“Pra ser bom, é preciso sentir raiva da mediocridade” (Filipe Ret)
TEMA | A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO AO CINEMA NO BRASIL
Em 1988, Ulysses Guimarães promulgou a Carta Magna e estabeleceu que
o acesso à cultura deveria ser garantido a todos. Entretanto, a ineficiente democratização do cinema mostra que a promessa de Guimarães está distante de ser a realidade no cotidiano moderno. Com efeito, a efetiva inclusão cinematográfica passa pela oferta de cinemas em locais marginalizados e de filmes adaptados a pessoas com deficiência.
Em primeiro plano, a falta de acesso às grandes telas evidencia que alguns
municípios brasileiros sofrem com um problema histórico e cruel: a invisibilidade. Esse fenômeno, descrito pela filósofa Simone de Beauvoir, diz respeito à indiferença com a qual populações marginalizadas são tratadas. Ora, a exclusão e a invisibilidade denunciadas por Beauvoir se estendem ao cinema, já que substancial parcela dos brasileiros tem dificuldade de usufruir dessa importante manifestação cultural. Assim, não é razoável que, mesmo no século XXI, o acesso a esse importante bem cultural não seja, de fato, democratizado.
Sob outra análise, o cinema não se resume a entretenimento: antes, é uma
importante manifestação cultural, que, todavia, exclui sobretudo a população cega e surda. Nesse viés, Aristóteles desenvolveu o conceito de Isonomia, relacionado à capacidade de os indivíduos se adaptarem às necessidades dos outros, o que não ocorre com o cinema no Brasil, haja vista a falta de condições audiovisuais isonômicas capazes de atender a pessoas com deficiência visual e auditiva. Dessa forma, enquanto não houver a real democratização da produção cinematográfica, os cegos e os surdos não terão o pleno direito à cultura, garantido por Ulysses Guimarães.
Para garantir, portanto, a democratização do acesso ao cinema, o
Ministério da Cultura deve levar sessões a municípios que não disponham desse bem cultural, por meio da implementação de cinemas itinerantes e gratuitos, a fim de levar os filmes a locais invisibilizados. O ANCINE, por sua vez, precisa solicitar que a indústria cinematográfica disponibilize recursos audiovisuais inclusivos a cegos e a surdos, como audiodescrição e intérpretes de libras, que complementem a compreensão daqueles que não enxergam e que não escutam. Essa iniciativa teria a finalidade de promover a disseminação isonômica das grandes telas, de modo que “Coringa” e “Vingadores” sejam acessíveis, de fato, a todos. Professor Vinícius Oliveira