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reducoes-jesuiticas
O verdadeiro multiculturalismo na
música das Reduções jesuíticas
Eis o texto.
Poucas horas antes, na igreja de San Francesco di Trevi, um original diálogo musical entre órgão e
cravo, ainda com trechos de Zipoli, encheu de alegria os corações dos espectadores. As notas alegres e
harmoniosas do cravo se uniam perfeitamente às mais profundas do órgão, sugerindo um diálogo entre
prazeres da vida, superficiais mas jocosos, e aprofundamento espiritual, igualmente necessário ao ser
humano.
À Sagra Musicale Umbra – evento que revela ser a cada ano mais interessante e importante no
panorama da música sacra e da música em geral – vai o mérito de ter dado a conhecer a um público mais
amplo essas raridades tão extraordinárias. Composições que, além do prazer da audição, suscitam
intensos estímulos intelectuais, justamente por causa daquela harmoniosa e irresistível mistura entre
tonalidades e técnicas de matriz europeia e cores musicais locais, e por causa do emprego das línguas
faladas pelos índios (como o chiquitano, o nahuatl e o quíchua), alternadas e misturadas ao latim litúrgico.
O sentido profundo de tudo isso é dado pela fé, por aquela apaixonada força de evangelização que
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animava os missionários e os músicos. Permitindo criar verdadeiramente o novo, enquanto acompanha –
e, ao mesmo tempo, suscita – a renovação total da vida de um povo. Há um projeto, um desígnio único ao
qual todos olham, ao qual todos colaboram, e não uma aproximação relativista de fragmentos culturais
diferentes e incomunicáveis.
Além disso, causa uma admiração quase incrédula a capacidade dos missionários de ensinar aos índios
uma música tão diferente das suas próprias tradições – tocada com instrumentos desconhecidos e
cantada com novos modos – com uma paciência e um entusiasmo capazes de suscitar neles uma paixão
que ainda dura. Porque os missionários estavam convencidos de que a música era um caminho para
chegar a Deus, um caminho de evangelização como a palavra ou a imagem, talvez até mais intensa, e
não poupavam esforços para ensiná-la e para fazer com que a amassem.
Os sucessos, testemunhados por esses belíssimos textos musicais, ainda em grande parte executados e
amados naAmérica Latina, não se fizeram esperar.
Portanto, é preciso refletir sobre a pobreza de muita música litúrgica de hoje, que, no esforço para se
modernizar e se aproximar dos gostos de um povo cada vez menos cultivado musicalmente, decai
frequentemente em ritmos que lembram as canções populares e não levam a uma tensão religiosa. É
música de entretenimento, para cantar em coro para se sentir juntos, e não música que aproxima a Deus,
que faz com que o fiel toque, mesmo que iletrado, o poder e o mistério do Criador.
Os missionários dos séculos XVII e XVIII tinham mais coragem: a escuta das maravilhosas músicas
da Sagra Musicale Umbra nos ensina que é preciso ousar mais, que é preciso propôr aos seres
humanos um caminho íngreme, mas rico em aquisições espirituais, em vez de se acomodar ao imediato
favor de um público não mais educado a abrir seus próprios ouvidos para se aproximar de Deus.
VEJA TAMBÉM:
A experiência missioneira: território, cultura e identidade - Revista IHU On-Line nº. 348
Os Guarani. Palavra e Caminho - Revista IHU On-Line nº. 331