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FACULDADE EDUCACIONAL DA LAPA - FAEL

JÉSSICA DE ALCÂNTARA CARVALHO

OS DESAFIOS DOCENTES DIANTE DA INCLUSÃO DE ALUNOS


DIAGNOSTICADOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA

Campo Grande – MS
2019
JÉSSICA DE ALCÂNTARA CARVALHO

OS DESAFIOS DOCENTES DIANTE DA INCLUSÃO DE ALUNOS


DIAGNOSTICADOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA

Artigo apresentado ao Curso de Pós-


Graduação em Educação Especial e
Inclusiva da Faculdade Educacional da
Lapa - FAEL.

Orientador:

Campo Grande – MS
2019
JÉSSICA DE ALCÂNTARA CARVALHO

OS DESAFIOS DOCENTES DIANTE DA INCLUSÃO DE ALUNOS


DIAGNOSTICADOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Artigo aprovado como requisito parcial para a obtenção do título de especialista


no curso de pós-graduação em Educação Especial e Inclusiva da Faculdade
Educacional da Lapa - FAEL, tendo obtido a nota _________
(____________________________________).

Campo Grande MS, Agosto de 2019.

______________________________________________
Prof. Ms. Orientador
OS DESAFIOS DOCENTES DIANTE DA INCLUSÃO DE ALUNOS
DIAGNOSTICADOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA

Jéssica de Alcântara Carvalho 1


Orientador2

RESUMO

Tem havido um crescente aumento da inclusão de alunos público-alvo da


educação especial nas escolas. Esse tema é importante para profissionais da
área da educação que visam aprofundar conhecimentos no campo da
educação especial. O objetivo do presente estudo é compreender como
estimular uma criança autista na Educação Infantil e a sua aprendizagem a
partir das estimulações. A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo
foi à pesquisa bibliográfica. Autismo se caracteriza por desvios qualitativos na
comunicação e interação social. Visto que a Educação Infantil é a primeira
etapa da Educação Básica, é importante que a criança com TEA também
passe por ela, assim, o investimento na formação de professores é um
caminho fundamental para que a vida social e familiar dessa criança seja
melhorada. Por meio da observação da trajetória e atuação de alunos e
professores em classe que fazem parte desse processo de inclusão, chegou-
se à conclusão da urgência de ressignificar a prática pedagógica para
dinamizar e favorecer a aprendizagem do aluno com autismo e, ainda, que a
inclusão desses alunos nas classes da rede regular é possível, configurando-
se o melhor ambiente para desenvolver suas potencialidades, visto que para
muitos deles é o único lugar de convivência social e de aprendizagem.

Palavras chave: Educação. Autista. Inclusão. Formação. Docente.

INTRODUÇÃO

Tendo em vista os alunos público-alvo da educação especial e o crescente


aumento de sua inclusão nas escolas regulares, este estudo é de importância
para os profissionais da área da educação que visam aprofundar seus

1
Jéssica de Alcântara Carvalho. Graduada em Pedagogia – FAEL. E-mail:
evme_1977santana@hotmail.com
2
Mini Currículo do orientador
conhecimentos na área da educação especial e, mais especificamente, com os
alunos que têm autismo.
Devido à carência da formação inicial e a dificuldade para a formação
continuada, pouco ainda se sabe sobre o desenvolvimento da criança autista
na Educação Infantil, por esse motivo, o tema é relevante para estudo e
também para pedagogos que gostariam de conhecer mais a respeito do
assunto em questão.
Sabe-se que a escola tem um papel fundamental no desenvolvimento da
criança, e o que nos instiga é entender como se dá o desenvolvimento da
criança autista na educação infantil. Muitos dos professores não sabem como
estimulá-los e, de acordo com a Secretaria dos Direitos da Pessoa com
Deficiência (2011), há estudos sobre a identificação precoce dos sinais para a
identificação do TEA (Transtorno do Espectro Autista), por isso, quanto antes o
diagnóstico e o tratamento forem iniciados, melhores serão os resultados (SÃO
PAULO, 2013).
A possibilidade para se realizar uma pesquisa sobre o tema proposto é
favorável, visto que há um grande número de materiais disponíveis.
Este tema nos desperta para um novo olhar diante das crianças que
passam por um longo caminho até serem diagnosticadas, tendo em vista que,
muitas vezes, os professores apresentam dificuldades em identificá-las e,
quando conseguem, não sabem como trabalhar e quais os estímulos corretos.
O objetivo geral desta pesquisa é compreender como estimular uma criança
com autismo na Educação Infantil e como se dá o processo de aprendizagem
dela a partir das estimulações feitas pelo professor. Deseja-se entender em que
nível uma criança com autismo é capaz de aprender; discutir se ela, quando
incluída na Educação Infantil, se desenvolve melhor e destacar quais
contribuições do pedagogo são importantes para o seu processo de inclusão e
desenvolvimento.
A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo foi a pesquisa
bibliográfica, por meio de livros impressos e digitais, documentos oficiais do
Ministério da Educação e artigos científicos disponíveis em sites confiáveis.

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já


elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.
Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho
dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de
fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser
definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias,
bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições
acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase
exclusivamente mediante fontes bibliográficas (GIL, 2002, p. 44).

Nesse sentido, esta pesquisa bibliográfica se encontra fundamentada


teoricamente a partir das contribuições de autores renomados na área da
Educação Especial que abordam o tema, tais como: Mello (2007), Belsário
Filho (2010) e São Paulo (2005, 2013).
O trabalho está dividido em três tópicos: Transtorno do Espectro Autista:
definição e caracterização; A Inclusão do Aluno com TEA na Educação Infantil;
e Os Desafios do Professor na Inclusão do Aluno com TEA.

1. TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: DEFINIÇÃO E


CARACTERIZAÇÃO

A criança autista apresenta várias características estereotipadas, como o


contato visual, gestos, falta de interação com as pessoas, estresse, entre
outros. O grau do Transtorno do Espectro Autista (TEA) varia muito de criança
para criança, uns são mais leves e outros são mais agravados (MELLO, 2007).
De acordo com o Autismo & Realidade – Manual para as Escolas (2015),
a criança com TEA apresenta um déficit no desenvolvimento social,
comportamental e da linguagem e, por isso, possui a dificuldade de interação.
Porém, os alunos com o Transtorno do Espectro Autista têm algumas
habilidades, como o excesso de detalhamento, seja visual ou sensorial,
facilidade em entender algum conceito, habilidades artísticas, capacidades de
resolução de problemas, entre outros.
Para Mello (2007), independentemente do nível cognitivo, a criança com
o Transtorno do Espectro Autista tem dificuldades com conceitos linguísticos
simbólicos ou abstratos, cada palavra significa apenas uma coisa, para eles é
mais fácil entender fatos ou conceitos isolados do que quando agrupados ou
ligados a outros significados.
Muitos autistas podem apresentar níveis altos de ansiedade.
Geralmente, quando acontece, a ansiedade é causada pelo ambiente, por
querer tocar, desenvolver algo ou repetir um padrão comportamental
estabelecido (AUTISMO & REALIDADE, 2013).
De acordo com o Autismo & Realidade – Manual para as Escolas:

É fundamental reconhecer que os desafios sociais no autismo são


bidirecionais. Eles podem se manifestar como déficits (como a falta de
iniciação social) ou como excessos (como conversa unilateral de um
aluno altamente verbal com Síndrome de Asperger). Em ambos os
casos, a necessidade de apoio e ensino é real. Como em qualquer
comportamento social adequado exige a compreensão social. Os
indivíduos com autismo de alta funcionalidade e com síndrome de
Asperger sofrem frequentemente a dor da rejeição e da solidão
(AUTISMO & REALIDADE, 2013, p. 47).

As características do TEA variam muito de criança para criança; é de


suma importância que logo que algumas delas forem apresentadas, a criança
seja levada as profissionais da área da educação e da saúde para que o
diagnóstico seja fechado com êxito e as intervenções sejam realizadas, a fim
de melhorar a sua vida social, escolar e pessoal.
A Associação Americana de Psiquiatria (APA) apresenta alguns critérios
para o diagnóstico da criança com TEA, em que relaciona algumas
características como déficit na interação social e comunicação e
comportamentos e interesses restritos e repetitivos (APA, 2014).
Há alguns critérios para o diagnóstico do transtorno do espectro autista,
q, segundo o DSM 5 (APA, 2014), são:

1. Déficits persistentes na comunicação social e nas interações,


clinicamente significativos manifestados por: déficits persistentes
na comunicação não verbal e verbal utilizada para a interação eu
social; falta de reciprocidade social; incapacidade de desenvolver e
manter relacionamentos com seus pares apropriados ao nível de
desenvolvimento.

2. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e


atividades, manifestados por pelo menos dois dos seguintes:
estereotipias ou comportamentos verbais estereotipados ou
comportamento sensorial incomum, aderência excessiva às rotinas
e padrões de comportamento ritualizados, interesses restritos.

3. Os sintomas devem estar presentes na primeira infância (mas


podem não se manifestar plenamente, até que as demandas
sociais ultrapassem as capacidades limitadas).

4. Os sintomas causam limitação e prejuízo no funcionamento diário


(APA, 2014, p. 91).

Para maior certeza do diagnóstico é importante que a equipe toda seja


consultada, desde médicos a profissionais da educação, garantindo, assim,
olhares diferentes de diversas áreas e eficácia no seu desenvolvimento, pois o
TEA não é um transtorno degenerativo, de modo que a aprendizagem e a
compreensão continuam se desenvolvendo no decorrer da vida (APA, 2014, p.
97). Cabe aqui salientar que os profissionais, bem como os educadores,
poderiam multiplicar o conhecimento sobre o transtorno do espectro autista,
uma vez que a família e até mesmo a sociedade não saiba como lidar com o
autista.
As causas do Transtorno do Espectro Autista ainda são desconhecidas,
acredita-se que essa deficiência está ligada a alguma parte do cérebro
relacionada com fatos ocorridos na gestação ou no momento do parto (MELLO,
2007).
Segundo Mello (2007), o diagnóstico é feito através de uma avaliação
clínica; não existem exames específicos que possam comprovar o transtorno.
As crianças autistas podem apresentar indícios do transtorno antes de um ano
e meio, porém, o diagnóstico pode ser concluído apenas entre os dois anos e
dois anos e meio. Quando o diagnóstico é realizado precocemente, as
mediações podem obter maior garantia de sucesso e facilitar sua interação
social.
Pereira et al. (2015) apontam que, para fechar um diagnóstico, buscam-
se critérios clínicos por meio de profissionais, dentre eles, os médicos,
psiquiatras e neuropsiquiatras, que se apoiam nos relatos dos pais ou
responsáveis sobre o desenvolvimento da criança e se baseiam em outras
avaliações, como a de psicólogos e psicopedagogos. Assim, para excluir outras
hipóteses de diagnóstico, são feitos exames laboratoriais e por imagem,
contudo, o diagnóstico é eminentemente clínico (SCHWARTZMAN, 2011).
Quando o diagnóstico médico é fechado, a criança com TEA necessita de
auxílio multidisciplinar, para que se possa contribuir com o seu
desenvolvimento biopsicossocial.

2. A INCLUSÃO DO ALUNO COM TEA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Visto que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, é


importante que a criança com TEA também passe por ela para que sua vida
social e familiar seja melhorada.
De acordo com Pereira et al. (2015), para que a inclusão escolar se
efetive, primeiramente, é preciso que a criança tenha acesso a escola regular,
que é assegurada pela lei. No ano de 2012, houve a promulgação da lei
12.764, o primeiro documento oficial a falar sobre a criança com TEA. Nessa
mesma lei é apresentada a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Entre os direitos das pessoas com TEA está o acesso à educação, que é
direito da criança com TEA e está assegurado pela lei nº 12.764, de 27 de
dezembro de 2012, que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Art. 3º. São direitos da pessoa com transtorno do espectro autista:

I – a vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da


personalidade, a segurança e o lazer;
II – a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração;
III – o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção
integral às suas necessidades de saúde, incluindo:
a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo;
b) o atendimento multiprofissional;
c) a nutrição adequada e a terapia nutricional;
d) os medicamentos;
e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento;
IV – o acesso:
a) à educação e ao ensino profissionalizante;
b) à moradia, inclusive à residência protegida;
c) ao mercado de trabalho;
d) à previdência social e à assistência social. (BRASIL, 2012, p. 2).

Assim, a Cartilha Direito das Pessoas com Autismo (2011) e a lei n°


12.764, de 27 de dezembro de 2012, deixam claro que os alunos com TEA têm
os mesmos diretos que são assegurados a todos os outros alunos.
Em se tratando dos direitos, o art. 54 do ECA diz que é obrigação do
Estado garantir atendimento educacional especializado às pessoas com
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, garantindo seu pleno
desenvolvimento e preparo para o exercício da cidadania. O documento
Cartilha dos Direitos da Pessoa com Autismo (2011) esclarece que o
atendimento educacional especializado é um conjunto de recursos
pedagógicos e de acessibilidade organizados institucionalmente para que o
serviço prestado possa ser complementar ou suplementar ao ensino regular.
Para Brasil (2013, p. 3 apud PEREIRA et al., 2015, p. 198), a resolução
n.º 4/2009 indica:
Em se tratando do Plano do AEE, a Resolução n.º 4/2009 indica que
este deve ser elaborado e executado pelo professor do AEE em
articulação com os professores do ensino regular, da família e de
diversos outros profissionais, como terapeutas ocupacionais e
fisioterapeutas, entre outros. “Este plano deve ter o objetivo de eliminar
barreiras de aprendizagem”.

Portanto, o atendimento educacional especializado não pode ser confundido com um


simples reforço, pois o seu real objetivo é formar um núcleo de apoio que auxilie no
desenvolvimento da criança com TEA. Quando falamos do AEE, Barbosa et al. (2015
apud LAZZERI, 2010, p. 33) afirma que as atividades realizadas no AEE para
estudantes com TEA “[...] devem ser diversificadas, criativas e instigadoras de
outras possibilidades de aprendizado diferentes das utilizadas em sala regular”.
Seu objetivo é potencializar toda a aquisição de conhecimentos, habilidades e
atitudes que possa favorecer a inclusão escolar da criança com transtorno do
espectro autista.
Segundo a Cartilha dos Direitos da Pessoa com Autismo (2011), a
inclusão escolar é:

É uma política que busca perceber e atender às necessidades


educativas especiais de todos os alunos, em salas de aulas comuns,
em um sistema regular de ensino, de forma a promover a
aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de todos. A escola,
segundo essa proposta, deverá adaptar-se para atender às
necessidades destes alunos inseridos em classes regulares. Portanto,
requer mudanças significativas na estrutura e no funcionamento das
escolas, na formação dos professores e nas relações família-escola
(SÃO PAULO, 2011, p. 11).

Durante a fase do processo de inclusão, é importante que a escola


considere as especificidades de cada aluno seja ele público- -alvo da educação
especial ou não, garantindo o acesso, a interação, tolerância e respeito às
diferenças.
O Manual para as Escolas Autismo & Realidade (2010) aponta que cabe
ao professor conhecer o aluno e, se possível, questionar a família sobre a
rotina, gostos e preferências, o que assusta ou mais irrita o aluno com TEA e
se ele possui alguma habilidade (por exemplo: desenhar, pintar, nadar). Essa
interação entre escola e família na pré-inclusão do aluno com TEA se faz
necessária e é de extrema importância, já que o aluno da Educação Infantil
necessita de maiores cuidados. Esse questionamento permite pensar em
atividades voltadas para esse aluno, fazendo com que ele se sinta mais à
vontade em um ambiente novo e desconhecido por ele.
Para Cunha (2008, p. 85), é indispensável que o professor invista “[...]
tempo no conhecimento desse aluno através do cotidiano escolar para que se
possa estabelecer as estratégias pedagógicas e reconhecer as possibilidades
de aprendizado”. Sendo assim, a escola precisa compreender as
especificidades de cada aluno, em especial a do espectro, para que cada tipo
de intervenção seja adequado.
Baseado no documento Cartilha – Autismo & Realidade (2010), é
importante para o aluno com TEA que a família e os profissionais que
trabalham com a criança possam apresentar a ele uma previa do mundo
escolar, pois esse novo mundo é muito difícil para esses alunos, principalmente
para os que estão indo pela primeira vez. Há vários sentimentos, entre eles a
ansiedade e o estresse, que geralmente acontecem com a mudança de sala,
professor, escola, por esse motivo, quando há uma preparação entre a escola e
a família antes, a probabilidade de adaptação dar certo é muito maior.
Brasil (2004) evidencia que a inclusão da criança com TEA na creche
deve ser planejada cuidadosamente devido a suas dificuldades, porém, as
suas limitações são as mesmas colocadas pela própria instituição, por isso, é
importante que se use todos os recursos disponíveis.
Quando falamos em inclusão da criança com TEA na Educação Infantil,
não podemos nos esquecer da questão lúdica. O documento oficial Brasil
(2004, p. 16) deixa claro que “[...] Devemos ter em mente, sempre que estamos
falando de crianças, que a dimensão lúdica tem de ser seu espaço [...]”. Assim,
cabe ao professor conduzir todas as interações e questões lúdicas para que de
fato a criança se desenvolva.
Brasil (2004, p. 16) refere-se à dimensão lúdica:

A experiência do brincar deve ser oferecida a criança inicialmente de


forma estruturada e dirigida para que, por meio dessa experiência, ela
possa, aos poucos, estabelecer relações de causa e consequência que
resultem no desejo de repetir experiências cujos resultados lhe tenham
sido agradáveis e que não teria tido por iniciativa própria.

Assim, o professor deve compreender que as experiências lúdicas são


de extrema importância nessa faixa etária, em especial para o aluno com TEA,
pois a criança adquire conhecimento de mundo e desenvolve diversas
habilidades.
3. OS DESAFIOS DO PROFESSOR NA INCLUSÃO DO ALUNO COM
TEA

Para o professor que tem um aluno com TEA os desafios são bem
maiores do que aquele professor que não tem aluno de inclusão, pois precisará
dar um tratamento individualizado, fazer um currículo adaptado, investir em
recurso para a comunicação e ter um envolvimento com a família. É necessário
que o professor, ao elaborar um plano de ensino, considere as especificidades
de cada aluno, sobre o espectro e suas habilidades.
Segundo Mello (2007, p. 11), “O primeiro ponto importante é tornar o
aprendizado agradável para a criança. O segundo ponto é ensinar a criança a
identificar os diferentes estímulos”, assim, o professor pode usar o PECS
(sistema de comunicação através da troca de figuras), que visa estimular a
criança com TEA na comunicação, facilitando a sua interação com o meio. Não
só essa técnica, assim como outras também são importantes para o seu
desenvolvimento. Entre os vários métodos está o TEACCH, que avalia a
criança levando em conta os pontos fortes e suas maiores dificuldades; ABA,
visa ensinar à criança habilidades que não possui; e o PECS, que estimula a
comunicação através das trocas de figuras.
De acordo com Pernambuco (2015, p. 24):

O tratamento do TEA deve ser intensivo, estruturado e abrangente,


incluindo a família e vários profissionais. Dessa forma, diz-se que o
tratamento é multiprofissional, pois as pessoas com TEA precisam de
estimulação e treinamento em mais de uma área do desenvolvimento,
como linguagem, habilidades sociais, aprendizado, motricidade e
coordenação, aprendizado, dentre outras.

O professor deve recorrer aos vários profissionais que atuam com a


criança com TEA, para que juntos possam chegar aos objetivos esperados,
garantir seu desenvolvimento e atender ao aluno TEA que possui grande
complexidade em seu transtorno.
Sendo assim, o professor deve procurar criar um ambiente estruturado
que envolva e motive seus alunos. A estruturação das atividades permite que
os alunos compreendam a sequência do trabalho realizado e sinta-se parte da
aula (PERNAMBUCO, 2015).
Há vários desafios para o professor que for receber um aluno com TEA,
desde a preparação da sala até os materiais pedagógicos que serão utilizados.
No entanto, quando se fala em uma preparação dos alunos que vão receber
esse colega, não é aconselhável expor a criança, porque isso poderá acarretar
um processo de exclusão por parte dos outros alunos (BRASIL, 2004).
O professor precisa ter em mente as adaptações dentro da sala e no
currículo; estratégias para estimulação, organização entre outros. Segundo o
documento oficial Brasil (2004), o professor deve estar atento a alguns
detalhes, como: colocar o aluno sempre na primeira fileira; falar seu nome
várias vezes; devido à dificuldade de memorização e organização de suas
responsabilidades, disponibilizar a ele um roteiro de organização – nesse caso,
em forma de foto é indispensável; garantir a segurança do aluno, pois se o
professor não tiver o controle da situação e não falar várias vezes o nome do
aluno, podem haver problemas de comportamento que comprometerão o seu
aprendizado; se o espectro apresentar alguma estereotipia, o professor deve
tirar o foco do aluno, ou seja, fazer com que volte a prestar atenção no que
estava fazendo.
O professor é muito importante para o processo de aprendizagem do
aluno, pois ele define objetivos específicos que são pré- -requisitos no
momento de identificar se houve alguma evolução (AUTISMO & REALIDADE,
2013). Utilizar-se de algumas estratégias ajuda muito e diminui
consideravelmente as dificuldades em sala de aula. Entre as estratégias
utilizadas para ajudar a criança, está o uso de dicas, como, por exemplo: pegar
na mão, ajudando- -o no movimento; tocar o braço, indicando a direção;
apontar para ele o que deve fazer, entre outras. Assim, conforme o aluno
mostra independência, ou seja, é capaz de fazer atividades sem ajuda, significa
que aprendeu as habilidades ensinadas.
É importante ainda observar que ao se pensar nas atividades propostas,
alguns pontos devem ser colocados, tais como: a independência é um
aprendizado, já que esse aluno tem muita dificuldade em fazer escolhas.
Mesmo as atividades independentes, durante muito tempo, devem ser
dirigidas, isto é, o aluno deve aprender a fazer atividades sozinhas, mas elas
devem ser colocadas em uma rotina de trabalho. Se deixarmos a criança
escolher, provavelmente ficará andando pela sala sem ocupar-se com uma
atividade produtiva; as atividades devem ser selecionadas para atender a dois
objetivos: independência – neste caso, a atividade selecionada deve ser
possível de ser executada facilmente pela criança, sem ajuda, com apoio
apenas da organização dos materiais; aprendizado neste caso, aluno e
professor se sentam frente a frente para que o professor possa ensiná-lo; as
atividades propostas devem ser muito curtas no início, pois a resistência ao
tempo de trabalho faz parte do aprendizado; cuidado para que a atividade
proposta não contenha mais de uma proposta nova por vez; as atividades
devem ser organizadas de forma a comunicar visualmente; no início, a criança
nunca deve desfazer um trabalho que acabou de fazer; lembrar sempre que, se
for ensinar uma nova rotina a uma criança, deve escolher uma atividade muito
fácil para que você e ela possam concentrar-se na rotina;

a atividade deve ser feita sempre no mesmo sentido da escrita, ou


seja, da esquerda para a direita e/ou de cima para baixo. Deve-se ter
um cuidado especial na situação de aprendizado para não alterar essa
ordem. Isso é apenas uma convenção para simplificar as atividades
para o aluno (BRASIL, 2004, p. 31-32).

Os professores devem planejar e selecionar bem todas as atividades


propostas, pois o aluno não possui autonomia suficiente para aprender por
meio da exploração e também para que as necessidades básicas da criança
com TEA sejam atendidas. Portanto, todas as atividades propostas devem
priorizar o aprendizado e o desenvolvimento da independência, ou seja, sua
autonomia.
Matos e Mendes (2013) apontam que os professores são desafiados a
construir saberes capazes de responder às demandas do cotidiano escolar
relacionadas à convivência e aprendizagem na diversidade, assim, a inclusão
escolar passa a ser defendida como “[...] uma proposta de aplicação prática no
campo da educação de um movimento mundial denominado inclusão social”
(MENDES, 2006, p. 395 apud MATOS; MENDES, 2013, p. 39). Para que uma
sociedade seja inclusiva, é preciso que o estado seja democrático e que a
educação especial seja parte integrante e fundamental dele. Dessa forma, a
inclusão e suas práticas são defendidas por muitos países, o que nos leva a
perceber a necessidade de se repensar no currículo, nos modos de avaliação,
na formação continuada dos professores, nas estruturas físicas das escolas e
na adesão de uma política educacional mais igualitária.
Mantoan (2005) afirma que, para se viver com uma proposta inclusiva, a
escola e seu corpo docente devem se identificar com os princípios de
educação especial e sua formação deve ser permanentemente atualizada para
poder conhecer cada vez mais seus alunos e suas especificidades. Essa
formação é, inicialmente, para o próprio professor, pois é por meio dela que ele
vai melhorar sua prática. Ela pontua ainda que os professores necessitam
dominar e conhecer as peculiaridades de seus alunos, vendo “o quê”, “como” e
“para quê” se deve ensinar.
Ainda, segundo Caminhos pedagógicos da educação especial (2005, p.
93 apud MANTOAN, 2005, p. 93):

A nosso ver e inspirados nos projetos que visam uma educação de


qualidade para todos, o tratamento das questões relativas ao ensino de
pessoas com deficiência na formação geral dos educadores eliminaria,
em grande parte, os obstáculos que se interpõem entre a escola
regular e esses alunos. Em resumo, a formação única para todos os
educadores propiciaria a tão esperada fusão entre a educação especial
e a regular, nos sistemas escolares.

O investimento na formação de professores se faz caminho para que a


educação especial do aluno espectro seja realizada e garantida, subsidiando
seu acesso e permanência na escola regular.
De acordo com Matos e Mendes (2013), os estudos apresentam a
necessidade de estender as propostas formativas ligadas à formação
continuada dos educadores e também de repensar os programas oficiais. A
busca por formação acontece devido aos movimentos de inclusão e é uma
forma de resposta do governo a essa procura, já que cabe ao estado a oferta
de ensino de qualidade para todos de forma que a formação possa abranger
também os demais profissionais, e não só professores.
A Resolução do Conselho Nacional de Educação e da Câmara de
Educação Básica n.º 2, de 11 de setembro de 2001, que institui as Diretrizes
Nacionais para a Educação o Básica (DNEE-EB-2001), define em seu art. 18
que:
Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer normas para o
funcionamento de suas escolas, a fim de que estas tenham as
suficientes condições para elaborar seu projeto pedagógico e possam
contar com professores capacitados e especializados, conforme
previsto no Artigo 59 da LDBEN e com base nas Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, na modalidade
Normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de
Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de
licenciatura de graduação plena.

§ 3º Os professores especializados em educação especial deverão


comprovar:

I - formação em cursos de licenciatura em educação especial ou em


uma de suas áreas, preferencialmente de modo concomitante e
associado à licenciatura para educação infantil ou para os anos iniciais
do ensino fundamental;

II - complementação de estudos ou pós-graduação em áreas


específicas da educação especial, posterior à licenciatura nas
diferentes áreas de conhecimento, para atuação nos anos finais do
ensino fundamental e no ensino médio;

§ 4º Aos professores que já estão exercendo o magistério devem ser


oferecidas oportunidades de formação continuada, inclusive em nível
de especialização, pelas instâncias educacionais da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios n.p. (BRASIL, 2001).

Diante de todos os desafios e necessidades com que os professores se


deparam, eles devem buscar sua formação continuada e contar com os
subsídios das leis LDBEN; Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação
de Docentes da Educação Infantil e dos anos Iniciais do Ensino Fundamental e
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da
Educação Básica, que definem a formação específica do professor e
estabelecem que os sistemas de ensino devem assegurar todas as condições
para que de fato aconteça a inclusão escolar.
Portanto, ao professor sempre devem permanecer as concepções de
que com a aplicação de estratégias adequadas a reflexão de sua prática
pedagógica é a busca contínua pelo aprendizado acerca do transtorno em
questão, assim, é possível que a inclusão e o aprendizado do aluno com TEA
aconteça com qualidade e sucesso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo considera que a inclusão escolar do aluno com transtorno


do espectro autista (TEA) na Educação Infantil possibilita com que a criança
tenha uma melhora significativa na sua vida social e familiar. Durante o
processo de inclusão é importante que a escola considere as suas
especificidades, garantindo-lhe o acesso, a interação, a tolerância e o respeito.
Para o aluno com TEA é importante que a família e os profissionais
possam lhe apresentar uma previa do mundo escolar, devido a sua dificuldade
em lidar com esse novo mundo, principalmente para os que estão indo pela
primeira vez, pois há vários sentimentos, entre eles, a ansiedade, estresse etc.
Inicialmente, as novas experiências devem ser apresentadas à criança de
forma dirigida, para que aos poucos o desejo de repetir as experiências possa
ser agradável e os resultados a serem alcançados possam ser favoráveis.
Os desafios do professor são bem maiores, pois precisará dar um
tratamento individualizado, fazer um currículo adaptado, investir em recurso
para a comunicação e ter um envolvimento com a família, entre outros.
Ao se pensar na educação desse aluno é importante pensar primeiro
que o aprendizado deve ser agradável a ele. Em segundo, que a criança possa
identificar seus diferentes estímulos. Essa estimulação pode acontecer através
do PECS (sistema de comunicação através da troca de figuras), que procura
estimular a criança com TEA na comunicação e facilitar sua interação com o
meio. Pode- -se, também, fazer uso do método TEACCH, que avalia a criança
observando seus pontos fortes e suas maiores dificuldades, e do ABA, que tem
por objetivo ensinar à criança habilidades que ainda não possui.
Para o processo de aprendizagem do aluno é muito importante que o
professor defina objetivos específicos para que consiga identificar se houve
alguma evolução. O uso de estratégias pode ajudar a diminuir as dificuldades
em sala de aula. Entre as estratégias utilizadas para ajudar a criança está o
uso de dicas, como, por exemplo, pegar na mão, ajudando-o no movimento;
tocar o braço, indicando a direção; e apontar para ele o que deve fazer. Assim,
conforme o aluno mostra independência, ou seja, é capaz de fazer atividades
sem ajuda, significa que aprendeu as habilidades ensinadas.
Pensando-se na educação da criança com TEA, o professor deve
planejar e selecionar as atividades propostas para que sua autonomia e
necessidades básicas sejam desenvolvidas e atendidas.
O investimento na formação de professores constitui um caminho
fundamental para que a educação especial do aluno com TEA seja realizada e
garantida, subsidiando seu acesso e permanência na escola regular.

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