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BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS NO


COMÉRCIO INTERNACIONAL: ESTUDO
BIBLIOMÉTRICO EM PERIÓDICOS
CIENTÍFICOS ENTRE 1966 E 2018

Krisley Mendes
Tiago Garcia Cândido
Giulia Cristina Filipe Francisco
Matheus de Sousa Marinho
Darlan de Moura Ponte

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TEXTO PARA DISCUSSÃO
Rio de Janeiro, outubro de 2019

BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL: ESTUDO


BIBLIOMÉTRICO EM PERIÓDICOS CIENTÍFICOS ENTRE 1966 E 20181,2

Krisley Mendes3
Tiago Garcia Cândido4
Giulia Cristina Filipe Francisco5
Matheus de Sousa Marinho6
Darlan de Moura Ponte7

1. Este trabalho é parte do projeto de pesquisa Barreiras Não Tarifárias no Agronegócio Brasileiro, da Diretoria de Estudos
e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte) do Ipea, e realizado em associação com o Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Universidade de Brasília (UnB).
2. Os autores agradecem os comentários e sugestões de Honório Kume, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), e de Fernando José da Silva Paiva Ribeiro (Dinte), mantendo-se responsáveis por qualquer eventual imprecisão.
3. Pesquisadora visitante na Diretoria de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte) do Ipea; e
professora adjunta na Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas (FACE) da UnB.
E-mail: <krisley@unb.br>.
4. Graduando do curso de ciências contábeis da UnB; e voluntário de iniciação científica no PIBIC.
5. Graduanda do curso de ciências contábeis da UnB; e voluntária de iniciação científica no PIBIC.
6. Graduando do curso de ciências contábeis da UnB.
7. Graduando do curso de ciências contábeis da UnB; e voluntário de iniciação científica no PIBIC.

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Ministério da Economia Discussão
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SUMÁRIO

SINOPSE

ABSTRACT

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................7

2 BREVE RESGATE HISTÓRICO E TEÓRICO...................................................................8

3 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA...................................................13

4 RESULTADOS..........................................................................................................15

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................31

REFERÊNCIAS...........................................................................................................33

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR...............................................................................35

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SINOPSE

Apesar de as barreiras não tarifárias (BNTs) serem hoje um dos principais entraves ao
comércio, o Brasil parece carecer de um programa de investigação que dê direção às pesquisas
sobre seus efeitos. O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo bibliométrico em artigos
científicos que avaliassem BNTs no comércio internacional. A pesquisa é o passo prévio
para um estudo analítico das teorias e metodologias adotadas para o tema. A estratégia
da pesquisa combinou as técnicas de levantamento de bibliografia, análise de conteúdo
para a seleção dos artigos e avaliação quantitativa para o dimensionamento das variáveis
de interesse. A investigação foi realizada a partir das três leis básicas da bibliometria: de
Lotka, de Bradford e de Zipf. A estratégia de seleção amostrou 425 artigos científicos
publicados entre 1966 e 2018, assinados por 358 primeiros autores e 299 coautores,
os quais são filiados a 306 instituições sediadas em 62 países. Os resultados indicados
destacam os principais pesquisadores no assunto, as universidades e instituições que
sediam essas pesquisas e seus países, os periódicos que mais publicam e as palavras-chave
mais utilizadas. Assim, este trabalho apresenta o perfil da produção científica dedicada
a estudar BNTs e fortalece a hipótese de que a produção ainda é incipiente em âmbito
internacional e quase inexistente no Brasil.
Palavras-chave: barreiras não tarifárias; tarifa equivalente; bibliometria.

ABSTRACT

Although non-tariff barriers (NTBs) are one of the main barriers to trade nowadays,
Brazil seems to lack a research program that investigates their effects. This study aimed
to conduct a bibliometric analysis of scientific articles evaluating NTBs in the scope
of international trade, being the previous step for an analytical study of theories and
methodologies adopted within the theme. The research strategy combined bibliographic
survey techniques, content analysis to select articles and quantitative evaluation to measure
variables of interest. The analysis was done using the 3 basic laws of bibliometrics: Lotka,
Bradford and Zipf. The selection strategy collected a sample of 425 scientific articles
published between 1966 and 2018, signed by 358 first authors and 299 co-authors, who
are affiliated with 306 institutions based in 62 countries. The results presented highlight
the main researchers on the subject, the universities and institutions that host these
researches and in which countries they are based, the academic journals that publish
the most regarding the theme and the most frequently used keywords. Thus, this work

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presents the profile of the scientific production dedicated to study non-tariff barriers and
strengthens the hypothesis that production is still incipient at international level and almost
non-existent in Brazil.
Keywords: non-tariff barriers; tariff equivalent; bibliometry.

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Texto para
Discussão
Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
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1 INTRODUÇÃO

As barreiras não tarifárias (BNTs) passaram a figurar na pauta das negociações


internacionais a partir da Rodada Tóquio (1973-1979), no âmbito do Acordo Geral
de Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade – GATT) iniciado em
1947. Elas já vinham ganhando protagonismo como entrave ao comércio à medida que
as tarifas foram sendo reduzidas nos quase quarenta anos anteriores de negociações.

Medidas não tarifárias (MNTs) são previstas no GATT como instrumentos


legítimos dos países para garantir a proteção de plantas, animais, pessoas, meio ambiente
e da segurança alimentar. No âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC),
os países são livres para o estabelecimento de suas regulamentações desde que não sejam
arbitrárias, discriminatórias e não restrinjam o comércio (GATT, 1994). Aquelas que,
ao serem estabelecidas, violarem essas condições serão tratadas como BNTs e passíveis
de litígios entre os países junto à OMC.

O Brasil, como membro da OMC, incorporou à legislação a Ata Final, que,


por sua vez, integra os resultados da Rodada Uruguai de Negociações Comerciais
Multilaterais do GATT por meio do Decreto no 1.355, de 30 de dezembro de 1994.1
Há hoje uma crescente consciência de que a retomada do crescimento do país passa
por sua maior inserção no comércio internacional. No entanto, essa maior inserção
está sujeita ao enfrentamento de regulamentações dos países potencialmente parceiros,
como também da reflexão acerca de suas próprias regulamentações. Estabelecer
metodologias que dimensionem quantitativamente os efeitos dessas regulamentações,
tanto aos fluxos de suas exportações como ao desempenho competitivo de suas cadeias
produtivas, contribui para que o país determine, de forma mais eficiente, suas políticas
e estratégias comerciais.

Dada a natureza heterogênea das MNTs, a avaliação de seus efeitos tem se


mostrado uma tarefa desafiadora aos estudiosos. Diferentemente de uma tarifa,
as MNTs não apresentam dimensão intervalar que favoreça sua aferição a partir de
tradicionais instrumentos utilizados no campo da economia. Uma profusão de estudos
passou a ser realizada com diferentes objetivos, definições e métodos.

1. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D1355.htm>.

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O Brasil carece de um programa de investigação voltado ao tema, no sentido


dado por Lakatos e Musgrave (1979). Ou seja, o país carece do estabelecimento de um
núcleo teórico que oriente e dê direção a pesquisas futuras que venham a contribuir
para o desenvolvimento da compreensão das diferentes dimensões das BNTs. Teorias e
metodologias, tão amplamente utilizadas em estudos de países desenvolvidos, parecem
oferecer lacunas para compreender os efeitos de BNTs nos fluxos de comércio e na
dinâmica interna de cadeias produtivas em países que acumulam duas características:
estão em desenvolvimento e apresentam alta competitividade no agronegócio mundial.
Estabelecer uma bibliometria que mapeie a literatura é o passo prévio para um estudo
analítico que explore os paradigmas metodológicos e os avalie do ponto de vista
das necessidades e dos interesses brasileiros. Reconhecer a base comum com a qual
a comunidade científica está de acordo, ou seja, seus paradigmas, é essencial para o
desenvolvimento contínuo da ciência (Kuhn, 2006).

Este trabalho objetiva compreender o atual estágio de desenvolvimento científico


sobre um assunto específico, qual seja, as BNTs no comércio internacional. Para isso,
como esforço prévio ao estudo analítico, foi realizado estudo bibliométrico dos artigos
científicos que utilizaram como palavras-chave os termos non-tariff barriers e tariff
equivalent entre 1960 e 2018. A bibliometria contribui para uma avaliação quantitativa
do que já foi produzido sobre o tema, possibilitando mapear os principais autores,
universidades e periódicos mais dedicados ao assunto. O estudo explora as três leis
bibliométricas: de Lotka, de Bradford e de Zipf.

Este estudo é dividido em quatro seções, além desta introdução. Na segunda seção,
são feitos dois breves resgates: um histórico sobre as medidas e BNTs, e outro teórico
acerca da técnica bibliométrica. Na terceira seção, são apresentados a metodologia e os
procedimentos empregados na avaliação bibliométrica. Na quarta seção, os resultados
são indicados e avaliados. Por fim, são feitas as últimas considerações.

2 BREVE RESGATE HISTÓRICO E TEÓRICO

2.1 As BNTs e as negociações internacionais


Desde o final da Segunda Guerra Mundial, os países removeram gradualmente tarifas e
outros instrumentos de proteção ao comércio doméstico. Isso possibilitou importante

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Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
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evolução no processo de integração internacional (Krugman e Obstfeld, 2010, p. 169).


Essas reduções tarifárias ocorreram a partir de negociações comerciais realizadas no
âmbito do GATT. Das nove rodadas de negociações, seis delas – ocorridas entre 1947
e 1970 – trataram de reduções tarifárias. Conforme as tarifas foram sendo reduzidas, os
países passaram paulatinamente a adotar MNTs.

Foi na sétima rodada de negociações, ocorrida entre 1973 e 1979, denominada


Rodada Tóquio, que a legislação comercial passou a ser discutida – padrões técnicos,
valoração alfandegária, licenças de importação, restrições quantitativas, subsídios,
medidas compensatórias, salvaguardas, legislação antidumping, aviação civil e
compras governamentais. Pouquíssimos foram os avanços nessas áreas, limitando-se
o documento final da rodada a estabelecer códigos de conduta aos países, tratamento
preferencial a nações em desenvolvimento e baixa redução tarifária a produtos agrícolas.
A necessidade de resolução dessas pendências culminou na proposição de uma oitava
rodada de negociações em 1985.

A Rodada Uruguai, ocorrida entre 1986 e 1994, foi a mais ambiciosa das rodadas
de negociações na história do GATT. Pretendia estabelecer acordos em assuntos
como tarifas, MNTs, recursos naturais, têxteis e de vestuário, agricultura, serviços,
investimentos, produtos tropicais, compras governamentais, acordos multilaterais de
comércio, salvaguardas, subsídios, medidas compensatórias, propriedade intelectual,
solução de disputas, entendimento de artigos e funcionamento do sistema GATT.
O avanço mais notável foi a formação do sistema de comércio internacional formado
pela OMC como organismo administrativo e o GATT como norma. A OMC teria o
GATT-1947 como acordo mestre, mas que passaria a vigorar incorporando os acordos
estabelecidos na Rodada Uruguai. O GATT-1994 se estabeleceu como marco histórico
do desenvolvimento do sistema de comércio internacional.

O novo acordo resultou num documento principal, com quatrocentas


páginas, que somado aos documentos suplementares chega a um total de 22 mil páginas.
Dimensionar os efeitos da rodada no comércio internacional é quase impossível
(Krugman e Obstfeld, 2010). Para cada item do acordo, uma profusão de trabalhos
tem surgido, explorando metodologias que incorporam inovações às já tradicionais no
âmbito da análise econômica.

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Entre os temas mais profícuos está a BNT. No âmbito do novo acordo, os


países são livres para o estabelecimento de suas regulamentações, desde que não sejam
arbitrárias, discriminatórias e não restrinjam o comércio. Aquelas que, ao serem
estabelecidas, violarem essas condições, serão tratadas como BNTs e passíveis de litígios
entre os países junto à OMC (GATT, 1994).

O esforço de identificar, catalogar, dimensionar e avaliar os efeitos das BNTs no


comércio internacional se pauta na necessidade de subsidiar os Estados na formulação
de suas estratégias e políticas comerciais. Seu caráter predominantemente nominal e/ou
ordinal apresenta desafios importantes à aferição estatística, exigindo muitas vezes uma
perspectiva qualitativa na análise. A literatura internacional oferece trabalhos que se
dedicam a avaliar “os métodos atualmente disponíveis para quantificar as BNTs e fazer
recomendações quanto aos métodos que podem ser mais efetivamente empregados”
(Deardorff e Stern, 1997, p. 3), a “apresentar metodologias promissoras para modelar
e quantificar” BNTs (Beghin e Bureau, 2001, p. 1), a “revisar a literatura e avaliar os
diferentes métodos disponíveis” (Ferrantino, 2006, p. 2) e a “reunir o estado da arte de
metodologias e questões de pesquisa” (Rau e Schlueter, 2009, p. 3).

A razão para diferentes autores, muitos de instituições relacionadas, em curto


espaço de tempo se debruçarem na revisão da literatura dedicada à análise de BNTs
pode estar relacionada à “juventude” do tema, do ponto de vista histórico, mas
principalmente ao grau de desafio que o tema delega às metodologias disponíveis.

O cálculo de uma tarifa equivalente, que represente uma BNT, como um indicador, é complexo e
requer grande quantidade de informações. Medidas que são equivalentes para um indicador não
são para outros e não há substituto para a expertise de uma BNT específica (Deardorff e Stern,
1997, p. 2, tradução nossa).

Apesar de o GATT (1994) estabelecer as condições de não discriminação,


não arbitrariedade e não restrição ao comércio no estabelecimento de MNTs, os
países parecem ser bastante prolíficos ao firmar suas regulamentações, e o propósito
protecionista, quando ocorre, é pretensamente velado.2 Determinar que dada medida

2. Basu, Kuwahara e Dumesnil (2012) apresentam um importante resgate histórico da evolução das BNTs no comércio
internacional. Parece haver uma correlação negativa entre a redução das tarifas promovida pelas oito rodadas de
negociações no GATT e a proliferação de BNTs. Os autores também alertam sobre a ampliação de regulamentos não
tarifários com o advento das crises econômicas nos anos 2000.

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não tarifária, apresentada como legítima pelo país que a impõe, é na verdade uma
barreira requer empenho científico para estabelecer metodologias aceitáveis. Os litígios
no âmbito do comércio internacional envolvem somas vultosas, e as políticas
comerciais muitas vezes estão sujeitas a interesses de grupos políticos e econômicos dos
países envolvidos.

2.2 Bibliometria e suas leis fundamentais


A partir da necessidade de avaliação das atividades de produção e comunicação
científica, surge, no início do século XX, a bibliometria. Segundo Araújo (2006, p. 12), a
bibliometria é a “técnica quantitativa e estatística de medição dos índices de produção e
disseminação do conhecimento científico”. Permite mapear a literatura e gerar diferentes
indicadores de tratamento e gestão da informação e do conhecimento. Consiste em
compreender o atual estágio de desenvolvimento científico em determinado campo
de estudo ou assunto específico, aplicando técnicas estatísticas e matemáticas que
descrevem aspectos da literatura e outros meios de comunicação (Guedes e Borschiver,
2005; Martins e Silva, 2005; Araújo, 2006).

No Brasil, a técnica passa a ser empregada principalmente a partir dos anos


1970, tanto para a compreensão de um dado campo de estudo quanto de um assunto
específico ou, ainda, para o estudo da produtividade de autores de determinada
instituição. A bibliometria é marcada por dupla preocupação: promover a análise
da produção científica e buscar benefícios práticos imediatos para o gerenciamento
de bibliotecas – política de aquisições, descartes etc. (Araújo, 2006). A técnica tem
se popularizado nas áreas da economia, administração e contabilidade como estudo
prévio para a constituição do estado da arte em campos de estudo e assuntos específicos
ao permitir uma avaliação objetiva da produção científica.

Inicialmente, a bibliometria se desenvolve a partir de três leis empíricas sobre o


comportamento da literatura: i) a lei de Lotka, de 1926, que trata da produtividade
dos autores; ii) a lei de Bradford, de 1934, que trata da dispersão dos assuntos em
periódicos; e iii) a lei de Zipf, de 1949, que trata da determinação do assunto de um
documento a partir das palavras mais usadas no texto. O estudo das três leis permite
traçar um perfil da produção científica em diferentes aspectos.

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Apesar dessa importância das três leis básicas, outras teorias bibliométricas foram
desenvolvidas a fim de aperfeiçoar a análise quantitativa da literatura, como a teoria
epidêmica da transmissão de ideias, o estudo da análise das citações, o estudo da frente
de pesquisa e a análise da vida média da literatura. Essas extensões permitem identificar
padrões na produção do conhecimento, determinar o fator de impacto dos autores,
traçar as tendências epistemológicas de dado campo de estudo e avaliar a obsolescência
da literatura (Araújo, 2006).

Neste texto, as três leis básicas da bibliometria são exploradas, permitindo


identificar o conjunto de autores considerados a elite no assunto BNT (lei de Lotka), os
periódicos em que mais há publicações sobre BNTs e a dispersão do assunto no conjunto
de periódicos (lei de Bradford), bem como o estudo do uso de palavras-chave para
tentar traçar o perfil de como o assunto tem sido tratado (numa versão da aplicação
da chamada lei de Zipf ). Outras estatísticas também são exploradas, como região
geográfica e universidades de que mais originam publicações no assunto.

O método de medição da produtividade dos cientistas, que consubstancia a lei de


Lotka, considera que “uma larga proporção da literatura científica é produzida por um
pequeno número de autores, e um grande número de pequenos produtores se iguala, em
produção, ao reduzido número de grandes produtores” (Araújo, 2006, p. 13). Ou seja,
poucos autores, supostamente de maior prestígio, produzem mais, e muitos autores,
supostamente de menor prestígio, produzem pouco (Guedes e Borschiver, 2005).
A partir disso, formula a lei dos quadrados inversos, que determina que a frequência
de autores publicando um número n de trabalhos equivale a dos que publicam um
único artigo, e que a proporção daqueles que fazem uma única contribuição é de mais
ou menos 60% (Urbizagastegui, 2002).

Algumas críticas à lei foram sendo apresentadas no desenvolvimento dos


estudos bibliométricos. Uma das mais conceituadas contribuições foi de Price (1976),
que formulou que a relação entre o número de membros da elite (os autores mais
profícuos) corresponde à raiz quadrada no número total de autores, e a metade do total
de produção é considerada o critério para se saber se a elite é produtiva ou não.

A lei da dispersão do conhecimento científico de Bradford, de 1934, objetiva


descobrir a extensão em que artigos de um assunto específico apareciam em periódicos

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de outros assuntos. Ou seja, estuda a distribuição dos artigos em termos de variáveis de


afastamento ou proximidade. Como resultado, determinado padrão é considerado: há
um núcleo menor de periódicos relacionados de maneira próxima ao assunto; e um
número maior de periódicos relacionados de maneira estreita ao assunto. O número de
periódicos em cada núcleo aumenta, enquanto o número de artigos diminui (Araújo,
2006). Assim, se um pesquisador compuser sua biblioteca de artigos científicos a partir
do núcleo maior, estaria ciente de que mais da metade do total de artigos não estaria
sendo coberta por sua estratégia.

A técnica para o estudo da lei, de acordo com Araújo (2006), consiste: i) em


dispor os periódicos em ordem decrescente de produtividade de artigos; ii) no total
de artigos, que é dividido por três; e iii) no conjunto de periódicos que publicaram o
primeiro um terço de artigos, considerado o core naquele assunto.

A lei de Zipf, formulada em 1949, ou modelo de distribuição e frequência de


palavras num texto, descreve a relação entre palavras usadas em certo texto e a ordem
de  série dessas palavras. Determina que há correlação entre o número de palavras
diferentes usadas e a frequência de seu uso, ou seja, há regularidade na seleção e no
uso das palavras. Um pequeno número de palavras é usado mais frequentemente, e a
relação entre a posição de uma palavra na ordem de frequência (r) e sua frequência (f ),
dada por r × f = k, resulta numa constante k que orbita em torno de 26.500. As palavras
mais usadas indicam o assunto de um documento. A lei de Zipf recebeu também
contribuições ao longo do desenvolvimento da bibliometria, sendo aperfeiçoada com
estudos de frequência e coocorrência de descritores (Araújo, 2006).

3 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

A estratégia de pesquisa adotada para o alcance da proposta é a pesquisa bibliométrica.


Como tal, é entendida como pesquisa exploratória, de natureza descritiva, com
abordagem quantitativa. Foi realizada a partir do levantamento de artigos científicos
disponibilizados em seis bases de dados presentes no portal de periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), acessados

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a partir da Comunidade Acadêmica Federada (CAFe).3 As bases de dados foram


escolhidas de acordo com a sua relevância para o campo de estudo das ciências sociais
aplicadas: Emerald, Scopus, Web of Science, JSTOR, EBSCO e ProQuest. A pesquisa
bibliográfica, de acordo com Martins e Silva (2005), é utilizada com o intuito de
conhecer as atribuições científicas sobre um assunto definido.

Para a seleção dos artigos, foram realizadas buscas a partir da adoção das
palavras-chave non-tariff barriers e tariff equivalent presentes no título ou no resumo
dos trabalhos, juntamente ao operador booleano: non-tariff barriers AND tariff  quivalent.

No intuito de padronizar os periódicos dentro das áreas correlatas ao trabalho,


foram adotados filtros por assunto: economics, business e finance. Para suprir a ausência
do filtro accounting e seguir os padrões da área da pesquisa, os filtros business e finance
se tornaram necessários.

Nas bases, foram encontrados 833 artigos publicados, sendo a primeira publicação
datada de 1966. Foi realizada uma análise de conteúdo de título e resumo, que
resultou em descarte de 408 artigos, por apresentarem conteúdos díspares do objetivo
deste trabalho ou por duplicidade entre as bases. A amostra da análise bibliométrica
é composta, portanto, por 425 artigos. Para armazenagem, análise e gerenciamento
dos artigos encontrados, foi utilizado o software Mendeley. O gráfico 1 apresenta a
quantidade de artigos amostrados com as palavras-chave non-tariff barriers (NTB) e
tariff equivalent (TE) nas seis bases de dados pesquisadas.

Observa-se uma predominância em todas as plataformas no uso do termo NTB


como palavra-chave. Na base Emerald, 97% dos artigos foram encontrados com esse
termo. A base Scopus é a que apresenta mais artigos amostrados com o termo TE: 16%
de seus resultados utilizam como objetivo o dimensionamento da equivalência tarifária.
A EBSCO ganha notoriedade ao ser a plataforma que obteve menos retorno de artigos
com ambas as palavras-chave.

3. O portal de periódicos da CAPES foi criado em 1990 para fortalecer a pós-graduação no Brasil. Sua política de aquisições
ao longo dos anos permitiu constituir um acervo de 45 mil publicações periódicas, internacionais e nacionais, e diversas bases
de dados. Para as ciências sociais aplicadas são oferecidas 73 bases de dados, que incluem periódicos, teses, dissertações,
verbetes etc. A abrangência do portal depende dos recursos disponíveis e da política de aquisição, de modo que não é possível
afirmar que há disponibilidade de acesso a todos os periódicos em todo o período estudado neste trabalho. Assim, a seleção
dos artigos não alcança a população de publicações no período, mas pode-se afirmar que se consegue atingir uma amostra
relevante. Mais informações sobre o histórico e o acervo do portal estão disponíveis em: <https://bit.ly/2GnDwoO>.

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Texto para
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Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
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GRÁFICO 1
Quantidade de artigos por palavra-chave nas bases de dados consultadas dos periódicos CAPES

41 97 51 112 124

14
18
2

12
6

35 95 39 94 110

EBSCO Emerald JSTOR Scopus Web of


Science
NTB TE Total
Elaboração dos autores.

Os artigos selecionados foram, então, tabulados no software Microsoft Office


Excel, e seus metadados divididos em oito categorias: i) título do artigo; ii) autor(es);
iii)  universidade do(s) autor(es); iv) país da universidade do(s) autor(es); v)  área
relacionada; vi) ano da publicação; vii) periódico publicado; e viii) palavras-chave.

Para a análise de resultados, os indicadores bibliométricos foram utilizados com


a finalidade de apontar o enfoque proeminente dos trabalhos, a evolução do tema
abordado, os periódicos e as universidades que mais se interessam pelo tema e a
produção por país. A produtividade dos autores foi baseada na lei de Lotka; a análise
dos periódicos, na lei de Bradford; e as palavras-chave, na lei de Zipf.

4 RESULTADOS

4.1 Período das publicações


O gráfico 2 ilustra a quantidade de artigos publicados entre 1966 e 2017 que utilizaram
barreiras não tarifárias ou tarifa equivalente como palavras-chave.

15
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No gráfico 2, observa-se que o crescimento do número de artigos publicados


parece ter sido fortemente influenciado pelas rodadas de negociação do comércio
internacional, principalmente pela sétima rodada, a de Tóquio, e a oitava, a do Uruguai.
A Rodada Tóquio – que ocorreu entre 1973 e 1979 e introduziu o tema das BNTs nas
pautas de discussão das negociações entre os países – parece ter despertado o interesse
dos pesquisadores em tal assunto: nove artigos foram publicados entre 1971 e 1979,
enquanto na década anterior apenas dois.

GRÁFICO 2
Quantidade de artigos amostrados por ano de publicação (1966-2017)
35

30

25

20

15

10

0
1966

1974

1978

1980

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

2011

2013

2015

2017
Elaboração dos autores.

Entre 1980 e 1990, houve um crescimento de aproximadamente 120% no


número de publicações se comparado aos anos anteriores. Foi nessa década que os
níveis médios de proteção tarifária nos países industrializados e em desenvolvimento
chegaram ao menor nível na história das relações internacionais, aumentando,
em contrapartida, a incidência da BNT como artifício protecionista dos países e a
consequente curiosidade dos autores em estudar esse fenômeno.

Mais uma vez, parece haver uma associação entre o crescimento das publicações
e a realização das rodadas de negociação. A Rodada Uruguai, que ocorreu entre
1986 e 1994, tratou explicitamente de MNTs, estabelecendo como resultado
o Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (Acordo SPS) e o
Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (Acordo TBT), entre outros. O ano de
1987 se destaca na produção científica com dez artigos publicados, observando que em
apenas um ano após o início da rodada obteve-se tal resultado, demonstrando, assim,
a forte influência da Rodada Uruguai para as pesquisas na área. Em todo o período de
duração da rodada, ou seja, entre 1986 e 1994, 41 artigos foram publicados.

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Texto para
Discussão
Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
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Entre 1995 e 2005 ocorreram as conferências ministeriais da OMC (realizadas


a cada dois anos, em média) e a Rodada Doha, iniciada em 2001. Esses encontros
tiveram como tema recorrente a facilitação ao comércio. As publicações avaliando
BNTs assumem tendência ainda mais crescente. Entre 1995 e 2000, foram 52 artigos
publicados. As crises nos anos 2000, notadamente a de 2008, também parecem
impulsionar o estabelecimento de proteção não tarifária e, por consequência, da
produção científica dedicada ao tema. Enquanto entre 2001 e 2007 foram publicados
67 artigos, no período de 2008 a 2012 foram 101, e entre 2013 e 2018, 148 artigos.
Estudos apontam importante aumento do número de MNTs para quase toda a
amplitude de produtos em momentos de crises econômicas, principalmente por países
desenvolvidos e em desenvolvimento que compõem o Grupo dos Vinte (G20) (Basu,
Kuwahara e Dumesnil, 2012). O protecionismo parece ser um recurso recorrente como
mecanismo de enfrentamento a depressões econômicas. Corrobora com isso a criação do
Global Trade Alert (GTA), em junho de 2009, como um sistema de monitoramento de
medidas discriminatórias, exatamente por se temer que a crise financeira global levasse
os governos a adotar políticas protecionistas. Criado pelo Centre for Economic Policy
Research (CEPR), em seus dez anos de existência o GTA se tornou o banco de dados com
cobertura mais abrangente de medidas discriminatórias e liberalizantes do comércio.4

O avanço da globalização atrelado a uma preocupação maior dos países na


competição comercial entre Estados e entre empresas foi o ponto central de observação
dos autores a partir dos anos 2000. Nota-se que muitos artigos da virada do século
tratam de assuntos sanitários e fitossanitários. Ao mesmo tempo, mudanças no ambiente
comercial trouxeram uma transformação nas BNTs, levantando novos desafios no sistema
multilateral de comércio, que é estudado em diversos artigos publicados recentemente.

Na amostra de artigos considerada no estudo bibliométrico, o Brasil apresenta


cinco artigos com autores brasileiros, sendo quatro voltados para a avaliação dos efeitos
das BNTs no fluxo de exportações do país, e um artigo em associação com outros dez
autores que não têm o Brasil como objeto de estudo. As publicações datam de 2007,
2009, 2012, e dois artigos em 2014. Isso demonstra o significativo atraso científico
brasileiro na avaliação desse importante tema.

4. Mais sobre o GTA pode ser acessado em: <www.globaltradealert.org>.

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4.2 Lei de Lotka: avaliação da produtividade dos autores


O trabalho buscou identificar quem são os autores que mais publicam a respeito de
BNTs e sua produtividade. Os 425 artigos amostrados tiveram como primeiro autor
358 pesquisadores, que dividiram coautoria com outros 299 autores. Utilizando-se
da base amostrada de artigos publicados entre 1966 e 2018, e considerando apenas o
primeiro autor, foram encontrados os resultados apresentados no gráfico 3, que destaca
apenas os autores com mais de três publicações.

GRÁFICO 3
Quantidade de publicações por autor entre os mais produtivos
6

0
Jaime de Melo
Don P. Clark

Steve McCorriston

Alessandro Olper

Amrita Roy

John Cristopher Beghin; John Beghin

Carl Hamilton; Carl. B. Hamilton

James E. Anderson

Lionel Fontagné

Natalie Chen

Olivier Cadot

Elaboração dos autores.

Como se pode observar, Don P. Clark, da University of Tennessee, é o autor com o


maior número de publicações, seis artigos, seguido por Steve McCorriston (University of
Exeter), com cinco publicações, e Alessandro Olper (Università degli Studi di Milano),
Amrita Roy (Indian Institute of Technology Kanpur) e John Cristopher Beghin
(Iowa State University), com quatro publicações cada. Com três artigos assinados
destacaram-se: Carl Hamilton (Stockholm University), Jaime de Melo (University of
Genebra), James E. Anderson (Boston College), Lionel Fontagné (Université Paris I),
Natalie Chen (London Business School) e Olivier Cadot (University of Lausanne).

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Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
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Quando considerados todos os autores de cada artigo, vê-se que 657 dividiram
a autoria dos 425 artigos. São 27 autores com mais de três publicações assinadas.
O quadro 1 apresenta os pesquisadores que mais assinaram artigos, seja como primeiro
autor, seja em coautoria, com suas instituições de filiação, país da instituição e
quantidade de artigos. Vê-se que há intensa dedicação ao assunto por parte dos autores
John Cristopher Beghin, Don P. Clark, Steve McCorriston e Olivier Cadot.

QUADRO 1
Quantidade de artigos assinados por pesquisadores mais produtivos no assunto BNTs,
suas instituições de filiação e país-sede da instituição (1966-2018)
Autor(a) Instituição de filiação País Quantidade
John Cristopher Beghin Iowa State University Estados Unidos 9
Don P. Clark University of Tennessee Estados Unidos 6
Steve McCorriston University of Oxford Estados Unidos 6
Olivier Cadot University of Lausanne Suíça 5
Alessandro Olper University of Milano Itália 4
Amrita Roy Indian Institute of Technology Kanpur Índia 4
Anne-Célia Disdier Institut National de la Recherche Agronomique França 4
Chengyan Yue Iowa State University Estados Unidos 4
Chris Milner University of Nottingham Estados Unidos 4
Lionel Fontagné Developing Countries França 4
Niven Winchester University of Otago Nova Zelândia 4
Somesh K. Mathur Indian Institute of Technology Kanpur Índia 4
Ben Shepherd Princeton University Estados Unidos 3
Carl Hamilton Stockholm University Suécia 3
Donald MacLaren University of Melbourne Austrália 3
Jaime de Melo University of Genebra Suíça 3
James E. Anderson University College Dublin Irlanda 3
Jean-Christophe Maur Groupe d’Economie Mondiale França 3
Johan Swinnen Centre for Institutions and Economic Performance Bélgica 3
Kazunobu Hayakawa Bangkok Research Center Tailândia 3
Maria C. Latorre Universidad Complutense de Madrid Espanha 3
Michael R. Reed University of Kentucky Estados Unidos 3
Natalie Chen London Business School Reino Unido 3
Nicolas Péridy Université du Sud Toulon-Var França 3
Sayed Saghaian University of Kentucky Estados Unidos 3
Stephan Marette Institut National de la Recherche Agronomique França 3
Valentina Raimondi Università degli Studi di Milano Itália 3
Elaboração dos autores.

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A relação entre o número de primeiros autores e o de artigos publicados é ampla.


Como visto, foram 358 primeiros autores para 425 artigos. Assim, é possível perceber
que há diversos autores publicando trabalhos sobre BNTs. Entretanto, poucos se
aprofundam no assunto e desenvolvem mais pesquisas sobre o tema. Dessa forma, é
necessário verificar suas produtividades.

Alfred Lotka teria descoberto que uma larga proporção da literatura científica é
produzida por um grupo pequeno de autores. A chamada lei de Lotka, concebida em
1926, foi formulada para estudar a produtividade de cientistas (Araújo, 2006). Essa lei
se estabelece, por definição, em um quadrado inverso: o número de autores que fazem
n contribuições em determinado campo científico é aproximadamente daqueles
que fazem uma só contribuição, e que a proporção daqueles que fazem uma única
contribuição é de mais ou menos 60% (Urbizagastegui, 2008).

A tabela 1 demonstra a produtividade dos autores, em números, segundo a


contagem direta (apenas o autor representante é levado em consideração).

Como citado, a definição do quadrado inverso de Lotka afirma que a proporção


dos autores que publicam somente um artigo deveria ser em torno de 60%. Todavia,
é  possível perceber que dentro do universo dos artigos pesquisados essa proporção
não é verdadeira. O percentual de contribuição com somente um artigo se aproxima
dos 73%, o que pode indicar, talvez, que os autores que publicam sobre BNTs não se
sentem engajados em continuar publicando sobre o assunto. Isso também pode estar
relacionado à “juventude” do tema, que passa a figurar nas negociações internacionais
principalmente a partir da Rodada Uruguai (1986-1994).

TABELA 1
Número de autores por quantidade de contribuições e relação percentual de artigos
Número de contribuições por autor Número de autores % de autores Curva de publicação % de artigos
1 310 86,59 310 72,94
2 37 10,34 74 17,41
3 6 1,68 18 4,24
4 3 0,84 12 2,82
5 1 0,28 5 1,18
6 1 0,28 6 1,41
Total 358 100,00 425 100,00
Elaboração dos autores.

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Texto para
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Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
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Já o gráfico 4 traduz a informação da tabela 1 de maneira mais ilustrativa.


GRÁFICO 4
Curva de publicação: quantidade de artigos pelo número de contribuições por autor
350

300
Quantidade de artigos

250

200

150

100

50

1 2 3 4 5 6

Quantidade de contribuições

Curva de publicação

Elaboração dos autores.

4.3 Produtividade por país: distribuição geográfica


A análise da distribuição geográfica da produção científica foi realizada considerando o
país-sede das instituições de filiação do primeiro autor (figura 1). Os 425 artigos foram
publicados a partir de autores cujas instituições se localizam em 62 países.

FIGURA 1
Distribuição geográfica da amostra de publicações sobre BNTs no mundo (1966-2018)
Qtde
108

Elaboração dos autores.

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Destacam-se os países da América do Norte (Estados Unidos e Canadá), da União


Europeia (com destaque para Reino Unido, França e Alemanha), os asiáticos (China,
Índia, Coreia do Sul, Japão, Singapura e Malásia), bem como a Austrália e a África do Sul.

A tabela 2 apresenta os países que publicaram mais de cinco artigos, com


quantidade de publicações e percentual. A produção brasileira aparece com quatro
publicações na amostra.

TABELA 2
Principais países-sede das instituições dos primeiros autores que publicaram trabalhos
sobre BNTs, com quantidade de publicação e percentual correspondente
País Quantidade %
Estados Unidos 108 25
Reino Unido 34 8
França 24 6
Canadá 22 5
Suíça 19 4
Alemanha 18 4
China 16 4
Índia 13 3
Austrália 12 3
Itália 12 3
Bélgica 11 3
Coreia do Sul 11 3
Espanha 9 2
África do Sul 8 2
Japão 8 2
Noruega 7 2
Singapura 7 2
Suécia 7 2
Malásia 5 1
Brasil 4 1
Elaboração dos autores.

Nota-se um forte empenho na América do Norte em estudar as BNTs e seu


dimensionamento em tarifas equivalentes, diferentemente de outros continentes que
pouco abordam o assunto, como a África.

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Texto para
Discussão
Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
2 5 1 9

O país mais produtivo é os Estados Unidos, com 25% da produção total. Por ser
a maior economia do mundo, foram fortemente afetados pela influência crescente da
BNT. A indústria agrícola estadunidense é uma das maiores do mundo, conseguindo
atender largamente ao consumo interno e exportando o excesso. Assim,  quando a
Rodada Uruguai identificou o setor agrário como um dos polos afetados pelas BNTs,
trouxe forte curiosidade por parte dos pesquisadores de mensurar, a longo prazo, seu
impacto na economia.

Os países da União Europeia também apresentam importante participação


nas publicações. Apenas entre os dezenove principais países, o grupo alcança 33%
das publicações amostradas, com destaque para Reino Unido (8%) e França (6%).
Os países asiáticos respondem por 14% das publicações dos dezenove principais países
destacados. China (4%) e Índia (3%) são os principais.

Sendo participante de diversos grupos econômicos e tratados comerciais, e


favorecido por sua proximidade com os Estados Unidos, o Canadá se vê constantemente
influenciado pelo cenário internacional, motivo pelo qual seus pesquisadores se dedicam
bastante a entender o tema e seus impactos. Já a China, maior exportador mundial, é a
segunda economia mundial e, em 2001, se tornou membro da OMC.

4.4 Produtividade das universidades


Os 425 artigos amostrados foram produzidos por autores filiados a 306 instituições
diferentes. No gráfico 5 são destacadas as dez instituições que tiveram mais de quatro
publicações durante o período de 1966 a 2018, considerando apenas a filiação do
primeiro autor.

Assim, observa-se que a universidade dos autores da amostra que mais publicaram
foi a Iowa State University, com um total de nove publicações. Em seguida, vieram
a University of Tennessee e a World Trade Organization (WTO), ambas com sete
publicações, e o Institute of Southeast Asian Studies, com seis artigos publicados.
Destacam-se a influência e a importância das instituições públicas para a pesquisa sobre
o tema. Das doze principais instituições, apenas a WTO e o Institute of Southeast
Asian Studies não são universidades públicas.

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GRÁFICO 5
Número de artigos na amostra por instituição/universidade do primeiro autor
9

7 7
6
5
4 4 4 4 4

University of Oxford
University of Exeter

University of Lausanne
Institut National de la
Recherche Agronomique
Organization - WTO

University of Nottingham

Technology Kanpur
University of Tennessee
Iowa State University

Asian Studies
Institute of Southeast
World Trade

Indian Institute of

Elaboração dos autores.

4.5 Lei de Bradford: a produtividade dos periódicos


Um aspecto considerado na avaliação bibliométrica é a identificação dos periódicos
que mais apresentaram publicações sobre BNTs no período de 1966 a 2018. Foram
156 veículos de publicação para os 425 artigos. O gráfico 6 apresenta os periódicos que
publicaram mais de seis artigos durante o período.

O periódico que mais publicou sobre o tema no período de 1966 a 2018 foi
o Journal of International Trade Law and Policy, totalizando 29 artigos, seguido pelo
Journal of Economic Studies, que contribuiu com 22 artigos publicados, e o World
Economy, com 21. O International Journal of Social Economics e o Journal of Chinese
Economic and Foreign Trade Studies contribuíram com dezesseis artigos cada. Com isso,
esses cinco periódicos produziram mais de 25% dos 425 artigos analisados neste
trabalho. Os vinte periódicos expostos no gráfico 6 contribuíram com cerca de 50%
das publicações no período.

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Texto para
Discussão
Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
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GRÁFICO 6
Periódicos que mais publicaram trabalhos com o tema BNTs entre os amostrados (1966-2018)
Review of World Economics 6
Review of Economics and Statistics 6
Journal of Development Economics 6
Indian Growth and Development Review 6
ASEAN Economic Bulletin 6
Applied Economics 6
American Journal of Agricultural Economics 6
Journal of Policy Modeling 7
Agricultural Economics 7
Weltwirtschaftliches Archiv 8
Journal of International Economics 8
Food Policy 8
Economic Modelling 8
World Trade Review 9
Journal of Economic Integration 12
Journal of Chinese Economic and Foreign Trade Studies 16
International Journal of Social Economics 16
World Economy 21
Journal of Economic Studies 22
Journal of International Trade Law and Policy 29

0 5 10 15 20 25 30 35

Elaboração dos autores.

A análise é aprofundada a partir da aplicação da lei bibliométrica de Bradford,


a fim de avaliar o grau de dispersão do assunto entre os periódicos. Para isso, o total
de artigos foi dividido por três. Com os periódicos dispostos em ordem decrescente de
produtividade de artigos, foram determinadas as três zonas de produção, identificando os
periódicos cujo total de publicação corresponde a cada um terço de artigos. O gráfico 7
apresenta as três zonas e a quantidade de periódicos que as compõe.

25
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GRÁFICO 7
Zonas de publicações sobre BNTs dimensionadas pela lei de Bradford
425

282
Artigos

141

0 9 37 1 56

Periódicos

Elaboração dos autores.

A primeira zona, correspondente ao primeiro um terço de publicação, constitui


o core ou núcleo de periódicos mais próximos do assunto BNT. Esse núcleo apresenta
a maior concentração de artigos por periódicos: nove publicações foram responsáveis
pela produção de 141 artigos, ou seja, um terço do total da amostra. Essa zona de maior
concentração encontra um núcleo de periódicos supostamente de maior qualidade e
relevância sobre o tema (esses periódicos podem ser reconhecidos no gráfico 6). A segunda
zona, composta por 28 periódicos, corresponde a um grupo de periódicos relacionados
ao assunto de maneira estreita, mas de produtividade menos densa que a primeira zona.
Tais periódicos são importantes para o tema, mas com qualidade e relevância inferiores
aos apresentados na primeira zona. Por fim, a terceira zona corresponde à região menos
produtiva sobre o assunto, ou seja, apresenta 119 periódicos que publicaram os demais
143 artigos. Isso confirma a expectativa apresentada por Bradford, ou seja, o número
de periódicos aumenta enquanto a produtividade diminui.

Na proposta apresentada no gráfico 7, é possível observar uma aproximação


com a lei de Bradford. A Zona I corresponde a nove periódicos, a Zona II, a 28 e a
Zona III com 119, apresentando, portanto, uma relação próxima de 1: 3,1: 4,25 entre
as zonas. Reformulações da lei de Bradford alertam que o core de periódicos (Zona I)
não é necessariamente formado por periódicos mais devotos ao assunto, mas sim aos
mais produtivos (Pinheiro, 1983).

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Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
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4.6 Lei de Zipf: análise pelo uso das palavras-chave recorrentes


A análise da recorrência do uso das palavras-chave apresenta uma indicação do espectro
de interesse no qual se desenvolve a produção científica que analisa BNTs. Os autores
selecionaram 1.691 palavras-chave para os 425 artigos amostrados, uma média de quase
quatro palavras por artigo. As palavras passaram por tratamento de análise de conteúdo,
identificando palavras iguais de mesmo significado, mas apresentadas com diferentes
grafias ou usadas no singular e no plural – como non tariff barriers, nontariff barrier e
non-tariff barriers. Após esse tratamento, das 1.691 palavras utilizadas pelos diferentes
autores, 860 são repetições das outras 831. Passou-se então a avaliar a frequência com
que cada uma foi apresentada para a determinação das zonas de Zipf.

A primeira lei de Zipf corresponde à frequência com que uma palavra se repete
num texto. Essa frequência guardaria relação com a ordem de importância com que é
utilizada. Como, no entanto, não se trata de um texto, mas de palavras já selecionadas
como representativas dos textos, a primeira lei de Zipf pouco contribui para a
análise dos resultados.

A segunda lei de Zipf estabelece zonas de importância pela frequência com que
palavras são usadas. A chamada curva de Zipf é dividida em três zonas de distribuição,
conforme Quoniam et al. (2001): i) Zona I – informação trivial ou básica: define os
temas centrais da análise bibliométrica; ii) Zona II – informação interessante: mostra
ora os temas periféricos, ora a informação potencialmente inovadora; e iii) Zona III –
ruído: tem como característica conceitos ainda não emergentes.

O gráfico 8 apresenta a frequência das palavras-chave e a identificação das


zonas I, II e III.

A Zona I é formada por vinte palavras, com frequências entre 53 e 12 vezes.


Esse  conjunto apresenta as palavras mais corriqueiras e, portanto, as mais triviais e
básicas presentes nos estudos sobre BNTs. Pelo efeito da própria seleção dos artigos,
non tariff barriers, tariff e non tariff measures aparecem com destaque.

27
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0
10
20
30
40
50
60
Non Tariff Barriers; Nontariff barrier; non-tariff barriers;…

28
European Union
Globalization
Poverty
Foreign direct investment

TD_192999_Barreiras não tarifárias_Miolo.indd 28


TBT
Governance
GRÁFICO 8

Terms of trade

Elaboração dos autores.


Barriers

Zona I
zonas de Zipf

Economic costs firm heterogeneity


Harmonization
International business
Model; Models
Preferences

Zona II
Simulation; simulations
Trade regionalization
Administrative Measures
Armenia
Barreras comerciales no arancelarias
biotechnology
CEFTA 2006
clusters
conference report
Costs
Customs appraisal
Dispute settlement
Rio de Janeiro, outubro de 2019

Eclectic paradigm
Economic impact
Economic integration
Emission standard
Environmental Kuznets curve
European Neighborhood Policy
Extensive margin
First World War

as que mais parecem prejudicar o livre-comércio.


Foreign governments/Musical games
Garlic and mushrooms
Global trade
Zona III

Health education
Import Growth
Industrial relations
Intensive margin
Investor-state dispute
Least Developed Countries
Manufactured fodd mean reversion
Multinational firms
Non-price promotion
Organizations
Pollution
Private food standards
Purchasing power
Refined sugar research expedition
Services liberalisation
Social welfare
Steel industry
Tariff aggregation
Technology
Theory
Frequência em ordem decrescente das palavras-chave utilizadas e identificação das

Trade fragmentation
Trade facilitation reform
Uniform Tariff Equivalent
Wealth and income

ou expressão sanitary and phytossanitary measures destaca a importância dessas medidas


India e free trade agreement. As palavras gravity models e computable general equilibrium
de estudo: China, World Trade Organization, developing countries, European Union,
to trade, trade liberalization, free trade. Outro grupo de palavras aponta para objetos
BNTs: international trade, import, trade, trade policy, trade barriers, technical barrier

(GGE) indicam as metodologias mais comuns utilizadas nos estudos. A palavra-chave

na circulação dos produtos do agronegócio no mercado internacional, apontadas como


Há o grupo de palavras que indica os assuntos macro envolvidos nos estudos de

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Texto para
Discussão
Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
2 5 1 9

GRÁFICO 9
Palavras-chave que compõem a Zona I de Zipf nos artigos amostrados sobre BNTs
(1966 e 2018)
60
50
40
30
20
10
0

phytosanitary measures
Technical barrier
Non tariff barriers

Tariff

International trade

Import

Non-tariff measure

Trade

Trade policy

Gravity model

Trade barriers

China

CGE

WTO

Developing countries

European Union

India

Trade liberalization

Free trade agreement

Free trade
to trade

Sanitary and
Elaboração dos autores.

A Zona II é formada por 48 palavras com frequências entre 10 e 4. É a zona


apontada como de informação interessante, que apresenta os assuntos emergentes
e inovadores nos estudos voltados à análise de BNTs. O gráfico 10 apresenta essas
palavras e sua frequência.

A Zona III, indicada como área de ruído, é formada pelas demais 763 palavras.
Essas palavras apontam assuntos e abordagens que podem se tornar emergentes, mas ainda
se apresentam marginais. Muitas palavras poderiam ser agrupadas em palavras que aparecem
nas zonas anteriores, mas optou-se aqui por preservar a grafia e a intenção dos autores.

29
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Rio de Janeiro, outubro de 2019

GRÁFICO 10
Palavras-chave que compõem a Zona II de Zipf nos trabalhos sobre BNTs publicados
(1966-2018)
Transportation costs
Textile industry
TBT
State trading enterprises
Standards
Russia
Regional trade agreement
Protection
Preferential trade agreements
Phytosanitary
Panel data
Market access
Manufacturing industries
Investiment
Gravity
Foreign direct investment
Food
F13
Environment
Economic growth
Comparative advantage
Commodity prices
Brexit
Trade cost
Trade agreement
Regional integration
Quotas
Protectionism
Poverty
Exchange rate
Economia agricolal trade
Commodities
Trade facilitation
GTAP
Economia agricolal princes
Development
TTIP
Market prices
Liberalization
Border effect
Trade protection
Globalization
Export
Tariff equivalent
Political economy
Exporters
Economic integration
Agriculture

0 2 4 6 8 10

Elaboração dos autores.

Na figura 2 são representadas todas as palavras-chave encontradas em formato nuvem.

Infere-se que, em sua maioria, os assuntos mais tratados nos artigos dizem
respeito ao novo modelo econômico de trocas internacionais, assim como sua política,
mensuração, custos e produtos, e os países em destaque. O fenômeno das BNTs teve
sua ascensão após a Rodada Uruguai, e questões como sua aplicação, seus impactos e
produtos sobre os quais incidem foram temas de atenção pelos pesquisadores.

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FIGURA 2
Palavras-chave em nuvem utilizadas na amostra de publicações sobre BNTs (1966-2018)1

Elaboração dos autores.


Nota: ¹ Figura elaborada com auxílio do plugin Pro World Cloud para Microsoft Word.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho realizou uma análise bibliométrica da produção de artigos científicos


que tratam do tema BNTs. Tal análise foi realizada considerando as três leis básicas
da bibliometria: lei de Lotka, lei de Bradford e lei de Zipf. Com isso, foram avaliados
o  período de publicação, os países-sede das instituições de filiação dos primeiros
autores, a produção dos autores e coautores, as principais instituições e universidades
nas quais são realizadas as pesquisas, os periódicos que mais publicam o assunto, e as
palavras-chave utilizadas pelos autores.

A estratégia de seleção dos artigos permitiu amostrar 425 publicações, assinadas


por 358 autores principais (primeiro autor) e 299 coautores. Essas pesquisas foram
sediadas em 306 instituições diferentes de 62 países. Os resultados apontam que

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as publicações se tornaram mais intensas no período posterior à Rodada Uruguai


(1986-1994), quando o tema passou a entrar mais assertivamente nas negociações
internacionais. O período de crise, sobretudo depois de 2008, também parece incitar
o estudo do assunto.

Os autores mais prolíficos são: Don P. Clark (University of Tennessee), Steve


McCorriston (University of Exeter), Alessandro Olper (Università degli Studi di
Milano), Amrita Roy (Indian Institute of Technology Kanpur) e John Cristopher
Beghin (Iowa State University). Os países que mais publicam são os Estados Unidos,
o Reino Unido e a França. As instituições e universidades que mais sediaram pesquisas
no assunto foram: Iowa State University, University of Tennessee, WTO e Institute of
Southeast Asian Studies.

Os 425 artigos amostrados foram publicados em 156 periódicos diferentes, sendo


estes os que mais se dedicaram ao tema: Journal of International Trade Law and Policy,
Journal of Economic Studies, World Economy, International Journal of Social Economics e
o Journal of Chinese Economic and Foreign Trade Studies.

A análise das palavras-chave permitiu identificar as zonas da segunda lei de Zipf.


A zona principal (Zona I) é formada por dezenove palavras: non tariff barriers (com
diferentes grafias), tariff, international trade, import, non-tariff measure, trade, trade policy,
gravity model, trade barriers, China, computable general equilibrium (CGE), World Trade
Organization (WTO), developing countries, European Union, India, technical barrier to
trade, trade liberalization, free trade agreement, sanitary and phytosanitary measures.

A avaliação das palavras-chave levanta a hipótese de que o tema ainda é abordado


predominantemente do ponto de vista macroeconômico, voltado para a aferição de
perdas e ganhos dos países afetados por uma barreira. Poucas publicações (ou nenhuma)
parecem se debruçar sobre os efeitos internos a um país que estabelece uma barreira.
Os efeitos no desempenho de cadeias produtivas e seus elos no mercado interno também
são pouco abordados. Essa hipótese corrobora avaliações e levantamentos realizados em
Ferrantino (2006) e Rau e Schlueter (2009).

Assim, este trabalho apresenta o perfil da produção científica dedicada a


estudar BNTs no comércio internacional e fortalece a hipótese de que a produção

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ainda é incipiente em âmbito internacional, e quase inexistente no Brasil. Dos artigos


amostrados, apenas quatro foram gerados no país. Isso corrobora a hipótese de haver
carência de pesquisas sobre o assunto no país.

Uma limitação do trabalho está em utilizar apenas o portal de periódicos da


CAPES a partir das seis bases de dados consideradas mais relevantes para as ciências
sociais aplicadas. Isso não permite dizer que a seleção dos artigos para este trabalho
abrangeu toda a população de publicações no período. Apesar disso, é possível considerar
425 artigos numa amostra capaz de representar uma população infinita. O trabalho
também se concentrou em avaliar as publicações de artigos científicos, deixando de
fora teses, dissertações e trabalhos apresentados em congressos. Para um assunto que
é nascente, essas publicações, sobretudo no Brasil, podem apresentar um quadro de
produção científica diferente do apresentado aqui. Logo, para traçar um perfil mais
apropriado das publicações no país, a sugestão para estudos futuros é investigar revistas
brasileiras na área, bem como teses, dissertações e publicações em congressos.

Para avançar na contribuição da formação de um programa de investigação


sobre BNTs no Brasil, faz-se importante um estudo analítico da literatura para
a identificação das abordagens e motivações que direcionam os estudos, bem como as
teorias e metodologias que sustentam as análises. Dessa forma, será possível ampliar
a compreensão das aplicações e lacunas que as metodologias vigentes oferecem para o
estudo deste tema no Brasil.

REFERÊNCIAS

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Barreiras Não Tarifárias no Comércio Internacional: estudo bibliométrico em periódicos científicos entre 1966 e 2018
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______. A produtividade dos autores sobre a lei de Lotka. Revista Ciência da Informação,
v. 37, n. 2, p. 87-102, 2008.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BRADFORD, S. C. Sources of information on specific subjects. Engineering: An Illustrated Weekly


Journal, London, v. 37, n. 3550, p. 85-86, 26 Jan. 1934. Disponível em: <http://bit.do/e8cbf>.
FURLAN, R. Uma revisão/discussão sobre a filosofia da ciência. Paidéia, v. 12, n. 24,
p. 125-138, 2003.
LOTKA, A. J. The frequency distribution of scientific productivity. Journal of the Washington
Academy of Sciences, Washington, v. 16, n. 12, p. 317-324, 1926.
ZIPF, G. K. Human behavior and the principle of least effort. Boston: Addison-Wesley, 1949.

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