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Marcos Antonio da Silva – terceiro módulo

Relevância das propostas de ação cultural em Guarulhos

Tomarei aqui como definição e pressuposto a definição de ação cultural desenvolvida


por Teixeira Coelho, em que esta ação se realiza na prática estabelecida pela visão conceitual
de um sistema de produção cultural e seus circuitos. Desse modo, desde 2001, foram buscadas
alternativas para a implementação de políticas públicas para a Cultura, como forma de inserir
o tema na ordem do dia, senão da população em geral num primeiro momento, dos agentes
culturais assim identificados. Muitos destes, em que também me incluo, chegaram também à
prefeitura para contribuir com suas experiências na construção coletiva destas políticas, o que
ocorreu, inclusive, com concursos públicos específicos para a contração de Agentes Culturais
(o que de fato não foi tão satisfatório assim). Considerando as inúmeras contradições
inerentes às discussões referentes ao universo da gestão pública e, consequentemente, à
idealização de políticas culturais no interior da gestão pública municipal, foram muitas as
dificuldades, incoerências, descompassos e desgastes. Do micro ao macro e também de modo
inverso, verifiquei, até o presente momento, as tentativas, erros e acertos da gestão cultural
que buscamos incessantemente implementar. Nesse sentido, muitos conceitos, trocas,
elaborações e planejamentos estratégicos foram tomados como base de uma política cultural.
Também não descarto as interferências de aspectos da cultura pessoal dos gestores nas
decisões tomadas ao longo destes anos.

Obviamente são muitas as conquistas que asseguram o direito à Cultura para a


população de forma indistinta, se tomarmos como exemplo apenas as construções de
equipamentos de convivência entre as pessoas de diversas idades, regiões, interesses e classes
sociais, como os quatro novos teatros na cidade: Teatro Adamastor Centro, Adamastor
Pimentas, Padre Bento e Ponte Alta. O primeiro parte de um complexo de formação de
professores, onde passam, permanecem, produzem, apresentam e trocam informações
centenas de pessoas diariamente. Palco de conferências diversas, incluindo uma dedicada à
cultura, este indiscutível marco cultural na cidade de Guarulhos é emblemático na efetivação
do que se pode chamar de uma gestão comprometida com a democratização. Na mesma
perspectiva, apesar da inexperiência de boa parte dos servidores que ocuparam cargos e
desempenharam funções na gestão cultural de 2001 até o presente momento, foram
constituídos programas, projetos e ações permanentes, que resultaram em ações inspiradas no
circuito citado, em que as ações de produção, circulação, troca e uso foram integradas, dando

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origem a inúmeras propostas primordiais que foram realizadas com sucesso e reconhecimento
da população: Programa Oficinas Culturais com mostras semestrais e diversas linguagens
artísticas interagindo em espaços diversos, Encontro de Dança anual, Encontro de Teatro
anual, Programa Teatro Aberto, Projeto Terças Acústicas, Salão de Artes Visuais, Projeto
Palavra em Prisma, Encontros Culturais nos Bairros, Festas Populares, apoio a artistas e
projetos artísticos por meio do Funcultura (Fundo Municipal de Cultura), criação de fóruns de
discussão para avaliação e implementação de novas políticas públicas, culminando com a
criação da Escola Viva de Artes Cênicas (hoje Escola Municipal de Teatro) e Orquestra
Jovem Municipal. Além destas de maior porte, foram criados mecanismos de organização
interna pautadas na mesma ideia de ação cultural e seus circuitos, de modo que as linguagens
não compartimentassem as possibilidades de troca e integração entre áreas, locais e pessoas.
Assim, efetivaram-se espaços de exposições que compõem o Programa de Exposições, a
gestão de teatros que compõem a programação de artes cênicas, disponibilizando espaços de
forma democrática para apresentações, ensaios e produções. Outra importante iniciativa foi a
criação do veículo de divulgação próprio da programação cultural, a Agenda Cultural, um
verdadeiro guia da produção na cidade que, ainda hoje, conta com a maior parte das
atividades culturais realizadas na cidade tendo como ponto de partida a gestão pública.
Mesmo assim divulga quaisquer atividades que ocorram na cidade, como acontece com
aquelas realizadas em espaços independentes, como a Casa dos Cordéis.

Se de um lado temos esta realidade de avanços das políticas culturais, do outro, pode-
se pensar, temos as experiências tomadas de outros, como aquelas vivenciadas por gestões
similares, mas que, não necessariamente foram criadas a partir de mecanismos efetivos de
participação de agentes culturais. Estes são participantes ativos hoje, interferindo, utilizando,
realizando, produzindo e muitas vezes buscando pautar a gestão pública a partir de suas
necessidades e entendimento do que deveria ser a gestão cultural. Com relação ao conceito de
gestão, tem-se uma série de encaminhamentos possíveis no cotidiano da relação entre gestores
e agentes. Infelizmente, a democracia e o acesso público à tomada de decisões depende antes
da postura dos gestores como mediadores e não donos da cultura, definindo muitas vezes
equivocadamente uma programação a partir de idéias populistas, em que o evento com
superfaturamento de público mascara a distância entre as pessoas (gestores e agentes).
Relação desumanizada pode ser considerada uma relação cultural, se considerar seu aspecto
antagônico. Porém não cumpre seu papel republicano. De outro modo, mais significado teria a
produção, em contraponto à mera passividade diante do evento, massificado e famoso por sua

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capacidade de aglomeração no terreno vazio da cultura como expressão da humanidade
individual ou coletiva. No lugar do encontro o desmotivo da convivência. Antes, a ideia da
padronização. Distante da idealização da cultura tradicional ou popular tradicional, ou da
segregação das artes, fundamental é a definição de políticas culturais que valorizem a
produção individual ou coletiva, e que esta se reporte a outros indivíduos ou coletivos,
promovendo a integração entre ver, fazer, pensar a respeito, desvendar modos de produção e
compreender as multifacetas e complexidade de uma obra ou manifestação cultural,
ultrapassando as fronteiras preestabelecidas entre produção e recepção. Ruptura tão pertinente
à contemporaneidade das obras de arte, bem como à discussão a respeito da cultura,
essencialmente contemporânea. Contemporâneo é, também, interagir, no papel de gestor e, a
partir do princípio da alteridade, ouvir e dar ressonância à música metafórica que pode ser
produzida pelo agente, diante de sua intrínseca necessidade de expressão cultural.

Bibliografia

CANCLINI, Néstor Garcia. Leitores, espectadores e internautas. São Paulo: Iluminuras,


2008.
COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural. São Paulo: Palas Atena, 2004.
COELHO, Teixeira. Direitos Culturais. s.d.
MARTINELL, Alfons. Agentes Culturales: participación, derechos y ciudadanía. s.d.
MEYER-BISCH, Patrice. Trabalho Cultural. s.d.
MEYER-BISCH, Patrice. Identidade Cultural. s.d.
ELPAIS.com – Abstracciones, historias, publicado em 05 de março de 2011.
Compendio de políticas culturales de Colombia. Ministerio de Cultura. República de

Colombia, 2009.

Pacto Internacional de Derechos Económicos, Sociales y Culturales, de 16 de dezembro de


1966.
Proximidad de los centros cívicos de Girona. Ajuntament de Girona. s.d.

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