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TAYLOR, C. et al. Multiculturalismo: examinando a política de reconhecimento.

Lisboa: Instituto Piaget, 1994.

Segundo o dicionário Aurélio, o multiculturalismo é o mesmo que pluralismo


cultural, que designa a existência de muitas culturas numa região, cidade ou país,
convivendo de maneira pacífica no mesmo ambiente. Esse é um contexto social que está
diretamente relacionado com a globalização e as sociedades pós-modernas.
O Multiculturalismo tem suas raízes inseridas nas áreas de Antropologia,
Educação e Sociologia. Estas ciências, por terem uma base comum, como o estudo do
homem e suas significações de grupo, constroem suas reflexões próximas umas das
outras.
Entendendo a importância do seu estudo, suas correntes e a importância de suas
bases para os estudos da nossa sociedade, Charles Taylor um dos mais importantes
filósofos contemporâneos estabelece uma relação entre a autenticidade e
multiculturalismo envolve elementos fundamentais da sociedade contemporânea, como
a formação das identidades, a política do reconhecimento, e a comunicação de massa.
Na obra sobre a política do reconhecimento Taylor analisa a política de igual
dignidade exposta pelo Liberalismo tradicional, o autor baseado em outros expositores
incluídos em sua obra, descreve que princípios fundamentais de dignidade e igualdade
devem ser concernentes às ideias de respeito à diversidade e no reconhecimento
adequado, conceitos essas que para o autor se firmam em um novo conceito de
liberalismo.
Para Taylor, a política de igual dignidade baseia-se na ideia de que todas as
pessoas são igualmente dignas de respeito. Fundamenta-se numa noção sobre o que leva
os seres humanos a sentirem respeito, por mais que tentemos escapar dessa experiência.
Nessa corrente política não há relativização de direitos individuais em prol de grupos
diferenciados ou mesmo minorias em desvantagens, ou seja, ignora as diferenças entre
os grupos e indivíduos para prezar pelo tratamento igualitário.
Para compreender os sentidos dessa política baseada na moral, Taylor cita
Rousseau nos seus estudos, parafraseando Rousseau Taylor, aborda que “a nossa
salvação moral está na recuperação do contacto moral autêntico conosco mesmos”.
Mais adiante Taylor cita que Rousseau até dá um nome a este tipo de contacto íntimo,
mais fundamental do que qualquer outro conceito moral, e que e fonte de tanta alegria e
satisfação é o sentimento de satisfação ou autenticidade.
Sobre essa linha de ideal de autenticidade, dentre várias correntes, o autor cita
Herber, que de maneira globalizada, enxerga o ser humano em constituir sua própria
medida.
Esta trata-se de uma ideia que ganhou raízes profundas na consciência moderna.
No contexto histórico, antes do final do século XVIII, ninguém havia pensado que as
diferenças entre seres humanos pudessem assumir este tipo de importância moral.
Existe uma determinada maneira de vontade e individualidade que cerca o ser humano,
é partir desse principio, que cada um constrói a sua própria medida.
Baseado nessa fase surge então às ideias do Princípio da originalidade, baseado
nas ideias de que todos os seres humanos tem um pensamento único, ou seja, cada um
de nós tem uma voz interior que emana nossas potencialidades nos conduzindo a um
caminho, nos conscientizando daquilo que devemos realizar conosco e com os outros.
Esta autenticidade, assimilada a ideia de dignidade, revelando que o indivíduo
pode ser moldado pela posição social em que está inserido, e que as coisas podem ser
limitadas até mesmo pelo seu determinado nascimento, porém com o advento da
democracia, os indivíduos começam a conquistar autonomia na construção de suas
identidades.
Taylor enfatiza que essa construção de identidade não acontece de forma
monológica, ou seja, não ocorre sozinha, apenas pela iniciativa do individuo, ela
transcende também para o caráter dialógico.
Nessa linha o autor, aborda a seguinte explicação: as pessoas não aprendem
sozinhas as linguagens necessárias á sua auto definição, ao contrário, elas se
complementam com as relações das pessoas que por nós são consideradas importantes.
O que podemos entender é que a contribuição dos outros, mesmo quando
nascemos, prolonga-se durante anos, para a formação da nossa identidade. Taylor
esclarece que os indivíduos não podem formar suas identidades sozinhos, estes
dependem de interações dialógicas de aprovação interna e externa, sendo ambas as
contribuições para modificação de sua identidade. Ele salienta que jamais nos
libertaremos completamente daqueles cujo amor e atenção contribuíram para a nossa
formação desde os primeiros momentos das nossas vidas, mas em contraponto afirma
que deveríamos esforçar para nos definirmos, sozinhos e o mais possível, para
compreendermos o melhor que pudermos e, assim, controlarmos a influência recebida
dos nossos pais, e para nos impedir de cairmos de novo em dependências semelhantes.
Taylor estabelece que precisamos das relações para nos realizarmos, não para
nos definirmos. A partir do estabelecimento dessa dialética, o autor aponta que a
identidade é aquilo que nós somos e que a formação dela depende decisivamente, das
relações dialógicas com os outros.
O autor usa essa abordagem para iniciar uma crítica à política de igual
dignidade. Na visão de Taylor, esse tipo de política refletiria na cultura homogênica,
que tenderia a por os cidadãos para respeitar as diferenças. Nessa temática, o autor
conceitua a diferença entre os dois tipos de política, a de igual dignidade e da diferença.
Para o pesquisador, a primeira parte do principio de que todos são iguais, blindados
sobre qualquer tipo de discriminação, já a segunda corrente política possui meios de
identificar identidades únicas de determinados grupos.
Posto essas diferenciações Taylor discorre sobre suas concepções, enfatizando
que os dois tipos de politica se baseiam na noção de respeito igual, porém entram em
conflito em determinados pontos. Ele salienta que, em primeiro lugar, o principio do
respeito igual exige que as pessoas sejam tratadas de uma forma que ignore a diferença.
A intuição fundamental de que este respeito depende das pessoas centra-se naquilo que
é comum a todas elas.
Em segundo lugar, temos de reconhecer e até mesmo encorajar a particularidade.
A critica que a primeira faz a segunda consiste na visão de Taylor, numa espécie de
violação ao que esta comete do principio de não-discriminação. Inversamente, a
primeira é criticada pelo fato de negar a identidade, forçando as pessoas a ajustarem-se
a um molde que não lhes e verdadeiro.
Por consequência nessa dissociação, Taylor, dialoga sobre as vertentes que
originaram o princípio da dignidade: uma que vem de Rousseau e outra que surge com
Kant. Em ambos os estudos, afirma a igual dignidade (ausência de papéis diferenciados)
de todos, sem abdicar da liberdade, mas tomando em consideração um propósito
comum. Para Taylor tem de haver uma completa reciprocidade entre os indivíduos,
além de uma unidade de propósito para que toda pessoa possa se sentir representada no
discurso de qualquer outro. Em contextos republicanos ideais todos estão em uma
relação de mútua dependência. Contudo, essa dependência é exatamente na mesma
medida. Assim, a honra é atribuída a todos de igual modo.

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