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Formação para docentes de EMRC

Educação para os valores e cultura contemporânea

Formador: Doutor João Manuel Duque

Educar para a televisão

Sérgio Dinis da Costa Rocha


Docente na Escola E.B. 2,3 de Abação
Educar para a televisão

Vivemos no tempo da mediocracia, em que impera o virtual. De facto, actualmente, o


poder é da comunicação. E por isso os media são o instrumento mais eficaz para
transmitir valores. As crianças já nascem e crescem num ambiente de que fazem parte
integrante, e do qual são referência central, os media. Destaca-se a televisão com um
papel mais forte e activo na educação das crianças. A televisão está omnipresente no
nosso dia-a-dia.
Uma vez que a tudo que a televisão apresenta, realidade ou ficção, está transposto
para imagens, as crianças habituam-se a uma vida baseada no virtual. O grande
problema é que o mundo por imagens, que é proposto pela televisão, desactiva a
capacidade de abstracção e, com ela, a capacidade de compreender os problemas e de os
enfrentar racionalmente. Dá-se uma perda da capacidade em utilizar a linguagem
abstracta e nota-se já, na geração jovem, uma acentuada imprecisão na linguagem e uma
incapacidade para estabelecer uma conversação simples e normal.
Porque apoiadas no vazio, as gerações assim habituadas não têm sentido crítico, não
são racionalmente activas, não conhecem as suas origens, não reconhecem raízes, não
possuem valores firmes para se agarrarem.
Do livro “Comandados à distância”, extraí um excerto de uma entrevista com uma
professora primária americana, Kimberley Palmer, que refere as seguintes
características, como típicas das crianças que vêem demasiada televisão: “A criança que
vê muita televisão (criança média) tende a ser menos pronta a seguir instruções ou
escutar conselhos. Mais agressiva e tende a achar que essa agressividade é natural, tende
a ter um sistema de valores desordenado e é prejudicada por uma noção distorcida do
que correcto ou errado. A criança média, mesmo no quarto ano, já é, em perspectiva,
sexualmente permissiva, em vez de adoptar a orientação da família, da igreja ou da
escola, imita as personagens da televisão e do cinema – até na linguagem, nos modos e
no comportamento. A criança média não gosta de ler seja o que for e opõe resistência a
qualquer oportunidade de melhorar a capacidade de escrever. Tem falta de criatividade,
é apática e tem pouca imaginação. Tem uma noção distorcida e aberrante da realidade e
do mundo – tendente a fazê-la viver num estado de permanente receio”.
Como não podemos omitir “o peso que a TV possui para remar contra a maré,
difundindo valores, mundividências e comportamentos que violentam o sentir geral” 1,
esta passou a ser uma questão central para todos (filosofia, sociologia, Igreja, educação,
escola).
Para os professores a televisão é fonte de preocupação, é uma ameaça. Ameaça, pelo
tempo que ocupa no dia-a-dia dos alunos e que os impediria de dedicar-se o necessário
aos deveres escolares, à leitura, ao sono, a outras actividades. Ameaça, também, a
capacidade de concentração e de atenção. Ameaça a disponibilidade para os requisitos
que são considerados necessários à aprendizagem: o esforço, a repetição, a progressão, a
avaliação. Na televisão tudo é fácil e atraente, tudo gratifica, tudo sugere que se pode
aprender sem custo: basta estar lá e consumir ainda mais2.
É urgente a educação para o uso crítico e inteligente da televisão por parte dos nossos
alunos. Os professores, na escola, devem ensinar a ver televisão. Ajudar os alunos a
distinguir o que é bom e o que é mau. “Ajudar a distinguir o que é real do que é
ficcional; questionar a credibilidade que as crianças atribuem à televisão; aprender a
avaliar programas e a tomar posição sobre eles; aprender a confrontar a informação
televisiva com a experiência de outras pessoas que conhecemos e consulta outras
fontes”3. É importante que os alunos percebam que para «ler» o sentido das imagens, é
preciso «ver» para além do que se vê. Têm de compreender que nem tudo o que vêem
na televisão é fidedigno. Devem, os alunos, conseguir questionar a credibilidade
atribuída à televisão. Devem aprender a avaliar programas e a tomar posição. Devem ser
ensinados não a ''ver televisão'', mas sim a ver programas de televisão. Assim poderão
revelar a capacidade de selecção e discriminação.
No final, os alunos devem saber que a televisão tem três funções: divertir, informar e
educar.
A televisão pode, ainda, ser um campo e pretexto de expressão e comunicação. Fazer
da televisão tema de conversa e de reflexão pode incentivar à participação alunos com
interesses divergentes dos escolares. A possibilidade de desenvolver competências de
expressão sobre vivências originadas pelos programas televisivos pode constituir um
estímulo para outras aprendizagens.

1
PINTO, Manuel – Televisão, escola, família, Lisboa: Ed. Presença, 2002, p. 46
2
IBIDEM, p. 47.
3
IBIDEM, p. 57

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