico de coberturas___68
4.9. Desempenho térmico de janelas___68
4.10. Vidros especiais___70
4.11. Radiação solar___73
4.12. Exemplos resolvidos___73
4.13. Diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social___76
4.14. Referências bibliográficas e leitura recomendada___78
5. ILUMINAÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL___79
5.1. Introdução___79
5.2. Características físicas da luz___79
5.3. Aspectos subjetivos da percepção visual___80
5.4. Influência da arquitetura no desempenho luminoso de ambientes___82
5.5. Função das aberturas___84
5.6. Integração iluminação natural e artificial___86
5.7. O projeto de normas de iluminação natural___89
5.8. Normas de iluminação artificial___90
5.9. Especificações para equipamentos de iluminação___94
5.10. Análise de investimentos___104
5.11. Referências bibliográficas e leitura recomendada___108

6. AQUECIMENTO SOLAR INTEGRADO AO PROJETO___112


6.1. Introdução___112
6.2. Equipamentos___115
6.3. Funcionamento do sistema___126
6.4. Detalhes de montagem___131
6.5. Dimensionamento___137
6.6. Aspectos econômicos do aquecimento solar___144
6.7. Exemplos de aplicações___145
6.8. Qualidade e normas___166
6.9. Referências bibliográficas e leitura recomendada___170
PREFÁCIO

O presente texto é a coletânea de material didático utilizado no curso intitulado “Eficiência Energética
e uso Racional da Energia na Edificação”, ministrado a pessoal técnico de nível superior da Caixa Econômica
Federal e também a profissionais liberais da construção civil, no contexto do projeto intitulado “Capacitação
e Organização Profissional para Educação Técnica para o uso da Energia Solar em Edificações
Energeticamente Eficientes”. O evento é meta do projeto, no contexto de um convênio celebrado entre a
CAIXA e a FAPEU – Fundação de Amparo a Pesquisa e Extensão Universitária da UFSC – Universidade
Federal de Santa Catarina.
O conteúdo do curso foi metodologicamente organizado com o objetivo de oferecer a profissionais da
CAIXA e do setor privado da construção civil conhecimento atualizado sobre a eficiência energética na
edificação, abordando os aspectos ativos e passivos da energia, com enfoque especial no aproveitamento da
energia solar e na minimização do consumo de energia elétrica para aquecimento e iluminação. É oportuno
mencionar que o referido projeto tem como meta também o desenvolvimento de uma concepção inovadora
de arquitetura energeticamente eficiente para um modelo de casa popular de baixo custo e também um
modelo de creche que, pretende-se, venham a servir de referência para projetos de reestruturação de
conglomerados de habitações subnormais. O texto contempla substancial espaço a tópicos ensinados no
curso de arquitetura da UFSC e em menor grau a tópicos ensinados no curso de energia solar oferecido na
graduação e pós-graduação de Engenharia Mecânica da mesma universidade. O objetivo do texto não é
subsidiar a formação de profissionais na área de energia na edificação mas sim, subsidiar cursos a serem
oferecidos futuramente, cujo objetivo é a atualização profissional e, a médio prazo, incrementar o
engajamento de profissionais graduados da construção civil, com o projeto e a construção de edificações de
baixo custo energeticamente eficientes.
O coordenador, em nome da equipe do projeto, agradece a confiança depositada pela CAIXA e o
apoio necessário para implementar no LABSOLAR/NCTS – Laboratório de Energia Solar e Núcleo de
Controle Térmico de Satélites, da UFSC, um grupo de trabalho com o objetivo de organizar atividades na
direção de realizar a desafiadora tarefa de desenvolver no país modelos inovadores de edificações de
residências populares de baixo custo.

Prof. Sergio Colle


Coordenador do LABSOLAR/NCTS
Coordenador do projeto

7
1. INTRODUÇÃO À ENERGIA SOLAR
Samuel Luna Abreu

1.1 INTRODUÇÃO
A energia solar tem importância fundamental no nosso dia a dia. É ela a maior responsável pela
existência de vida na Terra bem como da sua manutenção. No caso particular dos assuntos abordados no
presente curso, a energia solar é um dos principais fatores de modulação do comportamento térmico de
edificações e também um recurso energético abundante para substituição de formas tradicionais de geração
de calor.
O escopo do presente capítulo será o fornecimento de conhecimentos básicos sobre a energia solar
que subsidiaram uma melhor absorção dos conteúdos a serem apresentados posteriormente.
Ao final do capítulo, o estudante deverá dominar os seguintes aspectos: trajetória do sol na esfera
celeste bem como sua posição em relação a superfícies na Terra, conhecer os métodos de medição e
estimativa da energia solar, adquirir noções sobre a intensidade da energia solar disponível e sua distribuição
geográfica e sazonal.

1.2 O SOL
O Sol e uma das mais de 100 bilhões de estrelas de nossa galáxia, que possui as seguintes características
básicas:
§ diâmetro: 1.390.000 km;
§ massa: 1,989 x 1030 kg;
§ distância média Sol – Terra: 1,496 x 108 km (equivale a 1 UA – Unidade Astronômica);
§ temperatura: 5.800 K (superfície), 15.600.000 K (núcleo).
O Sol é o maior objeto no sistema solar, contendo mais que 99.8% de sua massa total. A composição
química é basicamente a seguinte: 75% hidrogênio e 25% hélio. Ele funciona como um gigantesco reator
nuclear com uma potência de 3,86 x 1026 W (Itaipu tem uma potência de 12.600 MW).
A taxa de energia emitida pelo Sol recebida pela Terra, conhecida como constante solar ( I SC ), é igual a
1.367 W/m2 no dia do ano cuja distância Sol-Terra equivale à média anual (1 UA). Essa energia é emitida
espectralmente, assemelhando-se à radiação de um corpo negro na temperatura de 5.777 K.

1.3 RELAÇÕES ASTRONÔMICAS SOL-TERRA


Para determinar a posição do Sol em relação à Terra para um momento qualquer é necessário saber
relacionar trigonometricamente a órbita da Terra ao redor do Sol, o movimento de rotação da Terra e, a
inclinação entre o equador terrestre e o plano que contém a órbita Sol-Terra.
A Figura 1.1 mostra a trajetória da Terra ao redor do Sol. Pode-se observar que ela forma uma elipse
tendo o Sol posicionado em um dos focos. Como a distância Sol-Terra varia ao longo do ano é de interesse
prático determinar um fator de correção da excentricidade da órbita terrestre, dado pelo quadrado da relação
entre a distância Sol-Terra no dia do ano em questão ( r ) e sua média ao longo do ano ( r0 ). O valor de r0
corresponde a 1 UA. O fator de excentricidade da órbita terrestre é dado por:
E 0 = (r / r0 ) 2 = 1 + 0,033 cos[2π ⋅ n / 365]
Onde n é o dia do ano.

8
4/4 equinócio vernal 20/3

solstício de verão 21/6


1UA

1,017 UA 0,983 UA
afélio - 4/7 perihélio - 3/1

1UA solstício de inverno 21/12

equinócio outonal 20/3 5/10

Figura 1.1. Movimento da Terra ao redor do Sol.

Na Figura 1.1 estão representados alguns pontos característicos da órbita terrestre que possuem as
seguintes definições:
§ solstícios – pontos em que o Sol atinge a sua declinação máxima;
§ equinócios – pontos em que a declinação é igual a zero;
§ afélio – maior distância Sol-Terra;
§ periélio – menor distância Sol-Terra.
Por convenção os nomes das estações dos solstícios e equinócios correspondem ao hemisfério norte.
A Figura 1.2 mostra a esfera celeste que representa a trajetória aparente do Sol em relação a um
observador na Terra. A posição do observador sobre a esfera terrestre é dada pela sua latitude e longitude.
Latitude é a distância em graus do observador até o equador (norte positivo) e longitude é a distância em
graus do meridiano do observador até o meridiano de Greenwich (oeste positivo). O ângulo formado entre
uma linha ligando o centro do Sol e o da Terra em relação ao plano equatorial é chamado de declinação. Ele
varia continuamente ao longo do ano e possui um valor igual a zero nos equinócios de outono e primavera e
igual a aproximadamente ± 23,5° nos solstícios de verão e inverno. A declinação é dada pela equação a seguir
e convencionou-se atribuir valores positivos para o hemisfério norte. A declinação terrestre pode ser
calculada como segue:
284 + n
δ = 23,45sen[360 ]
365

polo norte da efera celeste

trajetória aparente do Sol

23,5° - solstício
de inverno N
Terra
δ
S
23,5° - solstício
de verão
Sol

90°
polo sul da efera celeste

Figura 1.2. Esfera celeste descrevendo o movimento aparente do Sol.

9
O horário solar representa a hora exata representada pela posição do sol e varia continuamente de um
local para outro, porém para facilitar o dia a dia das pessoas convencionou-se atribuir o mesmo horário para
determinadas regiões. Esse horário muda aproximadamente uma hora a cada 15 graus, porém devido à
divisão política e características geográficas, cada país tem seus próprios horários-padrão conhecidos como
fusos horários. No caso do Brasil, são 4 fusos horários variando de –2 à –5 horas em relação ao horário GMT
(Greenwich Meridian Time). O horário oficial de Brasília (e da maior parte da população do Brasil) é –3
horas. Para calcular o horário solar em relação ao horário oficial utiliza-se a seguinte expressão:
horário _ solar = horário _ oficial + 4( LS − LL ) + ET
Onde o segundo termo representa a correção da longitude. No caso de Brasília, por exemplo, a
longitude padrão ( LS ) é 45°O ( 3horas x 15°) e a longitude local ( LL ) é 47°56’O, logo existe uma diferença
de –11,73 minutos causada pela diferença da longitude. O terceiro termo representa a equação do tempo e é
um desvio causado pela variação do tamanho dos dias ao longo do ano, dado pela seguinte expressão:
ET = (0,000075 + 0,001868 cos Γ − 0,032077 senΓ −
0,014615 cos 2Γ − 0,04089sen 2Γ)(229,18)
Onde Γ é o ângulo do dia dado por:
Γ = 2π (n − 1) / 365

A Figura 1.3 mostra os ângulos de posicionamento do Sol em relação a uma superfície orientada
arbitrariamente em um ponto qualquer da Terra. A definição de cada um dos ângulos é a que segue:
§ β - inclinação da superfície em relação a horizontal (0≤ β ≤180);
§ γ - azimute da superfície – desvio da projeção horizontal da normal da superfície em relação ao
sul, leste negativo e oeste positivo (-180≤ γ ≤180);
§ ω - ângulo horário – deslocamento do sol ao longo do dia (15°/hora), meio dia igual a zero,
positivo durante a manhã e negativo durante a tarde;
§ θ - ângulo de incidência – ângulo entre a trajetória de incidência direta da radiação solar e a
normal a superfície;
§ θ Z - ângulo zenital - ângulo entre a trajetória de incidência direta da radiação solar e uma linha
vertical;
§ α S - altitude solar - ângulo entre a trajetória de incidência direta da radiação solar e a horizontal
( α S = 90 − θ Z );
§ γ S - azimute solar – desvio da projeção do sol na horizontal em relação ao sul, leste negativo e
oeste positivo (-180≤ γ ≤180).

As expressões matemáticas para cálculo dos ângulos supracitados podem ser obtidas em Iqbal (1983) e
Duffie e Beckman (1991).

10
Sol zênite
normal ao plano
inclinado

θ Norte
θZ
superfície Oeste
horizontal αS

γS Leste
γ

projeção do sol Sul


na horizontal

Figura 1.3. Posição do Sol relativa a uma superfície arbitrariamente orientada.

1.4 DETERMINAÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR


Só é possível dimensionar e simular o funcionamento de sistemas que fazem uso da energia solar se o
recurso solar disponível for conhecido. Dependendo do tipo de utilização e da confiabilidade desejada para os
resultados, os dados de radiação solar podem ser necessários em diferentes intervalos de tempo e estimados
com diferentes incertezas. Os intervalos de tempo mais utilizados são totais horários, totais diários e médias
mensais. Nesse capítulo serão discutidas as diferentes formas de obter os dados de radiação solar.

1.4.1 Radiação Solar Extraterrestre Horizontal

A radiação solar extraterrestre é aquela que chega a uma superfície horizontal situada no topo da
atmosfera e é dada por:
I 0 = I SC E 0 cos θ Z

1.4.2 Componentes da Radiação Solar

Ao atravessar a atmosfera, a radiação solar interage com ela sofrendo os fenômenos físicos comuns à
propagação de ondas eletromagnéticas em meios semitransparentes (espalhamento, reflexão, transmissão,
absorção). Dessa forma a radiação incidente na superfície é atenuada de acordo com as condições
meteorológicas como presença de nuvens, aerossóis, umidade.
A radiação solar global em uma superfície horizontal divide-se em duas parcelas: a componente direta,
que é aquela que vem diretamente do sol e, a componente difusa, que é a radiação espalhada na atmosfera
devido a passagem dos raios solares e emitida por todo o hemisfério visível. Em dias de céu claro possuímos
uma grande intensidade de radiação direta e pequena intensidade de difusa. Em dias encobertos acontece o
contrário, a maior parcela da radiação global é proveniente da radiação difusa. A radiação global pode
também ser determinada a partir das componentes direta e difusa:
I = I dif + I dir ,n cos θ Z

Onde I dif é a radiação solar difusa e I dir ,n é a radiação solar direta normal a direção de incidência.

11
1.4.3 Radiação Solar em Superfícies inclinadas

Nas aplicações tradicionais da energia solar geralmente é necessário conhecer a sua intensidade em
superfícies inclinadas. Para estimá-la nessas condições é necessário transportar para o plano de incidência os
valores da radiação direta e difusa conhecidos na superfície horizontal e adicionar a eles a radiação refletida
pelas superfícies vizinhas.
Existem diferentes modelos para estimar a radiação solar em superfícies inclinadas a partir da
horizontal. No presente trabalho as diferentes metodologias para obtenção desses modelos não serão
detalhadas.
Um modelo amplamente utilizado que apresenta bons resultados é o proposto por Reindl et al. (1990).
A radiação solar total na superfície inclinada de um ângulo β em relação à horizontal é calculada da seguinte
forma:

I i = I dir ,i + I ref ,i + I dif ,i

Onde:

§ Radiação direta na superfície inclinada:


I dir ,i = I dir ,n cos θ

§ Radiação refletida na superfície inclinada:


I ⋅ ρ ⋅ (1 − cos β )
I ref ,i =
2
Onde ρ é o albedo (refletividade) das superfícies vizinhas.

§ Radiação difusa na superfície inclinada:


  1 + cos β  
I dif ,i = I dif (1 − Ai )  ⋅ (1 + f d sen ( β 2)) + Ai rb 
3

  2  
Onde Ai é o índice de anisotropia dado por I b I 0 , f d é o fator de correção da radiação difusa vinda
do horizonte, que ocorre em dias de céu claro, igual a I b I e, rb é a relação entre a radiação extraterrestre
horizontal e a radiação extraterrestre na superfície inclinada, ou seja, rb = cos θ cos θ z .

A Figura 1.4 mostra os valores médios mensais da radiação solar global diária em uma superfície
horizontal e em superfícies com uma inclinação igual à latitude do local. Observa-se que as superfícies
inclinadas têm uma radiação maior que a da superfície horizontal na maioria dos meses, resultando em uma
maior quantidade anual de energia disponível. Comparando as situações com azimute igual a 0° (voltado para
Norte) e azimute igual a 45°, verifica-se houve uma diminuição na radiação disponível a medida que o
coletor deixa de estar alinhado para o Norte. Essa redução é mais significativa nos meses de inverno do que
durante os meses de verão.

12
6500
horizontal
6000 inclinação = 28° / azimute = 0°
inclinação = 28° / azimute = 45°
5500

Irradiação Solar [Wh/m2]


5000

4500

4000

3500

3000

2500
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Mês
Figura 1.4. Média mensal da radiação solar diária horizontal e em superfícies inclinadas (Florianópolis – SC).

A Figura 1.5 mostra os valores médios mensais da radiação solar global diária em uma superfície
horizontal e em superfícies verticais (inclinação igual a 90°). As superfícies verticais seriam como as paredes
de uma casa, enquanto que a horizontal estaria mais ligada à incidência de radiação na cobertura. Pode-se
verificar que o ganho de radiação em uma parede voltada para o Norte é maior no inverno do que no verão,
paredes voltadas para Leste e Oeste têm ganhos de radiação grandes principalmente durante o verão, e
paredes voltadas para o Sul têm ganhos pequenos durante o ano inteiro, sendo que durante o inverno apenas
as irradiações solares difusa e refletida atingem essa parede.

7000
horizontal
6000 vertical - N
vertical - S
vertical - L e O
Irradiação Solar [Wh/m2]

5000

4000

3000

2000

1000

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Mês
Figura 1.5. Média mensal da radiação solar diária horizontal e em superfícies verticais (Florianópolis – SC).

1.4.4 Medição da Radiação Solar

A maioria das estações meteorológicas não possui sensores adequados para a medição da radiação
solar. O equipamento mais comumente encontrado nas estações meteorológicas é o Heliógrafo de Campbell-
Stokes (Figura 1.6) que registra o número de horas de insolação ao longo do dia. Estimativas do total diário
da radiação solar podem ser feitas a partir do número de horas de insolação utilizando o método de
Angstrom, porém os resultados obtidos possuem altas incertezas. Esse equipamento não é adequado para a
obtenção de valores horários da radiação solar.

13
Figura 1.6. Heliógrafo de Campbell-Stokes.

Os sensores mais adequados utilizados para a medição da radiação solar na superfície são chamados
piranômetros. Existem diversos tipos de piranômetros, sendo que os mais precisos são aqueles cujo sensor é
composto por termopilhas e uma superfície seletiva de alta absortividade. A Figura 1.7 mostra uma foto de
um piranômetro Kipp et Zonen CM22, utilizado em estações solarimétricas de referência.

Figura 1.7. Piranômetro Kipp & Zonen CM22 (fonte - www.kippzonen.com)

Para a medição da radiação solar difusa, utiliza-se também piranômetros, porém a incidência direta da
radiação solar sobre o sensor é bloqueada por um dispositivo de sombreamento. Em estações solarimétricas
de referência esse sombreamento é feito utilizando dispositivos de rastreamento automático do sol (Figura
1.8). Devido ao alto custo desse tipo de equipamento, estações menos completas utilizam anéis móveis de
sombreamento (Figura 1.9), cujos valores medidos devem ser posteriormente corrigidos para diminuir as
imprecisões decorrentes do sombreamento adicional do anel.

14
Figura 1.8. Dispostivo de rastreamento do solar Kipp et Zonen (fonte - www.kippzonen.com)

Figura 1.9. Anel de sombreamento Kipp et Zonen (fonte - www.kippzonen.com)

A radiação solar direta é medida utilizando sensores chamados pirheliômetros. Eles são semelhantes
aos piranômetros, mas possuem um tubo em frente ao elemento sensor que permite apenas a passagem da
radiação solar direta. Um pirheliômetro é mostrado na Figura 1.10.

Figura 1.10. Pirheliômetro Eppley NIP

Outros sensores importantes para a medição de radiação são pirgeômetros (radiação de onda longa),
PAR (radiação fotossinteticamente ativa), luxímetros (iluminância), luminancímetros (luminâncias).

15
Os sensores de radiação são instalados em locais chamados estações solarimétricas, que nada mais são
do que estações meteorológicas que além dos sensores para medir as variáveis meteorológicas tradicionais
possuem também sensores de radiação solar. No Brasil existem diversas estações controladas por diferentes
instituições. O INMET – Instituto Nacional de Meteorologia possui uma rede bastante grande de estações,
porém a grande maioria delas possui apenas séries históricas de dados medidos com Heliógrafos de
Campbell-Stokes. O INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Especiais também possui uma série de estações
e recentemente através do projeto SONDA – Sistema de Organização Nacional de Dados Ambientais está
instalando uma série de estações de referência espalhadas pelo Brasil. O LABSOLAR opera no Brasil duas
estações pertencentes a BSRN – Baseline Surface Radiation Network que é uma rede de estações
solarimétricas de superfície gerenciada pela OMM – Organização Meteorológica Mundial. A Figura 1.11
mostra a localização de algumas das estações atualmente em operação no Brasil.

Figura 1.11. Rede brasileira de estações solarimétricas.

Na Figura 1.12 é mostrada uma vista da estação solarimétrica de Florianópolis – SC, onde pode-se ver
em primeiro plano o rastreador solar onde fica montado o sensor para medição da radiação solar direta e em
segundo plano um anel de sombreamento e um disco de sombreamento para medição da radiação solar
difusa.

16
Figura 1.12. Plataforma de instrumentos da Estação Solarimétrica de Florianópolis.

1.4.5 Dados Medidos de Radiação Solar

Os dados medidos de radiação solar são utilizados basicamente para:


§ caracterizar o clima e variações climáticas em termos da intensidade de energia solar incidente;
§ monitorar o funcionamento de processos dependentes da energia solar;
§ fornecer dados confiáveis para validação de modelos de estimativa da radiação solar incidente;
§ mapear o recurso energético solar disponível e;
§ construir arquivos de entrada para simulação do desempenho de sistemas, como os anos
meteorológicos típicos - TMY.

A Figura 1.13 e a Figura 1.14 mostram a variação das irradiações solares global, direta normal e difusa
para um dia de céu claro e outro de céu parcialmente encoberto. Os dados foram medidos na Estação BSRN
de Florianópolis durante o ano de 1999.

1200
Global 03/01/1999
Direta
1000
Difusa
Radiação (W/m2)

800

600

400

200

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tempo (hora)
Figura 1.13. Radiação solar ao longo do dia com céu claro (Florianópolis – SC).

17
1200
Global Dia 27/06/1999
Direta
1000
Difusa

800

Radiação (W/m2)
600

400

200

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tempo (hora)
Figura 1.14. Radiação solar ao longo do dia com céu parcialmente encoberto (Florianópolis – SC).

Observando o dia de céu claro pode-se ver que a radiação solar cresce até atingir um valor máximo no
horário do meio dia solar e depois diminui até o por do sol. Essa variação ao longo do dia acontece devido à
variação da inclinação do sol em relação à superfície (ângulo zenital) e à espessura atmosférica atravessada
pela radiação até atingir a superfície terrestre.
No dia de céu parcialmente encoberto pode-se observar que nos momentos em que nuvens encobrem
o sol, a radiação global e direta caem, enquanto que a radiação difusa aumenta devido ao espalhamento
causado pela presença de nuvens.
A Figura 1.15 mostra os valores das médias mensais de radiação solar medidas no período de 1990 a
1999 na Estação BSRN de Florianópolis (Abreu et al., 2000). Essa mesma base de dados foi utilizada para
confecção do Ano Meteorológico Típico de Florianópolis utilizado para simulação. É possível observar
claramente a alta variabilidade da intensidade da radiação solar ao longo do ano para Florianópolis. A média
mensal da radiação solar nos meses de maior incidência é mais do que o dobro dos meses de menor
incidência.

7000
Irradiação Solar Global Diária (Wh/m2)

6000

5000

4000

3000

2000

1000

0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Mês
Figura 1.15. Médias mensais de radiação solar global no período de 1990 a 1999 (Florianópolis – SC).

18
1.4.6 Estimativa da radiação solar na superfície

Os resultados mais precisos da radiação solar, são aqueles obtidos diretamente de valores medidos em
estações solarimétricas e, no caso de eles estarem disponíveis, essa é a primeira opção a ser utilizada. Por
outro lado a intensidade de radiação solar varia de local para local e seria inviável medir a radiação solar
disponível sempre que fosse necessária para algum projeto.
As duas maneiras mais comuns de estimar a radiação solar na superfície para um local qualquer são
através da interpolação de dados medidos na superfície e utilizando modelos que calculam a radiação solar a
partir de imagens de satélite.
Os modelos que utilizam imagens de satélite são mais precisos que os resultados interpolados a medida
que aumenta a distância entre as estações de superfície utilizadas para interpolação. Para obter a mesma
precisão obtida pelos modelos de satélite seria necessário um número de estações de superfície que
inviabilizaria economicamente esse tipo de mapeamento, portanto a tendência mundial atual é realizar o
mapeamento do recurso solar utilizando imagens de satélite.
No Brasil está sendo realizado um trabalho detalhado de mapeamento do recurso solar em parceria
entre o LABSOLAR/UFSC, INPE e diversas instituições internacionais. Esse trabalho tem apoio das Nações
Unidas através de seu programa de meio ambiente através do projeto SWERA – Solar and Wind Energy
Resource Assessment (Levantamento dos Recursos Solar e Eólico) que está sendo desenvolvido
simultaneamente em diversos países. Os produtos desse projeto serão disponibilizados gratuitamente via
internet e em breve será possível obter os dados de radiação solar para qualquer ponto do país de maneira
rápida e simples (Pereira et al., 2003).
A Figura 1.16 mostra um mapa de radiação solar global diária média anual para o Brasil, derivada a
partir de imagens de satélite (Colle e Pereira, 1998). Pode-se observar que a região de menor intensidade
média de radiação solar é o Sul do Brasil. Porém é importante ressaltar que mesmo os pontos de menor
incidência de radiação solar no Brasil possuem valores maiores dos que o de países europeus, como a
Alemanha, onde a utilização da energia solar é muito mais desenvolvida.

Figura 1.16. Média anual da radiação solar global diária.

19
A Figura 1.17 mostra a variabilidade da radiação solar em relação à média anual. Os locais com maior
variabilidade são aqueles em que as estações do ano são mais bem definidas. Essa variabilidade da radiação
solar ao longo do ano tem uma série de implicações nos projetos, pois o risco de uma instalação estar super-
ou sub-dimensionada é bem maior.

Figura 1.17. Variabilidade anual da radiação solar global diária.

A Figura 1.18 e a Figura 1.19 mostram as médias mensais da radiação solar nos meses de Janeiro e
Julho. É interessante observar que apesar do Sul do país possuir a menor média anual de radiação solar, nos
meses de verão é a região onde o recurso é disponível em maior quantidade. Esse tipo de constatação pode
ser fundamental em situações onde a sazonalidade de uso é concorrente com a disponibilidade do recurso
solar. Por exemplo a utilização da energia solar para sistemas de ar-condicionado ou demandas acrescidas
pelo turismo durante o verão.

20
Figura 1.18. Média mensal de Janeiro da radiação solar global diária.

Figura 1.19. Média mensal de Julho da radiação solar global diária.

21
1.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LEITURA RECOMENDADA
ABREU, S. L., COLLE, S., ALMEIDA, A. P., MANTELLI, S. L., Qualificação e Recuperação de Dados
de Radiação Solar Medidos em Florianópolis – SC, In: ENCIT 2000 – 8th Brazilian Congress of
Thermal Engineering and Sciences, Porto alegre, Brazil, Proceedings..., 2000.
COLLE, S. e PEREIRA, E. B. Atlas de Radiação Solar do Brasil, Laboratório de Energia Solar –
LABSOLAR/EMC/UFSC, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE e Instituto Nacional
de Meteorologia – INMET, Brasília – DF, Outubro de 1998.
DUFFIE, J. A. e BECKMAN, W. A., Solar Engineering of Thermal Processes, John Willey & Sons, Inc.,
Nova Iorque, EUA, 2a edição, 1991.
IQBAL, M.; An Introduction to Solar Radiation, Academic Press, Nova Iorque, EUA, 1983.
PEREIRA, E. B., MARTINS, F. R., COLLE, S., ABREU, S. L., HAMLIN, T., SWERA - Solar and Wind
Energy Resource Assessment - Regional Agency for Latin America, In: RIO 03 – World
Climate and Energy Event, Rio de Janeiro, Brazil, Proceedings..., 2003.
REINDL, D. T., BECKMAN, W. A. e DUFFIE, J. A., Diffuse fraction correlations, Solar Energy, v. 45,
pp. 1-7, 1990.

22
2. CLIMA, HOMEM E ARQUITETURA
Solange Goulart e Ana Lígia Papst

2.1 INTRODUÇÃO
Quase 50% da energia elétrica consumida no Brasil é utilizada por edificações residenciais, comerciais e
públicas. Em 1992 isto representou um consumo equivalente a um potencial de energia instalado semelhante
a duas hidrelétricas iguais a Itaipu (Lamberts et al, 2004).
Reduções no consumo de combustíveis naturais são urgentemente necessários, tanto em países
desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. No Brasil, a energia elétrica é principalmente gerada por
termelétricas e hidrelétricas (cerca de 90% do suprimento de energia elétrica do país provém de geração
hidráulica). É importante ressaltar que as reservas de combustíveis necessárias às usinas termelétricas vão
reduzindo com o tempo e que não é possível construir usinas hidrelétricas indefinidamente para suprir a
demanda crescente de energia no Brasil. É, portanto, evidente para o futuro mercado de energia elétrica a
necessidade e importância da conservação, uso de tecnologias energeticamente eficientes e utilização de
energias alternativas.
Este cenário pode ser auxiliado pelo estímulo de tecnologias energeticamente eficientes, tais como
aquelas propostas pela arquitetura bioclimática.
Tecnologias recentes têm trazido melhoras significantes na eficiência energética de outros setores tais
como transporte e indústria, mas no setor de edificações o progresso é relativamente lento.
Existem quatro guias básicos para o projeto de um edifício ambientalmente “amigável”. São eles:
§ Aumentar a qualidade dos espaços domésticos, de lazer, de trabalho e não oferecer risco de saúde
aos ocupantes.
§ Consumir o mínimo de energia e não causar desnecessário dano ao ambiente natural dentro do
ciclo de vida da estrutura.
§ Gerar o mínimo de desperdício a partir do edifício.
§ Usar fontes renováveis na construção do edifício e evitar materiais provenientes de ambientes
ameaçados.

A Arquitetura bioclimática faz uso da tecnologia que se baseia na correta aplicação dos elementos
arquitetônicos, tirando partido dos elementos favoráveis do clima, com o objetivo de fornecer ao ambiente
construído um alto grau de conforto higrotérmico , com baixo consumo de energia. A arquitetura
bioclimática tem o objetivo de fazer o edifício e seus espaços adjacentes funcionarem em harmonia com o
ambiente. Ao tirar vantagem das condições favoráveis e minimizar o efeito das condições não desejáveis,
consegue fornecer ambientes construídos mais saudáveis e naturais.
Segundo Olgyay e Olgyay (1973), o processo de construir uma edificação adaptada ao clima pode ser
dividida em quatro passos, dos quais o último é a expressão arquitetônica. O primeiro passo em direção ao
ajuste ambiental é o levantamento de elementos climáticos de uma dado local e a análise destes dados
meteorológicos. Sendo o homem a medida fundamental na arquitetura e o abrigo projetado para satisfazer
suas necessidades biológicas, o segundo passo é avaliar cada impacto do clima em termos psico-fisiológicos.
Como terceiro passo, uma solução tecnológica deve ser aplicada para cada problema conforto-clima. Estas
soluções podem ser obtidas por métodos de cálculo, onde se analisariam a orientação, necessidade ou não de
sombra, forma da edificação, movimento do ar, e ainda, o balanço de temperatura interna que pode ser
conseguido com o uso criterioso de materiais. No estágio final, estas soluções combinadas de acordo com sua
importância, resultariam em harmonia arquitetônica.
A arquitetura bioclimática não é um estilo arquitetônico, então ela pode ser adotada em qualquer
edificação. O uso de ferramentas bioclimáticas na edificação não são limitadores ao projetista, mas oferecem
uma maneira racional para a expressão arquitetônica que normalmente resulta em edificações de grande
qualidade arquitetônica e ambiental.

23
Antes de iniciar o projeto de uma edificação é importante conhecer o clima. Uma boa arquitetura
deverá assistir tanto ao programa de necessidades quanto à análise climática de forma a responder
simultaneamente à eficiência energética e às necessidades de conforto.
Este capítulo aborda primeiros os aspectos do clima e suas variáveis, depois traz considerações sobre o
conforto térmico do ser humano, e por último mostra como através de uma arquitetura adaptada ao clima
pode-se obter melhores condições de conforto.

2.2 MACRO, MESO E MICRO-CLIMA


A palavra clima deriva do termo grego “klima”, que significa a inclinação que a Terra faz em relação à
sua órbita ao redor do sol. A definição mais atual de clima é: “As condições predominantes de temperatura,
umidade, vento, radiação solar e luz de uma determinada região do planeta”. O tempo já é mais relacionado
com as condições climáticas num determinado momento, isto é, “tempo é a variação diária das condições
atmosféricas”. Portanto, clima pode ser descrito como “a condição média do tempo em uma dada região”.
O clima pode ser dividido em três diferentes escalas climáticas, conhecidas como: Macroclima,
Mesoclima e Microclima.
Macroclima é o clima geral de uma região cujos dados são fornecidos por estações meteorológicas e
inclui: radiação solar, nebulosidade, temperatura, vento, umidade e precipitação. Estas variáveis climáticas são
dependentes das influências geográficas mais significantes, tais como latitude, massas de água e de terra, e
padrões de ventos.
O Mesoclima de uma região é o macroclima influenciado por condições locais tais como topografia,
vegetação em grande escala, nebulosidade e turbulência da atmosfera (consiste de poeira e partículas
suspensas de água, etc, as quais parcialmente absorvem e parcialmente refletem a radiação solar). Ao nível
mesoclimático, somente intervenções humanas em grande escala tem um efeito, tais como cidades,
reflorestamento ou desmatamento, grandes barragens ou poluição atmosférica. A Figura 2.1 mostra exemplos
de Mesoclima.

Litoral Lagos Florestas

Vales Cidades Montanhas

Figura 2.1. Alguns tipos de Mesoclima.

Na escala local ou urbana, as intervenções humanas podem modificar o ambiente, ou o microclima


(Figura 2.2), próximo a edifícios criando condições as quais podem melhorar ou diminuir o conforto humano,
saúde, segurança e uso de energia. Tais intervenções incluem: a forma do edifício, paisagismo, vegetação,
construções próximas, o uso de água para refrigeração e a organização de espaços urbanos. Tudo isso pode
afetar bastante a radiação solar e sombras locais, temperaturas, proteção de ventos e precipitação ou sua
exploração para refrigeração.

24
Figura 2.2. Microclima

Com o conhecimento do macro e mesoclima da área, uma série de medidas ao nível urbano ou do
edifício podem ser tomadas:
§ Em climas quentes, a radiação solar excessiva pode ser controlada por sombreamento fornecido
por vegetação, edifícios adjacentes, características topográficas e orientação. O resfriamento pode
ser assistido por redirecionamento do fluxo de vento através do edifício e por pré-resfriar o ar
através do uso de sombreamento externo (edifícios vizinhos ou vegetação) ou pelo uso de
resfriamento evaporativo (fontes, espelhos d’água, etc).
§ Em climas frios, a proteção pode ser fornecida pela topografia, edifícios vizinhos ou vegetação.
Entretanto, o acesso aos ganhos solares deve ser mantido e a orientação do edifício ou da sala é
muito importante.
A variação sazonal e diária das condições climáticas requerem respostas flexíveis e adaptativas do
edifício para fornecer condições adequadas de conforto para os ocupantes ao mesmo tempo tendo mínimo
impacto ao ambiente.
O entendimento das características do clima está implícito no projeto bioclimático.

2.2.1 Fatores Climáticos e o Macroclima

§ Sol
A posição do sol no céu, e conseqüentemente a direção do raio solar, é descrita pelos ângulos de altura
solar e azimute solar (definidos no Capítulo 1). Os ângulos de altura solar e azimute variam de hora a hora e
de estação para estação.
O ângulo dos raios solares e a composição da camada atmosférica da terra as quais eles atravessam
determinam a quantidade de radiação solar que atinge a superfície da terra. Os raios solares são parcialmente
absorvidos e espalhados pela turbulência atmosférica (poeira, moléculas de ar, vapor d’água, ozônio, dióxido
de carbono e outros gases).
A soma da radiação direta e difusa sobre uma superfície horizontal constitui a energia solar global
disponível. A radiação solar é definida como a quantidade de energia radiante do sol incidindo sobre 1 m2 de
superfície à qualquer instante. Esta grandeza é usualmente medida em Watts por m2 e, como explicado no
Capítulo 1, a intensidade das duas parcelas, direta e difusa, variam conforme o tipo de céu. Os mapas de
radiação solar global diária média anual (Figura 1.16) e os mapas de média mensal da radiação solar global
diária (Figura 1.18 e Figura 1.19) exemplificam os valores da radiação solar para todas as localidades
brasileiras.

§ Temperatura
A temperatura do ar de um local depende de dois fatores: os fluxos de ar conduzidos por fatores
climáticos em grande escala e por fatores climáticos locais, tais como, aquecimento do solo pelos raios solares
e resfriamento noturno por radiação de onda longa. Fatores climáticos locais modificam a temperatura do ar à
uma maior ou menor extensão de acordo com a velocidade do ar em questão. O efeito de fatores locais na
temperatura diminui para altas velocidades do vento e com maior altitude.

25
§ Vento
O vento ou o movimento do ar na atmosfera terrestre são causados por diferenças de pressão entre
uma área e outra, as quais são geradas por fatores climáticos complexos. A atmosfera é um fluido e, como tal,
expande-se e contrai-se com as mudanças de temperatura. O ar mais quente se expande, tornando-se mais
leve e subindo na atmosfera, dando passagem ao ar mais frio, que deve ocupar a nova posição, gerando assim
o vento. Como no equador as temperaturas são sempre maiores que nos pólos, existem correntes de ar
comuns no sentido dos pólos para o equador, visto que é neste último que o ar mais quente se eleva, criando
uma zona de baixa pressão.
Obstáculos como montanhas ou assentamentos urbanos interferem no movimento do ar e podem
causar turbulência.

§ Umidade
A umidade do ar pode ser descrita de quatro maneiras: temperatura de bulbo úmido, umidade relativa,
pressão de vapor e temperatura de ponto de orvalho.
Quando o ar úmido é resfriado até seu ponto de orvalho, o vapor formará o orvalho, geada, neblina,
camada de gelo, ou ainda chuva, granizo ou neve.
A umidade relativa varia consideravelmente durante o dia. A quantidade de água que o ar pode
“segurar” aumenta com a temperatura. Portanto, a umidade relativa é frequentemente alta durante a
madrugada e decresce a medida que a temperatura aumenta.
Em regiões com altos índices de umidade relativa, a transmissão da radiação solar é reduzida, já que ela
é absorvida pelo vapor d’água e espalhado pelas nuvens. Por outro lado, em regiões onde o ar é muito seco,
os dias são mais quentes e as noites frias (desertos, por exemplo).

2.2.2 Fatores Climáticos e o Mesoclima

§ Radiação Solar
Dois fatores têm maior influência na radiação solar recebida num determinado local: a turbulência da
atmosfera (definida anteriormente) e a presença de obstruções geométricas.
As obstruções geométricas podem ser classificadas em três diferentes classes: aquelas relacionadas à
topografia da área, a vegetação presente no local ou nos arredores e edifícios vizinhos. Todos esses fatores,
num maior ou menor efeito, sombreiam o local do sol. O impacto preciso dessas obstruções na quantidade
de radiação solar recebida pode ser acessada geometricamente usando as cartas solares e máscaras de
sombras.

§ Temperatura
A temperatura do ar no local também é influenciada pela topografia e vegetação, além da natureza da
superfície do solo.
A topografia tem influência na temperatura do ar devido ao seu efeito na orientação e inclinação do
solo, na exposição ao vento, resfriamento noturno e fluxos de ar quente ou frio.
Superfícies inclinadas na direção do sol recebem maior incidência de radiação solar e aquecem mais
rapidamente. A temperatura também é influenciada pela quantidade de calor emitida por uma superfície, a
qual depende da sua refletância (quantidade de luz refletida por uma superfície em relação à quantidade total
de luz incidida nesta superfície), pela capacidade de armazenamento de calor e pela natureza dos fluxos de ar
local.
Num clima mais quente, as superfícies expostas ao vento irão experimentar menores elevações de
temperatura: o vento removerá rapidamente o calor da superfície por convecção, reduzindo o aquecimento.
Em áreas bem arborizadas, a vegetação intercepta 60% a 90% da radiação solar, causando uma redução
significativa no aumento diário da temperatura da superfície do solo. À noite, a folhagem obstrui a radiação

26
de onda longa e reduz a diminuição noturna da temperatura. Portanto, as variações diurnas de temperatura
são menores em florestas do que em campos abertos.
A temperatura do ar é influenciada pela natureza das superfícies as quais interceptam a radiação solar.
Cores escuras tendem a produzir temperaturas mais altas na superfície do que cores mais claras ou superfícies
cobertas com vegetação. Esta última também reduz a temperatura do ar nas vizinhanças devido à evaporação
da água transpirada pelas folhas. Lagos e fontes atuam como reguladores térmicos, devido a característica da
água em armazenar calor por mais tempo. Massas de água não aquecem muito quando sujeitas à radiação
durante o dia e nem esfriam muito rápido à noite.
O tipo de cobrimento das superfícies tem um efeito significante na temperatura do ar em cidades.
Pavimentação de ruas, deficiência de coberturas vegetais, além do calor gerado pelos carros, fábricas e
instalações de ar condicionado (ou aquecimento), todos esses fatores afetam o ambiente. Num grande centro
urbano, a temperatura pode variar de 5°C a 10°C acima da temperatura de um parque. Esse fenômeno é
conhecido como “ilha de calor”.

§ Vento
As diferenças de temperatura entre o campo e a cidade descrita acima pode ter efeito sobre o
movimento do ar num lugar específico. O vento também é influenciado pela topografia. Características
topográficas como morros, por exemplo, podem fornecer proteção em certos locais, mas ao mesmo tempo
podem aumentar a velocidade do ar. O ar em contato com superfícies aquecidas pela radiação solar tende a
subir, enquanto o ar em contato com superfícies mais frias tende a descer. Essas mudanças em densidade
geram os fluxos de ar, os quais são características dos terrenos envolvidos.
As temperaturas nos centros urbanos são geralmente mais altas que no campo, portanto a ilha de calor
faz com que os fluxos de ar sejam geralmente em direção ao centro da cidade.

§ Umidade
A topografia e a presença de vegetação podem ter efeito nos níveis de umidade. As características
topográficas podem forçar a água da chuva a fluir para regiões de depressões (rios, lagos, etc). Acima dessas
concentrações de água o ar torna-se mais frio devido à evaporação. A presença de vegetação (árvores,
folhagens, grama) também resfria o ar do entorno imediato devido a transpiração das folhas.

2.2.3 Fatores Climáticos e o Microclima

Toda intervenção realizada pelo homem pode modificar o ambiente próximo aos edifícios, criando um
microclima local.
A radiação solar recebida num determinado local depende da forma, tamanho e posição de edifícios
vizinhos, bem como da vegetação presente no local.
Da mesma maneira que no mesoclima, a umidade do ar de um local é afetada pela presença de água e
vegetação.
O fluxo de ar local também pode sofrer modificações devido à localização e geometria de edifícios
vizinhos e a presença de vegetação.
Quando o vento encontra um obstáculo, sua velocidade e direção são modificadas. Uma massa sólida,
tal como um edifício, força o vento a fazer uma curva em torno desse obstáculo ou passar sobre ele. No lado
do edifício exposto ao vento, cria-se uma zona de pressão positiva, enquanto no lado oposto, cria-se uma
zona de pressão negativa (Figura 2.3).
O fluxo do vento é mais turbulento e a direção mais mutável na cidade do que em espaços abertos.
Fortes ventos podem ser experimentados, por exemplo, na base de edifícios altos.
Os climas urbanos são particularmente complexos devido ao número e diversidade dos fatores que
têm influência sobre ele. Radiação solar, temperatura e as condições de vento variam de forma significativa de
acordo com a topografia e condições locais.
Para uma determinada situação, as decisões de projeto devem ser tomadas de acordo com as
características microclimáticas, das quais se obterão os maiores benefícios de conforto ao ser humano.

27
Figura 2.3. Influência da forma sobre o movimento do ar (Luciano Dutra©).

2.3 CONFORTO TÉRMICO


Segundo a ASHRAE, Conforto Térmico é: “Um estado de espírito que reflete a satisfação com o
ambiente térmico que envolve a pessoa”.
A sensação de conforto térmico depende de sete parâmetros. Três deles se relacionam ao indivíduo:
metabolismo, roupa e temperatura da pele; enquanto que os quatro parâmetros restantes estão relacionados
ao meio ambiente e podem, então, serem manipulados pelo projetista (temperatura do ar, umidade relativa,
temperatura radiante e velocidade do ar).
Se o balanço de todas as trocas de calor a que está submetido o corpo for nulo e a temperatura da pele
e suor estiverem dentro de certos limites, pode-se dizer que o homem está em Conforto Térmico.
O ser humano está constantemente trocando calor com o meio local através de quatro principais
mecanismos: condução, convecção, radiação e evaporação (Figura 2.4). Além disso, o corpo obtém energia
através do metabolismo associado com a queima de calorias dos alimentos e a maior parte dessa energia é
transformada em calor. Uma vez que o corpo deve manter a temperatura constante, esse calor deve ser
dissipado.

Figura 2.4. Trocas térmicas do ser humano com o ambiente (Luciano Dutra©).

28
2.3.1 Trocas Térmicas

Existem duas condições básicas para que haja trocas térmicas:


§ diferença de temperatura entre os corpos (relacionada ao calor sensível);
§ mudança de estado de agregação (calor latente – mudança de estado sem mudança de
temperatura).
As trocas térmicas podem ser de dois tipos: secas e úmidas. As trocas térmicas secas acontecem
quando há mudança de temperatura. São basicamente de três tipos: condução, convecção e radiação, e de
forma simplificada podem ser definidos como:
§ Condução é a troca de calor entre dois corpos que se tocam ou entre partes do mesmo corpo
que estejam a diferentes temperaturas;
§ Convecção é a troca de calor entre um corpo sólido e um fluído (líquido ou gás). Pode ser natural
ou forçada;
§ Radiação é a troca de calor entre dois corpos através da sua capacidade de emitir ou absorver
energia térmica.

As trocas térmicas úmidas são basicamente de dois tipos, evaporação e condensação, e sua definição é
dada abaixo:
§ Evaporação é a troca térmica proveniente da mudança do estado líquido para o estado gasoso.
§ Condensação é a troca térmica proveniente da mudança do estado gasoso para o estado líquido.

2.3.2 Mecanismos Termorreguladores

Se o ar ambiente e as temperaturas das superfícies do ambiente estiverem mais baixas que a


temperatura do corpo, a dissipação do calor se dará através da convecção, radiação, evaporação e condução.
Se, por outro lado, as temperaturas do ambiente estiverem mais altas que a do corpo, a dissipação de
calor ocorrerá somente através da evaporação, enquanto que o ganho de calor ocorrerá através da convecção,
radiação e condução.
A temperatura interna do corpo humano é 37°C. Um desvio de poucos graus dessa temperatura irá
prejudicar as funções normais do corpo, enquanto que uma alteração de vários graus pode causar danos à
saúde ou até mesmo levar a morte. Vários mecanismos involuntários, chamados termorreguladores, são
usados para manter essa temperatura. Mecanismos termorreguladores são mecanismos biológicos ativados no
corpo humano automaticamente quando em situações de frio e de calor.
Em condições de frio, o corpo ativa os mecanismos descritos abaixo para evitar perdas térmicas e
aumentar a produção interna de calor:
§ Vasoconstrição periférica: os vasos capilares mais próximos da pele se contraem de forma a diminuir a
temperatura superficial do corpo e, com isso, diminuir as trocas de calor por radiação e por convecção
com o meio. De forma complementar, os vasos se dilatam ao redor dos órgãos internos para mantê-los
aquecidos;
§ Arrepio: movimentos involuntários dos músculos para produção de calor por atrito e pequeno aumento do
metabolismo. A pele fica também mais rugosa para evitar perdas térmicas por convecção para o ar;
§ Aumento do metabolismo: se após o arrepio, o frio ainda for intenso, haverá o aumento do metabolismo
entre 30% e 100%, que pode se manifestar pelo tremor dos músculos. Assim o calor produzido
internamente será maior, compensando as perdas do organismo para o meio;
§ Mecanismos instintivos e culturais: os mecanismos instintivos podem ser exemplificados como o curvar do
corpo, diminuindo a área de exposição da pele, o esfregar das mãos, fazer alguma atividade física ou ingerir
alguma bebida quente. Os mecanismos culturais são o fazer uso das habilidades, como tecer roupas e
construir abrigos, para melhor se adaptar ao meio.

29
Condições severas de frio resultará em reduzido fluxo de sangue para os braços e pernas a fim de
conservar o calor para os órgãos vitais.
Em condições de calor, os mecanismos termorreguladores visam exatamente o contrário das
condições de frio, incrementar as perdas térmicas do corpo e reduzir a produção interna de calor:
§ Vasodilatação periférica: é o primeiro mecanismo termorregulador a ser disparado, aumenta a temperatura
da pele, incrementando perdas de calor por convecção e por radiação, é o contrário da vasoconstrição
periférica;
§ Suor: é o segundo mecanismo disparado e também o mais importante para a sensação de conforto
térmico. Os poros sempre estão produzindo o suor, que vai sendo evaporado no seu interior. Esta
evaporação incrementa as perdas de calor do corpo. Quando a temperatura da pele aumenta muito ou
quando o ar está muito úmido, o suor não pode ser totalmente evaporado, ficando na superfície da pele;
§ Redução do metabolismo: também pode haver a redução automática do metabolismo a fim de diminuir a
produção interna de calor no organismo;
§ Mecanismos instintivos e culturais: os mecanismos instintivos relacionados ao calor são, por exemplo, a
procura de sombra, de água, e de ventilação natural. Os mecanismos culturais incluem abanar-se com as
mãos (ou abanadores) para ventilar o corpo, e o uso de tecnologia, como ventiladores e ar condicionado.

Em climas muito quentes, a sensação de desânimo e falta de energia, é o modo como nosso corpo
avisa-nos a não nos comprometermos em atividades que exijam energia, a fim de evitar excessiva produção
de calor.

2.3.3 Variáveis de Conforto Térmico

Do meio pode-se extrair os valores de Temperatura do Ar, Umidade Relativa, Velocidade do Ar e


Temperatura Radiante Média, através de instrumentos como o termômetro de bulbo seco, o termômetro
de globo, o psicrômetro giratório e o anemômetro.

§ Temperatura do Ar:
A temperatura do ar determina a razão na qual o corpo ganha ou perde calor para o ambiente por
convecção. Acima dos 37°C, o corpo começa a ganhar calor do ar. A banda de temperatura para conforto da
maior parte das pessoas varia entre 20°C no inverno e 25°C no verão.

§ Umidade Relativa:
A evaporação do suor e umidade da pele é função da umidade do ar. O ar mais seco pode absorver
mais rapidamente o suor da pele, e isso resfriará o corpo mais efetivamente. Por outro lado, quando a
umidade relativa alcança 100%, o ar está saturado, ou seja, está “segurando” toda a água que ele pode conter
para aquela determinada temperatura, e o resfriamento por evaporação da pele pode parar completamente.
Em termos gerais de conforto, a umidade relativa deveria ser sempre acima de 20%, abaixo de 60% no
verão e abaixo de 80% no inverno. Existem problemas observados com umidades relativas abaixo de 20%:
sangramento do nariz, ressecamento da pele, problemas respiratórios, eletricidade estática e rachaduras em
materiais como a madeira. Altas umidades não somente reduzem o processo de resfriamento por evaporação,
mas também incrementam a produção de suor, resultando em sensação desconfortável.

§ Velocidade do Ar:
O movimento do ar afeta a perda de calor por convecção e por evaporação. É muito desejável no
verão e indesejável no inverno. Velocidades do ar acima de 1,5m/s devem ser evitadas nos ambientes
internos, pois provocam desconforto e fazem papéis voarem.
O movimento do ar não é desejável em climas muito quentes e secos, pois aquece a pele por
convecção.

30
§ Temperatura Radiante Média (TRM):
A TRM descreve o ambiente radiante em um ponto no espaço. Por exemplo, o efeito radiante em
alguém próximo a uma lareira é bastante alto devido à alta temperatura do fogo. Um telhado quente pode
também aquecer um ambiente devido a sua grande área radiante. O efeito radiante também pode ser negativo,
como no caso de uma pessoa parada em frente a uma janela no inverno.
A TRM pode ser calculada através de dados de temperatura de globo e da temperatura do ar. As
equações abaixo apresentam o cálculo da TRM para convecção natural e forçada.

Convecção natural:

TRM = 4 (tg + 273) + 0,4 ⋅ 108 ⋅ 4 t g − tar ⋅ (t g − tar ) − 273


4

Convecção forçada:

TRM = 4 (tg + 273) + 2,5 ⋅ 108 ⋅ V 0, 6 ⋅ (t g − tar ) − 273


4

onde: tg = temperatura do termômetro de globo (°C)


tar = temperatura do ar (°C)
V = velocidade do ar (m/s)

Para definir a equação a ser utilizada deve-se determinar o coeficiente de troca de calor por convecção
do globo apresentado nas duas equações abaixo. Adota-se a equação de temperatura radiante média para a
forma de convecção que apresentar o maior coeficiente de troca de calor.
Convecção natural:

∆Τ
hcg = 1,4 4
D

Convecção forçada:

V 0,6
hcg = 6,3
D 0,4

onde: hcg = coeficiente de troca de calor por convecção do globo


∆T = diferença de temperatura (tglobo – tar)
D = diâmetro do globo (normalmente 15 cm)
V = velocidade do ar (m/s)

Além dessas variáveis ambientais, a Atividade Física e a Vestimenta também interagem na


sensação de conforto térmico do homem.

31
§ Atividade Física:
A razão a qual o corpo converte a energia derivada do alimento para outras formas de energia
(principalmente calor) é chamado de razão metabólica ou metabolismo, e pode ser expresso em watts. O
metabolismo é dependente do nível de atividade física.
Quanto maior a atividade física, maior será o calor gerado por metabolismo. É importante ao arquiteto
saber a função de sua arquitetura de forma a prever o nível de atividade realizado no seu interior, tirando daí
algumas premissas sobre a sensação de conforto térmico das pessoas.
Em academias de ginástica, por exemplo, onde a atividade física é muito intensa, é recomendável o uso
abundante de ventilação, tanto para o resfriamento quanto para higiene do ar. Já em uma sala de aula, embora
se deva ter boa ventilação, é necessário dosar os fluxos de ar de forma a evitar que atrapalhem a atenção ou
que façam voar papéis.
Na Tabela 2.1 estão apresentados os valores de metabolismo para algumas atividades físicas segundo a
Norma ISO 7730.
O metabolismo é muitas vezes expresso em watts por metro quadrado de área do corpo. A área média
de superfície de um homem adulto é aproximadamente 1,8 m2. Uma outra unidade usada para expressar o
metabolismo é o MET (1 met = 58 W/m2).

Tabela 2.1. Valores de metabolismo para algumas atividades físicas segundo a ISO 7730.

Atividade W/m2 met

Dormindo 40 0,7

Sentado, digitando 65 1,1

Parado, relaxado 70 1,2

Caminhando 150 2,6

Limpando 115 - 200 2,0 - 3,4

Dançando 140 - 255 2,4 - 4,4

Trabalhos com pá e enxada 235 - 280 4,0 - 4,8

Jogando basquete 290 - 440 5,0 - 7,6

§ Vestimenta:
A resistência térmica da roupa também é de grande importância na sensação de conforto térmico do
homem. Esta variável é medida em “clo” (do inglês clothing). Também pode ser expressa em unidade de m2 °C
/ W (1 clo = 0,155 m2 °C / W).
A pele troca calor por condução, convecção e radiação com a roupa, que por sua vez troca calor com o
ar por convecção e com outras superfícies por radiação.Quanto maior a resistência térmica da roupa, menor
será suas trocas de calor com o meio.
Na Figura 2.5 tem-se os valores dos índices de resistência térmica de alguns tipos de vestimenta.
Maiores detalhes poderão ser obtidos na ISO 7730.

32
Figura 2.5. Valores em “clo” para alguns tipos de vestimentas (Luciano Dutra©).

2.3.4 Índices de Conforto Térmico

Vários índices de conforto térmico tem sido desenvolvidos com a finalidade de estimar se um dado
conjunto de condições irá fornecer conforto térmico. Estes índices podem ser usados para acessar as
condições de conforto em um edifício existente ou prever condições de conforto no projeto de um novo
edifício.
Os índices de conforto Voto Médio Predito PMV (do inglês Predicted Mean Vote) e Percentagem de
Pessoas Insatisfeitas PPD (do inglês Predicted Percentage Dissatisfied) foram adotados pela norma européia ISO
7730, e por isso será descrito a seguir.
O PMV foi criado por Fanger (1970), onde desenvolveu uma equação baseada na teoria das trocas
térmicas e balanço térmico de calor, em testes utilizando-se de câmara climatizada. O PMV é baseado em
análise estatística de votos de sensações térmicas coletadas de mais de 1300 pessoas. Os testes foram
realizados com pessoas usando roupas padronizadas e em atividade sedentária, que eram submetidas a sessões
de 3 horas no ambiente com condições ambientais controladas. O PMV pode ser obtido quando a atividade e
a vestimenta forem conhecidas e as 4 variáveis ambientais (temperatura do ar, umidade relativa, temperatura
radiante média e velocidade do ar) forem medidas.
A equação que calcula o PMV é:
(
PMV = 0,0303 −0, 036 Μ + 0,028) × L
onde: M = taxa metabólica
L = carga térmica sobre o corpo (diferença entre o calor produzido pelo organismo e o perdido
para o ambiente).

O voto médio predito é um índice o qual pode ser usado para estimar a sensação de quanto aquecido
ou com frio pode-se sentir num determinado ambiente. O PMV estima o voto médio de um grande número
de pessoas utilizando-se a seguinte escala de sensação térmica:
+3 = Muito quente
+2 = Quente
+1 = Levemente quente
0 = Neutro (conforto)
-1 = Levemente frio
-2 = Frio
-3 = Muito frio

Entretanto, os votos individuais podem estar espalhados em volta dessa média. Mesmo quando um
PMV é igual a zero, um pequeno número de pessoas sentirão o ambiente muito quente ou muito frio. Quanto
mais afastado o PMV for de zero, maior será o número de pessoas insatisfeitas.

33
O PPD é um índice o qual prediz a percentagem de um grande número de pessoas as quais estarão se
sentindo insatisfeitas com as condições térmicas de um ambiente. Cada ponto na escala do PMV é associado
com um determinado valor de PPD, como mostrado na Figura 2.6.

Figura 2.6. Gráfico relacionando PMV com PPD (Luciano Dutra ©).

A carta indica que, mesmo sob condições ótimas de conforto (correspondendo a um PMV igual a
zero), ainda haverá aproximadamente 5% de pessoas insatisfeitas. Um PMV de +1 ou -1 corresponde a um
PPD de 25%, enquanto que um PMV de +2 ou -2 corresponde a um PPD de 75%.
A ISO 7730 recomenda que o PPD deve ser menor que 10%. A carta indica que para esta condição ser
preenchida, o PMV deveria estar entre –0,5 e +0,5. Entretanto, em alguns casos, qualidades térmicas mais
elevadas podem ser requeridas, como por exemplo em hotéis de alto padrão, e em outras situações, como
armazéns ou depósitos, qualidades térmicas mais baixas podem ser suficientes.
Cabe ressaltar que os índices de PMV e PPD são baseados em experimentos realizados em pessoas sob
condições térmicas controladas em laboratório. Pesquisas de campo tem mostrado que, em muitos casos,
pessoas estão satisfeitas com temperaturas mais altas em climas quentes, e temperaturas mais baixas em
climas frios, do que aquelas sugeridas pelos índices.
Uma vez que a seleção de temperaturas de conforto tem implicações consideráveis tanto para o
dimensionamento de sistemas de ar condicionado como para o consumo de energia, a adesão às
recomendações da norma podem resultar em custos operacionais e de investimentos excessivos.
Os índices PMV e PPD são, portanto, mais relevantes para ambientes que exijam um ambiente térmico
altamente controlado, tais como aqueles encontrados em edifícios climatizados de escritórios do que para
edifícios onde existem mais oportunidades de adaptação.

2.4 BIOCLIMATOLOGIA APLICADA À ARQUITETURA


Como já foi citado no início deste capítulo, Olgyay e Olgyay (1973) enumeraram quatro passos para
uma edificação adaptada ao clima, onde o último passo resultaria na edificação. O primeiro e o segundo item
já foram vistos, o conhecimento e análise do clima, e o impacto do clima em relação ao conforto térmico. O
terceiro passo são as soluções tecnológicas aplicadas para obter conforto no clima em estudo. O uso de
estratégias bioclimáticas no projeto de edifícios pode reduzir de forma significante o consumo de energia
elétrica ao mesmo tempo melhorando as condições internas de conforto e tornando o ambiente mais
saudável. Neste item são descritas as principais estratégias bioclimáticas que podem ser adotadas para melhor
adaptar o edifício ao clima local. Também são apontadas medidas de conservação de energia com a finalidade
de reduzir a necessidade de condicionamento artificial, reduzindo o consumo energético e o conseqüente
impacto ambiental.

34
2.4.1 Como relacionar clima e soluções bioclimáticas

O conhecimento das condições climáticas externas é importante pois estas representam os requisitos
básicos para realizar a análise bioclimática de um local e definir as estratégias de projeto mais adequadas ao
edifício. Entretanto, os dados meteorológicos, quando disponíveis, não são direcionados para a solução dos
problemas de projeto de edificações, fazendo com que os profissionais da área os ignorem. Além disso, nos
países em desenvolvimento, a climatologia tem se desenvolvido mais em função da aviação e da agricultura.
Isto explica a localização das estações meteorológicas e a natureza dos parâmetros medidos. Normalmente,
somente dispõe-se de dados de Normais Climatógicas publicadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia –
INMET, e que constam de valores médios mensais de variáveis climáticas como temperatura, umidade,
precipitação, número de horas de sol e nebulosidade. O ideal é dispor-se de dados horários, como por
exemplo, o Ano Climático de Referência (TRY – Test Reference Year) e o Ano Meteorológico Típico (TMY –
Typical Meteorological Year). Já existem alguns arquivos de TRY para algumas cidades brasileiras disponíveis para
download no site www.labeee.ufsc.br.
Alguns Métodos Diretos de Projetos Bioclimáticos aplicados à edificação utilizam Cartas Bioclimáticas.
Estas cartas associam informações sobre a zona de conforto térmico, o comportamento climático do local e
as estratégias de projeto indicadas para cada período do ano. As estratégias indicadas pela carta podem ser
naturais (sistemas passivos) ou artificiais (sistemas ativos).
Olgyay foi o primeiro pesquisador a desenvolver uma carta bioclimática. A carta bioclimática de Olgyay
é uma tentativa de representar num único diagrama todas as variáveis ambientais e de conforto. Esta carta
consiste basicamente num gráfico que relaciona a temperatura de bulbo seco ou a temperatura do ar no eixo
vertical com a umidade relativa no eixo horizontal (Figura 2.7).

Figura 2.7. Ilustração esquemática da carta bioclimática de Olgyay (Luciano Dutra ©).

Diversos autores aplicaram as variáveis ambientais em uma carta psicrométrica. A carta da Figura 2.8
foi adotada para ser utilizada no Brasil, baseada numa revisão bibliográfica em métodos de projeto
bioclimático (Goulart et al, 1994). A carta bioclimática escolhida foi desenvolvida por Givoni (1992), o qual
estendeu o limite superior da zona de conforto de 27°C (utilizada em países de clima temperado) para 29°C,
considerando a aclimatação das pessoas que vivem em países de clima quente-úmido. A carta é construída
sobre o diagrama psicrométrico, que relaciona temperatura do ar e umidade relativa. Com os valores dessas
variáveis para os principais períodos do ano, o projetista de edificações poderá ter indicações sobre a
estratégia bioclimática a ser considerada no projeto do edifício.

35
Figura 2.8. Carta Psicrométrica.

Nove zonas são identificadas na carta. De maneira simplificada, são descritas abaixo as estratégias de
projeto que devem ser consideradas em cada zona:
1- Zona de Conforto: nestas condições, as pessoas provavelmente sentirão conforto térmico;
2- Zona de Ventilação: a ventilação natural deve ser promovida para incrementar as perdas de calor;
3- Zona de Resfriamento Evaporativo: o uso de fontes e sprays de água nas superfícies dos edifícios ou em
espaços adjacentes é recomendado para incrementar as perdas de calor;
4- Zona de Massa Térmica para Resfriamento: O uso de materiais com maior capacidade térmica, bem como
aberturas pequenas são recomendadas para manter o edifício mais frio durante o dia. O sombreamento é
essencial e o uso de ventilação noturna é importante;
5- Zona de Ar Condicionado: quando as condições de temperatura e umidade caírem nesta zona, técnicas de
resfriamento artificial podem ser usadas. Técnicas artificiais podem ser adotadas juntamente com técnicas
naturais, com isso consegue-se minimizar o uso de energia;
6- Zona de Umidificação: técnicas de umidificação do ar devem ser adotadas;
7- Zona de Massa Térmica para Aquecimento: o uso de paredes mais “pesadas” e expostas ao sol é necessário.
8- Zona de Aquecimento Solar Passivo: a exposição do envoltório do edifício ao sol é recomendada para
aumentar os ganhos de calor. O isolamento térmico é aconselhável nas janelas e no telhado para evitar
perdas de calor nas horas mais frias;
9- Zona de Aquecimento Artificial: algumas vezes é necessário usar o aquecimento artificial para obter
conforto térmico. Também podem ser utilizados o aquecimento solar e o uso de massa térmica para
aquecimento para minimizar o consumo de energia.

Nas condições delimitadas pela zona de conforto haverá uma grande probabilidade de que as pessoas
se sintam em conforto térmico no ambiente interno de uma edificação. As demais zonas indicam estratégias
de projeto que podem ser adotadas para melhorar as condições internas de conforto ou, no caso de ser
inevitável o uso de um sistema ativo (como o ar condicionado ou lareiras). A adoção de estratégias passivas
podem diminuir o tempo de uso do sistema ativo, reduzindo o consumo de energia.

2.4.2 Exemplo de aplicação


Os dados do Ano Climático de Referência (TRY – Test Reference Year) podem ser plotados sobre a Carta
Bioclimática, obtendo-se quais as estratégias de projeto mais adequadas para adaptar a edificação ao clima
local. Utilizando-se o programa denominado Analysis Bio (desenvolvido no Núcleo de Pesquisa em
Construção da UFSC), foram plotados os dados de temperatura e umidade do TRY sobre a carta bioclimática
com a finalidade de visualizar a distribuição dos dados climáticos. O programa calcula também a percentagem

36
de horas do ano em que cada estratégia bioclimática é mais apropriada. Este software pode ser obtido
gratuitamente na página www.labeee.ufsc.br.
Na Figura 2.9 são mostrados os dados de temperatura e umidade (TRY) das cidades brasileiras de
Belém, Brasília, Rio de Janeiro e Florianópolis, plotados sobre a carta bioclimática de Givoni.
A avaliação bioclimática mostra que para estas cidades, a ventilação natural é apropriada durante a
maior parte do ano. A cidade mais quente é Belém, situada no norte do país, necessita do uso de ventilação
em 89% das horas do ano e ar condicionado em 9% das horas. Brasília mostra um grande percentual na zona
de conforto, na ordem de 44%. A cidade do Rio de Janeiro necessita de ventilação natural cerca de 61% das
horas do ano. Já Florianópolis, localizada mais a sul, mostra como principais resultados a necessidade de
ventilação durante o período de verão e o uso de massa térmica e aquecimento solar no inverno.

Dados climáticos de Belém Dados climáticos de Brasília

Dados climáticos do Rio Dados climáticos de Florianópolis

Figura 2.9. Carta Bioclimática – exemplo de aplicação.

2.4.3 Estratégias Bioclimáticas

Para resolver os problemas climáticos e adaptar a edificação ao clima local, resultando em um melhor
conforto interno, algumas técnicas de projetos podem ser utilizadas pelo projetista.

§ Ventilação
Quando a estratégia de ventilação for recomendada, os seguintes recursos de projeto podem ser
explorados:
Usar a Forma e a Orientaçao:
Maximizar a exposição da edificação às brisas do verão orientando corretamente o projeto e
empregando alguns recursos aplicáveis à forma do edifício. O estudo da forma e da orientação da edificação
também pode explorar a iluminação natural e favorecer os ganhos de calor solar.
Projetar Espaços Fluidos
Além de serem atrativos plasticamente, os espaços interiores fluidos permitem a circulação do ar entre
os ambientes internos e entre os ambientes e o exterior (Figura 2.10). Muitos dispositivos podem ser usados

37
para permitir esse tipo de recurso, mantendo contudo a privacidade visual do interior (venezianas, elementos
vazados). Em locais com invernos mais frios, estes dispositivos devem poder ser fechados para evitar
infiltrações indesejáveis.

Figura 2.10. Ventilação Natural.

Promover Ventilação Vertical


O ar quente tende a se acumular nas partes mais elevadas do interior da edificação; a retirada deste ar
quente pode criar um fluxo de ar ascendente gerado por aberturas em diferentes níveis. Isto pode ser feito
através de diversos dispositivos como os lanternins, aberturas no telhado, exaustores eólicos ou aberturas
zenitais. Também se pode combinar o fator iluminação natural ao se utilizar aberturas zenitais, que podem
ser colocadas em locais estratégicos para cumprir as duas funções simultaneamente (ventilar e iluminar).
Elementos que Direcionam o Fluxo de Ar para o Interior
Diversos elementos que se salientem da volumetria ou no entorno do edifício podem ser utilizados
para incrementar o volume e a velocidade do fluxo de ar para o espaço interno. Alguns elementos podem
inclusive ser úteis para o sombreamento de aberturas.

§ Resfriamento Evaporativo e Umidificação


Esta estratégia consiste na retirada de calor do ar pela evaporação de água ou pela evapotranspiração
das plantas. Diversas técnicas de resfriamento evaporativo podem ser utilizadas para diminuir a temperatura
do ar:
Construir àreas Gramadas ou Arborizadas
Uma superfície gramada exposta ao sol consome uma parte do calor recebido para realizar a
fotossíntese. Uma outra parte do calor é absorvida para evaporar água (evapotranspiração). Cria-se então um
microclima mais ameno que refresca os espaços interiores da edificação.
Resfriamento Evaporativo das Superfícies Edificadas
Esta opção pode ser empregada para diminuir a temperatura das superfícies da edificação. O uso de
telhas cerâmicas não vitrificadas é recomendado para esse caso, pois sua porosidade absorve a água da chuva
e do sereno noturno, que é posteriormente evaporada com a incidência do sol. Assim a telha perde calor,
reduzindo os ganhos térmicos por condução e a temperatura radiante. O incremento desse efeito pode ser
obtido com o umedecimento periódico do telhado nos dias mais quentes, através de tubulações perfuradas
instaladas próximas à cumeeira.
Também se pode molhar as áreas pavimentadas próximas à edificação através deste tipo de tubulação.
Da mesma forma como nas superfícies gramadas, se pode forrar as paredes externas da edificação com
vegetação (normalmente trepadeiras). A temperatura da parede é reduzida pela evapotranspiração do vegetal e
pelo sombreamento da radiação solar. Se as folhas forem caducas se pode aproveitar o calor solar no inverno,
efeito desejável em climas com estações bem diferenciadas.

38
Resfriamento Evaporativo Indireto
Esta técnica, ilustrada na Figura 2.11 consiste de soluções arquitetônicas como a instalação de um
tanque de água sobre o telhado ou mesmo de um jardim. Com a incidência do sol, a evaporação da água ou a
evapotranspiração do vegetal retira calor da cobertura, resfriando a superfície do teto. Assim, haverá a
diminuição da temperatura radiante média do ambiente interno.

Figura 2.11. Resfriamento Evaporativo (Luciano Dutra©).

Umidificaçao
Em regiões climáticas onde a umidade relativa do ar é muito baixa (inferior a 20%), a secura extrema
do ar pode causar desconforto (mucosas ressecadas e princípios de desidratação). O que se pode fazer nestes
casos é umidificar o ar através da evaporação da água de fontes ou espelhos d’água próximos à edificação de
forma a tirar partido do microclima que se criará em suas imediações.

§ Massa Térmica
Segundo a carta bioclimática percebe-se que a massa térmica pode ser usada para aquecer ou resfriar a
edificação, conforme os dados climáticos do local.
O uso da massa térmica, ilustrado na Figura 2.12 pode ser útil tanto no frio quanto no calor,
dependendo das características climáticas da região (umidade relativa, amplitude térmica e insolação). A
maneira mais simples para usar a massa térmica para aquecimento em uma edificação é construir fechamentos
opacos mais espessos e diminuir a área de aberturas, orientando-as para o sol. A massa térmica pode
acumular o calor recebido pela parede durante o dia e devolvê-lo ao interior somente à noite, quando as
temperaturas tendem a ser mais amenas (inércia térmica). Em locais muito frios isto pode ser fundamental.
Embora o ar externo esteja a uma temperatura muito baixa, a insolação direta pode aquecer substancialmente
as paredes e a cobertura da edificação.
Em locais quentes a massa térmica pode ser utilizada para resfriar o ambiente interior. Neste caso as
aberturas devem ser sombreadas e deve-se evitar a ventilação diurna, que pode aumentar a temperatura
interna ao trazer o ar quente do exterior. À noite, deve-se permitir a ventilação seletiva, para retirar o calor
acumulado durante o dia e garantir temperaturas internas mais baixas no dia seguinte.

Figura 2.12. Massa Térmica (Luciano Dutra©).

39
§ Aquecimento Solar
O aquecimento solar pode ser obtido de duas formas:
Ganho Direto
Consiste em permitir o acesso da radiação solar diretamente ao interior, através de aberturas laterais
(janelas e paredes transparentes) ou zenitais (clarabóias e domos). Através de elementos transparentes se pode
gerar o “efeito estufa” quando necessário, para aquecer os ambientes interiores. Uma aplicação comum desta
técnica são os solários.
Ganho Indireto
Uma forma de ganho indireto é a adoção de jardins de inverno, que captam a radiação solar
distribuindo-a indiretamente aos ambientes interiores. Também se pode construir paredes de acumulação, que
consistem no uso de paredes com elevada massa térmica nas orientações mais expostas à insolação. Estes
elementos acumulam o calor do sol devolvendo-o depois ao ambiente por radiação de onda longa e
convecção. A colocação do vidro evita que a parede perca calor por convecção e por radiação para o exterior.
Também conhecida como parede Trombe, esta técnica consiste em criar uma convecção induzida pelo
aquecimento do ar no espaço entre vidro e parede. O ar quente tende a subir, sugando ar mais fresco pela
abertura inferior do sistema.
Essas duas formas de utilização do aquecimento solar estão ilustradas na Figura 2.13.

Figura 2.13. Aquecimento Solar (Luciano Dutra©).

Além das estratégias bioclimáticas indicadas pela carta de Givoni, a racionalização do consumo de
energia em edificações pode também estar relacionada com a aplicação de outras técnicas para aquecimento,
refrigeração e iluminação.

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2.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LEITURA RECOMENDADA
FANGER, P.O., Thermal Comfort. New York: McGraw-Hill Book Company, 1970.
FROTA, A. B.; SCHIFFER, S. R., Manual de conforto térmico. São Paulo: Nobel, 1988. 228 p.
GIVONI, B., Comfort, climate, analysis and building design guidelines. Energy and Building, vol. 18,
pp.11-23, 1992.
GOULART, S.V.G., BARBOSA, M.J., PIETROBON, C.E., BOGO, A., PITTA, T., Bioclimatologia
aplicada ao projeto de edificações visando o conforto térmico. Florianópolis: Núcleo de
Pesquisa em Construção/UFSC, 1994. (relatório interno n° 02/94).
GOULART, S.V.G., LAMBERTS, R.; FIRMINO, S., Dados Climáticos para Projeto e Avaliação de
Edificações para 14 Cidades Brasileiras. Florianópolis: Núcleo de Pesquisa em Construção Civil,
1997.
GOULDING, J. R., LEWIS, J. O., STEEMERS, T.C., Energy Conscious Design a primer for architects.
London: Comission of the European Communities, 1992. ISBN 0 7134 69196.
LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F.O.R., Eficiência Energética na Arquitetura. 2. ed. São Paulo:
PW Editores, 2004.
OLGYAY, V. e OLGYAY, A., Design with climate - bioclimatic approach to architectural
regionalism. New Jersey: 1973.
SZOKOLAY, S. V., Environmental Science Handbook for architects and builders. Lancaster: The
Construction Press Ltd, 1980.

41
3. EDIFICAÇÕES EFICIENTES
Solange Goulart e Ana Lígia Papst

3.1 INTRODUÇÃO
A Eficiência Energética pode ser entendida como a obtenção de um serviço com baixo dispêndio de
energia. Em 2001, na iminência de uma grave crise no sistema energético brasileiro, o povo brasileiro deu
exemplos de economia de energia nas suas edificações. Mas o ideal é que as edificações já sejam projetadas de
forma a garantir conforto a seus ocupantes com o menor consumo energético. Não se deseja que as pessoas
passem privações ou desconforto de qualquer natureza. Portanto, um edifício é mais eficiente
energeticamente que outro quando proporciona as mesmas condições ambientais com menor consumo de
energia.
A edificação residencial tem certamente o maior potencial de utilização de recursos naturais de
condicionamento de ar e iluminação.
Nos setores comercial e público, o consumo de energia é fortemente influenciado pela grande
quantidade de calor gerado no interior do edifício. Diferente da edificação residencial, edifícios comerciais e
públicos contam com maior densidade de usuários, equipamentos e lâmpadas, que levam a tendência ao
superaquecimento dos ambientes, mesmo em situações onde o clima exterior indica conforto térmico.
Observa-se que a iluminação artificial e o ar condicionado são os grandes usos finais da energia neste
setor, representando aproximadamente 64% do consumo (44% para iluminação artificial e 20% para ar
condicionado, respectivamente). É mais urgente a necessidade de integração entre sistemas naturais e
artificiais (tanto de condicionamento quanto de iluminação) visto que o uso dos sistemas artificiais pode ser
imprescindível para a boa produtividade no espaço interior.
Em certas condições climáticas o ar condicionado é a intervenção mais adequada a ser feita para
garantir o conforto térmico dos usuários.
Neste caso deve-se garantir a estanqueidade dos ambientes, evitando a infiltração do ar exterior, e
optar por aparelhos mais eficientes (EER1 maior). Além disso, o projetista deve observar os cuidados
requeridos na instalação do equipamento, não expondo-o ao sol e prevendo o isolamento térmico dos
fechamentos da edificação.
Em condições climáticas onde a temperatura do exterior não ultrapassa os 10,5°C, o aquecimento
artificial é aconselhável. É importante o bom isolamento térmico dos fechamentos, evitando a ventilação da
cobertura, adotando aberturas com vidro duplo e também construindo paredes com materiais de baixa
condutividade térmica. Também nesse caso é necessário evitar a infiltração do ar externo.
O projetista deve conhecer os sistemas de aquecimento para especificá-los de forma adequada às
necessidades do local, empregando equipamentos mais eficientes. No caso de edificações com vários
ambientes a serem condicionados, sugere-se a adoção de sistemas de aquecimento central.
Em edifícios comerciais e públicos geralmente o uso do ar condicionado é necessário pois o
desconforto pode significar perda de clientes e baixa produtividade. Entretanto, muito pode ser feito pelo
projetista para reduzir a demanda de condicionamento artificial e o conseqüente consumo de eletricidade. As
estratégias bioclimáticas já analisadas podem não responder completamente à necessidade de conforto em
virtude principalmente das grandes cargas internas provenientes de iluminação artificial, número de usuários e
de equipamentos.

1EER relaciona a quantidade de energia elétrica consumida para gerar energia térmica de aquecimento ou refrigeração e sua unidade é
Btu/h/W. Na década de oitenta, o EER para os aparelhos de ar condicionado de janela no Brasil era da ordem de 6,5 a 7,5 Btu/h/W.
Atualmente, este valor subiu para a faixa de 8 a 9 Btu/h/W. As melhorias tecnológicas recentes (como por exemplo a introdução dos
compressores rotativos) mostram que a indústria busca melhorar ainda mais estes índices. O crescimento do EER significa menor
quantidade de energia consumida para refrigeração, o que denota a utilidade deste índice para a escolha de máquinas mais eficientes
entre as disponíveis no mercado.

42
É aconselhável seguir os critérios abaixo no projeto ou reforma de edifícios, objetivando sua menor
dependência da climatização e iluminação artificial:
§ Uso da vegetação como sombreamento
§ Uso de cores claras;
§ Emprego da ventilação cruzada sempre que possível;
§ Evitar o uso de vidros tipo “fumê”;
§ Redução da transmitância térmica das paredes, janelas e coberturas;
§ Uso racional da iluminação;
§ Utilização de energia solar para aquecimento d’água;
§ Indicação de uso correto da edificação e ou sistema ao usuário;
§ Uso de proteções solares em aberturas.

3.2 USO DA VEGETAÇÃO COMO SOMBREAMENTO


É possível que uma proteção solar não seja suficiente para sombrear adequadamente uma abertura. Na
fachada oeste, por exemplo, um brise adequado às necessidades de sombreamento no verão deveria, em
alguns casos, bloquear completamente a radiação solar. Em algumas horas da tarde o sol estará quase
perpendicular à fachada, o que induziria a uma proteção que praticamente obstruísse a abertura. Do ponto de
vista da iluminação isto significa um sério problema para o ambiente interno, que necessitará de luz artificial
mesmo durante o dia. O uso de árvores com folhas caducas pode ser uma solução para o problema. Além de
sombrear a janela sem bloquear a luz natural, permite a incidência do sol desejável no inverno, quando então
as folhas tendem a cair.

3.3 USO DA COR


Embora de grande importância plástica na edificação, a utilidade das cores não se restringe à aparência,
mas adentra os conceitos físicos de conforto térmico e visual. Cores escuras aplicadas nas superfícies
exteriores podem incrementar os ganhos de calor solar, absorvendo maior quantidade de radiação. Isto pode
ser útil em locais onde há necessidade de aquecimento. De forma complementar, a pintura de cores claras nas
superfícies externas de uma edificação aumenta sua reflexão à radiação solar, reduzindo os ganhos de calor
pelos fechamentos opacos. No interior, cores claras refletem mais luz, podendo ser empregadas em conjunto
com sistemas de iluminação natural ou artificial.

3.4 VENTILAÇÃO
O sistema de aberturas pode representar um verdadeiro elenco de funções na edificação. Sua utilidade
para o conforto é inquestionável e se compõe por fatores como a ventilação, o ganho de calor solar, a
iluminação natural e o contato visual com o exterior. No Capítulo 5 as funções das aberturas são abordadas
separadamente.
Aberturas bem posicionadas podem garantir a circulação de ar nos ambientes internos, aconselhando-
se sua localização de forma cruzada sempre que a ventilação for necessária.
As janelas com bandeiras basculantes são bastante úteis em períodos frios, por permitirem a ventilação
seletiva necessária para higiene do ar interno.
Conhecendo-se a direção e a velocidade dos ventos predominantes de um determinado local, é
possível projetar os ambientes, área de aberturas e posicionamento, para que haja uma distribuição no fluxo
de ar interno. A velocidade média do fluxo ar interno é uma função da velocidade do ar externo, da
rugosidade do ambiente externo, do ângulo de incidência e das dimensões e localização das aberturas. Um
exemplo (Brown e Dekay, 2004), em um ambiente com uma abertura de 2/3 da largura da parede, a

43
velocidade média interna do ar será entre 13% e 17% da velocidade do ar externo, mas se esta área for
dividida em duas aberturas na mesma parede, a velocidade do ar passa para 22% da velocidade do ar exterior.
Para aberturas localizadas em duas paredes, a velocidade média do ar interno passa a ser de 35% a 65% da
velocidade do vento externo. Duas aberturas em paredes opostas permitem o movimento rápido do ar,
enquanto aberturas em paredes adjacentes permitem uma melhor distribuição da velocidade do vento e do
feito de resfriamento através do recinto. Quando a ventilação é usada para resfriamento, é importante
localizar as aberturas para que o fluxo de ar passe pelos usuários.
A ventilação tem duas funções principais dentro de um ambiente: renovação do ar quente e ou
poluído, e resfriamento dos usuários. Para velocidades do ar acima de 0,2 m/s, o fluxo de ar em contato com
a pele transfere o calor do corpo humano para o ar quando este tem temperatura inferior a temperatura da
pele. A ventilação é necessária para evitar problemas da transpiração em locais que tenham o clima com
umidades elevadas. A equação mostra como pode se estimar o efeito de resfriamento psicológico devido ao
movimento do ar (Szokolay, 1999).
dT = 5,2 * (v − 0,2) − (v − 0,2) 2
onde v é a velocidade do ar na superfície corporal
O limite aceitável para a velocidade do ar é de 1,5 m/s, velocidade a partir da qual começam a voar
papéis.
O movimento do ar de 1,5 m/s na superfície corporal, pode diminuir a sensação térmica em até 5 K.

3.5 TIPO DE VIDRO


Quanto ao tipo de vidro a ser empregado, dependerá das necessidades de luz natural e de desempenho
térmico do sistema de abertura. Na edificação residencial, normalmente se quer permitir o ingresso de luz
pelas janelas, evitando ou explorando o calor solar, conforme o período do ano for respectivamente mais
quente ou mais frio. Hoje existem vários tipos de vidro disponíveis para controlar as perdas ou os ganhos de
calor. Existem vidros e películas absorventes e reflexivos, vidros duplos ou triplos com tratamento de baixa
emissividade, vidros espectralmente seletivos e combinações destes tipos entre si.
Em climas quentes se deve evitar o uso de vidros e películas absorventes (“fumê”), pois absorvem mais
calor do que luz. De forma semelhante, os vidros e películas reflexivas permitem a redução da carga térmica
que, entretanto, pode ser suplantada pela necessidade adicional de luz artificial.
Em climas frios o ideal seria permitir a entrada do calor solar (onda curta) evitando as perdas de calor
do interior. Vidros de múltiplas camadas são indicados, pois permitem isolamento entre as placas
(normalmente o ar ou algum tipo de gás).

3.6 REDUÇÃO DA TRANSMITÂNCIA TÉRMICA DAS PAREDES, JANELAS E COBERTURAS


É através dos fechamentos das edificações que ocorrem as trocas térmicas entre o ambiente interno e
externo. Dependendo do local, é preciso que os fechamentos de uma edificação protejam o ambiente interno
dos fatores negativos do clima. Num clima frio, não se quer que ocorram perdas de calor do ambiente interno
para o ambiente externo, com isto, os fechamentos têm de ter boa vedação e evitar a passagem do calor
através dos mesmos. Nos climas quentes e secos, os fechamentos têm de evitar que o calor externo diurno
passe rapidamente para dentro da edificação, mas este calor deve ser armazenado para aquecer o ambiente
interno no período noturno, quando as temperaturas externas vão abaixo da zona de conforto. Neste clima,
os fechamentos precisam transmitir pouco o calor e retê-lo ou armazená-lo (maior inércia térmica). Nos
climas quentes, em ambientes condicionados artificialmente, deve-se evitar que o calor externo seja
transmitido para o interior, pois aumentaria a carga térmica interna. Em ambientes naturalmente ventilados
ou condicionados artificialmente, a carga térmica advinda da cobertura deve ser amenizada. O uso de cores
claras reduz a absortividade da radiação solar, mas deve-se evitar que o calor absorvido seja transmitido para
dentro do ambiente.
A transmitância é uma característica térmica dos elementos e componentes construtivos, e é conhecida
como “coeficiente global de transferência de calor”. É a transmitância térmica que permite comparar o

44
comportamento térmico dos fechamentos das edificações. Quanto menor o valor da transmitância térmica,
menor serão as trocas térmicas dos ambientes internos e externo.
O cálculo e o conceito de propriedades térmicas de elementos e componentes das edificações, além do
seu desempenho térmico são apresentados no Capítulo 4. O Capítulo 4 traz também as diretrizes construtivas
para habitações unifamiliares de interesse social.

3.7 USO RACIONAL DA ILUMINAÇÃO


O uso da luz natural pode representar uma grande economia de energia na edificação residencial. Além
dos sistemas de aberturas verticais, a iluminação zenital é bastante útil, podendo iluminar ambientes sem
contato com paredes externas além de valorizarem ambientes arquitetônicos mais nobres.
Alguns conceitos para se adotar no projeto e obter racionalização na iluminação de ambientes:

§ Integração da luz artificial com a luz natural


A luz natural pode ser utilizada para reduzir o consumo de energia com iluminação. Para que isso seja
possível, deve-se buscar explorá-la de forma integrada com os sistemas de iluminação artificial. Isto pode ser
feito de diversas maneiras, devendo o projetista conhecer o comportamento dos dispositivos utilizados para
iluminação natural e dos componentes do sistema de iluminação artificial, integrando-os em um único
sistema. Dentro dessa idéia, sempre que a luz natural for adequada às necessidades de iluminação do
ambiente, a iluminação artificial deve ser desativada ou reduzida. Alguns sistemas de controle (como os
sensores fotoelétricos) podem ser empregados com essa finalidade. Não se deve esquecer de balancear os
ganhos de calor que podem estar embutidos no ingresso de luz natural, pois isto poderia incrementar o
consumo de energia para condicionamento térmico. A integração da luz artificial com a luz natural pode
fornecer melhores resultados em termos de redução no consumo de energia principalmente em prédios
comerciais e públicos.

§ Sistemas de Controle DA LUZ ARTIFICIAL


A função de um sistema de controle de luz é fornecer a quantidade necessária de iluminação onde e
quando ela é necessária, enquanto minimiza o consumo de energia elétrica. Os sistemas de controle são
basicamente de três tipos: sistemas com controle fotoelétrico; sensores de ocupação e sistemas de
programação do tempo.

§ Iluminação de Tarefa
Esta técnica permite a previsão de níveis de iluminação mais altos para as tarefas visuais, enquanto se
mantém o restante da iluminação a níveis mais baixos. As áreas circundantes da tarefa visual necessitam de
menos iluminação que o local da tarefa propriamente dita. Recomenda-se que a iluminação ambiental seja
pelo menos 33% da iluminação da tarefa, para conforto e adaptação ao transiente. Por exemplo, se uma tarefa
requer 750 lux, a iluminação ambiental pode ser de 250 lux. Isto significa que boa parte da área interna de um
edifício pode ter seu nível de iluminação diminuído, reduzindo também o consumo de energia.

§ Sistemas de iluminação artificial eficientes


Pode-se reduzir consideravelmente a energia gasta com iluminação artificial substituindo lâmpadas
incandescentes por fluorescentes comuns ou compactas. A utilização de luminárias mais eficientes e de
reatores eletrônicos também é aconselhável. Em edifícios residenciais, a energia consumida a noite pelas
lâmpadas que permanecem acesas nas escadas e circulações pode ser reduzida com a adoção de minuterias ou
sensores de presença. Assim, o tempo que as lâmpadas permanecem acesas é apenas o necessário para que os
usuários alcancem a saída ou o seu apartamento, desligando-se automaticamente o circuito em alguns
minutos. A melhoria do sistema de iluminação pode representar uma economia de energia de até 40%.
Economizar energia elétrica é 102 vezes mais barato que gerá-la. Devido a importância da iluminação, o
Capítulo 5 aborda desde os aspectos conceituais da iluminação, conforto visual, normas, até especificação
para equipamentos de iluminação artificial e análise de investimentos.

45
3.8 AQUECIMENTO DE ÁGUA
No setor residencial, quase 25% da energia elétrica é consumida para aquecimento de água. O
projetista deve prever tubulação de água quente isolada termicamente em seus projetos, propiciando a
instalação de sistemas de aquecimento a gás ou solar – mais econômicos. Além de evitarem o consumo de
energia elétrica, outra vantagem destes sistemas é o maior grau de conforto e sua capacidade para atender
diversos pontos de água quente além do chuveiro (torneiras em banheiros, cozinhas e lavanderias, por
exemplo).
A energia solar para aquecimento de água é uma importante ferramenta na eficiência energética de
edificações, e por isso no Capítulo 6 é feita toda uma explicação dos cuidados que um projetista deve ter para
pré-dimensionar e especificar sistemas solares para aquecimento d‘água.

3.9 UTILIZAÇÃO CORRETA DOS SISTEMAS PROPOSTOS


As estratégias de projeto para assegurar a conservação de energia depende das condições climáticas,
localização e forma do edifício, mas também do tipo, função e padrão de uso. Edifícios de escritórios, escolas
e lojas são principalmente usadas durante o dia, residências podem tanto ser ocupadas constantemente ou de
forma intermitente, enquanto hospitais, aeroportos e algumas indústrias podem ser de uso constante.
O comportamento dos ocupantes tem um efeito significante sobre o consumo energético de uma
edificação. Uma edificação que foi projetada para ser energeticamente eficiente pode falhar no seu objetivo se
os ocupantes tiverem um comportamento de desperdício energético. De outra forma, um comportamento
energético consciente pode conseguir economizar e até baixar o valor das contas de energia.
O ideal seria que o projetista após definido um projeto bioclimático, passasse ao proprietário da
edificação instruções de como usar a edificação. Estas instruções poderiam ser passadas aos proprietários
através de comunicação verbal ou através de manual.

3.10 USO DE PROTEÇÕES SOLARES


Os ganhos de calor pelo sol ocorrem tanto pelos elementos opacos (paredes, cobertura) quanto pelos
elementos transparentes (janelas, clarabóias, etc).
A localização da edificação, a forma da edificação, a orientação solar adequada dos ambientes,
proteções solares externas e vidros especiais, podem ser usados para reduzir o desconforto térmico. O
projeto da parte externa da edificação deve ser pensado para as condições de verão e de inverno. O sol
excessivo do verão pode ser barrado, enquanto a iluminação natural deve ser garantida durante todo o ano.
Ao projetar proteções solares deve-se pensar também na sua influência sobre a luz natural e a
visibilidade para o exterior. A adoção de proteções solares do tipo prateleiras de luz é aconselhável
principalmente para a orientação norte, pois permite sombrear completamente a abertura enquanto favorece a
entrada de luz para o interior.
Os ganhos de calor pelos elementos da edificação podem ser desejáveis quando as temperaturas estão
baixas, e indesejáveis com temperaturas mais elevadas. Proteções solares quando bem projetadas podem
garantir que os raios solares passem pelas aberturas transparentes apenas nos períodos necessários.
Dependendo da latitude do local e do período do ano, também se pode conceber proteções solares
constituídas de uma parte fixa e outra móvel. A versatilidade desse sistema permite sombrear o sol indesejável
através da parte fixa, reservando à parte móvel a função de controlar a entrada do sol quando desejável.
Ao especificar proteções solares com partes móveis se deve considerar a necessidade de manutenção
regular e a possibilidade de operação errônea por parte do usuário. O ideal é promover esclarecimentos sobre
as vantagens e o funcionamento do sistema.
O cálculo da posição solar para uma determinada hora e data é relativamente simples, como foi visto
no Capítulo 1. Mas nos projetos de edificações é importante considerar a posição do sol durante todo o ano,
e o projetista deve visualizar os efeitos das suas soluções construtivas para poder tomar decisões. Repetir o

46
cálculo da posição do sol várias vezes pode ser um trabalho árduo, por isso, o uso de representações gráficas
da geometria solar são uma solução para definir proteções solares para as edificações.

3.10.1 Cartas solares

Como já foi explicado no Capítulo 1, a terra gira em torno do sol em uma trajetória elíptica conhecida,
e do ponto de vista de um observador na terra, a posição do sol pode ser definida através de dois ângulos:
altitude solar (γs) e azimute solar (αs). A Figura 3.1 exemplifica a planificação da trajetória solar.

Figura 3.1. Carta Solar (Luciano Dutra ©).

Em todas as planificações da trajetória solar, três linhas são importantes: as linhas dos equinócios
(primavera e outono) e solstício de verão e solstício de inverno.
Existem quatro principais métodos de projeção da geometria solar: gnomônico, ortográfico,
eqüidistante, e estereográfico.
Dependendo da latitude, a geometria solar do ponto de vista de um observador na Terra também
muda. A Figura 3.2 mostra exemplos de diagramas do caminho do sol (solstícios e equinócio) para 5 latitudes
diferentes.

Latitude 0° Latitude 20° Sul

Latitude 40° Sul Latitude 60° Sul


Figura 3.2. Diagramas do caminho do sol (solstícios e equinócio) para quatro latitudes: 0°, 20° S, 40° S e 60° S.

47
Para poder representar o sombreamento das proteções solares planificadas, é preciso usar um
transferidor auxiliar próprio para cada diagrama solar. Este transferidor é um medidor dos ângulos
horizontais e verticais dos raios solares, e indica as projeções solares sobre o plano do horizonte para um
observador situado numa superfície vertical.
A Figura 3.3 mostra uma carta solar estereográfica para a latitude de 28°C e seu respectivo transferidor
de ângulos.

Figura 3.3. Carta solar estereográfica latitude 28°C e transferidor auxiliar de ângulos para cartas estereográficas.

3.10.2 Exemplos de máscara de sombras para aberturas

A máscara de sombra é a representação gráfica dos obstáculos que impedem a visão da abóbada celeste
por parte de um observador localizado num local qualquer (Bittencourt, 1990). A máscara de sombras pode
ser determinada usando o transferidor auxiliar de ângulos. O método de determinação das máscaras de
sombras podem ser encontrados em Bittencourt (1990), Frota e Schiffer (1995), Szokolay (1980), Olgyay e
Olgyay (1973) entre outros. Aqui será apresentado alguns exemplos de máscaras de sombras para alguns tipos
de proteções solares de aberturas (Figura 3.4).

Figura 3.4. Tipos de Proteções Solares e suas Máscaras.

48
3.10.3 Eficiência das proteções solares

Uma proteção solar será considerada eficiente se impedir a entrada dos raios solares indesejados. Cada
orientação solar (em cada latitude) tem uma proteção solar adequada. A definição de quanto deve ser evitado
ou permitido da entrada do sol depende da utilização do ambiente. Em ambientes corretamente orientados, a
necessidade de proteções solares diminui. Por exemplo, prédios de salas comerciais e de salas de aula, onde
não se deseja a entrada direta do sol por poder ocasionar ofuscamento, o ideal é ter as aberturas orientadas a
sul e a norte. Dependendo da latitude do local, vão ser necessárias proteções solares, mas estas serão mais
fáceis de serem propostas nestas duas orientações solares.
Se os ambientes já foram dispostos espacialmente nas orientações solares mais adequadas é mais fácil
propor proteções solares que permitam a iluminação natural e evitem problemas de sobreaquecimento
interno. O ideal é antes de começar a projetar, saber como deveriam ser as proteções solares naquela
orientação, para assim tirarem partido da sua volumetria na estética da edificação.

3.10.4 A proposta de sombreamento

A base para definição de um projeto de sombreamento de um ambiente é o desconforto por calor.


Dependendo do local e da ocupação, a entrada de sol no ambiente é desejável apenas no período mais frio. A
construção de uma matriz com a temperatura horária média mensal e estas temperaturas sobrepostas às cartas
solares podem ajudar na definição do período de sombreamento.
Na Tabela 3.1 foram distribuídas as temperaturas horárias médias mensais de Florianópolis (calculadas
com dados de Goulart et al., 1997). O ideal é fazer as faixas de temperaturas variando de 2°C em 2°C com
diferentes cores.

Tabela 3.1. Temperaturas horárias médias mensais de Florianópolis separadas por faixas de temperaturas.

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
1:00 22.7 22.7 22.6 19.3 16.7 14.7 15.9 15.6 17.8 18.0 19.5 20.7
2:00 22.6 22.4 22.5 19.1 16.5 14.6 15.6 15.3 17.5 17.9 19.4 20.5
3:00 22.6 22.3 22.3 19.0 16.4 14.5 15.4 15.4 17.3 17.8 19.4 20.3
4:00 22.5 22.1 22.2 18.7 16.1 14.4 15.1 14.9 17.2 17.8 19.1 20.1
5:00 22.3 21.8 22.1 18.4 15.7 14.1 14.8 14.8 17.2 17.7 19.0 20.0
6:00 22.4 21.5 22.1 18.1 15.6 13.9 14.6 14.8 17.4 17.7 19.2 19.9
7:00 23.4 22.2 22.6 17.9 15.5 13.8 14.5 15.0 17.6 18.6 20.2 21.3
8:00 24.6 23.8 23.8 19.8 17.0 14.5 15.1 15.7 18.3 19.4 21.2 22.6
9:00 25.7 24.9 24.8 21.9 18.8 16.4 16.9 17.1 19.0 20.6 22.3 23.6
10:0026.8 26.2 26.0 23.5 20.7 18.3 18.4 18.4 20.3 21.6 23.0 24.7
11:0027.7 26.8 26.8 25.0 22.3 19.8 19.9 19.3 21.0 22.1 23.7 25.5
12:0028.4 27.3 27.3 25.7 23.3 21.0 20.7 20.2 21.5 22.4 24.1 25.8
13:0028.6 27.1 27.6 26.5 23.8 21.8 21.4 20.6 21.8 22.4 24.2 25.8
14:0028.4 27.2 27.5 26.3 23.8 21.9 21.7 20.6 21.9 22.1 23.9 25.5
15:0027.9 26.9 27.3 25.7 23.4 21.8 21.5 20.3 21.6 21.8 23.8 25.3
16:0026.8 26.3 26.5 25.2 22.6 20.7 20.9 19.5 21.5 21.4 23.4 24.7
17:0026.1 25.6 25.7 23.9 21.2 19.3 19.8 18.6 20.5 20.8 23.0 24.3
18:0024.7 24.5 24.7 21.9 19.5 17.5 18.2 17.4 19.5 19.9 22.1 23.8
19:0024.2 24.2 23.9 21.0 18.6 16.6 17.5 16.7 18.8 19.3 21.1 22.5
20:0023.8 23.7 23.5 20.4 18.0 16.4 16.9 16.4 18.5 19.1 20.5 21.6
21:0023.6 23.5 23.3 19.9 17.8 15.8 16.8 16.1 18.2 18.8 20.2 21.4
22:0023.3 23.3 23.1 19.6 17.5 15.4 16.6 16.0 18.1 18.7 19.9 21.2
23:0023.0 23.1 23.0 19.4 17.3 15.2 16.4 15.8 17.8 18.6 19.9 21.0
0:00 22.7 22.9 22.7 19.4 17.0 15.0 16.2 15.8 17.6 18.3 19.8 20.8

As faixas de temperaturas pintadas sobre a carta solar dão um indicativo da época do ano e que
horários deveriam ser propostas sombras para as aberturas, ou permitir a incidência solar através das mesmas.
Então pode-se se definir proteções solares que tenham a máscara de sombra compatível com as necessidades
de sombreamento e ou ganho solar.

49
Através da Figura 3.5 observa-se existe diferenças nas temperaturas horárias médias mensais do 1º e o
2º semestre para Florianópolis. Para solucionar esta diferença sugere-se a versatilidade das proteções solares
constituídas de uma parte fixa e outra móvel. A parte fixa é projetada para sombrear quando da necessidade
nos dois semestres, e a parte móvel projetada com a função de controlar a entrada do sol quando desejável.

Dezembro a junho Junho a dezembro


Figura 3.5. Carta solar latitude 28° com as temperaturas horárias médias mensais de Florianópolis
pintadas por faixas de temperaturas.

3.10.5 Proteções solares como forma de aproveitamento da energia solar

Os coletores solares podem ser integrados na estrutura das edificações, e não necessariamente
precisam ser colocados somente na cobertura da edificação. A colocação usual dos coletores solares sobre as
coberturas deve-se ao fato de evitar o problema de sombreamento nos coletores. A Figura 3.6 mostra
algumas possibilidades de integrar coletores solares na estrutura das edificações.

Figura 3.6. Exemplos de coletores solares integrados na estrutura da edificação.

50
Os coletores solares para aquecimento de água possuem na sua parte inferior isolamento térmico para
evitar a perda de calor dos tubos (explicações mais detalhadas no Capítulo 6). Toda a radiação solar incidente
sobre a região da placa é utilizada para o aquecimento d’água, sendo que pouco calor é transmitido na parte
inferior da placa. A colocação de placas solares sobre a estrutura da edificação ajuda também na diminuição
da energia térmica incidente na parte externa da edificação, melhorando o desempenho térmico dos
elementos construtivos no período com temperaturas mais elevadas. No período de temperaturas mais
amenas, o coletor solar sobre a estrutura da edificação pode funcionar como um isolante térmico, evitando as
perdas de calor do ambiente interno através da envolvente da edificação.
Usualmente, projetos de proteções solares são feitos para minimizar a entrada da radiação solar nos
ambientes. Esta radiação solar direta indesejada dentro do ambiente poderia ser usada para o aquecimento
d’água.

3.11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LEITURA RECOMENDADA


BITTENCOURT, L., Uso das cartas solares: diretrizes para arquitetos. Macéio: EDUFAL, 1990. 93p.
BROWN, G.Z. e DEKAY, M., Sol, Vento e Luz: Estratégias para o projeto de Arquitetura. Porto
Alegre: Bookman, 2004. 2a. edição. 414 p. ISBN:8536303441
FROTA, A.B.; SCHIFFER, S. R., Manual de conforto térmico. São Paulo: Nobel, 1995. 228 p.
GIVONI, B., Comfort, climate, analysis and building design guidelines. Energy and Building, vol. 18,
pp.11-23, julho/1992.
GOULART, S.V.G., BARBOSA, M.J., PIETROBON, C.E., BOGO, A., PITTA, T., Bioclimatologia
aplicada ao projeto de edificações visando o conforto térmico. Florianópolis: Núcleo de
Pesquisa em Construção/UFSC, 1994. (relatório interno n° 02/94).
GOULART, S.V.G., LAMBERTS, R., FIRMINO, S., Dados Climáticos para Projeto e Avaliação de
Edificações para 14 Cidades Brasileiras. Florianópolis: Núcleo de Pesquisa em Construção Civil,
1997.
GOULDING, J.R., LEWIS, J.O., STEEMERS, T.C., Energy Conscious Design a primer for achitects.
London: Comission of the European Communities, 1992. ISBN 0 7134 69196.
LAMBERTS, R., DUTRA, L., PEREIRA, F.O.R., Eficiência Energética na Arquitetura. 2. ed. São Paulo:
PW Editores, 2004.
OLGYAY, V. e OLGYAY, A. Design with climate - bioclimatic approach to architectural
regionalism. New Jersey: 1973.
RUDOFSKY, B., Architecture without architects – a short introduction to non pedigreed architecture.
London: Academy, 1981.
SZOKOLAY, S.V., Environmental Science Handbook for architects and builders. Lancaster: The
Construction Press Ltd, 1980.
SZOKOLAY, S.V., Approaches to tropical house design. In: II encontro Latino Americano de Conforto
no Ambiente Construído, 1999, Fortaleza, Brasil. Anais... Fortaleza, Brasil, 1999. Compact Disc.

51
4. CÁLCULO DE PROPRIEDADES TÉRMICAS E DESEMPENHO
TÉRMICO DE ELEMENTOS E COMPONENTES DE EDIFICAÇÕES
Enedir Ghisi

4.1 INTRODUÇÃO
Este capítulo apresenta métodos de cálculo da transmitância térmica, capacidade térmica, atraso
térmico e fator de calor solar de elementos e componentes de edificações. O procedimento adotado é o
mesmo apresentado no Projeto de Norma 02:135.07-002 (ABNT, 2003), em fase de publicação pela ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas). Ao final deste capítulo são apresentados os procedimentos
analíticos simplificados para se analisar o desempenho térmico de paredes, coberturas e janelas como forma
de alertar para a escolha adequada de componentes construtivos.

4.2 TRANSMITÂNCIA TÉRMICA


A transmitância térmica também é conhecida como “coeficiente global de transferência de calor” e
envolve trocas térmicas superficiais (condução e radiação) e trocas térmicas através do material (condução).
Representa a capacidade do material de ser atravessado por um fluxo de calor induzido por uma diferença de
temperatura entre dois ambientes que o elemento constituído por tal material separa (FROTA e SCHIFFER,
1995). A transmitância térmica de componentes, de ambiente a ambiente, é dada pelo inverso da resistência
térmica total, conforme mostra a equação 4.1.

U = 1/RT [Eq. 4.1]

onde:
U é a transmitância térmica (W/m2.K);
RT é a resistência térmica do componente de ambiente a ambiente (m2.K/W).

4.2.1 Resistência térmica de camadas homogêneas

Valores da resistência térmica, R, obtidos através de medições baseadas em testes normalizados, devem
ser usados sempre que possível. Na ausência de valores medidos, recomenda-se que a resistência térmica de
uma camada homogênea de material sólido seja determinada pela equação 4.2.

R = e/λ [Eq. 4.2]

onde:
R é a resistência térmica da camada homogênea (m2.K/W);
e é a espessura da camada homogênea (m);
λ é a condutividade térmica do material (W/m.K).

A condutividade térmica (além do calor específico) em função da densidade de massa aparente de


alguns materiais de uso corrente é apresentada na Tabela 4.1.

52
Tabela 4.1. Densidade de massa aparente (ρ), condutividade térmica (λ) e
calor específico (c) de alguns materiais.
Fonte: Projeto de Norma 02:135.07-002 (ABNT, 2003)

Material ρ λ c
(kg/m3) (W/m.K) (kJ/kg.K)
Argamassa comum 1800-2100 1,15 1,00
Tijolos e telhas de barro 1000-1300 0,70 0,92
1300-1600 0,90 0,92
1600-1800 1,00 0,92
1800-2000 1,05 0,92
Placas de fibro-cimento 1800-2200 0,95 0,84
1400-1800 0,65 0,84
Concreto normal 2200-2400 1,75 1,00
Carvalho, freijó, pinho, cedro, pinus 600-750 0,23 1,34
450-600 0,15 1,34
300-450 0,12 1,34
Compensado 450-550 0,15 2,30
350-450 0,12 2,30
Granito, gneisse 2300-2900 3,00 0,84
Basalto 2700-3000 1,60 0,84
Chapa de vidro comum 2700 1,10 0,84
Alumínio 2700 230 0,88
Cobre 8900 380 0,38
Lã de rocha 20-200 0,045 0,75
Poliestireno expandido 25-40 0,035 1,42

4.2.2 Resistência térmica de componentes com camadas homogêneas

A resistência térmica total de um componente plano constituído de camadas homogêneas


perpendiculares ao fluxo de calor é determinada pelas equações 4.3 e 4.4.

§ Resistência térmica de superfície a superfície (Rt)


A resistência térmica de superfície a superfície de um componente plano constituído de camadas
homogêneas, perpendiculares ao fluxo de calor, é determinada pela equação 4.3.

Rt = R t1 + R t2 + ..... + Rtn + Rar1 + Rar2 + ..... + Rarn [Eq. 4.3]

onde:
R t1, R t2, …, Rtn são as resistências térmicas das n camadas homogêneas, determinadas pela
equação 4.2;
Rar1, Rar2, ... , Rarn são as resistências térmicas das n câmaras de ar, obtidas da Tabela 4.2.

53
Tabela 4.2. Resistência térmica de câmaras de ar não ventiladas, com largura muito maior que a espessura.
Fonte: Projeto de Norma 02:135.07-002 (ABNT, 2003)

Resistência térmica Rar


Natureza da Espessura “e” (m2.K/W)
superfície da da câmara de
Direção do fluxo de calor
câmara de ar ar (cm)
Horizontal Ascendente Descendente
1,0 ≤ e ≤ 2,0 0,14 0,13 0,15
Alta
emissividade 2,0 < e ≤ 5,0 0,16 0,14 0,18
ε > 0,8
e > 5,0 0,17 0,14 0,21

1,0 ≤ e ≤ 2,0 0,29 0,23 0,29


Baixa
emissividade 2,0 < e ≤ 5,0 0,37 0,25 0,43
ε < 0,2
e > 5,0 0,34 0,27 0,61

Notas:
1 ε é a emissividade hemisférica total.
2 Os valores para câmaras de ar com uma superfície refletora só podem ser usados se a emissividade da
superfície for controlada e prevê-se que a superfície continue limpa, sem pó, gordura ou água de
condensação.
3 Para coberturas, recomenda-se a colocação da superfície refletora paralelamente ao plano das telhas; desta
forma, garante-se que pelo menos uma das superfícies - a inferior - continuará limpa, sem poeira.
4 Caso, no processo de cálculo, existam câmaras de ar com espessura inferior a 1,0 cm, pode-se utilizar o
valor mínimo fornecido por esta tabela.

§ Resistência térmica de ambiente a ambiente (RT)


A resistência térmica de ambiente a ambiente é dada pela equação 4.4.

RT = Rse + Rt + Rsi [Eq. 4.4]


onde:
Rt é a resistência térmica de superfície a superfície, determinada pela equação 4.3;
Rse e Rsi são as resistências superficiais externa e interna, respectivamente, obtidas da Tabela 4.3.

A resistência térmica superficial varia de acordo com vários fatores tais como: emissividade, velocidade
do ar sobre a superfície e temperaturas da superfície, do ar e superfícies próximas. A Tabela 4.3 apresenta
valores médios recomendados.

Tabela 4.3. Resistência térmica superficial interna e externa.


Fonte: Projeto de Norma 02:135.07-002 (ABNT, 2003)

Rsi e Rse (m2.K/W)


Direção do fluxo de calor
Horizontal Ascendente Descendente

ð ñ ò

Rsi = 0,13 Rsi = 0,10 Rsi = 0,17


Rse = 0,04 Rse = 0,04 Rse = 0,04

54
4.2.3 Resistência térmica de componentes com camadas homogêneas e não homogêneas

§ Resistência térmica de superfície a superfície (Rt)


A resistência térmica de superfície a superfície de um componente plano constituído de camadas
homogêneas e não homogêneas (ver figura 4.1), perpendiculares ao fluxo de calor, é determinada pela
equação 4.5.

Aa + Ab +...+ An
Rt =
Aa Ab An [Eq. 4.5]
+ +...+
Ra Rb Rn

onde:
Ra, Rb, ... , Rn são as resistências térmicas de superfície a superfície para cada seção (a, b, …, n),
determinadas pela equação 4.3;
Aa, Ab, ..., An são as áreas de cada seção.

Figura 4.1. Seções de um componente com camadas homogêneas e não homogêneas.

§ Resistência térmica de ambiente a ambiente (RT)


A resistência térmica de ambiente a ambiente é dada pela equação 4.4, mostrada anteriormente.

4.2.4 Componentes com câmara de ar não ventilada

A resistência térmica de câmaras de ar (Rar) não ventiladas pode ser obtida na Tabela 4.2. Os valores da
resistência térmica de câmaras de ar não ventiladas apresentados na Tabela 4.2 são válidos para uma
temperatura média da camada entre 0°C e 20°C e com uma diferença de temperatura entre as superfícies
limitantes menor do que 15°C.
Para tijolos ou outros elementos com câmaras de ar circulares, deve-se transformar a área da
circunferência em uma área equivalente a um quadrado com centros coincidentes.
Para coberturas, independentemente do número de águas, a altura equivalente da câmara de ar para
cálculo é determinada dividindo-se por dois a altura da cumeeira.

4.2.5 Componentes com câmara de ar ventilada

São considerados dois tipos de ventilação para as câmaras de ar - pouco ou muito ventiladas - segundo
sua posição. As relações são dadas na Tabela 4.4.

55
Tabela 4.4. Condições de ventilação para câmaras de ar.
Fonte: Projeto de Norma 02:135.07-002 (ABNT, 2003)

Câmara de ar
Posição da câmara de ar
pouco ventilada muito ventilada
Vertical (paredes) S/L < 500 S/L ≥ 500
Horizontal (coberturas) S/A < 30 S/A ≥ 30
Notas:
S é a área total de abertura de ventilação, em cm2;
L é o comprimento da parede, em m;
A é a área da cobertura .

§ Em condições de verão (ganho de calor)


A resistência térmica da câmara de ar ventilada deve ser igual a da câmara de ar não ventilada e obtida
da Tabela 4.2.

§ Em condições de inverno (perda de calor)


Distinguem-se dois casos:
a) câmara pouco ventilada: a resistência térmica da câmara será igual a da câmara não ventilada
e obtida da Tabela 4.2;
b) câmara muito ventilada: a camada externa à câmara não será considerada e a resistência
térmica total (ambiente a ambiente) deve ser calculada pela equação 4.6.

RT = 2.Rsi + Rt [Eq. 4.6]

onde:
Rt é a resistência térmica da camada interna do componente construtivo. No caso de coberturas,
é a resistência térmica do componente localizado entre a câmara de ar e o ambiente interno -
forro;
Rsi é a resistência superficial interna obtida da Tabela 4.3.

§ Considerações quanto a ventilação de áticos


No caso de coberturas, a câmara de ar existente entre o telhado e o forro pode ser chamada de ático. A
ventilação do ático em regiões quentes é desejável e recomendável. Isto aumenta a resistência térmica da
câmara de ar e conseqüentemente reduz a transmitância térmica e os ganhos de calor. Porém, alerta-se que
em regiões com estação fria (inverno) a ventilação do ático provoca perdas de calor pela cobertura, o que não
é desejável.

4.3 CAPACIDADE TÉRMICA DE COMPONENTES


A capacidade térmica está relacionada à inércia térmica de um componente e é função da
condutividade térmica, do calor específico e da densidade de massa aparente dos materiais que compõem o
componente construtivo. Associados à inércia térmica estão o atraso térmico e o amortecimento da onda de
calor devido ao aquecimento e ou resfriamento dos materiais. Quando a temperatura exterior se eleva, um
certo fluxo de calor penetra na parede. Esse fluxo não atravessa a parede imediatamente; primeiro ocorre o
aquecimento interno da mesma. Assim, ocorre um atraso e um amortecimento térmico, conforme indicado
na Figura 4.2.
56
Figura 4.2. Exemplo de atraso térmico e amortecimento para um ambiente qualquer.

A capacidade térmica de componentes pode ser determinada pela equação 4.7.

n n
CT = ∑
i =1
?i .R i .c i .? i = ∑ e .c .?
i=1
i i i [Eq. 4.7]

onde:
CT é a capacidade térmica do componente (kJ/m2.K);
λi é a condutividade térmica do material da camada i (W/m.K);
Ri é a resistência térmica da camada i (m2.K/W);
ei é a espessura da camada i (m);
ci é o calor específico do material da camada i (kJ/kg.K);
ρi é a densidade de massa aparente do material da camada i (kg/m3).

4.3.1 Componentes com camadas homogêneas

A capacidade térmica de um componente plano constituído de camadas homogêneas perpendiculares


ao fluxo de calor é determinada pela equação 4.7.

4.3.2 Componentes com camadas homogêneas e não homogêneas

A capacidade térmica de um componente plano constituído de camadas homogêneas e não


homogêneas (ver figura 4.1), perpendiculares ao fluxo de calor, é determinada pela equação 4.8.

A a + Ab +...+ An
CT =
Aa A A [Eq. 4.8]
+ b +...+ n
C T a C Tb C Tn

onde:
CTa, CTb, ... , CTn são as capacidades térmicas do componente para cada seção (a, b, …, n),
determinadas pela equação 4.7;
Aa, Ab, ..., An são as áreas de cada seção.

57
4.3.3 Componentes com câmaras de ar

Como o ar apresenta uma densidade de massa aparente muito baixa (ρ = 1,2 kg/m3), a sua capacidade
térmica, em componentes com câmaras de ar, pode ser desprezada.

4.4 ATRASO TÉRMICO DE UM COMPONENTE


O atraso térmico representa o tempo transcorrido entre uma variação térmica em um meio e sua
manifestação na superfície oposta de um componente construtivo submetido a um regime periódico de
transmissão de calor. O atraso térmico depende da capacidade térmica do componente construtivo e da
ordem em que as camadas estão dispostas.

4.4.1 Elemento homogêneo

Em uma placa homogênea (constituída por um único material), com espessura “e” e submetida a um
regime térmico variável e senoidal com período de 24 horas, o atraso térmico pode ser estimado pela equação
4.9 ou pela 4.10.

?.c [Eq. 4.9]


ϕ = 1,382.e.
3,6.?

ϕ = 0,7284. R t .C T [Eq. 4.10]

onde:
ϕ é o atraso térmico (horas);
e é a espessura da placa (m);
λ é a condutividade térmica do material (W/m.K);
ρ é a densidade de massa aparente do material (kg/m3);
c é o calor específico do material (kJ/kg.K);
Rt é a resistência térmica de superfície a superfície do componente (m2.K/W);
CT é a capacidade térmica do componente (kJ/m2.K).

4.4.2 Elemento heterogêneo

No caso de um componente formado por diferentes materiais superpostos em “n” camadas paralelas
às faces (perpendiculares ao fluxo de calor), o atraso térmico varia conforme a ordem das camadas.
Para calor específico quando em (kJ/kg.K), o atraso térmico é determinado através da equação 4.11.

ϕ = 1,382.R t . B1 + B 2 [Eq. 4.11]

onde:
Rt é a resistência térmica de superfície a superfície do componente;
B1 é dado pela equação 4.12;
B2 é dado pela equação 4.13.

58
B0
B1 = 0,226. [Eq. 4.12]
Rt

 (λ.ρ.c)ext  R − R ext 
B 2 = 0,205. . R ext − t  [Eq. 4.13]
 Rt  10 
onde:
B0 é dado pela equação 4.14.

B0 = CT - CText [Eq. 4.14]


onde:
CT é a capacidade térmica total do componente;
CText é a capacidade térmica da camada externa do componente.

Notas:
1. Nas equações 4.13 e 4.14, o índice “ext” se refere à última camada do componente, junto à
face externa.
2. Considerar B2 nulo caso seja negativo.

4.5 FATOR DE CALOR SOLAR


O fator de calor solar representa o quociente da taxa de radiação solar transmitida através de um
componente opaco pela taxa da radiação solar total incidente sobre a superfície externa do mesmo. O fator
de calor solar (ou apenas fator solar) é dado pela equação 4.15.

FS = 100.U.α.Rse [Eq. 4.15]

onde:
FS é o fator solar (%);
U é a transmitância térmica do componente (W/m2.K);
α é a absortância à radiação solar – função da cor (adimensional);
Rse é a resistência superficial externa (m2.K/W), dada pela Tabela 4.3.

Como Rse é admitido constante e igual a 0,04, a equação 4.15 pode ser reescrita na forma da equação
4.16.
FS = 4.U.α [Eq. 4.16]

Quando deve-se respeitar um limite de fator solar para uma determinada região, pode-se determinar o
máximo valor de α em função do fator solar e da transmitância térmica, conforme mostra a equação 4.17.

α ≤ FS/(4.U) [Eq. 4.17]

59
A Tabela 4.5 apresenta a absortância (α) e a emissividade (ε) de algumas superfícies e cores.

Tabela 4.5. Absortância (α) para radiação solar (ondas curtas) e emissividade (ε)
para radiações a temperaturas comuns (ondas longas)
Fonte: Projeto de Norma 02:135.07-002 (ABNT, 2003)

Tipo de superfície α ε
Chapa de alumínio (nova e brilhante) 0,05 0,05
Chapa de alumínio (oxidada) 0,15 0,12
Chapa de aço galvanizada (nova e brilhante) 0,25 0,25
Caiação nova 0,12 / 0,15 0,90
Concreto aparente 0,65 / 0,80 0,85 / 0,95
Telha de barro 0,75 / 0,80 0,85 / 0,95
Tijolo aparente 0,65 / 0,80 0,85 / 0,95
Reboco claro 0,30 / 0,50 0,85 / 0,95
Revestimento asfáltico 0,85 / 0,98 0,90 / 0,98
Vidro comum de janela Transparente 0,90 / 0,95
Pintura: Branca 0,20 0,90
Amarela 0,30 0,90
Verde claro 0,40 0,90
“Alumínio” 0,40 0,50
Verde escuro 0,70 0,90
Vermelha 0,74 0,90
Preta 0,97 0,90

4.6 EXEMPLOS RESOLVIDOS


4.5.1. Determinar a transmitância térmica, a capacidade térmica, o atraso térmico e o fator de calor solar para a parede de tijolos cerâmicos de
seis furos rebocados em ambas as faces e mostrada na Figura 4.3
Dados:
Dimensões do tijolo = 32 x 16 x 10 cm
ρcerâmica = 1600 kg/m3
λcerâmica = 0,90 W/m.K (Tabela 4.1)
ccerâmica = 0,92 kJ/kg.K (Tabela 4.1)
ρargamassa = ρreboco = 2000 kg/m3
λargamassa = λreboco = 1,15 W/m.K (Tabela 4.1)
cargamassa = creboco = 1,00 kJ/kg.K (Tabela 4.1)

Para a câmara de ar, Rar = 0,16 m2.K/W (Tabela 4.2, superfície de alta emissividade, espessura da câmara de ar = 3,0 cm,
fluxo horizontal).

60
Elemento isolado

Vista em perspectiva
Figura 4.3. Parede de tijolos cerâmicos de seis furos rebocados em ambas as faces.

a) resistência térmica da parede:


Seção A (reboco + argamassa + reboco):
Aa = 0,01 x 0,32 + 0,01 x 0,17 = 0,0049 m2

ereboco e argamassa ereboco 0,02 0,10 0,02 0,14


Ra = + + = + + = = 0,1217 m2.K/W
λ reboco λ argamassa λ reboco 1,15 1,15 1,15 1,15
Seção B (reboco + tijolo + reboco):
Ab = 0,01 x 0,32 = 0,0032 m2
ereboco e cerâmica ereboco 0,02 0,10 0,02
Rb = + + = + + = 0,1459 m2.K/W
λ reboco λ cerâmica λ reboco 1,15 0,90 1,15
Seção C (reboco + tijolo + câmara de ar + tijolo + câmara de ar + tijolo + reboco):
Ac = 0,04 x 0,32 = 0,0128 m2
ereboco ecerâmica e e e
Rc = + + R ar + cerâmica + R ar + cerâmica + reboco
λ reboco λ cerâmica λ cerâmica λ cerâmica λ reboco

0,02 0,015 0,01 0,015 0,02


Rc = + + 0,16 + + 0,16 + + = 0,3992 m2.K/W
1,15 0,90 0,90 0,90 1,15
Portanto, a resistência da parede será:
A a + 4 xA b + 3 xA c 0,0049 + 4 x0,0032 + 3 x0,0128 0,0561
Rt = = = = 0,2502 m2.K/W
A a 4 xA b 3 xA c 0,0049 4 x0,0032 3 x0,0128 0,2242
+ + + +
Ra Rb Rc 0,1217 0,1459 0,3992

b) resistência térmica total:


RT = Rsi + Rt + Rse = 0,13 + 0,2502 + 0,04 = 0,4202 m2.K/W

c) transmitância térmica:
1 1
U= = = 2,38 W/m2.K
R T 0,4202

61
d) capacidade térmica da parede:
Seção A (reboco + argamassa + reboco):
Aa = 0,01 x 0,32 + 0,01 x 0,17 = 0,0049 m2
3
C Ta = ∑ e .c .ρ = (e.c.ρ)
i=1
i i i reboco + (e.c.ρ )arg amassa + (e.c.ρ )reboco

Como ρreboco = ρargamassa = 2000 kg/m3 e creboco = cargamassa = 1,00 kJ/kg.K, tem-se:
C Ta = 0,14 x1,00 x 2000 = 280 kJ/m2.K
Seção B (reboco + tijolo + reboco):
Ab = 0,01 x 0,32 = 0,0032 m2
3
C Tb = ∑ e .c .ρ = (e.c.ρ)
i=1
i i i reboco + (e.c.ρ )cerâmica + (e.c.ρ )reboco

C Tb = 0,02 x1,00 x 2000 + 0,10 x 0,92 x1600 + 0,02 x1,00 x 2000 = 227 kJ/m2.K
Seção C (reboco + tijolo + câmara de ar + tijolo + câmara de ar + tijolo + reboco):
Ac = 0,04 x 0,32 = 0,0128 m2
7
C Tc = ∑ e .c .?
i =1
i i i

C Tc = (e.c.? )reboco + (e.c.? )cerâmica + (e.c.? )ar + (e.c.? )cerâmica + (e.c.? )ar +
(e.c.?)cerâmica + (e.c.?)reboco
C Tc = 0,04x1,00x 2000 + 0,04x0,92x 1600 = 139 kJ/m2.K
Portanto, a capacidade térmica da parede será:
A a + 4 xA b + 3 xA c
CT = = 160 kJ/m2.K
Aa 4 xA b 3 xA c
+ +
C Ta C Tb C Tc

e) atraso térmico:
Rt = 0,2502 m2.K/W
B0 = CT - CText = 160 – 0,02.1,00.2000 = 120
B0 120
B1 = 0,226. = 0,226. = 108,4
Rt 0,2502

 (λ.ρ.c)ext  R − R ext 
B 2 = 0,205. . R ext − t 
 Rt  10 

 (1,15.2000 .1,00) ext


B 2 = 0,205.

  0,02 0,2502 −

0,02 (
1,15
) = -11,1
. 
 0,2502   1,15 10 
 
B2 é desconsiderado pois resultou em valor negativo.

ϕ = 1,382.R t . B1 + B 2 = 1,382.0,25 02. 108,4 = 3,6 horas

62
f) fator de calor solar:
FS = 4.U.α
Utilizando cor externa branca (α = 0,3), tem-se:
FS = 4.2,38.0,3 = 2,9%
Com α = 0,5, tem-se:
FS = 4.2,38.0,5 = 4,8%

4.5.2. Telhado inclinado de telhas de fibro-cimento com forro de pinus, lâminas de alumínio polido e câmara de ar ventilada (Figura 4.4).

Figura 4.4. Telhado inclinado de chapas de fibro-cimento com forro de pinus,


lâminas de alumínio polido e câmara de ar ventilada

Dados:
comprimento do telhado = 7 m
abertura de ventilação de 5 cm por 7 metros em cada beiral

Fibro-cimento:
ρfibro-cimento = 1700 kg/m3
λfibro-cimento = 0,65 W/m.K (Tabela 4.1)
cfibro-cimento = 0,84 kJ/kg.K (Tabela 4.1)
Pinus:
ρpinus = 500 kg/m3
λpinus = 0,15 W/m.K (Tabela 4.1)
cpinus = 1,34 kJ/kg.K (Tabela 4.1)

Verificação das condições de ventilação da câmara de ar:


S = 2 (700 x 5) = 7000 cm2
A = 4 x 7 = 28 m2
S 7000
= = 250 cm2/m2
A 28
S/A >> 30 logo, a câmara é muito ventilada.

63
a) no verão:
Para a câmara de ar, Rar = 0,61 m2.K/W (Tabela 4.2, superfície de baixa emissividade, espessura da câmara de ar = 25,0
cm > 5,0 cm, direção do fluxo descendente).

Resistência térmica:

e fibro−cimento e pinus 0,008 0,01


Rt = + R ar + = + 0,61 + = 0,6890 m2.K/W
?fibro−cimento ?pinus 0,65 0,15
Resistência térmica total:
RT = Rsi + Rt + Rse = 0,17 + 0,6890 + 0,04 = 0,8990 m2.K/W
Transmitância térmica:
1 1
U= = = 1,11 W/m2.K
R T 0,8990

b) no inverno:
Resistência térmica total:

epinus 0,01
R T = 2.R si + R pinus = 2.0,10 + = 0,20 + = 0,2667 m2.K/W
?pinus 0,15
Transmitância térmica:
1 1
U= = = 3,75 W/m2.K
R T 0,2667

c) capacidade térmica da cobertura:


3
CT = ∑ e .c .ρ = (e.c.ρ)
i=1
i i i fibro −cimento + (e.c.ρ )ar + (e.c.ρ )pinus

C T = 0,008 x 0,84 x1700 + 0 + 0,01x1,34 x500 = 18 kJ/m2.K

d) atraso térmico para o verão:


Rt = 0,6890 m2.K/W
B0 = CT - CText = 18 – 0,008.0,84.1700 = 6,6
B0 6,6
B1 = 0,226. = 0,226. = 2,2
Rt 0,6890

 (λ.ρ.c)ext  R − R ext 
B 2 = 0,205. . R ext − t 
 Rt  10 


 (0,65.1700 .0,84) ext   0,008 0,6890 −
B 2 = 0,205. −
0,008
0,65
( ) = -15,3
. 
 0,6890  0,65 10 
 
B2 é desconsiderado pois resultou em valor negativo.

ϕ = 1,382.R t . B1 + B 2 = 1,382.0,68 90. 2,2 = 5,5 horas

64
e) fator de calor solar para o verão:
FS = 4.U.α
Utilizando cor externa branca (α = 0,3), tem-se:
FS = 4.1,11.0,3 = 1,3%
Com α = 0,5, tem-se:
FS = 4.1,11.0,5 = 2,2%
Com α = 0,8, tem-se:
FS = 4.1,11.0,8 = 3,6%

4.7 DESEMPENHO TÉRMICO DE PAREDES


A condição essencial para a transmissão de calor é que os corpos tenham temperaturas diferentes. A
Figura 4.5 exemplifica esta afirmação.

ð
T1 T1 > T2 T2

A B
Figura 4.5. Condição para transferência de calor.

O corpo A cede parte de sua energia térmica, o que provoca um abaixamento de sua temperatura
enquanto que o B, ao assimilar esta energia térmica, aumentará sua temperatura. O processo continua até que
as temperaturas se igualem (T1 = T2), ou seja, até que se atinja o equilíbrio térmico.
Para o caso de paredes, a Figura 4.6 apresenta o sentido do fluxo de calor em função da diferença de
temperatura externa e interna.

· q ·
Text ð Tint

Text > Tint


Figura 4.6. Transferência de calor em uma parede.

Portanto, a equação 4.18 mostra o fluxo de calor que atravessa a parede.

q = U.(Text – Tint) = U. ∆T [Eq. 4.18]

onde:
q é a densidade de fluxo de calor (W/m2);
U é a transmitância térmica (W/m2.K);
∆T é a diferença de temperatura entre os meios externo e interno (K).

65
O fluxo de calor que incidirá no ambiente interno será dado pela equação 4.19.

φ = q.A = U.∆T.A [Eq. 4.19]

onde:
φ é o fluxo de calor (W);
U é a transmitância térmica (W/m2.K);
∆T é a diferença de temperatura entre os meios externo e interno (K);
A é a área do componente (m2).
Porém, o fluxo de calor não é função apenas de ∆T. Ele é função, também, da radiação solar incidente
na superfície. Assim, antes de incluir a radiação solar nos cálculos, apresenta-se uma breve revisão das formas
de transmissão de calor.

4.7.1 Formas de transmissão de calor

§ Condução
A condução se realiza por contato molecular, ou melhor, por contato entre as moléculas dos corpos.
Ocorre em sólidos, líquidos e gases. No entanto, nos fluidos ocorrem fenômenos convectivos que alteram o
processo original. Por esta razão, a condução refere-se aos sólidos. Poderá ser relacionada aos fluidos quando
não se verificam movimentos convectivos.

§ Convecção
A convecção se verifica quando os corpos estão em contato molecular e um deles, pelo menos, é um
fluido. O processo possui duas fases: na primeira o calor se transmite por condução; na segunda, a alteração
sofrida pela temperatura do fluido modifica sua densidade provocando o movimento convectivo.

§ Radiação
A radiação ocorre mediante uma dupla transformação da energia: uma parte do calor do corpo com
maior temperatura se converte em energia radiante que chega até o corpo com menor temperatura, onde é
absorvida numa proporção que depende das propriedades da superfície receptora, sendo novamente
transformada em calor.
As propriedades da superfície receptora são representadas pela emissividade ε (ou poder emissivo) do
corpo (Tabela 4.5).
A emissividade está relacionada às fontes de baixa temperatura (ondas longas). Quando a superfície
está exposta à radiação solar (fonte de alta temperatura – onda curta) as propriedades desta superfície são
representadas pela absortância α (Tabela 4.5).

§ Condensação
O ar, a uma temperatura determinada, pode conter apenas uma certa quantidade de vapor d’água. Esta
quantidade aumenta à medida que aumenta a temperatura do ar. Quando se atinge o valor máximo diz-se que
o ar está saturado e atingiu-se a temperatura de orvalho. Deste modo, qualquer abaixamento em relação a este
valor significará o começo da condensação.

66
4.7.2 Comportamento dos materiais opacos diante da radiação solar

Quando a energia radiante incide sobre um corpo opaco ela é absorvida ou refletida, como pode se
observar na Figura 4.7.

α
ρ

Figura 4.7. Radiação solar em superfícies opacas.

A equação 4.20 mostra o balanço térmico para a Figura 4.7.

α.RS + ρ.RS = RS ⇒ α + ρ = 1 [Eq. 4.20]

onde:
α é a absortância à radiação solar (função da cor);
ρ é a refletância à radiação solar.

A energia radiante absorvida se transforma em energia térmica ou calor; a refletida não sofre
modificação alguma. Desta forma, a radiação solar será incluída no cálculo do fluxo de calor através de uma
temperatura equivalente ou, como é comumente chamada temperatura sol-ar. Portanto, a equação 4.19 pode
ser reescrita na forma da equação 4.21.

φ = U.∆T.A = U.A.(Tsol-ar – Tint) [Eq. 4.21]

A temperatura sol-ar (Tsol-ar) representa o efeito combinado da radiação solar incidente no fechamento
e dos intercâmbios de energia por radiação e convecção entre a superfície e o meio envolvente; nestes
processos intervêm a absortância (α) e a emissividade (ε) do material. A temperatura sol-ar é dada pela
equação 4.22.

Tsol-ar = Text + α.RS.Rse - ε.∆RL.Rse [Eq. 4.22]

onde:
Tsol-ar é a temperatura sol-ar (oC);
Text é a temperatura do meio externo (oC);
α é a absortância à radiação solar (adimensional);
RS é a radiação total incidente na superfície (W/m2);
Rse é a resistência superficial externa; representa os intercâmbios de calor por convecção e radiação
entre a superfície e o meio (m2.K/W);
ε é a emissividade da superfície (adimensional);
∆RL é a diferença entre a radiação de onda longa emitida e recebida pela superfície (W/m2).

67
Para planos verticais, a diferença entre a radiação de onda longa emitida e recebida pela superfície
(∆RL) é nula pois as perdas ficam compensadas pela radiação de onda longa recebida do solo e das superfícies
do meio. Portanto, para paredes, a equação 4.22 pode ser reescrita na forma da equação 4.23.

Tsol-ar = Text + α.RS.Rse [Eq. 4.23]

Assim, substituindo-se a temperatura sol-ar na equação 4.21, o fluxo de calor em planos verticais
(paredes) será dado pela equação 4.24.

φ = U.A.( Text + α.RS.Rse – Tint) [Eq. 4.24]

4.8 DESEMPENHO TÉRMICO DE COBERTURAS


Para planos horizontais, como coberturas, o termo ε.∆RL.Rse, segundo dados experimentais, é igual a
4oC, visto que as camadas altas da atmosfera têm sempre uma baixa temperatura fazendo com que estes
planos percam permanentemente energia por radiação. Portanto, para coberturas, a equação 4.22 pode ser
reescrita na forma da equação 4.25.

Tsol-ar = Text + α.RS.Rse – 4 [Eq. 4.25]

Esta subtração de 4oC também se aplica durante o período noturno. A condensação da umidade
atmosférica é facilmente percebida nestas superfícies horizontais devido às perdas de calor por radiação.
Assim, substituindo-se a temperatura sol-ar (equação 4.25) na equação 4.21, o fluxo de calor em planos
horizontais (coberturas) será dado pela equação 4.26.

φ = U.A.(Text + α.RS.Rse – 4 – Tint) [Eq. 4.26]

4.9 DESEMPENHO TÉRMICO DE JANELAS


Os vidros são materiais transparentes às radiações visíveis e que permitem a iluminação natural do
espaço interior e estabelecem uma conexão visual com o exterior. Porém, podem gerar problemas térmicos,
acústicos e econômicos.
Quando a energia radiante incide sobre uma superfície transparente ela é absorvida, refletida ou
transmitida como pode se observar na Figura 4.8.
A equação 4.27 mostra o balanço térmico para a Figura 4.8.

α.RS + ρ.RS + σ.RS = RS ⇒ α + ρ + σ = 1 [Eq. 4.27]

onde:
α é a absortância do vidro;
ρ é a refletância do vidro;
σ é a transmissividade do vidro.

68
α

ρ σ

Figura 4.8. Radiação solar em superfícies transparentes.

Um corpo ao receber energia radiante, reage seletivamente, o que significa que a quantidade de energia
que absorve, reflete ou transmite depende do comprimento de onda do raio incidente. Com o vidro acontece
um fenômeno similar como mostra a Figura 4.9.

4.9.1 Vidro comum

Se um raio formado exclusivamente por uma onda eletromagnética de 1,6 µm, por exemplo, incide
perpendicularmente sobre este vidro, 80% de sua energia se transmitirá por transparência e os 20% restantes
serão refletidos e absorvidos. Este vidro é muito transparente aos comprimentos de onda entre 0,4 e 2,8 µm,
isto é, numa banda que inclui as radiações visíveis, o infravermelho próximo e parte de infravermelho médio.
A partir deste limite, a transmissão desce bruscamente até que após os 4 µm o vidro passa a comportar-se
como um material totalmente opaco à radiação incidente.
Quais os fenômenos térmicos que ocorrem em um local quando um raio de sol incide sobre um vidro
comum?
Parte dessa energia passa por transparência ao interior do local e é absorvida e refletida pelos móveis e
paredes. A energia absorvida se transforma em calor provocando a elevação da temperatura do meio. Como
essa energia retorna ao exterior? A primeira possibilidade é por convecção. Nos locais fechados esta forma de
transmissão constitui um processo lento já que primeiro deve ser aquecido o ar; depois, mediante
movimentos convectivos, este atingirá o vidro, o qual, mediante processos de condução, será transmitido em
parte ao exterior. A outra forma é por radiação. No entanto, os corpos, à temperatura normal do ambiente
em que estamos, emitem energia radiante de onda longa (em torno de 9 µm). Para este comprimento de
onda, o vidro é opaco. Este processo onde a radiação solar entrou facilmente no local e encontrou
dificuldades para sair é denominado efeito estufa.

69
Figura 4.9. Comportamento de alguns vidros diante da energia radiante.

4.10 VIDROS ESPECIAIS


Para amenizar as conseqüências térmicas criadas pelo vidro comum desenvolveram-se outros tipos de
vidro como os vidros absorventes (ou atérmicos) e os vidros refletores. A Tabela 4.6 apresenta o percentual
transmitido (σ), absorvido (α) e refletido (ρ) por alguns tipos de vidro.

Tabela 4.6. Comportamento térmico de alguns vidros.


Fonte: RIVERO (1986)

Tipo de vidro σ α ρ
Comum 0,85 0,07 0,08
Absorvente claro 0,52 0,41 0,07
Absorvente médio 0,31 0,63 0,06
Absorvente escuro 0,09 0,86 0,05
Refletor médio 0,25 0,42 0,33
Refletor escuro 0,11 0,42 0,47

70
4.10.1 Fluxo de calor através da janela

Com base na equação de densidade de fluxo de calor para paredes, pode-se perceber que no caso de
janelas deve-se acrescentar a parcela de fluxo de calor que penetra no ambiente por transparência, conforme
indica a equação 4.28.

q = U.(Text + α.RS.Rse – Tint) + σ.RS [Eq. 4.28]

Separando-se os ganhos de calor devido a diferença de temperatura e devido a incidência de radiação


solar obtém-se a equação 4.29.

q = U.(Text– Tint) + (U.α.Rse + σ).RS [Eq. 4.29]

Desta forma, a parcela U.α.Rse+σ é chamada de fator solar (Fs). Este fator representa a razão entre a
quantidade de radiação solar que atravessa e a que incide na janela. A equação 4.30 apresenta a forma
simplificada de determinação de densidade de fluxo de calor em janelas.

q = U. ∆T + Fs.RS [Eq. 4.30]

A Tabela 4.7 apresenta o fator solar para alguns tipos de superfícies transparentes e proteções solares.

71
Tabela 4.7. Fator solar para alguns tipos de superfícies transparentes.
Fonte: LAMBERTS et al. (1997)

Superfícies transparentes Fs
Vidros Transparente (simples) 3 mm 0,87
Transparente (simples) 6 mm 0,83
Transparente (duplo) 3 mm 0,75
Cinza (fumê) 3 mm 0,72
Cinza (fumê) 6 mm 0,60
Verde 3 mm 0,72
Verde 6 mm 0,60
Reflexivo 3 mm 0,26 – 0,37
Películas Reflexiva 0,25 – 0,50
Absorvente 0,40 – 0,50
Acrílico Claro 0,85
Cinza ou bronze 0,64
Reflexivo 0,18
Policarbonato Claro 0,85
Cinza ou bronze 0,64
Domos Claro 0,70
Translúcido 0,40
Tijolo de vidro 0,56
Proteções solares Fs
Internas Cortina translúcida 0,50 – 0,75
Cortina semi-translúcida 0,40 – 0,60
Cortina opaca 0,35 – 0,60
Persiana inclinada 45o 0,64
Persiana fechada 0,54
Externas Toldo 45o translúcido*** 0,36
Toldo 45o opaco*** 0,20
Venezianas 0,09
Esteira de madeira 0,09
Venezianas horizontais** 0,19
Brise horizontal*** 0,25
Light-shelf (espelhada)* 0,58
* Com vidro duplo, horizontal, metade da abertura com insolação direta.
** Com vidro duplo, branca e razão largura/espaçamento =1,0.
*** Toda a abertura está sombreada.
Os casos não especificados apresentam vidro simples de 3 mm.

72
4.11 RADIAÇÃO SOLAR
Para análise de fluxo de calor através de componentes construtivos, são necessários dados de radiação
solar para a localidade onde a edificação será implantada. Quando os dados medidos de radiação solar não
estão disponíveis, pode-se usar dados de radiação solar estimados. A Tabela 4.8 apresenta a radiação solar
(RS) incidente em diferentes orientações e em diferentes horas do dia para o dia 22 de dezembro na latitude
30o Sul. Informações para outras latitudes ou outros períodos do ano podem ser obtidas em Frota e Schiffer
(1995).

Tabela 4.8. Radiação solar incidente em planos verticais e horizontais para o dia 22 de dezembro na latitude 30° Sul.
Fonte: FROTA e SCHIFFER (1995)

Orientação Radiação solar (W/m2)


6h 7h 8h 9h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h 18h
Sul 142 188 143 78 63 68 65 68 63 78 143 188 142
Sudeste 330 563 586 502 345 116 65 68 63 58 50 43 25
Leste 340 633 715 667 517 309 65 68 63 58 50 43 25
Nordeste 165 357 456 475 422 311 146 68 63 58 50 43 25
Norte 25 43 50 58 117 170 179 170 117 58 50 43 25
Noroeste 25 43 50 58 63 68 146 311 422 475 456 357 165
Oeste 25 43 50 58 63 68 65 309 517 667 715 633 314
Sudoeste 25 43 50 58 63 68 65 116 345 502 586 563 330
Horizontal 114 345 588 804 985 1099 1134 1099 985 804 588 345 114

4.12 EXEMPLOS RESOLVIDOS

4.11.1. Tem-se uma parede de cor branca com transmitância térmica de 3,00 W/m2K. Determinar a transmitância que deve ter uma parede
quando pintada de preto para que a densidade de fluxo de calor (W/m2) seja a mesma. Orientação leste. Latitude 30o Sul. Pior situação de
verão.

Solução:
Parede branca Parede preta
U = 3,00 W/m2K U=?
α = 0,3 α = 0,8
RS = 715 W/m2 RS = 715 W/m2
Rse = 0,04 m2K/W Rse = 0,04 m2K/W
Text = 30oC Text = 30oC
Tint = 20oC Tint = 20oC

Temos que:
q = U.(Text + α.RS. Rse – Tint)

73
Para a parede branca, temos:
qb = 3,00.(30 + 0,3.715.0,04 – 20)

Para a parede preta, temos:


qp = U.(30 + 0,8.715.0,04 – 20)

Pelo enunciado do problema, a densidade de fluxo de calor deve ser a mesma para as duas situações. Portanto,
qb = qp ð 3,00.(30 + 0,3.715.0,04 – 20) = U.(30 + 0,8.715.0,04 – 20)

Logo, U = 1,46 W/m2K.

4.11.2. Determinar a espessura de cada uma das paredes do exemplo anterior, supondo-as de concreto maciço (λconcreto = 1,75 W/mK).

Solução:

Para a parede branca tem-se:


U = 3,00 W/m2K
RT = 1/U = 1/3,00 = 0,3333 m2K/W
RT = Rse + Rt + Rsi
onde Rsi = 0,13 m2K/W
Rse = 0,04 m2K/W

Logo,
Rt = 0,3333 – 0,13 – 0,04 = 0,1633 m2K/W

Por definição, temos:


Rt = e/λ ð e = Rt.λ = 0,1633.1,75 = 0,30 m = 30 cm.

Para a parede preta tem-se:


U = 1,46 W/m2K
RT = 1/U = 1/1,46 = 0,6849 m2K/W
RT = Rse + Rt + Rsi
onde Rsi = 0,13 m2K/W
Rse = 0,04 m2K/W

Logo,
Rt = 0,6849 – 0,13 – 0,04 = 0,5149 m2K/W

Por definição, temos:


Rt = e/λ ð e = Rt.λ = 0,5149.1,75 = 0,90 m = 90 cm.

74
4.11.3. Uma cobertura com telhas de fibro-cimento e forro de pinus apresenta uma transmitância térmica de 2,00 W/m2K para a situação
de verão. Latitude 30oSul. Área = 28,00 m2. Determinar o fluxo de calor para o horário de máxima radiação solar. Admitir temperatura
externa e interna iguais.

Solução
O fluxo de calor é dado pela equação:
φ = U.A.(Text + α.RS. Rse – 4 – Tint)

Assume-se α = 0,8 (fibro-cimento escurecido pelo tempo);


Rse = 0,04 m2K/W (Tabela 4.3);
RS = 1134 W/m2 (às 12 horas – Tabela 4.8).

Portanto, o fluxo de calor será:


φ = 2,00.28,00.(0,8.1134.0,04 – 4) = 1808 W.

4.11.4. Determinar a densidade de fluxo de calor em uma janela oeste com vidro comum de 3 mm (U = 5,8 W/m2K). Latitude 30oSul.

Solução:
Fs = 0,87 (Tabela 4.7);
RS = 715 W/m2 (Tabela 4.8);
Text = 30oC;
Tint = 25oC.

q = U.∆T + Fs.RS = 5,8.(30 – 25) + 0,87.715 = 651,05 W/m2.

4.11.5. Substituindo o vidro anterior por vidro cinza fumê de 3 mm (Fs = 0,72), teremos:

q = U.∆T + Fs.RS = 5,8.(30 – 25) + 0,72.715 = 543,80 W/m2.

4.11.6. Utilizando persiana fechada (Fs = 0,54) no exemplo 4.11.4, teremos:

q = U.∆T + Fs.RS = 5,8.(30 – 25) + 0,54.715 = 415,10 W/m2.

4.11.7. Utilizando venezianas (Fs = 0,09) no exemplo 4.11.4, teremos:

q = U.∆T + Fs.RS = 5,8.(30 – 25) + 0,09.715 = 93,35 W/m2.

75
4.13 DIRETRIZES CONSTRUTIVAS PARA HABITAÇÕES UNIFAMILIARES DE INTERESSE
SOCIAL
O Projeto de Norma 02:135.07-003 (ABNT, 2003) apresenta um Zoneamento Bioclimático Brasileiro
e um conjunto de recomendações e estratégias construtivas destinadas às habitações unifamiliares de interesse
social para cada zona bioclimática. O zoneamento foi desenvolvido por Roriz et al. (1999, 2000) e
compreende oito zonas bioclimáticas conforme indicado na Figura 4.10.
Para a formulação das diretrizes construtivas e para o estabelecimento das estratégias de
condicionamento térmico passivo foram considerados os seguintes parâmetros e condições de contorno:
a) limites de transmitância térmica, atraso térmico e fator de calor solar para vedações externas (parede e cobertura);
b) tamanho das aberturas para ventilação;
c) proteção das aberturas, e
d) estratégias de condicionamento térmico passivo.

A Tabela 4.9 apresenta os limites aceitáveis de transmitância térmica, atraso térmico e fator de calor
solar para coberturas em cada zona bioclimática.

Tabela 4.9. Limites aceitáveis de indicadores do desempenho térmico de coberturas.

Coberturas Transmitância térmica Atraso térmico Fator Solar


Zona
recomendadas (W/m2.K) (horas) (%)
1a6 Leves e isoladas U ≤ 2,00 ϕ ≤ 3,3 FS ≤ 6,5
7 Pesadas U ≤ 2,00 ϕ ≥ 6,5 FS ≤ 6,5
8 Leves e refletoras U ≤ 2,30 x FT* ϕ ≤ 3,3 FS ≤ 6,5
* FT é um fator de correção que admite transmitâncias mais altas em coberturas com áticos ventilados (ABNT, 2003).

Figura 4.10. Zoneamento Bioclimático Brasileiro.

76
A Tabela 4.10 apresenta os limites aceitáveis de transmitância térmica, atraso térmico e fator de calor
solar para paredes externas em cada zona bioclimática.

Tabela 4.10. Limites aceitáveis de indicadores do desempenho térmico de paredes externas.

Transmitância
Paredes externas Atraso térmico Fator Solar
Zona térmica
recomendadas (horas) (%)
(W/m2.K)
1e2 Leves U ≤ 3,00 ϕ ≤ 4,3 FS ≤ 5,0
3, 5 e 8 Leves e refletoras U ≤ 3,60 ϕ ≤ 4,3 FS ≤ 4,0
4, 6 e 7 Pesadas U ≤ 2,20 ϕ ≥ 6,5 FS ≤ 3,5

A Tabela 4.11 apresenta o percentual de área de abertura recomendada para permitir a ventilação
natural dos ambientes e a indicação da necessidade de sombreamento das aberturas em cada zona
bioclimática.

Tabela 4.11. Recomendações quanto ao dimensionamento e sombreamento de aberturas.

Área de abertura para ventilação


Zona Sombreamento das aberturas
(A = % da área do piso)
1, 2 e 3 Média: 15% < A < 25% Permitir sol durante o período frio
4, 5 e 6 Média: 15% < A < 25% Sombrear
7 Pequena: 10% < A < 15% Sombrear
8 Grande: A > 40% Sombrear

O Projeto de Norma 02:135.07-003 (ABNT, 2003) apresenta também as estratégias bioclimáticas


recomendadas para cada zona bioclimática, conforme indicadas na Tabela 4.12.

Tabela 4.12. Estratégias bioclimáticas correspondentes à cada zona, para verão e inverno.

Estação Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5 Zona 6 Zona 7 Zona 8


Verão - J J H, J J H, J H, J J, K
Inverno A, B, C A, B, C B, C B, C C C - -

As estratégias bioclimáticas são as seguintes:


A: Sistema artificial de aquecimento
B: Aquecimento solar da edificação
C: Massa térmica para aquecimento
D: Conforto térmico (baixa umidade)
E: Conforto térmico
F: Desumidificação (renovação do ar)
G+H: Resfriamento evaporativo
H+I: Massa térmica de refrigeração
I+J: Ventilação
K: Sistema artificial de refrigeração
L: Umidificação do ar

77
4.14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LEITURA RECOMENDADA
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Projeto de Norma 02:135.07-001: Desempenho térmico
de edificações - Parte 1: Definições, símbolos e unidades. Rio de Janeiro, 2003. 10p.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Projeto de Norma 02:135.07-002: Desempenho térmico
de edificações - Parte 2: Métodos de cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica, do
atraso térmico e do fator de calor solar de elementos e componentes de edificações. Rio de Janeiro,
2003. 27p.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Projeto de Norma 02:135.07-003: Desempenho térmico
de edificações - Parte 3: Zoneamento Bioclimático Brasileiro e Diretrizes Construtivas para
Habitações Unifamiliares de Interesse Social. Rio de Janeiro, 2003. 28p.
FROTA, A. B.; SCHIFFER, S. R. Manual de conforto térmico. São Paulo: Nobel, 1995. 228 p.
GHISI, E.; RODAS, P. A. G. Transmitância térmica de elementos construtivos. Florianópolis: LabEEE
- Laboratório de Eficiência Energética em Edificações / UFSC, 1997. (Relatório Interno).
GHISI, E.; LAMBERTS, R. Desempenho térmico de edificações: cálculo da transmitância e da
capacidade térmica de elementos e componentes. Florianópolis: Núcleo de Pesquisa em
Construção/UFSC, 1997. 19 p. (Texto base para norma).
KOENIGSBERGER, O. H.; INGERSOLL, T. G.; MAYHEW, A.; SZOKOLAY, S. V. Manual of tropical
housing and building. Part 1: climatic design. London: Longman Group Limited, 1980. 320 p.
LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F.O.R. Eficiência Energética na Arquitetura. 2. ed. São Paulo:
PW Editores, 2004.
RIVERO, R. Arquitetura e clima: acondicionamento térmico natural. 2a ed. Porto Alegre: DC Luzzatto
Editores Ltda, 1986. 240 p.
RORIZ, M.; GHISI, E.; LAMBERTS, R. A first step towards the Brazilian standardisation on thermal
performance of buildings. In: COTEDI 2000, Venezuela. Anais... Venezuela: COTEDI, 2000.
p.297-302.
RORIZ, M.; GHISI, E.; LAMBERTS, R. Uma Proposta de Norma Técnica Brasileira sobre Desempenho
Térmico de Habitações Populares. In: V Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído,
Fortaleza-CE. Anais eletrônico... Fortaleza: ENCAC,1999. Artigo número 288 (8 páginas).

78
5. ILUMINAÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL
Ana Lígia Papst e Enedir Ghisi

5.1 INTRODUÇÃO
“O que nós vemos depende não somente da qualidade física da luz ou da cor presente, mas também
do estado dos nossos olhos na hora da visão e da quantidade de experiência visual que nós temos que lançar
mão para nos ajudar no nosso julgamento... O que vemos depende não só da imagem que é focada na retina
mas da mente que a interpreta. “ (HOPKINSON e KAY, 1969).
Este capítulo trata da iluminação natural e artificial, para isso abordará primeiro as características físicas
da luz, alguns aspectos subjetivos da percepção visual, as aberturas e suas funções, normas, integração da
iluminação natural e artificial e por último especificações e análise de investimentos para iluminação artificial.

5.2 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA LUZ


Luz ou radiação visível é a energia em forma de ondas eletromagnéticas capazes de excitar o sistema
olho- cérebro, produzindo uma sensação visual. Na Figura 5.1 observa-se que a luz visível é a banda de
energia radiante situada entre 0,38 a 0,78 µm (10-6m).
A principal fonte de luz natural é o sol. A luz solar tem de forma equilibrada todas as cores existentes
na natureza, a chamada luz branca. Como é visto na Figura 5.1, a radiação solar que atinge a terra inclui
outros comprimentos de onda: raios ultravioleta (capazes de danificar alguns materiais, alterando suas cores) e
os raios infravermelhos (ondas longas, que produzem calor) .
Fluxo radiante é a potência (Watts) da radiação eletromagnética emitida ou recebida por um corpo. O
fluxo radiante pode conter frações visíveis e não visíveis. O componente de qualquer fluxo radiante que gera
uma resposta visual é chamado de fluxo luminoso (expresso em lúmens).
Quando a luz emitida por uma fonte atinge uma superfície, esta superfície será iluminada. Iluminância
é a medida da quantidade de luz incidente numa superfície por unidade de área, sua unidade é lúmen/m2 ou
lux. Esta luz ao incidir numa superfície poderá ser refletida, absorvida ou transmitida. Chama-se luminância a
intensidade da luz refletida (ou transmitida) por uma superfície em determinada direção. Sua unidade é
candela/m2. Esta intensidade da luz refletida (ou transmitida) depende da quantidade de luz incidente, e das
características da superfície, cor e textura.
Na região tropical, a radiação solar direta geralmente não é desejada como fonte primária de
iluminação devido à sua elevada carga térmica e luminosa. A luz solar difundida na abóbada celeste é mais
interessante para um projeto de iluminação natural, pois a iluminação proveniente da abóbada celeste é suave
e não direcional. A iluminância proveniente da abóbada celeste pode variar de 5.000 a 20.000 lux, enquanto a
iluminância proveniente da radiação solar direta pode chegar a 100.000 lux.

79
Figura 5.1 Espectro visível e espectro solar (Luciano Dutra©).

5.3 ASPECTOS SUBJETIVOS DA PERCEPÇÃO VISUAL


O sistema visual humano é responsável por uma grande parte do contato que a maioria das pessoas
tem com o mundo exterior. Este é responsável em traduzir luz, cor e formas para o cérebro. A visão pode ser
definida como a habilidade de obter informações através da luz, e a percepção é interpretação do que os
olhos vêem.
O conforto visual é entendido como a existência de um conjunto de condições, num determinado
ambiente, no qual o ser humano pode desenvolver suas tarefas visuais com o máximo de acuidade e precisão
visual, com o menor esforço, com menor risco de prejuízos à vista e com reduzidos riscos de acidentes.
Os fatores que afetam o desempenho de tarefas visuais podem ser divididos em três grupos, conforme
mostra a Tabela 5.1.
Tabela 5.1. Fatores que afetam o desempenho de tarefas visuais.
Grupos Fatores
Tarefa Tamanho dos detalhes, proximidade
Tempo de duração da tarefa
Contraste dos detalhes em relação ao entorno imediato
Familiaridade com a tarefa
Condições de luz Nível de iluminação
Luminância
Ofuscamento
Condições do observador Condições dos olhos
Adaptação
Fadiga Visual

80
5.3.1 Nível de iluminação conforme a tarefa visual

Com relação ao nível de iluminação, alguns valores são recomendados conforme a tarefa visual a ser
desempenhada. A Tabela 5.2 exemplifica os valores de iluminância recomendados pela NBR 5413 por classe
de tarefas visuais.

Tabela 5.2. Valores de iluminâncias recomendados pela NBR 5413 em função do tipo de atividade.

Ilumiância (lux) Tipo de Atividade


20-30-50 Áreas públicas com arredores escuros
50-75-100 Orientação simples para permanência curta
100-150-200 Recintos não usados para trabalho contínuo (depósitos)
200-300-500 Tarefas com requisitos visuais limitados (auditórios)
500-750-1000 Tarefas com requisitos visuais normais (escritórios)
1000-1500-2000 Tarefas com requisitos visuais especiais (gravação manual)
2000-3000-5000 Tarefas visuais exatas e prolongadas (eletrônica de tamanho pequeno)
5000-7500-1000 Tarefas visuais muito exatas (montagem de micro eletrônica)
10000-15000-20000 Tarefas visuais muito especiais (cirurgia)

A adoção da iluminância inferior, média ou superior é determinada através da soma algébrica,


considerando o sinal, dos fatores determinantes da Tabela 5.3. Usa-se a iluminância inferior da Tabela 5.2
quando o resultado da soma dos fatores for igual a –2 ou –3; usa-se a iluminância superior quando a soma for
+2 ou +3; adota-se a iluminância média nos outros casos.
Pela Tabela 5.2 observa-se que a NBR5413 recomenda valores médios de 750 lux para atividades de
escritório. Este valor de 750 lux pode ser excessivo para se propor para todo um pavimento de escritórios.
Neste caso é importante propor a iluminação de tarefa com 750 lux, a iluminação geral com 1/3 da
iluminação de tarefa, ou seja 250 lux, e a iluminação de circulação com 1/3 da iluminação geral, 100 lux.

Tabela 5.3 Fatores determinantes da iluminância adequada (Fonte: NBR 5413)

Característica da tarefa Peso


e do observador -1 0 +1
Idade Inferior a 40 anos 40 a 55 anos Superior a 55 anos
Velocidade e precisão Sem importância Importante Crítica
Refletância do fundo da tarefa 30% a 70% Inferior a 30%

5.3.2 Luminância

Com relação à luminância, os contrastes recomendados para iluminação interior para obtenção de
máxima produtividade são apresentados na Tabela 5.4. Observa-se que para evitar distrações recomenda-se a
tarefa mais iluminada que o entorno imediato.
Os valores da Tabela 5.4 não se aplicam em situações onde:
§ A luz deve salientar de forma dramática certos objetos
§ A iluminação mais atmosférica e emocional é desejada
§ Questões estéticas e plásticas são dominantes.

81
Tabela 5.4 Contrastes recomendados para obtenção de máxima produtividade

Proporção Relação Exemplo


Entre tarefa e o entorno imediato 3:1 Livro e mesa de trabalho
Entre tarefa e o entorno geral 5:1 Livro e superfícies próximas
Entre tarefa e superfícies escuras afastadas 10:1 Livro e parede escura afastada
Entre tarefa e superfícies claras afastadas 0,1:1 Livro e parede clara afastada
Entre a fonte de luz e superfícies adjacentes 20:1 Janela e parede próxima
Máximo contraste 40:1 Livro e janela ou luminária

5.3.3 Ofuscamento

Quando o processo de adaptação não transcorre normalmente devido a uma variação muito grande da
iluminação e/ou de uma velocidade muito grande, experimenta-se uma perturbação, um desconforto ou até
mesmo uma perda da visibilidade: o ofuscamento. O Ofuscamento pode ocorrer por dois efeitos distintos:
§ Contraste, caso a proporção entre as luminâncias de objetos do campo visual seja maior
do que os contrastes recomendados pela Tabela 5.3;
§ Saturação, o olho é saturado com luz em excesso, normalmente quando a luminância
média da cena excede 25.000 cd/m2.

5.4 INFLUÊNCIA DA ARQUITETURA NO DESEMPENHO LUMINOSO DE AMBIENTES


Uma boa iluminação natural no interior de um edifício depende das dimensões internas do ambiente, a
distribuição das aberturas ao exterior, e o tipo de esquadria utilizado (HOPKINSON et al, 1975).

5.4.1 Configuração do ambiente

Na maioria das edificações, os tetos e as partes mais altas das paredes são as principais áreas
responsáveis pela luz refletida. Um cômodo pequeno necessita de uma luminância maior no teto do que o
teto de um cômodo grande para ter a mesma iluminância no plano de trabalho. Isto porque o ponto a ser
iluminado no plano de trabalho “vê” proporcionalmente mais área de teto quanto maior for a dimensão do
cômodo. E as paredes dos cômodos pequenos parecem mais escuras, pois tendem a ficar mais sombreadas.
Quanto maior a refletância do teto e paredes, menor será a diferença da eficiência luminosa entre ambientes
amplos e pequenos (LAM, 1986).
Segundo Freire (1997), nos cômodos pequenos, as paredes têm grande importância para refletir a luz,
pois são a maior proporção das superfícies do ambiente. O teto ideal é um teto altamente refletor e sem
rugosidades. Tetos inclinados em direção à janela melhoram a uniformidade da iluminação quando a parede
oposta é branca. Já os tetos com inclinação decrescente à partir da janela em direção ao interior do cômodo
aumentam em média a iluminação, porém mantém a maior iluminância próxima à janela, deixando a
iluminação geral menos uniforme. Os tetos mais curvos dão uma iluminação mais uniforme que aqueles que
têm inclinação reta.

5.4.2 Iluminação lateral

Uma janela pode ser considerada como fonte primária de luz natural, pois as superfícies internas do
ambiente irão refletir a luz admitida através desta abertura. A orientação das aberturas para captação de luz
natural deve ser feita para diminuir o impacto da radiação solar direta e permitir a captação da luz difusa da

82
abóbada celeste. Nas localidades de baixa latitude, o ideal são janelas orientadas a norte e sul, pois as
proteções solares são simples e de dimensões reduzidas.
As aberturas mais altas e mais horizontais dão uma distribuição mais uniforme no ambiente do que
aberturas mais baixas e mais verticais. As janelas de altura intermediária são as mais usadas pois têm uma
melhor vista do exterior e por permitirem ventilação natural na altura do corpo dos ocupantes do ambiente.
Em climas quentes com altas taxas de radiação solar, as janelas laterais devem ter controle através de
elementos de sombreamento e redirecionamento da luz (FREIRE, 1997).

5.4.3 Iluminação zenital

Comparada à iluminação lateral, a iluminação zenital dá uma maior uniformidade na distribuição da


iluminação e possibilita uma maior iluminância média sobre o plano de trabalho. Mas uma abertura zenital é
mais suscetível à entrada da radiação solar direta, principalmente em baixas latitudes, coincidindo em horários
que a carga térmica é indesejável. A luz zenital pode ser redirecionada para evitar ofuscamento e
superaquecimento.

5.4.4 Elementos arquitetônicos de controle da radiação solar

Os elementos de sombreamento mais simples e mais conhecidos são as marquises e os beirais


(FREIRE, 1997). Proteções horizontais podem ser usadas para redirecionar a luz ao teto, ou na direção
desejada, são as chamadas “prateleiras de luz”. As prateleiras de luz reduzem a iluminação perto da janela e
redistribuem a luz para aumentar os níveis de iluminação nas partes mais internas do cômodo (Figura 5.2). A
sua eficiência dependerá das suas dimensões, orientação solar, tipo de material, acabamento e refletância.

Figura 5.2. Prateleiras de luz (Luciano Dutra ©).

As proteções solares verticais são indicadas para as orientações leste e oeste. Estas proteções solares
podem ser móveis para poder permitirem sua abertura quando não tem incidência solar direta. Estas
proteções verticais podem ser usadas para redirecionar a luz para dentro do ambiente.
Para evitar a entrada de radiação solar direta nas aberturas zenitais, estas podem ser feitas como
aberturas verticais dispostas nas coberturas. Um exemplo é os telhados tipo “dentes de serra”, que com as
aberturas orientadas a sul (no hemisfério sul), ou a sul e norte nas baixas latitudes, permitem a entrada de luz.
As proteções solares destes elementos seguem as mesmas recomendações dos elementos verticais.

5.4.5 Sistemas inovadores

Sistemas inovadores de iluminação natural trabalham redirecionando a luz solar ou a luz da abóbada
celeste para áreas onde a iluminação é necessária. Alguns destes sistemas são os chamados dutos de luz (light

83
pipe), sistemas de espelhos, prateleiras de luz, vidros prismáticos, vidros holográficos, fibras ópticas, painéis
de vidro cortados a laser, vidros cromáticos e venezianas espelhadas.

5.5 FUNÇÃO DAS ABERTURAS


No período entre guerras surge o “Estilo Internacional” na arquitetura, os edifícios com fachadas
totalmente envidraçadas. Este estilo acabou sendo adotado de norte a sul no Brasil. Num clima tropical, os
vidros deste tipo de edifício acabam causando o efeito estufa.
O excesso de sol pelos vidros leva os ocupantes a fecharem as cortinas, eliminando a visibilidade e a
luminosidade.
Cortinas e persianas colocadas no interior dos ambientes não são bons protetores solares, pois não
impedem o efeito estufa. Os raios solares que passam pelo vidro aquecem as superfícies internas e se
transformam em radiação de onda longa (calor), permanecendo em grande parte dentro do ambiente. O ideal
é que proteções solares sejam colocadas na parte externa da edificação, para evitar que a carga térmica solar
indesejada não penetre no ambiente.
Boa iluminação natural não é necessariamente proporcional a grandes áreas de vidros. Vidro excessivo
pode ocasionar ofuscamento e superaquecimento, além de que, devido à transmitância térmica elevada do
vidro, é por ele que ocorrem as maiores trocas térmicas entre ambiente interno e externo.
Um vidro comum de 3 mm possui uma transmitância térmica (U) de 5,8 Wm-2K-1, enquanto em uma
parede de tijolos de 8 furos rebocada em ambas as faces (12,5 cm) o valor é de 2,5 Wm-2K-1, ou seja, a
transmitância térmica do vidro de 3mm é mais do que o dobro da transmitância térmica da parede. A
densidade de fluxo de calor em uma janela oeste foi mostrada no exercício 4.11.4. No cálculo observa-se que
um vidro comum 3mm tem uma densidade de fluxo de calor 20% superior a um vidro fumê de 3mm, 57%
superior a uma abertura com persiana fechada, e quase 600% superior a uma abertura com veneziana. Por
isso, a escolha do material de uma abertura, orientação solar e área, determinam não somente os níveis de
iluminação, mas são responsáveis pelos ganhos de calor interno. A separação das aberturas por funções ajuda
num melhor controle dos ganhos térmicos.
A função de uma abertura num ambiente pode ser dividida em quatro grandes grupos: ganhos
térmicos, visualização do ambiente externo, permitir a ventilação do ambiente, e iluminar naturalmente o
ambiente. Aqui serão discutidas apenas as três últimas funções, visto que os ganhos térmicos pelos vidros
foram vistos no capítulo anterior.

5.5.1 Aberturas para visualização externa

As aberturas para visualização externa são orientadas para os locais mais atraentes, e devem ser
posicionadas para que o usuário possa deslumbrar o exterior. As superfícies adjacentes à abertura devem ter
cores claras, para diminuir o contraste entre as superfícies e a abertura, evitando problemas de ofuscamento.
A transmissividade do vidro entre 25% e 40% também pode reduzir problemas de ofuscamento.

5.5.2 Aberturas para ventilação

A ventilação é uma das formas de dissipação do calor interno do ambiente, e a renovação do ar é


importante para a higiene em geral. O movimento do ar permite um aumento das trocas térmicas do corpo
humano com o ambiente, aumentando a sensação de conforto térmico em ambientes com temperaturas e
umidades do ar elevadas. Em climas quentes e úmidos deve-se maximizar a velocidade do ar em zonas
ocupadas para melhorar o resfriamento corporal. Já em climas quentes e secos deve-se maximizar o fluxo de
ar através da edificação para intensificar o resfriamento da envoltória, particularmente à noite, quando a
temperatura é baixa.

84
A ventilação como forma de melhorar a sensação de conforto humano deve ser projetada para ocorrer
na altura corpórea, enquanto a ventilação higiênica pode ser projetada em alturas mais elevadas. Mas se as
aberturas estão no mesmo nível e muito próximas ao teto num ambiente de pé-direito elevado, muito do
fluxo de ar pode desviar do nível ocupado, e ser ineficiente em diluir os contaminantes do ar.
A ventilação natural em ambientes internos pode ser feita por dois mecanismos: ventilação por ação
dos ventos e ventilação por efeito chaminé. O efeito chaminé requer distância vertical entre as aberturas:
quanto maior a distância vertical, maior a ventilação, uma maior diferença de temperaturas (temperatura
superior mais elevada que a inferior) também ajuda no efeito chaminé. Poços de ventilação ou escadas abertas
podem ser usadas para aumentar e tirar vantagem do efeito chaminé.
Para a ventilação por ação dos ventos, o maior fluxo de ar por unidade de área total de aberturas é
obtido com áreas de entrada e saída muito próximas. Área da janela de entrada menor do que a área da janela
de saída, aumentam a velocidade interna. Janela de saída com área menor do que a de entrada, diminui a
velocidade do ar, mas este se torna mais uniforme dentro do ambiente.
Com relação à orientação e dimensionamento das aberturas para ventilação, a maioria das aberturas
(portas, janelas) devem ser orientadas para a direção das brisas de verão predominantes. Não havendo direção
predominante, as aberturas devem ser suficientes para garantir ventilação independente da direção do vento.
As aberturas devem ser localizadas em zonas de pressão opostas. Duas aberturas em lados opostos de um
ambiente, aumentam o fluxo de ventilação. Se a orientação ideal das aberturas com relação aos ventos
dominantes não for ideal devido aos ganhos térmicos solares, as proteções solares podem ser projetadas para
induzir a entrada de ventos.
Para a ventilação, é importante que as aberturas sejam acessíveis e operáveis aos ocupantes do
ambiente.

5.5.3 Aberturas para iluminação

Nas aberturas usadas apenas para iluminação, a orientação e posicionamento das mesmas podem ser
feitas em direções sem interesse visual. Neste tipo de abertura, pode ser feito um controle da radiação solar
direta, seja para evitar sua incidência direta, ou redirecioná-la como forma de iluminação.
Para melhor aproveitamento da luz natural, o ideal é que a transmissividade visível seja elevada,
superior a 60%.
Aberturas laterais usadas para iluminação de 10% a 25% da área de piso, dependendo da geometria do
ambiente, posicionamento, orientação solar e sombreamento, são mais que suficientes.

5.5.4 Combinação de funções

Num ambiente residencial, normalmente as três funções, iluminação, ventilação e visualização, são
utilizadas numa mesma abertura. Já em ambientes não residenciais, a funcionalidade de uma abertura pode ser
única, ou ventilação, ou iluminação, ou visualização externa, ou a combinação de dois itens.
O Projeto de Norma 02:135.07-003 (ABNT, 2003) apresenta as recomendações quanto ao
dimensionamento de aberturas para ventilação e sombreamento desejável (capítulo 4) para habitações de
interesse social. Nas zonas bioclimáticas de 1 a 6, a área recomendada de abertura para ventilação é de 15% a
25% da área do piso, sendo que está contida dentro dos 10% a 25% da área de piso recomendada para
iluminação. Na zona bioclimática 7, a área recomendada para ventilação é pequena, de 10% a 15% da área de
piso, mas também está dentro do que se recomenda para iluminação natural. Já na zona bioclimática 8, clima
quente e úmido que corresponde a 53,7% do território brasileiro (região norte e litoral nordestino), a área
necessária para ventilação é superior a 40% da área do piso, superando o que seria necessário para iluminação.
Neste caso, o ideal é prever de 10% a 25% da área de piso para iluminação natural, e o restante usar aberturas
somente para ventilação natural. As aberturas para ventilação natural podem ser feitas através de venezianas,
cobogós, ou outros sistemas de aberturas que permitam a passagem do ar, sem necessariamente permitir a
entrada excessiva de luz e calor.

85
5.6 INTEGRAÇÃO ILUMINAÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL
Alguns princípios no projeto arquitetônico devem ser considerados para propor sistemas de
iluminação: proporcionar luz natural onde as pessoas passam mais tempo; separar funcionalmente aberturas
para visão e iluminação; integrar o sistema de luz natural com a arquitetura; integrar o sistema de luz natural
com o sistema de iluminação artificial.
Para ambientes de uso diurno, um sistema de iluminação natural bem projetado é mais eficiente do que
qualquer sistema de iluminação artificial. Durante à noite, durante o dia com escassez de luz devido ao céu
nublado, e nos espaços internos onde a luz natural é insuficiente, os sistemas de iluminação natural têm de ser
complementados com o uso de luz artificial.
No desenvolvimento do projeto de iluminação natural deve-se contemplar a combinação com
iluminação artificial segundo os seguintes objetivos:
§ diminuir o consumo de energia quando a iluminação natural é suficiente;
§ complementar a iluminação natural em situações onde esta não consegue cobrir a
necessidade de todo o espaço;
§ resolver a variação entre a quantidade e a distribuição da luz do dia (luz natural) e de noite
(luz artificial).

A demanda por energia por iluminação nos edifícios comerciais e públicos varia de 40% do uso final,
nos edifícios com ar condicionado, a 90% do uso final, nos edifícios sem ar condicionado. Nas edificações
residenciais, 12% da energia é gasta em iluminação (LAMBERTS et al, 2004).
Um elevado potencial de economia de energia pode ser alcançado se a iluminação natural for utilizada
como uma fonte de luz para iluminar os ambientes internos. No entanto, a iluminação natural não resulta
diretamente em economia de energia. A economia só ocorre quando a carga de iluminação artificial pode ser
reduzida através de sua utilização. Existem poucas edificações em que a iluminação natural possa suprir o
total de iluminação necessária. Da mesma forma, existem poucas edificações em que a iluminação natural não
possa contribuir significativamente com os níveis de iluminância necessários.
A iluminação natural, apesar de variável ao longo do ano, dos meses, dos dias e de minuto a minuto,
deve ser avaliada de forma a se elaborar projetos luminotécnicos em que a iluminação artificial seja utilizada
apenas como forma de suprir as necessidades de iluminação quando a luz natural não for capaz de fazê-lo.
A utilização da iluminação natural deve ser avaliada na concepção inicial do projeto e deve levar em
consideração a variação diária e sazonal da luz para fornecer iluminação adequada por maior tempo e menor
carga térmica possíveis.
Segundo Caddet (1995), em ambientes iluminados adequadamente através de iluminação natural e
sistemas de controle de iluminação artificial pode-se obter economia de energia em iluminação entre 30 e
70%. Nos edifícios residenciais, o potencial de economia é menor, mas um bom aproveitamento da luz
natural e até da radiação solar direta tem um impacto positivo na qualidade dos ambientes (VIANNA e
GONÇALVES, 2001).
Na Carolina do Norte, Estados Unidos, escolas construídas nos municípios de Raleigh, Wake e
Johnston estão utilizando os benefícios da iluminação natural (SMILEY, 1996). Através de sensores que
ajustam o nível de iluminação artificial em função da iluminação natural e de sensores de ocupação estas
escolas estão consumindo de 22 a 64% menos que escolas similares da região. Na Durant Midtle School, em
Raleigh, através da redução de ganhos de calor proporcionada pela iluminação natural comparada com a
artificial, o sistema de refrigeração também pode ter seu custo de implantação reduzido, o que permitiu um
tempo de retorno do investimento de 9 meses.
Opdal e Brekke (1995) verificaram uma economia média de 30% em iluminação nos escritórios da
Noruega onde se utilizam sistemas de controle da iluminação artificial em função da iluminação natural. A
utilização de sensores de presença mostra um potencial de economia de energia em iluminação de 60%.
Em simulações realizadas através do programa de simulação energética de edificações DOE-2.1E,
Souza (1995) verificou, através da variação de parâmetros como a relação área de janela/área de parede,
profundidade das salas, condições de envidraçamento dentre outros, para um edifício de escritórios localizado

86
em Florianópolis, que o aproveitamento da iluminação natural poderia reduzir o consumo total de energia
elétrica deste edifício em até 35%.
Analisando salas de diferentes tamanhos, diferentes geometrias e diferentes orientações, Ghisi (2002)
concluiu que utilizando-se Áreas Ideais de Janela em eidificações com condicionamento artificial em
Florianópolis e fazendo-se a integração do sistema de iluminação artificial com a iluminação natural pode-se
obter economias no consumo de energia com iluminação variando de 20,6% a 86,2%.
Para garantir condições de visibilidade para o exterior, The European Commission (1994) recomenda
uma percentagem de área envidraçada para janelas em uma única parede, conforme mostra a Tabela 5.5. No
entanto, conforme Ghisi e Tinker (2004), estas áreas de janela não são adequadas quando se deseja
edificações energeticamente eficientes.

Tabela 5.5. Percentagem de área envidraçada em relação à parede.

Largura da parede externa (m) Área de janela (%)


<8 20
8 a 11 25
11 a 14 30
>14 35

Nos ambientes iluminados lateralmente (janelas), o nível de iluminância diminui exponencialmente


com o aumento da distância à abertura, e proporcionalmente com o tamanho da mesma. A Figura 5.3 mostra
o decaimento no nível de iluminação natural com o distanciamento da abertura. Nos sistemas de iluminação
zenital a distribuição de iluminâncias é mais uniforme sobre o plano de trabalho horizontal. Nem sempre
aumentar a área de aberturas soluciona o problema de aumentar a taxa de iluminação, pois podem incorrer
em ganhos térmicos solares indesejáveis, e até causar desconforto visual.

D.F.

25.0%

20.0%

15.0%

10.0%

5.0%

0.0%

Corte
22.8%

13.0%

7.4%

4.2%

2.4%

1.4%

0.8%

Figura 5.3. Curvas de fator de luz diurna numa iluminação lateral.

87
5.6.1 Projeto integrado

Um projeto integrado de iluminação natural e artificial tem por objetivo obter a iluminância desejada
para o desempenho da tarefa visual, diminuindo o contraste entre as áreas mais e menos iluminadas.
O nível médio da iluminação artificial poderá parecer excessivo no inverno quando houver quedas
momentâneas da iluminação exterior, e poderá parecer pobre quando houver excessiva luminosidade externa.
Isto se deve a mutabilidade da luz natural.
Quando não se usa sistemas automáticos, a distribuição dos comandos dos circuitos elétricos que
alimentam o sistema de iluminação artificial devem ser previstos de tal forma que o acendimento das
luminárias possa ser controlado em grupos. A distribuição destes circuitos depende da localização da
iluminação natural, sendo que possibilidade de acendimento em grupos de luminárias devem ser graduadas
das áreas mais afastadas das janelas para as áreas mais próximas. Quanto a distância a partir da qual deve-se
complementar a iluminação natural, pode-se estimar esta distância em 1,5h (h=distância piso borda superior
da janela) para janela padrão e 2h para janela com prateleira de luz (Figura 5.4).

1,5h 2,0h
h
h

Figura 5.4. Esquema para estimar a penetração da luz natural através de abertura lateral.

5.6.2 Sistemas de controle da luz artificial

A distribuição racional dos circuitos permite acionamento independentes das luminárias, o que
proporciona redução no consumo de energia. Este acionamento pode ser manual ou automático.
Os sistemas de controle de luz têm a função de fornecer a quantidade de iluminância somente quando
esta é necessária. Os sistemas de controle da luz automáticos podem ser divididos em: sensores de ocupação,
sistemas com controle fotoelétrico e sistemas de programação de tempo.
Os sensores de ocupação consistem em um detector de movimento (ondas ultra-sônicas ou de
radiação infravermelha), que enviam um sinal para a unidade de controle, e esta controla a potência da luz.
Sistemas com controle fotoelétrico são sensores que identificam a presença de luz natural, fazendo a
diminuição ou até mesmo o bloqueio da luz artificial de maneira automática (dimers).
Sistemas de programação de tempo gerenciam o ligar e desligar dos sistemas de iluminação em edifícios.
Funcionam com o desligamento ou diminuição da luz durante os horários sem ocupação, ou com atividades
que requeiram menor nível de iluminação. O controle da luz elétrica pode ser feito através de temporizadores
e dimers. Exemplo de temporizadores são as minuteiras usadas em corredores de edifícios.
É importante considerar nos projetos integrados de iluminação natural e artificial as características de
cor (índice de reprodução da cor e temperatura da cor correlata), direção e combinação das duas fontes de
luz.
Em edifícios com plantas profundas, tais como escritórios abertos, os espaços próximos as aberturas
geralmente obtêm luz natural adequada, enquanto os espaços internos requerem luz artificial permanente. O
projeto dos circuitos de luz devem contemplar por zonas, com o intuito de apagar as luminárias dos setores
onde a iluminação natural é suficiente.

88
Nas regiões próximas às aberturas, pode-se adotar sistemas com sensores fotoelétricos para evitar o
uso de iluminação artificial desnecessariamente. O sistema de controle deve respeitar a alguns requisitos a fim
de evitar incômodos ao usuários:
§ incorporar um “timer” para evitar o acender e apagar repetitivo quando as condições
externas são muito variáveis;
§ utilizar um sistema de dimers que diminui a variação dos níveis de iluminação interior
gradativo quando as luminárias se acendem ou se apagam. Mudanças bruscas provocam
incômodo aos ocupantes;
§ A iluminação artificial suplementar deve ter um alto índice de reprodução da cor, similar a
qualidade e cor da luz natural.

Em certos casos, tais como salas de exposição em museus, é importante garantir não só uma excelente
reprodução das cores na iluminação artificial, mas também uma direção da luz artificial similar a da
iluminação natural. Em outros casos, os efeitos da iluminação artificial pode reproduzir efeitos contrastantes
com a iluminação natural, especialmente na iluminação de fachadas.

5.7 O PROJETO DE NORMAS DE ILUMINAÇÃO NATURAL


Atualmente, os primeiros textos normativos sobre iluminação natural em edificações brasileiras
encontram-se em fase de publicação pela ABNT. Neste item serão apresentados apenas o objetivo e uma
descrição breve de cada texto. Os textos completos podem ser obtidos em
http://www.labeee.ufsc.br/conforto/index.html.

§ Iluminação Natural - Parte 1: Conceitos Básicos e Definições.


Objetivo: Apresentar definições de termos relacionados com a iluminação natural e o ambiente
construído.
Descrição: O texto é composto por definições gerais, definições relacionadas a componentes da
iluminação natural e a elementos de controle.

§ Iluminação Natural - Parte 2: Procedimentos de Cálculo para a Estimativa da Disponibilidade de Luz


Natural.
Objetivo: Estabelecer procedimentos estimativos de cálculo da disponibilidade de luz natural em
planos horizontais e verticais externos, para condições de céu claro, encoberto e parcialmente encoberto ou
intermediário.
Descrição: O texto compõe-se de definições correlatas ao tema, apresenta procedimentos para
determinação dos parâmetros relativos à geometria da insolação e descreve os algoritmos para a verificação da
disponibilidade de luz natural para condições de céu claro, encoberto e parcialmente encoberto.

§ Iluminação Natural - Parte 3: Procedimento de Cálculo para a Determinação da Iluminação Natural


em Ambientes Internos.
Objetivo: Descrever um procedimento de cálculo para a determinação da quantidade de luz natural
incidente em um ponto interno num plano horizontal através de aberturas na edificação.
Descrição: O texto apresenta considerações gerais relacionadas ao tema, um referencial teórico para
predição da iluminação natural e propõe um método de cálculo (método do fluxo dividido).

89
§ Iluminação Natural - Parte 4: Verificação Experimental das Condições de Iluminação Interna de
Edificações. Método de Ensaio.
Objetivo: Prescrever métodos para a verificação experimental das condições de iluminância e
luminância de ambientes internos.
Descrição: O texto apresenta exigências com relação à instrumentação, apresenta métodos e descreve
procedimentos para medições de iluminância em modelos em escala reduzida e em ambientes reais e
apresenta procedimentos para medições de luminância. Também apresenta um procedimento para
normalização dos resultados, para determinação da iluminância média e para representação gráfica dos
resultados. No anexo da norma é apresentada uma descrição de campo visual, de condições de céu para
medições e uma planilha para medição de luminâncias.

5.8 NORMAS DE ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL


Em termos de iluminação artificial, existem no Brasil apenas duas normas: a NBR 5413 (ABNT, 1991),
que apresenta níveis de iluminâncias para diferentes atividades, e a NBR 5382 (ABNT, 1985), que apresenta
procedimentos para medição dos níveis de iluminamento em ambientes.
A análise da tarefa visual a ser desenvolvida em um ambiente torna-se essencial para compreensão e
elaboração do sistema de iluminação. Afinal, para dimensionar a iluminação adequada, é importante avaliar as
necessidades desta tarefa para compreender suas características. O principal objetivo da iluminação de
ambientes de trabalho é permitir que a atividade visual se faça de forma confortável, sem dificuldades e com
segurança, além de garantir o menor consumo possível aliado a maior eficiência do sistema. Um detalhe
importante a ser lembrado é que a localização da atividade jamais deve ser adaptada ao sistema de iluminação
e sim, este é que deve ser adaptado e adequado às necessidades visuais da tarefa a ser realizada.

5.8.1 NBR 5413

A quantidade de luz desejada e necessária para qualquer instalação depende, em primeiro lugar, da
tarefa a ser executada. O grau de habilidade requerida, a minuciosidade do detalhe a ser observado, a cor e a
refletividade da tarefa, assim como os arredores imediatos, afetam as necessidades de iluminância, que
produzirão as condições de visibilidade máxima.
Os iluminamentos recomendados são baseados nas características das tarefas visuais e nos
requerimentos de execução, sendo maiores para o trabalho envolvendo muitos detalhes, trabalhos precisos e
trabalhos de baixos contrastes. Para trabalhos mais intermitentes as iluminâncias necessárias são menores.
As tarefas visuais, apesar de serem em número ilimitado, podem ser classificadas de acordo com certas
características comuns conforme a NBR 5413 - Iluminância de interiores (ABNT, 1991). Esta norma
estabelece os valores de iluminâncias médias mínimas em serviço para iluminação artificial em interiores onde
se realizam atividades específicas de comércio, indústria, ensino, esporte e outras. Permite flexibilidade na
determinação dos níveis de iluminância, sendo que 3 variáveis são consideradas:
a) a idade do observador: pessoas mais velhas precisam de mais luz para desenvolver a mesma
atividade que uma pessoa jovem;
b) velocidade e acuracidade do desempenho visual: necessidades críticas exigem mais luz que as
casuais, ou seja, quanto maior o grau de precisão requerido para executar a tarefa, maiores serão os níveis de
iluminação exigidos;
c) refletância da tarefa em relação ao fundo: grandes diferenças de refletâncias entre a tarefa e o seu
entorno próximo podem reduzir o contraste e a performance visual e/ou causar desconforto visual.

Desta forma, deve-se utilizar corretamente a tabela 2 da NBR 5413 onde se estabelecem diferentes pesos para
cada sub-divisão destes três itens. Isto permite definir qual dos três valores de iluminância propostos pela

90
NBR 5413 para cada atividade deverá ser utilizado. Os valores médios de iluminâncias recomendados pela
NBR 5413 em função do tipo de atividade foram citados na Erro! A origem da referência não foi
encontrada..

5.8.2 NBR 5382

A NBR 5382 - Verificação de iluminância de interiores (ABNT, 1985), apresenta a forma de


determinação da iluminância média em superfícies de trabalho em interiores de áreas retangulares, conforme
mostra a Figura 5.5. A iluminância média (E) é determinada através da equação 5.1.

Figura 5.5. Determinação da iluminância média pela NBR 5382.

R(N − 1)(M − 1) + Q(N − 1) + T(M − 1) + P


E= [Eq. 5.1]
NM
onde:
N é o número de luminárias por fila;
M é o número de filas;
P é a média aritmética entre p1 e p2;
Q é a média aritmética entre q1 e q2;
R é a média aritmética entre r1, r2, r3 e r4;
T é a média aritmética entre t1, t2, t3 e t4.

Através de medições utilizando malhas simétricas de pontos em 5 salas de aula da Universidade Federal
de Santa Catarina, Ghisi (1997) observou discrepâncias de 3% a 14% para medições feitas em malhas de 8
pontos e discrepâncias de –7% a 15% para malhas com 16 pontos. Isso indica que malhas de pontos de
forma diferenciada àquela indicada pela NBR 5382 podem ser utilizadas, desde que planejadas
adequadamente.

91
5.8.3 Normatização de potência instalada

A crescente preocupação com o uso indiscriminado da energia elétrica alerta para a necessidade de uma
futura normatização, e não muito distante, que estabeleça limites de consumo de eletricidade para edificações
brasileiras. As informações aqui apresentadas fazem parte das primeiras verificações apresentadas em Ghisi
(1997) no sentido de limitar a densidade de iluminação para diferentes níveis de iluminação exigidos.
A potência instalada em iluminação representa uma forma de normatização utilizada por alguns países
para limitar o consumo de energia elétrica (ASHRAE/IES (1999), CALIFORNIA ENERGY
COMMISSION (1992), CANADIAN COMMISSION ON BUILDINGS AND FIRE CODES (1995) etc.)
Com relação aos limites de densidade de potência interna para o sistema de iluminação, estes foram
baseados em um estudo realizado em uma dissertação de mestrado (GHISI, 1997) e em dois artigos
publicados em congressos no Brasil e na França (GHISI e LAMBERTS, 1998a,b). A definição dos limites foi
baseada em uma comparação de potências instaladas obtidas para sistemas energeticamente eficientes e um
sistema ineficiente, composto por luminárias com refletor branco, lâmpadas fluorescentes de 40W e reator
eletromagnético - semelhante aos sistemas comumente encontrados em edificações comerciais brasileiras. A
Figura 5.6 apresenta as densidades de potência instalada em iluminação para sete diferentes sistemas. Pode-se
observar que os seis sistemas eficientes proporcionam densidades de potência em iluminação
significativamente inferiores ao sistema energeticamente ineficiente. Os limites adotados foram aqueles que
garantirão uma redução média mínima de 50% na densidade de potência instalada em comparação com
sistemas de iluminação energeticamente ineficientes.

12,0

10,0
Potência instalada em

(W/m 2 por 100 lux)

8,0
iluminação

6,0

4,0

2,0

0,0
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00
Índice de ambiente

Sistema ineficiente Refletor de alumínio sem aletas


Refletor de alumínio e aletas brancas Refletor e aletas de alumínio
Refletor e aletas brancos Refletor branco sem aletas
Refletor branco com difusor Máxima potência permitida

Figura 5.6. Potência instalada em iluminação para diferentes sistemas.

92
A recomendação feita por esta proposta de normatização é que o limite de potência instalada em
iluminação para cada ambiente de uma edificação deve ser determinado da seguinte forma:
(a) Determinar o índice de ambiente de cada ambiente da edificação usando a equação 5.2.

C.L
K= [Eq. 5.2]
h(C + L )

onde:
K é o índice de ambiente (adimensional);
C é o comprimento total do ambiente (m);
L é a largura total do ambiente (m);
h é a altura entre a superfície de trabalho e o plano das luminárias no teto (m).

(b) Obter o limite máximo aceitável de potência de iluminação por 100lux (W/m2.100lux) em função
do índice de ambiente na Tabela 5.6. Usar interpolação quando necessário.

Tabela 5.6. Limite máximo aceitável de potência de iluminação.

Índice de ambiente Potência de iluminação


K (W/m2.100lux)
0,60 5,5
0,80 4,7
1,00 4,2
1,25 3,9
1,50 3,6
2,00 3,2
2,50 3,0
3,00 2,9
4,00 2,6
5,00 2,5

(c) Determinar o nível de iluminação necessário para cada ambiente através do uso da NBR 5413 –
Iluminância de Interiores.

(d) O limite máximo aceitável de potência de iluminação para cada ambiente será dado pelo produto
dos valores obtidos nos itens (b) (W/m2.100lux) e (c) (lux).

Exemplo: Determinar a máxima potência em iluminação permitida para uma sala de aula com
dimensões 5,00 x 10,40 x 3,00 m. Assumir superfície de trabalho a 75 cm do piso.
Solução:
C.L 10,40 x5,00
K= = = 1,50
h(C + L ) (3,00 − 0,75 )x (10,40 + 5,00 )

93
Pela Tabela 5.6, o limite máximo aceitável de potência de iluminação, para índice de ambiente de 1,50
será 3,6 W/m2.100lux. Pela NBR 5413, o nível de iluminação necessário para salas de aula é de 300 lux.
Portanto, o limite máximo aceitável de potência de iluminação será 3,6 x 300/100 = 10,8W/m2.

5.9 ESPECIFICAÇÕES PARA EQUIPAMENTOS DE ILUMINAÇÃO


As lâmpadas são os únicos componentes do sistema de iluminação que podem converter energia
elétrica em luz visível. Porém, para que esta luz possa ser produzida e adequadamente distribuída é necessário
a utilização, respectivamente, de reatores (dependendo da lâmpada utilizada) e de luminárias que são os
componentes auxiliares do sistema de iluminação.
As luminárias servem para direcionar e distribuir a luz para a superfície de interesse. Consistem de uma
cavidade onde se localiza o refletor (que deverá maximizar o aproveitamento da luz produzida pela lâmpada),
de componentes para fixação das lâmpadas e de espaço para os reatores. Uma luminária não produz
economia de energia diretamente, mas contribuirá para a economia através da otimização da performance de
cada um de seus componentes.
As lâmpadas são o maior foco de melhora da conversão eficiente de energia elétrica em luz. O avanço
tecnológico e o crescente interesse em conservar energia elétrica resulta na invenção de diferentes tipos de
lâmpadas que servem para diferentes usos e aplicações. Lâmpadas eficientes economizam energia através da
sua alta eficiência luminosa e da manutenção do fluxo luminoso durante a sua vida.
Os reatores são acessórios necessários à operação das lâmpadas de descarga. Os reatores limitam a
corrente elétrica ao valor necessário para operação adequada da lâmpada e também para produzir a ignição.
Para obter o máximo desempenho em sistemas de iluminação é essencial o uso de reatores com baixas perdas
(alto fator de potência) ou alta freqüência de operação.

5.9.1 Lâmpadas

As lâmpadas elétricas atuais são classificadas, segundo seu mecanismo de produção de luz, em
lâmpadas incandescentes e em lâmpadas de descarga, sendo que as lâmpadas fluorescentes fazem parte deste
segundo grupo. Embora as incandescentes sejam utilizadas em decoração e aplicações em iluminação de
tarefa, as lâmpadas fluorescentes predominam em edifícios comerciais. A seguir, apresentam-se informações
breves a respeito de lâmpadas incandescentes e fluorescentes. Informações a respeito de tipos e características
de lâmpadas podem ser obtidas, por exemplo, em IESNA (1995), EPRI (1993), EPRI (1992) ou PHILIPS
(1981).

§ Lâmpadas incandescentes
As lâmpadas incandescentes são as de menor eficiência luminosa e substituí-las pelas fluorescentes
torna-se uma boa alternativa. Porém, em situações onde as incandescentes devem ser utilizadas, as halógenas
oferecem uma boa alternativa, pois são um tipo de lâmpada incandescente com maior eficiência luminosa.
A eficiência luminosa das lâmpadas incandescentes varia entre 10 e 25 lm/W e a vida média entre 1000
e 2000 horas. EPRI (1992) afirma que estas lâmpadas têm a vida aumentada quando operando com baixa
voltagem. Porém, deve-se atentar que, ao operar com uma baixa tensão, o fluxo luminoso também será
reduzido.
Para se ter uma idéia da sua baixa eficiência, as lâmpadas incandescentes atendem apenas 19% dos
ambientes dos edifícios comerciais dos Estados Unidos. No entanto, são responsáveis por 37% do consumo
de energia com iluminação nestes edifícios (EIA,1992).
Segundo EPRI (1992), mais de 90% da energia consumida pelas lâmpadas incandescentes é convertida
em calor. No entanto, a IESNA (1995) diz que esta percentagem varia entre 75 e 80%. Porém, alerta-se para
o fato de que a faixa de comprimento de onda da luz, no espectro eletromagnético, está compreendida dentro

94
da faixa de radiação térmica. Isto mostra que toda a energia consumida pela lâmpada será convertida em
calor, pois o percentual que é transformado em luz também será convertido em calor.

§ Lâmpadas fluorescentes
As lâmpadas fluorescentes têm melhorado continuamente desde o seu surgimento e tornaram-se a
fonte de luz eficiente mais utilizada. Melhorou também a reprodução e a temperatura de cor e a manutenção
do fluxo luminoso. A introdução dos tubos de 26 mm (T8) no início dos anos 80 para substituir as de 38 mm
(T12) também melhorou sua eficiência. Aproximadamente a mesma quantidade de luz é emitida pela lâmpada
mais fina, porém consome 8% menos energia (CADDET, 1995). A nomenclatura utilizada para definir o
diâmetro dos tubos é adotada em oitavos de polegada, ou seja, as lâmpadas T12 têm um diâmetro de 12/8 de
polegadas, as T8, 8/8 de polegadas (ou 1 polegada). Sua eficiência luminosa varia entre 30 e 95 lm/W e a vida
média entre 6000 e 8000 horas (SANTAMOURIS, 1995).
Segundo EPRI (1992), estas lâmpadas, ao contrário das incandescentes, têm sua vida diminuída
quando operam em baixa voltagem.
As lâmpadas fluorescentes compactas são a menor versão das fluorescentes tradicionais. São indicadas
para substituir as incandescentes. São muito mais eficientes do que as incandescentes e têm vida muito maior,
desta forma a substituição pode ser benéfica.
Para avaliar o potencial de economia de energia, 8 edifícios de escritórios foram estudados por
Santamouris (1995) na Grécia. Através da substituição de lâmpadas incandescentes por fluorescentes
verificou-se economia entre 4 e 29% do consumo com iluminação e período de retorno do investimento
entre 1 e 2 anos.
Desde a década de 90 já são utilizadas nos Estados Unidos as lâmpadas T5, com tubos de 16 mm, mais
econômicas, mais eficientes e ambientalmente mais amigáveis, com intenção de substituir as de 26 mm (T8)
nas novas instalações ou em propostas de retrofit. São produzidas em comprimento diferente das T8, ou seja,
600, 1200 e 1500 mm e não podem ser utilizadas em luminárias existentes. Podem operar apenas com
reatores eletrônicos projetados exclusivamente para a tecnologia T5. Segundo Borg (1997), devido ao seu
menor diâmetro, aumentam a eficiência da luminária em 5%, ou seja, a luz pode ser mais facilmente
direcionada para a superfície de interesse. São aproximadamente 7% mais eficientes que as T8 e apresentam a
vantagem da menor quantidade de mercúrio. Este, ao ser absorvido pelo vidro e pelo fósforo da lâmpada,
reduz o seu fluxo luminoso. Nas T5 a depreciação é de 5% em 12.000 horas, nas T8 é de 15%. Porém, um
dos eventuais problemas desta nova tecnologia é a possibilidade de brilho excessivo em virtude da maior
quantidade de luz emitida por uma menor superfície.

§ Qualidade de cor da fonte de luz


De maneira geral, variações na qualidade da cor da luz tem pouco ou nenhum efeito sobre a qualidade
e rapidez da visão (SMIT, 1964). Porém, em certos ambientes, onde a discriminação da cor ou a observação
da mesma é muito importante, a fonte que fornece a iluminação para esta observação ou discriminação
deverá ser escolhida cuidadosamente.
A qualidade de cor de uma lâmpada é definida por duas diferentes características: a temperatura de cor
e o índice de reprodução de cor (PHILIPS, 1981). Deve-se atentar que fontes com igual temperatura de cor
poderão ter composições espectrais diferentes, o que pode provocar diferenças na reprodução de cor.

a) Temperatura de cor
A temperatura de cor, medida em Kelvins (K), caracteriza a aparência da cor de uma fonte de luz.
Como a cor da radiação emitida por uma fonte de luz é função de sua temperatura, a temperatura de cor é
definida como a temperatura que um corpo negro radiante deve ter para emitir um espectro semelhante
àquele da fonte de luz.
Segundo EPRI (1992), o balanço relativo dos diferentes comprimentos de onda, cada um
correspondendo a uma cor distinta, determina a matiz da cor e a temperatura de cor é a medida usada para
descrever a matiz da luz branca.

95
De acordo com a temperatura de cor, as lâmpadas podem ser divididas em três categorias, conforme a
Tabela 5.7.
Para uma iluminação de qualidade, a aparência de cor da fonte de luz deve estar relacionada com a
iluminância de serviço. Ou seja, quanto maior a iluminância do ambiente, maior deve ser a temperatura de cor
e conseqüentemente mais fria a aparência da cor. A Tabela 5.8, apresentada por Pereira (1996), mostra as
variações na aparência de cor como função da iluminância.

Tabela 5.7. Aparência de cor das lâmpadas segundo IESNA (1995).

Temperatura de cor (K) Aparência de cor


> 4000 Fria (branca azulada)
3000 . 4000 Neutra (branca)
< 3000 Quente (branca vermelhada)

Tabela 5.8. Variações na aparência de cor.

Iluminância Aparência de cor


(lux) Quente Intermediária Fria
≤ 500 agradável neutra fria
500 - 1000 ô ô ô
1000 - 2000 estimulante agradável neutra
2000 - 3000 ô ô ô
≥ 3000 não natural estimulante agradável

Como pode-se perceber, quanto maior a temperatura de cor de uma fonte luminosa, maior deve ser o
nível de iluminação para se obter uma aparência de cor agradável. Desta forma, Kruithof desenvolveu um
diagrama onde, em função da iluminância desejada, pode-se determinar a faixa de temperatura de cor na qual
as cores terão uma aparência mais agradável. Este diagrama, obtido em Robbins (1986), é apresentado na
Figura 5.7. A área compreendida entre as duas curvas indica a região em que, em função da iluminância de
projeto e da temperatura de cor da lâmpada utilizada, as cores parecem naturais.

b) Índice de reprodução de cor


O Índice de Reprodução de Cor (IRC) mede o grau de mudança percebido na cor de um objeto
quando iluminado por uma fonte de luz comparado com a aparência deste mesmo objeto quando iluminado
por uma luz de referência com IRC de 100, que é o valor teórico máximo do IRC. A CIE propõe quatro
grupos de reprodução de cor, conforme a Tabela 5.9.

96
Figura 5.7. Diagrama de Kruithof.

Tabela 5.9. Índice de reprodução de cor.

Grupo de
Índice de Aparência
reprodução de Aplicação
reprodução de cor de cor
cor
Indústrias têxteis, gráficas e
Fria
de tinta
1 IRC ≥ 85 Neutra Lojas, museus, hospitais
Residências, restaurantes,
Quente
hotéis
Indústrias leves, escritórios,
Fria escolas, lojas (climas
quentes)
Indústrias leves, escritórios,
2 70 ≤ IRC < 85 Neutra escolas, lojas (climas
moderados)
Indústrias leves, escritórios,
Quente
escolas, lojas (climas frios)
Interiores onde a eficiência
luminosa é de maior
3 IRC < 70
importância do que a
reprodução de cor
Lâmpadas com
S (especial) reprodução de cor Aplicações especiais
fora do comum

97
5.9.2 Luminárias

Através da seleção de material e forma apropriada, a luminária pode maximizar o uso da luz emitida
pela lâmpada e desta forma, diminuir a carga total de iluminação. Na escolha de luminárias para uma
determinada aplicação é essencial a escolha daquelas que iluminem o espaço com a aparência e o nível de
iluminamento desejado.
O desempenho de uma luminária é determinado pela sua eficiência e pelo coeficiente de utilização
(EPRI, 1992).
A eficiência das luminárias é usualmente especificada em termos da taxa de emissão de luz. Esta taxa
mede a relação entre a luz total emitida pela luminária e a luz total gerada pelas lâmpadas, mas sem indicação
de como é dada a distribuição da luz. A otimização da eficiência das luminárias poderia promover, portanto, o
uso daquelas que, embora eficientes em termos de luz emitida, produzem soluções inadequadas de
iluminação. Portanto, uma luminária eficiente deverá combinar a máxima eficiência, o controle de
ofuscamento e a distribuição de luz. O refletor e a forma da luminária são os componentes que mais
influenciam a eficiência da luminária.
O coeficiente de utilização descreve a percentagem dos lúmens emitidos pela lâmpada que atinge a
superfície de trabalho. Depende das dimensões do ambiente, do tipo de luminária e das refletâncias das
superfícies do ambiente.
A falta de manutenção em luminárias pode reduzir a iluminância entre 25% e 50%, dependendo da
aplicação e do equipamento utilizado (IESNA, 1995).

§ Curvas de distribuição
A distribuição de luz de uma lâmpada, sem utilização de luminária, é praticamente uniforme ao se
desconsiderar a existência da base. Portanto, se uma lâmpada incandescente for colocada no centro de uma
esfera, a mesma quantidade de luz incidirá sobre cada unidade de área da esfera, ou seja, a intensidade
luminosa desta fonte (nesta situação) é a mesma em todas as direções. Porém, em uma situação real, a luz de
uma lâmpada se distribui no espaço em diversas direções sendo que isto pode ser controlado conforme a
necessidade. Este controle é realizado através da utilização de luminárias e pode ser representado em forma
de diagramas mostrando a intensidade luminosa da fonte de luz em todas as direções através de medições em
laboratório.
Traçando-se retas radiais, a partir de uma fonte luminosa, com a mesma distância angular entre elas,
pode-se representar, por meio de vetores, a intensidade luminosa emitida pela fonte nos diferentes ângulos.
Unindo-se os pontos extremos dos vetores, obtém-se uma curva de distribuição de intensidade luminosa,
também chamada de curva fotométrica.
Uma fonte puntual emitirá um fluxo luminoso com igual intensidade em todas as direções do espaço.
Neste caso, a curva fotométrica será um círculo, cujo raio será o valor da intensidade luminosa emitida pela
fonte (Figura 5.8). No entanto, como as fontes de luz não são puntuais, fornecendo diferentes intensidades, a
curva não será circular (Figura 5.9).
Por convenção, as curvas fotométricas são traçadas para fluxos luminosos de 1000 lúmens com a
finalidade de permitir comparações entre diferentes luminárias.
O diagrama zonal é obtido das curvas de distribuição e mostra a percentagem do fluxo luminoso nas
diversas direções. Este diagrama indica o tipo da luminária em relação à distribuição dos fluxos luminosos nos
diversos ângulos e permite decidir sobre a distribuição do fluxo luminoso pela luminária (direta, indireta,
semi-direta etc).
Como a maior parte dos reflexos em superfícies horizontais que incidem no olho em posição de leitura
provém de raios luminosos entre 0 e 30º, a luminária deveria ter uma menor emissão de luz nestes ângulos
(FRANCO, 1993). Para evitar este efeito a luminária deveria apresentar baixas intensidades entre 0 e 30º,
intensidade máxima entre 30 e 60º e controle total acima de 60º para evitar o ofuscamento direto. Luminárias
com estas características apresentam curvas fotométricas conhecidas como batwing (asa de morcego),
conforme mostra a Figura 5.10.

98
0 0
330 30 330 30

300 60 300 60

270 90 270 90

240 120 240 120

210 150 210 150


180 180

Figura 5.8. Curva fotométrica para uma Figura 5.9. Curva fotométrica para uma
fonte puntual fonte real.

0
330 30

300 60

270 90

240 120

210 150
180

Figura 5.10. Curva fotométrica tipo batwing

§ Distribuição do fluxo luminoso


Conforme a distribuição do fluxo luminoso, uma luminária se classifica em seis tipos (a Tabela 5.10
exemplifica a classificação das luminárias):
§ Direta: é aquela no qual o fluxo luminoso emitido pela fonte é dirigido diretamente sobre a superfície
a ser iluminada. Pode produzir sombras com contraste acentuado. Existe a possibilidade de
ofuscamento quando a fonte de luz se encontra dentro do campo visual ou quando a luz incide em
superfícies polidas;
§ Semi-direta: grande parte do fluxo luminoso é dirigido diretamente para a superfície de trabalho e
parte do fluxo atinge a superfície através de reflexões no teto e nas paredes. Produz sombras mais
tênues que na iluminação direta e menor possibilidade de ofuscamento;
§ Indireta: é obtida apenas por reflexão no teto e nas paredes. A fonte é oculta aos olhos do
observador. Apresenta ausência de ofuscamento e de sombras. No entanto, a potência instalada em
iluminação para atender uma determinada iluminância será muito elevada;
§ Semi-indireta: a maior parte do fluxo luminoso incide na superfície de trabalho através da reflexão no
teto e nas paredes e apenas pequena parcela a atinge diretamente. Proporciona uma iluminação
agradável pois produz sombras suaves e é isenta de ofuscamento. No entanto, a sua eficiência não é
muito boa devido às perdas sofridas nas sucessivas reflexões da luz antes de atingir a superfície de
trabalho;
§ Direta-indireta: é obtida por luminárias que emitem praticamente o mesmo fluxo luminoso para cima
e para baixo;
§ Difusa: é obtida com o emprego de luminárias difusoras que espalham o fluxo luminoso em diversas
direções, produzindo pouca sombra. A possibilidade de ofuscamento é remota. Porém, a necessidade
de potência instalada em iluminação para atender uma determinada iluminância é elevada.

99
Tabela 5.10. Classificação das luminárias pela CIE (Fonte: IESNA, 1995).

Classificação pela Commission Internacionale d’Eclairage

Para cima: 0 a 10% Para cima: 90 a 100%

0 0
330 30 330 30
300 60 300 60
270 90 270 90
240 120 240 120
210 150 210 150
180 180

Para baixo: 90 a 100% Para baixo: 0 a 10%


Direta Indireta

Para cima: 10 a 40% Para cima: 60 a 90%

0 0
330 30 330 30
300 60 300 60
270 90 270 90
240 120 240 120
210 150 210 150
180 180

Para baixo: 60 a 90% Para baixo: 10 a 40%


Semi-direta Semi-indireta

Para cima: 40 a 60% Para cima: 40 a 60%

0 0
330 30 330 30
300 60 300 60
270 90 270 90
240 120 240 120
210 150 210 150
180 180

Para baixo: 40 a 60% Para baixo: 40 a 60%


Direta-indireta Difusa

§ Refletância
A refletância da superfície refletora das luminárias influencia significativamente na sua eficiência e varia
de acordo com o acabamento utilizado. Desta forma, apresenta-se a refletância proporcionada por diferentes
tipos de refletores com o intuito de mostrar a sua importância na escolha de uma luminária. A Tabela 5.11
apresenta a refletância para alguns refletores.

100
Tabela 5.11. Refletâncias apresentadas por Santamouris (1995).

Refletor Refletância (%)


Branco 60 a 80
Alumínio anodizado polido 90
Filme de prata 96

Como pôde-se perceber, os refletores de alumínio e de filme de prata apresentam refletâncias


significativamente superiores àquelas dos refletores brancos. Porém, Santamouris (1995) alerta para o risco de
ofuscamento através da utilização de refletores reflexivos, além da necessidades de mantê-los limpos para
evitar o acúmulo de poeira e diminuição das propriedades reflexivas.
Para avaliar o potencial de economia de energia através da utilização de luminárias eficientes,
Santamouris (1995) estudou 4 edifícios obtendo uma economia média de 18% do consumo de eletricidade
para iluminação para um período de retorno variando de 3,5 a 17 anos.

§ Distribuição espacial
Para se obter resultados satisfatórios nos níveis de iluminação, as luminárias devem ser distribuídas
adequadamente, garantindo uniformidade de iluminâncias e de luminâncias.
Segundo Smit (1964), a distância entre as luminárias não deve ultrapassar a sua altura útil (altura entre
as luminárias e o plano de trabalho) e a distância até a parede deve ser a metade desta distância. Porém,
Philips (1996) recomenda que pelo menos um valor, quer seja entre o afastamento transversal quer entre o
afastamento longitudinal, deve estar entre 1 e 1,5 vezes a altura útil. Moreira (1982), sugere apenas uma
distribuição simétrica entre as luminárias para permitir uma melhor uniformidade.
Em virtude da inexistência de uma posição comum entre os diferentes autores, este trabalho sugere e
segue a recomendação proposta por Philips (1996). Porém, recomenda-se que tanto o afastamento transversal
quanto o longitudinal esteja entre 1 e 1,5 vezes a altura (h) entre as luminárias e o plano de trabalho. Isto evita
que se utilize afastamento excessivo em uma dada direção. Quanto ao afastamento da luminária até a parede
recomenda-se que deva ser igual a metade do afastamento entre as luminárias para cada direção.

5.9.3 Reatores

Os reatores são equipamentos necessários para o funcionamento das lâmpadas de descarga. Fornecem
uma alta voltagem inicial para iniciar a descarga e, em seguida, limitam a corrente para manter a descarga a um
nível seguro.
Existem dois tipos principais de reatores: os eletromagnéticos e os eletrônicos. Apesar de seu baixo
custo inicial os reatores eletromagnéticos estão sendo substituídos pelos eletrônicos que oferecem uma
substancial economia de custos e desempenho global superior.
Os reatores eletromagnéticos consomem de 10 a 20% do total de energia de entrada (CADDET,
1995). Os reatores eletrônicos usam apenas 47% da energia que os eletromagnéticos usariam (Santamouris,
1995). O consumo de um reator eletromagnético convencional para duas lâmpadas de 40 W é de 25% da
potência nominal destas.
Para EPRI (1993), os reatores eletrônicos aumentam a eficiência do sistema lâmpada/ reator em 15 a
20%.
Os reatores eletrônicos de partida rápida apresentam a desvantagem de aquecer os eletrodos
continuamente durante a operação. Nos eletrônicos de partida instantânea, os eletrodos nunca são aquecidos,
o que aumenta a eficiência do sistema; no entanto, reduzem a vida das lâmpadas em 25% (EPRI, 1993).

101
Segundo CADDET (1995), a economia de energia esperada com o uso de reatores eletrônicos é de 20
a 30%. Borg (1993) afirma que os reatores eletrônicos de alta freqüência aumentam a eficiência do sistema de
iluminação em mais de 25%, além de não produzirem flicker e ruído.
Van Bogaert (1996) afirma que substituição de reatores eletromagnéticos por eletrônicos gera
economia de aproximadamente 25%. Porém, Iluminação Brasil (1995), afirma que os reatores eletrônicos,
além de proporcionarem economia de 30% no consumo de energia, prolongam a vida útil das lâmpadas
fluorescentes em até 50%.
Para avaliar o potencial de economia através da substituição de reatores eletromagnéticos por
eletrônicos, Santamouris (1995) avaliou 13 edifícios na Grécia. A economia verificada foi de 4% do consumo
atual com iluminação com um período de retorno variando de 4 a 40 anos, com média aproximada de 10
anos.
Como os reatores eletrônicos reduzem as perdas mas nem sempre são viáveis economicamente,
recomenda-se que sejam avaliadas alternativas com e sem reator eletrônico e comparadas suas viabilidades
econômicas.

§ Flicker
Os reatores eletromagnéticos transformam a tensão de entrada de 60 Hz para a da lâmpada, alterando
a tensão e não a freqüência. Desta forma, a voltagem passa pelo zero 120 vezes por segundo, resultando em
120 oscilações de saída de luz, o que causa o flicker. Estas oscilações podem causar a impressão de que
objetos que se movimentam rapidamente pareçam parados, ou em movimento contrário, ou em movimento
não contínuo (efeito estroboscópico).
Os reatores eletrônicos convertem a freqüência de operação das lâmpadas de 50 a 60 Hz para 20 a 60
kHz, o que reduz o flicker para níveis imperceptíveis. A alta freqüência de operação resulta em uma
conversão mais eficiente de eletricidade em luz visível. Nos reatores eletrônicos ocorrem também menos
perdas internas. Segundo IESNA (1995), a eficiência destas lâmpadas pode ser melhorada em 10% para
sistemas operando acima de 10 kHz.
Segundo Lemons (1984), existem ainda outros dois tipos de flicker, um provocado pelo
envelhecimento dos componentes da lâmpada e outro por instabilidade dos componentes da lâmpada. Este
segundo é usualmente temporário ou não denota problemas que devam ser eliminados.
Schanda (1996) mostra que estudos realizados no Institute for Working Life, em Solna, na Suécia, indicam
o flicker (modulação da luz) gerado pelos sistemas fluorescentes convencionais como a principal causa de
desconforto para pessoas sensíveis à eletricidade. Acredita-se que o sistema nervoso destas pessoas é excitado
por campos elétricos e magnéticos gerados por baixas freqüências de operação. Desta forma, o uso de
reatores eletrônicos de alta freqüência torna-se bastante atraente em virtude da baixa modulação de luz que
apresentam.
A modulação, expressa em porcentagem, é definida como a variação entre o valor médio e o de pico da
intensidade luminosa de uma fonte de luz. A maioria das lâmpadas alimentadas por corrente alternada
apresenta modulação pois acendem e apagam a uma freqüência de duas vezes a freqüência da corrente. Nas
lâmpadas incandescentes, apesar do filamento não esfriar o suficiente para variar a intensidade luminosa de
forma significativa, verifica-se uma modulação de 5 a 10% (SCHANDA, 1996).
Ainda segundo Schanda (1996), as lâmpadas fluorescentes apresentam maior modulação em virtude de
sua menor inércia térmica. Operando com reatores eletromagnéticos, as lâmpadas mais antigas (T12 - 38 mm)
têm modulação de 20%, enquanto as mais modernas (T8 - 26 mm) têm entre 35 e 40%. No entanto, como os
reatores eletrônicos elevam significativamente a freqüência de operação das lâmpadas, a modulação da luz é
extremamente baixa, em torno de 1%.

§ Ruído
Os reatores eletromagnéticos de alta eficiência e os eletrônicos são os que geram menor nível de ruído
(EPRI, 1993).

102
§ Harmônicas
São correntes ou voltagens que são múltiplos mais altos da freqüência fundamental. Quando a forma
da corrente se desvia da forma senoidal, harmônicas são produzidas na corrente ou voltagem.
Segundo EPRI (1993), a geração de harmônicas pode provocar:
§ sobrecarga nos transformadores;
§ adicionar corrente ao neutro nos sistemas trifásicos;
§ interferências em aparelhos elétricos;
§ distorção nas voltagens de entrada.
A IESNA (1995) afirma que a distorção harmônica total deve ser limitada a um máximo de 20 a 30%.

5.9.4 Escolha da lâmpada

A escolha das lâmpadas a serem utilizadas em um ambiente deve ser feita em função do local e da
natureza do trabalho. Para obter-se a lâmpada mais adequada deve-se levar em consideração os seguintes
fatores:
§ dimensões e forma do local a iluminar;
§ tipo de tarefa visual a ser executada;
§ a iluminância necessária;
§ período de funcionamento do sistema de iluminação;
§ custo inicial e de operação do sistema;
§ a vida útil da lâmpada;
§ a temperatura de cor e o índice de reprodução de cor da lâmpada;
§ a eficiência luminosa da lâmpada.

5.9.5 Escolha da luminária

Luminárias são dispositivos cuja finalidade é suportar a lâmpada e distribuir o fluxo luminoso. Podem
servir também para ocultar a fonte de luz da visão direta do observador, evitando o ofuscamento. São
classificadas segundo o sistema de iluminação obtido na distribuição da luz.
Na escolha da luminária, além da direção do fluxo, deve-se considerar a sua eficiência, isto é, a
porcentagem de perda de luz em virtude da sua absorção pelas partes que compõem a luminária.
Outros detalhes que devem ser observados são os seguintes:
§ possibilidade de adaptação ao local;
§ efeito estético;
§ qualidade do material de fabricação;
§ propriedades reflexivas de seu refletor;
§ facilidade de manutenção;
§ facilidade na substituição de lâmpadas.

A manutenção também aumentará o potencial para conservação de energia. A manutenção freqüente


ocorre em ciclos de reposição de grupos e limpeza. Dependendo da limpeza do ambiente e do tipo de
luminária, o pó acumulado e a sujeira podem responder por uma perda de iluminação de 5 a 30%. Da mesma
forma, a luz emitida diminui com a idade dos componentes de iluminação e também variam entre 5 e 30%.
Em um ambiente típico de escritórios com sistema de iluminação energeticamente eficiente a depreciação
total da luz é de 10 a 20% ao final do período de manutenção (CADDET, 1995).

103
5.10 ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Para identificar os benefícios econômicos de um sistema de iluminação energeticamente eficiente
devem ser considerados os custos inicial e de manutenção. O custo inicial engloba todos os aspectos
necessários para produzir o sistema de iluminação. Custos de equipamentos, instalação e comissão, são gastos
iniciais. Custos de manutenção são aqueles que mantém o sistema funcionando adequadamente; incluem
custos de energia, limpeza, reposição de lâmpadas e reatores e manutenção adequada de todos os
equipamentos. Em termos econômicos o objetivo geral de um sistema é minimizar os custos de manutenção
para permitir que o dinheiro economizado equilibre os gastos iniciais. O tempo total para que ocorra este
equilíbrio é expresso através do período de retorno.
Algumas formas de avaliar um investimento, como o período de retorno, o método do valor presente,
o período de retorno corrigido e a taxa interna de retorno do investimento são apresentadas a seguir.
Informações adicionais a respeito destes métodos podem ser obtidas em Abreu e Stephan (1982), Casarotto
Filho e Kopittke (1992), Fleischer (1973), Lins (1976), Mayer (1977), ou em outros livros de matemática
financeira.

5.10.1 Período de retorno (payback)

Embora seja amplamente utilizado, o método do período de retorno simples não é um método
adequado pois considera apenas a relação entre o investimento inicial e os benefícios; a depreciação
monetária ao longo do tempo e a vida do projeto não são consideradas. A equação 5.3 mostra a fórmula para
determinar o período de retorno simples.

Investimen to
Período de retorno = [Eq. 5.3]
Benefício

Portanto, se um projeto necessita de um investimento de $1000,00 e proporciona benefícios mensais


de $250,00, o período de retorno será de 4 meses, independente da vida útil do projeto. Pode-se perceber
facilmente que se dois projetos apresentam o mesmo período de retorno, o projeto com vida maior será
economicamente mais atraente. No entanto, este método não mostra este tipo de informação e deveria ser
usado apenas em conjunto com outros métodos mais precisos.

5.10.2 Método do valor presente

Este método baseia-se no conceito de equivalência monetária na data presente dos fluxos de caixa
ocorrentes em diferentes datas. Se o valor presente é positivo, o projeto é viável. No caso de comparação
entre diferentes projetos, o melhor investimento será aquele que apresentar maior valor presente. A taxa de
juros a ser usada neste método deve ser aquela em que o investidor acredita ter lucro.
O método consiste em trazer para a data presente, em função da taxa de juros, todos os investimentos
e benefícios que acontecem ao longo da vida útil do projeto. A taxa de juros é incorporada aos cálculos
através do fator de desconto, cuja fórmula é mostrada pela equação 5.4.

1
DFn = [Eq. 5.4]
(1 + i)n
onde:
DFn é o fator de desconto para o período n (adimensional);
i é a taxa de juros (decimal);
n é o período em que a taxa de juros se aplica.

104
Logo, o valor presente pode ser determinado através da utilização da equação 5.5.

VPn = DFn (Benefício – Investimento)n [Eq. 5.5]


onde:
VPn é o valor presente para o período n ($);
DFn é o fator de desconto para o período n (adimensional);
Benefício é o benefício verificado no período n ($);
Investimento é o investimento verificado no período n ($).

Conseqüentemente, o valor presente total considerando a vida útil do projeto será dado pela equação
5.6.

n
VPtotal = ∑ VP
n =0
n [Eq. 5.6]

Para o exemplo discutido anteriormente, para uma taxa de juros de 4% ao mês, se o projeto tiver vida
útil de 5 meses, o valor presente será $112,96. No entanto, se a vida útil do projeto for de 10 meses, o valor
presente será de $1027,72. Portanto, com este método é possível perceber que dois projetos com o mesmo
período de retorno podem ter atratividade diferente. No entanto, atenção especial deve ser dada à vida do
projeto, pois caso seja adotada uma vida muito maior do que a real, o valor presente não corresponderá à
realidade.
Lançamentos com aumentos definidos ao longo da vida útil do equipamento podem ocorrer. É o caso
do preço do combustível, quando aumenta ao longo dos anos seguindo uma série geométrica, ou então dos
gastos com manutenção. Pode-se incorporar esta informação na análise econômica, através do cálculo do
valor presente destes lançamentos.
Para uma série de pagamentos que sofre uma inflação em um porcentual constante ao longo dos anos,
seguindo o padrão

calcula-se o valor presente desta série por meio de (Duffie e Beckman,1991)


P = G1 ( P / G1 , i, g , n)

105
onde:
G1 é o valor do primeiro termo da série geométrica de pagamentos [unidades monetárias];

( P / G1 , i, g , n) é o fator de juros, calculado por:

 1   1 + g n 
 1 −    se i ≠ g
 (i − g )   1 + i  
( P / G1 , i, g , n) =   
 n
se i = g
 (1 + g )

onde:
i - taxa de interesse [decimal];
g - taxa de crescimento geométrico [decimal];
n - número de períodos [inteiro].

5.10.3 Período de retorno corrigido

Através do método do valor presente é possível determinar o período de retorno corrigido, que
corresponde a um valor mais preciso pois a depreciação monetária é levada em consideração. O período de
retorno corrigido é determinado em função do valor presente acumulado, como mostra a equação 5.7.

VPAn = VPn + VPAn-1 [Eq. 5.7]


onde:
VPAn é o valor presente acumulado para o período n ($);
VPn é o valor presente para o período n ($);
VPAn-1 é o valor presente acumulado para o período n-1 ($).

Portanto, existirá um momento em que o valor presente acumulado muda de um valor negativo para
positivo, indicando o momento em que o investidor passa a recuperar o investimento. Este é o período de
retorno corrigido. A Figura 5.11 demonstra o exemplo anterior. Para uma taxa de juros de 4% ao mês, o
período de retorno corrigido é de 4,45 meses. O período de retorno de 4 meses seria real somente se a taxa de
juros fosse nula.

1500,00
Valor presente acumulado ($)

1000,00

500,00

0,00
0 2 4 6 8 10
-500,00

-1000,00

-1500,00
Período (meses)

Figura 5.11. Período de retorno corrigido para um exemplo específico.

106
5.10.4 Método da taxa interna de retorno (TIR)

Este método consiste em calcular a taxa que zera o valor presente dos fluxos de caixa das alternativas.
Os investimentos com TIR maiores que a taxa mínima de atratividade (TMA) são considerados rentáveis e
são passíveis de análise. A TMA representa a taxa à partir da qual o investidor considera que terá lucros.
Para o exemplo em questão, considerando 10 meses de vida útil, a taxa de retorno será de 21,4% por
mês. A Figura 5.12 apresenta este exemplo e mostra a variação do valor presente acumulado como função da
taxa de juros. Para taxas de juros menores que a TIR, o valor presente acumulado no final da vida útil (10
meses) será positivo. E quanto menor a taxa de juros, maior o valor presente acumulado. No entanto, se a
taxa de juros for maior do que a TIR, o investimento não será viável pois o valor presente acumulado será
negativo mesmo no final da vida útil do projeto.
Valor presente acumulado

1500,00
1000,00
500,00
($)

0,00
-500,00
-1000,00
-1500,00
0 2 4 6 8 10
Período (meses)

i = 0,0% i = 5,0% i = 10,0%


i = 15,0% TIR = 21,4% i = 40,0%

Figura 5.12. Taxa Interna de Retorno para um exemplo específico.

5.10.5 Investimento versus benefício

Através da análise dos métodos descritos é possível perceber que os três últimos fornecem resultados
mais precisos. Também pode-se perceber que o período de retorno corrigido e a TIR são métodos que
podem ser usados em função da relação entre investimento e benefício. Por exemplo, um projeto cuja vida
útil é de 10 anos terá um período de retorno corrigido de 5,90 anos (para uma taxa de juros de 5,00% ao ano)
e uma TIR de 15,50% ao ano quando o investimento for de $50,00 e os benefícios $10,00 ao ano. Os
mesmos resultados são obtidos se o investimento for de $50.000,00 e os benefícios de $10.000,00 ao ano. O
valor presente, obviamente aumenta de acordo com o aumento do investimento e dos benefícios.
Portanto, através do desenvolvimento dos métodos do período de retorno corrigido e da TIR é
possível elaborar tabelas e gráficos com o período de retorno corrigido e a TIR em função da relação entre
investimento e benefícios.
A Figura 5.13 apresenta um gráfico com o período de retorno que pode ser obtido em função da
relação entre investimento e benefícios e de diferentes taxas de juros por período (5%, 10%, 15% e 20%).
Assim, se um projeto precisa de um investimento 5 vezes maior do que o benefício esperado mensalmente, o
período de retorno corrigido será de 5,90 meses para uma taxa de juros de 5% ao mês. Quanto maior a taxa
de juros, maior o período de retorno corrigido.
A Figura 5.14 apresenta a TIR que pode ser obtida em função da relação entre investimento e
benefícios, bem como da vida útil do projeto (10, 20 e 30 períodos). Portanto, se um projeto necessita de um
investimento 5 vezes maior do que os benefícios mensais, a TIR será de 15,1% ao ano para um projeto de 10
anos. Se a vida do projeto é de 20 anos, a TIR será de 19,4% ao ano.
Alerta-se que as informações apresentadas nas Figura 5.13 e Figura 5.14 se aplicam somente aos casos
com um único investimento inicial.

107
Período de retorno corrigido
40

30

(períodos)
20

10

0
0 5 10 15 20
Relação investimento/benefícios

i = 5% i = 10% i = 15% i = 20%

Figura 5.13. Período de retorno corrigido em função da relação entre investimento e benefícios e da taxa de juros.

100
TIR (%. período)

80

60

40

20

0
0 5 10 15 20 25 30
Relação investimento/benefícios

n = 20 períodos n = 10 períodos n = 30 períodos

Figura 5.14. Taxa interna de retorno em função da relação entre investimento e benefícios e da vida útil do projeto.

5.11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LEITURA RECOMENDADA


ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Projeto de Norma 02:135.02-001: Iluminação natural –
Parte 1: Conceitos básicos e definições. Rio de Janeiro, 2003. 5 p.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Projeto de Norma 02:135.02-002: Iluminação natural –
Parte 2: Procedimentos de cálculo para a estimativa da disponibilidade de luz natural. Rio de Janeiro,
2003. 17 p.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Projeto de Norma 02:135.02-003: Iluminação natural –
Parte 3: Procedimento de cálculo para a determinação da iluminação natural em ambientes internos.
Rio de Janeiro, 2003. 33p.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Projeto de Norma 02:135.02-004: Iluminação natural –
Parte 4: Verificação experimental das condições de iluminação interna de edificações – Método de
medição. Rio de Janeiro, 2003. 13p.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 538: Verificação da iluminância de interiores. Rio
de Janeiro, 1985. 6 p.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 5413: Iluminância de interiores - Procedimento.
Rio de Janeiro, 1991. 13 p.

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Refrigeration and Air-Conditioning Engineers, Inc.). ASHRAE/IES 90.1-1989: Energy standard for
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BORG, N. High-quality task lighting. IAEEL International Association for Energy-Efficient Lighting,
Holanda, vol 2, Issue no 5, 03/1993.
BORG, N. T5 lamps boost fluorescent lighting efficiency. IAEEL International Association for Energy-
Efficient Lighting, Holanda, vol 6, Issue no 17, p 4-6, 01/1997.
CADDET (Centre for the Analysis and Dissemination of Demonstrated Energy Technologies). Saving
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CALIFORNIA ENERGY COMMISSION. Non residential manual for compliance with the 1992
energy efficiency standards (for nonresidential buildings, high-rise residential buildings, and
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PEREIRA, F. O. R. Iluminação. Florianópolis: Curso de especialização de engenharia de segurança do
trabalho. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1996. 76 p. (Apostila).
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SCHANDA, J. Electronic ballasts: Relief for the senses. IAEEL International Association for Energy-
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SMILEY, F. Students delight in daylighting. IAEEL International Association for Energy-Efficient Lighting,
Issue no 14, vol 5, p 11-12, fev/1996.
SMIT, L. Iluminação - 1a parte: iluminação interna. Rio de Janeiro: Biblioteca Técnica Philips, 1964. 222 p.
SOUZA, M. B. Impacto da luz natural no consumo de energia elétrica em um edifício de escritórios
em Florianópolis. 1995. 191 p. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, novembro/95.
THE EUROPEAN COMMISSION. Daylighting in buildings. Dublin: The European Commission.
Dictorate - General for Energy (DGXVII), The THERMIE Programme Action, 1994. 26 p.
(brochura).
Uso Racional de Energia Elétrica em Edificação – Iluminação. São Paulo: Associação Brasileira da Indústria
de Iluminação – ABILUX, 2ª edição, 1992.
VAN BOGAERT, G. Local control system for ergonomic energy-saving lighting. New lighting systems,
The Netherlands, Newsletter 1996, CADDET Energy Efficiency - Centre for the Analysis and
Dissemination of Demonstrated Energy Technologies, p 4-5, 1996.
VIANNA, N.S. e GONÇALVES, J.C.S. Iluminação e Arquitetura. São Paulo: Virtus s/c Ltda,2001. 378p.

110
6. AQUECIMENTO SOLAR INTEGRADO AO PROJETO
Fabrício Colle, Samuel Luna Abreu e Thomaz P. F. Borges

6.1 INTRODUÇÃO
O aquecimento de água para banho representa uma importante demanda energética nas residências das
regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país. O banho diário, além de ser uma necessidade sanitária, é um
requisito indispensável para o convívio social, na cultura brasileira.
A principal forma de se aquecer a água para o banho no Brasil é o uso de chuveiros elétricos, que nada
mais são do que aquecedores elétricos de passagem. O Brasil é um dos poucos países no mundo que os
utiliza, remontando ao seu passado recente em que houve abundância de energia de origem hidroelétrica. A
potência de um chuveiro elétrico é usualmente em torno de 5 kW, podendo ser superior a 10 kW para alguns
modelos. Isto agrava o problema do horário de ponta no fornecimento de eletricidade. O uso da energia
elétrica para o aquecimento de água faz com que todo o sistema elétrico nacional, tanto na parte de geração
quanto na transmissão e distribuição, tenha que ser superdimensionado para garantir o fornecimento no
horário de ponta. Esse horário corresponde ao período crítico do dia, durante o qual a demanda de energia
elétrica residencial é máxima, o que ocorre entre as 18:00 e 21:00 horas na maioria das cidades brasileiras. O
consumo energético de água para banho representa de um quarto a um terço do consumo mensal de
eletricidade de uma residência.
A energia hidroelétrica é a modalidade mais comum de energia renovável, compondo a maior parte da
matriz de geração de energia elétrica no Brasil. Excetuando-se essa forma de energia, as modalidades mais
comuns da utilização de energia renovável são as energias solar, eólica e da biomassa.
A utilização de energias renováveis além da hidroeletricidade e biomassa vem ocupando um mercado
crescente no contexto da matriz energética do país. Isto vem ocorrendo por decorrência do aumento dos
preços da energia elétrica e dos combustíveis fósseis e da necessidade de reduzir a emissão de gases que
causam o efeito estufa e também da necessidade de se formular um modelo de complementaridade à geração
elétrica. Por outro lado, os custos globalizados de energia elétrica têm pressionado o mercado de energia no
Brasil a adotar uma política de preços realista que viabilize os investimentos realizados nesse setor.
Devido ao fato de ser um país de dimensões continentais e situar-se quase que inteiramente numa
região tropical, o Brasil possui um dos maiores potenciais do mundo de utilização de energia solar. A energia
solar incidente sobre o país totaliza aproximadamente 6,2 x 1022 J/ano (Colle e Pereira, 1998), o que
corresponde a mais de 55 mil vezes o consumo anual de energia elétrica no país (1,13 x 1018 J – MME, 2000).
Considerando-se, por exemplo, a geração de energia fotovoltaica distribuída no território nacional, com
painéis fotovoltaicos de eficiência igual a 5% (por exemplo painéis construídos com a tecnologia de filmes
finos de silício amorfo), a área total necessária para suprir todo o consumo anual de energia elétrica seria da
ordem de 0,04% da superfície do país. Vale mencionar que a área somada dos reservatórios de Itaipu, Balbina
e Tucuruí representam 0,06% do território brasileiro. Esses dados demonstram, muito embora
empiricamente, que a utilização da energia solar como uma alternativa à geração hidroelétrica não deve ser
ignorada. A energia solar pode ser utilizada para gerar energia elétrica ou para produzir calor diretamente. A
geração de energia elétrica pode ser realizada através de ciclos térmicos convencionais ou pela conversão
fotovoltaica. Os custos de capital de geração de energia elétrica de fonte solar situam-se presentemente entre
US$ 3,50 / watt (tecnologias de ciclos térmicos) e US$ 7,00 / watt (tecnologias fotovoltaicas). Detalhes sobre
as tecnologias de geração elétrica termo-solar e fotovoltaica são apresentados em Quaschning et al (2001) e
em Rüther (2004) respectivamente.
O ponto básico relativo à política de utilização em larga escala de energia termo-solar reduz-se a
responder a questão de interesse do consumidor, qual seja: deve este pagar mais pelo investimento em
geração através da sua conta de energia elétrica, ou deve este pagar pelo investimento em sistemas mais
eficientes de conversão, baseados ou não em fontes renováveis de energia? A tendência mundial é apoiar a
ancoragem da energia solar sempre que o mercado apresentar oportunidade de introduzir essa tecnologia com
menor custo, como é o caso da energia solar para o aquecimento doméstico no Brasil.

111
O uso da energia solar térmica no Brasil exige projetos próprios para o país, dado o tipo de clima que
temos, e as matérias primas disponíveis. Nos projetos térmicos em geral, não é possível somente repetir uma
concepção tecnológica existente em outro país, mesmo que sejam soluções tecnologicamente avançadas.
O custo de instalação dos sistemas de aquecimento solar e a quantidade de energia economizada por
eles estão ligados a aspectos relacionados ao projeto da edificação. Decisões simples tomadas durante essa
fase podem ser fundamentais para a viabilidade econômica futura da instalação de um sistema de
aquecimento solar.

6.1.1 Aspectos Históricos

Por volta de 1760, Horace de Saussure, um naturalista franco-suíço, escreveu: “É um fato conhecido já
há muito tempo que um recinto, uma carruagem ou outro lugar se torne mais quente ao receber raios de sol
através de uma janela de vidro”. Para determinar a eficácia do aprisionamento de calor dos raios de sol através
do vidro, Saussure construiu uma caixa retangular de madeira, coberta apenas com vidro por cima. Dentro
desta caixa, colocou uma outra caixa igual porém menor, e monitorou a temperatura do fundo revestido preto
da caixa interna. Através deste tipo de caixa, Saussure obteve temperaturas de até 109 °C no interior da caixa
interna.
Em 1891, o norte-americano Clarence Kemp patenteou o primeiro aquecedor solar de água a ser
comercializado no mundo. Denominado por seu inventor de Clímax, este aquecedor solar encerrava tanques
pintados de negro em uma caixa envidraçada. A água aquecida permanecia na própria caixa envidraçada sobre
o telhado.
Em 1909, William J. Bailey patenteou o primeiro aquecedor solar composto de placas coletoras, e um
reservatório térmico separado. Esta separação permitia que a água, melhor isolada, se mantivesse quente até a
manhã seguinte após um dia de sol.
A abundância e o baixo preço de combustíveis fósseis provocou uma retração no mercado de sistemas
de aquecimento solar de água nos anos 20. Em virtude do racionamento de combustíveis durante a Segunda
Guerra Mundial, o mercado de aquecedores solares revitalizou. Em 1941, metade da população da Flórida
aquecia a água para banho com o sol.
Durante o pós-guerra, o aquecedor solar de água disseminou-se no Japão, Austrália e Israel, com uma
pequena quantidade de equipamentos desde os anos 50, orientaram-se fortemente para o aquecimento solar
de água após a Crise do Petróleo de 1973.
A crise de 1973 foi o deflagrador mundial da adoção comercial do aquecimento solar de água. Os
primeiros fabricantes brasileiros de aquecedores solares surgiram em torno de 1975 e, em 1981, estavam
cadastrados 47 fabricantes em todo o país.
Maiores detalhes da história dos aquecedores solares podem ser encontrados na página web do
Califórnia Solar Center (www.californiasolarcenter.org).

6.1.2 Aspectos Econômicos e Ambientais

O consumo total anual de energia elétrica no Brasil correspondeu a 314.698 GWh em 1999 (MME-
2000). A Figura 6.1 mostra a distribuição do consumo elétrico por setor. Observa-se que o consumo de
energia elétrica no setor residencial corresponde a 25,8% do consumo total.
No setor residencial, a distribuição do consumo de energia elétrica por finalidade pode ser observada
no gráfico da Figura 6.2.

112
Consumo de energia elétrica por setor
3,3%
4,3%
8,8% industrial
residencial
44,0% comercial
13,8%
público
agropecuário
outros

25,8%

Figura 6.1. Consumo de eletricidade por setor no Brasil (1999) – fonte: Balanço Energético Nacional (MME, 2000)

Distribuição do consumo residencial de


energia elétrica
5%
5%
5% 30% geladeira e freezer
chuveiro
10%
iluminação
televisão
ferro
máquina de lavar
20% outros
25%

Figura 6.2. Consumo residencial de energia elétrica por finalidade (LIGHT, 2000)

O consumo de energia elétrica para aquecimento de água corresponde a 25% do consumo total
residencial. Combinando-se as informações, é possível concluir que aproximadamente 6,5% do consumo total
de energia elétrica no país se deva ao aquecimento de água residencial. Essa fração corresponde
aproximadamente a 20.300 GWh por ano, o equivalente a sete vezes o consumo residencial anual de energia
elétrica do estado de Santa Catarina.
A demanda máxima recorde de energia elétrica no sistema interligado brasileiro foi de 56.196 MW no
dia 24/4/2001 às 19:01 (Segundo Boletim diário de operação do sistema ONS, 2003). No horário de pico de
demanda, a participação do setor residencial aumenta para aproximadamente 35% do total. O chuveiro
elétrico contribui com aproximadamente 27% da demanda residencial durante o horário de pico (Prado e
Gonçalves, 1998). Considerando a penetração do chuveiro elétrico em 90% das residências brasileiras, pode-
se estimar uma participação do chuveiro elétrico em aproximadamente 8,5% da demanda total.
Considerando-se a demanda máxima mencionada, este valor se situaria em torno de 4.800 MW, o que
equivale a aproximadamente 40% da capacidade de geração instalada na Usina Hidroelétrica Itaipu
Binacional.
As possibilidades para a redução do consumo de energia elétrica residencial no horário de pico são a
mudança de hábitos de consumo (tomar banho em outros horários), e o uso de outras tecnologias para o
aquecimento de água. Considerando que os hábitos de banho, relacionados à hora que se retorna do trabalho
e da escola, são difíceis de se modificar, a mudança tecnológica parece ser a solução mais promissora. Os
aquecedores a gás, que utilizam o GLP ou o gás natural, são economicamente viáveis, apesar do investimento

113
inicial ser maior do que o dos chuveiros elétricos. Uma desvantagem dessa alternativa é o fato do gás ser um
produto suscetível à explosão. O gás é um combustível fóssil, e sua combustão gera gases promotores do
efeito estufa que, em larga escala, aumentam indesejadamente a temperatura do planeta, causando alterações
climáticas.
Os sistemas de aquecimento solar de água possuem uma série de vantagens em relação ao aquecedor
elétrico e ao aquecedor a gás. A energia solar é abundante no Brasil e disponível gratuitamente. O impacto
ambiental decorrente do uso de energia solar deve-se somente ao processo de fabricação do aquecedor solar,
e ao uso de energia auxiliar.
A Análise de Ciclo de Vida (LCA-Life Cycle Assessment) busca levantar toda a cadeia produtiva da água
quente, partindo dos impactos ambientais decorrentes da produção das matérias primas utilizadas na
construção de equipamentos, passando pelo impacto de cada insumo, e finaliza buscando mensurar o
impacto produzido pela reciclagem (ou não) das matérias primas. Dentre as várias técnicas de LCA, existem
as que buscam monetarizar cada impacto, traduzindo-os em um custo final para a sociedade. Tsilingiridiris et
al (2004) compararam o aquecedor solar com o aquecimento elétrico para uma residência familiar na Grécia, e
encontraram custos ambientais até seis vezes maiores para o aquecimento elétrico convencional.

6.2 EQUIPAMENTOS

6.2.1 Coletores solares

O coletor solar é o componente mais importante do sistema de aquecimento solar. É ele o responsável
pela conversão da energia solar em energia térmica. Portanto, um dos fatores mais críticos para o bom
funcionamento de um sistema é a qualidade dos coletores solares empregados. Um coletor solar pode ser
dividido em duas partes, a placa absorvedora e o gabinete, como mostra a Figura 6.3. Para um bom
funcionamento dos coletores solares na sua temperatura de operação, algumas características construtivas da
placa absorvedora e do gabinete devem ser observadas. Essas características serão detalhadas a seguir.

Absorvedor

Gabinete

Figura 6.3. Coletor solar em corte parcial. Gabinete e Absorvedor.

114
§ Placa Absorvedora
A placa absorvedora é a parte do coletor solar responsável pela recepção, conversão e transferência da
energia solar para o fluido de trabalho.Ela é geralmente construída de tubos e chapas de material bom
condutor de calor para otimizar as trocas térmicas entre o absorvedor e o fluido de trabalho. O material mais
usualmente empregado na construção dos absorvedores é o cobre mais se pode encontrar equipamentos que
usam o alumínio e até mesmo plástico, embora estes últimos sejam empregados apenas em equipamentos
desenvolvidos para baixas temperaturas de operação. O cobre é utilizado pela sua excelente condutividade
térmica, resistência à corrosão e facilidade de manuseio no que diz respeito a operações de brasagem. Além
disso, é um material 100% reciclável.

Tipos de Construção
Durantes muitos anos foram desenvolvidos diversos tipos construtivos de absorvedores e coletores
solares. O princípio de funcionamento é geralmente o mesmo. O absorvedor deve converter energia solar em
energia térmica. Abaixo são citados alguns tipos construtivos:
§ placa e Tubo;
§ perfil extrudado (plástico);
§ placa estampada;
§ termossifão de duas fases;
§ tubo de calor.

O sistema mais utilizado é o de placa e tubo, pois oferece atualmente a melhor relação entre custo e
benefício para os fabricantes e clientes. O método de fabricação é relativamente simples, utilizando produtos
e processos de produção comuns a outras áreas, e que garante um produto final confiável e com bom
desempenho térmico.
O tipo construtivo “placa e tubos” consistem na utilização de tubos para a construção de uma
serpentina por onde o fluído de trabalho deverá passar e de chapas metálicas (aletas) que são fixadas na
serpentina com o objetivo de aumentar a área absorvedora de energia solar.

Aletas e Cabeçotes
A Figura 6.4 (a) e (b) e a Figura 6.5 mostram os detalhes do tubo, da aleta, do tubo aletado e do
absorvedor montado. A maioria dos equipamentos existente no mercado utiliza-se deste tipo de configuração
de montagem.

Tubo de
Cobre Tubo
Aleta Aletado
Tubos
Aletados Cabeçotes

(a) (b)
Figura 6.4. a) Detalhamento dos componentes do absorvedor. Aletas, tubos e tubos aletados. b) Absorvedor.

115
Características construtivas e requisitos que garantem a qualidade do produto
Para que um absorvedor seja eficiente alguns fatores devem ser respeitados. Eles são:
§ material usado nos tubos e nas aletas deve ter alta condutibilidade térmica;
§ a largura e espessura da aleta e o diâmetro do tubo devem ter suas dimensões
cuidadosamente estudadas para que o fator de remoção de calor da aleta seja alto e para que
se use o mínimo de material no absorvedor (este item será analisado separadamente);
§ a junção entre a aleta e o tubo não deve gerar resistência de contato (este item será analisado
separadamente);
§ a pintura do absorvedor deve ser de preferência seletiva, ou seja, deve absorver bem a
energia solar e emitir pouca radiação térmica.

Figura 6.5. Detalhe do corte de um tubo aletado padrão.

Fator de eficiência de um coletor solar (FR)


O fator de eficiência de um coletor solar representa a razão entre o ganho de energia caso a superfície
absorvedora estivesse à temperatura local do fluido de trabalho e seu ganho real de energia. Em outras
palavras, pode-se entender como fator de eficiência a razão entre a energia que é transmitida ao fluído em
relação à energia que chega na aleta.
Este item tem como objetivo identificar a influência de diversos parâmetros construtivos no fator de
eficiência de um coletor solar. Esses parâmetros são basicamente: Material empregado na aleta e no tubo,
largura da aleta, espessura da aleta, diâmetro e espessura do tubo e resistência de contato entre tubo e aleta.
A análise detalhada de um coletor solar é bastante complexa. Porém, uma análise relativamente simples
pode proporcionar bons resultados. Esses resultados mostram quais as variáveis importantes, como se
relacionam e como afetam a performance do coletor solar.
A Figura 6.6 representa a variação do Fator de Eficiência do coletor solar com a variação do ângulo de
contato entre a aleta e o tubo. O ângulo de contato define a área de contato entre tubo e chapa. Quanto
maior for o ângulo de contato maior é a área de contato entre a aleta e o tubo. O eixo vertical representa os
valores de eficiência, o eixo horizontal a variação do ângulo de contato em radianos. Estão representadas
também as curvas relativas as diferentes espessuras possíveis de aleta em mm. Observa-se que quanto maior
for a espessura da placa menores são as variações da eficiência do coletor com a variação do ângulo de
contato. Isto significa que quanto maior for a espessura menor poderá ser a área de contato entre placa e tubo
sem comprometer a eficiência do coletor solar.

116
Gráfico do fator de Eficiência em função do
Ângulo de contato e da espessura da aleta
0,945
0,940

1.2%
0,935
0,930
3.0%

0,925
0,920

0.9%
Espessura de chapa

2.15%
0,915
0.1mm
Aficiência da aleta

0,910
0.2mm
7.2%

0,905
0.3mm
0,900 0.4mm
0,895 0.5mm
0,890
0,885
0,880
0,875
0,870
0,865 (Sem resistência de contato)
0,860
0,855
60°
0,850
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

Ângulo de contato (Rad)

Figura 6.6. Fator de eficiência de uma placa coletora.

Além da influência indireta citada acima, a espessura da chapa é de fundamental importância para a boa
condução térmica de calor pela aleta até o tubo. Observa-se que quanto mais espessa for a aleta dentro do
intervalo indicado, maior será a eficiência do coletor. Pode-se observar também que existe uma queda
acentuada da eficiência para espessuras abaixo de 0.2mm, o que indica que esta é uma espessura com boa
relação custo benefício.

Resistência de contato
Uma das variáveis construtivas que mais tem peso na eficiência de um coletor solar é a resistência de
contato entre as aletas e os tubos que conduzem a água. A Figura 6.7 mostra um corte de um tubo aletado e o
mecanismo de troca de calor entre a aleta e o fluido de trabalho. Pode-se observar que a aleta absorve a
energia solar, que é transferida para a região de contato entre aleta e tubo por condução. O ponto crítico para
a boa operação da aleta está na resistência de contato entre a aleta e o tubo. Caso o contato térmico não seja
perfeito, o calor não será totalmente transferido para o tubo e conseqüentemente para a água. A resistência de
contato pode ser simplesmente definida com a dificuldade que a energia tem de se transferir da aleta para o
tubo.

117
Radiação Solar Área de contato
Aquecimento da Aleta entre aleta e tubo Aleta

Condução de Calor
pela aleta Tubo Convecção
Aquicimento da água
Água
Figura 6.7. Detalhe do mecanismo de troca de calor na aleta e da resistência de contato.

Os coletores de baixa eficiência a disposição no mercado em geral utilizam aletas finas de alumínio ou
de cobre encaixadas em tubos de cobre. Estas aletas finas não exercem pressão suficiente nos tubos para
diminuir a resistência de contato. A conclusão é que embora se utilizem materiais de alta condutibilidade
térmica a resistência de contato diminui consideravelmente a transferência de calor entre a aleta e os tubos.
Com o passar do tempo, a situação fica ainda mais crítica pois a interface de encaixe entre as aletas e o tubo
começa a oxidar e a folga vai aumentando devido à dilatação diferencial quando são utilizados materiais
diferentes. Um bom coletor deve ter as aletas unidas aos tubos por algum tipo de processo de soldagem, seja
brasagem ou solda molecular (ultra-sônica), para garantir um bom contato térmico permanente entre a aleta e
os tubos.
A Figura 6.8 representa a variação da eficiência de aleta com a variação da resistência de contato entre
aleta e tubo. A Figura 6.9 mostra que quanto maior for a resistência de contato entre a aleta e o tubo, menor é
a influência dos fatores construtivos como material, largura e espessura da aleta na eficiência do coletor solar.

Gráfico do fator de Eficiência em função do


Ângulo de contato e da espessura da aleta

0,9
15.5%

0,8
35.0%

0,7
Eficiência da aleta

0,6

Espessura de chapa
0,5
0.2mm sem resistência de contato

0.2mm com resistência de contato


0,4

0,3

0,2

0,1
60°

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

Ângulo de contato (Rad)

Figura 6.8. Eficiência da aleta X ângulo de contato.

118
Gráfico do fator de Eficiência em função do
Ângulo de contato e da espessura da aleta

0,8

0,7

0,6
Espessura de chapa
Eficiência da aleta

0,5
0.1mm
0.2mm
0.3mm
0,4 0.4mm
0.5mm

0,3
(Com resistência de contato)
0,2

0,1
60°

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

Ângulo de contato (Rad)

Figura 6.9. Eficiência da aleta X ângulo de contato.

§ Gabinete
O gabinete nada mais é do que uma caixa vedada com uma cobertura de material transparente no qual
o absorvedor é inserido. A cobertura transparente é a responsável pela entrada da irradiação solar dentro do
gabinete. O gabinete tem a finalidade isolar o absorvedor do meio ambiente garantindo que as variações
atmosféricas tenham a menor influência possível sobre a conversão de energia solar em energia térmica. A
outra função é proteger o material que está dentro dele de intempéries, garantindo a sua integridade durante
toda a vida útil do equipamento.
O gabinete é composto por:
§ caixa;
§ isolamento;
§ cobertura.

As Figura 6.10 e a Figura 6.11 mostram uma placa coletora montada em seu gabinete.

119
Caixa
A caixa do coletor solar deve ser feita em material resistente à corrosão e com rigidez mecânica
suficiente para garantir a integridade estrutural do equipamento. As caixas podem ser feitas em chapa dobrada
de aço galvanizado, com perfis e chapas de alumínio, moldadas em plástico, fibra de vidro, etc.
Existem diversas formas de se montar à caixa. As mais comuns são listadas abaixo.
§ Perfil e chapa - montagem com perfis extrudados ou perfilados, recortados no formato de
uma esquadria com uma chapa fixada no fundo. É o processo mais utilizado devido a grande
flexibilidade (variedades de tamanho) e a grande robustez estrutural.
§ Chapa dobrada - montagem do gabinete a partir de uma chapa dobrada no formato de caixa.
Processo prático, barato, porém menos flexível (variação do tamanho). Pior acabamento e
resistência mecânica.
§ Estampada - montagem do gabinete a partir de uma chapa estampada no formato de caixa.
Processo prático, entretanto, exige grande escala devido aos altos custos com ferramentas e
equipamentos para a sua produção. Excelente acabamento e resistência mecânica. Não há
flexibilidade (variação do tamanho).
§ Moldada - montagem do gabinete com material plástico ou com material composto (fibra de
vidro).

Aleta

Chapa
de
Isolante Fundo

Perfil de Alumínio
Cabeçote Extrudado
Figura 6.10. Caixa em perfil e chapa.

Figura 6.11. Caixa em caixa moldada de fibra de vidro.

120
Isolamento
O isolamento deve garantir que a energia térmica absorvida não seja perdida pela caixa, ou seja, que ela
seja transferida integralmente para o fluido de trabalho. O isolamento do gabinete deve inibir as perdas pelas
laterais do coletor e pelo fundo. Existe uma vasta gama de materiais que podem ser utilizados no isolamento
dos coletores. Os mais comuns são lã de rocha, lã de vidro e poliuretano expandido. É importante salientar
que a capacidade isolante não depende somente do tipo de material mais também da sua densidade e
espessura. As perdas de calor pela cobertura transparente também são consideráveis. A maneira mais prática
de se minimizar as perdas pela cobertura é colocar o absorvedor a uma distância ideal da cobertura
minimizando assim os efeitos da convecção dentro do gabinete (mecanismo de troca de calor entre
absorvedor e vidro). Coletores de tecnologia mais avançada para funcionar a temperaturas maiores são
evacuados na região entre a placa e a cobertura.

Cobertura
A cobertura transparente deve permitir a entrada da energia solar no coletor evitando perdas térmicas
radiativas e garantir a vedação do mesmo. O material mais utilizado como cobertura dos coletores é o vidro,
porém pode-se utilizar plásticos de alta resistência como o Policarbonato. Ainda não existem no mercado
nacional, a preços competitivos, vidros de específicos para sistemas de aquecimento solar. Esses vidros têm
como propriedades transmitir máximo da radiação sem absorvê-la ou refleti-la. São vidros brancos, com
baixo teor de ferro e anti-reflexivos.

§ Curva de Eficiência
A eficiência de um coletor solar pode ser definida como a razão entre o ganho de calor útil pelo fluido
e a radiação solar incidente sobre a superfície do coletor, em um dado intervalo de tempo:
Q& u m& c p (To − Ti )
η= =
IA IA

A eficiência de um coletor solar também pode ser expressa em termos do fator de remoção de calor do
coletor da seguinte forma:

η = FR (τα )e − FRU L
(Ti − Ta )
I

Essa expressão nada mais é do que uma reta, onde os coeficientes linear ( FR (τα )e ) e angular ( FRU L ) e
podem ser determinados experimentalmente.
Em linhas gerais, o procedimento de teste para placas coletoras planas em regime permanente consiste
em:
1- apontá-las para o sol de modo a receber radiação direta em incidência normal;
2- submetê-las a uma vazão constante de fluido a temperatura controlada;
3- determinar Q& u e além disso medir I, Ti e Ta.
Variando qualquer um destes parâmetros, eficiências instantâneas podem ser calculadas e traçadas num
gráfico em termos de (Ti - Ta)/I . O resultado será um segmento de reta com inclinação (-FRUL) e
interceptação do eixo da função em FR (τα ) e .
Os termos acima mencionados não são constantes, a rigor: UL depende da temperatura e da velocidade
do vento e FR é levemente dependente de UL. No entanto, o desempenho instantâneo de coletores solares
planos pode ser caracterizado com boa precisão por esta correlação.
A Figura 6.12 exemplifica dados sobre desempenho de placas coletoras colhidos na literatura. A placa I
possui uma única cobertura de vidro e aletas de cobre. A placa II possui aletas de alumínio, tubos de cobre e

121
cobertura simples de vidro. A placa III possui superfície absorvedora feita em material alternativo (concreto).
A placa IV possui uma camada dupla de lâminas de vidro como cobertura, aletas de alumínio e tubos de
cobre.

1
0.9
placa (I)
eficiência da placa coletora 0.8
placa (II)
0.7
placa (III)
0.6
placa (IV)
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
0 0.05 (Ti -0.1
Ta) / I 0.15 0.2

Figura 6.12. Curva de Eficiência de um Coletor Solar.

6.2.2 Reservatório Térmico

O reservatório térmico tem a função de armazenar a energia absorvida pelos coletores solares na forma
de água quente para consumo. Para um bom funcionamento do sistema, o reservatório térmico deverá ter um
bom isolamento térmico.

§ Tipos e Construção
Os reservatórios térmicos são geralmente cilíndricos e construídos com materiais de alta resistência a
corrosão. A Figura 6.13 e a Figura 6.14 mostram em detalhes os componentes de um reservatório térmico.
Existem reservatórios com circulação direta e indireta do fluído de trabalho ou com serpentinas quando o
fluído de trabalho não é o mesmo do consumo. Esses tipos de reservatórios são muito utilizados na Europa à
utilização de fluidos anticongelantes por causa do clima frio.

Capa de proteção Cilindro Interno


externa

Resistência Isolamento
Elétrica Térmico

Figura 6.13. Detalhes do de corte em reservatório Térmico.

122
Figura 6.14. Reservatório Térmico.

Pode-se dividir um reservatório térmico em basicamente três itens.


§ cilindro Interno;
§ isolante;
§ capa de proteção.

Cilindro Interno
O cilindro interno ou tanque é o local onde a água é efetivamente armazenada. Este componente deve
ser fabricado com material resistente à corrosão e deve resistir à pressão de trabalho do sistema. A pressão de
trabalho pode variar entre 0 e 40 m.c.a. (4 Kgf/cm2) que é a pressão máxima permitida por norma para o
abastecimento de água no Brasil. Diferentes tipos de materiais são utilizados na construção do cilindro
interno, são eles:
§ aço carbono com tratamento superficial;
§ aço inoxidável em suas diferentes ligas (AISI 304, 316L, etc);
§ cobre;
§ termoplásticos de alta resistência.
Os reservatórios fabricados em aço carbono são utilizados geralmente em sistemas de alta pressão e
grandes volumes. Eles possuem baixo custo e boa resistência a corrosão. Como não são inoxidáveis exigem
manutenção preventiva que pode ser minimizada com a utilização de anodos de proteção galvânica
eletrônicos.
Os reservatórios de aço inox são os mais utilizados em equipamentos de pequeno e médio volume e
baixa pressão. Como são fabricados com chapas finas de aço inox, têm excelente relação custo benefício, não
exigindo praticamente nenhuma manutenção preventiva.
Os reservatórios em termoplástico estão virando uma tendência na fabricação de pequenos sistemas de
aquecimento solar (unidades compactas) devido a sua velocidade de fabricação e a sua resistência a ataques
químicos da água.

Isolante
O item mais importante para o bom funcionamento do reservatório térmico é o isolamento. Portanto,
deve-se avaliar o tipo e a espessura do isolamento utilizado. Os materiais mais utilizados como isolantes nos
reservatórios são lã de vidro, lã de rocha e espuma de poliuretano expandido. Esta última é a mais utilizada
hoje em dia, pois possui boas características isolantes, grande rigidez estrutural e praticidade de aplicação.

123
Capa de Proteção
A Capa externa do reservatório Térmico serve para proteger o isolante do meio ambiente. Isso
garantirá a sua integridade durante a vida útil do equipamento. A capa externa pode ter também função
estrutural. Se for feita de material rígido colabora com a rigidez do conjunto.

§ Montagem
Os reservatórios térmicos podem ser montados na vertical ou na horizontal. Deve-se priorizar o tipo
de montagem que promova a maior estratificação da água quente dentro do reservatório para aumentar o
desempenho do sistema. Por isso deve-se sempre que possível instalar os equipamentos na vertical. Devido às
características arquitetônicas da maioria das edificações no Brasil a maioria dos reservatórios térmicos é
instalada na horizontal.
Os reservatórios térmicos podem ser montados também internamente ou externamente nas
edificações. Montagens internas são mais recomendáveis devido a diminuição das perdas térmicas e a melhor
conservação do reservatório.

§ Outras caracterísiticas
Os reservatórios Térmicos são geralmente dotados de uma ou mais resistências elétricas conjugadas
com um termostato, que garantem, mesmo nos dias com pouca radiação o aquecimento do volume de água.
Outros tipos de aquecimento auxiliar podem ser utilizados como aquecedores de passagem a gás acoplados
ao Boiler.

6.2.3 Acessórios

Alguns tipos de montagem de sistemas de aquecimento solar exigem equipamentos auxiliares de apoio
e controle para promover a circulação da água entre os coletores e o reservatório térmico e o controle de
ligação do sistema de aquecimento auxiliar.

§ Bombas Centrífugas
As bombas centrífugas devem resistir a altas temperaturas e pressões de operação. Devem ser
silenciosas, pois muitas vezes são instaladas próximas a ambientes cujo ruído possa provocar desconforto ao
usuário. Devem também ser eficientes e com baixa potência (dependendo da demanda do sistema)

§ Controlador diferencial de temperatura


O controlador diferencial de temperatura é o responsável pelo ligamento e desligamento da bomba do
sistema de aquecimento solar. O equipamento avalia o potencial de aquecimento da água pelos coletores e se
houver potencial positivo ele acionará a bombas para promover a circulação de água entre os coletores e o
reservatório térmico.

§ Termostato e programadores horários


Os termostatos são responsáveis pelo controle de temperatura da água no reservatório térmico nos
dias em que não há radiação solar disponível. Ele liga o elemento de aquecimento auxiliar e faz com que a
temperatura da água seja mantida dentro de um valor definido pelo usuário.
Os programadores horários possibilitam o usuário programar os horários de atuação do termostato,
minimizando o desperdício com energia. Existe uma grande variedade de equipamentos no mercado, desde
equipamentos mecânicos até equipamentos eletrônicos digitais.

124
6.3 FUNCIONAMENTO DO SISTEMA

6.3.1 Descrição

Os sistemas de aquecimento solar têm a função de converter a energia solar em energia térmica com o
objetivo de aquecer um fluído de trabalho. O fluído de trabalho mais comumente usado é a água.
Na Figura 6.15 são apresentados os componentes de um sistema de aquecimento solar. Os dois
componentes básicos são: reservatório isolado (reservatório térmico ou Boiler), para o armazenamento da
água quente, e coletores solares, para a captação e conversão da energia solar.
O reservatório térmico e os coletores são cheios de água e interligados à rede de água fria. A água irá
recircular entre reservatório térmico e coletores solares enquanto houver ganho térmico nos coletores. O
fluido pode se movimentar naturalmente (termossifão) ou com o auxílio de uma bomba (circulação forçada).
Para garantir o aquecimento da água em dias sem incidência suficiente de radiação solar é necessário
um sistema de aquecimento auxiliar. Existem sistemas diversos que serão comentados num capítulo à parte,
entretanto o mais comum é a uma resistência elétrica instalada no próprio reservatório térmico.

Figura 6.15. (1) 01-Coletor solar; 02-Reservatório térmico (Boiler); 03- Tubulação isolada de retorno dos coletores;
04-Tubulação isolada de alimentação dos coletores; 05- Registro para drenagem do sistema;
06- Distância entre reservatório e placas; 07- Alimentação do reservatório térmico;
08- Saída de água quente para consumo; 09- Válvula de retenção; 10- Registro.

6.3.2 Curva de Variação de Temperatura

A Figura 6.16 abaixo representa a variação da temperatura da água no interior do reservatório térmico
com as horas do dia nos três primeiros dias de um ano característico de dados medidos no Laboratório de
Energia Solar da UFSC - LABSOLAR. A curva superior representa a temperatura da água no reservatório
térmico, e a curva inferior a temperatura ambiente. Nota-se que a temperatura do reservatório térmico cresce
rapidamente entre o período das 9:30 h até às 15:00 h. Este ponto da curva representa a temperatura máxima
atingida pelo sistema. A leve queda de temperatura nas duas horas seguintes representa a perda de energia
pelo isolante e o decréscimo acentuado na curva a partir das 18:00 h representa o consumo de água nos
banhos.

125
Variação da Temperatura de um Boiler para um sistema de aquecimento solar com
capacidade de 100L com um consumo de água quente de 4 pessoas por dia.

Temperatura do Boiler Temperatura Ambiente

70

60
Temperatura (°C)

50

40

30

20

10

0
1

7
10

13

16

19

22

25

28

31

34

37

40

43

46

49

52

55

58

61

64

67

70
Horas

Figura 6.16. Temperatura no reservatório térmico e ambiente de um sistema de aquecimento solar.

O objetivo deste gráfico é mostrar que o sistema de aquecimento solar é um sistema de acumulação e
que os coletores solares demandam de um tempo para promover o aquecimento da água no sistema. É fato
também que as temperaturas máximas atingidas dependerão da temperatura ambiente, do consumo, da área
de coletores solares e principalmente da irradiação solar disponível.

6.3.3 Curva de economia de energia

Apesar do apelo ecológico, a instalação de um sistema de aquecimento solar é, acima de tudo, um


investimento em geração autônoma de energia. A Figura 6.17 mostra a variação da quantidade de energia
gasta por sistemas tradicionais (chuveiro elétrico de passagem) e sistemas de aquecimento solar de água (com
a mesma vazão de consumo). Pode-se observar que as frações de economia passam facilmente os 50% na
média anual. Nos itens seguintes será mostrado que esta fração é uma função da área de coletores e do tipo
de aplicação (temperatura de operação).

Chuveiro elétrico(5 pessoas) Aq. Solar 400L - 5 pessoas Aq. Solar 400L - 8 pessoas Chuveiro elétrico(8 pessoas)
200

180

160
Potência Consumida (KWh)

140

120

100

80

60

40

20

0
jan feb mar apr may jun jul aug sep oct nov dec média
Meses do Ano

Figura 6.17. Comparação entre a energia elétrica consumida em chuveiros elétricos e sistemas de aquecimento solar.

126
6.3.4 Configurações

Existem dois tipos de configurações básicas de montagem de sistemas de aquecimento solar:


Circulação Natural e Circulação Forçada.

§ Circulação Natural
Num sistema de aquecimento solar de água operando por circulação natural ou termossifão a
circulação da água entre os coletores solares e o reservatório térmico acontece devido à diferença de
densidade da água mais quente no interior dos coletores e a água mais fria no interior do reservatório térmico.
Esta circulação acontecerá até que a diferença de temperatura entre os coletores e o reservatório térmico seja
tão pequena que a diferença de pressão não consiga vencer as perdas de carga da tubulação.
Para que uma instalação de aquecimento solar por termossifão funcione adequadamente, todos os seus
componentes devem estar posicionados corretamente. A Figura 6.18 mostra um diagrama simplificado de
uma instalação que funciona pelo princípio da circulação natural. Este tipo de instalação é a que apresenta
menor dificuldade de instalação e a maior confiabilidade, pois não necessita de componentes elétricos e
eletrônicos de apoio. Entretanto, algumas observações devem ser feitas para o perfeito funcionamento do
sistema.

N° DENOMINAÇÃO

Altura entre placa e 01 Coletor Solar


reservatório térmico
02 Reservatório Térmico

h 03 Tubulação isolada (parte quente)

04 Tubulação isolada (parte fria)

05 Registro para a drenagem

06 Altura entre placas e reservatório

Figura 6.18. Esquema simplificado de montagem do termossifão (sistema de circulação natural).

A primeira observação a ser feita é em relação às distâncias relativas entre coletores solares,
reservatório térmico e caixa d’água. Os coletores devem ser posicionados numa altura h, que pode variar de
15 a 150cm. Isto é feito para evitar o resfriamento do reservatório durante a noite (circulação reversa) e
garantir a boa circulação de água entre coletores e reservatório térmico.
A segunda observação é em relação ao comprimento das tubulações que ligam o reservatório térmico e
as placas coletoras. Quanto menor for esta distância, melhor será o rendimento da instalação, pois além da
menor área de troca térmica da tubulação, esta terá uma menor perda de carga, favorecendo a circulação
natural. Recomenda-se uma distância máxima de 6 metros entre placas e tanque para o limite do
funcionamento eficiente do termossifão. A partir desta distância deve-se utilizar circulação forçada.
Para eliminar o ar presente na tubulação e minimizar os locais onde este pode ficar alojado, deve-se dar
uma pequena inclinação na tubulação de retorno (observar Figura 6.18).
O reservatório térmico deve ser colocado abaixo ou pelo menos no mesmo nível da caixa d’água,
sendo assim, ambos estarão igualmente cheios e na mesma pressão. Colocando-se o reservatório térmico
abaixo da caixa de água fria garante-se que o sistema de aquecimento solar funcionará sempre com o máximo
de capacidade (recomendável).

127
A tubulação deve ser perfeitamente isolada, pois representa grande área de troca de calor entre o
sistema e o meio ambiente. Caso não seja isolada, a tubulação funcionará como um radiador de calor para o
ambiente.

§ Circulação Forçada
A Figura 6.19 representa o esquema simplificado de uma instalação que funciona com circulação
forçada. Este tipo de instalação somente é utilizado quando a alternativa anterior for inviável, ou seja, para
instalações de grande porte ou em locais onde existe a impossibilidade arquitetônica da adequação das
distâncias e ângulos ideais para a instalação. Este tipo de sistema possui como vantagens o aumento da
eficiência térmica e a grande versatilidade de instalação, porém a necessidade de uma bomba para promover a
circulação entre placa e o reservatório térmico, constitui-se em um gasto adicional de energia.
Os sistemas de circulação forçada podem ser instalados em praticamente todos os lugares, basta para
isso, quantificar a perda de carga na tubulação e nas placas para o dimensionamento da bomba para promover
a circulação entre reservatório térmico e coletores. O conhecimento dos parâmetros de controle é
fundamental para minimizar o consumo de energia elétrica de bombeamento, evitando o acionamento
excessivo da bomba ou tendo que a superdimensionar.

N° DENOMINAÇÃO

01 Coletor Solar

02 Reservatório Térmico (Boiler)

03 Tubulação isolada (parte quente)

04 Tubulação isolada (retorno)

05 Bomba de baixa potência

h
Altura entre placa e
06 Controlador diferencial de temperatura
reservatório térmico
07 Sensor de temperatura

08 Sensor de temperatura

09 Válvula de retenção de portinhola

10 Registro de esfera

11 Registro para a drenagem dos coletores

12 Purgador de ar

Figura 6.19. Esquema simplificado da circulação forçada.

§ Aquecimento Auxiliar
Como já foi comentado anteriormente, nos dias com pouca incidência solar é necessário
complementar a energia fornecida pelo sistema de aquecimento solar. O aquecimento auxiliar pode utilizar
energia elétrica, combustíveis fósseis como GLP ou Diesel, lenha, etc. O sistema de aquecimento solar é, na
realidade, um economizador para sistemas de aquecimento central ou de passagem. A real economia de
energia ou de combustível gerada pelo sistema dependerá da racionalização da operação do sistema e da
qualidade dos equipamentos, do projeto e instalação do sistema de aquecimento solar.

128
6.3.5 Parâmetros de Funcionamento

§ Orientação das Placas Coletoras


Para um funcionamento ideal, os coletores solares devem ser instalados orientados na direção da linha
do equador, ou seja, para o Norte geográfico (no caso do hemisfério Sul). Variações de mais ou menos 25°
são aceitáveis e praticamente não alteram o desempenho da instalação (aproximadamente 10% na média
anual). Variações de inclinação na direção leste favorecerão um melhor rendimento da instalação no período
da manhã. Conseqüentemente, uma variação para oeste, favorecerá o período da tarde. Para uma variação
angular maior do que 25°, deve-se fazer uma simulação, e de acordo com os resultados, deve-se aumentar a
área de placas coletoras. O ângulo ótimo, em termos de irradiação solar absorvida, entre as placas coletoras e
a superfície horizontal (inclinação) é igual à latitude do local (para a região de Florianópolis é de 27,6°) para
maximização do ganho anual. Recomenda-se utilizar uma inclinação igual a latitude + 10° para otimização do
ganho no inverno, visto que a demanda por energia nesse período é maior. Variações de ± 10° são aceitáveis e
provocam poucas mudanças em termos da fração solar anual. A Figura 6.20 ilustra os aspectos práticos de
orientação.
Lat+10°

Coletor Solar

O
25°
L
N
25°
Figura 6.20. Orientação da instalação.

§ Temperatura de Operação
Sabe-se que a curva de eficiência de um coletor solar depende da temperatura de operação. Quanto
mais alta for esta temperatura menor é o rendimento do equipamento. Portanto, é necessário conhecer bem
os equipamentos e o processo em que ele será inserido para que o sistema forneça o resultado esperado.

§ Vazão de Operação
A autonomia de um sistema é função da vazão de consumo. Quanto maior for a vazão de consumo
menor será a autonomia do sistema de aquecimento. Por isso se deve estipular valores racionais para a vazão
de utilização do sistema (6 – 12l/min) para que o sistema não precise ser superdimensionado.

129
6.4 DETALHES DE MONTAGEM

6.4.1 Tipos de conjunto

Existem diversas maneiras de se compor um sistema de aquecimento solar. Como já foi visto, existem
dois tipos básicos de sistemas, os que operam por circulação natural e os que operam por circulação forçada.
Também é sabido que os sistemas de aquecimento solar necessitam de um sistema auxiliar de aquecimento. O
sistema auxiliar pode ser de passagem, como os chuveiros elétricos comuns, ou pode ser de acumulação, onde
o elemento de aquecimento está inserido no reservatório térmico. Os sistemas de aquecimento auxiliar de
passagem aquecem a água que sai do reservatório térmico e os sistemas de aquecimento de acumulação
aquece a água dentro do reservatório térmico. Abaixo são descritos cinco tipos de montagem de sistema
fazendo referência a aplicação, as características, equipamentos, pré-requisitos de instalação e esquemas de
montagem. Existem outras alternativas que não estão colocadas no texto por serem menos usuais.

§ Sistema de Aquecimento Solar com resistência elétrica integrada ao reservatório térmico.


Aplicações: Sistemas residenciais
Características:
§ Maior conforto
§ Maior gasto de energia
Equipamentos: Coletores solares, reservatório térmico.
Equipamentos (circulação forçada): Bomba, controlador diferencial de temperatura.
Equipamentos opcionais:Termômetro digital, termostato digital, termostato digital com
programação horária.
Pré-requisitos de instalação: Rede hidráulica de água quente, rede elétrica, disjuntor.
Esquema de montagem:

Saída p/ o consumo

Boiler
Resistência
Elétrica

Alimentação
de água fria

Coletor Solar

Rede de distribuição

Pontos de Consumo

130
Observações: O sistema de aquecimento auxiliar é composto por uma resistência elétrica
inserida no reservatório térmico, que é controlada por um termostato. O termostato é
responsável pela manutenção da temperatura de ajuste do Boiler. A característica mais
marcante do sistema é que ele aquece todo o volume de água do boiler independente do
volume de água a ser consumido.

§ Sistema de aquecimento solar com chuveiro elétrico de passagem.


Aplicações: Sistemas residenciais
Características:
§ Menor conforto
§ Menor gasto de energia
Equipamentos: Coletores solares, reservatório térmico.
Equipamentos (circulação forçada): Bomba, controlador diferencial de temperatura.
Equipamentos Opcionais: Termômetro digital.
Pré-requisitos de instalação: Rede hidráulica de água quente.
Esquema de montagem:

Saída p/ o consumo

Boiler

Alimentação
de água fria

Coletor Solar

Rede de distribuição
Chuveiro
Elétrico de
passagem

Chuveiro Chuveiro
Elétrico de Elétrico de
passagem passagem

Pontos de Consumo

Observações: O sistema de aquecimento auxiliar é composto por um ou mais chuveiros de passagem


ligados à rede de distribuição de água. A rede deve estar preparada com a presença de
misturadores. Quando o sistema de aquecimento não fornecer mais água quente, o usuário deve
acionar o chuveiro elétrico, com isso o usuário só utiliza energia elétrica para aquecer o volume
de água utilizado naquele banho, e não todo o volume do boiler.

131
§ Sistema de aquecimento solar com chuveiro eletrônico de passagem.
Aplicações: Sistemas residenciais
Características:
§ Conforto Intermediário
§ O mais Econômico
Equipamentos: Coletores solares, reservatório térmico.
Equipamentos (circulação forçada): Bomba, controlador diferencial de temperatura.
Equipamentos Opcionais: Termômetro digital.
Pré-requisitos de instalação: Rede hidráulica de água quente.
Esquema de montagem:

Saída p/ o consumo

Boiler

Alimentação
de água fria

Coletor Solar

Rede de distribuição
Chuveiro
Eletrônico de
passagem

Chuveiro Chuveiro
Eletrônico de Eletrônico de
passagem passagem

Pontos de Consumo

Observações: O sistema de aquecimento auxiliar é composto por um ou mais chuveiros de passagem


ligados à rede de distribuição de água. A rede deve estar preparada com a presença de
misturadores.Quando o sistema de aquecimento não fornecer mais água quente, o usuário deve
acionar o chuveiro eletrônico, regulando a potência para suprir somente a energia necessária
para complementar o aquecimento da água. Com isso o usuário irá otimizar o gasto com a
energia elétrica.

132
§ Sistema de aquecimento solar com aquecedor de passagem a gás interligado ao reservatório
térmico.
Aplicações: Sistemas residenciais de grande porte, edifícios, pousadas e pequenos hotéis.
Características:
§ Grande Conforto
§ Grande Economia
§ Maior Custo com equipamentos, mão de obra e manutenção.
Equipamentos: Coletores solares, reservatório térmico, aquecedor de passagem a gás, bomba,
termostato.
Equipamentos (circulação forçada): Bomba, controlador diferencial de temperatura.
Equipamentos Opcionais: Termômetro digital, termostato digital, termostato digital com
programação horária.
Pré-requisitos de instalação: Rede hidráulica de água quente (abastecimento), rede hidráulica
do circuito “reservatório térmico – aquecedor de passagem – reservatório térmico”
(aquecedor longe do reservatório térmico).
Esquema de montagem:

Saída p/ o consumo

Alimentação
de água fria
Boiler

Aquecedor de
passagem a
gás.

Coletor Solar

Rede de distribuição Bomba

Pontos de Consumo

Observações: O sistema de aquecimento auxiliar é composto por um ou mais aquecedores de


passagem a gás interligados ao reservatório térmico. A pressão e vazão de ligação e
funcionamento do equipamento são garantidas por uma bomba centrífuga comandada por um
termostato. Este sistema é muito versátil e tem baixo custo para instalações de maior porte.

133
§ Sistema de aquecimento solar com aquecimento a (gás/Diesel) integrado ao reservatório térmico.
Aplicações: Edifícios, pousadas e hotéis.
Características:
§ Conforto com alta demanda de água quente
§ Simplicidade
§ Grande Versatilidade nas instalações
Equipamentos: Coletores solares, reservatório térmico, bomba, controlador diferencial de
temperatura.
Equipamentos Opcionais: Termômetro digital, termostato digital, termostato digital com
programação horária.
Pré-requisitos de instalação: Rede hidráulica de água quente, previsão da tubulação de
interligação da bancada de coletores com a geradora de água quente.
Esquema de montagem:

Saída p/ o consumo

Alimentação
Geradora de de água fria
Água Quente

Coletor Solar

Rede de distribuição

Pontos de Consumo

Observações: O sistema de aquecimento auxiliar é composto por queimadores que utilizam gás ou
óleo Diesel. Esses queimadores são partes integrantes da Geradora de Água quente. A grande
vantagem do processo é a utilização de apenas um equipamento de armazenamento para
compor o sistema de aquecimento solar. Outra vantagem é o potencial de adaptação de
equipamentos já instalados.

134
6.4.2 Detalhes de Instalação

Independentemente do tipo de conjunto a ser utilizado existem cuidados com a montagem que devem
ser seguidos.:
§ boa orientação e inclinação dos coletores;
§ evitar sombreamento;
§ fixação
§ minimizar distância entre os equipamentos;
§ evitar a presença de sifões na tubulação;
§ isolar toda a tubulação.
A boa orientação e inclinação permitirão que os coletores absorvam a maior quantidade de energia
solar possível durante o ano. O sombreamento deve ser evitado por motivos lógicos. Na impossibilidade de
evitar-se completamente o sombreamento, deve-se reorientar os coletores e recalcular a sua área total para
aproveitar o período em que a sombra não atua sobre eles.
A fixação dos equipamentos é um item muito importante e que geralmente é subestimado pelas
empresas atuantes no mercado. Para sistemas de maior capacidade, onde o peso somado dos equipamentos é
expressivo deve-se avaliar a resistência da edificação e buscar orientação profissional no desenvolvimento de
estrutura civil ou metálica para o suporte dos coletores.
Os equipamentos devem estar próximos uns dos outros para minimizar perdas de calor e de carga nas
tubulações e para economizar material de instalação. A formação de sifões na tubulação é um dos maiores
problemas em sistemas de circulação natural e devem ser evitados pois podem causar um funcionamento
inadequado do sistema. Eles impedem que a água aquecida nas placas (“mais leve”) siga o seu caminho
natural em direção ao reservatório térmico.
A Figura 6.21 mostra como se deve dispor as placas sobre o telhado em relação a uma linha de nível
imaginária.

Elevação
Linha de nível Linha de nível

Linha de nível
CORRETO CORRETO

Linha de nível Linha de nível Declinação

INCORRETO
Linha de nível

INCORRETO INCORRETO

Figura 6.21. Instalação dos Coletores Solares.

Quanto ao isolamento da instalação existem diversos tipos de isolantes no mercado, entretanto os


isolantes mais usualmente utilizados são os revestimentos de polietileno expandido e as calhas de lã de vidro.
Cada tipo de isolante tem vantagens competitivas em relação ao outro. A Tabela 6.1 mostra algumas delas.
Em princípio, utiliza-se a calha de lã de vidro em instalações onde a tubulação é muito extensa, exposta
a baixas temperaturas e grandes correntes de ar, ou seja, aqueles sistemas em que a eficiência depende muito
da qualidade do isolamento.
Para instalações compactas, indica-se o uso do polietileno. É importante salientar que tanto um quanto
outro tipo de isolamento não resiste à exposição aos raios ultravioletas e intempéries climáticas, sendo

135
necessário à aplicação de uma barreira protetora. Esta barreira pode ser plástica, filme fino de alumínio
corrugado ou pintura com tinta epóxi.
Em relação à instalação elétrica do reservatório térmico, deve-se dimensionar a rede local para suportar
a carga da resistência elétrica. Deve-se especificar um disjuntor e instalá-lo de forma que o cliente possa
habilitar ou desabilitar o aquecimento auxiliar elétrico do boiler quando do seu interesse (períodos de
ausência).
Tabela 6.1. Comparação entre os isolantes utilizados em tubulações de água quente.

Calhas de lã de vidro Polietileno expandido


Melhor eficiência Menor custo
Necessidade de uma capa de Facilidade de instalação
proteção externa Grande maleabilidade
Resistência a altas temperaturas Resistência térmica até 90°C

6.5 DIMENSIONAMENTO
O correto dimensionamento das instalações de aquecimento solar é um item fundamental para que os
objetivos desejados sejam alcançados. Instalações superdimensionadas tendem a ser inviáveis
economicamente enquanto que instalações subdimensionadas podem não suprir adequadamente a demanda
por aquecimento, ou mesmo serem inviáveis economicamente também. Portanto especial atenção deve ser
dada ao dimensionamento para evitar quaisquer problemas futuros ao usuário do sistema.

6.5.1 Consumo de Água Quente

O perfil de consumo de água quente vai ser a variável principal na determinação do volume de água a
ser aquecido. Porém é importante ressaltar que o consumo de água quente varia muito de acordo com os
hábitos das pessoas, classe social, estação do ano e uso final. Por causa disso as estimativas de consumo são
feitas com base em valores conservativos, ou seja, os sistemas em geral tendem a ser superdimensionados
para garantir o fornecimento de água quente mesmo em uma situação crítica de consumo de água muito
elevado.
As normas técnicas NBR7198 e NB128 versam sobre o projeto e execução de instalações prediais de
água quente. São fornecidos valores de referência de consumo para dimensionamento das instalações de
acordo com o tipo de usuário como mostra a Tabela 6.2.

Tabela 6.2. Estimativa de consumo de água quente segundo a NB128 – Instalações Prediais de Água Quente.

Prédio Consumo litros/dia


Alojamento provisório 24 por pessoa
Casa popular ou Rural 36 por pessoa
Residência 45 por pessoa
Apartamento 60 por pessoa
Quartel 45 por pessoa
Escola internato 45 por pessoa
Hotel (sem cozinha e sem lavanderia) 36 por hóspede
Hospital 125 por leito
Restaurante e similar 12 por refeição
Lavanderia 15 por kg de roupa seca

136
Os fabricantes de sistemas de aquecimento solar em geral adotam os valores da NB128 ou propõem
diferentes metodologias baseadas na sua própria experiência no fornecimento de equipamentos. O que é feito
nesses casos é levantar os pontos de consumo dos diferentes tipos de uso final da água aquecida e multiplicar
o consumo específico de cada um desses pontos pelo número de usuários por dia. Na Tabela 6.3 estão
especificados os valores para dimensionamento proposto por um fabricante.

Tabela 6.3. Estimativa de consumo de água quente segundo metodologia


desenvolvida por um fabricante de sistemas de aquecimento solar.

Tipo de consumo Consumo litros/(pessoa.dia)


Banheiro (ducha, lavatório e bidê) 50
Banheira 100
Cozinha 20
Lavanderia 20

Comparando as duas metodologias observa-se que a da ABNT fornece uma distribuição de acordo
com o tipo de consumidor enquanto que a segunda metodologia proporciona um detalhamento maior por
levar em conta os equipamentos consumidores de água quente.
No exemplo a seguir, o consumo diário de água aquecida da residência apresentada na Figura 6.22 será
determinado pelos dois métodos anteriores. A casa em questão será habitada por uma família de quatro
pessoas, sendo que o casal utilizará o banheiro da suíte e os filhos o segundo banheiro e apenas um banho de
banheira será tomado diariamente.
De acordo com a NB 128 (Tabela 6.2) o consumo de água aquecida dessa residência é calculado da
seguinte forma:
Consumo por pessoa – 45 litros/dia (residência)
Número de pessoas – 4
Consumo = 45x4 = 180 litros por dia
Utilizando a metodologia do fabricante (Tabela 6.3) chegaremos ao seguinte resultado:
Número de banheiros – 2
Número de pessoas – 4 (2 por banheiro)
Banheiras – uma vez por dia
Consumo = 2x(2x50) + 1x100 + 4x20 + 4x20 = 460 litros/dia

Observa-se que as duas metodologias levam a resultados completamente diferentes. A metodologia da


NB128 carece de um melhor detalhamento enquanto que a do fabricante aparentemente leva a um
superdimensionamento do sistema. O bom senso nesse caso deve ser utilizado objetivando uma estimativa de
consumo melhor.

BWC Suíte
Sala Estar

Circulação

A. Serviço

Cozinha BWC
Dormitório

Figura 6.22. Planta baixa da residência.

137
6.5.2 Aspectos Práticos para Dimensionamento

O valor mais comumente recomendado para o volume do reservatório térmico em um sistema de


aquecimento solar é o volume de água quente consumido diariamente. Reservatórios menores implicam em
uma maior temperatura de armazenamento para garantir o suprimento de água aquecida e,
conseqüentemente, maiores perdas térmicas no reservatório. Reservatórios maiores possibilitam um acúmulo
de maior quantidade de energia a temperaturas mais baixas, aumentando a fração solar de um sistema, porém
o ganho resultante pode não ser significativo em relação ao custo adicional de um reservatório maior.
Entende-se por fração solar como sendo a relação entre a energia fornecida pelo sistema de aquecimento
solar e a energia total gasta com aquecimento, ou seja, é a fração economizada de energia.
Com relação à quantidade de placas coletoras, ela estará diretamente ligada à fração solar desejada para
o sistema. Porém aspectos relativos à disponibilidade de irradiação solar, posicionamento das placas coletoras,
configuração de montagem, curva de eficiência e dimensões das placas utilizadas modificarão a fração solar
obtida para um mesmo caso. Detalhes sobre o cálculo da fração solar de um sistema de aquecimento solar
serão vistos no próximo item.

6.5.3 Métodos de Simulação do Desempenho

Existem diferentes maneiras para calcular a energia solar fornecida pelos sistemas de aquecimento
solar, sendo que a diferença básica entre eles está nas simplificações utilizadas para facilitar a determinação da
energia útil dos sistemas.
Simulações detalhadas podem ser feitas transformando os componentes de um sistema de
aquecimento solar em módulos individuais que podem ser representados por fórmulas matemáticas
transcritas em rotinas computacionais. Esses módulos são interligados através dos seus parâmetros de entrada
e saída e o funcionamento do sistema é resolvido para cada novo intervalo de tempo. As simulações
detalhadas incluem, além das características da placa coletora e reservatório térmico, praticamente todos os
outros componentes acessórios de um sistema de aquecimento solar, como tubulações e bomba.
Visto que uma simulação detalhada pressupõe a necessidade de um grau maior de especialização do
usuário do programa de simulação, métodos simplificados foram desenvolvidos de maneira a fornecer
estimativas aproximadas a um custo menor. Porém as simplificações adotadas implicam em perda de
generalidade e incertezas maiores nas estimativas.
O programa mais utilizado para simulações detalhadas é o TRNSYS (Transient System Simulation),
enquanto que o método f-Chart é amplamente utilizado para simulações simplificadas. No presente curso
esses dois métodos serão explicados e também será discutida a metodologia de dimensionamento proposta
pela ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica dentro do PROCEL – Programa Nacional de
Conservação de Energia Elétrica.

§ Método f-Chart
O método f-Chart pode ser visto em detalhes em Beckman et al. (1977) e é utilizado para o cálculo da
fração solar do sistema a partir das médias mensais de irradiação solar incidente na superfície do coletor. Essa
metodologia baseia-se na utilização de correlações derivadas a partir de resultados obtidos através de
simulação detalhada utilizando o TRNSYS. Para realizar essas simulações algumas simplificações são
necessárias, entre elas a temperatura no reservatório térmico foi considerada homogênea, a radiação solar ao
longo dos dias foi considerada simétrica em relação ao meio dia solar, e não existe ganho de energia solar
abaixo da temperatura em que o reservatório térmico é mantido. Todas essas hipóteses são conservativas em
termos da energia solar ganha pelo sistema e portanto conduzem à subestimação da fração solar obtida pelo
sistema.
Esse método foi desenvolvido inicialmente para três diferentes configurações de sistema de
aquecimento solar:
§ sistemas a líquido para aquecimento de ambientes e fornecimento de água aquecida;
§ sistemas a ar para aquecimento de ambientes e fornecimento de água aquecida;
§ sistemas a líquido apenas para fornecimento de água aquecida.

138
As configurações utilizadas durante o desenvolvimento desse método diferem das utilizadas
normalmente no Brasil. A Figura 6.23 mostra o esquema utilizado para sistemas a líquido apenas para
fornecimento de água aquecida.

Válvulas de Segurança
Válvula Misturadora

Saída

Reservatório de
Pré-aquecimento Aquecimento
Auxiliar

Aquecedor
de Água

Trocador Fornecimento
de Calor de Água

Figura 6.23. Configuração do sistema de aquecimento solar utilizado nas simulações do f-Chart.

Nos sistemas de aquecimento solar brasileiros usualmente não existe o trocador de calor entre o
circuito das placas coletoras e o reservatório térmico, sendo um circuito único onde a própria água que será
armazenada no reservatório circula pelos coletores. Para as duas configurações serem equivalentes, considera-
se que o trocador de calor tem uma eficiência igual a 100 %. Outra diferença é a utilização do aquecimento
auxiliar em um reservatório independente para minimizar as perdas térmicas do sistema. Para contornar esse
problema, considera-se que o volume de água aquecida armazenada é igual ao volume do reservatório abaixo
do elemento de aquecimento. Quanto à utilização de circulação natural em vez de circulação forçada, as
simulações com o f-Chart tendem a superestimar os resultados obtidos devido ao menor rendimento das
placas coletoras com circulação natural, compensando em parte as simplificações conservativas adotadas. O
esquema de funcionamento normalmente utilizado no Brasil pode ser visto na Figura 6.24.

Válvula de Segurança

Válvula Misturadora

Saída

Aquecimento
Auxiliar

Reservatório
Térmico

Fornecimento
de Água

Figura 6.24. Configuração do sistema de aquecimento solar normalmente utilizado no Brasil.

139
A fração solar mensal f i é calculada utilizando o método f-Chart para coletores que funcionam com
líquidos, expresso em função dos grupos adimensionais X e Y através da seguinte correlação:

f = 1,029Y − 0,065 X − 0,245Y 2 + 0,0018 X 2 + 0,0215Y 3

onde
X = FRU L ( FR ' / FR )(Tref − Ta ) ∆t ( Ac / L)

(τα )
Y = FR (τα ) n ( FR ' / FR ) H N ( Ac / L )
(τα )n T

onde − FRU L e FR (τα ) n são respectivamente os coeficientes angular e linear da curva de eficiência do
coletor, FR ' / FR é a correção necessária caso haja um trocador de calor, Tref é a temperatura de referência,
Ta é a temperatura ambiente média mensal, ∆t é o número de segundos no mês, Ac é a área de placa
coletora, L é o consumo mensal de energia, (τα ) /(τα ) n é a correção necessária devido aos diferentes ângulos
de incidência da radiação, H T é a média mensal da radiação solar incidente na superfície do coletor e, N é o
número de dias do mês.
A quantidade de energia necessária para aquecimento durante um mês é calculada como segue:
L = mC (T −T )
p con fria

onde m é a massa total de água aquecida consumida durante o mês, C é o calor específico da água,
p

T é a temperatura de consumo da água aquecida e T é a temperatura de fornecimento da água.


con fria

A fração solar anual é calculada da seguinte forma:


∑ f i Li
F=
∑ Li

Para as simulações utilizando o f-Chart são necessárias as médias mensais de irradiação solar global e
temperatura ambiente no local onde foi feita a instalação. Médias históricas dos dados médios mensais de
irradiação solar podem ser obtidas para qualquer ponto do território nacional derivados a partir de imagens de
satélite no Atlas de Radiação Solar do Brasil (Colle e Pereira, 1998). Os dados apresentados no Atlas de
Radiação Solar do Brasil estão sendo continuamente atualizados no contexto do projeto SWERA – Solar
Wind and Energy Resource Assessment (Levantamento dos Recursos Energéticos Solar e Eólico).

§ Programa de Simulação Transiente - TRNSYS


TRNSYS é um programa de simulação modular de sistemas (TRNSYS, 2000). A modularidade do
programa lhe confere grande flexibilidade e facilita a adição de modelos matemáticos não incluídos na
biblioteca padrão. Como o nome sugere, o Transient System Simulation Program é adequado para a análise
detalhada de sistemas cujo comportamento varie com o tempo como, por exemplo, sistemas de aquecimento
solar, sistemas de refrigeração e condicionamento de ar e o comportamento térmico de edificações, entre
outros.
Os sistemas reais são simulados interligando componentes físicos individuais constituintes do sistema,
baseados no fluxo de informação existentes entre estes. Além dos componentes físicos, existem outros
componentes acessórios que servem para o processamento de dados de simulação, interface gráfica, leitura de
arquivos, etc. Cada componente é modelado matematicamente por uma série de equações e a tarefa do
TRNSYS é resolver essas equações simultaneamente para cada intervalo de tempo, assegurando a

140
convergência da solução. TRNSYS é escrito em Fortran e o seu código é aberto, permitindo ao usuário incluir
componentes não disponíveis na biblioteca padrão, a qual é bastante extensa.
Programas independentes foram desenvolvidos para facilitar a geração do arquivo de entrada usado
pelo TRNSYS, dentre os quais destaca-se o IISiBat. Este é uma interface gráfica amigável onde os
componentes individuais do sistema são representados por ícones e a tarefa do usuário é a de interligar os
componentes de maneira adequada, além de definir todos os parâmetros de simulação necessários. O IISiBat
então gera o arquivo com os parâmetros de entrada do TRNSYS.
Para realizar as simulações utilizando o TRNSYS são necessários pelo menos dados horários de
irradiação solar e demais variáveis meteorológicas. Esses dados devem ser representativos da climatologia
local e por isso utilizam-se como dados de entrada de simulação os “Anos Meteorológicos Típicos - TMY”,
que são compostos por seqüências de dados medidos onde cada mês é representado pelo mês característico
de um determinado período utilizando uma série de procedimentos estatísticos (Marion e Urban, 1995). Uma
das etapas do projeto SWERA, em desenvolvimento pelo LABSOLAR é a confecção dos TMY a partir de
estimativas de irradiação solar derivadas de imagens de satélite, esses dados deverão em breve também estar
disponibilizados. Atualmente, já foi criado um ano típico médio para Florianópolis – SC (27,6°S/48,5°O)
utilizando dados medidos pelo Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina no
período de 1990 a 1999 (Abreu et al., 2000). Dados para outras cidades brasileiras podem ser sintetizados a
partir das médias mensais dos totais diários, como faz o programa RADIASOL
(www.solar.ufrgs.br/#softwares), porém isso implica em perda de precisão nas simulações.
A Figura 6.25 mostra o esquema de funcionamento de um exemplo de simulação no TRNSYS. O
módulo de entrada de dados faz a leitura dos dados do ano meteorológico típico. Esses dados em seguida
passam por um processador de radiação onde os valores da radiação solar disponível na superfície do coletor
são derivados a partir dos dados na horizontal e servem de entrada para a simulação do funcionamento de um
sistema de aquecimento solar funcionando com circulação natural. O sistema de aquecimento solar recebe
informações sobre o perfil de consumo e fornece a quantidade necessária de água aquecida para ser misturada
com água fria para atender a demanda por água à temperatura de banho.
O modelo para a simulação no TRNSYS para o exemplo apresentado é composto pelos seguintes
módulos:
- leitura de dados – entrada dos dados do ano meteorológico típico;
- processamento de radiação - determinar a intensidade de irradiação solar disponível na superfície
do coletor a partir dos dados na superfície horizontal;
- sistema combinado coletor-reservatório funcionando como termossifão – simulação do
funcionamento do sistema de aquecimento solar;
- consumo de água – perfil de consumo de água aquecida;
- válvula misturadora – fornecer a quantidade necessária de água aquecida à temperatura de banho.

Dados de Entrada Simulador Radiação

Sistema de
aquecimento solar
para consumo

TE Válvula
Perfil de Consumo
Misturadora

Figura 6.25. Configuração de um sistema de aquecimento solar utilizado em simulações no TRNSYS.

141
§ Programa de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica da ANEEL
O programa de combate ao desperdício de energia elétrica da ANEEL – Agência Nacional de Energia
Elétrica, visa direcionar parte dos investimentos obrigatórios em eficiência energética das empresas
concessionárias e permissionárias do serviço de distribuição de energia elétrica, para projetos específicos
escolhidos previamente pela ANEEL. Uma das categorias de projeto contemplada é voltada para o uso final
de energia elétrica e entre os tipos de uso está o residencial. Existem vários tipos de projeto para o combate
ao desperdício no setor residencial e a substituição de chuveiros elétricos por sistemas de aquecimento solar é
uma das modalidades de projeto previstas no programa.
O Manual para Elaboração do Programa Anual de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica
(ANEEL, 2000) apresenta uma metodologia para o dimensionamento e estimativa de economia de energia
resultante da substituição de chuveiros elétricos por sistemas de aquecimento solar. Essa metodologia foi
desenvolvida pelo PROCEL/ELETROBRAS e tem o objetivo de simplificar a obtenção da economia de
energia elétrica com a utilização da energia solar. Para isso são utilizados valores médios de rendimento de
placa coletora e fatores de correção climáticos para caracterizar o funcionamento do sistema em diferentes
cidades do Brasil.
Na metodologia da ANEEL a energia total necessária para aquecimento é calculada com base no
tempo em que o chuveiro fica ligado em vez do consumo de água aquecida. A equação a seguir mostra como
isso é feito:
L = Q& max n banho t banho n dia

onde Q& max é a potência máxima típica dos chuveiros utilizados, nbanho é o número médio de banhos
por dia, t banho é o tempo total de cada banho e n dia é o número de dias no ano.
Nessa metodologia os banhos são tratados da mesma forma para o inverno e verão, considerando-se
que o chuveiro funciona a potência máxima o ano inteiro. Essa hipótese pode mascarar os resultados, pois
em geral a potência de funcionamento dos chuveiros é alterada durante o ano, diminuindo consideravelmente
durante os meses do verão.
A energia fornecida pelo sistema de aquecimento solar é calculada da seguinte forma:
Q solar = A c F clima 12 Q placa , mensal

onde Q solar é a energia ganha pelo sistema de aquecimento solar durante o ano, A c é a área total de
placas coletoras, F clima é um fator de correção do clima e Q placa , mensal é a energia média produzida por
mês por unidade de área da placa coletora utilizada.
O fator de correção do clima é utilizado para corrigir as diferenças de radiação solar e temperatura
ambiente para os diferentes tipos de clima. Na Tabela 6.4 são apresentados os fatores de correção
encontrados para diversas cidades.
A energia média mensal produzida pela placa coletora é um dos parâmetros disponíveis no Programa
Brasileiro de Etiquetagem. A utilização desse fator pressupõe que as placas coletoras funcionarão durante o
ano com uma eficiência equivalente ao ponto da curva de eficiência onde o parâmetro (Tcol ,e − Ta ) / I
(diferença entre a temperatura de entrada no coletor e a temperatura ambiente dividida pela radiação solar
disponível) igual a 0,02. Essa hipótese desconsidera o fato de que coletores com curvas de eficiência
diferentes podem possuir o mesmo valor de eficiência para um ponto específico.
Os valores da produção média mensal de energia também não fazem nenhuma consideração quanto ao
local onde o sistema será instalado e condições da instalação quanto ao correto alinhamento e inclinação das
placas. O fator de correção climático foi criado para corrigir esse problema, porém foi desenvolvido apenas
para situações onde o alinhamento e inclinação das placas foram feitos de maneira adequada, ou seja, detalhes
específicos de instalações não são levados em consideração utilizando essa metodologia.

142
Tabela 6.4. Fatores de correção climática.

Cidade F clima
Aracaju – SE 0,84
Belém – PA 0,65
Belo Horizonte – MG 0,68
Brasília – DF 0,70
Campo Grande – MS 0,73
Natal – RN 0,81
Cuiabá – MT 0,74
Curitiba – PR 0,49
Florianópolis – SC 0,55
Fortaleza – CE 0,82
Goiânia – GO 0,78
João Pessoa – PB 0,76
Macapá – AP 0,70
Maceió – AL 0,80
Manaus – AM 0,55
Porto Nacional – TO 0,74
Porto Alegre – RS 0,57
Porto Velho – RO 0,60
Recife – PE 0,77
Ribeirão Preto – SP 0,69
Rio de Janeiro – RJ 0,60
Salvador – BA 0,70
São Luís – MA 0,73
São Paulo – SP 0,50
Teresina – PI 0,86
Vitória – ES 0,65

6.6 ASPECTOS ECONÔMICOS DO AQUECIMENTO SOLAR


Conseguir a máxima eficiência técnica somente se torna viável se for demonstrada a máxima eficiência
financeira (Hirschfeld, 1998) . O critério apropriado para se decidir entre alternativas de equipamentos para
aquecer água, assim como seus dimensionamentos, é o tecno-econômico. Por meio dele, as considerações de
desempenho físico são ponderadas. A alternativa tecnológica que produz a maior eficiência técnica não é
necessariamente a que traz maior economia.
No projeto de sistemas de aquecimento solar de água, são feitas análises de custo de ciclo de vida
econômico para as alternativas de investimento em sistemas de aquecimento.

§ Custos de um equipamento para aquecimento de água


Os lançamentos mais representativos em um diagrama de fluxo de caixa que representa o ciclo de vida
de um sistema de aquecimento são (Duffie e Beckman,1991):
§ Custo de aquisição do equipamento;
§ Custo de instalação do equipamento;
§ Gastos com insumos energéticos (combustível principal ou auxiliar);
§ Manutenção periódica;
§ Valor residual de revenda (geralmente uma receita).

Outros lançamentos que ainda podem ser representativos são:


§ Gastos com seguro;
§ Depreciação (no caso de ser uma empresa);
§ Juros de financiamento para aquisição;
§ Receitas e despesas aparentes relacionadas a Impostos (caso de empresa).

143
§ Economias de ciclo de vida
A economia solar, utilizada inicialmente por Beckman et al. (1977), é a diferença de custos entre um
sistema convencional e um sistema de aquecimento solar de água. No caso da análise de ciclo de vida, esta
economia pode ser calculada em termos de Valor Presente Líquido, ou anualizada (Valor Uniforme Líquido).
A economia solar utiliza o conceito de fluxo de caixa diferencial, bastante freqüente na análise econômica de
sistemas energéticos (Kaplan, 1983).

6.7 EXEMPLOS DE APLICAÇÕES

6.7.1 Aquecimento Predial

O aquecimento de água em edifícios residenciais tem se tornado uma alternativa cada vez mais
utilizada, principalmente em empreendimentos de alto padrão onde a demanda por água aquecida é alta.
Nesses casos a opção por aquecimento recai em sistemas centralizados, visto que aquecedores individuais de
passagem ou acumuladores, além de ocuparem espaço útil dentro das unidades, implicam em grandes
investimentos por parte da incorporadora. Por outro lado, sistemas de aquecimento centralizado provocam
aumentos na taxa de condomínio, visto que o consumo de energia para aquecimento deve ser incorporado à
mesma. Nesses casos a medição do consumo de água quente deve ser individualizada para evitar que o uso
excessivo seja compartilhado igualmente entre os moradores.
A utilização do aquecimento solar para edifícios residenciais configura-se em uma alternativa viável,
pois o custo específico de instalações de grande porte é menor e é compartilhado entre as diversas unidades
atendidas. As vantagens oferecidas pela utilização do aquecimento solar em prédios residenciais podem ser no
entanto transformadas em problemas, caso certos cuidados não sejam tomados quando da opção pela
utilização desse tipo de energia. Primeiramente, é importante salientar que nem todo o empreendimento é
adequado à instalação de sistemas de aquecimento solar. Em certas situações ela implica em custos adicionais
que não são pagos com facilidade. Portanto o ideal é já fazer a opção pela utilização do aquecimento solar
durante a fase de projeto e uma análise econômica deve ser realizada para verificar sua viabilidade. Outro
quesito fundamental é a escolha das empresas responsáveis pelo projeto, fornecedoras dos equipamentos e
instaladoras do sistema, que deverão ser idôneas e de experiência comprovada. Especial cuidado deve ser
tomado com estimativas sobre a economia fornecida pelo sistema feitas de maneira pouco embasada
tecnicamente.
Será apresentada a seguir uma análise de viabilidade da instalação de um sistema de aquecimento solar
auxiliar ao sistema de aquecimento central de um condomínio residencial. As diversas restrições do sistema
foram levadas em consideração e o desempenho do sistema foi estimado pelo método f-Chart.

§ Dimensionamento do consumo de água aquecida


O empreendimento em questão é composto por 12 pavimentos tipo, cada um com quatro
apartamentos de três quartos em diferentes configurações, além de quatro coberturas também em diferentes
configurações. O dimensionamento do consumo de água considerou que em cada pavimento tipo haveria três
apartamentos com quatro moradores e um com cinco moradores, e das quatro banheiras, duas seriam
utilizadas por dia. Nas coberturas considerou-se que seriam cinco pessoas por apartamento e um total de duas
banheiras por dia. Para calcular o volume de água aquecida necessário considerou-se um consumo de 60 litros
de água aquecida por morador, mais 100 litros por banheira.
Logo:
V = 12[(3 × 4 + 1 × 5) × 60 + 2 × 100] + [(4 × 5) × 60 + 2 × 100] = 16.040litros / dia

§ Sistema de aquecimento central de água


Devido ao espaço disponível e a experiência anterior da empresa responsável pela obra, a utilização de
geradoras de água quente foi uma restrição considerada. Para o consumo diário de 16.000 litros de água

144
aquecida foram necessárias duas geradoras de água quente com capacidade para 2.000 litros cada, de acordo
com a especificação do fabricante das mesmas. As geradoras poderiam ser tanto a óleo diesel quanto a GLP.

§ Alternativas para instalação de coletores solares na cobertura


A área disponível para instalação de placas coletoras é limitada pelo espaço físico na cobertura. Devido
à grande demanda diária de água aquecida, o sistema vai apresentar uma baixa fração solar e optou-se pelo
funcionamento do sistema como auxiliar de uma das geradoras de água quente.
Quatro alternativas para instalação das placas na cobertura foram analisadas:
§ opção 1 - placas 1x1,35 m, 62 placas, totalizando 83,7 m2;
§ opção 2 - placas 1,35x1 m, 60 placas, totalizando 81 m2;
§ opção 3 - estrutura com inclinação de 37°, instalada na fachada norte do prédio, 74 placas,
totalizando 99,9 m2;
§ opção 4 - estrutura com inclinação de 37° em substituição a 2 fileiras de placas, instalada na
fachada norte do prédio, 66 placas coletoras, totalizando 89,1 m2.

Nas Figuras 6.26 a 6.29 estão os desenhos de cada uma das opções. Pode-se observar nos desenhos as
sombras projetadas pelo castelo de caixa d’água às 9, 12 e 15 horas durante o dia de solstício de inverno.
Pode-se observar que boa parte útil da cobertura fica inutilizada devido ao posicionamento da caixa d’água,
impedindo que um sistema maior seja instalado. A opção 2 pode ser descartada porque não traz nenhuma
vantagem do ponto de vista de área de placas coletoras. A opção 3 possui uma área maior de placas coletoras
mas altera a cobertura do prédio devido à necessidade de construção de uma superestrutura para montagem
das placas coletoras. As opções 1 e 4 são as mais viáveis tecnicamente.
Para essa instalação recomendaram-se dois reservatórios de água quente com capacidade para 4.000
litros ou um reservatório de 8.000 litros. Existe espaço disponível na cobertura para a colocação dos
reservatórios térmicos ao sul do castelo da caixa d’água e os reservatórios podem ser construídos na medida
desejada sob encomenda.

145
Figura 6.26. Configuração da opção 1.

146
Figura 6.27. Configuração da opção 2.

147
Figura 6.28. Configuração da opção 3.

148
Figura 6.29. Configuração da opção 4.

149
§ Análise do desempenho dos sistemas propostos
A economia de energia obtida para as opções 1 e 4 pode ser observada na Tabela 6.5.

Tabela 6.5. Economia mensal de energia nas opções 1 e 4.

Economia[%] Economia[%]
mês
opção 1 opção 4
JAN 25,4 26,6
FEV 27,0 28,4
MAR 27,2 28,6
ABR 29,2 30,7
MAI 25,7 27,0
JUN 17,5 18,4
JUL 18,3 19,3
AGO 19,3 20,3
SET 17,6 18,5
OUT 17,1 17,9
NOV 25,3 26,6
DEZ 27,6 29,0
ANUAL 22,9 24,0

A análise de desempenho foi feita utilizando a curva de eficiência de um coletor solar disponível no
mercado. Caso outros modelos de coletor fossem utilizados, os valores da economia mensal seriam alterados
de acordo com a curva de eficiência.

§ Análise econômica
A análise econômica sempre deve ser feita após o levantamento de preços dos fornecedores. Uma
estimativa preliminar feita com preços de componentes disponíveis no mercado em Junho de 2003 é
apresentada nas Tabelas de 6.6 a 6.10. Foram levadas em consideração na análise: vida útil de 20 anos, taxa de
retorno igual à da poupança e inflação do combustível de 10% ao ano.

Tabela 6.6. Análise econômica Opção 1 + GLP.

Custo de combustível no primeiro ano R$ 46.336,00


Economia de combustível no primeiro ano R$ 13.748,00
Retorno na vida útil R$ 151.218,00
Investimento inicial R$ 46.176,00
Tempo de retorno 3,4 anos

Tabela 6.7. Análise econômica Opção 1 + Diesel.

Custo de combustível no primeiro ano R$ 28.785,00


Economia de combustível no primeiro ano R$ 8.540,00
Retorno na vida útil R$ 61.448,00
Investimento inicial R$ 61.176,00
Tempo de retorno 7,2 anos

150
Tabela 6.8. Análise econômica Opção 4 + GLP.

Custo de combustível no primeiro ano R$ 45.639,00


Economia de combustível no primeiro ano R$ 14.445,00
Retorno na vida útil R$ 159.864,00
Investimento inicial R$ 47.542,00
Tempo de retorno 3,3 anos

Tabela 6.9. Análise econômica Opção 4 + Diesel.

Custo de combustível no primeiro ano R$ 28.351,00


Economia de combustível no primeiro ano R$ 8974,00
Retorno na vida útil R$ 66.301,00
Investimento inicial R$ 62.542,00
Tempo de retorno 7 anos

Tabela 6.10. Análise econômica Opção 4 + Diesel, desconsiderando custo adicional em relação ao GLP.

Custo de combustível no primeiro ano R$ 28.351,00


Economia de combustível no primeiro ano R$ 8974,00
Retorno na vida útil R$ 81.301,00
Investimento inicial R$ 47.542,00
Tempo de retorno 5,3 anos

§ Conclusões
Das opções analisadas, a opção 4 é a mais interessante. Quanto ao combustível a ser escolhido, o
sistema a GLP seria bem mais viável caso todo o investimento fosse por conta do proprietário do imóvel.
Como a construtora que irá pagar pelo sistema e, o proprietário pagará apenas a conta anual de combustível,
para o proprietário é mais interessante o sistema diesel-solar.

6.7.2 Aquecimento de Piscinas

O aquecimento de piscinas tornou-se recentemente uma das alternativas de utilização de aquecimento


solar mais atraentes do ponto de vista de retorno financeiro.
Sistemas de aquecimento solar para piscinas são mais baratos que os utilizados para consumo de água
doméstico porque, devido a menor temperatura de trabalho, bons resultados podem ser obtidos com placas
coletoras de eficiência e custo menores. Não existe também a necessidade de um reservatório térmico, pois a
própria piscina funciona dessa forma.
No caso de piscinas residenciais, em geral elas não possuem nenhuma espécie de aquecimento, ou seja
a utilização do sistema de aquecimento solar amplia o número de dias por ano em que a piscina pode ser
utilizada. Como a piscina é um investimento grande feito pelo proprietário que possui um poder aquisitivo
maior, o investimento adicional feito no sistema de aquecimento solar possui um retorno em termos de
utilizabilidade que não pode ser quantificado apenas no aspecto financeiro.
Piscinas de uso coletivo, como academias, clubes, condomínios, hotéis, possuem em maior quantidade
sistemas de aquecimento. No caso de piscinas para competições o controle de temperatura na piscina é
bastante rigoroso, devendo ser mantida entre 25 e 28°C segundo norma da FINA (Federation Internationale
de Natation). Por isso o projeto deve ser tecnicamente detalhado para garantir as condições ideais para a
realização de competições.
Um exemplo da análise do funcionamento de uma piscina olímpica aquecida por energia solar será
detalhado a seguir mostrando como são utilizadas as ferramentas de simulação de sistemas de aquecimento
solar.

151
§ Descrição da Simulação – Piscina Olímpica
• A piscina olímpica tem 1250m2 e um volume de 2800m3, o que equivale a uma profundidade média
de 2.24m.
• A piscina é fechada (interna)
• A colocação da coberta sobre a piscina é feita das 22h às 5h (como a piscina servirá para preparação e
treinamento dos atletas, o período de fechamento é reduzido).
• As condições atmosféricas no recinto da piscina correspondem à condição externa (temperatura e
umidade relativa). Esta condição não é verificada caso a atmosfera do recinto seja controlada.
• Não são considerados ganhos passivos solares.
• A área de coletor equivale a 1.000 coletores de 1.36m2, sendo um pouco maior do que a área da
piscina
• O cálculo do trabalho necessário (bomba de calor) foi feito assumindo um coeficiente médio de
performance (COP) de 4,0.
• A piscina funciona como reservatório térmico do sistema solar. A relação "Volume de Água / Área
de Coletor" é de 2058 l/m2. (para sistemas de aquecimento de água doméstico a "regra de uso geral" é de
75l/m2)
• Perdas na tubulação não são consideradas.
• A água da piscina é renovada aproximadamente uma vez a cada 24 horas (uma passagem pelo filtro
por dia), incorrendo em uma perda térmica de 0,3°C.

§ Estratégia de Controle
A bomba de calor é adicionada através de um controlador diferencial do tipo “on-off”. A piscina é
aquecida toda vez que a temperatura da água ultrapassar o limite inferior de 26,5°C. O aquecimento
prossegue até que o limite superior de 27,5°C seja ultrapassado. A potência máxima de aquecimento
disponível é de 656 mil kcal/h (764kW).
A bomba que movimenta o fluido através dos coletores solares também é acionada por um
controlador diferencial. A bomba é ligada toda vez que a temperatura na saída do conjunto de coletores
estiver 10°C acima da temperatura na entrada do conjunto de coletores. A bomba permanece ligada até que
essa diferença de temperatura caia abaixo de 0,5°C. O acionamento da bomba também é interrompido se a
temperatura da piscina exceder 27,5°C. Os controladores da bomba de calor e da bomba dos coletores solares
são independentes.

§ Cenários Simulados
Quatro cenários diferentes foram simulados. Cada um deles é descrito na Tabela 6.11.

Tabela 6.11. Cenários Simulados.

Cenário Sigla Descrição


Aquecimento é feito através de equipamento
1 SC com potência limitada. Não há coberta no
período noturno.
Igual ao cenário “1”, no entanto com coberta
2 CC
no período noturno.
Aquecimento é feito através de equipamento e
3 SOLAR_CC de um conjunto de coletores solares. Não há
coberta no período noturno.
Igual ao cenário “3”, no entanto com coberta
4 SOLAR_SC
no período noturno.

152
§ Resultados
A nomenclatura usada nos gráficos abaixo segue:
• Q_EVAP - perdas por evaporação
• Q_CONV - perdas por convecção
• Q_LWR - perdas por radiação para as paredes circundantes
• Q_REP - perdas devido à queda de temperatura na água que é filtrada
• Q_AUX - energia necessária para suprir a todas as perdas (equivale à soma das perdas)
• W_T - trabalho (sob a forma de energia elétrica) necessário para operar a bomba de calor.
• C_HP - gastos para operar a bomba de calor
• C_GLP - gastos para compra de GLP
• C_GN - gastos para compra de gás natural
• C_DIESEL - gastos para compra de óleo diesel

As Figuras 6.30 e 6.31 apresentam os resultados que seriam obtidos caso o aquecimento fosse feito
apenas por bombas de calor, sem o uso de coletores solares. A colocação de uma coberta entre 22h e 5h
reduz as perdas por evaporação em 94,22MWh (27,80%) no mês de agosto. No cenário SC a temperatura
máxima encontrada é de 28,4°C e a mínima é de 25,1°C, sendo a temperatura média igual a 26,8°C. Já no
cenário CC estes valores passam para 28,7°C, 26,0°C e 26,9°C respectivamente.

Figura 6.30. Balanço mensal de energia na configuração SC.

153
Figura 6.31. Balanço mensal de energia na configuração CC.

O uso de um conjunto de mil coletores solares (Figuras 6.32 e 6.33) resulta em uma queda no trabalho
médio mensal, de 91,16MWh no cenário SC, para 67,50MWh no cenário SOLAR_SC (redução de 26,0%).
Esta redução é mais acentuada caso seja usado uma coberta, passando de 73,24MWh em CC para 48,21MWh
em SOLAR_CC (redução de 34,2%). A comparação destas figuras com as anteriores não é direta, uma vez
que a temperatura média aumenta com a introdução dos coletores solares. As maiores perdas evaporativas no
cenário SOLAR_SC relativo ao cenário SC são explicadas por esse fato. No cenário SOLAR_SC as
temperaturas máxima, mínima e média são 28,9°C, 25,4°C e 27,0°C respectivamente. No cenário
SOLAR_CC estas temperaturas passam a ser 28,9°C, 26,0°C e 27,1°C.

Figura 6.32. Balanço mensal de energia na configuração SOLAR_SC.

154
Figura 6.33. Balanço mensal de energia na configuração SOLAR_CC.

A fração solar f mensal é mostrada na Figura 6.34, para os cenários SOLAR_SC e SOLAR_CC. A
maior diferença é notada durante o mês de fevereiro, onde a introdução da coberta aumenta a fração solar de
43,9% para 63,5%, reduzindo a energia necessária neste mês de 26,9MWh para 12,3MWh. A fração solar
média anual F é de 21,51% no cenário SOLAR_SC e 29,86% no cenário SOLAR_CC. É importante ressaltar
que a fração solar neste caso é definida com base na energia entregue à água e não na energia adquirida.

Figura 6.34. Fração solar mensal f, calculada com base na energia entregue
nas configurações SOLAR_SC e SOLAR_CC.

155
A Figura 6.35 apresenta balanços energéticos anuais para os cenários SOLAR_SC, SOLAR_CC, SC e
CC. O que apresenta o menor trabalho necessário é o cenário SOLAR_CC, com 578,61MWh.

Figura 6.35. Balanço energético anual.

É preciso ressaltar que cada cenário fornece condições de operação diferentes (diferentes temperaturas
médias, máximas e mínimas) ao longo do ano e que a comparação direta deve ser feita cuidadosamente.

§ Análise Econômica dos Custos Operacionais


As principais formas de aquecimento disponíveis são mediante queima de combustíveis (gás natural,
GLP, diesel), bomba de calor acionada usando energia elétrica (também pode ser operado em ciclo invertido,
esfriando a piscina quando necessário) e também o uso de fontes de energia renovável, principalmente sob a
forma de energia solar térmica. Serão comparados os cenários SC, CC, SOLAR_SC E SOLAR_CC para as
formas de aquecimento citadas acima.
Como pode ser observado nas Figuras 6.36 a 6.39, o menor gasto mensal incide sobre a alternativa de
aquecimento com bombas de calor, com valores mensais médios mostrados na Tabela 6.12. Para a energia
comprada sob a forma de eletricidade as tarifas disponíveis para a classe A4 Horo Sazonal Verde foram
usadas (www.celesc.com.br). No caso do gás natural, a tarifa AZUL – TG2 (www.scgas.com.br) foi usada,
exigindo o pagamento de no mínimo 70% da quantidade contratada. A verificação do tipo de tarifa que seja
melhor para a aplicação em questão não foi realizada. As tarifas foram obtidas através dos sites das empresas,
no dia 17 de Janeiro de 2003. No caso do GLP e do DIESEL os valores foram fornecidos pela Shell
Combustíveis no dia 20 de Janeiro, sendo o litro de diesel cotado a R$1.39 e o quilograma de GLP a R$1,99.
Foi assumida uma eficiência média de 84% no aquecedor a gás natural, 81% no aquecedor a GLP e uma
eficiência média de 93% no aquecedor a DIESEL.

Tabela 6.12. Gasto Mensal Médio por Alternativa de Aquecimento.

C_HP C_GLP C_GN C_DIESEL


CENÁRIO
[R$] [R$] [R$] [R$]
SC 13.733,33 68.583,33 37.733,33 55.741,67
CC 11.100,00 50.783,33 28.316,67 41.266,67
SOLAR_SC 10.308,33 55.100,00 30.541,67 44.783,33
SOLAR_CC 9.008,33 36.283,33 20.416,67 29.483,33

156
Figura 6.36. Gasto mensal – SC.

Figura 6.37. Gasto mensal – CC.

157
Figura 6.38. Gasto mensal – SOLAR_SC.

Figura 6.39. Gasto mensal – SOLAR_CC.

O uso de GLP incorre nos custos operacionais mais elevados, seguido do uso de óleo diesel. Os gastos
mensais com gás natural estão situados em um patamar intermediário, no entanto o investimento em
equipamento é próximo ao exigido pelos aquecedores a gás. O uso de bombas de calor incorre nos menores
gastos mensais e esta alternativa ainda permite resfriar a piscina quando necessário. Em contrapartida, o
investimento exigido na compra de equipamento pode ser até o dobro daquele necessário para a compra de
aquecedores a gás ou a diesel. Essas tendências foram verificadas em todos os cenários, sendo que o cenário
com menor gasto mensal é o SOLAR_CC. Neste caso, ainda é preciso incluir o investimento necessário na

158
compra de coletores solares e equipamento auxiliar na análise econômica. A Figura 6.40 apresenta os gastos
anuais por alternativa de aquecimento.

Figura 6.40. Gastos anuais por alternativa de aquecimento.

É interessante observar que apenas no caso das bombas de calor o cenário SOLAR_SC apresenta
menores custos operacionais anuais que o cenário CC. Isto se deve ao fato do sistema de aquecimento solar
reduzir significativamente a necessidade de aquecimento no horário de ponta, entre as 18h e 21h, período em
que o custo da energia elétrica é muito superior do que seria fora do horário de ponta. Esta vantagem
observada supera as maiores perdas existentes no cenário SOLAR_SC em relação ao cenário CC. Já no caso
dos combustíveis fósseis não há diferenciação horária, sendo os custos apenas função do total das perdas e
não da hora em que as perdas acontecem.
Na análise econômica efetuada, um horizonte de 20 anos foi usado, aproximadamente igual à vida útil
dos equipamentos envolvidos. A compra dos equipamentos é toda financiada (prestações constantes – tabela
PRICE), a uma taxa de 12%aa com capitalização anual. O valor residual dos equipamentos foi estimado em
20% do valor original e a inflação adotada foi de 6%aa. Considerando as incertezas futuras quanto aos preços
dos combustíveis, foi desconsiderada a inflação nos preços destes. Uma alíquota de 35% no imposto de renda
foi adotada. Os custos e as características dos equipamentos foram obtidos de fabricantes nacionais.
A classificação das alternativas do ponto de vista econômico foi feita com base no menor valor
presente líquido (VPL) dos custos durante o horizonte de 20 anos. Equivale à quantidade necessária de
recursos que teria que ser investido hoje (a juros de 6%aa) para garantir o pagamento do aquecimento das
piscinas e da água de consumo do complexo aquático durante os próximos 20 anos. Também foi considerado
o PAYBACK TIME da melhor alternativa em relação às demais, definido como o tempo necessário para que
a diferença no custo operacional pague o investimento inicial adicional necessário.
O melhor resultado operacional, como se previa, resulta do uso de bombas de calor associadas com
coletores solares e cobertura térmica da piscina, com um VPL de aproximadamente R$3 milhões, custo
operacional anual de R$185 mil e um PAYBACK TIME que varia de 0,23 anos (2,76 meses) a 5,44 anos. As
principais informações encontram-se resumidas na Tabela 6.13.

159
Tabela 6.13. Resultados da análise econômica das alternativas propostas.

VPL
TIPO S C INVEST CO PAYBACK
DOS CUSTOS
[-] [-] [-] [R$] [R$/ano] [R$] [anos]
BC X X 816.500,00 185.346,50 3.070.967,34 [-]
BC X 800.000,00 216.258,67 3.434.239,68 0,53
BC X 366.500,00 268.000,70 3.652.673,40 5,44
BC 350.000,00 283.550,70 3.827.541,77 4,75
GN X X 654.800,00 372.768,89 5.214.319,96 0,86
GN X 204.800,00 514.669,55 6.522.633,48 1,86
GN X 638.300,00 539.002,99 7.141.880,72 0,50
DIESEL X X 648.800,00 530.334,72 7.140.971,32 0,49
GN 188.300,00 668.439,55 8.392.652,79 1,30
GLP X X 654.800,00 652.372,50 8.643.420,77 0,35
DIESEL X 198.800,00 739.795,60 9.277.853,64 1,11
DIESEL X 632.300,00 777.234,65 10.153.150,17 0,31
GLP X 204.800,00 910.060,70 11.371.770,23 0,84
DIESEL 182.300,00 971.755,60 12.106.806,91 0,81
GLP X 638.300,00 956.003,67 12.351.360,09 0,23
GLP 188.300,00 1.195.250,70 14.853.544,26 0,62

Onde: BC – bomba de calor, GN – gás natural, GLP – gás liquefeito de petróleo, S – aquecimento
solar, C – cobertura, CO – custo operacional, VPL – valor presente líquido.

§ Conclusões
Este estudo preliminar não está otimizado em termos de estratégia de controle, área de coletor solar
nem economicamente. Curvas de eficiência de fabricantes de bombas de calor do tipo ar-água, necessárias
nesta aplicação, também não foram usadas, limitando a apresentação ao trabalho necessário para um
coeficiente de performance (COP) médio de 4,0. Como a temperatura da piscina não deve ultrapassar 28°C, o
aproveitamento de energia solar deve ser interrompido quando a temperatura da piscina estiver próxima deste
valor. No entanto, pode-se ainda aproveitar a energia solar do sistema de coletores da piscina para o
aquecimento de água para uso humano (nos vestiários, por exemplo), de temperatura mais elevada (40-60°C).
Apesar das observações feitas acima, os resultados obtidos são relevantes sobre as várias tecnologias
disponíveis, sua capacidade de atender aos requisitos da FINA e a possibilidade de economia de recursos a
longo prazo. A análise econômica efetuada indicou que a alternativa com uso de bombas de calor, sistema de
aquecimento solar e coberturas térmicas é a que apresenta o menor valor presente líquido dos custos, sendo
portanto a mais atrativa. Esta alternativa é que a exige o maior investimento inicial. Uma outra alternativa, de
investimento inicial significativamente menor e custo operacional também vantajoso é a que envolve bombas
de calor com colocação de cobertas nas piscinas no período noturno.

6.7.3 Sistemas Compactos para Baixa Renda – Solar Buona Vita

No Brasil, o mercado de sistemas de aquecimento solar está mais voltado para a população de poder
aquisitivo maior, visto que a instalação de sistemas de aquecimento solar implica em custos que normalmente

160
classes menos favorecidas não podem arcar. Por isso, a maioria dos sistemas de aquecimento solar residencial
é dimensionado para fornecer uma demanda por água aquecida maior do que a normalmente utilizada pelo
consumidor de baixa renda. Nesse contexto, equipamentos compactos para atender uma demanda menor e a
um custo inferior são uma alternativa para popularizar a utilização de sistemas de aquecimento solar.

§ Projeto “Solar Buona Vita”


O Condomínio Solar Buona Vita foi escolhida para a implantação de um projeto de pesquisa
entitulado ”Desenvolvimento e validação experimental de ferramenta digital para racionalização do uso de
energia de chuveiros elétricos de consumidores de baixa renda por agregação de energia termo-solar no
estado de Santa Catarina”. Este projeto surgiu de uma parceria entre o LABSOLAR/UFSC e CELESC –
Centrais Elétricas de Santa Catarina – com o objetivo de avaliar o impacto da substituição em larga escala de
chuveiros elétricos por sistemas de aquecimento solar compactos para famílias de baixa renda.
Noventa moradores foram selecionados e separados em dois grupos a saber:
- Grupo A – 60 moradores que receberam um sistema de aquecimento solar compacto e chuveiro de
potência regulada eletronicamente;
- Grupo B – 30 moradores que receberam apenas o chuveiro de potência regulada eletronicamente.
Todos os 90 moradores tiveram o consumo de energia elétrica monitorada durante o período do
experimento e os resultados obtidos para cada grupo foram comparados.

§ Detalhes Experimentais
O sistema de aquecimento solar usado é composto por uma placa coletora de cobre, coberta com tinta
seletiva e com cobertura simples, integrada a um reservatório térmico localizado logo acima do coletor. O
reservatório térmico possui uma proteção em fibra de vidro e é isolado termicamente com lã de vidro. O
sistema como um todo possui apenas duas mangueiras de ligação, uma de entrada de água fria e a outra de
saída de água quente, o que facilita a montagem no telhado. A Figura 6.41 mostra o sistema compacto
utilizado. O coletor solar foi testado de acordo com padrões europeus de teste para coletores solares planos
(Müller-Steinhagen, 2002), a partir do qual foram obtidos valores de parâmetros usados na simulação do
sistema. A Tabela 6.14 resume os principais parâmetros construtivos do sistema.

Tabela 6.14. Detalhes técnicos do sistema de aquecimento solar compacto.

parâmetro valor
área de coletor 1,36 m2
curva de eficiência
FRUL 20,66 kJ/m2hK
FR(τα) 0,67
volume do reservatório 90,5 litros

161
Figura 6.41. Sistema de aquecimento solar compacto utilizado durante os experimentos.

O esquema de funcionamento do sistema de aquecimento solar compacto usado pode ser visto na
Figura 6.42. Um chuveiro elétrico com regulagem eletrônica de potência funciona como fonte de energia
auxiliar. Uma válvula de mistura termostática limita a temperatura máxima de fornecimento de água quente
para o chuveiro elétrico com o objetivo de prevenir queimaduras, além de evitar o consumo excessivo de
água quente.

Figura 6.42. Esquema de montagem do sistema de aquecimento solar compacto.

162
O condomínio residencial Solar Buona Vita está localizado no bairro de Canasvieiras no município de
Florianópolis no norte da ilha de Santa Catarina. Esse condomínio foi construído através do PAR – Programa
de Arrendamento Residencial da Caixa Econômica Federal. A Figura 6.43 mostra uma foto do condomínio
com os sistemas instalados nos telhados.

Figura 6.43. Condomínio residencial Solar Buona Vita.

§ Resultados obtidos
Esse experimento está sendo utilizado para a obtenção de uma série de resultados. Entre eles pode-se
citar: perfis de consumo característicos das famílias, economia de energia elétrica, potência específica do
chuveiro demandada com e sem aquecimento solar, metodologia para otimização do sistema e modelo de
previsão para pré-aquecimento apenas em dias que se fizer necessário.
Um diferencial desse projeto em relação aos demais realizados anteriormente no país é a medição
contínua da potência nos chuveiros em intervalos de cinco minutos. Normalmente dispõe-se apenas de
valores do consumo total e isso impede a avaliação exata do consumo do chuveiro, além de ter pouca
utilidade em termos da potência demandada.
A Figura 6.44 mostra o consumo médio mensal dos Grupos A e B no mês de Fevereiro de 2004.
Observa-se que houve uma redução em termos da demanda horária média mensal de 60%. Nas Figuras 6.45 e
6.46 são apresentados os valores da potência média instantânea para o dia crítico, onde o valor máximo foi
alcançado. O pico máximo durante esse mês foi reduzido em 47%.

163
Figura 6.44. Consumo médio mensal por horário dos chuveiros elétricos em fevereiro de 2004.

0.6

0.5 somente elétrico - 01-Feb-2004


potência [kW]

0.4

0.3

0.2

0.1

0.0
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 24:00
hora
Figura 6.45. Demanda média no dia de pico máximo do mês de fevereiro de 2004 – Grupo B.

0.6

0.5 elétrico + solar - 28-Feb-2004


potência [kW]

0.4

0.3

0.2

0.1

0.0
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 24:00
hora
Figura 6.46. Demanda média no dia de pico máximo do mês de fevereiro de 2004 – Grupo A.

164
§ Conclusões
Os resultados obtidos comprovaram a viabilidade da utilização da energia solar como ferramenta para
diminuição do consumo e redução da demanda no horário de ponta através da utilização de sistemas de
aquecimento solar compactos. Uma economia total média de 58% foi conseguida, porém será menor nos
meses de inverno. O pico de demanda foi reduzido, porém continuou a existir devido à configuração de
sistema escolhido (aquecedor solar + chuveiro elétrico), por isso a utilização de pré-aquecimento elétrico no
interior do reservatório será levada em consideração nas próximas etapas desta pesquisa.
Detalhes completos dos resultados podem ser obtidos em Salazar (2004).

6.8 QUALIDADE E NORMAS


O mercado brasileiro de sistemas de aquecimento solar de água nasceu nos anos setenta, e cresceu nos
oitenta, quando já era possível adquirir bons produtos. No entanto, surgiram também fabricantes, projetistas
e instaladores sem capacitação técnica adequada. Parte dos consumidores foi lesada por produtos e serviços
de baixa qualidade. O descontentamento foi propagado, levando a tecnologia ao descrédito., problema que
ainda perdura. Cada vez que o mercado se aquece, são abertas empresas com baixa ou nenhuma capacitação,
e isto continua representando uma barreira para o crescimento do mercado no setor
A preservação da qualidade da tecnologia solar tem sido motivo de articulação de fabricantes, órgãos
normativos e centros de pesquisa desde o início da existência do mercado. A principal estratégia tem sido a
do estabelecimento de uma normatização adequada.
A normatização deve:
- garantir a qualidade construtiva dos componentes de um aquecedor solar;
- ensaiar e caracterizar o desempenho de cada componente, utilizando um critério uniforme e
reprodutível;
- garantir o projeto adequado, que atenda a demanda e o clima;
- proteger o comprador de comprar um equipamento de funcionalidade ou durabilidade questionáveis.
Infelizmente, a criação de uma norma não garante a qualidade da tecnologia solar, pois o processo
deve ser dinâmico e permanente, contemplando as inovações técnicas de construção, projeto e execução,
sofrendo atualizações constantes. Uma norma deve ser fiscalizável, ou do contrário não surtirá efeito algum.
Portanto, a exequibilidade desta deve ser estudada antes de sua instauração.

6.8.1 Normas de caracterização do desempenho de componentes, projeto e instalação.

A seguir são listadas as normas brasileiras que são relevantes no que se refere à fabricação, projeto,
instalação e operação de sistemas de aquecimento solar de água. As normas específicas para aquecedores
solares de água foram elaboradas pela ABNT com base nas normas da associação norte-americana ASHRAE
- The American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers, Inc.
§ ABNT NBR-7198 Projeto e execução de instalações prediais de água quente. Fixa as
exigências técnicas mínimas quanto à higiene, à segurança, à economia e ao conforto dos usuários, pelas quais
devem ser projetadas e executadas as instalações prediais de água quente.
§ ABNT NB-128 Instalações prediais de água quente. Fixa as exigências técnicas mínimas quanto à
higiene, à segurança, à economia e ao conforto a que devem obedecer as instalações prediais de abastecimento
de água quente (foi substituída pela NBR-7198).
§ ABNT NBR-10185 Reservatórios térmicos para líquidos destinados a sistemas de energia
solar - Determinação de desempenho térmico. Prescreve os métodos de ensaios que permitem avaliar
o coeficiente global de fluxo de calor para o ambiente e as capacidades de carga e descarga de reservatórios
térmicos empregados em sistemas de utilização térmica de energia solar.

165
§ ABNT NBR 12269 Execução de instalações de sistemas de energia solar que utilizam
coletores solares planos para aquecimento de água. Fixa as condições exigíveis para a execução de
instalações de sistemas de aquecimento solar que utilizam coletores solares planos para o aquecimento de água.
§ ABNT NBR 10184 Coletores solares planos para líquidos - determinação do rendimento
térmico. Prescreve o método de ensaio para determinação do rendimento térmico de coletores solares planos
para líquidos

Para a determinação do rendimento térmico de coletores solares, o procedimento descrito pela norma
utiliza a radiação solar em incidência normal ao coletor, com o sol próximo de sua passagem meridiana. O
rendimento para uma determinada faixa de temperatura de operação é calculado com base no ganho de
temperatura do fluido circulante, controlado e em regime permanente. Para o levantamento da curva de
eficiência de uma placa coletora, são necessárias algumas dezenas de pontos de operação em temperaturas ou
intensidades de radiação diferentes. Por conta disso, levantar o rendimento de coletores é um processo
demorado. Nos anos 70, propôs-se o uso de um conjunto de lâmpadas de forte intensidade para simular
artificialmente a radiação solar. Apesar de o teste ser eficaz (Simon, 1976), existem limitações de aquisição
do equipamento e custos operacionais altos, em decorrência da reposição periódica de lâmpadas de precisão
que simulam o espectro solar.
Recentemente, desenvolveu-se o teste quasi-dinâmico de coletores solares que utiliza dados obtidos
durante todo o dia de testes, com o sol também em incidência obllíqua e determina a curva de rendimento do
coletor solar através do uso de regressões multivariável. O teste quasi-dinâmico foi adotado pela comunidade
Européia para a determinação do rendimento de coletores para a norma européia EN 12975-2, por sua
rapidez, acuidade e simplicidade (Fisher, Müller-Steinhagen, et al. 2001).
No Brasil, o LABSOLAR é pioneiro na realização de testes quasi-dinâmicos, que tem revelado
excelentes resultados (Kratzenberg, Beyer et al., 2002).

6.8.2 Rotulagem (labeling), selos de excelência (endorsment labels) e Normas de


desempenhenho energético mínimo (Minimum Energy Performance Standards)

Além da normatização, o governo pode endossar a recomendação de produtos, de forma a classificá-


los em categorias, segundo um critério de qualidade. Este processo é conhecido como Rotulagem. A
rotulagem energética de equipamentos e eletrodomésticos é feita nos paises do primeiro mundo há anos. O
processo de rotulagem é complexo, pois os critérios para o estabelecimento de notas devem ser claros e
justos para todos os fabricantes. Na Figura 6.47 temos o exemplo de um selo utilizado na Europa para
Rotulagem.
De acordo com Weil & MacMahon (2001), o Brasil é o único país a utilizar selos de rotulagem
energética que categorizam a qualidade de coletores solares. À parte desta característica, rótulos que reportam
o desempenho térmico de placas coletoras (sem categorização ou “nota”) são amplamente utilizados.

Figura 6.47. Selo Europeu. Classificação por categorias.

166
Um selo de excelência energética pode ser auferido ao equipamento com o melhor desempenho
(Figura 6.48).

Figura 6.48. Selo Procel – auferido a equipamentos que se classificam na faixa “A” do selo padrão europeu.

6.8.3 Parâmetros mínimos de desempenho energético


O estabelecimento de normas de desempenho energético mínimo (Minimum Energy Performance
Standards – MEPS) tem sido utilizado extensivamente no primeiro mundo como ferramenta para limitar o
consumo máximo de energia permissível por classe de equipamento. Com a lei 10.295/2001 regulamentada
pelo decreto 4059, o Brasil está em processo de adoção de normas de desempenho energético mínimo para
todos os equipamentos consumidores de energia. Estas normas são usualmente estabelecidas com base no
desempenho do melhor equipamento da classe que esteja à venda no mercado (o top-runner). Para forçar uma
melhora de eficiência até no top-runner, faz-se com este equipamento uma análise das possibilidades de
melhorias.
O procedimento básico para a análise de eficiência energética para o estabelecimento de normas
consiste de (Wiel e McMahon, 2001):
a) Eleger um caso-base. Normalmente é um equipamento ou edificação que tem características típicas de
todo um grupo semelhante. O caso base é o ponto de partida da análise de engenharia. As características
do caso-base determinam que tipos de modificações podem ser feitas no projeto de modo a melhorar a
eficiência energética.
b) Identificar possíveis alterações no projeto que trariam melhorias com respeito à eficiência energética.
Estas alterações são chamadas Medidas de Conservação de Energia - MCE .
c) Estimar o custo de todas as medidas de conservação de energia, com base numa pesquisa de mercado
d) Calcular as economias de energia potenciais causadas pelas configurações de medidas de conservação de
energia.
e) Calcular o custo/benefício decorrente do uso de cada medida ou de um conjunto de medidas, para a
geração de curvas de custo-eficiência através do Custo de Ciclo de Vida Econômico (CCV) de todas as
configurações;
A avaliação do Custo de Ciclo de Vida tem a finalidade de buscar a configuração tenha a melhor
relação custo/benefício possível. O custo de ciclo de vida do equipamento pode baixar com a adoção de
medidas de conservação, em virtude das economias com gastos energéticos propiciadas. A título de exemplo,
a Figura 6.49 mostra o estudo de caso para um refrigerador doméstico brasileiro, do tipo popular, com 330 l
de volume (Jannuzzi et al., 2003). As medidas de conservação de energia foram simuladas utilizando-se o
simulador ERA, da agência de energia norteamericana E.P.A.

167
Figura 6.49. MCEs aplicadas a um refrigerador doméstico popular (Jannuzzi, Borges et al., 2003).

Na Figura 6.49:
C0 = caso base
C1 = C0 + adoção de compressor mais eficiente
C2 = C1 + redução da perda de calor pela vedação
C3 = C2 + aumento da espessura do isolante térmico na porta de 1,27cm
C4 = C3 + aumento da espessura do isolante térmico na porta de 2,54cm
C5 = C4 + aumento da espessura do isolante térmico nas paredes de 1,27cm
C6 = C5 + aumento da espessura do isolante térmico nas paredes de 2,54cm

Finalizando o procedimento para se estabelecer normas de eficiência energética mínima, toma-se por
referência o consumo energético das configurações de baixo CCV (as mais atrativas do ponto de vista
econômico) para se estabelecer limites máximo de consumo para a classe de equipamento ou edificação
estudada. Ilustrando o restante do processo de normatização de uma maneira bastante simplificada, pode-se,
por exemplo, normatizar que refrigeradores da mesma classe e tamanho do estudado não possam ter
consumo superior em 30% ao consumo da configuração C5.
Para o caso do aquecimento solar de água, esta análise só se justifica em sistemas de aquecimento
completos. Afinal, um coletor solar não é uma máquina consumidora de energia, e sim produtora. Sendo
produtora, um baixo desempenho térmico pode ser justificável, desde que acompanhado de um baixo preço.

168
6.9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LEITURA RECOMENDADA
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