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SEM
LUGAR
(poesia 2M5)
I.J. Ansotegi Suárez
ABRIL 2005
Horizonte
E se a Liberdade
é uma puta de luxo
que nunca poderei pagar?
Compreendei-me
faz-me falha algo de transcendência,
toda vez que...
a Nação...
o Amor...
o Socialismo...
a Família...
a Ciência...
a História...
Deus...
a Anarquia...
a Poesia...
toda vez que queimei
as bonecas de trapo.
Miro-a
nua no meu leito
e
entra-me
muita fome.
Um beijo no joelho,
para começar,
e penso que algo deve de haver
para além do horizonte.
Carta azeda
ya comprendo la verdad
ahora
a buscar la vida
A.Pizarnik, "Solamente"
Às vezes,
as arelas
são tão eternas
e tão frágiles...
Será ela
a verdade?
Ou ficarei
sem topá-la?
Podias
fazer favor
e ser
a minha verdade.
Ítaca
O sonho que passou não volta mais.
M. Alegre, "O grande ziguezague"
A NENHUMA.
Busquémo-lo.
JUNHO 2005
Diagnose sem prognose
DEVER/PRAZER
Não acredito
nessa dicotomia.
Não posso acreditar
em nenhuma dicotomia:
HOMEM/MULHER
BOM/MAU
FALSO/VERDADEIRO
PORTUGUÊS (GALEGO)/(GALEGO)ESPANHOL
(...)
Sou
post-sexual
post-ético
post-científico
post-nacional
post-(...)
Sou post-
Bem seguro.
Sinto
que extravio o sentido de realidade,
melhor dito, o efeito de realidade,
sinto
que sou um louco racional,
uma puta virgem,
um violador respeitoso,
uma guerra pacífica,
um pederasta civilizador,
e todas as criaturas inimagináveis e reais.
Há algum/a,
só preciso dum/a,
que me entenda?
Há algum/a,
só uma vez,
que mo explique?
Poderias
explicar-me
o por quê
às noites
gostaria de colher
a auto-estrada das tuas pernas,
introduzir-me no teu ventre,
e, em posição fetal,
fechar os olhos,
sentir a tua calor,
perder-me no preto infinito
do teu interior,
e não sentir,
não pensar,
nada. NADA.
NADA.
OUTUBRO 2005
Sonhei contigo
Somos el tiempo que nos queda
J.M. Caballero Bonald
Desejando inseguras arelas,
mentres passa
imparável,
inexorável,
o tempo.
Passam os dias,
coma passam as galinhas,
em vida graças à covardia.
Contar histórias
para não contar o que passa,
histórias falsas que ajudam a digerir a realidade,
coma esta noite,
que sonhei contigo o derradeiro sonho, pólvora molhada, que me quedava.
Viver é morrer,
somos el tiempo que nos queda, que dizia o poeta.
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Epílogo:
São os poemas do cansaço do que já não amarra em nenhum porto nem lugar do mundo.
A pluma foi-se submergindo no silêncio... e já quase no diz nada.