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20/05/2019 Democracia é o caminho para combater desigualdades sociais, dizem pesquisadores - 16/05/2019 - Ilustríssima - Folha

Democracia é o caminho para combater


desigualdades sociais, dizem pesquisadores
Seminário que celebra os 50 anos do Cebrap terminou nesta quinta (16), em São
Paulo

16.mai.2019 às 21h50

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/05/17/)

Ricardo Hiar

Em meio a mudanças no cenário político, pesquisadores defendem que a


democracia (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/05/morte-da-democracia-virou-bordao-para-atrair-
imprensa-diz-autor.shtml) ainda é um dos pilares para combater as desigualdades

sociais.

No encerramento do seminário que celebrou os 50 anos do Cebrap


(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/05/desequilibrio-de-poderes-e-atraso-economico-desafiam-brasil-dizem-

pesquisadores.shtml) (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), realizado nesta


quinta (16) em São Paulo, os debates versaram sobre tendências do sistema
democrático (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/05/fhc-conta-como-cebrap-o-aproximou-de-ulysses-
e-lula-na-ditadura.shtml), a problemática da desigualdade e até a influência religiosa

na esfera pública.

A necessidade de novos estudos para definir e entender fenômenos recentes


ocorridos nesse sistema político foram pontos de destaque na discussão.

Para Pablo Beramendi, da Duke University (EUA), "a democracia é o


caminho" para que ocorram mudanças nos pilares que geram as
desigualdades. Segundo ele, os países com democracias mais jovens são os

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que mais sofrem com os problemas da má distribuição de renda, já que o


processo é demorado e requer paciência.

O pesquisador afirma que os países começam com diferentes níveis de


capacidade de ação, por isso há variações nos índices de desigualdade.

Beramendi, que fez um estudo sobre o tema de forma global, diz que viu
alguns avanços no Brasil nos últimos anos, mas não em educação
(https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/quem-decide-corte-nao-sou-eu-ou-querem-que-eu-sofra-impeachment-

diz-bolsonaro.shtml).

"A democracia fez bem para os pobres no Brasil, e isso foi resultado de um
mecanismo que se desdobrou em diferentes momentos no tempo. A grande
gestão que não podemos deixar de examinar agora, e que poderemos
observar neste ano e no próximo, é em que medida as engrenagens desse
sistema vão continuar funcionando", afirmou a pesquisadora Marta
Arretche. (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/05/ideologia-deixa-buracos-factuais-descobertos-afirma-
professora.shtml)

Os dados analisados por Arretche seguem até 2015. Segundo ela, mostram
que o Brasil produziu nos últimos anos inclusão para os mais pobres em
diferentes estratos da população.

Pela análise da pesquisadora, nos períodos recentes de crise mais acentuada,


houve perdas para todos as classes econômicas, mas os pobres foram os que
menos perderam. Isso ocorreu porque, nesses casos, o Bolsa Família --
programa federal de distribuição de renda-- serviu com uma espécie de
amortecedor.

"O Bolsa Família teve um efeito importante entre as famílias mais


vulneráveis. Essas políticas de transferência de renda continuaram e foram
reajustadas", afirmou.

A pesquisadora Márcia Lima concorda que, proporcionalmente, as perdas


foram menores entre as populações mais pobres, comparadas às classes com
maiores rendas. Ela destaca, no entanto, que no caso dos mais pobres as
perdas comprometem diretamente o poder de subsistência.

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Marta Arretche analisou as políticas desenvolvidas por PSDB e PT durante o


tempo em que estiveram no comando do país. Ela afirma que apesar de
serem partidos que durante os pleitos eleitorais se posicionaram em lados
opostos, ambos mantiveram uma mesma linha na adoção de políticas
públicas.

Segundo ela, o PSDB montou alguns pilares, como o SUS (Sistema Único de
Saúde), que depois foi ampliado pelo PT, que não desmontou o desenho do
governo antecessor. "A estratégia não foi de ruptura, mas de adensamento",
explicou.

O problema, segundo ela, é que nenhum dos dois partidos atuou para conter
problemas de tributação. "O cobertor era curto, mas eles expandiram gastos
com uma receita que não dava conta."

Em meio a questionamentos sobre possíveis soluções para a desigualdade,


Marcelo Medeiros, do Ipea, é menos otimista em relação às alternativas
atuais. "É impossível que os pobres do mundo alcancem o consumo dos ricos
pelo crescimento."

Para o pesquisador, a desigualdade é um assunto cada vez mais relevante,


mas é preciso buscar novas formas para combatê-la. "Ao longo de uma única
vida humana causamos transformações no planeta que não podem ser
repetidas. É um nível inevitável de crise. Se for pela linha do crescimento
entramos em colapso", disse.

Marcelo Medeiros afirma que um futuro viável será mais pela distribuição de
recursos existentes do que de outros advindos do crescimento.

Movimento crescente no Brasil nos últimos anos, a presença da religião no


espaço público (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/05/estado-laico-de-hoje-esta-mais-atento-ao-
pluralismo-religioso.shtml)foi outro tema colocado em debate.

Paula Montero diz que secularismo deixou de ser algo evidente, e que
atualmente as religiões se expressam na política e na vida pública com muita
vitalidade. "As religiões tornam-se um problema político importante. Um dos

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problemas está na noção da neutralidade estatal como princípio político,


com a necessidade da regulação do religioso."

Ela explica que a liberdade religiosa da Constituição de 1988 incluiu


pequena, mas significa, mudança no artigo que deu margem para o cenário
atual. "Foram suprimidas as referências à 'ordem pública', e desapareceram
com o limite do que as religiões podem fazer no espaço público."

Para Juan Vaggione (Conicet), há uma influência cultural da igreja nos


regimes. "É possível apontar os elementos que a igreja teve e tem na
formação de escolas públicas e privadas."

Segundo Vaggione, o ativismo conservador religioso tende a restabelecer o


que chamam de "ordem sexual", que consideram uma ameaça. As ações
normalmente objetivam o controle da prática e do comportamento das
pessoas. Ele diz que nos últimos anos a diversidade de gênero e o feminismo
passaram a ser pontos não aceitos e, de certo modo, combatidos pela igreja.

Já em relação aos evangélicos, os detentores de cargos eletivos tendem a ser


ainda mais conservadores do que os demais fiéis do segmento religioso.

Como conservadorismo, evangélicos e crise têm sido termos de uso


recorrente no país, Ronaldo de Almeida, pesquisador da Unicamp, buscou
entender a relação entre os três. Ele diz que é preciso, antes de tudo,
perceber que nem todo evangélico é conservador e nem todo conservador é
evangélico.

"Tudo aquilo que está sendo chamado de conservador na verdade constitui


uma onda conservadora", diz. Almeida também reforça a existência de linhas
de forças sociais das quais esses grupos têm aderência, com a tendência
moralmente reguladora, socialmente intolerante e o desejo de um sistema de
segurança punitivo-repressivo.

Dado isso, Almeida considera que houve alguma mudança significativa a


partir de 2013, que reforçou a aliança desses grupos. "Ocorre um advento e
mudam o discurso de democracia baseada num discurso da maioria e não de

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proteção das minorias. O próprio Jair Bolsonaro (PSL) dizia que a vontade da
maioria tinha que valer, quem fosse contra que abandonasse", disse.

Para Marcos Nobre (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/haddad-precisa-representar-mais-que-o-seu-


partido-diz-marcos-nobre.shtml), que participou da mesa que encerrou os debates do

Cebrap nesta quinta, é difícil explicar 2013 e o sistema político brasileiro que
se deu após esse período.

"Depois de junho de 2013, em vez de abrir, o sistema político se blindou e as


ruas reais e digitais ficaram sem direção. A Lava Jato
(https://www1.folha.uol.com.br/especial/2018/governo-bolsonaro/) passou a representar essa energia

difusa, como se fosse realizar o que o Poder Público deixou de fazer. No


entanto, o Judiciário não pode fazer reforma política. Isso tudo culminou no
colapso", explicou.

O pesquisador considera que a Lava Jato representou avanço e ajustes em


ações que estavam distorcidas, mas também interferiu em outros setores que
contribuíram com a crise.

Com o avanço da direita no país, Sérgio Costa afirma que os sistemas


políticos tornaram-se inócuos. O pesquisador avalia que o cenário atual
"clama por uma mudança de paradigma e de novos estudos".

Segundo ele, até mesmo a verdade é colocada em xeque no momento. "Hoje


as verdades podem ser livremente construídas, inventadas. Exemplo disso
foi o movimento 'Ele não' (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/02/mulheres-de-esquerda-querem-
reeditar-os-atos-ele-nao-no-dia-da-mulher.shtml)".

Costa lembra que na ocasião milhares de mulheres se mobilizaram contra o


então candidato Jair Bolsonaro, mas que para combater a ação das ruas
foram compartilhadas montagens de mulheres de seios de fora e em atos
considerados inadequados, o que acabou tirando a força e a visibilidade das
ações.

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