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SERVIÇO PÚBLICO ESTADUAL

PUBLICAÇÃO DA DECISÃO
DO ACÓRDÃO Processo nº E-04/077.121/2011

No D.O. 04 / 08 / 2017 Data: 25/01/2011 Fls: ______


Governo do Estado do Rio de Janeiro
Fls.: 05 Rubrica:_______________ ID: 42832756
Secretaria de Estado de Fazenda e
Planejamento
Conselho de Contribuintes

Sessão de 25 de julho de 2017 PRIMEIRA CÂMARA

RECURSO Nº - 45.615 ACÓRDÃO Nº 16.247

C. P. F. Nº - 180.020.727-15

RECORRENTE - BERNARDO MOREIRA GARCEZ NETO

RECORRIDA – JUNTA DE REVISÃO FISCAL

RELATOR – CONSELHEIRO JOSÉ AUGUSTO DI GIORGIO

DECLARAÇÃO DE VOTO – CONSELHEIRO PAULO EDUARDO DE


NAZARETH MESQUITA

Participaram do julgamento os Conselheiros José Augusto Di Giorgio, Paulo


Eduardo de Nazareth Mesquita, Antonio Silva Duarte e Marcos dos Santos
Ferreira.

ITD – RENUNCIA À PROPRIEDADE IMÓVEL


– NÃO INCIDÊNCIA.
Na forma do que dispõe o art. 7 da Lei 7.174/15
– o imposto não incide:
I – quando houver renuncia pura e simples à
herança ou ao legado, sem ressalva ou
condição, desde que o renunciante não indique
beneficiário ou tenha praticado ato que
demonstre aceitação.
Recurso Voluntário PROVIDO.

RELATÓRIO

Adoto o Relatório da douta Representação da Fazenda, que


transcrevo e passo a ler:
Trata-se de Recurso Voluntário interposto contra decisão que
julgou parcialmente procedente a Guia de Controle do ITD nº 4.64.562901-4,
referente a renuncia da propriedade.
Em sede de impugnação, fls. 02/09, o ora Recorrente alegou que
o imóvel recebido por herança em 1987, se encontra invadido por terceiros e por
ato unilateral renunciou à propriedade, tratando-se de caso de não incidência do
imposto.
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A Junta de Revisão Fiscal, fls. 22/23, solicitou diligência para que


fosse juntada certidão do Registro de Imóveis e que o fiscal autuante justificasse
o lançamento em face dos adquirentes, Juntada às fls. 25/26.
O lançamento foi julgado procedente, fls. 28-31, ressalvado a
necessidade de retificação da guia do ITD identificada erroneamente como
renuncia à herança e não como doação.
Apresentado o Recurso Voluntário as fls. 35/45. Manifestação da
Representação da Fazenda pelo desprovimento do recurso, fl. 47. A quarta
Câmara deste E. Conselho de Contribuintes, fls. 55/97, julgou nula a decisão de
Primeira instância tendo em vista que julgou procedente o lançamento e indicou
que houve erro no mesmo, merecendo retificação.
A guia de cobrança do imposto retificada foi juntada à fl. 63.
Apresentada nova impugnação, fls. 70//; 77, reiterando os
argumentos já apresentados e alegando que o valor adotado pelo fisco não
corresponde a fração do imóvel, mas a todo o bem, e não corresponde ao valor
de mercado do mesmo, requerendo a realização de perícia.
Auditor tributário às fls. 88/90 requerendo fosse juntadas foros do
imóvel, nos termos da Resolução nº 210/2009, e que o recorrente apresente laudo
de avaliação do imóvel, § 1º, art. 104, do Decreto nº 2.473/79.
O contribuinte foi intimado a apresentasse fotos do imóvel e laudo
do assistente técnico, requereu dilação de prazo, mas não cumpriu o solicitado.
Assim, a JRF fls. 108/11, converteu o julgamento em diligência para que fosse
elaborado laudo por parte da Fazenda.
Parecer técnico juntado às fls. 115/123.
A Junta de Revisão Fiscal, fls. 126/132, julgou parcialmente
procedente o lançamento, determinando a utilização como valor de mercado do
bem a quantia de R$ 104.292,37, valor considerado inicialmente e menor do que
o apurado pelo perito, bem como a correção para que conste que a parte
transferida do bem para um quinto.
Julgado improcedente o Recurso de Ofício, fl. 143, nos termos do
Parecer da Representação da Fazenda de fl. 140.
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Apresentação do Recurso Voluntário As fls. 147/157.


Em complemento, acrescento que a douta Representação da
Fazenda, através do parecer de fls. 154/157, opina pelo Provimento do Recurso
para julgar improcedente a Guia de controle de ITD nº 4.64.562901-4.
É o relatório

VOTO DO RELATOR

Como se depreendo dos autos, o Recorrente através de Escritura


Pública de Renuncia de Propriedade, lavrada em 21 de dezembro de 2010,
renunciou à propriedade dos apartamentos 101 e 201 situados na Rua Marechal
Aguiar nº 95, em São Cristóvão e dos apartamentos 101 e 201 do prédio 95,
fundos da mesma rua. Fls. 17/20.
A renúncia do referido bem teve origem no fato de ter sido o
mesmo invadido por terceiros deixando de ter qualquer valia ou utilidade para o
Recorrente.
Diante de tal fato, pretendendo ficar livre das obrigações civis e
fiscais sobre a propriedade, de forma absolutamente técnica eficiente e jurídica,
buscou a formalização da renuncia através de escritura publica, que é a forma
evidente de perda da propriedade, nos termos do disposto no artigo 1.275, II do
Código Civil,
Ocorre que para fazer a averbação pertinente, o Cartório de
Registro de Imóveis exigiu a apresentação do comprovante de pagamento ou
exoneração (isenção, imunidade ou não incidência) do ITD. Ocorre que ao invés
do comprovante de exoneração, foi emitida Guia de Lançamento com exigência
de imposto e encargos moratórios como se houvesse renuncia à herança n favor
de Zilda Garcez Munhoz e outros, demais coproprietários do imóvel.
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Diante de tal fato o Recorrente apresentou impugnação à Guia de


Lançamento em questão, expondo o seu entendimento de que a renuncia pura e
simples à propriedade, tal como no caso em questão, não se equipara a doação.
Em julgamento a Junta de Revisão Fiscal, foi anulada a Guia de
Lançamento e, em cumprimento àquela decisão foi emitida nova Guia de
lançamento.
Apresentada nova impugnação, a JRF julgou procedente em parte
a impugnação ao acolher o pedido subsidiário segundo o qual a base de cálculo
estipulada não estava adequada, mas que ainda assim, a renuncia do Recorrente
caracterizara doação aos demais condôminos por força do artigo 1.316, §§ 1º e 2º
do Código Civil.
Com efeito, a renuncia da propriedade de imóvel é possível,
quando a coisa não interessar a seu dono, por força do que dispõe o artigo 1.275,
II do Código Civil. Que trata da perda da propriedade pela renuncia.

Art. 1.275 – Além das causas consideradas nesse Código, perde-


se a propriedade:
I- por alienação;
II- pela renuncia;
III- por abandono;
IV- por perecimento a coisa;
V- por desapropriação.

Entretanto, efetivação da renuncia se faz necessária a lavratura


de escritura publica para sua formalização nos termos do artigo 108 do mesmo
diploma legal supracitado, exigindo-se o seu registro no Cartório do Registro de
Imóveis competente para eficácia definitiva, o que foi observado e atendido
plenamente pelo Recorrente.
Destarte, quando não houver renuncia pura e simples à herança
ou ao legado, sem ressalva ou condição, desde que o renunciante não indique
beneficiário ou tenha praticado ato que demonstre aceitação, não há que se falar
em incidência do ITD, por força inclusive da Lei 7.174/15.
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Art. 7 – O imposto não incide:


I – quando houver renuncia pura e simples à herança ou ao legado, sem
ressalva ou condição, desde que o renunciante não indique beneficiário
ou tenha praticado ato que demonstre aceitação.

Destarte, assiste razão a douta Representação da Fazenda, que


através de seu parecer de fls. 154/156. Opina pelo provimento do Recurso
Voluntário do Sujeito Passivo para julgar improcedente a Guia de controle de ITD
nº 4.64.562901-4.
Pelo exposto, dou PROVIMENTO ao Recurso Voluntário do
Sujeito Passivo para julgar IMPROCEDENTE a Guia de controle de ITD nº
4.64.562901-4.
É o meu voto.

CONSELHEIRO PAULO EDUARDO DE NAZARETH MESQUITA


DECLARAÇÃO DE VOTO

Peço vênias ao Ilustre Relator para discordar de seu bem


fundamentado voto, pois entendo que o mesmo dispositivo legal utilizado como
base do seu entendimento serve para sustentar o entendimento diametralmente
oposto, com o qual me filio.

Senão, vejamos o que dispõe o art. 7º da Lei 7.174/15:

Art. 7 – O imposto não incide:


I – quando houver renuncia pura e simples à herança ou ao legado, sem
ressalva ou condição, desde que o renunciante não indique
beneficiário ou tenha praticado ato que demonstre aceitação.

Ora, no presente caso, contrariamente ao disposto no artigo


acima transcrito, é incontroverso que o imóvel objeto da renúncia é fruto de
herança, ocorrida em 1987, do qual o Recorrente recebeu 1/5 da propriedade,
tendo havido plena aceitação da mesma, tanto que, agora, tal propriedade é
objeto de renúncia.
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Observe-se, por outro lado, que o presente caso trata de imóvel


em condomínio, sendo certo que a simples renúncia de um dos proprietários,
mesmo que não direcionada a nenhuma pessoa em particular, tem como
consequência necessária que os 4 (quatro) herdeiros restantes passarão a ter o
seu quinhão aumentado, visto que não se tem notícia de que os demais herdeiros
tenham, igualmente, renunciado à propriedade do imóvel.

O fato de o imóvel estar supostamente ocupado por terceiros e


indisponível para uso dos herdeiros não é condição prevista em Lei como
geradora de efeitos tributários no âmbito do ITD, até mesmo porque tal situação
de fato poderia, em tese, ser revertida no futuro, pelos meios próprios disponíveis
no ordenamento jurídico.

Dessa forma, entendo correta a decisão recorrida, a qual deixou


claro que:

“Ocorre que a propriedade do referido imóvel, conforme certidão, é


exercida em condomínio pelo impugnante e outras cinco pessoas.
Nesta situação, de acordo com o artigo 13161, parágrafos 1º e 2º, do
Código Civil, a renúncia efetuada pelo impugnante favorecerá os
demais proprietários, transferindo-lhes a parte daquele que renunciou.
Assim, verifica-se que o que ocorre é uma transmissão gratuita da
propriedade imóvel o que, nos termos do artigo 1°, § 1°2, da Lei
1.427/1989, considera-se doação, atraindo, desta forma, a incidência do
imposto.”.

Importante assinalar que, no mesmo sentido, já se manifestou o


Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, embora em situação
ligeiramente diversa:

1
Art. 1316 - Pode o condômino eximir-se do pagamento das despesas e dívidas, renunciando à parte ideal.
§ 1° - Se os demais condôminos assumem as despesas e as dívidas, a renúncia lhes aproveita, adquirindo a parte
ideal de quem renunciou, na proporção dos pagamentos que fizerem.
§ 2° - Se não há condômino que faça os pagamentos, a coisa comum será dividida.
2
Art. 1º - O Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e por Doação, de Quaisquer Bens ou Direitos, tem como fato
gerador: [...]
§ 1º - Para efeito deste artigo, considera-se doação qualquer ato ou fato não oneroso que importe ou se resolva em
transmissão de bens ou direitos. [...]
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AGRAVO INOMINADO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ACEITAÇÃO


TÁCITA DA HERANÇA E POSTERIOR RENÚNCIA EM FAVOR DO
MONTE. NATUREZA DE CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS.
INCIDÊNCIA DO IMPOSTO RESPECTIVO. Tratam os autos de Agravo
Inominado interposto contra a decisão monocrática desta Des. Relatora
que, com base no art. 557, caput, do CPC, negou seguimento ao
recurso de agravo de instrumento interposto pela ora Agravante, que se
insurgia contra decisão que reconheceu que a renúncia ao monte
partível manifestada nos autos não é abdicativa, mas sim translativa,
pelo que deverá incidir o imposto devido (ITD). A decisão recorrida foi
proferida com justo e perfeito amparo no art. 557 do CPC, restando
claro que logrou apontar com ampla suficiência todos os fundamentos
que levaram à negativa de seguimento do recurso interposto pela ora
recorrente. Considerando a irrevogabilidade do ato de aceitação da
herança (art. 1.812 do Código Civil), se o herdeiro que inicialmente
a aceitou (ainda que tacitamente) se desfaz, quatros anos após, do
seu quinhão em favor do monte, beneficia os co-herdeiros, o que
configura cessão de direito hereditários, fato gerador do tributo
respectivo. Decisão que se mantém. RECURSO DESPROVIDO –
Agravo de Instrumento 2008.002.28510 - DES. ELISABETE FILIZZOLA
- Julgamento: 05/11/2008 - SEGUNDA CAMARA CIVEL

Por outro lado, o principal argumento do Recorrente, de que o ato


em questão corresponderia a uma renúncia unilateral de seu direito patrimonial
sobre o imóvel, nos termos do artigo 1275, II3, do Código Civil, e que, dessa
forma, o bem se tornaria vago, suscetível de arrecadação pelo Município, nos
termos do art. 1276, do Código Civil, não se sustenta, conforme pode ser
deduzido da simples leitura do art. 1276, in verbis:

Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a


intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não
encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem
vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do
Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições.

Ora, não só o imóvel em tela tem outros 4 (quatro) proprietários


em condomínio, como está, segundo informado pelo próprio Recorrente, na posse
de outrem, que supostamente o invadiram.
Logo, não há que se falar em “bem vago”, ou na “ausência de
beneficiários da renúncia”, restando descaracterizada, portanto, qualquer hipótese

3
Art. 1275 - Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade: [...]
II - pela renúncia; [...]
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que pudesse levar à conclusão de que a renúncia em tela não teria natureza
jurídica de doação, e, consequentemente, fica robustecida, ainda mais, a
incidência do ITD sobre o ato em debate.
Isto posto, voto pelo DESPROVIMENTO do Recurso Voluntário,
para julgar procedente a exigência do ITD.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos em que é Recorrente a


BERNARDO MOREIRA GARCEZ NETO e Recorrida a JUNTA DE REVISÃO
FISCAL.
Acorda a PRIMEIRA CÂMARA do Conselho de Contribuintes do
Estado do Rio de Janeiro, por maioria de votos, dar provimento ao recurso, nos
termos do voto do Conselheiro Relator. Vencido o Conselheiro Paulo Eduardo de
Nazareth Mesquita, que negou provimento ao recurso, protestando por
Declaração de Voto.
PRIMEIRA CÂMARA do Conselho de Contribuintes do Estado do
Rio de Janeiro, em 25 de julho de 2017.

JOSÉ AUGUSTO DI GIORGIO


RELATOR

PAULO EDUARDO DE NAZARETH MESQUITA


DECLARAÇÃO DE VOTO

MARCOS DOS SANTOS FERREIRA


PRESIDENTE
/LBF/

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