Você está na página 1de 2

Resenha

Teoria das Mídias Digitais – Linguagens, Ambientes


e Redes
MARTINO, Luis Mauro Sa.Teorias das mídia Digitais. Linguagens, ambientes e redes. Petropólis, Vozes: 2014.

POR_Nadini Lopes1

A idade contemporânea abrange o fortalecimento Livingstone, Richard Dawkins, Clay Shirky, Harold
das pesquisas sobre as teorias da comunicação que Innis, Dominique Wolton, Andrew Keen, Derrick
buscam compreender a relação entre o homem e as de Kerckhove, Stig Hjvard, Manuel Castells, Sherry203
inovações tecnológicas. Essas, por sua vez, permitem Turkle e Joshua Meyrowitz.
a troca de informações entre os indivíduos. O autor congrega pensadores, em sua maioria es-
Com o surgimento da internet novas configu- trangeiros, e escolhe esse recorte não pela ausência
rações de comunicação nascem e transformam os de pesquisas de brasileiros nesse âmbito, mas justa-
meios do homem se relacionar. A ideia da troca co- mente pelo número excessivo de trabalhos que mere-
municacional – que prevê a interação com a mensa- cem uma ampla abordagem.
gem emitida – pode ser considerada uma das prin- Um outro ponto levantando por ele é quanto ao
cipais características dessa era, também conhecida escopo da obra. Para explicar a pluralidade das mí-
como pós-moderna. dias digitais, que caminham imersas em um cenário
Seguindo este percurso histórico o autor Luís de diversidade, o autor não confronta as teorias abor-
Mauro Sá Martino apresenta em seu livro Teoria das dadas, mas sim, apresenta suas características.
Mídias Digitais – Linguagens, Ambientes e Redes Um quadro conceitual é oferecido logo nas pri-
um panorama sobre o universo da comunicação e meiras páginas para que o leitor possa se aprofundar
sua transferência para os bits, bytes e pixels do mun- nas discussões. O conceito básico de cyber, origina-
do digital. dos por Norbert Wiener, apresenta ao leitor a noção
A migração da comunicação para uma nova plata- original do termo “cibernética” em que a relação en-
forma é explicada pelo autor através do mapeamento tre informação, comunicação e controle dos sistemas
das teorias da cibercultura e – por conta disso – evo- específicos para a área pudessem ser convergentes. A
ca os princípios de autores como, por exemplo, Pierre importância do controle do sistema e a importância
Lévy. do feedback – somado ao modelo clássico de comu-
A obra relaciona autores estrangeiros que são nicação aristotélico – demonstram o leitor engati-
referências nos temas cultura digital, internet e mí- nhando em meio a conceitos que resultam na com-
dias digitais como Paul Baran, Henry Jenkins, Sonia preensão do sentido de ruído e na importância do

1 Professora do Curso de Comunicação Social da Fiam-Faam.

PA R Á G R A F O . JA N . / J U N . 2 0 15
V. 1, N . 3 ( 2 0 15 ) I S S N : 2 3 17- 4 9 19
entendimento da mensagem. gamers e a importância dos espaços sociais ocupados
Ao citar Lévy o autor caminha, quase que crono- por eles. Sendo assim essa forma de cultura vincula-
logicamente, o percurso que liga o feedback à noção da à prática social também resultavam em relações de
de interconexão. Tanto quanto na teoria cibernética parcerias e amizade entre os participantes.
a importância dos saberes do homem estendidos em Outra transposição, observada por Luís Mauro,
um universo virtual trazem a ligação tecnológica ao diz respeito ao fliperama das décadas de 50 e 60 aos
mesmo nível de importância da conexão física. compartilhamentos online que, com a internet, utili-
Universos e redes virtuais são criados o tempo zam os computadores como suportes digitais. Além
todo e – embora o autor não cite o nome de nenhuma disso, os games possuem narrativas que, primordial-
rede social visando não temporalizar os escritos – é mente, podem ter sido criadas para outras mídias,
fácil transpor os modelos descritos ao que se observa mas que se desenvolveram nessa plataforma.
na virtualidade atual. A partir das contribuições do pesquisador fran-
Nesse ponto é possível traçar um paralelo com a cês, Dominique Wolton, ainda existe a problemati-
“Teoria da Proximidade” de Human e Lane para ana- zação do estabelecimento das relações entre os seres
lisar as diferentes construções das relações humanas. humanos. Wolton retoma a diferença entre os con-
A pesquisa dos autores observou – após abordagem ceitos de informação – que presume a simples troca
qualitativa de relações distantes que se mantinham de dados – e comunicação, que prevê a compreensão
via internet e email – que a qualidade dos relacio- da mensagem emitida.
namentos reais migrando para o mundo digital era O pesquisador francês descreve a comunicação
consideravelmente menor do que a relação com as como uma relação que envolve a existência do outro.
pessoas diretamente conhecidas no mundo virtual. É Para ele as tecnologias da informação podem permi-
como se fosse possível utilizar o conceito de transmí- tir o acesso a este outro o que, não necessariamente,
dia ao universo do homem em que o texto transposto presume a construção de relações de comunicação.
seria a relação, real ou virtual, e o que mudaria seria a A obra de Luís Mauro Sá não debate somente a
escrita desse texto. A diferença é que o texto real mi- formação das redes e dos novos ambientes comuni-
204 gra para a virtualidade e o virtual surge e se mantém cacionais intermediados pela tecnologia, mas sim,
nessa plataforma. a utilização das linguagens em uma nova forma de
O livro tematiza conceitos que perpassam as no- se relacionar. Construindo pontes entre o simulacro
vidades dos smartphones, tablets e computadores em virtual e o mundo real que coexistem e se apoiam
um mundo que nunca se desconecta. Para isso o au- simbioticamente sem trazer à tona a dicotomia dos
tor retoma o conceito de espaço público, a ideia de nostálgicos dos meios de comunicação de massa ver-
mediação, linguagem e caminha de McLuhan com “o sus as maravilhas da era digital.
meio é a mensagem” à Derrick de Kerckhove com a
compreensão da tecnologia como extensão do corpo Luís Mauro Sá Martino é Graduado em Comunica-
humano. ção Social pela Faculdade Cásper Líbero (1998), com
Para cada tema escolhido pelo autor é possível Mestrado (2001) e Doutorado (2004) em Ciências
analisar o seu surgimento e atualizações. A partir de Sociais pela PUC-SP. Pós-Doutorado na School of
contraposições observa-se, por exemplo, a transfor- Political, Social and International Studies na Univer-
mação do conceito de esfera pública e suas limitações sity of East Anglia, na Inglaterra (2008-2009). Profes-
na virtualidade, bem como a formação dos novos sor do PPG em Comunicação da Faculdade Casper
ambientes comunicacionais, a cultura no mundo di- Líbero. Editor da Revista Líbero, é membro do corpo
gital e como tudo passa a ser mediado, observado e de pareceristas das revistas CoMTempo, Comunica-
compartilhado através da internet. ção Midiática (Unesp), Comunicação, Mídia e Con-
Um ponto que se destaca é a aproximação dos ga- sumo (ESPM). É também professor no curso de Mú-
mes e das narrativas conectadas com o nascimento sica da Faculdade Cantareira. Coordenador do GT
dos primeiros estudos dos jogos eletrônicos na déca- Epistemologia da Comunicação da Compós.
da de 90. O autor exalta os sentidos iniciais das pes-
quisas sobre o assunto e a relação com a violência a Outras obras do autor: “The Mediatization of Reli-
que as crianças seriam induzidas. gion” (Ashgate, 2013), “Teoria da Comunicação”
Porém a partir dos anos 2000 foi possível observar (Vozes, 2009), “Comunicação e Identidade” (Paulus,
uma mudança de ponto de vista. O autor acende o 2010), “Mídia e Poder Simbólico” (Paulus, 2003), “O
debate sobre o repertório cultural criado pelos jovens habitus na Comunicação” (Paulus, 2003).

PA R Á G R A F O . J A N . /J U N . 2 0 15
V. 1, N . 3 ( 2 0 15 ) I S S N : 2 3 17- 4 9 19

Você também pode gostar