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20ª Mostra de Tiradentes - Amaranta Cesar fala sobre curad…
curad…
AC: A gente nota a emergência desses debates nos festivais. Em 2016 e 2017
todos os festivais tiveram alguma mesa tematizando essas questões, e isso diz
respeito também a uma movimentação das próprias minorias, as mulheres e os
negros, e ao tensionamento que esses movimentos fazem em todos os campos
da vida social brasileira.
O que eu acho que a gente precisa pensar é que não adianta só fazer uma
mesa sobre cinema de mulheres, sobre críticas mulheres ou sobre a presença
das mulheres no cinema de uma maneira geral se isso não afeta efetivamente
todo o pensamento de um festival. Seja na representatividade – as mulheres
ocupando espaços de poder, e elas são minoritárias na curadoria inclusive –
seja no reconhecimento dessa demanda de representação, porque o problema
é que às vezes parece que o pensamento é “vamos contemplar aqui para
contemplar”.
A questão é reconhecer que essa pauta é de fato importante e que ela pode
contribuir com a colocação em crise da própria ideia de cinema que se defende,
do próprio conceito curatorial que se defende, e não aparecer como uma
exigência à qual se precisa fazer uma condescendência ou se precisa agir com
complacência. Ou seja, escutar efetivamente as mulheres e os negros. Deixar
que as demandas dos negros, das mulheres e das minorias sexuais, dos índios,
afetem o próprio pensamento de cinema. Porque o pensamento de cinema e o
campo de cinema não é uma coisa dada. Ele precisa ser tensionado. A própria
ideia de crítica inclui uma autocrítica. A crítica não assegura um parâmetro para
valorizar e legitimar historicamente os filmes. A crítica também precisa
reconstruir parâmetros em função dos filmes que surgem e dos sujeitos
históricos que começam a filmar.
Então eu acho que os festivais ainda olham muito pouco, ou olham
enviesadamente, a partir dos seus quadros já estabelecidos, para a produção
dos novos sujeitos históricos que estão a filmar. Isso é um outro dado. A gente
precisa se confrontar com sujeitos históricos que estão filmando e que não
filmavam antes. Seja os militantes na rua filmando manifestação, sejam as
mulheres, sejam os negros, sejam os índios que pegam a câmera para se
defender de ataque de fazendeiro. Então há sujeitos históricos filmando, e
filmando em modos de produção que não são os modos de produção
tradicionais, delimitados pelo campo cinematográfico institucional. Fora de uma
institucionalidade, fora de um quadro conceitual pronto. Como lidar com isso?
CF: Aproveitando este tema, gostaria que você falasse sobre a experiência
de curadoria a partir do olhar de mulheres que foi realizada no último
CachoeiraDoc.
Isso não significava dizer que as mulheres têm uma perspectiva própria e que
essa perspectiva coincide, porque as mulheres são diversas, são múltiplas, mas
significava dizer que a gente estava ali tomando uma posição enquanto mulher.
Significa se posicionar em relação aos filmes com um posicionamento claro.
Não se trata de uma essência feminina ou de um olhar feminino que viria a se
somar, acrescentar ou problematizar o olhar masculino. Um homem pode
fundar uma perspectiva considerando o lugar da mulher, pensar como se
colocar em relação a esses filmes considerando o fato de elas serem mulheres.
Então é diferente de dizer “os filmes se impõem não importa se eles são feitos
por mulheres ou por homens”. É dizer que sim, os filmes são feitos por
mulheres e por homens, mas a partir de que lugar eu olho esses filmes? E que
lugar é esse de onde eu olho esses filmes? Então era reconhecer que essas
coisas existem e que para a gente olhar a gente precisa tensionar o nosso
quadro.
E eu não acho que foi por acaso que os filmes de mulheres começaram a se
impor. Não foi porque mudaram, porque são filmes melhores, por acaso
realizados por mulheres, mas porque efetivamente começa-se a considerar a
perspectiva das mulheres no cinema, porque há um campo de força,
organizações das mulheres na sociedade civil, no campo do cinema, na crítica,
na realização, para tensionar, para que essa perspectiva apareça.
A gente teve esse momento para pensar o que significava fazer curadoria
enquanto mulher, enquanto sujeito histórico, que produz uma leitura, uma vez
que se assume desse lugar. Não é uma coisa dada, mas é uma coisa que se
constrói, é uma construção reiterada, múltipla, e aí fizemos esse encontro.
A outra parte foi um programa de filmes, que foi curado coletivamente,
chamado Com Mulheres. Eram filmes feitos por mulheres, com mulheres. Tinha
tanto a questão da representatividade (filmes de realizadoras) e da
representação (filmes sobre mulheres), e ao mesmo tempo foram curados
coletivamente justamente dentro dessa ideia de que não existe um olhar
feminino, não existe uma essência feminina. Existe uma condição histórica de
ser mulher, como é a de ser negro, e essa condição histórica precisa ser
elaborada constantemente. O que que significa ela? Como é que as mulheres
constroem partilhas, como é que se dá a ver relações entre mulheres? Então (o
objetivo) era um pouco também contribuir nesse sentido. Saber que as
mulheres interagem, estão juntas fazendo cinema e pensando, diferindo,
criando multiplicidades.
AC: Espacialmente tem uma coisa que é muito semelhante. Estamos numa
cidade (Tiradentes) que facilita a convivência, facilita o encontro. Tanto em
Cachoeira quanto em Tiradentes a gente se encontra o tempo inteiro na cidade,
nos espaços, são festivais que entram na cidade. A gente não fica de van do
cinema para o hotel, a gente vive, convive.
Por outro lado, são realidades sociohistóricas radicalmente diferentes.
Cachoeira é uma cidade de uma herança escravocrata e colonial que não é a
herança mineira. É uma herança que deixou mais destruição do que patrimônio.
Então essas realidades geram engajamentos diferentes com as cidades.
Adriano Garrett
(http://cinefestivais.com.br/author/agarrett1105) (http://cinefestivais.c
Idealizador e editor do Cine
Festivais. Mestrando em
Comunicação - Audiovisual pela
Universidade Anhembi Morumbi,
com pesquisa sobre curadoria
em festivais de cinema. Membro
da Associação Brasileira de
Críticos de Cinema (Abraccine),
tem textos publicados nos livros
Documentário Brasileiro: 100
Filmes Essenciais e Animação
Brasileira: 100 Filmes
Essenciais, ambos organizados
pela entidade.
(http://cinefestivais.com.br/author/
(http://www.facebook.com/adrianogarrett) (mailto:adriano@cinefestivais.com.br)
(http://cinefestivais.com.br/filme-retrata-brasil-dos-anos-70-a-
partir-das-pornochanchadas/)
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debate-mais-acalorado-em-tiradentes/)
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