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 Prólogo

8 anos atrás.

Deixe-nos contar a história de um certo homem.

A fábula de um homem que, mais do que ninguém, acreditou em seus ideais, e foi
direcionado por eles ao desespero.

O sonho desse homem era puro.

Seu desejo era o de que todos nesse mundo fossem felizes; era tudo o que ele
queria.

Esse é o ideal infantil a que todos os jovens garotos se apegam pelo menos uma vez
na vida, e que abandonam assim que se acostumam com a impiedosa realidade.

Qualquer espécie de felicidade requer um sacrifício, isso é algo que as crianças

aprendem quando se tornam adultos.

Mas aquele homem era diferente.

Talvez ele fosse somente o mais tolo de todos. Talvez ele fosse doente ou louco. Ou
talvez ele fosse o que nós chamamos de “Santo”, confiando nos propósitos de Deus. Alguém
que pessoas comuns não conseguem entender.

Ele sabia que, para qualquer forma de existência nesse mundo, as únicas alternativas
são sacrifício, ou salvação...

Depois de entender isso, ele nunca foi capaz de esvaziar os dois lados da balança...

A partir daquele dia, ele programou sua mente para funcionar segundo o peso dos
pratos daquela balança.

Para abater as dores deste mundo, não havia modo mais eficiente.

Para salvar as vidas de um lado, teria de renunciar às vidas do outro lado.

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 Em suma, para fazer com que a maioria das pessoas sobrevivesse, ele teria de matar
a minoria delas.

Portanto, em vez de tentar salvar essa minoria, ele tornou-se excepcional na arte de
matar pessoas.

De novo e de novo, ele continuou encharcando suas mãos com a cor do sangue, mas
o homem nunca hesitou.

Nunca questionou a integridade de seus atos, nem duvidou de seus objetivos, ele
obrigou a si mesmo a nunca falhar em seu dever.

Nunca, jamais, errou no julgamento do valor de uma vida.

Sem levar em conta a humildade de uma existência, nem considerar sua idade, todas
as vidas eram pesadas com imparcialidade.

Sem discriminar, o homem salvou muitas vidas, e, sem discriminar, ele tirou muitas
delas.

Mas, infelizmente, era tarde demais quando se deu conta disso.

Julgar a tudo com a mesma imparcialidade seria o mesmo que não amar a ninguém
em especial.

Se tivesse aprendido mais cedo essa inviolável regra, ele teria alcançado a salvação.

Congelando seu jovem coração, tornando-se uma máquina de julgamentos sem

sangue ou lágrimas, ele continuou levando a vida determinando aqueles que deveriam morrer,
e aqueles que deveriam viver. E isso provavelmente não lhe infligia nenhum sofrimento.

Mas esse homem estava errado.

O sorriso de deleite de qualquer um enchia seu peito de orgulho, e a voz lamuriosa

de qualquer um mexeria com seu coração.

A fúria adicionou-se à sua mágoa, e ele ficou cheio de arrependimentos enquanto

suas lágrimas de solidão ansiavam por mãos que se estendessem para ele.

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 Apesar de estar almejando um ideal além do que a razão do mundo dos homens
pudesse compreender — ele também era humano.

Por quanto tempo o homem foi castigado por essa contradição?

Ele conhecia a amizade. Ele conhecia o amor.

Mesmo quando teve de pesar a vida da pessoa que amava e de incontáveis

estranhos, na esquerda e na direita da balança —

Ele nunca cometeu um só erro.

Mais do que amar a alguém, mais do que julgar aquela vida igualmente à dos outros,
ele tinha de avaliá-la imparcialmente e imparcialmente abrir mão dela.

Mesmo quando estivesse com alguém que lhe era precioso, ele sempre pareceria
estar de luto.

E, agora, o homem está sendo infligido com a maior das punições.

Do lado de fora da janela, uma tempestade de neve havia congelado tudo. A noite de
inverno estava congelando todo o solo da floresta.

A sala ficava dentro de um velho castelo construído em terras congeladas, mas era
protegida por suaves chamas de uma lareira.

No calor daquele abrigo, o homem segurava uma nova vida em seus braços.

Era bem pequena — um corpo que, de tão pequeno, podia ser efêmero e nenhum
peso seria determinado para ela.

Mesmo um delicado toque poderia ser perigoso, assim como o primeiro floco de
neve que em contato com a mão quebraria com um mero balanço.

Numa frágil ânsia, a criança preserva a temperatura de seu corpo dormindo,

respirando brandamente. Era tudo o que aquele modesto peito palpitante poderia fazer no
momento.

“Não se preocupe, ela está dormindo.”

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 Enquanto ele acomodava o bebê nos seus braços, a mãe descansando seu corpo na
cama sorria para eles.

Pela aparência abatida da criança, ela ainda não estava totalmente recuperada, e seu
aspecto não estava perfeito, mas, mesmo assim, seu belo rosto, que lembrava uma jóia, não
havia desistido de forma alguma.

Acima de tudo, uma aura de felicidade iluminava seu sorriso e apagava traços de
exaustão que pudessem ter desfigurado sua gentil aparência.

“Ela sempre foi difícil e chorava mesmo com as enfermeiras as quais ela já deveria ter
se acostumado. É a primeira vez que ela deixa que a segurem tão quietamente... Ela entende,
não é? Que está tudo bem porque você é um bom homem.”

“...”

Sem responder, emudecido, o homem comparou a mãe na cama com a criança em

seus braços. O sorriso de Irisviel alguma vez pareceu tão deslumbrante?

Ela foi originalmente uma mulher de poucas alegrias. Ninguém houvera pensado em
dar a ela aquele sentimento chamado felicidade. Ela não era uma criação dos deuses, ela foi
criada nas mãos dos homens... Como um homúnculo1, aquela espécie de tratamento era
normal para aquela mulher. Irisviel nunca teve um único desejo.

Criada como uma marionete, nascida como uma marionete, ela talvez nunca tivesse
entendido o significado da felicidade, para começar.

E agora — estava radiante.

“Estou muito feliz por ter essa criança.”

Silenciosamente trazendo à tona seu amor, Irisviel Von Einzbern falou, olhando a
criança adormecida.

“De agora em diante, ela será a primeira e principal imitação de um humano. Pode
ser que seja duro, e talvez ela odeie a mãe que lhe deu uma vida tão dolorosa. Mas, apesar
disso, estou feliz. Essa criança é adorável; ela é esplêndida.”

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Homúnculo é um humano criado de forma artificial através de magia ou alquimia, podendo
ser híbrido de algum animal.

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 Sua aparência não tinha nada de incomum, e, olhando para ela, era um bebê
adorável, mas, ainda assim —

Enquanto esteve no útero da mãe, uma série de tratamentos mágicos foi conduzida
no corpo em desenvolvimento para rearranjá-lo de modo que, ainda mais do que sua mãe, ela
fosse diferente dos humanos. Embora houvesse nascido, sua utilidade era restrita, seria então
um corpo meramente composto de circuitos mágicos. Essa era a verdadeira natureza da
amada filha de Irisviel.

Apesar de um nascimento tão cruel, Irisviel ainda disse “Está bem.” Dando vida
daquela forma, nascida daquela forma, ela amava aquela existência, achava orgulho nisso e
sorria.

A razão para aquela força, aquele coração animador, ela era, sem um pingo de
dúvida, uma “Mãe”.

A garota que era apenas uma marionete achou o amor e tornou-se uma mulher,
encontrando uma indescritível força como mãe. Aquilo devia ter parecido uma “felicidade”
que ninguém poderia invadir. E então o quarto da mãe e da criança protegido pelo calor da
lareira era indiferente a toda a dor e sofrimento.

Mas — o homem sabia bem que, para mundo de que ele fazia parte, a tempestade
de neve era mais apropriada.

“Iri, eu —“

Por disparar aquela única palavra, o peito do homem sentiu como se houvesse sido
perfurado por uma lâmina. Aquela lâmina era a serena face adormecida do bebê, e o radiante
sorriso de sua mãe.

“Eu serei, um dia, aquele que vai te matar.”

Enquanto ele sentia-se como se estivesse vomitando sangue, Irisviel meneou com a
cabeça, com uma expressão serena, a sua declaração,

“Eu entendo. É claro. Esse foi o mais sincero desejo dos Einzberns. É para isso que
existo.”

Aquele futuro já estava decidido.

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 Depois de passados seis anos, o homem levou sua esposa ao lugar onde morreria.
Como mártir para salvar o mundo, Irisviel tornou-se o sacrifício devotado para seu ideal.

Aquele assunto fora discutido diversas vezes entre os dois, de modo que chegaram a
um acordo.

O homem já havia chorado com o âmago de seu ser em vista da decisão,

amaldiçoando a ele mesmo por ela e cada vez que isso acontecia, Irisviel o perdoou e o
encorajou.

“Conheço seus ideais, e eu cresci junto de suas orações; é por isso que estou aqui
agora. Você me guiou. Você me deu uma vida que não se daria a uma marionete.”

Pelo mesmo ideal, ela sacrificou a si própria. Dessa forma, ela se tornou parte dele.
Era essa a forma que tomou o amor da mulher Irisviel. Por ser ela, o homem foi capaz de
permitir isso.

“Você não precisa se afligir por mim. Eu já sou parte de você. Suportar a dor de sua
única separação é o suficiente.”

“... Então, como ela vai ficar?”

O corpo do infante era leve como uma pluma, ainda que o peso de uma dimensão
diferente fizesse as pernas do homem tremerem.

Ele ainda não conseguia entender, nem estava preparado para isso. O que
inevitavelmente o faria colocar aquela criança contra o ideal que ele carregava.

Não julgue ou perdoe o modo de vida de tal homem. Ainda não existe poder para tal.

Mas, para uma vida ainda tão pura, seu ideal era impiedoso.

Sem levar em conta a modéstia da vida de alguém, nem se importar com sua idade,
todos eram considerados imparcialmente —

“Eu não... sou apto para carregá-la.”

O homem abaixou o tom de sua voz, apesar de sua possível doçura ter sido
esmagada em insanidade.

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 Uma lágrima caiu na roliça e rosada bochecha do bebê em seus braços.

Soluçando silenciosamente, o homem se inclinou sobre um de seus joelhos.

Para erradicar a desumanidade desse mundo, ele ascendeu para uma desumanidade
maior ainda... E, ainda assim, para o homem que ainda tinha pessoas as quais amava, aquilo
era como finalmente sofrer o maior dos castigos.

A pessoa que mais amava naquele mundo.

Mesmo que isso significasse a ruína do mundo, ele queria protegê-la.

Mas o homem entendeu. Chegaria a hora que a justiça em que acreditava

demandaria o sacrifico daquela vida — qual decisão esse homem, Emiya Kiritsugu, tomaria?

Kiritsugu chorou, com medo do dia que talvez chegasse, assustado com aquela
chance de uma em mil.

Envolvendo seu peito no calor de seus braços, Irisviel levantou a parte superior de
seu corpo da cama e gentilmente colocou sua mão no ombro do marido, que havia explodido
em lágrimas.

“Nunca esqueça. Não era esse o seu sonho? Um mundo onde ninguém precisasse
chorar assim. Daqui a oito anos... sua batalha estará terminada. Nós conseguiremos alcançar
esse ideal. Tenho certeza que o Graal o salvará.”

Sua esposa, entendendo completamente sua agonia, secou as lágrimas de Kirisugu o

mais gentilmente que podia.

“Depois desse dia, você terá de segurar essa criança, Ilyasviel mais uma vez.
Erguendo sua cabeça como um pai normal.”

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3 anos atrás

Quando falamos sobre ocultismo, teorias de dimensões dizem que existe um ‘poder’
vindo de fora desse mundo.

Identificar a origem de todas as coisas. Esse é o maior desejo de todos os magos, a

“raiz”,... A casa de Deus, os Registros Akashikos, os registros do início e do fim de todas as
coisas que criaram a tudo nesse mundo.

200 anos atrás, havia aqueles que começaram a executar experiências nesse lugar
“fora deste mundo”.

Einsbern, Makiri, Tohsaka. Chamadas de as três famílias do início, o que eles

planejaram foi a reprodução do “Santo Graal2”, presente em muitas tradições. Esperando que
a invocação do Graal realizasse algum desejo, as três famílias de magos ofereceram sua arte
secreta para finalmente manifestar o “recipiente onipotente”.

... Entretanto, o Graal só poderia realizar o desejo de uma pessoa. Assim que a
verdade foi descoberta, os laços de cooperação foram rompidos com sangue e conflitos.

Esse foi o início da “Guerra do Santo Graal”, “Heaven’s Feel”.

Daí em diante, uma vez a cada 60 anos, o Graal é invocado novamente na terra de
“Fuyuki” no Extremo Oriente.

Então, o Graal seleciona 7 magos que tenham poder suficiente, e distribuí uma
grande quantidade de mana3 entre eles, para tornar possível a invocação dos Espíritos
Heróicos chamados “Servos”. O final da batalha de vida ou morte decide qual dos sete é o mais
adequado para receber o Graal.

— Para explicar de uma forma mais simples, era a isso que Kotomine Kirei estava
submetido.

“A figura que apareceu em sua mão direita é chamada de ‘Selo de Comando’. Essa é
a prova de que você foi escolhido pelo Graal, e o símbolo sagrado que permite a você o
controle de um Servo.”
2
Referência ao Santo Graal, que na tradição cristã é o cálice usado por Jesus Cristo na Última
Ceia, e dito como possuidor de poderes milagrosos.
3
Referência à palavra sânscrita “Prana”, energia vital de todas as coisas.

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 A pessoa de voz suave, porém carregada que lhe explicou isso era Tohsaka Tokiomi.

Na sala de uma elegante casa de campo construída no topo do mais elegante distrito
do sul de Turim, Itália, três homens sentaram-se em uma espreguiçadeira. Kirei, Tokiomi, e o
padre que os apresentou e mediou a conversa, Kotomine Risei... O pai de Kirei.

Para o amigo de um Padre que chegaria logo aos 80, Tohsaka era um japonês
excêntrico. Ele parecia ter mais ou menos a mesma idade que Kirei, firme e com aparência de
especialista. Da linhagem de uma antiga de família distinta, mesmo para os padrões japoneses,
aquela casa de campo era como uma segunda casa, como ele disse. Mas o mais interessante
era que ele casualmente denominava a si mesmo com um ‘mago’.

Ser um mago não é tão estranho quanto parece. Kirei era como seu pai, um clérigo,
ainda que o dever de pai e filho se diferenciasse do que a maioria das pessoas conhece como
‘Padre’.

A ‘Santa Igreja’ à qual pessoas como Kirei pertenciam tinha uma doutrina além das
fronteiras de milagres e mistérios divinos, mas tinha o papel de exterminar o estigma da
heresia, e enterrá-lo no esquecimento. E assim seria tendo como ponto de vista um lugar onde
podia supervisionar uma blasfêmia como a magia.

Magos conspiravam somente com magos, e são organizados em um grupo de

autopreservação que denomina a si mesmo ‘Associação’, que representa uma ameaça para a
Santa Igreja. Atualmente, ambos concordaram em preservar temporariamente uma trégua;
mas mesmo assim, estando um Padre da Santa Igreja e um mago reunidos em um mesmo
edifício para uma conferência seria impensável.

No caso de Risei, o padre, a família Tohsaka era uma com a qual a Igreja já possuía
antigas conexões, mesmo sendo um lar de magos.

Foi na noite anterior que Kirei descobriu a marca com um formato de três pontas. Ele
consultou o seu pai, e Risei imediatamente levou seu filho a Turim na manhã seguinte para
conhecer o jovem mago.

E então, depois de uma apressada apresentação, as explicações que Tokiomi deu a

Kirei em sua reunião secreta eram sobre a mesma guerra, ‘Heaven’s Feel’. O significado por
trás da marca que apareceu na mão de Kirei... Ela era o produto de Kirei ter adquirido o

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privilégio de disputar por uma chance de conseguir um desejo através da quarta recriação do
Santo Graal que estava para acontecer três anos mais tarde.

Não era como se fosse recusar a disputa. O dever de Kirei na Santa Igreja era, em sua
essência, a remoção direta da heresia, o que significava que ele era um combatente por
direito. Você poderia dizer que seu dever era uma aposta de vida ou morte contra um mago.
Mais ainda, o problema era uma contradição que necessitava que Kirei, um clérigo,
participasse como um ‘mago’ no Heaven’s Feel, que era uma disputa entre magos.

“A coisa toda sobre o Heaven’s Feel é que ele é uma batalha que usa os Servos como
familiares. Então, para continuar indo em frente, é preciso usar a magia elemental para invocá-
los... Essencialmente, as sete pessoas que são selecionadas como Mestres dos Servos têm de
se transformar em magos. Deve ser inédito para alguém como você, que não faz uso de magia,
ser reconhecido pelo Graal em uma fase tão prematura.”

“O Graal tem pessoas preferenciais para selecionar?”

Tokiomi assentiu para o ainda não convencido Kirei.

“Eu mencionei as ‘Três famílias da origem’ — para a concessão serão preferidos os

magos relacionados com os Makiri, que agora mudaram seu nome para Matou, os Einzbern,
ou os Tohsaka. Em outra palavras...”

“Como o atual chefe da família Tohsaka, eu participarei da próxima batalha.”

Então aquele homem estaria planejando se aliar a Kirei depois de ter gentilmente
guiado-o por completo? Apesar de Kirei ainda não compreender aquilo, ele continuou com
suas inúmeras perguntas.

“Eu me pergunto sobre os Servos que você mencionou antes. Espíritos Heróicos
invocados e usados como Servos, você disse...”

“Talvez seja difícil acreditar, mas essa é a realidade. Essa pode ser a maravilha desse
Graal.”

As lendas de grandes homens, super-humanos que deixaram seus nomes marcados

na história e nos mitos populares. Eles foram aqueles que permaneceram na memória dos
homens depois de suas mortes e foram promovidos da espécie humana para um plano
espiritual; eles eram os ‘Espíritos Heróicos’. Esses estavam em um status completamente

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diferente dos espíritos vingativos ou de espíritos maus comuns da natureza que os magos
geralmente invocam como familiares. Resumindo, é uma existência com o status espiritual de
um deus. Apesar de uma parte de sua força poder ser trazida ou tomada emprestada, é
inimaginável pensar que eles usariam espíritos familiares no mundo atual.

“Se você imaginar que essa impossibilidade é possível com o poder do Graal, você
entende o quão ultrajante é o tesouro que isso representa. No final, a invocação de um Servo é
meramente um fragmento do poder do Graal.”

Como que para demonstrar que estava confuso com o que estava ouvindo, Tohsaka
Tokiomi suspirou profundamente e assentiu com um aceno de cabeça.

“Espíritos Heróicos da era da antiguidade ou dos deuses de séculos atrás agora

podem ser invocados. Sete Espíritos Heróicos servem aos sete Mestres. Cada um protegendo
seu próprio Mestre e exterminando o Mestre inimigo. Heróis de qualquer era ou país são
invocados na era atual, e farão parte de uma competição letal para a supremacia. Esse é a
Guerra do Santo Graal de Fuyuki, Heaven’s Feel.”

“... Tanta monstruosidade? Em um lugar onde milhões de cidadãos vivem?”

Todos os magos seguiam a comum ideia de esconder a si mesmos. Acreditar na

ciência como verdade universal era o mais óbvio caminho de sobreviver na era de hoje.
Revelar suas existências era definitivamente impossível quando tomamos a própria Santa
Igreja em consideração.

Mas você teria de conciliar aquele poder que podia trazer um desastre catastrófico
com os Espíritos Heróicos. Usar sete Servos em um conflito entre humanos na época atual e
tê-los lutando entre si... Era praticamente o mesmo que pedir uma matança de grande escala
em uma guerra.

“— É claro, está implícito que essa batalha deve ser feita em segredo. Você precisa
de um supervisor bem preparado pra ter certeza disso.”

Até então em silêncio, o pai de Kirei, o clérigo Risei, tomou a frente.

“O Heaven’s Feel acontece uma veza cada 60 anos, e essa será a quarta vez. A
civilização japonesa já havia começado quando a Segunda Guerra aconteceu. Mesmo nos

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lugares mais desertos, não podemos ignorar as pessoas presenciando a esses conflitos que
causarão sérios danos.”

Então, desde o terceiro Heaven’s Feel, um acordo foi feito para que nós, da Santa
Igreja, ficássemos encarregados de encontrar um supervisor. Para reduzir ao máximo os
desastres causados pela Guerra, nós devemos ocultar a existência dela e os fazer os magos
cumprirem o dever de manter a disputa em segredo.”

“Então a Igreja serve como juíza em uma disputa entre magos?”

“Exatamente por ser uma disputa entre magos. Não há ninguém na Associação de
Magos que poderia ser juiz por causa de complicações políticas. Simplesmente não há outra
maneira que não recorrer a uma autoridade de fora, como a Igreja.”

“Além do mais, a Santa Igreja não podia deixar que o nome do Santo Graal fosse
usado levianamente. Tampouco podemos ignorar a possibilidade de que essa tenha sido
mesmo a taça que recebeu o sangue do filho de Deus.”

Tanto Kirei quanto Risei, pai e filho, têm um lugar na sessão chamada Assembleia do
8º Sacramento. Um dos deveres daquele grupo da Santa Igreja era recuperar o controle sobre
as relíquias sagradas. O tesouro chamado Santo Graal aparece em muitas fábulas e lendas, e a
importância desse “Graal” na doutrina da Igreja era particularmente grande.

“Sob tais condições, na última vez, no caos da Guerra Mundial, uma reunião sobre o
terceiro Heaven’s Feel foi realizada na época adequada e eu, então jovem, fui escolhido para
uma importante missão. Na próxima batalha, eu iria até Fuyuki para cuidar da disputa.”

Em vista das palavras do pai, Kirei pôde somente inclinar sua cabeça.

“Espere. Não se espera que o supervisor que a Igreja escolheu seja justo? É um
problema se o participante é um parente...”

“Calma, calma. Você acha que isso é uma brecha nas regras?”

O sorriso incomum de seu teimoso pai insinuava algo que Kirei não conseguia
perceber.

“Kotomine-san, você não devia aborrecer o seu filho. Vamos nos concentrar na
verdadeira questão.”

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 Tohsaka Tokiomi claramente apressou o velho clérigo para ir direto ao ponto.

“Hm, certo — Kirei, tudo o que explicamos foram somente os “aspectos básicos” da
Guerra do Graal. Há uma outra razão para eu te apresentar ao senhor Tohsaka hoje.”

“... Que seria?”

“Para falar a verdade, nós temos provas desde muitos tempo atrás de que o Graal
que apareceu em Fuyuki era um diferente da relíquia sagrada do “filho de Deus”. No final, a
batalha do Heaven’s Feel de Fuyuki é apenas uma batalha por um tesouro que é uma mera
cópia do recipiente onipotente, que abre um caminho para uma utopia. Não é relacionado de
forma nenhuma com a nossa Igreja.”

Era assim. Caso contrário, a Santa Igreja não se contentaria com o cargo de uma
simples supervisora. Se o Graal fosse mesmo uma “Relíquia Sagrada”, a Igreja iria descumprir o
cessar-fogo e arrancá-lo das mãos dos magos;

“Se o objetivo final de um cálice é uma desculpa para chegar aos Registros
Akashikos4, não é da conta de nossa Igreja Sagrada. Além de tudo, o anseio dos magos em
encontrar ‘Akasha’, a origem, não necessariamente se opõe à nossa doutrina.

— Mas, para permitir que nos esqueçamos disso, precisamos passá-lo para uma
pessoa forte. Se um indivíduo indesejado conseguir chegar a ele, não sabemos nem que tipo
de acidente isso possa causar.”

“Mas, então, se nós o eliminássemos como uma heresia —“

“Ainda assim, seria difícil. Os magos que batalham pelo Graal têm uma persistência
fora do comum. Se conduzíssemos um julgamento de frente, um conflito com a Associação de
Magos seria inevitável. E criaria um grande número de vítimas.

“Em vez disso, como um plano secundário, seria melhor do que encontrar uma forma
de confiá-la a uma ‘pessoa de confiança’”

“... Entendo.”

4
Referência ao conceito sânscrito de Akasha, o éter dos antigos, quinto elemento cósmico. Os
Registros Akashikos é o registro sobre todas as coisas e acontecimentos, de todo o saber, inscrito no
Akasha.

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 Kirei estava gradualmente entendendo o verdadeiro motivo daquela entrevista, já
que seu pai estava se unindo a Tohsaka Tokiomi, um mago.

“Desde que foi oprimida pela fé de sua terra natal, a família Tohsaka seguiu a mesma
doutrina que nós. Sabendo do caráter de Tokiomi-kun, ele mesmo é seguramente qualificado
para o uso do Graal.”

Tohsaka Tokiomi assentiu, e então resumiu o discurso.

“Chegar á ‘Akasha’. Não há maior objetivo que esse para nós, os Tohsaka. Mas,
infelizmente, os Einzberns e os Matous, que um dia partilharam o mesmo motivo, perderam
de vista os assuntos mais importantes, e agora se esqueceram completamente de sua intenção
original. Não vou nem mencionar que também convidaram quatro Mestres de fora. Eles
querem o Graal para sua cobiça desprezível e nada mais.”

Isso significaria que a Santa Igreja aprovaria ninguém além de Tohsaka Tokiomi como
possuidor do Graal. Foi então que Kirei entendeu mais um pouco mais sobre sua tarefa.

“Então você gostaria que eu participasse da próxima guerra pelo Graal para deixar o
senhor Tohsaka Tokiomi ganhar?”

“Isso mesmo.”

Pela primeira vez, Tohsaka Tokiomi mostrou os primeiros traços de um sorriso.

“Claro, nós vamos unir força debaixo dos panos contra os cinco Mestres
remanescentes, e aniquilá-los, para aumentar as chances de vitória.”

Com as palavras de Tokiomi, o Padre Risei assentiu austeramente. A neutralidade da

Santa Igreja já estava virando uma farsa. Esse Heaven’s Feel seria interessante levando em
conta as expectativas originais da Igreja.

Sendo assim, aquilo não era nem certo nem errado para Kirei. Se as intenções da
Igreja eram claras, haveria apenas o cumprimento de sua tarefa como um executor devotado.

“Kirei-kun, você será transferido da Santa Igreja para a Associação de Magos, e você
será meu aprendiz.”

Sem deixar de lado o tom prático, Tohsaka Tokiomi apressou sua explicações.

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 “Uma — transferência?”

“O intercâmbio já foi feito formalmente, Kirei.”

Dizendo isso, o Padre Risei lhe mostrou uma carta. Era uma notificação com as
assinaturas da Santa Igreja e da Associação de Magos, e estava endereçada para Kotomine
Kirei. Kirei estava mais do que surpreso com o mérito daquele desempenho: desde o dia antes
daquele, a carta havia sido expedida imediatamente.

No final, não havia real motivo da parte de Kirei em tomar frente naquele assunto,
mas também não tinha nenhuma razão em particular para levar aquela discussão como
ofensa. Kirei não tinha, em suma, nenhum motivo.

“O importante será você não fazer nada além de praticar magia na minha casa no
Japão. O próximo Heaven’s Feel é daqui a 3 anos.

“Até lá, você deverá ter um Servo que obedeça a você e se tornar um mago para
participar da batalha como um Mestre.”

“Mas — isso é certo? Se eu estudar abertamente sob seus ensinamentos, não haverá
dúvidas de que estamos trabalhando juntos?”

Tokiomi deu um sorriso gélido e assentiu.

“Você não sabe sobre os magos. Se seus interesses colidem, um conflito entre um
professor e seu estudante acabar em uma batalhe até a morte é comum em nosso mundo.”

“Aah... entendo.”

Apesar de Kirei não pretender entender sobre os magos, ele tinha uma boa
compreensão das tendências da espécie chamada de magos. Ele estivera incontáveis ocasiões
competindo com os ‘hereges’ magos como um executor.

O número de pessoas que ele matou com suas próprias mãos não estava entre
dezenas ou vintenas.

“Então, você tem mais alguma pergunta?”

Enquanto Tokiomi esperava uma conclusão, Kirei fez a pergunta que tinha desde o
princípio.

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 “Apenas uma — O Graal que seleciona os Mestres, qual é o objetivo dele?”

Aparentemente, aquela não era uma questão que Tokiomi estivesse esperando. As
sobrancelhas do mago se enrugaram por alguns segundos, e então ele deu uma resposta
descontraída.

“O Graal vai... É claro, escolherá os Mestres de quem genuinamente precisar.

“Como disse antes, nós, os Tohsaka, seremos incluídos no topo da lista como uma
das três famílias originais.”

“Então, todos os Mestres têm uma razão para quererem o Graal?”

“Não se limita a isso. O Graal precisa de que sete pessoas compareçam. Se não
houver pessoas o suficiente na época atual, pessoas irregulares que normalmente não seriam
escolhidas podem carregar os Selos de Comando. Talvez tenham existido casos assim no
passado, mas — Aah, entendi.”

Enquanto falava, Tokiomi pareceu perceber o que Kirei suspeitava.

“Kirei-kun, você acha que não deveria ter sido selecionado, não acha?”

Kirei assentiu com a cabeça. Não importava o quão arduamente procurasse, não
haveria nenhum motivo para uma máquina de desejos selecionar ele.

“Hm, certamente, é estranho. A única coisa que o ligaria ao Graal seria o seu pai, que
foi escolhido como supervisor, mas... Não, pode afirmar-se que essa é a única razão.”

“... E isso quer dizer que?”

“Talvez o Graal já tenha previsto que a Santa Igreja apoiaria a casa dos Tohsaka.
Então um executor da Igreja que adquiriria um Selo de Comando auxiliaria os Tohsaka.”

Dizendo isso, Tokiomi, que se sentia satisfeito em dar um fim para a discussão,
adicionou.

“Em outras palavras, o Graal está dando a mim, um Tohsaka, dois Selos de Comando,
e, para isso, escolheu você como Mestre.

“E então? Essa explicação te satisfaz?”

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 Assim, ele deu sua conclusão em um tom desafiador.

“...”

Aquela confidência arrogante parecia ser adequada para o homem chamado Tohsaka
Tokiomi. Aquele homem tinha uma dignidade que beirava o sarcasmo.

Certamente, como um mago, era um homem de excelência. E ele devia ter aquela
autoconfiança para conseguir a excelência. Provavelmente, era por isso que ele nunca
duvidava dos próprios julgamentos.

Isso significava que ele nunca teria outra chance de responder Tokiomi dali pra frente
— Essa era a conclusão de Kirei.

“Quando vamos para o Japão?”

Ocultando seu próprio desencorajamento, Kirei mudou de assunto.

“Eu irei à Grã-Bretanha por algum tempo. Tenho uma pequena tarefa para fazer na
Torre do Relógio.

“Você vai para o Japão antes. Vou avisar a minha família.”

“Entendido. Então, já estou indo.”

“Kirei, vá na frente. Preciso resolver algo com o senhor Tohsaka”

Assentindo às palavras do pai, Kirei se levantou de seu assento e, depois de uma

reverência silenciosa, deixou sozinho a sala.

X x

Permanecendo na sala, Tohsaka Tokiomi e o Padre Risei silenciosamente assistiram

Kotomine Kirei sair.

“Você tem um filho bastante confiável, Kotomine-san.”

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 “A força dele como ‘Executor’ está garantida. Nenhum de seus colegas é mais
estudioso que ele durante o treinamento. Eu deveria ser aquele de quem você desconfiasse.”

“Ho... Essa é a atitude exemplar de um defensor da fé?”

“Oh, me envergonha dizer isso, mas Kirei é o único orgulho para um velho senil como
eu.”

O velho Padre era conhecido por seu rigor, mas, sentindo-se à vontade com Tokiomi,
sorriu. Quando seus olhos se voltavam para seu único filho, seu amor e confiança claramente
se mostravam.

“Como não tive uma criança antes dos 50, já tinha desistido de ter um herdeiro...
Mas, agora, estou surpreso com o quão longe meu filho chegou.”

“Entretanto, ele aceitou mais fácil do que eu imaginava, não foi?”

“Meu filho se atiraria num incêndio, se essa fosse a vontade da Igreja. Esse é o quão
ele iria longe por sua fé.”

Embora Tokiomi não quisesse duvidar das palavras do velho Padre, a impressão que
teve foi a de que o filho de Padre Risei não tinha uma fé tão ‘impetuosa’. A aparência tranquila
do homem chamado Kirei parecia para ele mais niilista.

“Pra ser sincero, isso foi uma decepção. Por mais que eu olhe para ele, parece que
ele foi envolvido em algo que não lhe diz respeito.”

“Não... Talvez essa seja mesmo uma salvação para ele.”

Falando de forma obscura, o Padre Risei começou a resmungar melancolicamente.

“É um assunto pessoal, mas a esposa dele morreu há alguns dias atrás. Eles não
estavam casados não nem fazia dois anos.”

“Oh, eu—“

Tokiomi perdeu as palavras sob aquela circunstância inesperada.

19
Light Novel Project
 “Apesar de não demonstrar, ele pareceu suportar bem... Ele teve muitas lembranças
na Itália. Talvez, por enquanto, para Kirei, voltar à sua velha terra natal para uma nova missão
ajude a curar suas feridas.”

Risei suspirou. Tokiomi continuou fitando-o diretamente.

“Tokiomi-kun, o verdadeiro valor de alguém não aparece quando as dificuldades

aumentam?”

Tokiomi fez uma longa reverência às palavras do velho clérigo.

“Eu sou grato. Minha dívida com a Santa Igreja e com ambas as gerações da família
Kotomine será tomado como um preceito de família.”

“Nem tanto. Estou só cumprindo meu juramento para com a futura geração da
família Tohsaka — O resto será só orar pela proteção de Deus até que sua jornada chegue à
‘Raiz’.”

“Sim. Os arrependimentos do meu avô, o mais profundo desejo dos Tohsaka... é para
isso que a minha vida inteira tem sido.”

Escondendo o quanto sua autoconfiança era sufocada pelo peso de suas

responsabilidades, Tokiomi assentiu resolutamente.

“Nesse ano, vou chegar ao Graal. Eu vou me certificar disso.”

À dignidade de Tokiomi, o Padre Risei abençoou a memória de seu falecido amigo.

‘Meu amigo... Você também conseguiu um bom herdeiro. ’

X x

Com o vento do mar Mediterrâneo farfalhando em seus cabelos, Kotomine Kirei

voltou da casa de campo do alto da montanha, quieto e silencioso, pelo estreito, sinuoso
caminho.

20
Light Novel Project
 Finalmente Kirei colocou em ordem as muitas impressões que teve do homem
chamado Tohsaka Tokiomi, que encontrou há pouco tempo.

Talvez ele tivesse levado uma vida dura. Como se o orgulho tivesse sido
proporcionalmente transformado nas dificuldades vividas, ele era um homem imbuído com
uma dignidade firme que ele poderia se gabar por direito.

Ele compreende aquele tipo de comportamento muito bem. O próprio pai de Kirei
tinha o mesmo tipo de personalidade.

Homens que decidiram o significado por trás de seu nascimento, de sua própria
existência, e o seguiram sem duvidar dele. Eles definitivamente nunca iriam vacilar, nunca
iriam hesitar.

Moldando isso numa determinação férrea em agir com um objetivo claro,

direcionada somente pelo cumprimento do ‘algo’ que era identificado como seus objetivos de
vida, em qualquer um dos aspectos dela.

A ‘forma dessa convicção’ pode ser, como no caso do pai de Kirei, uma fé beata; e no
caso de Tohsaka Tokiomi, talvez fosse a auto-confiança de alguém que tivesse sido escolhido
— um privilégio que não era para plebeus, e a auto-confiança de alguém com uma
responsabilidade para carregar. Ele era um desses ‘aristocratas genuínos’ remanescentes que
raramente se encontra hoje em dia.

A partir de então, a existência de Tohsaka Tokiomi provavelmente significaria

importante implicações para Kirei... Mas mesmo assim, ele era um tipo incompatível com o de
Kirei. Era o mesmo que dizer que ele era parecido com seu pai.

Aqueles que vêem somente seus ideais nunca poderão entender a dor daqueles que
são incapazes de ter um. Pessoas como Tokiomi tinham um ‘senso de motivação’ como base
para suas convicções, mas isso era totalmente ausente da mente de Kirei. Nenhuma vez no
decorrer de 20 anos ele sentira tal sensação.

Julgando dessa forma, ele não iria considerar a mais nobre ideia, nem ter conforto
em qualquer missão, ou encontrar descanso em qualquer prazer. Tal homem não poderia ter
algo como um senso de motivação, em primeiro lugar.

21
Light Novel Project
 Ele não conseguia nem entender como foi tão desviado dos valores que eram
prezados no mundo comum. Kirei não conseguia nem descobrir uma paixão que o fizesse se
jogar de cabeça em algo.

Ele ainda acreditava que existia um Deus. Que existia uma existência suprema,
apesar de ele não ter maturidade para percebê-la.

Ele viveu acreditando que, um dia, a palavra mais sagrada de Deus o levaria para uma
verdade suprema e o salvaria. Apostando nessa fé, tentando alcançá-la.

Mas, no fundo de seu coração, ele já sabia. A salvação do amor de Deus não viria
mais para um homem como ele.

Ser confrontado com tal fúria e desespero o levou para o masoquismo. Sob a
desculpa de punição para um treinamento moral, ele simplesmente continuou machucando a
si próprio repetidamente. Mas essas torturas fizeram o corpo de Kirei tornar-se como ferro, e,
quando ele percebeu, chegou ao topo da elite da Santa Igreja como um ‘Executor’, onde
ninguém o havia seguido.

Todos chamaram aquilo de ‘glória’. O autocontrole e a devoção de Kotomine Kirei

foram elogiados como um exemplo para o clero. Seu pai, Risei, não foi exceção.

Kirei entendeu muito bem porque Kotomine Risei tinha tanta fé e admiração por seu
filho, mas esse era um mal-entendido tão grande que chegava ao ponto de; na realidade, seu
coração se envergonhar. Uma vida inteira provavelmente não seria capaz de amenizar aquele
mal-entendido.

Até esse dia, ninguém conseguiu entender o que tanto faltava em Kirei.

Sim, até a única mulher que ele amava —

“...”

Sentindo uma tontura, Kirei desacelerou sua caminhada e levou a mão à sua testa.

Quando ele tentou lembrar-se da esposa que ele havia perdido, perdeu-se em
pensamentos difusos em uma névoa crescente. Era como ter parado na névoa diante de um
abismo. O instinto de sobrevivência lhe disse para não dar nem um passo a frente.

22
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 Quando ele deu por si, ele havia chegado ao pé da colina. Kirei parou e olhou de
volta para a casa de campo ao longe, no alto.

Finalmente, ele não havia chegado à uma conclusão satisfatória sobre sua entrevista
com Tohsaka Tokiomi... Esse era o importante problema que mais havia preocupado Kirei.

Por que um poder milagroso como o ‘Graal’ escolheu Kotomine Kirei?

A explicação de Tokiomi era afoita. Se o Graal queria um ajudante para Tokiomi,

deveria haver muitas pessoas capazes que quisessem se aliar a ele; não Kirei.

Tinha de haver uma razão para sua escolha para o próximo aparecimento do Graal.

Ainda assim... Quanto mais pensava nisso, mais Kirei achava essa inconsistência
preocupante.

Ele essencialmente não tinha um ‘senso de motivação’, nem algum ideal ou

aspiração. Não importava a maneira que olhasse, não havia motivo para ele ser o recebedor de
um milagre como uma “toda poderosa máquina de desejos.”

Com uma expressão sombria, Kirei olhou para os três símbolos que apareceram nas
costas de sua mão direita.

Diziam que os Selos de Comando eram um sinal sagrado.

Será que encontraria uma promessa para cumprir daqui a três anos?

23
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1 ano atrás

Ele reconheceu imediatamente a mulher que estava procurando.

No início da tarde de feriado, crianças podiam ser vistas brincando no jardim,

banhadas com a tranquila luz do sol do início de outono, com seus pais cuidando delas,
sorrindo. A praça ao redor da fonte do parque estava cheia de habitantes da cidade que foram
levar suas famílias para relaxarem.

Mesmo numa multidão, ele não perdeu seu rastro.

Não importava o quanto houvesse de gente, não importava o quanto fosse longe, ele
estava certo que poderia encontrá-la sem esforços. Mesmo que não soubesse se conseguiria
encontrar ela uma vez sequer num mês, mesmo que ela já tivesse um parceiro.

Somente quando caminhou até ela, fez a mulher nas sombras das árvores perceber
sua chegada.

“— Ei, há quanto tempo.”

“Oh — Kariya-kun.”

Mostrando um modesto, cordial sorriso, ela tirou os olhos do livro que estava lendo.

Desgastada — Vendo-a daquele modo, Kariya sentiu-se preenchido com uma

inquietação desamparada. Algo parecia atormentá-la.

Ele quis perguntar imediatamente sobre a causa daquele problema, para esforçar-se
em achar uma solução para aquela “alguma coisa” — mas Kariya não podia falar sobre aquilo
mesmo com aquele impulso. Ele não estava tão próximo para que pudesse dedicar tanta
gentileza incondicional; aquele não era o lugar dele.

“Faz 3 meses. Essa viagem durou bastante dessa vez.”

“Ah... Eh, sim.”

O sorriso dela com certeza aparecia nos seus doces sonhos. Mas ele não tinha
coragem de encará-la quando estava mesmo na frente dela. Se passaram 8 anos, e Kariya
provavelmente nunca seria capaz de encarar aquele sorriso.

24
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 Por ela deixá-lo sempre tão nervoso, ele nunca soube sobre o que falar depois de se
cumprimentarem, e um súbito silêncio se faria presente. Isso também sempre acontecia todas
às vezes.

Para quebrar o silêncio incômodo, Kariya procurou por aquela com quem ele podia
falar facilmente.

— Ali. Brincando no meio das outras crianças na grama, um par de rabos-de-cavalo

dançava. Apesar de bem jovem, a garota já apresentava sinais do belo rosto que ela herdara
de sua mãe.

“Rin-chan.”

Kariya chamou, acenando com uma mão. Assim que ela percebeu, a garota que ele
chamou de Rin correu para ele com sorriso resplandecente.

“Bem vindo de volta, tio Kariya! Você me trouxe outro presente?”

“Rin, olhe os modos...”

A jovem menina parecia não notar o embaraço na voz de sua mãe. Os olhos de Rin
brilhavam de ansiedade, e Kariya, respondendo com o mesmo sorriso, mostrou-lhe um dos
dois presentes que carregava atrás das costas.

“Waah, lindo...”

Um broche feito de contas de vidro de vários tamanhos roubou o coração da garota à

primeira vista. Embora parecesse um pouco demais para uma garota daquela idade, Kariya
estava consciente de que Rin tinha gostos precoces.

“Tio, como sempre, obrigada; vou cuidar bem dele.”

“Ha ha, se você gostou, o tio também fica feliz.”

Gentilmente acariciando a cabeça de Rin, Kariya procurou pelo receptor do outro

presente que havia trazido.

Por alguma razão, ela não estava em lugar nenhum do parque...

“Diga, onde está a Sakura-chan?”

25
Light Novel Project
 Ouvindo a pergunta de Kariya, o sorriso de Rin imediatamente desapareceu.

Seu rosto parecia ter parado de pensar, o rosto de uma resignada criança obrigada a
aceitar a realidade sem pestanejar.

“Sakura, ela... foi embora.”

Com um rosto inexpressivo, Rin deu uma resposta mórbida. Então, como se tentasse
evitar a pergunta de Kariya, ela correu de volta para as crianças com quem brincava antes.

“...”

Perplexo com as palavras incompreensíveis de Rin, Kariya olhou para a mãe dela
interrogativamente com a súbita realização. Ela desviou o olhar para um ponto vazio, com uma
expressão sombria.

“O que isso quer dizer...?”

“Sakura não é mais minha filha nem irmã de Rin.”

Seu tom era seco, mas mais corajoso que o de sua filha Rin.

“Aquela criança foi para a família Matou.”

Ma...tou—

O nome, soando profundamente familiar e, ainda assim, abominável, violentamente

estraçalhou o coração de Kariya.

“Isso não pode... O que diabo isso quer dizer, Aoi-san?!”

“Você não precisava nem perguntar, certo? Especialmente você, Kariya-kun.”

Quebrando o coração de Kariya, a mãe de Rin — Tohsaka Aoi deu uma áspera, fria
resposta, nunca o olhando diretamente, como se fosse indiferente.

“Claro que você, de todas as pessoas, deveria saber por que os Matou precisavam de
uma criança de uma linhagem de magos para sucedê-los, não é?”

“Como... você pôde... aceitar isso?”

26
Light Novel Project
 “Isso é o que ele decidiu. Essa é a decisão do chefe da família Tohsaka, de acordo
com o pedido dos velhos amigos, os Matou... Minha opinião não importa.”

Por aquela razão, mãe e filha, irmã mais velha e irmã mais nova, foram separadas.

Claro que ela não concordou. Mas tanto Aoi quanto a pequena Rin sabiam bem que
não podiam fazer nada senão aceitar aquilo. Isso porque aquilo era o que significava viver
como um mago. Kariya também sabia desse destino cruel.

“... Você está se sentindo bem com isso?”

Aoi respondeu com um débil, amargo sorriso à voz dura de Kariya.

“Eu estava preparada para algo assim quando decidi casar com um membro de
família Tohsaka, quando decidi me tornar a esposa de um mago. Quando você de envolve com
a linhagem de um mago, é um erro buscar pela felicidade de uma família normal.”

E, encarando Kariya, que tentou falar mais uma vez, a esposa do mago gentil, mas
claramente, o parou —

“Esse é um assunto entre os Tohsaka e os Matou. Não é assunto para você, que virou
as costas para o mundo dos magos.”

Ela terminou com um leve meneio.

Com isso, Kariya não conseguia mais se mover. Como se houvesse se transformado
em uma das árvores do parque, seu peito sentiu-se apertado com fraqueza e abandono.

Há muito tempo atrás, quando ela era uma menina, e quando se tornou uma esposa,
e pouco depois, quando teve duas crianças, a atitude de Aoi com relação a Kariya nunca
mudou. Três anos mais velha que ele, amigos desde a infância, ela sempre se dirigiu a Kariya
amavelmente e sem constrangimento, como uma verdadeira irmã mais velha com um irmão
mais novo.

Essa era a primeira vez que ela apontava tão claramente suas respectivas posições.

“Se você conseguir encontrar Sakura mais uma vez, por favor, trate-a gentilmente.
Ela sempre foi afeiçoada a você, Kariya-kun.”

27
Light Novel Project
 Com Aoi observando ela, Rin brincava alegremente, cheia de energia, como tentasse
espantar sua tristeza.

Como se o próprio comportamento de Rin fosse a resposta que trouxe de volta o

emudecido Kariya para perto dela, Tohsaka Aoi mostrou a ele o perfil de uma mãe tranquila
em um feriado.

Mas Kariya ainda não sentia falta daquilo. Não havia forma alguma de poder sentir
falta.

A firme, serena Tohsaka Aoi que aceitou seu destino.

Ela não podia nem sequer ocultar completamente as lágrimas se juntando no canto
de seus olhos.

X x

Kiriya correu através da cidade natal que ele pensou que nunca mais veria.

Todas as vezes que voltava à cidade de Fuyaki, ele nunca cruzava a ponte para
Miyama.

Devia fazer 10 anos. Diferentemente da área de Shinto, onde os negócios

continuavam todos os dias, nada havia mudado naquela vizinhança onde o tempo parecia ter
parado.

Ruas calmas cheias de lembranças, mas nenhuma agradável viria se ele parasse para
olhar. Ignorando uma nostalgia tão inútil, Kariya pensou em sua conversa com Aoi há uma
hora.

“... Você está se sentindo bem com isso?”

Foi resposta impensada que Aoi lhe deu enquanto desviava o olhar. Ele não havia
usado um tom tão afiado havia muitos anos.

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 Não levante sua vista, não seja um incômodo... Aquele era o modo como ele viveu.
Raiva, ódio, Kariya deixou tudo isso nas ruas desoladas de Miyama. Depois de sair de sua terra
natal, Kariya nunca fez confusão com nada. Mesmo os mais tolos, sórdidos assuntos não eram
nada se comparados com o que odiou em sua terra.

É por causa disso — sim. Devia fazer 8 anos desde a última vez que sua voz
demonstrou tantos sentimentos.

Naquela época, não foi com a mesma mulher que Kariya havia usado o mesmo tom,
as mesmas palavras?

“Você está se sentindo bem com isso?” — Ele lançou a mesma questão daquela vez,
virando-se para a amiga de infância mais velha na noite anterior que ela recebeu o nome
Tohsaka.

Ele nunca esqueceu. A expressão que ela tinha naquela vez.

Ela assentiu levemente, como se sentisse muito, como se estivesse se desculpando, e

mesmo assim corando com embaraço. Kariya foi derrotado por seu sorriso gentil.

“... Eu estava preparada... É um erro buscar pela felicidade comum de uma família...”

Tais palavras não eram nada além uma mentira.

Naquele dia, a oito anos atrás, quando ela se declarou para o jovem mago, seu
sorriso claramente mostrava sua fé na felicidade.

E então, Kariya aceitou por completo sua derrota porque acreditava naquele sorriso.

Talvez, o homem que estava casando com Aoi, aquele homem fosse o único que
pudesse fazê-la feliz.

Mas isso foi um erro.

Mais do que ninguém, Kariya deveria ter percebido que aquele era um erro fatal.

Por ele ter percebido completamente o quanto a magia era desprezível, Kariya não
rejeitou seu destino e abandonou sua família?

No entanto, ele podia perdoar aquilo.

29
Light Novel Project
 Mesmo que ele, que havia virado as costas com medo, ciente de como a magia era
abominável... A mulher mais importante para ele havia se rendido, de todas as pessoas, para o
homem que era mais parecido com um mago.

O que agora queima no peito de Kariya é arrependimento.

Não uma, mas duas vezes, ele escolheu as palavras erradas.

Ele não devia ter perguntado, “você está de acordo com isso?’, mas sim devia ter
concluído, “você não deve fazer isso”;

E há 8 anos, se ele houvesse impedido Aoi — talvez o futuro tivesse sido diferente de
hoje. Se ela não tivesse se unido aos Tohsaka naquele dia, ela estaria livre da maldição de um
mago, e poderia levar uma vida normal.

E hoje, naquele início de manhã no parque, se ele houvesse reagido diferente à

decisão entre os Tohsaka e os Matou — talvez tivesse conseguido chocar ela. Ela poderia ter
rejeitado os absurdos de um estranho.

Mas mesmo assim, ela não poderia ficar se culpando daquela forma. Ela não tinha de
sufocar suas lágrimas.

Kariya absolutamente não podia perdoar aquilo. Ele, que repetiu o mesmo erro duas
vezes. Para sua punição, ele retornou ao lugar que deixou para trás.

Certamente havia, lá, uma forma de pagar por aquilo. O mundo a que ele havia certa
vez virado as costas. O destino que ele mal havia escapado.

Mas agora ele poderia enfrentar aquilo.

Se ele pensasse na única mulher nesse mundo inteiro que ele não queria que
sofresse —

Debaixo de um céu onde crepúsculo se aproximava, ele parou numa imponente,

deslumbrante casa em estilo ocidental.

Após 10 anos, Matou Kariya estava em frente ao portão de sua antiga casa mais uma
vez.

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Light Novel Project
 X x

Começando pela porta da frente, a pequena, porém arriscada discussão prosseguiu

dentro da residência dos Matou onde Kariya se sentou em um sofá de uma sala de desenho.

“Eu pensei que tinha lhe dito para nunca mais aparecer na minha frente.”

Sentado de frente para Kariya, o pequeno, velho homem que cuspiu as detestáveis
palavras era Matou Zouken, o chefe da família. Ele era tão magro que sua cabeça calva e seus
membros o faziam parecer mumificado, ainda que uma luz profunda nos seus olhos o
enchesse de espírito; tanto sua aparência quanto personalidade o tornavam uma pessoa
incomum e misteriosa.

Para falar a verdade, até mesmo Kariya não conseguia dizer qual a verdadeira idade
do velho homem. As inscrições incomuns nos registros da família diziam que ele era irmão do
pai de Kariya. Até nos de seu bisavô, seu ancestral da terceira geração, havia registros do velho
chamado Zouken na árvore genealógica. Era impossível descobrir por quantas gerações aquele
homem liderou na família Matou.

Falando em atos repulsivos, ele era um mago que podia ser chamado de imortal,
aumentando e aumentando sua idade. Uma pessoa da raiz da linhagem Matou com poucas
conexões diretas com Kariya. Ele era um genuíno espectro sobrevivendo na era atual.

“Eu soube de algo imperdoável. Sobre como a casa dos Matou está realizando uma
vergonhosa desonrosa.”

Kariya admitiu múltiplas vezes que o mago a quem agora confrontava era poderoso,
com uma crueldade inigualável. Um homem que era a personificação de tudo o que Kariya
viera a odiar, desprezar, desdenhar através de sua existência. Mesmo que esse homem
estivesse prestes a matá-lo, Kariya iria, definitivamente, odiá-lo severamente até o final. No
confronto há dez anos, Kariya enfrentou aquele espírito forte e escapou dos Matou,
conseguindo sua liberdade.

“Eu ouvi dizer que você levou a segunda filha dos Tohsaka. Você quer tanto assim
preservar a linhagem dos magos?”

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Light Novel Project
 Zouken fez uma careta ao tom desafiador do interrogatório de Kariya.

“Você quer falar sobre isso? Nada mais? Quem exatamente você acha que é
responsável pela queda dos Matou?

“No final, o filho de Byakuya não tinha Círculos Mágicos. A linhagem puro-sangue dos
Matou se arruinou com essa geração. Mas, mais do que seu irmão mais velho Byakuya, você
foi aquele que percebeu os princípios básicos de um mago, Kariya. Se você tivesse
obedientemente recebido a sua herança e acessado os segredos dos Matou, nós não seríamos
pressionados por essas circunstâncias. E isso é tudo sua...”

Mas Kariya, bufando, se defendeu da atitude ameaçadora do velho homem que

estava se aquecendo com espuma em sua boca.

“Pare com sua comédia, vampiro. O que há com essa confusão toda de fazer a
linhagem Matou resistir? Não me faça rir. Não haverá nada de errado para você mesmo se
nenhuma nova geração dos Matou for produzida. Essa discussão está terminada, já que você
mesmo vai continuar vivo por uns duzentos ou mil anos, né?”

Como o previsto por Kariya, Zouken deu um sorriso astuto, como se sua fúria agora
fosse uma mentira. Aquele era o sorriso de um monstro que nem sequer considera emoções
humanas.

“Como de praxe, você é um sujeito mal-amado. Você fala e age francamente.”

“Que seja, foi assim que você me treinou. Não sou eu que gosto de rodeios.”

Um som úmido veio do fundo da garganta do velho, como se ele estivesse rindo
prazerosamente.

“Está certo. Você provavelmente vai durar mais do que eu num futuro distante, mais
do que o filho de Byakuya.

“Mas mesmo assim, é só uma questão de quanto tempo eu posso preservar esse
corpo de seu apodrecimento diário. Mesmo que não seja necessário um herdeiro para os
Matou, um mago Matou é preciso. Isso é, para ganhar o Graal.”

“… Então, no final, esse é o seu objetivo?”

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Light Novel Project
 Era bem como Kariya previa. Era a imortalidade que o velho mago estava
perseguindo fervorosamente.

A máquina de desejos chamada de ‘Graal’ poderia realizar aquele desejo assim que
fosse completado... O que estava sufocando aquele monstro que não morreria depois de
séculos era a esperança nesse milagre.

“O retorno do ciclo de 60 anos é no próximo ano. Mas para a quarta Guerra do Graal,
o quarto Heaven’s Feel, não há haverá nenhum competidor dos Matou.

“Byakuya não tinha o nível de prana para um Servo. Ele nem mesmo tinha um Selo
de Comando.

“Mas mesmo que tenhamos de desistir dessa batalha, há uma chance para a próxima
daqui a 60 anos. Não há dúvidas de que um excelente usuário pode nascer da filha dos
Tohsaka. Tenho altas expectativas para ela como uma boa receptora.”

O rosto de Tohsaka Sakura apareceu por trás das pálpebras de Kariya.

Um crescimento tardio, sempre atrás de sua irmã Rin, uma garota de aparência frágil.

Uma criança pequena demais para lidar com o destino cruel de um mago.

Engolindo uma raiva crescente, Kariya fingiu uma atitude tranquila.

Ali e naquele momento, ele estava lá para negociar com Zouken. Não havia nada a
ganhar sendo emotivo.

“— Se é sobre isso, se você quer o Graal, então não há necessidade de Tohsaka

Sakura, certo?”

Os olhos de Zouken se estreitaram, suspeitando do significado oculto nas palavras de

Kariya.

“Você, que espécie de truque que tem em mente?”

“Um acordo, Matou Zouken. Eu vou levar o nome dos Matou para o próximo
Heaven’s Feel. Em troca, você vai libertar Tohsaka Sakura.”

33
Light Novel Project
 Surpreendido somente pelo tempo de uma respiração, Zouken então riu com
desdém.

“Kha, não seja idiota. Um fracasso que nunca estudou nada, ser o Mestre de um
Servo em um ano?”

“Você tem o segredo para tornar isso possível, não tem? Com aquela sua
manipulação de vermes de que você é tão orgulhoso, velho.”

Kariya foi direto ao ponto, olhando nos olhos de um velho mago de cabeça erguida.

“Plante seus ‘Crest Worms’ em mim. Você pode fazer isso, em carne e osso da
imundice dos Matou. A compatibilidade deve ser muito melhor do que com uma filha de outra
casa.”

O rosto de Zouken mudou da de um humano para o de um mago, toda a expressão

se apagando.

“Kariya — Você quer morrer?”

“Não me diga que está preocupado, ‘Tio’?”

Zouken pareceu entender que Kariya estava sério. Friamente, o mago avaliou Kariya,
encarando ele, e então deu um longo suspiro.

“Devo dizer que eu esperava mais de você do que de Byakuya. Depois de expandir
seus Circuitos Mágicos com os Crest Worms, se conseguirmos treinar você exaustivamente em
um ano, talvez o Graal acabe selecionando você.

“...Mesmo assim, não consigo entender. Por que você iria tão longe por uma
garotinha?”

“Só deixe a resistência dos Matou ser cuidada pelas mãos dos Matou. Não envolva
estranhos que não tenham a ver com isso.”

“De novo com essa sua admirável dedicação.”

Como estivesse se divertindo com aquilo, Zouken mostrou um sorriso satisfeito,

cheio de sua vil disposição.

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Light Novel Project
 “Mas, Kariya, se não queria ter ninguém envolvido, você não está um pouco
atrasado?

“Você sabe quantos dias fazem desde que a filha de Tohsaka veio para nossa
família?”

O desespero, invadindo-o, despedaçou o peito de Kariya.

“Velho, você quer dizer —“

“Houve gritos terríveis nos primeiros três dias, mas pelo quarto dia, ela estava quieta.
Hoje, ela foi atirada no armazenamento de vermes para testar o quanto durava, mas, ho ho,
ela resistiu pela metade de um dia e ainda está respirando. Quem diria, o material Tohsaka
não é defeituoso.”

Os ombros de Kariya se arrepiaram com um instinto assassino além do ódio.

Ele queria agarrar o perverso mago pelo pescoço, estrangulá-lo com toda a sua força,
e esmagá-lo, nesse instante —

— Esse era o impulso enlouquecendo Kariya por dentro.

Mas Kariya aceito aquilo. Mesmo que estivesse a ponto de definhar, Zouken era um
mago. Kariya não podia nem sequer tentar matá-lo ali mesmo. Ele não tinha nenhum
fragmento do poder necessário para fazê-lo.

Para salvar Sakura, não havia outra forma que não fosse negociar.

Passando por cima do conflito interno de Kariya, Zouken soltou uma satisfeita, risada
sombria.

“Então, o que vai fazer? A garotinha já está fraca, cheia de verme desde a cabeça até
os pés.

“Mas se ainda quiser salvá-la, bem, eu não pensaria duas vezes.”

“... Sem objeções. Vamos fazer isso imediatamente.”

Kariya respondeu em uma voz fria. Claro que ele não tinha outra escolha.

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Light Novel Project
 “Excelente, excelente. Bem, podemos treinar você o quanto que for possível. Mas
saiba que eu continuarei o treinamento de Sakura enquanto você não mostrar resultados.”

Gargalhando, o bom humor do velho mago estava fazendo de tolos Kariya, sua fúria e
desgosto.

“Melhor do que restabelecer um erro que já nos traiu, a chance de conseguir sucesso
de uma criança é muito maior. Sou a favor de conseguir o melhor resultado de uma
oportunidade de cada vez. Estou renunciando o Heaven’s Feel dessa vez, já que já considerei
isso uma batalha perdida.

“Mas, se entre uma em um milhão de chances, você conseguir o Graal — eu

concordarei. Se isso acontecer, eu naturalmente não terei mais negócios a tratar com a filha de
Tohsaka. Eu terminaria com a única coisa para que estou treinando ela.”

“Você não está fazendo jogo duplo, está? Matou Zouken.”

“Kariya, se você pensa que precisa ter vários rostos para falar comigo, tente aguentar
os Crest Woms primeiro.

“Sim, tente ser um viveiro para os vermes durante uma semana primeiro. Se você
não morrer de insanidade até lá, vou assumir que você está levando a sério.”

Apoiando-se me sua bengala, ajeitando suas costas com dificuldade, Zouken virou
para Kariya com um sorriso estranho que mostrava claramente sua perversidade.

“Então, vamos começar as preparações sem demora. Vamos começar o tratamento

imediatamente. Se quiser reconsiderar, faça isso agora.”

Somente assentindo silenciosamente, Kariya se desfez de sua última hesitação.

Ele seria um fantoche de Zouken assim que deixasse os vermes entrarem em seu
corpo. Com isso, não haveria forma alguma de se rebelar contra o velho mago. Se ele
conseguisse se qualificar como um mago, Kariya e seu sangue Matou definitivamente
receberiam um Selo de Comando.

Heaven’s Feel. A única chance de salvação para Tohsaka Sakura. A chance que ele
nunca conseguiria com aquele corpo e aquele sangue.

36
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 Kariya talvez perdesse sua vida em troca dela. Mesmo que não fosse morto por
algum dos outros Mestres, o corpo de Kariya seria devorado pelos vermes por implantar os
Crest Worms em um período tão curto de tempo como um ano, e sua expectativa de vida não
seria maior do que apenas alguns anos.

Mas aquilo não importava.

A decisão de Kariya demorou muito. A filha de Aoi teria vivido feliz com sua mãe se
ele houvesse tido a mesma determinação há dez anos. O destino que ele recusou foi passado
para outro e caiu sobre uma garota inocente.

Não havia perdão para aquilo. Se houvesse um caminho para a redenção, não seria
nada mais que devolver uma vida normal para a menina.

Além do mais, se ele conseguisse aniquilar os outros seis Mestres para chegar ao
Graal...

Além daqueles que trouxeram desgraça para a garota chamada Sakura, havia pelo
menos uma pessoa para quem podia levar um réquiem.

“Tohsaka Tokiomi…”

Como o chefe de uma das três famílias da origem, não havia dúvidas de que ele
poderia conseguir o Selo de Comando.

Diferentemente de seu senso de culpa em relação a Aoi, e do de ódio a Zouken, havia

um ódio que foi acumulado até aquele dia.

Um sentimento sombrio de vingança silenciosamente começou a queimar no fundo

do coração de Matou Kariya como um incêndio.

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