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Engenharia Civil
Júri
Presidente: Professor Doutor Augusto Martins Gomes
Orientador: Professor Doutor António Heleno Domingues Moret Rodrigues
Vogal: Professora Doutora Maria da Glória de Almeida Gomes
Outubro de 2010
Dedico esta dissertação à
minha mãe
Agradecimentos
III
IV
Resumo
V
VI
Abstract
The scarcity of fossil fuels and the increase of CO2 emissions to the atmosphere leads
to the necessity of reduce the energy consumption caused by the buildings. Since windows
consist in a major area of the facades of dwellings and windows are one of the most important
elements responsible for heat loss and heat gain, it´s desirable to know how the many solutions
available at the market affect thermal performance of buildings.
After the introduction of the main processes of heat transfer – conduction, convection
and radiation – and the main parameters that affect the thermal performance of a window –
solar heat gain coefficient and U-factor –, it was presented a decision-making process for
window design based on their energy impacts in buildings. This process will help architects and
engineers to design homes more energy-efficient.
All criteria that compose the decision-making process for window design have been
analyzed in this study, measuring the impact on thermal performance for buildings of climatic
zone, solar orientation, window area, shading conditions, glazing and frame material. For such,
it was used a software of dynamic simulation – EnergyPlus –, and a software for window
modeling – WINDOW5 –, software that have a special importance in this knowledge area.
This assignment enables to conclude that a careful window design for residence
buildings significantly reduces the energy consumption for air conditioning. However, the
multiple solutions and combinations that it´s possible to create can make this design quite
complex.
Keywords: Window, Glazing, Glass, Solar gains, Thermal performance, Solar heat gain
coefficient
VII
VIII
Índice
2.1 – Introdução......................................................................................................................... 5
3.1 – Introdução....................................................................................................................... 15
3.3.1 – Alumínio................................................................................................................... 23
3.3.2 – Madeira.................................................................................................................... 24
3.3.3 – PVC ......................................................................................................................... 24
3.3.4 – Caixilhos híbridos .................................................................................................... 25
3.3.5 – Compósitos de madeira .......................................................................................... 25
3.3.6 – PRFV ....................................................................................................................... 25
IX
3.4 – Meios de sombreamento ................................................................................................ 26
4.1 – Introdução....................................................................................................................... 29
5.1 – Introdução....................................................................................................................... 33
6.1 – Introdução....................................................................................................................... 43
X
6.2.6 – Space Gains ............................................................................................................ 46
6.2.7 – Air Flow.................................................................................................................... 46
6.2.8 – Node-Branch Management ..................................................................................... 47
6.2.9 – Zone Equipment ...................................................................................................... 47
6.2.10 – Zone Forced Air Units ........................................................................................... 47
6.2.11 – Zone Controls and Thermostats ............................................................................ 47
6.2.12 – Report .................................................................................................................... 48
7.1 – Introdução....................................................................................................................... 53
XI
7.4.5 – Tipo de vidro ............................................................................................................ 99
7.4.6 – Material de caixilharia ............................................................................................ 102
Referências bibliográficas
ANEXOS
XII
Índice de figuras
Figura 2.1 – Componentes que constituem as trocas de calor através de uma janela
relacionadas com o valor de U [5]. ................................................................................................ 6
Figura 2.2 – Movimento do Sol ao longo do dia para os períodos de Inverno e Verão [9]. ......... 9
Figura 2.3 – Decomposição da radiação solar ao incidir num elemento envidraçado [8]. ......... 10
Figura 2.4 – Efeito de sombreamento criado num vão envidraçado por palas horizontal e
vertical [8]. ................................................................................................................................... 13
Figura 3.1 – Comparação dos valores de U, gv e τv entre um vidro simples, duplo e triplo. ...... 17
Figura 3.2 – Comparação dos valores de U, gv e τv entre um vidro duplo normal e três vidros
duplos com controlo solar. .......................................................................................................... 20
Figura 3.3 – Comparação dos valores de U, gv e τv entre um vidro duplo normal e dois vidros
duplos com películas de baixa emissividade, uma convencional e outra com controlo solar. ... 22
Figura 7.1 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento em função da zona
climática de Inverno. ................................................................................................................... 54
Figura 7.3 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento em função da área do
vão envidraçado. ......................................................................................................................... 59
Figura 7.4 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento sem a utilização de
qualquer tipo de sombreamento para uma orientação Norte. .................................................... 61
Figura 7.5 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento com a utilização de
meios de sombreamento fixos para uma orientação Norte. ....................................................... 61
Figura 7.6 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento sem a utilização de
qualquer tipo de sombreamento para uma orientação Sul. ........................................................ 63
Figura 7.7 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento com a utilização de
meios de sombreamento fixos para uma orientação Sul. ........................................................... 63
Figura 7.8 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento sem a utilização de
qualquer tipo de sombreamento para uma orientação Este. ...................................................... 64
Figura 7.9 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento com a utilização de
meios de sombreamento fixos para uma orientação Este. ......................................................... 64
XIII
Figura 7.10 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento sem a utilização de
qualquer tipo de sombreamento para uma orientação Oeste..................................................... 65
Figura 7.11 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento com a utilização de
meios de sombreamento fixos para uma orientação Oeste. ...................................................... 65
Figura 7.12 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento para diferentes tipos de
vidro. ............................................................................................................................................ 66
Figura 7.14 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento para diferentes tipos de
gases. .......................................................................................................................................... 67
Figura 7.15 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento em função do material
dos caixilhos. ............................................................................................................................... 69
Figura 7.16 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento em função da zona
climática de Verão. ...................................................................................................................... 70
Figura 7.18 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento em função da área do
vão envidraçado. ......................................................................................................................... 74
Figura 7.19 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento sem a utilização de
qualquer tipo de sombreamento para uma orientação Norte. .................................................... 76
Figura 7.20 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de
meios de sombreamento amovíveis para uma orientação Norte. .............................................. 76
Figura 7.21 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de
meios de sombreamento fixos para uma orientação Norte. ....................................................... 77
Figura 7.22 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento conjugando meios de
sombreamento amovíveis e fixos para uma orientação Norte. ................................................... 78
Figura 7.23 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento sem a utilização de
qualquer tipo de sombreamento para uma orientação Sul. ........................................................ 79
Figura 7.24 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de
meios de sombreamento amovíveis para uma orientação Sul. .................................................. 79
Figura 7.25 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de
meios de sombreamento fixos para uma orientação Sul. ........................................................... 80
Figura 7.26 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento conjugando meios de
sombreamento amovíveis e fixos para uma orientação Sul. ...................................................... 81
XIV
Figura 7.27 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento sem a utilização de
qualquer tipo de sombreamento para uma orientação Este. ...................................................... 82
Figura 7.28 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de
meios de sombreamento amovíveis para uma orientação Este. ................................................ 82
Figura 7.29 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de
meios de sombreamento fixos para uma orientação Este. ......................................................... 83
Figura 7.30 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento conjugando meios de
sombreamento amovíveis e fixos para uma orientação Este. .................................................... 84
Figura 7.31 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento sem a utilização de
qualquer tipo de sombreamento para uma orientação Oeste..................................................... 85
Figura 7.32 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de
meios de sombreamento amovíveis para uma orientação Oeste............................................... 85
Figura 7.33 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de
meios de sombreamento fixos para uma orientação Oeste. ...................................................... 86
Figura 7.34 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento conjugando meios de
sombreamento amovíveis e fixos para uma orientação Oeste. .................................................. 87
Figura 7.35 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento para diferentes tipos
de vidro. ....................................................................................................................................... 88
Figura 7.37 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento para diferentes tipos
de gases. ..................................................................................................................................... 89
Figura 7.38 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento em função do material
dos caixilhos. ............................................................................................................................... 90
Figura 7.39 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária para três regiões
distintas de Portugal Continental................................................................................................. 92
Figura 7.41 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária em função da área do
vão envidraçado. ......................................................................................................................... 95
Figura 7.42 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária sem a utilização de
qualquer tipo de sombreamento para uma orientação Sul. ........................................................ 96
Figura 7.43 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária com a utilização de
meios de sombreamento amovíveis para uma orientação Sul. .................................................. 97
XV
Figura 7.44 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária com a utilização de
meios de sombreamento fixos para uma orientação Sul. ........................................................... 98
Figura 7.45 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária conjugando meios de
sombreamento amovíveis e fixos para uma orientação Sul. ...................................................... 99
Figura 7.46 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária para diferentes tipos
de vidro. ..................................................................................................................................... 100
Figura 7.48 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária para diferentes tipos
de gases. ................................................................................................................................... 101
Figura 8.1 – Comparação das necessidades nominais globais anuais de energia primária para
climatização entre duas soluções: uma boa solução e uma má solução. ................................ 104
XVI
Índice de quadros
Quadro 3.1 – Comparação dos valores de U, gv e τv para vidros duplos e triplos utilizando
diferentes gases no espaço entre panos. ................................................................................... 18
Quadro 7.1 – Quadro resumo com a comparação do desempenho térmico anual em função da
zona climática. ............................................................................................................................. 91
Quadro 7.2 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária em função do material
utilizado nos caixilhos. ............................................................................................................... 102
XVII
XVIII
Siglas
XIX
XX
Simbologia
2o
U – Coeficiente de transmissão térmica (W/m C)
2 o
R – Resistência térmica (m . C/W)
2
Nic – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento (kWh/m .ano)
2
Nvc – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento (kWh/m .ano)
2
Ntc – Necessidades nominais anuais globais de energia primária (kgep/m .ano)
Fpui – Factor de conversão entre energia útil e energia primária para o sistema de aquecimento
(kgep/kWh)
Fpuv – Factor de conversão entre energia útil e energia primária para o sistema de
arrefecimento (kgep/kWh)
2
Ni – Valor limite das necessidades nominais de energia útil para aquecimento (kWh/m .ano)
2
Nv – Valor limite das necessidades nominais de energia útil para arrefecimento (kWh/m .ano)
2
Nt – Valor limite das necessidades nominais anuais globais de energia primária (kgep/m .ano)
-1
Rph – Taxa de renovação do ar (h )
XXI
e – Espessura (cm)
o
λ – Condutibilidade térmica (W/m. C)
3
ρ – Massa volúmica aparente (kg/m )
2 o
Rar – Resistência térmica de espaços de ar não-ventilados (m . C/W)
XXII
Capítulo 1
Introdução
1
contributo válido para um projecto energeticamente mais eficiente deste importante elemento
da envolvente dos edifícios. De seguida descrevem-se as motivações e os principais objectivos
do trabalho.
1.2 – Motivações
1.3 – Objectivos
2
1.4 – Estrutura do trabalho
A divisão desta dissertação nos diferentes capítulos que aqui se apresentam foi
criteriosamente pensada com o intuito de expor os conteúdos do trabalho de uma forma clara e
sucinta. Assim, dividiu-se o trabalho em oito capítulos.
No presente capítulo faz-se o enquadramento do tema na problemática do crescente
consumo energético dos edifícios, expõe-se as motivações e os objectivos a atingir com este
trabalho e apresenta-se a estrutura geral da dissertação.
No Capítulo 2 são expostos conceitos teóricos relacionados com as trocas de calor que
se processam ao nível dos vãos envidraçados. O entendimento destes conceitos torna-se
fundamental para a compreensão dos resultados que se apresentam ao longo do Capítulo 7.
No Capítulo 3 apresenta-se as inúmeras partes constituintes de uma janela,
designadamente, o vidro, a caixilharia e os elementos de sombreamento. São descritos os
diferentes tipos de vidros e materiais de caixilharia disponíveis no mercado para edifícios de
habitação, procurando-se, sempre que possível, apresentar valores caracterizadores do
desempenho térmico.
No Capítulo 4 desta dissertação, descrevem-se quais os critérios que fazem parte
integrante do processo de selecção dos vãos envidraçados por parte do projectista. Estes
critérios serão posteriormente alvo de análise, sendo os resultados obtidos apresentados no
Capítulo 7.
No Capítulo 5 é apresentada a metodologia do trabalho. Neste capítulo é descrita a
zona de estudo utilizada para a obtenção dos resultados e a metodologia adoptada,
descrevendo-se os diferentes estudos paramétricos realizados.
No Capítulo 6 são descritas as ferramentas informáticas utilizadas na realização do
estudo proposto nesta dissertação e sem as quais teria sido difícil atingir os objectivos
descritos no ponto anterior. Este capítulo encontra-se dividido em duas partes: a primeira parte
é reservada ao EnergyPlus, enquanto a segunda explica o modo de funcionamento do
WINDOW5.
O Capítulo 7, como já atrás referido, é reservado para a apresentação e discussão dos
resultados deste trabalho. Estes resultados referem-se aos critérios apresentados no Capítulo
4 no desempenho térmico de edifícios e cuja avaliação constitui o grande objectivo desta
dissertação.
Por fim, no Capítulo 8, apresentam-se as principais conclusões retiradas do trabalho
desenvolvido.
3
4
Capítulo 2
2.1 – Introdução
O fluxo de calor que se verifica através de um vão envidraçado acontece de três formas
distintas: condução, convecção e radiação. Condução é a forma de transferência de calor que
se verifica sobretudo nos sólidos, contudo pode ocorrer também em líquidos e gases.
Convecção é a transferência de calor que ocorre por movimento de líquidos ou gases.
Radiação é o movimento de energia através do espaço mesmo na ausência de fenómenos de
condução ou de movimentação do ar.
Ao longo deste capítulo, serão apresentados estes processos de transferência de calor,
com uma explicação mais vocacionada para as janelas. Para além disso, serão também
abordados alguns parâmetros que permitem quantificar as trocas de calor que ocorrem ao nível
das janelas, como é o caso do coeficiente de transmissão térmica e do factor solar.
Quando uma janela está sujeita a uma diferença de temperaturas entre o exterior e o
espaço interior, ocorrerá transferência de calor para o local que está a uma temperatura inferior
através de três mecanismos distintos: condução através do vidro e do caixilho, convecção
através dos espaços de ar e radiação de grande comprimento de onda entre as superfícies do
vidro de cada lado da caixa-de-ar (Figura 2.1). Estes dois últimos mecanismos são abordados
5
nos pontos seguintes, pelo que se aconselha uma leitura atenta do restante capítulo para uma
melhor compreensão do assunto. Para quantificar este fluxo de calor que ocorre ao nível de
uma janela é necessário introduzir um parâmetro designado coeficiente de transmissão
térmica, U.
2o
O coeficiente de transmissão térmica é expresso em W/m C e neste caso serve para
quantificar o fluxo de calor que ocorre ao nível de uma janela devido a uma diferença de
temperatura entre o interior e o exterior, englobando os três mecanismos de transferência –
condução, convecção e radiação de grande comprimento de onda [6]. A definição de
coeficiente de transmissão térmica pode ser entendida da seguinte forma: representa o fluxo de
calor por hora (em watt) por metro quadrado de janela para uma diferença de temperatura de 1
o
C entre o interior e o exterior. O coeficiente de transmissão térmica é inversamente
proporcional à resistência térmica, R. Assim, quanto menor for o coeficiente de transmissão
térmica de uma janela, maior será o isolamento térmico conferido por esta.
Dado a variedade de materiais que constituem uma janela, é comum apresentar o
coeficiente de transmissão térmica de um vão envidraçado de duas maneiras diferentes. Na
primeira, é apresentado o valor de U apenas para o sistema de vidros. Outra maneira, consiste
em apresentar o coeficiente de transmissão térmica para toda a janela, ou seja, tendo em conta
também o efeito dos caixilhos na transmissão de calor.
Figura 2.1 – Componentes que constituem as trocas de calor através de uma janela relacionadas com o valor
de U [5].
O coeficiente de transmissão térmica (U) para toda a janela depende do tipo de vidro e
do material de caixilharia, e respectivas áreas, podendo ser determinado através da seguinte
expressão [7]:
× + × + × 2o
= (W/m C) (2.1)
+
6
2o
em que Uc e Uv são os coeficientes de transmissão térmica do caixilho e do vidro em W/m C,
2
respectivamente, Ac e Av são as áreas visíveis de caixilharia e de vidro em m ,
respectivamente, Lv é o perímetro de vidro visível em m, e ψ é o coeficiente de transmissão
o
térmica linear em W/m C.
Tal como descrito no ponto anterior, as trocas de calor por condução que ocorrem num
sólido dão-se através de colisões internas entre átomos e moléculas vizinhas, em função do
estado de energia em que se encontra a matéria, induzido por um campo de temperaturas. No
caso dos fluidos, a transferência de calor através destes ocorre não apenas por agitação
molecular, mas sobretudo devido ao movimento das partículas que constituem o fluido –
correntes macroscópicas de fluido [8]. A este processo de transferência de calor dá-se o nome
de convecção.
Existem dois tipos de convecção – convecção forçada, que acontece quando se impõe
uma diferença de pressão através duma causa externa, como por exemplo, os ventos
atmosféricos ou quando se recorre a um ventilador, e convecção natural, que ocorre devido à
diferença de pressão originada por um gradiente térmico, por exemplo, o caso de um radiador
de calor que ao aquecer o ar que está na sua vizinhança, irá criar uma corrente ascensional.
As correntes de convecção que se verificam ao nível de um vão envidraçado
acontecem em três locais: junto às faces interior e exterior do vidro e, em vãos com mais do
que um pano de vidro, no espaço que os separa (Figura 2.1), que como se verá mais adiante,
no Capítulo 3, podem estar preenchidos com ar ou com gases menos viscosos. No interior, a
face do vidro que se encontra a uma temperatura mais reduzida arrefece o ar que se encontra
adjacente a esta, fazendo com que o ar desça. A corrente de convecção que se inicia desta
forma é muitas vezes tomada como um excesso de permeabilidade ao ar da janela, contudo
pode ser atenuada com a utilização de uma janela que providencie uma superfície do vidro
mais quente. No exterior, as correntes de ar são favoráveis ao isolamento térmico das janelas,
porém a melhoria que trazem é diminuta. Na caixa-de-ar, a diferença de temperaturas que se
verifica induz uma corrente de convecção favorável às perdas de calor. Através de um correcto
ajuste do espaçamento entre os panos de vidro, introduzindo panos de vidro adicionais para
criar mais espaços de ar, ou substituindo o ar por um gás de preenchimento menos viscoso, é
possível reduzir o efeito negativo das trocas de calor por convecção, melhorando o isolamento
térmico da janela.
7
que atinge a superfície de um envidraçado, assim como o movimento do Sol ao longo do dia e
os diferentes tipos de radiação e respectivos comprimentos de onda.
Tal como descrito em [8], a radiação solar global que atinge a superfície da Terra é a
soma de duas parcelas. Para além da radiação directa, ou seja, a que atravessa
unidireccionalmente a atmosfera e atinge a superfície terrestre, existe ainda a radiação difusa.
A radiação difusa é constituída pelos raios solares que só atingem a superfície da Terra após
múltiplos desvios nas partículas suspensas da atmosfera.
A radiação que irá atingir a superfície de um envidraçado, ou uma outra qualquer
superfície presente na Terra, é composta pelos dois tipos de radiação descritos no parágrafo
anterior – directa e difusa – mais a radiação que é reflectida pelo contorno (albedo), que
depende da rugosidade e tipos de materiais que compõem as superfícies aparentes desse
contorno. De acordo com [8], a radiação reflectida pelas superfícies do contorno pode ir de 3%
a 85% da radiação total incidente. Apresenta-se, em seguida, exemplos de albedos para
algumas superfícies:
Solo nu – 10 a 25%;
Relva – 14 a 37%;
Revestimentos pétreos – 12 a 40%.
8
Figura 2.2 – Movimento do Sol ao longo do dia para os períodos de Inverno e Verão [9].
Existem dois tipos de transferência de calor por radiação: transferência de calor por
radiação de grande comprimento de onda e transferência de calor por radiação de baixo
comprimento de onda.
Todos os corpos, mesmo estando à temperatura ambiente, emitem radiação, levando à
ocorrência de trocas de calor entre si. Esta radiação é designada de radiação de grande
comprimento de onda (ou de baixa temperatura) e engloba comprimentos de onda no intervalo
dos 3 aos 50 µm [5].
A transferência de calor por radiação de baixo comprimento de onda é a que provém
da radiação solar e ocorre para comprimentos de onda na ordem dos 0.3 a 2.5 µm [5]. A
radiação de baixo comprimento de onda é constituída pela radiação ultravioleta, que apresenta
o menor comprimento de onda – sendo, por isso, a mais energética –, pela radiação visível e
pela radiação infravermelha.
A distinção entre estes dois tipos de transferência de calor por radiação é essencial
para a compreensão do funcionamento do vidro duplo com película de baixa emissividade,
apresentado no Capítulo 3.
9
De uma forma geral, da radiação total que incide num vão envidraçado, apresentada
em 2.4.1, uma parte é transmitida instantaneamente para o interior, outra imediatamente
reflectida para o exterior, sendo uma terceira parte absorvida pelo vidro. Desta terceira parte,
que é absorvida e que representa energia acumulada no vidro, há ainda uma parcela que
posteriormente é enviada para o interior e outra que segue para o exterior, devido a fenómenos
de convecção e radiação. A Figura 2.3 ilustra a forma como a radiação que incide num
envidraçado se decompõe e põe em evidência as três partes referidas – transmitida, reflectida
e absorvida. Os quocientes entre cada uma destas partes e a radiação total incidente
representam as propriedades ópticas (solares) do vidro e designam-se, respectivamente, por
transmitância (τs), reflectância (ρs) e absortância (αs). Para além do comprimento de onda,
estas propriedades dependem também do ângulo de incidência da radiação.
Figura 2.3 – Decomposição da radiação solar ao incidir num elemento envidraçado [8].
10
com que este aumente de temperatura. Existe ainda outra propriedade do vidro, que até agora
não foi referida, mas que apresenta um especial interesse nas trocas de calor por radiação
através de um envidraçado. Esta propriedade designa-se por emitância ou emissividade. A
emissividade é a capacidade do vidro absorver e radiar energia a baixa temperatura, processo
que pode ser aproveitado para melhorar o desempenho do sistema envidraçado.
Apresentado isto, pode dizer-se que a energia solar que passa para o interior das
habitações através dos envidraçados é constituída por uma parcela instantânea que passa
directamente (τsI) e por uma parcela diferida (qi) constituída pela parte da energia que é
absorvida e que posteriormente é transferida para o interior por mecanismos de convecção e
radiação (Figura 2.3). É então necessário definir um parâmetro que tenha em conta estas duas
parcelas, contemplando a totalidade da radiação solar que chega ao interior das habitações.
Este parâmetro é designado por factor solar do vidro (gv) e está definido em [10] como sendo a
soma do factor de transmissão directa da energia solar com o factor de transmissão secundário
de calor.
O factor solar do vidro é definido como sendo o quociente entre o ganho de calor
através do envidraçado – quer de forma instantânea, consequência da sua transmitância (τsI),
quer a posteriori, consequência da absortância (qi) – e a radiação solar que nele incide (I). A
partir da simbologia utilizada, o factor solar do vidro é dado por:
11
=
% (2.3)
((((
&' = ((((
& cos )
(((( = ((((
&* & tan ℎ
&* = ((((
(((( &' tan Ω
donde
((((
&* tan ℎ
tan ) = =
((((
&' cos )
-. = ((((
' = /0 tan )
-1 = ((((
*& = /1 tan Ω
12
Figura 2.4 – Efeito de sombreamento criado num vão envidraçado por palas horizontal e vertical [8].
13
14
Capítulo 3
3.1 – Introdução
A escolha das diferentes partes constituintes de uma janela, por parte dos projectistas
de edifícios habitacionais, tem vindo a tornar-se uma tarefa cada vez mais difícil, devido ao lote
alargado de opções actualmente disponíveis no mercado.
Este capítulo fornece uma introdução sobre as várias soluções vulgarmente utilizadas
para as seguintes partes: vidro, caixilho e dispositivo de sombreamento.
Inicialmente, são apresentados os sistemas de vidros convencionais e as suas
tecnologias emergentes. Em seguida, apresentam-se os materiais mais comummente utilizados
nos caixilhos das janelas, como o alumínio, a madeira e o PVC. Por fim, mostram-se algumas
das formas de sombreamento empregues para reduzir o efeito prejudicial da radiação solar
durante a estação de arrefecimento.
3.2 – Vidro
15
ainda mais, embora numa proporção cada vez menor. É também importante notar que os
vidros triplos e quádruplos reduzem a quantidade de radiação solar e de luz visível que os
atravessam e têm um custo superior aos vidros simples ou duplos. A comparação entre as
propriedades térmicas de um vidro simples, duplo e triplo é mostrada na Figura 3.1.
Tornando-se evidente que a introdução de panos numa janela tem um limite, não
apenas por questões físicas, mas também devido aos custos que a introdução de vários panos
implica, é possível substituir os panos do meio por películas plásticas. Com esta solução é
possível reduzir ainda mais o coeficiente de transmissão térmica e o factor solar do vidro sem
incrementar excessivamente a espessura da janela. Para além disso, este tipo de película pode
ter as características de uma película de baixa emissividade, cuja descrição se faz mais
adiante neste capítulo.
Para se conseguir as distâncias adequadas entre os panos de vidro, utilizam-se
espaçadores metálicos, normalmente em alumínio. Estes, para além de manterem os panos de
vidro separados de uma distância adequada e acomodarem tensões devidas a variações
térmicas, desempenham ainda outras funções. Os espaçadores providenciam uma barreira ao
vapor de água, evitando a formação de condensações interiores que levariam ao embaciar do
vidro.
Inicialmente, o espaço entre os panos de vidro era preenchido simplesmente com ar.
Contudo, com a necessidade de diminuir as perdas de calor ocorridas através dos
envidraçados, os espaços de ar em vidros com múltiplos panos passaram a ser preenchidos
com gases menos condutores ou mais viscosos, conseguindo-se, desta forma, tornar mais
lentas as correntes de convecção verificadas ao nível dos espaços entre panos. As correntes
de convecção, ao terem um movimento mais lento, reduzem significativamente as trocas de
calor por condução através do gás, diminuindo o valor de U para toda a janela.
Os gases correntemente utilizados para este efeito são o árgon e o crípton, sendo
também possível a sua utilização em misturas com ar. Estes gases encontram-se naturalmente
na atmosfera e são inertes, não tóxicos, não reactivos, incolores e sem cheiro. O crípton tem
um desempenho térmico melhor do que o árgon, mas também um custo de produção superior,
sendo muitas vezes utilizado quando se pretende um maior isolamento térmico com
espaçamentos entre vidros menores. Importa referir que o espaçamento ideal entre vidros com
árgon é de 12 a 13 mm [5], o mesmo do que para o ar.
A longevidade duma solução deste tipo passa pela qualidade do material isolante,
sobre o qual assentam os espaçadores metálicos, e pela qualidade de execução deste
isolamento. Com o passar dos anos é natural que se vá perdendo alguma quantidade de gás,
aumentando o valor do coeficiente de transmissão térmica em relação à solução inicial.
Estudos realizados mostram que em espaços de gás bem isolados, a perda de gás é cerca de
10% em 20 anos [5].
16
Figura 3.1 – Comparação dos valores de U, gv e τv entre um vidro simples, duplo e triplo. Os valores
apresentados foram obtidos através do programa WINDOW5 e são referentes apenas ao vidro, sem qualquer tipo de
caixilho. O valor de U é dado em W/m2oC.
17
WINDOW5 para vidros com as espessuras indicadas na Figura 3.1. Através da análise do
Quadro 3.1, consegue-se concluir que o factor solar e transmitância visível do vidro são
independentes do tipo de gás utilizado. Verifica-se, também, que o gás que conduz a um
menor valor de U é o xénon.
O vidro com controlo solar, vulgarmente designado por vidro colorido, era sobretudo
utilizado em edifícios de escritórios. Contudo, hoje em dia, é cada vez mais frequente a sua
presença em habitações construídas recentemente. Este tipo de vidro está disponível em
várias cores, sendo as mais comuns, cinza, bronze, azul e verde. No que diz respeito ao
processo de fabrico, o vidro colorido é conseguido por alteração da formulação química do
vidro normal através da introdução de aditivos inorgânicos especiais.
Os vidros coloridos reduzem o brilho da vista exterior e alteram a sua cor. Os vidros de
cor cinzenta, bronze, azul e verde são os que menos alteram a cor da vista para o exterior, daí
o facto de serem as cores mais utilizadas. A densidade da cor está relacionada com a
espessura do vidro. Estes vidros conferem também uma maior privacidade às habitações, pois
torna-se mais difícil de ver para o interior, embora à noite aconteça precisamente o contrário:
quando a claridade no interior das habitações devido à iluminação artificial é superior à do
exterior, o vidro inverte as suas características de espelho.
18
O vidro com controlo solar apresenta um menor factor solar devido à sua reduzida
transmitância solar, diminuindo a quantidade de radiação solar que passa instantaneamente
através deste para o interior das habitações. Assim, do ponto de vista da térmica dos edifícios,
a utilização deste tipo de vidro providencia um melhor desempenho do que um vidro normal
durante a estação de arrefecimento, onde é de todo benéfico reduzir os ganhos solares através
dos envidraçados. Pelo contrário, durante o Inverno, a utilização de um vidro colorido, ao
reduzir os ganhos solares, irá aumentar as necessidades de aquecimento.
Um vidro colorido, não só reduz a quantidade de radiação solar que passa através
deste, como também diminui a luz visível que o atravessa. Deste facto, resulta uma menor
claridade no interior das habitações, levando muitas vezes a um incremento em gastos com
iluminação artificial.
Contudo, a indústria deste tipo de vidro desenvolveu uma tinta de alta performance.
Esta tinta confere ao vidro uma tonalidade azul ou verde. Embora reduzindo ainda mais o factor
solar do vidro em relação aos vidros tradicionais coloridos, a transmitância visível mantém-se
bastante elevada.
Na Figura 3.2 apresenta-se a comparação de quatro vidros duplos, sendo o primeiro
deles um vidro duplo normal e os outros três também vidros duplos, mas com o pano exterior
composto por um vidro colorido, nomeadamente um vidro bronze, outro cinzento e ainda um
verde. A análise recai sobre o desempenho térmico, mostrando-se para o efeito, os valores do
coeficiente de transmissão térmica, que é semelhante em todas as soluções, do factor solar e
da transmitância visível. Os vidros bronze e cinzento apresentam desempenhos semelhantes,
reduzindo os ganhos solares e a quantidade de luz que passa para o interior das habitações. O
vidro verde consegue da mesma forma reduzir a quantidade de radiação solar que passa
através deste, embora mantendo os níveis de claridade elevados nos espaços interiores.
Importa ainda salientar que o incremento na redução dos ganhos solares para qualquer dos
três vidros coloridos é cerca de 15% para a espessura indicada.
Por fim, importa referir que em situações de reabilitação, é possível intervir ao nível de
um vidro transparente, de forma a aproximar o seu desempenho ao de um vidro colorido, sem
ser necessário a sua substituição. Embora o desempenho não seja tão bom nem passe por
uma solução tão duradoura, a aplicação de uma película colorida na face interior do vidro irá
reduzir a quantidade de ganhos solares que passará para o interior da habitação em relação a
um vidro transparente.
19
Figura 3.2 – Comparação dos valores de U, gv e τv entre um vidro duplo normal e três vidros duplos com
controlo solar. Os valores apresentados foram obtidos através do programa WINDOW5 e são referentes apenas ao
vidro, sem qualquer tipo de caixilho. O valor de U é dado em W/m2oC.
20
3.2.2 – Vidro com película de baixa emissividade
O vidro com película de baixa emissividade, como o seu nome indica, é um vidro que
apresenta uma emissividade reduzida em relação a um vidro transparente normal. A
emissividade, como descrito no capítulo anterior, é a aptidão que um dado material tem para
emitir radiação em função da temperatura a que se encontra. Assim, a colocação de uma
película de baixa emissividade num vidro convencional é capaz de reduzir a sua emissividade
de 0.84 até valores na ordem dos 0.04 [5].
O funcionamento de um vidro com película de baixa emissividade é bastante simples.
Este tipo de vidro permite a passagem da radiação com pequeno comprimento de onda e
impede a passagem da radiação com grande comprimento de onda. Ou seja, a radiação solar
(radiação de pequeno comprimento de onda) penetra nos compartimentos das habitações,
aquecendo as superfícies e os objectos presentes no interior destas. Estes, por sua vez, ao
elevarem a sua temperatura, irão emitir radiação de baixa temperatura (radiação de grande
comprimento de onda), que é impedida de sair para o exterior pela película de baixa
emissividade. Para além disto, o vidro com película de baixa emissividade possui um
coeficiente de transmissão térmica inferior ao de um vidro normal. Assim, a utilização deste tipo
de vidro durante o Inverno é bastante útil, visto reter o calor no interior das habitações,
reduzindo as necessidades de energia para aquecimento ao longo desta estação. Contudo,
durante o Verão, em algumas regiões, o vidro com película de baixa emissividade poderá levar
a situações de sobreaquecimento, pois a quantidade de radiação de baixa temperatura emitida
pelos corpos no interior das habitações será bastante superior.
Actualmente, existem películas de baixa emissividade que conseguem desempenhar
as funções descritas no parágrafo anterior e, ao mesmo tempo, reduzir a passagem da
radiação solar, diminuindo o factor solar do vão envidraçado. Este desempenho pode também
ser alcançado conjugando a película de baixa emissividade com um vidro colorido.
Na Figura 3.3 é possível comparar o desempenho de dois vidros duplos com películas
de baixa emissividade, sendo uma delas com controlo solar, com o de um vidro duplo normal.
O vidro com película de baixa emissividade vem reduzir o coeficiente de transmissão térmica,
redução esta que é superior no vidro com película de baixa emissividade com controlo solar,
incrementando assim o nível de isolamento. Em termos de redução dos ganhos solares, a
solução que passa por uma película com controlo solar é capaz de incrementar em cerca de
23% a redução destes ganhos em relação a uma película de baixa emissividade convencional.
Através da análise atenta da Figura 3.3 é ainda possível verificar que a utilização deste tipo de
películas em nada põe em causa a passagem de luz visível para o interior das habitações,
onde a redução em relação ao vidro duplo normal não chega a 10%.
21
Figura 3.3 – Comparação dos valores de U, gv e τv entre um vidro duplo normal e dois vidros duplos com
películas de baixa emissividade, uma convencional e outra com controlo solar. Os valores apresentados foram
obtidos através do programa WINDOW5 e são referentes apenas ao vidro, sem qualquer tipo de caixilho. O valor de U
é dado em W/m2oC.
22
óxido de estanho com alguns aditivos, que são depositados directamente sobre a superfície do
vidro quando esta ainda se encontra quente. A película produzida através deste processo é
resistente ao toque e apresenta uma excelente durabilidade, pelo que pode ser utilizada em
vidros com apenas um pano. A posteriori, surgiu outro processo de fabrico para as películas de
baixa emissividade, no qual a superfície do vidro, depositado numa câmara de vácuo, é
bombardeada por átomos. Neste processo, a película de baixa emissividade é constituída por
várias camadas, normalmente num número de três com pelo menos uma camada metálica. As
películas de baixa emissividade obtidas através deste processo são também conhecidas por
películas suaves, devido ao facto de serem muito pouco resistentes ao tacto. Por este motivo,
estas devem ser apenas utilizadas em janelas com mais do que um pano, devendo a película
ficar voltada para os espaços de ar no interior do vidro.
3.3 – Caixilharia
3.3.1 – Alumínio
Leve, forte, durável, não corrosivo e facilmente extrudido, o alumínio permite fabricar
caixilhos com tolerâncias dimensionais bastante reduzidas, conseguindo-se formas especiais
para inserção do vidro, de borrachas para calafetagem e de peças para corte térmico. Existem
dois processos bastante utilizados para o tratamento da superfície dos caixilhos de alumínio: a
anodização e a termolacagem. Ambos conferem ao alumínio uma elevada durabilidade com
reduzida manutenção e possibilitam a criação de janelas de várias cores, sendo muito comum
a utilização de caixilharia termolacada em branco, castanho e verde.
A grande desvantagem do alumínio, como material utilizado em caixilharia, é o facto de
este apresentar uma elevada condutibilidade térmica. Contudo, é possível melhorar bastante o
23
desempenho térmico dos caixilhos em alumínio, recorrendo para o efeito a perfis de alumínio
com ruptura da ponte térmica. Um perfil com ruptura da ponte térmica é na realidade
constituído por dois perfis independentes, unidos por peças de poliamida, garantindo-se desta
forma um melhor isolamento térmico. A utilização de caixilharia em alumínio com corte térmico,
não só melhora o desempenho térmico da janela, como evita também problemas de
condensações no interior do caixilho em regiões onde o clima é mais frio.
A colocação de perfis com corte térmico em caixilhos de alumínio reduz para cerca de
metade o coeficiente de transmissão térmica, conseguindo fazê-lo diminuir de 10.5 para 5.5
2o
W/m C.
3.3.2 – Madeira
A madeira foi dos primeiros materiais a ser utilizado no fabrico de caixilhos usados em
edifícios para habitação, pois era um material amplamente disponível na natureza e de fácil
moldagem nas diversas formas, mais ou menos complexas, requeridas para executar as
janelas. Actualmente, a utilização deste material em caixilharias tem vindo a ser abandonada,
visto ser um material com uma fraca durabilidade, susceptível de se deteriorar facilmente e
requerer uma elevada manutenção. Contudo, os caixilhos de madeira, quando bem construídos
e bem cuidados, podem atingir um período de vida bastante longo. Uma forma de aumentar a
durabilidade dos caixilhos de madeira, passa por revestir as superfícies destes com alumínio
ou PVC. Embora se esteja, desta forma, a reduzir os requisitos com a manutenção, a estética
do acabamento que a madeira confere à janela será perdida.
Do ponto de vista térmico, os caixilhos de madeira têm uma performance bastante boa,
2o
com um coeficiente U a rondar os 2.0 a 2.5 W/m C. Quanto maior for a espessura do caixilho,
maior será o isolamento térmico que este irá promover. Todavia, quando se utilizam peças de
metal para reforçar as juntas dos cantos das janelas, o desempenho térmico do caixilho de
madeira diminui.
3.3.3 – PVC
24
De uma forma similar às janelas de alumínio, os caixilhos em PVC são fabricados
através de um processo de extrusão: o material, após ser extrudido, é cortado em peças
lineares que por ajuntamento dão forma à janela. Para conferir às janelas de PVC uma boa
rigidez estrutural, as secções do caixilho são mais largas do que acontece com as janelas de
alumínio, com dimensões semelhantes às secções da caixilharia em madeira. Para além deste
cuidado que deve ser tomado em relação às secções do caixilho, se as dimensões das janelas
em PVC forem elevadas, pode ser necessário incorporar reforços de metal ou madeira.
No que diz respeito ao isolamento térmico, os caixilhos de PVC podem ser equiparados
aos caixilhos de madeira, tendo um coeficiente de transmissão térmica que ronda os 1.7
2o
W/m C. O desempenho térmico da caixilharia em PVC pode ser ainda incrementado se forem
preenchidas as cavidades ocas do caixilho com um material isolante.
Em alternativa à madeira, a indústria das janelas começou a utilizar produtos que têm
por base compósitos de madeira e que, quando comprimidos juntamente com resinas, formam
produtos bastante fortes.
Estes materiais são estáveis e dão origem a caixilhos que podem ser comparáveis com
os de madeira, excedendo mesmo por vezes os caixilhos de madeira convencional quer nas
suas propriedades estruturais, quer no seu desempenho térmico. Os materiais compósitos da
madeira apresentam ainda uma maior resistência à humidade e ao apodrecimento [5].
3.3.6 – PRFV
25
Os caixilhos em PRFV são fabricados através do processo de pultrusão e, tal como os
perfis em PVC, possuem cavidades ocas no seu interior, que podem ser preenchidas com um
material isolante, incrementando o já bom desempenho térmico deste material.
3.4.2 – Estores
26
As lamelas e guias laterais dos estores estão disponíveis no mercado em variadas
cores, possibilitando, assim, ao projectista, a escolha da solução técnica e visual que melhor se
integre nas fachadas dos edifícios.
Os estores podem ser comandados por manivela ou mecanismo eléctrico.
3.4.3 – Telas
As telas são uma excelente solução para sombrear os vãos envidraçados, protegendo
o interior das habitações da radiação solar. Podem ser aplicadas tanto pelo exterior como pelo
interior e estão disponíveis em várias cores, garantindo uma perfeita integração nas fachadas
dos edifícios. A caixa de recolha com um tamanho reduzido e a possibilidade de recolha
através de mecanismo eléctrico são algumas das vantagens deste tipo de sombreamento.
Actualmente, existem telas com filtro solar que filtram a radiação solar e reflectem
fortemente o calor. Este tipo de telas é fabricado em tecido metálico laminado, cortando a
luminosidade interior. Estas telas permitem ainda ver do interior para o exterior mesmo quando
activadas, mas impedem os olhares indiscretos para o interior.
3.4.4 – Portadas
Outro sistema para protecção solar de vãos envidraçados passa pela aplicação de
portadas com características reflectoras. As portadas podem ser aplicadas tanto pelo exterior
como pelo interior. Podem ser de vários materiais: madeira, alumínio e PVC são os mais
vulgares. Tal como para a caixilharia, estes materiais permitem um rol alargado de soluções
estéticas para as portadas.
Em termos de desempenho térmico, este tipo de protecção solar apresenta uma
importante vantagem em relação aos estores. As portadas eliminam as caixas de estores das
fachadas dos edifícios, eliminando também, desta forma, as pontes térmicas devido às caixas
de estores.
3.4.5 – Vegetação
É possível a criação de estruturas nas fachadas dos edifícios com plantas de folha
caduca, como é o caso de algumas trepadeiras [11]. Desta forma, é possível criar
sombreamento sobre os vãos envidraçados durante o Verão e permitir a entrada dos raios
solares no interior da habitação durante o Inverno.
27
28
Capítulo 4
4.1 – Introdução
29
[2]. Estas zonas agrupam concelhos do país com climas mais ou menos semelhantes onde o
comportamento térmico dos edifícios deve ser idêntico.
Figura 4.1 – Processo para projecto de vãos envidraçados. Baseado num processo apresentado em [5].
Após conhecido o clima da zona onde se desenvolve o projecto e a forma como este
irá afectar o comportamento térmico do edifício, deve-se orientar as fachadas com maior área
30
de envidraçados segundo os pontos cardeais mais favoráveis. O projectista pode nem sempre
conseguir as melhores orientações para as fachadas com maior área de envidraçados, visto
este factor depender da envolvente onde se está a implementar o edifício, mas deve ter em
conta que este critério tem uma influência no desempenho térmico de um edifício.
Em seguida, o critério que deve ser tido em conta é a área dos vãos envidraçados.
Deve ser determinada uma área ideal de envidraçados, considerando que os ganhos solares
através dos envidraçados são favoráveis durante a estação de aquecimento e prejudiciais
durante a estação de arrefecimento.
O meio de sombreamento é o critério que se segue neste processo. Os meios de
sombreamento reduzem a parcela de ganhos solares que durante a estação de arrefecimento
é prejudicial ao desempenho térmico dos edifícios. Contudo, quando são utilizados meios fixos,
como é o caso habitual de palas horizontais, é necessário avaliar o impacte que estes meios
terão ao longo do Inverno. Ao invés, os meios amovíveis, como é o caso de estores, persianas
e portadas, podem permanecer desactivados durante a estação de aquecimento de forma a
maximizar a entrada da radiação solar.
Definidos os critérios com um maior impacte no desempenho térmico dos edifícios,
deve-se escolher a constituição das janelas de entre os vários tipos de vidro e materiais de
caixilharia disponíveis no mercado.
O vidro ocupa normalmente uma grande parte da área do vão, sendo uma zona
bastante propícia a trocas de calor, não só através de ganhos solares, mas também por
condução. Assim, uma escolha acertada por parte do projectista para o tipo de vidro pode
incrementar o desempenho térmico do edifício.
Por fim, após definidos todos os critérios desde a orientação até ao tipo de vidro
aplicado nas janelas, deve ser escolhido o material da caixilharia. O material dos caixilhos é o
critério com menor impacte no desempenho térmico dos edifícios, surgindo por esta razão no
final do processo de decisão.
31
32
Capítulo 5
Metodologia de trabalho
5.1 – Introdução
33
arrefecimento, Nvc, ao longo da estação de aquecimento e da estação de arrefecimento,
respectivamente, recorrendo-se para isso a um modelo de estudo. Este modelo de estudo irá
sofrendo alterações para que se possam efectuar os diferentes estudos paramétricos.
Desta forma, será possível, comparando os valores de Nic e Nvc, verificar quais as
melhores soluções durante o Inverno e durante o Verão para a orientação dos vãos
envidraçados, área das janelas, dispositivos de sombreamento, tipos de vidro e materiais para
os caixilhos.
Por fim, será efectuada uma análise anual que permita verificar qual a solução que
apresenta o melhor desempenho térmico ao longo de um ano inteiro. Para tal, recorreu-se à
definição de necessidades nominais anuais globais de energia primária, Ntc, proposta no
RCCTE [2]. A partir dos valores obtidos para Nic e Nvc, será possível determinar as
necessidades nominais anuais globais de energia primária com recurso à expressão (5.1):
2
?@ = 0.1:?" ⁄D" <F%7" + 0.1:? ⁄D <F%7 + ?G F%7G (kgep/m .ano) (5.1)
em que o último termo desta expressão é referente à energia dispendida na produção de águas
quentes sanitárias (AQS), não sendo considerado no âmbito deste trabalho. Assim, sempre
que se mencionar o valor de Ntc ao longo deste trabalho, este engloba apenas a energia
primária dispendida em climatização. Os sistemas de aquecimento e arrefecimento ambiente
adoptados foram os preconizados pelo RCCTE para situações de projecto térmico de edifícios
em que estes não estejam especificados, nomeadamente, uma resistência eléctrica com
eficiência nominal igual a 1 (ηi = 1) para o sistema de aquecimento e uma máquina frigorífica
com eficiência nominal igual a 3 (ηv = 3) para o sistema de arrefecimento. Como estes
equipamentos funcionam ambos a electricidade, os factores de conversão entre energia útil e
energia primária para os sistemas de aquecimento e arrefecimento, Fpui e Fpuv,
respectivamente, tomam o mesmo valor igual a 0.290 kgep/kWh [2].
34
de uma forma mais ou menos rigorosa, consoante sejam mais ou menos parecidas com o
modelo de estudo utilizado neste trabalho. Assim, será possível generalizar as soluções com
melhor desempenho térmico a futuros projectos de edifícios de habitação.
Em seguida, apresenta-se o modelo de estudo com maior detalhe em alguns aspectos
que têm especial importância nas trocas de calor. Estes aspectos mantém-se inalterados ao
longo de todo o trabalho e englobam a geometria, a constituição da envolvente opaca, a taxa
de renovação do ar, os ganhos internos e a massa interna do modelo de estudo.
5.3.1 – Geometria
35
5.3.2 – Envolvente opaca
Como referido no ponto anterior, pensou-se num modelo de estudo confinado por
outras fracções autónomas, apenas com uma parede em contacto com o ambiente exterior.
Ocorrendo o mínimo possível de trocas de calor pela envolvente opaca, a compreensão das
trocas de calor que ocorrem ao nível dos envidraçados será mais fácil.
Assim, a única parede com especial interesse no âmbito deste trabalho será a fachada
onde se inserem os vãos envidraçados. Esta parede foi criada tendo em conta o valor de
referência para o U de elementos exteriores verticais em zona corrente (Quadro IX.3 do
2o
RCCTE) para uma zona climática I2, cujo valor é de 0.60 W/m C [2]. Optou-se pelo valor da
zona I2 por ser um valor intermédio.
A parede em contacto com o ambiente exterior é uma parede dupla em que quer o
pano exterior, quer o pano interior são compostos por tijolo de 11 cm rebocados numa
espessura de 1.5 cm. O espaço entre panos é constituído por uma caixa-de-ar de 2.5 cm e por
placas de poliestireno extrudido também com 2.5 cm de espessura aplicadas junto ao pano
interior. Esta solução construtiva apresenta um coeficiente de transmissão térmica de 0.61
2o
W/m C, que de acordo com o Quadro IX.1 do RCCTE é inferior ao limite máximo admissível
para este tipo de elementos opacos em qualquer zona climática.
Para a restante envolvente opaca, embora sem importância para as trocas de calor
com o restante meio envolvente ao modelo de estudo, procurou-se adoptar soluções
correntemente utilizadas. Assim, a parede de separação entre fogos é constituída por dois
panos, ambos compostos por tijolo de 9 cm e reboco numa das faces com 1.5 cm de
espessura. O espaço interior da parede encontra-se totalmente preenchido com lã de rocha,
numa espessura de 4 cm, para um bom isolamento acústico. Para a laje de separação do
modelo de estudo dos restantes fogos dos outros pisos, optou-se pela seguinte solução: uma
laje de 22 cm de betão armado, rebocada na face inferior numa espessura de 2 cm, com 5 cm
de argamassa de enchimento e cerâmica vidrada na face superior com 1 cm de espessura.
As soluções construtivas adoptadas para a envolvente opaca encontram-se
representadas nos Desenhos II e III do ANEXO I. Nestes desenhos encontram-se também
dados dos materiais utilizados que são necessários ao programa EnergyPlus, como é o caso
da condutibilidade térmica, da massa volúmica aparente e do calor específico. Estes dados
foram obtidos na publicação ITE 50 [13] do LNEC e num trabalho desenvolvido nesta área [14].
36
retirado do Quadro IV.1 do RCCTE, tendo sido necessário tomar algumas opções. Considerou-
se que o modelo de estudo se encontra entre 10 a 18 m de altura acima do solo, o que
equivale a um quarto ou quinto andar, numa região A, ou seja, a mais de 5 km da costa, e na
periferia da cidade (rugosidade II). Tomadas estas opções, concluiu-se que a classe de
exposição ao vento do modelo de estudo é do tipo 2. Após isto, considerou-se a presença de
dispositivos para admissão de ar nas fachadas, a não classificação dos caixilhos no que diz
respeito à permeabilidade ao ar e a não presença de caixas de estores sobre as janelas.
Importa chamar a atenção para duas destas considerações que foram tomadas. Em
primeiro lugar, embora a localização do modelo de estudo não seja sempre a mesma, pois
como se verá mais adiante a localização representa um dos parâmetros de análise,
considerou-se que o modelo de estudo irá estar sempre a mais de 5 km da faixa costeira,
mesmo para cidades como Lisboa e Faro. Em segundo lugar, também como se verá mais
adiante, a certa altura serão introduzidos no modelo de estudo dispositivos de sombreamento
amovíveis, que no caso de estores leva à necessidade de introduzir caixas de estores no
modelo de estudo. Contudo, como não se especifica o tipo de dispositivo, apenas que tem uma
grande capacidade reflectora e uma baixa capacidade de absorção dos raios solares, não se
considera a introdução de caixas de estores na fachada do modelo de estudo.
3
Por fim, como no programa EnergyPlus esta taxa é introduzida em m /s, foi necessário
3
multiplicar o valor de Rph pelo volume do modelo de estudo (175.07 m ) e dividir por 3600 s,
3
obtendo-se o valor de 0.0413 m /s.
37
As paredes divisórias interiores são compostas por tijolo de 11 cm rebocado em cada
face com camadas de 2 cm de reboco, tendo a parede uma espessura total de 15 cm. A
constituição destas paredes pode ser visualizada no Desenho III do ANEXO I.
Portugal está dividido, de acordo com o RCCTE, em três zonas climáticas de Inverno
(I1, I2 e I3). Cada zona climática agrupa vários concelhos do país que possuem um clima mais
ou menos semelhante. Para se estudar a influência do clima no desempenho térmico do
modelo de estudo ao longo da estação de aquecimento, colocou-se este em três regiões
diferentes, nomeadamente em Lisboa, no Porto e em Bragança, representando,
respectivamente, as zonas climáticas I1, I2 e I3.
A definição da duração da estação de aquecimento, da qual resultará o período de
simulação para obtenção das necessidades nominais de energia útil para aquecimento, foi feita
de acordo com o RCCTE. Assim, a duração da estação de aquecimento tem início no primeiro
decêndio posterior a 1 de Outubro em que, para cada localidade, a temperatura média diária é
o
inferior a 15 C e com fim no último decêndio anterior a 31 de Maio em que a referida
o
temperatura ainda é inferior a 15 C [2]. Posto isto, torna-se evidente que a duração da estação
de aquecimento irá variar consoante a localidade em que se encontra o modelo de estudo.
Com recurso ao programa EnergyPlus, reportou-se o perfil de temperaturas exteriores médias
diárias desde 1 de Outubro até 31 de Maio para as três localidades em causa. Analisando
estes perfis e de acordo com a definição de estação de aquecimento imposta no RCCTE,
determinou-se os seguintes períodos de simulação:
Lisboa – 1 de Novembro até 10 de Maio;
Porto – 1 de Outubro até 20 de Maio;
Bragança – 11 de Outubro até 31 de Maio.
38
Para a análise anual que se irá efectuar, será também necessário obter o valor de Nic
para o modelo de estudo localizado na região de Faro, pelo que se definiu da mesma forma a
duração da estação de aquecimento para esta localização:
Faro – 11 de Novembro até 30 de Abril.
Estes períodos de simulação serão introduzidos no programa EnergyPlus, como será
explicado mais adiante, no próximo capítulo.
Portugal encontra-se dividido pelo RCCTE em três zonas climáticas de Verão – V1, V2
e V3. Assim, para se avaliar a influência do zonamento climático de Verão no desempenho
térmico do modelo de estudo, simulou-se o modelo de estudo localizado em três concelhos
diferentes: Porto, Lisboa e Évora representando, respectivamente, as zonas climáticas V1, V2
e V3.
Ao contrário do que acontece para a estação de aquecimento, no Verão, a estação de
arrefecimento é definida no RCCTE como os meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro.
Desta forma, o período de simulação para obtenção das necessidades nominais de energia útil
para arrefecimento, neste estudo e em todos os restantes, foi definido como sendo o período
anual que engloba apenas estes quatro meses.
Para o estudo anual do zonamento climático, o modelo de estudo foi localizado em
Lisboa, Porto e Faro, procurando-se, desta forma, abranger as principais zonas de Portugal
Continental.
Importa referir que os dados climáticos para as diferentes zonas climáticas analisadas
são fornecidos ao programa EnergyPlus através de ficheiros que podem ser descarregados a
partir do sítio na internet do próprio programa.
Todas as simulações efectuadas para o estudo da influência do zonamento climático
para o desempenho térmico do modelo de estudo foram realizadas com os vãos envidraçados
orientados a Sul, por se tratar de uma orientação bastante relevante em termos de ganhos
solares. Optou-se também por realizar este estudo com uma área envidraçada de 30% em
relação à área total de fachada, por se considerar ser uma área apropriada para melhor
compreender as trocas de calor que ocorrem ao nível dos envidraçados. Foram também
analisadas cinco janelas (A, B, C, D e E) que possuem na sua constituição tipos de vidro e
materiais de caixilharia correntemente utilizados nos edifícios de habitação construídos hoje em
dia. A completa constituição destas janelas e de todas as outras utilizadas ao longo deste
trabalho pode ser consultada no Quadro I do ANEXO II.
5.4.2 – Orientação
39
foi realizado para uma área de janela de 30%, sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento e com recurso às janelas A, B, C, D e E.
40
capacidade de absorção da radiação solar. A sua activação acontece apenas durante a
estação de arrefecimento e foi definida para acontecer a 100% sempre que a temperatura
o
exterior seja superior a 25 C. Com o programa EnergyPlus foi traçado um perfil da temperatura
média horária exterior da região de Lisboa, local onde será realizado este estudo, e verificou-se
o
que, em média, esta é inferior a 25 C no período das 13h às 17h. A activação da protecção
solar a 100% durante este período do dia pode reduzir os níveis de iluminação natural para
valores inaceitáveis, pelo que, num estudo mais aprofundado, seria necessário ter este facto
em conta.
Durante a estação de aquecimento, não se considera a possibilidade de activação do
dispositivo amovível, pois a radiação solar é benéfica para o consumo energético dos edifícios
ao longo desta estação, pelo que apenas se avalia o efeito das palas horizontais e verticais.
Pelo contrário, durante a estação de arrefecimento, para além das palas horizontais e
verticais, é avaliado o desempenho térmico do dispositivo amovível aplicado pelo exterior e
pelo interior e ainda a conjugação das palas horizontais e verticais com o dispositivo aplicado
pelo exterior.
A análise anual foi realizada como a análise para a estação de arrefecimento, contudo
sempre que se avaliou o desempenho dum sistema amovível utilizou-se o valor de Nic sem
sombreamento.
As condições que se mantiveram de base do estudo anterior foram a localização das
simulações, ou seja, Lisboa, a área de 30% de envidraçado e as janelas analisadas (A, B, C, D
e E). Este estudo foi efectuado para todas as orientações, pois o efeito destas formas de
sombreamento depende em muito da orientação dada aos vãos envidraçados, tornando-o
assim mais abrangente.
No que diz respeito ao sistema de vidros, para além do tipo de vidro propriamente dito,
foram também analisados aspectos como, a espessura dos panos e o espaçamento e tipo de
gás presente no sistema.
Assim, para efectuar os estudos propostos, uniformizaram-se todos os outros
parâmetros, alterando-se apenas o vidro que compõe as janelas do modelo de estudo. Esta
análise foi realizada para o clima da região de Lisboa, com 30% de área de janela orientada a
Sul. Para as condições de sombreamento, foi mantido o dispositivo de sombreamento amovível
aplicado pelo exterior activado a 100% durante a estação de arrefecimento sempre que a
o
temperatura exterior é superior a 25 C. O material para os caixilhos adoptado foi o alumínio
com corte térmico com 65 mm de largura.
Os tipos de vidro analisados compreendem o vidro simples, duplo e triplo, duplo com
película de baixa emissividade e duplo com controlo solar em várias cores. As janelas que
representam estes tipos de vidro são: A´, B, C´, D´, F, G e E´, cuja completa descrição pode ser
encontrada no Quadro I do ANEXO II. A notação “´” indica que a janela apresenta o mesmo
41
sistema de vidros que o designado sem “´”, tendo-lhe sido apenas alterado o material do
caixilho.
Para se avaliar a influência da espessura dos panos de vidro no desempenho térmico
do modelo de estudo, para além da utilização da janela B, que possui vidros transparentes de 4
mm, foram criadas mais duas janelas, as janelas H e I, com vidros também transparentes, mas
com 3 e 6 mm de espessura, respectivamente.
Para se avaliar a influência da espessura e gás de preenchimento do espaço de
separação entre panos de vidro no desempenho térmico do modelo de estudo, comparou-se a
janela B, que possui um espaço entre os panos de vidro de 12 mm preenchido com ar, com
outras quatro janelas, J, K, L e M. As janelas J e K possuem espaços de ar de 10 e 14 mm,
respectivamente, enquanto as janelas L e M possuem espaçamento de 12 mm entre os panos
de vidro, preenchido com árgon e crípton, respectivamente.
Mais uma vez, aconselha-se a consulta do Quadro I do ANEXO II para uma melhor
compreensão da constituição das janelas utilizadas ao longo desta análise.
42
Capítulo 6
EnergyPlus e WINDOW5
6.1 – Introdução
O estudo proposto com a realização deste trabalho seria bastante complicado efectuar
sem a ajuda de ferramentas informáticas, sendo que o tempo necessário teria sido muito mais
elevado.
Assim, neste capítulo, para além de uma breve introdução sobre os dois programas
computacionais utilizados – o EnergyPlus [12] e o WINDOW5 [15] – serão também feitas
algumas considerações acerca da forma de obtenção dos resultados ao nível de cada um
deles.
O EnergyPlus é um programa de simulação dinâmica que permite analisar o consumo
energético dos edifícios. O WINDOW5 é um software para modelação de janelas que permite
determinar o coeficiente de transmissão térmica, o factor solar e a transmitância visível de
inúmeras soluções.
6.2 – EnergyPlus
43
realizar. Estes campos constituem o ficheiro .idf do EnergyPlus. Nem todos os campos são de
preenchimento obrigatório, por isso, em seguida, serão apenas explicados os campos
relevantes à realização deste trabalho.
44
É também neste campo que são definidos os dispositivos de protecção solar
amovíveis, com a indicação de uma série de valores, dos quais se destacam os seguintes:
transmitância solar, reflectância solar e condutibilidade. Para estes dispositivos, o EnergyPlus
dispõe de uma biblioteca em que todos os parâmetros necessários à sua completa definição
são indicados. Tal como indicado no capítulo anterior, para este trabalho adoptou-se uma
protecção solar amovível com grande capacidade reflectora e baixa capacidade de absorção
dos raios solares.
Como será explicado mais adiante, o WINDOW5 permite a criação de um ficheiro de
dados onde pode estar definido um grande número de soluções de janelas. O EnergyPlus é
capaz de ler os dados dispostos nesse ficheiro, sendo apenas necessário indicar neste campo
o mesmo nome que foi atribuído à janela no WINDOW5.
45
6.2.5 – Schedules
Neste campo é definida uma taxa de infiltração de ar no modelo a simular para que
possam ser contabilizadas as trocas de calor que ocorrem através do processo de renovação
do ar interior.
Como explicado no capítulo anterior, o valor que se determinou para a taxa de
3
infiltração de ar no modelo de estudo foi de 0.0413 m /s. Tal como aconteceu para os ganhos
internos de calor, também para a infiltração foi necessário criar um schedule com o valor 1 em
todas as horas do período de simulação. Assim, a infiltração de ar irá ocorrer de forma
constante durante o período de simulação.
46
6.2.8 – Node-Branch Management
No âmbito deste trabalho as simulações irão ocorrer em regime controlado (ver ponto
6.2.11). Para tal, é necessário definir um equipamento fictício que procede ao
aquecimento/arrefecimento do ar interior do modelo de estudo. Assim, neste campo define-se
uma lista de nós que será necessária à definição deste equipamento, tal como indicado no
manual do EnergyPlus [12].
47
indicar um schedule que faça com que a simulação se dê em regime controlado durante todo o
período de simulação.
6.2.12 – Report
6.3 – WINDOW5
48
no final calcular o valor de U, g e τv para toda a janela. Na biblioteca das janelas faz-se a
modelação da janela a partir dos vários elementos constituintes das restantes bibliotecas, como
se verá mais adiante neste ponto deste capítulo.
Com o WINDOW5, é possível exportar as janelas nele desenvolvidas para programas
de simulação dinâmica do comportamento térmico de edifícios. Assim, este programa permitiu,
de forma simples, a criação das diferentes janelas analisadas ao longo deste trabalho e
posterior exportação para o EnergyPlus.
Em seguida são apresentadas as diferentes bibliotecas que constituem o WINDOW5 e
a forma como foi possível criar as janelas apresentadas no ANEXO II ao nível de cada uma
delas.
A biblioteca de gases do WINDOW5 foi criada pela equipa que desenvolveu este
programa. É constituída por vários gases, os mais utilizados em sistemas de vidros com vários
panos, e estão divididos em dois grupos: puros ou em mistura. O grupo dos gases puros
engloba o ar, o árgon, o crípton e o xénon. No outro grupo são feitas misturas dos gases puros
em diferentes percentagens, como por exemplo, 10% de ar com 90% de árgon. Para cada gás
ou mistura são apresentados, numa vista detalhada, parâmetros, tais como, a condutividade, a
viscosidade, o calor específico e a densidade.
49
emissividade, alguns vidros duplos com controlo solar e o vidro triplo transparente. A lista
exaustiva com todos os sistemas de vidros criados para a realização das análises propostas no
capítulo anterior é apresentada no Quadro I do ANEXO II.
Esta biblioteca não foi utilizada ao longo deste trabalho, pois nunca foram analisadas
janelas com quadrícula. Contudo, esta é idêntica à Frame Library, desde os materiais
disponíveis até à forma de criação de um novo material. Salienta-se apenas a diferença de a
quadrícula poder dividir o sistema de vidros ou estar suspensa no interior do sistema.
Esta biblioteca é constituída pelas janelas criadas com o WINDOW5. Aqui conjugam-se
os materiais que constituem uma janela e que fazem parte integrante das restantes bibliotecas,
nomeadamente, o sistema de vidros e o material de caixilharia. Também aqui, atribuem-se as
50
dimensões da janela e o tipo de janela que se pretende, ou seja, uma janela sem batente ou
com batente vertical ou horizontal, entre outros tipos. Depois de se calcular os valores do
coeficiente de transmissão térmica, do factor solar e da transmitância visível para toda a janela,
esta é guardada na biblioteca para posterior consulta.
No âmbito deste trabalho foi criada uma biblioteca com todas as janelas analisadas ao
longo do próximo capítulo e que se apresentam no Quadro I do ANEXO II.
O WINDOW5 possibilita também a criação de um ficheiro de dados com as
características das janelas necessárias ao EnergyPlus. Este ficheiro pode ser lido pelo
programa EnergyPlus, já não sendo necessário, ao nível deste, definir as janelas do modelo de
estudo que se pretende analisar, o que permite uma poupança de tempo significativa. No
ANEXO III é apresentado um exemplo do conteúdo deste ficheiro para uma das janelas criadas
neste trabalho. É importante salientar que a informação fornecida ao programa EnergyPlus por
este ficheiro é feita em separado para cada uma das partes que constituem a janela. O facto de
haver dois sistemas de vidros nos dados do ficheiro deve-se às janelas analisadas serem
constituídas por um batente vertical que divide o sistema de vidros em duas partes iguais.
51
52
Capítulo 7
7.1 – Introdução
A análise realizada ao longo deste capítulo tem por objectivo avaliar a aplicação dos
critérios apresentados no Capítulo 4 no consumo energético de edifícios habitacionais,
ajudando o projectista a adoptar melhores soluções no que diz respeito aos vãos envidraçados.
Assim, começa-se por analisar os critérios que apresentam maior impacte nas
necessidades de energia útil para aquecimento e arrefecimento, terminando com os critérios
menos significativos.
O capítulo encontra-se dividido em três subcapítulos. No primeiro e segundo
subcapítulos são avaliados os diferentes critérios nas estações de aquecimento e
arrefecimento, respectivamente. Por fim, apresenta-se, no último subcapítulo, a conjugação
dos resultados obtidos anteriormente para o Inverno e para o Verão, de forma a obter-se uma
melhor percepção do comportamento de uma solução ao longo de um ano inteiro.
Nesta secção são apresentados os resultados dos estudos dos factores referidos no
Capítulo 4 ao longo da estação de aquecimento. Estes factores passam pela zona climática,
orientação, área de janela, condições de sombreamento, tipo de vidro e material de caixilharia.
53
total da fachada em contacto com o exterior, estando esta orientada a Sul. Neste estudo não foi
utilizado qualquer tipo de sombreamento, maximizando assim os ganhos solares.
Figura 7.1 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento em função da zona climática de Inverno.
Todos os casos têm a parede em contacto com o ambiente exterior orientada a Sul e uma área de 30% de janela. Em
nenhum dos casos foi utilizado qualquer dispositivo de sombreamento. As simulações foram realizadas no programa
computacional EnergyPlus.
54
Como mostra a Figura 7.1, verifica-se o incremento nas necessidades nominais de
energia útil para aquecimento conforme se desloca da zona climática I1 para a zona climática
I3, independentemente da janela utilizada. Este facto seria desde logo expectável, visto o clima
em Bragança durante o Inverno ser bastante mais severo do que o clima de Lisboa ou Porto,
com temperaturas muito mais baixas e o Sol encoberto durante períodos mais longos.
Antevendo desde já o que será estudado mais à frente neste capítulo, no ponto
referente à influência do sistema de vidros no desempenho térmico de edifícios, a Figura 7.1
evidencia, ainda, que a utilização de vidros coloridos é de todo prejudicial na estação de
aquecimento. Verifica-se que no caso de um clima mais severo, como é o caso do clima de
Bragança, uma má opção do projectista no que diz respeito ao tipo de envidraçado, pode fazer
2
aumentar em até 8 kWh/m .ano o consumo energético do modelo utilizado neste estudo.
Chama-se também a atenção para o facto de o vidro simples apresentar um melhor
desempenho térmico do que o vidro com controlo solar. Apesar da janela A apresentar um
coeficiente de transmissão térmica mais elevado, o que conduz a maiores perdas de calor, os
ganhos solares através desta janela são superiores, fazendo com que o balanço seja mais
favorável do que no caso da janela D.
7.2.2 – Orientação
A orientação dos vãos envidraçados é um importante factor que deve ser tido em conta
durante o projecto de qualquer edifício de habitação. Sendo as trocas de calor por efeito da
diferença de temperaturas entre o exterior e o interior independentes da orientação, esta terá
apenas influência nas trocas de calor ocorridas por radiação, designadamente ao nível dos
ganhos provenientes da radiação solar através dos envidraçados.
No Inverno é necessário maximizar os ganhos solares de forma a reduzir as
necessidades nominais de energia útil para aquecimento. Como é possível visualizar na Figura
7.2, as necessidades nominais de energia útil para aquecimento são mais baixas quando a
fachada em contacto com o exterior, do modelo utilizado nas simulações, se encontra orientada
a Sul. Para esta orientação, numa região com um clima como é o da região de Lisboa e para
uma área de janela de 30%, a energia que é necessário fornecer ao modelo utilizado para
o
manter a temperatura interior superior a 20 C ao longo da estação de aquecimento é
praticamente nula. Como explicado no Capítulo 2, isto acontece devido ao percurso tomado
pelo Sol ao longo do dia durante a estação de aquecimento, onde para uma fachada orientada
a Sul, a radiação solar incide directamente segundo uma direcção quase perpendicular aos
vãos envidraçados durante grande parte da manhã e início da tarde.
Em oposição, orientar a Norte uma fachada envidraçada durante o Inverno, poucas
vantagens traz, pois a radiação solar que irá incidir directamente nos vãos envidraçados será
praticamente nula.
55
Figura 7.2 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento em função da orientação. Todos os casos
têm uma área de 30% de janela e foram modelados para o clima da região de Lisboa. Em nenhum dos casos foi
utilizado qualquer dispositivo de sombreamento. As simulações foram realizadas no programa computacional
EnergyPlus.
56
Como se verifica também na Figura 7.2, as orientações Este e Oeste são piores do que
a orientação a Sul, mas melhores do que a orientação a Norte, e bastante semelhantes entre
si.
Em relação às cinco janelas utilizadas neste estudo, a que apresenta um melhor
desempenho térmico independentemente da orientação é a janela C, que possui uma película
de baixa emissividade, aproveitando ao máximo a quantidade de radiação solar quer directa
quer difusa que incide sobre esta. A janela D, que possui um vidro colorido, tem o pior
desempenho térmico para as orientações Sul, Este e Oeste, sendo ultrapassada na orientação
Norte pela janela A. Para a orientação Norte, o controlo solar da janela D não é suficiente para
tornar esta janela a pior solução, pois a quantidade de radiação solar, que para esta orientação
é apenas constituída por radiação difusa, é bastante menor, levando a que as perdas ocorridas
na janela A devido ao seu elevado coeficiente de transmissão térmica façam com que esta
janela seja pior do que a janela D.
Para analisar o impacte da área dos vãos envidraçados nas necessidades nominais de
energia útil para aquecimento, foram realizadas simulações fazendo variar a área das janelas
do modelo de estudo. As percentagens utilizadas de área de janela em relação à área total da
fachada em contacto com o exterior foram as seguintes: 0%, 15%, 30%, 45% e 60%,
interpolando-se linearmente os valores obtidos entre cada uma destas percentagens. De forma
a tornar este estudo mais abrangente, as simulações foram realizadas para cada uma das
diferentes orientações.
Os resultados obtidos estão expostos na Figura 7.3. Esta figura é composta por quatro
gráficos, um para cada orientação. De uma forma geral, pode-se dizer que o valor das
necessidades nominais de energia útil para aquecimento diminui à medida que se aumenta a
área de envidraçado. Apesar de, ao aumentar a área de envidraçado se esteja também a
aumentar as perdas de calor, pois o coeficiente de transmissão térmica da janela é superior ao
da parede, os ganhos de calor devidos à radiação solar compensam as perdas e reduzem, em
grande parte, as necessidades de energia para aquecimento. Contudo, se se observar com
atenção os valores apresentados na Figura 7.3, verifica-se que este pressuposto nem sempre
acontece. Analisa-se agora, em maior detalhe, os dados obtidos para cada orientação.
Verifica-se que, quando se orienta a fachada exterior a Norte, para a janela A, as
necessidades nominais de energia útil para aquecimento aumentam quando se aumenta a área
de envidraçado. Isto acontece devido aos seguintes factos: o coeficiente de transmissão
térmica desta janela é bastante superior ao da parede onde esta se insere e a quantidade de
radiação solar que incide de forma directa numa fachada orientada a Norte é bastante
reduzida. Assim, os ganhos solares através dos envidraçados não conseguem compensar as
perdas de calor por condução que ocorrem ao nível destes. Para a janela D, verifica-se
também um aumento da energia que é necessário fornecer à zona de estudo para mantê-la a
57
o
uma temperatura superior a 20 C quando se aumenta a área de janela, embora de uma forma
menos acentuada. Neste caso, o controlo solar proporcionado pelo vidro verde que compõe
esta janela, reduz ainda mais a já pouca radiação solar que é aproveitada pelos envidraçados
numa fachada orientada a Norte, levando assim, a que as perdas de calor pelas janelas sejam
superiores aos ganhos. Para esta orientação, visualiza-se ainda na Figura 7.3 que para a
janela B, composta por um vidro duplo transparente, a linha que representa as necessidades
nominais de energia útil para aquecimento se mantém praticamente constante, mostrando um
aumento dos ganhos solares e das perdas de calor pelos envidraçados na mesma proporção.
Para as janelas C e E, que possuem uma película de baixa emissividade e um vidro triplo,
respectivamente, as necessidades nominais de energia útil para aquecimento tendem a
diminuir com o aumento da área de janela. A janela C, devido ao efeito da película de baixa
emissividade, aproveita de uma melhor forma os ganhos solares pelos envidraçados, enquanto
que no caso da janela E, o reduzido coeficiente U desta janela leva a que as perdas de calor
não sejam tão elevadas como no caso das janelas anteriormente analisadas.
Para uma fachada orientada a Sul, como se constatou no ponto anterior deste
subcapítulo, a quantidade de radiação solar que incide nesta é bastante elevada. Assim,
analisando a Figura 7.3, verifica-se uma queda bastante abrupta nas necessidades nominais
de energia útil para aquecimento à medida que se aumenta a área de janela. Constata-se
inclusivamente, que a partir dos 30% de área de envidraçado, as necessidades de energia para
aquecimento tornam-se praticamente nulas. Para esta orientação, observa-se ainda a
sobreposição dos valores das necessidades nominais de energia útil para aquecimento
relativos às janelas A, B, C e E, evidenciando que o impacte provocado pelas diferenças nos
valores do coeficiente de transmissão térmica e factor solar é pouco significativo, devido à
elevada quantidade de radiação solar aproveitada pelos envidraçados. No caso da janela D, o
reduzido factor solar que esta solução apresenta, coloca as necessidades nominais de energia
útil para aquecimento num patamar mais elevado, tornando-se próximas do valor nulo apenas
para áreas de envidraçado de cerca de 45%.
O andamento das necessidades nominais de energia útil para aquecimento em função
da área de envidraçado ocorre de uma forma bastante semelhante para as orientações Este e
Oeste, seguindo a tendência geral: as necessidades nominais de energia útil para aquecimento
diminuem com o aumento da área de janela. Na Figura 7.3 é possível visualizar que, para
estas orientações, o desempenho das janelas A e D são semelhantes. O desempenho destas
duas janelas é pior em relação às restantes três, pois enquanto que para o caso da janela A, o
elevado coeficiente de transmissão térmica por esta apresentado leva a que as perdas de calor
por condução sejam maiores, no caso da janela D, o seu reduzido factor solar faz com que os
ganhos solares pelos vãos envidraçados sejam inferiores.
58
Figura 7.3 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento em função da área do vão envidraçado.
Resultados obtidos para diferentes orientações. Em nenhum dos casos foi utilizado qualquer dispositivo de
sombreamento. Os valores indicados para as diferentes janelas de U, g e τv, dizem respeito a vãos com dimensão
correspondente a Aj = 30%. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
59
7.2.4 – Condições de sombreamento
Norte
60
Figura 7.4 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Norte. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.5 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Norte. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
61
Sul
Este
Através duma análise atenta das Figuras 7.8 e 7.9, verifica-se que a orientação Este é
a que apresenta um maior prejuízo (a par da orientação Oeste como se verá mais à frente) no
consumo energético do modelo de estudo aquando da introdução dos meios de sombreamento
fixos. Quando se coloca apenas uma pala horizontal sobre as janelas, o incremento no valor
2
das necessidades nominais de energia útil para aquecimento ronda os 0.5 kWh/m por ano,
enquanto a colocação conjunta da pala horizontal e das palas verticais faz aumentar o valor de
2
Nic em cerca de 2.0 kWh/m por ano.
Tomando em conta estes resultados, é possível aferir que a utilização destas palas em
vãos orientados a Este, os coloca à sombra durante uma maior parte do dia, reduzindo assim
os ganhos solares, que como já referido várias vezes, é prejudicial ao longo do Inverno.
Oeste
Como foi possível verificar, quer no estudo da orientação quer no estudo da área de
janela, o modelo em causa apresentou um comportamento semelhante quando os vãos
envidraçados foram orientados a Este e a Oeste. Também neste estudo, verifica-se uma
semelhança no incremento dos valores de Nic aquando da introdução dos meios de
sombreamento fixos.
Analisando as Figuras 7.10 e 7.11, verifica-se que, tal como acontece para a orientação
Este, o incremento nas necessidades nominais de energia útil para aquecimento utilizando uma
2
pala horizontal sobre as janelas é de cerca de 0.5 kWh/m .ano, enquanto que, quando se
2
acrescentam as palas verticais, o aumento no valor de Nic ronda 2.0 kWh/m .ano.
62
Figura 7.6 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Sul. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.7 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Sul. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
63
Figura 7.8 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Este. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.9 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Este. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
64
Figura 7.10 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Oeste. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima
da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.11 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Oeste. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
65
7.2.5 – Tipo de vidro
Figura 7.12 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento para diferentes tipos de vidro.
Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
66
Como se pode visualizar na Figura 7.13, o aumento da espessura dos panos de vidro
prejudica ligeiramente o valor de Nic do modelo de estudo. Embora com o aumento da
espessura dos panos de vidro se esteja também a diminuir o coeficiente de transmissão
térmica da janela, levando a um ganho no desempenho térmico, a redução do factor solar do
vidro vem ao mesmo tempo diminuir a quantidade de ganhos solares.
Figura 7.13 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento em função da espessura dos panos de
vidro. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.14 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento para diferentes tipos de gases.
Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
67
Analisando atentamente a Figura 7.14, verifica-se que o afastamento dos panos de
vidro vem melhorar o desempenho térmico do modelo de estudo ao longo da estação de
aquecimento. A janela K, que possui um espaçamento de ar de 14 mm, apresenta um melhor
desempenho térmico do que as janelas B ou J, que possuem espaçamentos inferiores. O
coeficiente de transmissão térmica da janela K é também inferior, explicando assim o melhor
desempenho.
No que diz respeito aos gases analisados, a introdução de árgon ou crípton no sistema
de vidros vem melhorar o desempenho térmico do modelo de estudo. No caso do crípton, o
coeficiente de transmissão térmica da janela M é inferior ao das restantes janelas, fazendo com
que este gás seja preferível ao árgon.
Visto não haver praticamente diferença entre o factor solar das janelas apresentadas
na Figura 7.14, as perdas de calor por condução através dos envidraçados ditam as melhores
e piores soluções, sendo estas, no caso da janela M, mais reduzidas, o que melhora o
desempenho térmico ao longo da estação de aquecimento.
68
Figura 7.15 – Necessidades nominais de energia útil para aquecimento em função do material dos caixilhos.
Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Tal como acontece para o Inverno, Portugal está também dividido para a estação de
arrefecimento (Verão) em três zonas climáticas, V1, V2 e V3, com climas distintos. Para cada
uma destas zonas climáticas, os edifícios terão de ter soluções construtivas a nível da
envolvente e sistemas de condicionamento de ar adequados, por forma a serem mantidos os
padrões de qualidade para o conforto térmico.
Em comparação com o que foi já realizado para a estação de aquecimento, simulou-se
o modelo em estudo em três concelhos situados nas zonas climáticas de Verão. Os resultados
obtidos encontram-se expostos na Figura 7.16.
Utilizou-se para tal os municípios do Porto, Lisboa e Évora representando as zonas
climáticas de Verão V1, V2 e V3, respectivamente. Para que melhor se possa efectuar uma
comparação das três zonas climáticas, foram utilizadas cinco janelas diferentes, A, B, C, D e E,
as mesmas já utilizadas no estudo do zonamento climático de Inverno, cuja lista exaustiva com
as suas características pode ser encontrada na tabela disposta em anexo. Todas as
simulações foram realizadas com uma área de envidraçado de 30% e a parede exposta ao
69
ambiente exterior orientada a Sul. Não foram utilizados quaisquer meios de sombreamento nos
vãos envidraçados.
Figura 7.16 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento em função da zona climática de Verão.
Todos os casos têm a parede em contacto com o ambiente exterior orientada a Sul e uma área de 30% de janela. Em
nenhum dos casos foi utilizado qualquer dispositivo de sombreamento. As simulações foram realizadas no programa
computacional EnergyPlus.
70
De uma análise atenta da Figura 7.16 é possível visualizar um aumento bastante
significativo nas necessidades nominais de energia útil para arrefecimento ao passar-se do
Porto para Lisboa e uma diferença menos acentuada entre o clima de Lisboa e Évora. Isto
seria de esperar, visto Lisboa e Évora serem regiões que apresentam temperaturas
veraneantes mais elevadas do que o Porto. Espera-se assim, que as escolhas elaboradas pelo
projectista no que diz respeito ao tipo de janela e dispositivo de sombreamento numa região
como Lisboa ou Évora sejam mais cuidadas, de forma a tentar minimizar ao máximo o efeito
negativo do clima de Verão destas zonas.
7.3.2 – Orientação
71
Figura 7.17 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento em função da orientação. Todos os
casos têm uma área de 30% de janela e foram modelados para o clima da região de Lisboa. Em nenhum dos casos foi
utilizado qualquer dispositivo de sombreamento. As simulações foram realizadas no programa computacional
EnergyPlus.
72
7.3.3 – Área de janela
Para analisar o impacte da área dos vãos envidraçados nas necessidades nominais de
energia útil para arrefecimento, seguiu-se o processo já adoptado para a estação de
aquecimento. As percentagens utilizadas de área de janela em relação à área total da fachada
em contacto com o exterior foram 0%, 15%, 30%, 45% e 60%, interpolando-se linearmente os
valores obtidos entre cada uma destas percentagens. De forma a tornar este estudo mais
abrangente, as simulações foram realizadas para cada uma das diferentes orientações.
Os resultados obtidos estão expostos na Figura 7.18. Tal como a Figura 7.3, esta figura
é composta por quatro gráficos, um para cada orientação. Ao observar-se a Figura 7.18,
verifica-se que as necessidades nominais de energia útil para arrefecimento aumentam à
medida que se aumenta a área de envidraçado. Embora ao aumentar a área de envidraçado se
esteja também a aumentar as perdas de calor por condução, pois o coeficiente de transmissão
térmica da janela é superior ao da parede e a temperatura exterior média diária verificada ao
o
longo da estação de arrefecimento é inferior a 25 C, os ganhos de calor devidos à radiação
solar são bastante superiores, o que leva a que a energia necessária para manter a
o
temperatura interior inferior a 25 C aumente de forma acentuada.
Analisando-se de forma mais cuidada os resultados obtidos para as diferentes
orientações, verifica-se que a orientação Norte apresenta os menores valores para as
necessidades nominais de energia útil para arrefecimento independentemente da área de
envidraçados. Verifica-se também, que mesmo para áreas de janela de cerca de 60%, o limite
máximo permitido pelo RCCTE para a zona climática de Verão, onde se insere a região de
Lisboa, nunca é ultrapassado. Das cinco janelas utilizadas nesta análise, destaca-se, pelo bom
desempenho, a janela D, constituída por um vidro com controlo solar, capaz de reduzir o
2
consumo em cerca de 5 kWh/m .ano para uma área de 60% de envidraçados em comparação
com as restantes janelas.
Para a orientação Sul, verifica-se que as necessidades nominais de energia útil para
arrefecimento aumentam de forma mais acentuada do que para a orientação Norte. Com uma
área de envidraçado de 60%, apenas as janelas D e E, que possuem um vidro com controlo
solar e um vidro triplo, respectivamente, fazem com que o modelo de estudo cumpra o limite
2
máximo admissível de 32 kWh/m .ano.
Como se viu no estudo anterior, as orientações Este e Oeste são as que apresentam
maiores valores para as necessidades nominais de energia útil para arrefecimento. Também
nesta análise, estas orientações apresentam o pior desempenho para áreas de envidraçado
mais elevadas. É possível observar na Figura 7.18 que para uma área de envidraçado de cerca
de 45%, a grande parte das janelas analisadas já não cumpre o limite máximo admissível, Nv.
73
Figura 7.18 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento em função da área do vão envidraçado.
Resultados obtidos para diferentes orientações. Em nenhum dos casos foi utilizado qualquer dispositivo de
sombreamento. Os valores indicados para as diferentes janelas de U, g e τv, dizem respeito a vãos com dimensão
correspondente a Aj = 30%. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
74
7.3.4 – Condições de sombreamento
Norte
75
Figura 7.19 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Norte. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.20 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de meios de
sombreamento amovíveis para uma orientação Norte. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados
para o clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
76
Observa-se que a introdução de meios de sombreamento fixos no modelo de estudo
reduz de forma ligeira a quantidade de ganhos solares no interior do fogo. Comparando os
resultados apresentados nas Figuras 7.19 e 7.21, esta redução é traduzida por uma diminuição
nas necessidades nominais de energia útil para arrefecimento, sendo possível verificar que a
colocação de palas horizontais sobre as janelas reduz o valor de Nvc em cerca de 0.8
2
kWh/m .ano, e a conjugação das palas horizontais com palas verticais aumenta esta redução
2
para cerca de 2.4 kWh/m .ano.
É importante referir que para esta orientação a quantidade de radiação solar que incide
sobre os envidraçados é menor do que em qualquer outra orientação, pelo que o efeito deste
tipo de sombreamento também será menor.
Figura 7.21 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Norte. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
77
Figura 7.22 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento conjugando meios de sombreamento
amovíveis e fixos para uma orientação Norte. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima
da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Sul
78
Figura 7.23 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Sul. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.24 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de meios de
sombreamento amovíveis para uma orientação Sul. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
79
Ao contrário do que acontece para a orientação Norte, observa-se que a introdução de
meios de sombreamento fixos no modelo de estudo reduz de forma significativa as
necessidades nominais de energia útil para arrefecimento. Comparando os resultados
apresentados nas Figuras 7.23 e 7.25 e tomando como referência a janela B, esta redução é
2
de cerca de 6.7 kWh/m .ano quando se introduz palas horizontais sobre as janelas e de cerca
2
de 8.6 kWh/m .ano quando se conjuga a aplicação das palas horizontais com palas verticais.
É importante salientar que, para este caso, o desempenho dos meios de
sombreamento fixos é tão bom como o que resulta da aplicação de protecção solar amovível
pelo exterior.
Figura 7.25 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Sul. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
80
Figura 7.26 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento conjugando meios de sombreamento
amovíveis e fixos para uma orientação Sul. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Este
81
Figura 7.27 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Este. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.28 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de meios de
sombreamento amovíveis para uma orientação Este. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para
o clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
82
Comparando os resultados apresentados nas Figuras 7.27 e 7.29 e tomando como
referência a janela B, a colocação de dispositivos de sombreamento fixos reduz em cerca de
2
3.9 kWh/m .ano quando se introduz palas horizontais sobre as janelas e em cerca de 5.1
2
kWh/m .ano quando se conjuga a aplicação das palas horizontais com palas verticais.
Verifica-se que para a orientação Este, os dispositivos de sombreamento fixos
apresentam um desempenho semelhante aos das protecções solares amovíveis.
Figura 7.29 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Este. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
83
Figura 7.30 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento conjugando meios de sombreamento
amovíveis e fixos para uma orientação Este. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima
da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Oeste
84
Figura 7.31 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Oeste. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima
da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.32 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de meios de
sombreamento amovíveis para uma orientação Oeste. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados
para o clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
85
Para esta orientação, observa-se que a introdução de meios de sombreamento fixos no
modelo de estudo reduz, de forma semelhante ao que acontece para a orientação Este, as
necessidades nominais de energia útil para arrefecimento.
Comparando os resultados apresentados nas Figuras 7.31 e 7.33 e tomando como
2
referência a janela B, esta redução é de cerca de 3.7 kWh/m .ano quando se introduz palas
2
horizontais sobre as janelas e de cerca de 4.9 kWh/m .ano quando se conjuga a aplicação das
palas horizontais com palas verticais. Como se pode ver, estes valores são bastante próximos
dos verificados para a orientação Este.
Figura 7.33 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Oeste. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
86
Figura 7.34 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento conjugando meios de sombreamento
amovíveis e fixos para uma orientação Oeste. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima
da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
87
piores na transmissão do calor por condução para o exterior, nem um factor solar muito baixo,
não sendo por isso boas soluções no controlo da passagem da radiação solar para o interior. A
janela C´, a pior de todas, tem um coeficiente de transmissão térmica baixo, o que faz com que
as perdas de calor por condução através dos envidraçados sejam baixas, efeito criado pela
própria película de baixa emissividade.
Figura 7.35 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento para diferentes tipos de vidro.
Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Como se pode visualizar na Figura 7.36, o aumento da espessura dos panos de vidro
leva a uma ligeira melhoria do valor de Nvc do modelo de estudo. Embora, com o aumento da
espessura dos panos de vidro, se esteja também a diminuir o coeficiente de transmissão
térmica da janela, levando a uma perda de desempenho térmico, este facto é compensado pela
redução do factor solar da janela.
Analisando atentamente a Figura 7.37, verifica-se que o afastamento dos panos de
vidro vem prejudicar o desempenho térmico do modelo de estudo ao longo da estação de
arrefecimento. A janela J, que possui um espaçamento de ar de 10 mm, apresenta um melhor
desempenho térmico do que a B ou a K, que possuem espaçamentos maiores. O coeficiente
de transmissão térmica da janela J é também superior, explicando assim o melhor
desempenho.
88
No que diz respeito aos gases analisados, a introdução de árgon ou crípton no sistema
de vidros vem apenas prejudicar o desempenho térmico do modelo de estudo. No caso do
crípton, o coeficiente de transmissão térmica da janela M é inferior ao das restantes janelas,
fazendo com que o crípton, sob este ponto de vista, seja pior do que o árgon.
Visto não haver praticamente diferença entre o factor solar das janelas apresentadas
na Figura 7.37, as perdas de calor por condução através dos envidraçados ditam as melhores
e piores soluções, sendo estas, no caso da janela M, mais reduzidas.
Figura 7.36 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento em função da espessura dos panos de
vidro. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.37 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento para diferentes tipos de gases.
Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
89
7.3.6 – Material de caixilharia
Figura 7.38 – Necessidades nominais de energia útil para arrefecimento em função do material dos caixilhos.
Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Mais uma vez, o material de caixilhos PVC é o que apresenta um melhor desempenho
térmico, pois a janela que o detém (janela P) apresenta um factor solar mais baixo, levando a
que os ganhos solares sejam inferiores. Como se pode constatar, esta janela é também a que
apresenta um coeficiente de transmissão térmica mais baixo, fazendo com que as perdas de
calor por condução através dos vãos envidraçados sejam inferiores. Contudo, no Verão é mais
importante controlar os ganhos solares.
A madeira apresenta um desempenho bastante idêntico ao PVC. O aumento quer do
valor de g, quer do valor de U da janela O em relação à janela P, faz com que aumentem os
ganhos solares, mas também as perdas de calor por condução.
As janelas B e N, que possuem caixilhos em alumínio com e sem corte térmico,
respectivamente, são as que fazem com que o modelo de estudo apresente o pior
desempenho térmico ao longo da estação de arrefecimento. A janela N (sem corte térmico)
apresenta os maiores valores de U e g, contudo as perdas de calor por condução, que são
90
mais elevadas nesta janela, não são suficientes para compensar os maiores ganhos solares,
sendo, por isso, a janela N pior do que a janela B (com corte térmico).
Janela A B C D E
Melhor Lisboa 0.205 Lisboa 0.189 Lisboa 0.181 Faro 0.189 Lisboa 0.172
Intermédio Faro 0.240 Porto 0.206 Porto 0.191 Lisboa 0.203 Porto 0.194
Pior Porto 0.270 Faro 0.229 Faro 0.221 Porto 0.303 Faro 0.208
Quadro 7.1 – Quadro resumo com a comparação do desempenho térmico anual em função da zona climática.
As condições de simulação e as características dos vãos analisados podem ser consultadas na Figura 7.39. Os valores
de Ntc apresentados encontram-se em kgep/m2.ano.
91
Figura 7.39 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária para três regiões distintas de Portugal
Continental. Todos os casos têm a parede em contacto com o ambiente exterior orientada a Sul e uma área de 30%
de janela. Em nenhum dos casos foi utilizado qualquer dispositivo de sombreamento. As simulações foram realizadas
no programa computacional EnergyPlus.
7.4.2 – Orientação
Nos pontos 7.2.2 e 7.3.2 procedeu-se ao estudo da melhor orientação para fachadas
com vãos envidraçados ao longo do Inverno e do Verão, respectivamente. Como se verificou, a
melhor orientação para os vãos envidraçados ao longo da estação de aquecimento foi a
92
orientação Sul, enquanto que para a estação de arrefecimento, a orientação para a qual o
modelo de estudo mostrou um melhor desempenho foi a orientação Norte.
Figura 7.40 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária em função da orientação. Todos os
casos têm uma área de 30% de janela e foram modelados para o clima da região de Lisboa. Em nenhum dos casos foi
utilizado qualquer dispositivo de sombreamento. As simulações foram realizadas no programa computacional
EnergyPlus.
93
Integrando os resultados obtidos para a estação de aquecimento e arrefecimento no
estudo anual, verifica-se que a orientação Sul é melhor do que as restantes. Observando-se os
resultados da Figura 7.40, a orientação Sul faz com que o modelo de estudo apresente valores
bastante menores para as necessidades nominais de energia primária para climatização. A
orientação Norte, que é a pior orientação para os vãos envidraçados, é bastante prejudicada
pelo elevado consumo energético ao longo do Inverno, pois a quantidade de ganhos solares ao
longo desta estação é muito reduzida. Embora as orientações Este e Oeste tenham
apresentado o pior desempenho térmico ao longo da estação de arrefecimento, verifica-se que
numa análise anual estas orientações para os vãos envidraçados são ligeiramente melhores do
que a orientação Norte.
94
solar) faz com que o consumo de energia primária para climatização do modelo de estudo com
uma área de envidraçado de 60% seja substancialmente mais baixo do que para as restantes
janelas.
Figura 7.41 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária em função da área do vão
envidraçado. Resultados obtidos para diferentes orientações. Em nenhum dos casos foi utilizado qualquer dispositivo
de sombreamento. Os valores indicados para as diferentes janelas de U, g e τv, dizem respeito a vãos com dimensão
correspondente a Aj = 30%. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
95
7.4.4 – Condições de sombreamento
Figura 7.42 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Sul. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
96
Figura 7.43 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária com a utilização de meios de
sombreamento amovíveis para uma orientação Sul. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
97
Figura 7.44 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Sul. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Quando se junta o dispositivo amovível aplicado pelo exterior com a pala horizontal,
consegue-se uma melhoria no desempenho energético do modelo de estudo em relação ao
caso em que apenas se aplica a protecção amovível pelo exterior. Mais uma vez, como se
pode confirmar na Figura 7.45, a junção de palas verticais às palas horizontais vem apenas
piorar o desempenho térmico do modelo.
Chama-se a atenção para os resultados apresentados referentes à janela D, que
podem ser relativamente diferentes dos aqui discutidos, devido ao seu pior desempenho
térmico ao longo da estação de aquecimento. Por exemplo, quando se referiu que a utilização
de palas horizontais e verticais apresenta um melhor desempenho térmico do que quando não
se aplica qualquer dispositivo de sombreamento ao modelo de estudo, este pressuposto acaba
por não ser verificado no caso da janela D.
98
Figura 7.45 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária conjugando meios de sombreamento
amovíveis e fixos para uma orientação Sul. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
99
janela D´, que tem um controlo solar elevado, faz com que o modelo de estudo apresente um
valor para Ntc superior.
Figura 7.46 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária para diferentes tipos de vidro.
Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
100
Figura 7.47 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária em função da espessura dos panos de
vidro. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura 7.48 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária para diferentes tipos de gases.
Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da região de Lisboa. As simulações foram
realizadas no programa computacional EnergyPlus.
101
espaçamento entre os panos de vidro. A substituição do ar por gases menos viscosos, como é
o caso do árgon e do crípton, melhora, embora de uma forma muito reduzida, o desempenho
térmico do modelo de estudo, não havendo diferença entre os valores de Ntc para estes dois
gases.
Como se verificou nos pontos 7.2.6 e 7.3.6, quer durante a estação de aquecimento,
quer durante a estação de arrefecimento, a ordenação do material de caixilharia do melhor
para o pior desempenho é a seguinte: PVC, madeira, alumínio com corte térmico e alumínio
sem corte térmico.
Assim, a ordem de qualidade, no que diz respeito ao desempenho térmico dos
materiais para caixilharia analisados, mantém-se. Como se pode confirmar no Quadro 7.2, o
material que apresenta o melhor desempenho ao longo de um ano inteiro é o PVC. É também
possível verificar no Quadro 7.1 que o material que apresenta o pior desempenho térmico é o
alumínio, para o qual, no âmbito deste trabalho, a diferença entre possuir corte térmico ou não
é praticamente nula.
2 2 2
Janela Nic (kWh/m .ano) Nvc (kWh/m .ano) Ntc (kgep/m .ano)
B 0.282 10.495 0.110
N 0.283 10.531 0.110
O 0.275 10.208 0.107
P 0.273 10.146 0.106
Quadro 7.2 – Necessidades nominais globais anuais de energia primária em função do material utilizado nos
caixilhos. As janelas B, N, O e P utilizam vidro duplo transparente idêntico e caixilhos em alumínio c/corte térmico,
alumínio s/corte térmico, madeira e PVC, respectivamente. A completa descrição destas janelas pode ser encontrada
no ANEXO II. As simulações foram realizadas para 30% de área de janela e para uma orientação Sul, utilizando
dispositivo de sombreamento amovível aplicado pelo exterior, no clima da região de Lisboa. Recorreu-se ao programa
EnergyPlus.
102
Capítulo 8
Conclusões
103
neste trabalho e para as duas soluções apresentadas, esta redução é de cerca de 0.67
2
kgep/m .ano.
Desta forma, olhando para a larga escala da construção de edifícios de habitação que
se verifica nos dias de hoje, uma correcta definição dos vãos envidraçados pode reduzir de
uma forma bastante significativa o consumo energético dos edifícios e, com isto, alguns
problemas, como a escassez de combustíveis fósseis e as elevadas taxas de emissões de CO2
para a atmosfera.
Figura 8.1 – Comparação das necessidades nominais globais anuais de energia primária para climatização
entre duas soluções: uma boa solução e uma má solução. À esquerda apresenta-se o resultado para a solução
favorável e à direita o resultado para a solução não recomendável. Resultados obtidos no clima da região de Lisboa.
Uma das principais conclusões que se pode também retirar com a realização desta
dissertação é o facto do processo para o completo projecto dos vãos envidraçados de um
edifício, apresentado no Capítulo 4, não ser um processo simples e linear. Com a ampla
variedade de soluções disponíveis para cada critério e as muitas combinações que se podem
criar, torna-se difícil conhecer com exactidão o desempenho térmico duma fracção autónoma
para um determinado conjunto de soluções. Para além disso, a necessidade de integrar o
projecto ao nível do desempenho térmico com outros factores de decisão, como é o caso do
isolamento sonoro e da iluminação natural, faz com que a definição dos vãos envidraçados
seja ainda mais complicada. Por esta razão, deixa-se aqui em aberto a posterior realização de
estudos que visem avaliar os vãos analisados neste trabalho no que toca ao isolamento sonoro
de fachadas de edifícios e à captação de iluminação natural.
104
Importa também chamar a atenção para a relevância da utilização de programas de
simulação dinâmica como o EnergyPlus no auxílio ao projecto térmico de edifícios. Na
determinação de parâmetros térmicos relacionados com os vãos envidraçados, o programa
WINDOW5 também se mostra bastante útil, com uma vasta biblioteca de vidros, actualizada
constantemente pelos maiores fabricantes deste tipo de material. Estas ferramentas de fácil
utilização podem vir a servir de complemento à regulamentação portuguesa em vigor,
nomeadamente o RCCTE e o SCE.
Em seguida será feito uma súmula geral das conclusões que foram sendo retiradas
com a avaliação do impacte dos critérios de decisão sobre a escolha dos vãos envidraçados
para um adequado desempenho térmico dos edifícios. Aconselha-se a leitura integral do
capítulo anterior, sendo as conclusões que se apresentam em seguida fundamentadas nos
resultados aí apresentados.
Consoante o clima da região onde se está a projectar um edifício, pode ser necessário
adoptar medidas distintas no que diz respeito à completa definição dos vãos envidraçados,
desde a escolha da orientação, área, dispositivos de sombreamento, tipo de vidro e material
dos caixilhos. Desta forma, em climas mais severos do ponto de vista da térmica dos edifícios,
será possível reduzir o consumo energético para climatização das habitações.
A partir dos estudos realizados para avaliar a influência do zonamento climático no
desempenho térmico dos edifícios, é possível concluir que: as necessidades nominais de
energia útil para aquecimento aumentam quando se passa da região de Lisboa (I1) para a
região do Porto (I2) ou da região do Porto para a região de Bragança (I3) e as necessidades
nominais de energia útil para arrefecimento aumentam quando se passa da região do Porto
(V1) para a região de Évora (V3) ou da região de Évora para a região de Lisboa (V2). Pode-se
concluir ainda que numa análise anual é difícil definir com exactidão qual será o clima que
levará a um melhor desempenho térmico dos edifícios, pois este irá depender muito do tipo de
janela a adoptar. Contudo, é possível concluir que, das três regiões utilizadas no estudo anual
(Lisboa, Porto e Faro), a região de Lisboa é a que conduz ao melhor desempenho térmico para
a maioria dos vãos envidraçados.
Através deste trabalho é possível concluir que, em climas onde domina a presença de
céu limpo, a orientação Sul para os vãos envidraçados melhora em muito o desempenho
térmico dos edifícios ao longo da estação de aquecimento. Também durante o Inverno, é
possível concluir que os vãos envidraçados quando orientados a Norte fazem disparar o
consumo energético para aquecimento das habitações.
Ao longo do Verão, as orientações Este e Oeste para os vãos envidraçados mostram-
se drásticas no que respeita ao aumento do valor das necessidades nominais de energia útil
para arrefecimento. Neste caso, é a orientação Norte que apresenta o melhor desempenho
térmico.
Numa análise anual, a orientação para os vãos envidraçados que conduz ao melhor
desempenho térmico das fracções autónomas é a orientação Sul. A orientação Norte para os
105
vãos envidraçados, embora apenas ligeiramente pior do que as orientações Este e Oeste, é a
que conduz a um maior consumo de energia primária para climatização dos edifícios.
Em geral, as necessidades nominais de energia útil para aquecimento diminuem com o
aumento da área de envidraçado. Contudo, este pressuposto pode nem sempre se verificar.
Por exemplo, com os vãos envidraçados orientados a Norte pode acontecer um aumento da
energia dispendida em aquecimento com o aumento da área de janela para alguns tipos de
vidro.
No Verão, o aumento da área de janela dos edifícios leva a um aumento drástico do
consumo energético dispendido em arrefecimento do ar interior. Apenas para a orientação
Norte, este aumento não ocorre de uma forma muito acentuada, conseguindo-se valores
aceitáveis para as necessidades nominais de energia útil para arrefecimento mesmo com áreas
de envidraçado elevadas.
Numa análise anual, conclui-se que a área ideal de janela depende muito da orientação
e do tipo de vão adoptado. Para a orientação Norte, o desempenho térmico dos edifícios piora
com o aumento da área do vão envidraçado. Contudo, para as orientações Sul, Este e Oeste
verifica-se a existência de uma área de envidraçado que poderá minimizar o consumo de
energia primária dos edifícios, mas que depende do tipo de janela aplicada. No caso da
orientação Sul, para a maior parte dos vãos envidraçados, esta área ocorre para cerca de 30%
da área total de fachada, mas se o vão apresentar um vidro com controlo solar poderá ser
superior.
De uma forma geral, é possível concluir que a adopção de meios de sombreamento
dos vãos envidraçados vem reduzir o consumo energético para climatização das habitações,
embora com proporções diferentes em função da orientação solar dos vãos. Contudo, em
algumas situações, é possível que a utilização de meios de sombreamento piore o
desempenho térmico anual dos edifícios, nomeadamente quando se recorre a formas de
sombreamento fixas. A colocação de palas horizontais e verticais em elevado número ou com
dimensões desapropriadas pode fazer com que o consumo energético dos edifícios dispare
durante a estação de aquecimento, levando, desta forma, a um maior consumo de energia
primária ao longo de um ano inteiro. A aplicação de dispositivos de sombreamento amovíveis,
quer pelo interior quer pelo exterior, é uma solução que apresenta um desempenho térmico
melhor do que a utilização de meios fixos, sendo a aplicação pelo exterior a que conduz a
melhores resultados. Quando se conjuga os dois tipos de sombreamento, o desempenho
térmico dos edifícios tem tendência a ser ainda melhor, mas, mais uma vez, é necessário ter
em conta o efeito prejudicial criado pela aplicação de palas fixas ao longo da estação de
aquecimento. A aplicação destas medidas para criar sombreamento sobre os vãos
envidraçados mostra-se essencial para diminuir os resultados nefastos criados pela radiação
solar durante o Verão.
Quando se avaliam critérios, tais como, o tipo de vidro e o material para os caixilhos,
verifica-se que estes têm uma influência muito reduzida no consumo energético dos edifícios.
106
O tipo de vidro que apresenta o melhor desempenho térmico ao longo da estação de
aquecimento é sem dúvida o vidro duplo com película de baixa emissividade. Existem, porém,
outros tipos de vidro que mostram também um bom desempenho térmico ao longo desta
estação, como é o caso do vidro duplo normal e do vidro triplo. Os vidros coloridos, assim como
o vidro simples, são os tipos de vidro que levam ao pior desempenho térmico dos edifícios
durante o Inverno.
Durante o Verão acontece precisamente o contrário. Os vidros com controlo solar
apresentam o melhor desempenho térmico. Dentro deste tipo de vidro, existem várias cores
com propriedades distintas que conferem aos vidros desempenhos diferentes em termos
térmicos e de luminosidade. O tipo de vidro que confere pior desempenho térmico aos edifícios
durante o Verão é o vidro que possui na sua constituição uma película de baixa emissividade.
Numa análise anual, em climas semelhantes ao da região de Lisboa, o vidro triplo pode
levar a um bom desempenho térmico dos edifícios. Para além deste tipo de vidro, os vidros
duplos, normal ou com película de baixa emissividade, são também boas alternativas que
conduzem igualmente a um bom desempenho térmico. Já os vidros com controlo solar
originam um maior consumo de energia primária para climatização, devido ao seu fraco
desempenho térmico ao longo do Inverno.
Ao longo do Inverno, o aumento da espessura dos panos de vidro, embora de forma
muito reduzida, faz aumentar as necessidades nominais de energia útil para aquecimento.
Pelo contrário, no Verão, o aumento da espessura dos panos de vidro melhora o
desempenho térmico das fracções autónomas. Contudo, este aumento verificado ao longo do
Verão não é suficiente para compensar a perda de desempenho térmico verificada no Inverno,
pelo que numa análise anual constata-se uma perda de desempenho térmico dos edifícios com
o aumento da espessura dos panos de vidro, embora muito reduzida.
Durante a estação de aquecimento, o aumento do espaçamento entre os panos de
vidro, assim como a substituição do ar por gases menos viscosos, como é o caso do árgon ou
do crípton, são medidas que vêm melhorar o desempenho térmico dos edifícios. Pelo contrário,
no Verão, medidas como estas pioram, embora de forma muito ligeira, o desempenho térmico
dos edifícios. Numa análise anual, conclui-se que a alteração do espaçamento entre os panos
de vidro em nada influencia o desempenho térmico dos edifícios de habitação. Também a
utilização de árgon ou crípton não apresenta qualquer diferença, embora estes gases menos
viscosos conduzam a um menor consumo de energia primária para climatização do que o ar
quando se está a efectuar uma análise anual.
No caso dos materiais para caixilharia, a ordem do melhor para o pior material no que
diz respeito ao desempenho térmico é a mesma, quer durante a estação de aquecimento, quer
durante a estação de arrefecimento. Assim, o melhor material é o PVC, seguido da madeira,
que apresenta um desempenho térmico bastante semelhante. O material mais desfavorável do
ponto de vista térmico para os caixilhos é sem dúvida o alumínio, tendo um desempenho
térmico anual praticamente idêntico quer apresente ou não corte térmico.
107
Os vãos envidraçados constituem uma parte da envolvente dos edifícios com especial
importância no desempenho térmico destes. Por esta razão, é relevante estabelecer critérios
de avaliação do impacte dos vãos nesse desempenho. Este trabalho representou, desta forma,
um contributo para um melhor conhecimento dos factores que influenciam o desempenho
térmico dos vãos envidraçados.
108
Referências bibliográficas
[1] Perdigoto, J., Portugal Eficiência 2015 – Plano de Eficiência Energética nos Edifícios em
Portugal, Seminário CYTED, INETI, Lisboa, Outubro de 2008.
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Performance Buildings, W. W. Norton & Company, New York, 2004.
[7] Lopes, N. V., Reabilitação de Caixilharias de Madeira em Edifícios do Século XIX e Início do
Século XX – Do Restauro à Selecção Exigencial de uma Nova Caixilharia: o Estudo do Caso
da Habitação Corrente Portuense, FEUP, Porto, Dezembro de 2006.
[8] Moret Rodrigues, A.; Canha da Piedade, A.; Braga, A. M., Térmica de Edifícios, Edições
Orion, Lisboa, Março de 2009.
[9] Ordem dos Arquitectos, A green Vitruvius: princípios e práticas de projecto para uma
arquitectura sustentável, Ordem dos Arquitectos, Lisboa, 2001.
[11] Lanham, A.; Gama, P.; Braz, R., Arquitectura Bioclimática – Perspectivas de inovação e
futuro, IST, Lisboa, Junho de 2004.
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Department of Energy, USA, Abril de 2004.
[13] Pina dos Santos, C. A.; Matias, L., ITE 50 – Coeficientes de transmissão térmica de
elementos da envolvente dos edifícios. Versão actualizada 2006. LNEC, Lisboa, 2008.
[14] Chvatal, K. M., Relação entre o Nível de Isolamento Térmico da Envolvente dos Edifícios e
o Potencial de Sobreaquecimento no Verão, FEUP, Porto, 2006.
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Technologies Department; Lawrence Berkeley National Laboratory, Window 5.0 User Manual –
For Analyzing Window Thermal Performance, LBNL, USA, Novembro de 2001.
[16] Energy System Research Unit, ESP-r System for Building Energy Simulation, University of
Srathclyde, Energy System Research Unit, Glasgow, 2002.
[17] Lawrence Berkeley National Laboratory, DOE-2, LBNL, University of California, USA.
[18] Solar Energy Laboratory, TRNSYS version 17, Solar Energy Laboratory, USA, Abril de
2010.
Sites consultados
NOTAS:
i. Os valores das propriedades relacionadas com a energia para toda a janela,
apresentados ao longo do Quadro I, foram determinados para janelas com 1.55 x 2.00
m, correspondendo a uma área de janela de 30%. Estes valores variam ligeiramente
em função do tamanho da janela e podem ser consultados no quadro seguinte.
ii. Em janelas de vidro duplo ou triplo, os vidros encontram-se numerados por ordem
crescente do exterior para o interior da zona de estudo.
Quadro II – Variações ocorridas nas propriedades relacionadas com a energia para as diferentes áreas de
janela.
ANEXO III
EnergyPlus e WINDOW5
Figura I – Interface do programa EnergyPlus. Nesta janela, para além de ser possível escolher o ficheiro .idf com a
informação acerca do modelo de estudo que se pretende simular, e o ficheiro .epw com os dados climáticos, é aqui que
se dá ordem para executar a simulação.
Figura II – Interface do editor do ficheiro .idf do EnergyPlus. Este editor permite a criação do ficheiro .idf através do
preenchimento de uma grande variedade de campos. O ficheiro .idf contém toda a informação sobre o modelo de
estudo e a simulação que se pretende realizar.
Figura III – Interface gráfica do programa WINDOW5 – Glass Library. Nesta figura é possível visualizar a biblioteca
de vidros do WINDOW5 que é actualizada constantemente pelos maiores produtores mundiais deste tipo de material.
Figura IV – Interface gráfica do programa WINDOW5 – Window Library. Vista detalhada de uma das janelas da
biblioteca criada no âmbito deste trabalho (janela B). Aqui define-se o sistema de vidros e o material do caixilho, e
calculam-se os parâmetros U, g e τv para toda a janela.
Ficheiro criado pelo WINDOW5 com a informação necessária ao programa EnergyPlus
para definição das janelas utilizadas nas simulações (exemplo da janela B)
ANEXO IV
Resultados de simulações
Influência dos dispositivos de sombreamento – orientação Norte
Figura I – Necessidades nominais anuais globais de energia primária sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Norte. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura II – Necessidades nominais anuais globais de energia primária com a utilização de meios de
sombreamento amovíveis para uma orientação Norte. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados
para o clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura III – Necessidades nominais anuais globais de energia primária com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Norte. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura IV – Necessidades nominais anuais globais de energia primária conjugando meios de sombreamento
amovíveis e fixos para uma orientação Norte. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima
da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Influência dos dispositivos de sombreamento – orientação Este
Figura V – Necessidades nominais anuais globais de energia primária sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Este. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima da
região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura VI – Necessidades nominais anuais globais de energia primária com a utilização de meios de
sombreamento amovíveis para uma orientação Este. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para
o clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura VII – Necessidades nominais anuais globais de energia primária com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Este. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura VIII – Necessidades nominais anuais globais de energia primária conjugando meios de sombreamento
amovíveis e fixos para uma orientação Este. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima
da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Influência dos dispositivos de sombreamento – orientação Oeste
Figura IX – Necessidades nominais anuais globais de energia primária sem a utilização de qualquer tipo de
sombreamento para uma orientação Oeste. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima
da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura X – Necessidades nominais anuais globais de energia primária com a utilização de meios de
sombreamento amovíveis para uma orientação Oeste. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados
para o clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura XI – Necessidades nominais anuais globais de energia primária com a utilização de meios de
sombreamento fixos para uma orientação Oeste. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o
clima da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.
Figura XII – Necessidades nominais anuais globais de energia primária conjugando meios de sombreamento
amovíveis e fixos para uma orientação Oeste. Resultados para uma área de 30% de janela, modelados para o clima
da região de Lisboa. As simulações foram realizadas no programa computacional EnergyPlus.