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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Agravo de Instrumento Cv Nº 1.0024.11.294116-6/001

<CABBCABCCBBACADCBAADACBCBDAAADADDAAA
ADDADAAAD>
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - IMISSÃO DE POSSE -
INVENTARIANTE – ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DEFERIDA.
- Cabe ao inventariante a administração dos bens do espólio. Assim, a
antecipação de tutela concedida para imitir o inventariante da posse dos
bens do espólio deve ser mantida.

AGRAVO DE INSTRUMENTO CV Nº 1.0024.11.294116-6/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE -


AGRAVANTE(S): ANTÔNIO SÉRGIO SANTA BÁRBARA - AGRAVADO(A)(S): JOSÉ GERALDO DA ROCHA
INVENTARIANTE JOVINO ALVES DA ROCHA, ESPOLIO DE JOVINO ALVES DA ROCHA

AC Ó R D ÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL


do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, à unanimidade, em REJEITAR PRELIMINAR E
NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. VALDEZ LEITE MACHADO


RELATOR.

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Agravo de Instrumento Cv Nº 1.0024.11.294116-6/001

DES. VALDEZ LEITE MACHADO (RELATOR)

VOTO

Cuida-se de agravo de instrumento interposto por


Antônio Sérgio Santa Bárbara, contra decisão que deferiu antecipação
de tutela em ação de imissão de posse, assegurando ao inventariante a
posse e administração dos bens do espólio, consubstanciado no imóvel
ocupado pelo recorrente, determinando sua desocupação no prazo de
10 dias.

Ofertou o agravante o presente recurso alegando, em


síntese, que é neto e herdeiro testamentário de Jovino Alves da Rocha,
do correspondente a 25% do bem objeto da lide, tendo em vista os
cuidados pessoais prestados ao mesmo antes de sua morte. Justificou
que permaneceu residindo no imóvel por não ter outro local para
moradia, sendo certo que têm a anuência de outros três herdeiros para
permanecer na ocupação do bem até a partilha.

Alega que sua posse sobre o bem é legítima e de boa-


fé, em face do testamento, concluindo que o inventariante, ora
agravado, não tem autorização para atuar em nome dos demais
herdeiros.

Alega que a medida intentada pelo agravado é


inadequada, porquanto não há interesse processual do agravado para
perquirir a posse do bem que jamais teve. Conclui pela ausência dos
requisitos do art. 927, CPC, razão pela qual entende que deve ser
cassada a antecipação da tutela concedida em 1º grau de jurisdição.

Entendendo presentes os requisitos legais, requereu a


concessão do efeito suspensivo, e ao final, o provimento do recurso
para cassar a liminar deferida.

O efeito suspensivo foi deferido às f. 68-69.

O d. Julgador singular informou à f. 76 que a parte


agravante cumpriu o disposto no art. 526 do CPC, e no mais, manteve
a decisão agravada.

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O agravado apresentou as contrarrazões de f. 78-86,


pugnando pelo desprovimento do recurso.

É o relatório em resumo.

Presentes os pressupostos de admissibilidade do


recurso, dele eu conheço.

De início, destaco que a preliminar de ausência de


interesse processual do agravado ao procedimento de imissão de
posse, embora não tenha sido tratada nesses moldes na decisão
agravada, tal alegação está intimamente ligada ao mérito recursal, no
tocante à possibilidade de imitir, ou não, o recorrido na posse dos bens
do espólio. Assim, dita questão, por confundir-se com o mérito do
próprio recurso, nesta seara será analisada.

Pois bem. Compulsando os autos, verifico o Espólio de


Jovino Alves da Rocha, representado por se inventariante, ajuizou ação
de imissão de posse, com o objetivo de exercer a posse direta e a
administração de bem imóvel do falecido Jovino.

Observo ainda que o agravante não é o único herdeiro


do bem, ao contrário disso, existem pelo menos mais 09 herdeiros que
compartilham do direito sobre o mesmo bem, f. 47-48-TJ, não obstante
tratar-se de herdeiro testamentário e de ter obtido a autorização de três
outros herdeiros favoráveis à sua permanência sobre o bem objeto de
partilha. Contudo, tal circunstância não afasta o interesse dos demais
herdeiros, porquanto a posse exclusiva do agravante sobre o imóvel a
ser partilhado ofende expressa determinação normativa de que aberta
a sucessão, o domínio e a posse da herança se transmitem, e desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários (C.C, artigo 1572).

Por outro lado, até que seja feita a partilha, a


administração do bem cabe ao inventariante, que não depende da
autorização individual de cada herdeiro para tal mister. A propósito, pelo
disposto no inciso II do art. 991 do CPC, de outra forma não poderia ter
decidido o MM. Juiz da causa, porquanto o inventariante que não tem a
posse dos bens do espólio está impedido de administrar e, por
conseguinte, de prestar contas de sua gestão.

Nesse sentido, é a lição de De Plácido e Silva, na sua


obra "Vocabulário Jurídico", 8ª ed., Volume I A - C, Rio de Janeiro:
Forense, 1984, p. 515:

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"INVENTARIANTE. Derivado do inventário, é


empregado, na terminologia jurídica, para designar a
pessoa a quem se comete o dever de administrar o
espólio, até que se julgue, definitivamente, a partilha, e
sejam os quinhões hereditários e os legados atribuídos a
adjudicados aos herdeiros e legatários.
Nessa qualidade, o inventariante é o mandatário legal da
herança com autoridade para defender todos os
interesses dela e promover todas as ações necessárias a
essa defesa".

Ademais, a desocupação do agravante não afastará


seu direito decorrente da sucessão, que será resguardado ao tempo da
partilha. Todavia, o fato de não ter outra moradia não afasta a
administração direta do bem pelo inventariante, especialmente por não
se tratar a hipótese do direito de moradia resguardado pelo direito de
sucessão, com ocorre em favor do cônjuge.

Em síntese, pelo que dos autos consta, não se pode


dar guarida às alegações do agravante de insustentabilidade da
decisão recorrida, já que ao inventariante cabe a administração dos
bens do espólio.

Acrescente-se ainda, que não há qualquer óbice para


que o inventariante requeira a imissão na posse do imóvel, porquanto,
em tal hipótese, não se exige a posse anterior, ao contrário do que quer
fazer crer o agravante, ao argumento de ausência dos requisitos legal e
inadequação do procedimento intentado.

Sobre o tema, esclarece Ovídio A. Baptista da Silva, na


obra “Curso de Processo Civil”, vol. 2, 3ª edição, ed. Revista dos
Tribunais, pág. 232:

“A ação de imissão de posse, ao contrário das ações


possessórias, não protege uma posse que se tem, ou
que se teve e perdeu em virtude de ataque de outrem,
ou, finalmente, uma posse existente que se ache na
iminência de ser ofendida, e sim o direito a adquirir uma
posse que ainda não desfrutamos. Como a ação não
protege a posse, mas o direito à posse, torna-se
evidente sua natureza petitória”.

Nesse aspecto, cumpre destacar que o inventariante é


mantido na posse dos bens inventariados até que haja solução

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definitiva da partilha, uma vez que lhe incumbe à administração e a


conservação do espólio (CPC, art. 991, II).

Ademais, em relação ao espólio, as funções do


inventariante e a comunhão hereditária cessam somente com o trânsito
em julgado da sentença que julga a partilha, tendo em vista as
disposições dos arts. 1.026 e 1.027 do Código de Processo Civil.

Aliás, a falta de centralização da representação e


administração do espólio na pessoa do inventariante pode advir
inconveniente, a dificultar, ainda mais, o andamento e a conclusão do
inventário.

Assim sendo, eventual posse dos bens em mãos de


terceiro ou exclusivamente com um dos herdeiros, ressalvada a
hipótese de único herdeiro – para o qual se admite a posse do bem
ainda que não se encontre na condição de inventariante – a retomada
judicial do bem para resguardar a administração dos bens do espólio,
tem-se a ação de imissão de posse procedimento adequado para
eventual pretensão resistida.

Ante o exposto, rejeito preliminar e nego provimento ao


recurso de agravo de instrumento.

Custas recursais pela parte agravante, ressalvado o


disposto no art. 12 da Lei n. 1060/50.

DESA. EVANGELINA CASTILHO DUARTE - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. ANTÔNIO DE PÁDUA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "REJEITARAM PRELIMINAR E NEGARAM


PROVIMENTO AO RECURSO"

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