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28/05/2019 Não há uma política realmente europeia, afirma analista - 28/05/2019 - Mundo - Folha

BREXIT (HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/ESPECIAL/2019/BREXIT)

Não há uma política realmente europeia, afirma


analista
Pesquisadora espanhola diz que eleições do Parlamento europeu servem para
referendar governos nacionais

28.mai.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/05/28/)

Lucas Neves

PARIS As eleições (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/05/eleicoes-na-uniao-europeia-testam-vitalidade-


do-bloco.shtml) que acabam de ampliar a bancada de ultradireita

(https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/05/extrema-direita-vence-eleicao-para-parlamento-europeu-na-franca-diz-

no Parlamento Europeu e de quebrar a hegemonia de dois blocos


pesquisa.shtml)

moderados tiveram sua importância “anabolizada” pelos partidos


tradicionais para instilar medo e provocar uma corrida dos eleitores às
urnas.

A análise é da espanhola Camino Mortera-Martinez, do think tank Centro


para Reforma Europeia. Para ela, ainda que o avanço dos radicais preocupe,
o mote da “votação do fim do mundo” oferece a socialistas e liberais uma
cortina de fumaça que escamoteia ameaças mais profundas ao projeto
europeu, como a governança da zona do euro ou a gestão dos reflexos da
crise migratória de 2015.

De toda forma, diz Mortera, os ultraconservadores tropeçarão nos próprios


pés, dada a provável dificuldade em chegar a consensos internos e o papel
reduzido do Parlamento Europeu nos rumos do continente.

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Na entrevista a seguir, a pesquisadora fala ainda sobre a falta de clareza das


ações da União Europeia e sobre o reequilíbrio de forças dentro do consórcio
com a prometida saída britânica (https://www1.folha.uol.com.br/especial/2019/brexit/).

Como o avanço do nacionalpopulismo afeta o projeto europeu de paz,


prosperidade e defesa da democracia?

Não compro a ideia de que estas eleições foram as mais decisivas [desde que
se começou a votar para o Parlamento Europeu, em 1979] e de que
estávamos diante de um confronto entre pró-europeus e uma grande ameaça
populista pronta a virar tudo do avesso. Essa narrativa convém aos liberais e
socialistas.

O movimento preocupa, mas é útil para partidos tradicionais exagerarem os


riscos.

Há uma crise existencial maior, uma busca de redefinição do sentido da UE.


Tem a ver com a forma como a zona do euro é gerenciada. Está ligada
também à crise migratória de 2015 e aos atos terroristas dos últimos anos, e
ainda a uma tendência global ao nativismo.

A União Europeia de fato vai ter de se reinventar nos próximos cinco anos,
mas é sobretudo por falhas anteriores, não pelo crescimento da bancada
populista no Parlamento.

Mas esse grupo de ultradireita, agora ampliado, não pode sabotar


deliberadamente o funcionamento da União Europeia?

A influência do Parlamento Europeu na definição das políticas do bloco é


grande, mas há outros atores mais importantes. E esses radicais vão ter
muita dificuldade em encontrar pontos de interseção entre si, se quiserem
mesmo destruir tudo por dentro. Talvez nem fiquem todos no mesmo grupo
parlamentar.

Quando o frenesi da eleição ficar para trás e entrarmos na “vida real” da


discussão política, vai ser difícil eles bloquearem planos que tenham apoio

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do Partido Popular Europeu (centro-direita), dos socialistas e dos liberais.

O debate nesta eleição parecia sempre atrelado a questões nacionais.


Existe ou já existiu uma discussão política real em nível europeu?

Nunca existiu um grande debate europeu e acho improvável que surja neste
momento histórico, quando se vê uma retração à esfera nacional em vez de
um aceno ao multilateralismo.

Há muita desinformação quando se trata de União Europeia. Pouca gente


entende como ela funciona, poucos políticos conseguem traduzir sua forma
de operar. Então todos se esquivam do tema.

Essas eleições acabam sendo referendos de meio de mandato, votos de


confiança ou desconfiança em governos.

Como a saída do Reino Unido, se de fato acontecer, pode redefinir o


equilíbrio de poder dentro da União Europeia?

O Reino Unido serviu para contrabalançar o eixo França-Alemanha por ser


uma potência econômica e militar.

A Holanda tem buscado ocupar esse vácuo anglo-saxão, mas é um país


pequeno, então precisará de parceiros. Poderia se aliar à Espanha, por
exemplo? Depende da área.

Em termos de gestão da zona do euro, estão em polos opostos, ainda mais


agora que o governo da Espanha é socialista.

Os holandeses vão se aliar ora com os franceses, ora com países bálticos
como Estônia e Letônia, que são mais assertivos na necessidade de reformar
a zona do euro, ora com a Alemanha, para assuntos ligados à imigração.

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