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Curso História do Brasil I – Aula 3: Hebe Mattos e Von Passo 2: Sentidos do “Colonial” e da “Escravidão” nas

Martius obra das historiografia

OBJETIVO DE MATTOS: HISTORIAR O LUGAR DA Nos anos de 1840 e 1850: História do presente –
ESCRAVIDÃO NA HISTORIOGRAFIA DO BRASIL Varnhagen e Capistrano
COLONIAL. O QUE FOI PRODUZIDO SOBRE ESCRAVIDÃO IHGB
NA COLÔNIA AO LONGO DO TEMPO? Nos anos 1840/1850 surgem as interpretações que se
Vai rastrear sentidos do “colonial” e da “escravidão” consolidariam sobre colônia: 1838 Nasce o IHGB. Uma
em cada momento da historiografia. nação independente precisava de uma história, de uma
ORIGEM, de um NASCIMENTO.

Passo 1: A “Operação historiográfica” - nomes, Projetos do IHGB:


conceitos e recortes temporais – frutos de escolha. 1) Gênese de Nação, inserindo-a numa tradição de
civilização e progresso (unir o velho e o novo).
PRIMEIRO ARGUMENTO: a expressão Brasil Colonial, 2) Integrar diferentes regiões do Brasil sob Estado
consagrada pela historiografia, é produto da 3) Analisar o Brasil como DESDOBRAMENTO DE UMA
emergência do país como Estado Nacional e teve CIVILIZAÇÃO BRANCA E EUROPÉIA.
consequências na Historiografia.
Estavam sob a proteção do imperador, recebiam verbas
Silvia Lara implode a concepção de “colônia como uma do Estado Imperial.
unidade temporal, espacial e social”. “América
Portuguesa Varnhagen
História Geral do Brasil [1854] – 1ª mais profissional
CRÍTICOS: “Colônia” → apaga diversidade existente no feita no Brasil [havia as estrangeiras – History of Brazil
território. Multiplicidade de relações sociais, – Southey – TRADUZIDO EM 1869] – Coleta
econômicas, etc. documentos.

Cabe ao historiador: Fugir da visão retrospectiva – História-memória: suporte da identidade nacional.


com categorias criadas a posteriori. História INSTITUCIONAL

Recorte temporal → artificial - 1500-1822 reforça essa Para ele, nacionalidade brasileira era filha direta da
noção. Como foi construído: Pelos relatos presença portuguesa enraizada na América
quinhentistas sobre o DESCOBRIMENTO.
Pouco falou de escravidão. Reconhecia bens e males
PERIODIZAÇÃO QUE ENFATIZA ADMINISTRAÇÃO vindos da África e do cativeiro (técnicas agrícolas, por
POLÍTICA – um recorte possível, mas não único. exemplo, x males indecorosos).

Antes de Varnhagen: obras de estrangeiros – History of


ARGUMENTO: Expressão “América portuguesa” é tão
Brazil, de Southey, por exemplo. Falavam mais da
retrospectivo quanto. Impossível ignorar outros atores
escravidão que compêndios brasileiros. (EXOTISMO)
(outros países, populações nativas) presentes no
Atlântico e no território que será o Brasil.
Pessimista quanto a possiblidade de civilizar índios.
Considerava exaltação dos indígenas injusta com
Conclusão importante de Mattos: a própria construção
colonizadores. Sujeitos da história: homem branco +
de tais noções (nomenclaturas, datas, recortes)
Estado Imperial
constituem-se como objetos da história. Não são
dados naturais.
ESCRAVIDÃO É QUESTÃO DO TEMPO PRESENTE
A expressão “Brasil colonial” – traz embutida uma
operação historiográfica: a reação metrópole-colônia. Escravidão: vista do ponto de vista do TRABALHO (e
não aspecto culturalista/Martius).
Muito dessa operação historiográfica se deve aos
estudos e interpretações construídas no século XIX, na Tenta fazer “gênese” da dependência da escravidão –
construção da nação, de uma identidade nacional. oriunda de uma “tradição romana” (base jurídica),
guerra justa e resgate. Defesa do escravismo em
determinadas situações históricas.
Religiosos: escravidão africana para proteger COLONIZAÇÃO E ESCRAVIDÃO NA PRIMEIRA METADE
populações nativas. Culpa do tráfico – jesuítas que se DO XX: OLHARES ESTRANGEIROS
opuseram à escravização indígena.
Usa panoramas historiográficos feitos por estrangeiros
Argumento: abordagem institucional interligada entre (Hauser) no começo do XX – valorizam figuras como
escravidão indígena e africana construíram a base de Freyre, ignoram Nina Rodrigues.
um primeiro saber histórico sobre escravidão no Brasil.
Pesquisa histórica nas primeiras décadas do XX –
Capistrano de Abreu – Capítulos (1907) constituiu monumento às fontes de época sobre
período colonial. “Memória erudita da nação”.
Resgatou obra de Varnhagen, com críticas e elogios
P.55 – citação. Discurso documental sobre ocupação de terras, povos
indígenas, ação missionária, guerras coloniais, tratados
Também deu pouca atenção à escravidão. Cunho mais e limites, movimentos precursores da independência.
culturalista. Quer fazer história “íntima” do Brasil, o
que lhe é peculiar. Tendência de TOMAR O PASSADO COMO PLATAFORMA
PARA FUTURO – interpretações sobre a “formação do
CITAR: Uso do adjetivo “colonial” (p55): o país”.
desbravamento das terras americanas, a adaptação ao
meio, a mistura com povos nativos eram os elementos Nas obras históricas: reedição de Varnhagen e
de transformação da colônia portuguesa em um novo Capistrano; influência da geografia e da psicologia
tipo de sociedade. social;

Ou seja: NO PROCESSO COLONIZAR – MISTURA, ESCRAVIDÃO:


DESBRAVAMENTO SURGIA O BRASILEIRO (“caráter 1 - Visões que reforçam caráter institucional e
nacional” – clima + indígena) socioeconômico da escravidão. Atenção especial aos
volumes e valores do comércio de escravizados;
Mestiçagem aparecerá como “especificidade
nacional”, a ser valorizada (diferente de Varnhagen – 2 – Caráter doce atribuído à escravidão – influência do
NÃO A VÊ SÓ PARA BRANQUEAMENTO) 58 africano; doçura do temperamento nacional – volume
de alforrias, auto-compras, relativa tolerância com
ESCRAVIDÃO: Também a tratou do ponto de vista folclore negro, inclusive dentro da igreja; uso do nome
institucional, vista como simples continuidade da dos senhores pelos escravos; GILBERTO FREYRE –
estratificação socio jurídica portuguesa (56). LUSOTROPICALISMO

Escrevendo poucos anos depois da Abolição, lida com a DOÇURA – RACISMO INTERIORIZADO.
escravidão como um FATO, não justifica ou condena.
Fato demográfico, jurídico e econômico. Colonização e escravidão na historiografia brasileira:
mudanças de paradigmas
FAZ PSICOLOGIA VÍVIDA DOS DIFERENTES POVOS
FORMADORES DA NÃO EM DIÁLOGO COM 1951: Sérgio Buarque de Holanda – “O pensamento
CIENTIFICISMO. Mestiçagem racial + cultural histórico no Brasil nos últimos 50 anos” – artigo no
Correio da Manhã.
ARGUMENTO CENTRAL: Numa comparação com
Enfatizou abordagem culturalista de Freyre – x racismo
Varnhagen, se diferencia ao tentar entender o
científico; FRANS BOAS;
“SENTIDO DA COLONIZAÇÃO” (60) – Não é
simplesmente o desejo de formar uma “nova Lusitânia”
Caio Prado Jr. – Formação do Brasil Contemporâneo
(gostaram da terra, etc) – SENTIDO DE EXPOLIAÇÃO.
(1942); Sistema de exploração comercial – plantation,
Leu Antonil para isso. “Ganhar fortuna”. Noção de um
escravidão;
sistema colonial a partir de 1750 a 1808. (60-61)
Balanço - CENTRAL:
ARGUMENTO: Importante frisar que escravidão apenas Primeiros tempos (Varnhagen e Capistrano): colonial
indiretamente se apresentava como elemento se expressava na constituição do território nacional,
importante nessa interpretação formulada. Não criação de uma nova sociedade.
recebia destaque analítico (61).
Escravidão – vista até então do ponto de vista Influência: história serial francesa e história social
institucional e econômico. A ação escrava ainda não inglesa (Thompson)
era um campo historiográfico.
História colonial foi um dos campos que mais se
Nos anos 1960/70: mudança nos paradigmas das renovaram; História da escravidão novos rumos;
ciências sociais – no Brasil, contexto de grande
efervescência política e social. Stuart Schwartz: investe na história indígena,
ultrapassa fronteiras do Brasil colonial; aborda história
Explicações estruturalistas – marxistas – “modelo da escravidão;
econômico” – “modos de produção” que explicam a
sociedade. Ao final HEBE SE PERGUNTA: QUAL O PAPEL DA
HISTÓRIA SOCIAL PARA REPENSAR ESCRAVIDÃO NO
ARGUMENTO HEBE: Explicações monolíticas dos anos BRASIL?
1940/50 – prenderam o mundo chamado colonial no
binômio “Casa Grande & Senzala”. [Freyre e Caio Novas questões, novas fontes.
Prado]
1 – Lançaram luz sobre diversidade econômica da
1959: Formação econômica do Brasil, Celso Furtado. sociedade escravista – formas camponesas, mercado
Ciclos econômicos + sentido da colonização. interno, disseminação do acesso ao trabalho escravo
(modo pulverizado da escravidão – Stuart Schwartz);
ESCRAVIDÃO: Da sociologia viria a maior contribuição
para análise da escravidão – denúncia da violência 2 – Novas construções sobre nexo colonial – tiram peso
(Escola Sociológica Paulista – FHC, Florestan Fernandes; excessivo da predominância da produção de
Debate com Freyre, denúncia da violência genocida. exportação sobre demais setores e quase inexistência
Dados do tráfico ganham dentralidade. DENÚNCIA do mercado interno; (Manolo Florentino e João
POLÍTICA. Fragoso mostraram poder dos comerciantes sediados
na colônia)
COLONIA: NEXO DA CASA GRANDE & SENZALA SE
MANTEVE – eixo da vida econômica e cultural do Brasil 3 – Desterritorialização da história do Brasil – África,
colônia. Sentido da colonização. Atlântico Sul;

Mas estudos marxistas mais ortodoxos – privilegiavam 4 – Rompimento do paradigma Metrópole-Colônia –


estrutura fundiária ao tema da escravidão. Diferença: incertezas presentes no processo de construção das
Caio Prado e ERIC Williams, Capitalismo e escravidão sociedades coloniais.
(1944).
5 – História da família escrava, do protagonismo
1979: FERNANDO NOVAIS: Portugal e Brasil na crise do escravo; contestação do argumento de ANOMIA x
antigo sistema colonial – processo de renovação Agência escrava;
historiográfica. Ênfase não na especificidade das
sociedades coloniais, mas no próprio CAPITALISMO e 6 – Novos entendimentos sobre concepções próprias
sua dinâmica internacional. do Antigo Regime e da história do Direito;

Ciro Cardoso: Surgem estudos AFRO-AMERICANOS; 7 – Tema do acesso à alforria e mobilidade social dos
sociedades coloniais com suas ESPECIFICIDADES E NÃO livres de cor e trânsitos identitários;
APENAS “QUINTAL DA EUROPA”.

CONCLUSÃO: Contudo, pesquisas continuavam


concentradas no XVIII e XIX.
Desenvolvimento recente da historiografia da
escravidão e as interpretações do período colonial no
Brasil

Historiografia do final dos anos de 1970 e anos de 1980


(redemocratização, centenário da Abolição, força dos
movimentos sociais)
VON MARTIUS 453 – A RAÇA AFRICANA
IHGB: Em 1840, fará um concurso. Vitória: Karl Philipp 455 - EQUILÍBRIO ENTRE DIVERSIDADE E UNIDADE
Von Martius – “Como se deve escrever a história do (províncias).
Brasil”, publicada na revista 1845. 456 – história E patriotismo/ monarquia. União como
progresso.
Von Martius vem para o Brasil com comissão artística
que acompanhou a Imperatriz Leopoldina [1817].
Durante quase dois anos percorreu com Spix o centro,
leste, nordeste, Amazonia, colhendo materiais.
Trabalhos de botânica.

Von Martius: “programa filosófico-metodológico”


Definiu as linhas mestras de um projeto histórico para
garantir uma IDENTIDADE AO BRASIL. Projeto de
interpretação do Brasil que se arraigou nas elites e na
população brasileira.

Lançou alicerces do MITO DA DEMOCRACIA RACIAL


BRASILEIRA. Identidade deveria ser buscada no que
mais singulariza o Brasil: a MESCLA DE RAÇAS. História
do Brasil tem PORTUGUÊS como MOTOR essencial.

Dará ênfase à história dos INDÍGENAS. Será breve


quanto ao NEGRO.

Historiador deverá fazer história da UNIDADE


BRASILEIRA. Apesar da variedade de usos, costumes,
climas, regiões, raças, deverá enfatizar a UNIDADE.

BRASIL UNIDO, MONÁRQUICO, CRISTÃO


Para Martius, o estabelecimento da Corte fez surgir em
todos um sentimento de patriotismo.

Texto de Martius:
Brasil país do futuro – “que tanto promete” (441)

Resultado de uma mescla – 3 raças (motor Português)



Miscigenação como algo comum na história. 442

Predominância branca: sangue português é o rio


caudaloso que absorve. (443). Conselhos ao
historiador.
Índios: ruína de povos antigos – busca unidade com
outros povos americanos (língua). “Quadro deplorável”
(444).

Português: Descobriram – “aventura”. Comércio como


lógica (colonização e seus motivos – 448)

Dar atenção ao período colonial – COMÉRCIO – e ao


tráfico - 454 (“história mais global”) – 449

452 – IMPÕE LÓGICAS DO XIX PARA ENTENDER QUAIS


SÃO AS FONTES E TEMAS PARA ESTUDO.

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