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REDAÇÃO MODELO DO VINÍCIUS | ENEM 2019

“Pra ser bom, é preciso sentir raiva da mediocridade” (Filipe Ret)

TEMA | A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO AO CINEMA NO BRASIL

Em 1988, Ulysses Guimarães promulgou a Carta Magna e estabeleceu que


o acesso à cultura deveria ser garantido a todos. Entretanto, a ineficiente
democratização do cinema mostra que a promessa de Guimarães está distante de
ser a realidade no cotidiano moderno. Com efeito, a efetiva inclusão
cinematográfica passa pela oferta de cinemas em locais marginalizados e de filmes
adaptados a pessoas com deficiência.

Em primeiro plano, a falta de acesso às grandes telas evidencia que alguns


municípios brasileiros sofrem com um problema histórico e cruel: a invisibilidade.
Esse fenômeno, descrito pela filósofa Simone de Beauvoir, diz respeito à
indiferença com a qual populações marginalizadas são tratadas. Ora, a exclusão e a
invisibilidade denunciadas por Beauvoir se estendem ao cinema, já que substancial
parcela dos brasileiros tem dificuldade de usufruir dessa importante manifestação
cultural. Assim, não é razoável que, mesmo no século XXI, o acesso a esse
importante bem cultural não seja, de fato, democratizado.

Sob outra análise, o cinema não se resume a entretenimento: antes, é uma


importante manifestação cultural, que, todavia, exclui sobretudo a população cega
e surda. Nesse viés, Aristóteles desenvolveu o conceito de Isonomia, relacionado à
capacidade de os indivíduos se adaptarem às necessidades dos outros, o que não
ocorre com o cinema no Brasil, haja vista a falta de condições audiovisuais
isonômicas capazes de atender a pessoas com deficiência visual e auditiva. Dessa
forma, enquanto não houver a real democratização da produção cinematográfica,
os cegos e os surdos não terão o pleno direito à cultura, garantido por Ulysses
Guimarães.

Para garantir, portanto, a democratização do acesso ao cinema, o


Ministério da Cultura deve levar sessões a municípios que não disponham desse
bem cultural, por meio da implementação de cinemas itinerantes e gratuitos, a fim
de levar os filmes a locais invisibilizados. O ANCINE, por sua vez, precisa solicitar
que a indústria cinematográfica disponibilize recursos audiovisuais inclusivos a
cegos e a surdos, como audiodescrição e intérpretes de libras, que complementem
a compreensão daqueles que não enxergam e que não escutam. Essa iniciativa teria
a finalidade de promover a disseminação isonômica das grandes telas, de modo
que “Coringa” e “Vingadores” sejam acessíveis, de fato, a todos.
Professor Vinícius Oliveira

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