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1.Introdução
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São muitos os pontos polêmicos relativos ao estudo da tutela provisória no processo
civil brasileiro, merecendo especial destaque aquele referente à estabilização da tutela
antecipada requerida em caráter antecedente.
No final do artigo, concluiremos que o aparente paradoxo existente pode ser superado
por uma interpretação que considere que tal estabilização passa pela existência de um
microssistema de técnica monitória formado pelas regras da ação monitória e da tutela
provisória, pela necessária distinção entre estabilização e coisa julgada material e pela
adequada fixação dos pressupostos para a estabilização, de forma a dar utilidade prática
a esse instituto inovador e relevante para o processo civil brasileiro.
Dessa forma, a tutela provisória (expressão usada pelo legislador) pode fundar-se na
urgência ou na evidência. As de urgência (satisfativas ou cautelares) exigem a
demonstração da probabilidade do direito e do perigo de dano (ou de ilícito, em se
tratando de tutela inibitória) ou do risco ao resultado útil do processo (art. 300 do CPC
(LGL\2015\1656)), esta última expressão usada de forma inadequada pelo legislador, e
em face do posicionamento que adotamos de que as cautelares não seriam instrumentos
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do instrumento, existindo um direito próprio a ser acautelado . As de evidência (sempre
satisfativas) pressupõem a demonstração de que as afirmações de fato estejam
comprovadas, tornando o direito evidente (art. 311 do CPC (LGL\2015\1656)),
independentemente de demonstração do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do
processo. As tutelas de urgência cautelares ou satisfativas podem ser concedidas de
forma antecedente ou incidental, considerando o momento em que o pedido de tutela
provisória é formulado, em comparação com o da tutela definitiva. A tutela provisória
satisfativa antecedente dá início ao processo no qual se pode, futuramente, requerer a
tutela definitiva, visando a adiantar seus efeitos (mandamentais ou executivos). Eduardo
Costa afirma que seria uma decisão mandamental ou executiva de eficácia imediata de
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declaração . A demonstração da ocorrência concreta do periculum in mora não pode
autorizar a declaração de nulidade de um contrato, a constituição de uma servidão de
passagem, a condenação ao pagamento de indenização e a anulação de um casamento,
mas admite que a situação de fato seja esvaziada de todas as circunstâncias que
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ameaçam tolher o direito do autor .
Ressaltamos que tanto o art. 303 quanto o art. 305 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), que
tratam dos procedimentos para a tutela antecipada e tutela cautelar requeridas em
caráter antecedente, com regimes bem diversos, exigem que na petição inicial o autor
indique o pedido de tutela final, a lide e o seu fundamento, respectivamente. Tal
previsão é importante, pois se o legislador agora enquadrou ambas no gênero tutela de
urgência e incluiu em seu suporte fático a probabilidade do direito e o perigo de dano ou
risco ao resultado útil do processo, por outro lado, no caso das tutelas de urgência
antecedentes, há necessidade de distinção entre ambas em virtude da completa
diferenciação de procedimentos, a começar pelo fato de que a satisfativa antecedente
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estabiliza e a cautelar não . Tal providência visa a impedir que uma providência que
aparentemente é satisfativa antecedente e atingiu estabilização se torne cautelar em
virtude da apresentação futura de um pedido principal inadequado.
A tutela monitória foi criada para situações em que, ausente título executivo, haja forte
aparência de que aquele que se diz credor tenha razão. Busca-se, a partir do
procedimento monitório, a rápida formação de título executivo, funcionando como atalho
para o processo de execução, naqueles casos em que cumulativamente há concreta e
marcante possibilidade de existência do crédito e o réu, regularmente citado, não
apresenta defesa alguma. Sua função essencial, no direito brasileiro, é acelerar o
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surgimento de autorização para executar .
Assiste, porém, razão a Heitor Sica, que aponta três claras diferenças entre a técnica
monitória e a técnica da estabilização: i) a desnecessidade de demonstração de urgência
para manejo do processo monitório; ii) no processo monitório, a efetivação da decisão
sumária ocorre apenas após a estabilização, ao passo que na da tutela antecipada sua
eficácia é liberada mesmo antes da estabilização; e a iii) desnecessidade de prova
escrita de obrigação líquida e certa para pleitear a tutela antecipada urgente satisfativa
em caráter antecedente, embora seja difícil imaginar que o autor convença o juiz da
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probabilidade de seu direito sem qualquer prova escrita .
A estabilização não se confunde com coisa julgada, nos termos do § 6º do art. 304 do
CPC (LGL\2015\1656), já que não houve cognição suficiente para tanto, cabendo
inclusive a extinção do processo sem apreciação do mérito, por sentença, com
preservação dos efeitos da decisão provisória, que terá os efeitos estabilizados. Difere a
estabilização da coisa julgada, que recai sobre o conteúdo (declaratório) da decisão, que
se torna indiscutível, e não sobre seus efeitos. Trata-se de hipótese de tutela sumária
definitiva, que em contraposição à tutela sumária provisória, tem eficácia plena
independentemente de ulterior confirmação por sentença proferida com base em
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cognição exauriente .
O juiz que deferiu a liminar foi aquele que efetivamente solucionou em termos
pragmáticos o conflito, apesar de tê-lo feito em cognição sumária em virtude da
impossibilidade de aguardar a discussão do mérito em cognição exauriente. Para casos
como esses, a estabilização funciona muito bem, pois podem as partes não ter mais
qualquer interesse no julgamento do pedido principal futuro.
Como afirmam Roberto Campos Gouveia, Ravi Peixoto e Eduardo Costa, o entendimento
mais adequado parece ser o de que, mesmo após os dois anos, não haverá formação de
coisa julgada material. Além da dicção expressa do art. 304, § 6º, é preciso perceber
que o próprio procedimento não foi construído para a produção da coisa julgada. O seu
objetivo não é esse, mas tão somente o de satisfação fática da parte. Afinal, se o
objetivo da parte é o de obter a coisa julgada material, tem-se o procedimento comum
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Breves considerações acerca da estabilização da tutela
antecipada requerida em caráter antecedente
Concordamos com Heitor Sica, para quem, passados dois anos da decisão extintiva do
feito, produz-se uma estabilidade qualificada. Reconhece que a explicação de tal
fenômeno repousaria na decadência, tal como ocorre com a rescisória, de modo que a
extemporaneidade da demanda promovida com base no art. 304, § 2º levaria à extinção
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do feito com fundamento no art. 487, II, do CPC (LGL\2015\1656) .
Enfim, estabilização e coisa julgada são fenômenos diversos. Passemos agora à análise
dos pressupostos necessários para a estabilização.
O primeiro pressuposto à estabilização tem relação com o pedido do autor. Nos termos
do § 5º do art. 303 do CPC (LGL\2015\1656), o autor indicará na petição inicial que
pretende valer-se do benefício previsto no caput desse artigo e, em simultâneo, deverá
manifestar interesse em não dar prosseguimento ao processo após concessão da tutela
antecipada; ou seja, fará clara e inequívoca opção pelo procedimento da tutela
provisória satisfativa antecedente que tem natureza estabilizável, abrindo mão do
prosseguimento do processo para obtenção de uma decisão fruto de cognição exauriente
a ser protegida pelo manto da coisa julgada material. O réu precisa também saber de
antemão qual a intenção do autor, evitando-se assim que seja surpreendido.
Considerando que o 303, § 5º, tem aplicação à tutela antecipada em caráter
antecedente, defendemos sua aplicação à estabilização, no intuito de resguardar a
posição do demandado – conforme será objeto de análise, o réu precisa ter ciência da
intenção do autor a fim de avaliar se permitirá a estabilização, uma vez que a
estabilização seguida da extinção do processo também poderá lhe ser proveitosa.
Havendo cumulação de pedidos, não caberá estabilização da tutela antecipada parcial,
ou seja, não poderá ser concedida a tutela satisfativa antecedente para um deles, sujeita
ao regime de estabilização em dois anos, com prosseguimento do processo em relação
ao(s) outro(s), nos casos de cumulações simples ou sucessiva. É que havendo
continuidade do processo, a decisão antecipatória da tutela poderá ser revogada no
curso do processo ou na própria decisão final, não havendo possibilidade nem
necessidade do ajuizamento de ação autônoma para sua revisão, reforma ou invalidação
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Breves considerações acerca da estabilização da tutela
antecipada requerida em caráter antecedente
(ou mesmo confirmação), nos termos do art. 304, § 2º. O processo deverá ter
continuidade para julgamento do mérito e a tutela antecipada parcial deverá ser
confirmada ou revogada pela sentença.
Requerida a concessão de liminar pelo autor, o juiz poderá concedê-la com ou sem a
oitiva da parte contrária, ou após justificação prévia. Diante do amplíssimo contraditório
veiculado pelo CPC de 2015, defendemos a excepcionalidade da concessão de liminares
inaudita altera parte. As exceções ao art. 10 do CPC (LGL\2015\1656), que exige oitiva
prévia da parte contrária como regra, estão previstas no art. 9º do mesmo CPC
(LGL\2015\1656) e se aplicam para a tutela provisória de urgência, tutela de evidência
nos casos do art. 311, incisos II e III e decisão do art. 701 do CPC (LGL\2015\1656),
que se refere à tutela da evidência para expedição de mandado de pagamento, de
entrega de coisa ou para a execução de obrigação de fazer ou não fazer em ação
monitória. Mesmo nesses casos, temos defendido que a concessão de liminares sem
oitiva da parte contrária somente se justificaria diante da impossibilidade de aguardar a
manifestação do réu, sendo medida excepcionalíssima. Assim, mesmo nessas hipóteses
excepcionais do art. 9º, o juiz deverá ouvir a parte contrária, nos casos em que a oitiva
não comprometer a efetividade da medida. Poderá o juiz exigir, conforme o caso, caução
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Breves considerações acerca da estabilização da tutela
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real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa sofrer,
autorizada sua dispensa caso a parte economicamente hipossuficiente não puder
prestá-la (art. 300, §§ 1º e 2º, do CPC (LGL\2015\1656)). A tutela de urgência
antecipada não deverá ser concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos
efeitos da decisão, o que tem sido visto com ressalvas, em nome da aplicação do
postulado normativo da proporcionalidade (§ 3º do art. 300 do CPC (LGL\2015\1656)),
evitando-se assim que o autor sofra mal maior com a denegação do que aquele que
seria causado ao réu com a concessão.
O terceiro pressuposto à estabilização tem relação com a atitude adotada pelo réu
quando citado e intimado após a concessão da medida. Dispõe o art. 304 do CPC
(LGL\2015\1656) que concedida a tutela antecipada, nos termos do art. 303 do CPC
(LGL\2015\1656), torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o
respectivo recurso. Aplicar-se-ia ao caso o agravo de instrumento no primeiro grau,
agravo interno das decisões monocráticas nos tribunais, sendo possível, ainda, em
certos casos, consideradas as restrições do Enunciado 735 da Súmula do STF, o uso dos
recursos extraordinário e especial contra decisões de tribunais. Saliente-se que pode ser
viável a interposição de embargos declaratórios com efeitos infringentes.
Para obstar a estabilização, não há necessidade de que o recurso tenha sido provido,
bastando ter sido admitido. Nesse sentido, veja-se o Enunciado 28 da ENFAM, “admitido
o recurso interposto na forma do art. 304 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), converte-se o
rito antecedente em principal para apreciação definitiva do mérito da causa,
independentemente do provimento ou não do referido recurso”.
A estabilização não ocorrerá caso o réu inerte tenha sido citado e intimado por edital ou
hora certa, se estiver preso ou for incapaz sem representante ou em conflito com ele.
Nesses casos será necessária a designação de curador especial que terá o dever
funcional de promover sua defesa, mesmo que genérica, impugnando a decisão
concessiva da tutela antecipada satisfativa concedida. Não haverá estabilização quando,
apesar da inércia do réu, a demanda for devidamente respondida e a tutela antecipada
concedida antecedentemente for questionada por quem se apresente como assistente
simples do réu ou por litisconsorte cujos fundamentos de defesa aproveitem também ao
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réu inerte .
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Breves considerações acerca da estabilização da tutela
antecipada requerida em caráter antecedente
É importante destacar que a estabilização também não ocorrerá se o réu não for
cientificado da possibilidade de sua ocorrência, uma vez que não poderá ser
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surpreendido – vedação à decisão-surpresa .
Como vimos, o autor deve ressaltar na inicial que se contenta com o regime
estabilizatório, caso em que dispensa o julgamento do pedido principal. Sabendo o réu,
de antemão, que o autor se contenta com a estabilização da tutela satisfativa
antecedente e que dispensa a apreciação do pedido principal, poderá não impugnar a
decisão concessiva da tutela de urgência, caso em que teremos um negócio jurídico
processual plurilateral e o processo será extinto sem resolução do mérito, por sentença,
com a estabilização. Em havendo impugnação, o processo deverá prosseguir até atingir
o julgamento final por sentença que aprecie o mérito, suscetível de fazer coisa julgada
material.
Apesar da confusão que o texto legal pode causar, não há sentido em se obrigar o autor
a emendar a inicial quando autor e réu se contentam com a estabilização e não
pretendem que o mérito seja discutido e julgado, com formação de coisa julgada
material. O princípio da eficiência nesse caso impede o juiz de praticar atos inúteis no
processo e que serviriam apenas para causar tumulto e sem qualquer finalidade prática
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.
Não havendo opção pelo regime da estabilização e somente nesse caso, o aditamento da
inicial trará novos elementos para propiciar o julgamento do processo com obtenção da
tutela definitiva, fruto de cognição exauriente, voltada à obtenção da coisa julgada
material. Porém, a promoção do aditamento da inicial é incompatível com o regime da
estabilização.
Concordamos com a solução apresentada por Marco Paulo Denucci Di Spirito, que tem
defendido que o julgador realize uma avaliação prospectiva com supedâneo nas regras
gerais, antecipando a organização em pauta, fazendo consignar, já na decisão
concessiva da tutela antecipada em caráter antecedente, que o autor deverá aditar a
inicial nos termos do art. 303, § 1º, I, dentro de “x” dias, contados do integral
escoamento do prazo indicado no art. 304, in fine, caso o réu se manifeste
oportunamente. Seria assim o autor intimado a aditar a inicial, caso o réu apresente
objeção no prazo para interposição do agravo de instrumento (art. 1003, § 5º). Dessa
forma, o aditamento deverá ocorrer, independentemente de nova intimação, no prazo de
até 15 dias, tendo por termo a quo o primeiro dia útil subsequente ao efetivo
escoamento do prazo a que alude o art. 1003, § 5º, do CPC (LGL\2015\1656). Outra
opção possível seria a positivação, na oportunidade da decisão concessiva da tutela
satisfativa antecedente, de determinação à secretaria judiciária para verificar a
interposição do agravo de instrumento, ou a realização de outra manifestação do réu no
prazo para esse recurso, e intimar o autor sobre a ocorrência de qualquer um desses
atos. É importante que o magistrado faça constar que o prazo para o aditamento da
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inicial será contado a partir dessa intimação , mas não antes. Essa compreensão dos
institutos tem em mira a compatibilização dos arts. 303 e 304, preservando, como
dantes referido, a situação jurídica do réu, que não poderá ser surpreendido pela
estabilização – não requerida – no futuro; outrossim, evita que o autor precise aditar a
inicial (condicionalmente, caso pretenda a estabilização), apenas para evitar a extinção
do processo nos termos do art. 303, § 2º.
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Breves considerações acerca da estabilização da tutela
antecipada requerida em caráter antecedente
Concedida a tutela antecipada satisfativa, deverá o réu ser citado e intimado para,
cumpri-la, ou, querendo, impugná-la, o que geralmente fará por meio do recurso
próprio. Se a impugnação for admitida, afastado estará o regime da estabilização,
cabendo ao autor aditar a inicial em 15 dias.
Não ocorrendo a estabilização, seja porque o autor não se contenta com a mesma e
pretende o julgamento do mérito ou porque o réu impugnou a decisão, deverá o juiz,
primeiramente, intimar o autor para que, no prazo de 15 dias ou em outro maior por ele
fixado, promova o aditamento da inicial (art. 303, § 1º, I, do CPC (LGL\2015\1656)),
nos mesmos autos e sem incidência de novas custas (art. 303, § 3º, do CPC
(LGL\2015\1656)), de modo a complementar sua causa de pedir, confirmar seu pedido
de tutela definitiva, juntar novos documentos indispensáveis ou úteis para a apreciação
do pedido sob pena de extinção do processo (art. 303, § 1º, I, § 2º, do CPC
(LGL\2015\1656)); em seguida intimará o réu, já citado, para a audiência de conciliação
ou de mediação na forma do art. 334.
Não havendo composição, o prazo para contestação será contado na forma prevista no
art. 335 do CPC (LGL\2015\1656). Observe-se que o prazo de resposta do réu somente
poderá iniciar-se se ele tiver ciência inequívoca do aditamento da inicial pelo autor, para
que possa, no prazo mínimo de 15 dias, exercer seu direito de defesa de forma ampla.
Se a causa não admitir autocomposição, não sendo cabível a designação de audiência de
conciliação ou de mediação (art. 334, § 4º, II do CPC (LGL\2015\1656)), o prazo de
resposta só correrá da data em que for intimado do aditamento da inicial.
Tem natureza de sentença terminativa prevista no art. 485, inc. X a decisão que declara
estabilizada a tutela antecipada antecedente. Nesse ponto vislumbramos eficácia
declaratória. Não se enquadra nas hipóteses do art. 502, que reserva a formação de
coisa julgada material à sentença de mérito. Nessa sentença deverá o juiz condenar o
réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios. Aqui vislumbramos a presença
da eficácia condenatória.
Quanto a esse tópico, Sica recusa paralelo com a ação monitória, já que nesta o
cumprimento espontâneo do mandado injuntivo pelo réu o isenta de responsabilidade
pelo custo do processo, tratando-se de um incentivo para o réu satisfazer de plano a
pretensão do autor. Quando se trata da técnica da estabilização, a ausência de recurso
não implica satisfação do autor, mas apenas a formação de título para execução
definitiva, de modo que não se poderia premiar o réu que deu causa à instauração do
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processo com a isenção das verbas de sucumbência .
Para impugnar tal sentença caberá apelação que será recebida com efeito suspensivo em
relação à condenação em tais verbas e apenas devolutivo se a parte ré pretender, por
exemplo, que o processo prossiga sem estabilização, porque faltantes os requisitos para
a ocorrência desta. Seria o caso do réu que impugnou a decisão concessiva da tutela de
urgência e que foi tratado no processo como se não o tivesse feito, por falha do
magistrado; seria demais exigir que ele tivesse que propor ação autônoma simplesmente
para provar que ingressou com agravo de instrumento contra a decisão. Nesse caso, a
tutela antecipada, durante a tramitação do recurso, produzirá seus efeitos normalmente.
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Breves considerações acerca da estabilização da tutela
antecipada requerida em caráter antecedente
Temos defendido que decisão estabilizada não se sujeita à remessa necessária. Prevê o
art. 496 do CPC (LGL\2015\1656) que cabe remessa necessária contra sentença. No
presente caso, a decisão que concede tutela antecipada não é sentença, mas decisão
interlocutória, e a decisão que extingue o processo nos termos do art. 304, § 1º, embora
seja sentença, é terminativa, não sendo considerada sentença proferida contra a
Fazenda Pública. Já decidiu o STJ que “o reexame necessário não é exigência
constitucional e nem constitui prerrogativa de caráter absoluto em favor da Fazenda,
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nada impedindo que a lei o dispense, como, aliás, o faz em várias situações” .
Art. 297 O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para efetivação
da tutela provisória.
Nesse ponto, observe-se que o juiz poderá exigir caução real ou fidejussória idônea para
ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo ser dispensada nos
casos de hipossuficiência econômica da parte, nos termos do § 1º do art. 300 do CPC
(LGL\2015\1656).
4. O autor deve ressaltar na inicial que se contenta com o regime estabilizatório, caso
em que dispensa o julgamento do pedido principal. Sabendo o réu, de antemão, da
intenção do autor, poderá não impugnar a decisão concessiva da tutela de urgência,
caso em que teremos um negócio jurídico processual plurilateral e o processo será
extinto sem resolução do mérito, por sentença, com a estabilização. Em havendo
impugnação, o processo deverá prosseguir até atingir o julgamento final por sentença
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Breves considerações acerca da estabilização da tutela
antecipada requerida em caráter antecedente
5. Não havendo opção pelo regime da estabilização e somente nesse caso, o aditamento
da inicial trará novos elementos para propiciar o julgamento do processo com obtenção
da tutela definitiva, fruto de cognição exauriente, voltada à obtenção da coisa julgada
material. Porém, a promoção do aditamento da inicial é incompatível com o regime da
estabilização.
6. Vimos que no prazo de dois anos, quaisquer das partes poderão demandar a outra
com o intuito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada. Essa ação
exauriente é simples prosseguimento da ação antecipada antecedente, pelo que não
haverá inversão do ônus da prova, cabendo ao autor da antecedente, que agora poderá
ser réu da exauriente, provar os fatos constitutivos do seu direito e ao réu da
antecedente, que agora poderá ser autor da exauriente, provar fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito do autor da antecedente. Tal posição tem por
fundamento a ideia do contraditório eventual que ocorre em face da monitorização do
procedimento, que não poderia resultar na inversão do ônus da prova causando situação
de extrema dificuldade para o autor da ação exauriente.
7. Tem natureza de sentença terminativa prevista no art. 485, inc. X a decisão que
declara estabilizada a tutela antecipada antecedente. Possui eficácia declaratória e não
se enquadra nas hipóteses do art. 502 do CPC (LGL\2015\1656), que reserva a
formação de coisa julgada material à sentença de mérito. Nessa sentença deverá o juiz
condenar o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios, no que vislumbramos
aqui a presença da eficácia condenatória.
10. Passados dois anos da decisão extintiva do feito, produz-se o que a doutrina vem
chamando de estabilidade qualificada e, em face da decadência, não poderá mais ser
ajuizada a ação do art. 304, § 2º, do CPC (LGL\2015\1656), que será extinta com
fundamento no art. 487, inc. II, do CPC (LGL\2015\1656).
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Flávio Luiz; MORAES, Maurício Zanoide de (Org.). Estudos em homenagem a Ada
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BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas
sumárias e de urgência (tentativa de sistematização). 5. ed. rev. e amp. São Paulo:
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em homenagem à memória de Ovídio Baptista. Revista de Processo, São Paulo, v. 36, n.
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DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
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Breves considerações acerca da estabilização da tutela
antecipada requerida em caráter antecedente
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6 Decerto que essa foi uma opção legislativa, pois nada impediria que a tutela cautelar
também fosse apta a se estabilizar; inclusive, seria uma forma (processual) de assumir a
autonomia (material). Hoje, o caminho processual para tanto seria a adoção do
procedimento comum.
7 TALAMINI, Eduardo. Tutela monitória. A ação monitória: Lei 9.079/95. 2. ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: RT, 2001. p. 28-29. Para um estudo realizado sob a égide do
novo CPC, ver: CARVALHO, Antonio. Tutela monitória no CPC/2015. In: MACÊDO, Lucas
Buril de; PEIXOTO, Ravi; FREIRE, Alexandre (Org.). Coleção novo CPC, doutrina
selecionada. Salvador: JusPodivm, 2015. v. 4: procedimentos especiais, tutela provisória
e direito transitório, p. 525-570.
8 Sobre o tema, indispensável a consulta dos trabalhos do Prof. Ovídio Baptista da Silva.
No tocante à técnica do contraditório eventual, cf.: FLACH, Daisson. A verossimilhança
no processo civil e sua aplicação prática. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.
p. 80-84.
9 Nesse sentido: DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria
de. Curso de direito processual civil. 10. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2015. p. 604-605.
11 SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto a chamada
“estabilização da tutela antecipada”. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da
Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto Campos. Coleção grandes
temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p. 352-353.
12 MITIDIERO, Daniel. Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo:
RT, 2015. p. 789.
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Breves considerações acerca da estabilização da tutela
antecipada requerida em caráter antecedente
17 GOUVEIA FILHO, Roberto Campos; PEIXOTO, Ravi; COSTA, Eduardo José da Fonseca.
Estabilização, imutabilidade das eficácias antecipadas e eficácia de coisa julgada: uma
versão aperfeiçoada. Disponível em:
[www.academia.edu/27656845/ESTABILIZA%C3%87%C3%83O_IMUTABILIDADE_DAS_EFIC%C3%81C
Acesso em: 02.09.2016.
18 Idem. No entanto, para esses mesmos autores, não existirão óbices para que o
dictum seja rediscutido em ação própria para quaisquer outros fins.
19 SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto a chamada
“estabilização da tutela antecipada”. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da
Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto Campos. Coleção grandes
temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p. 353-354.
Antônio de Moura Calvalcanti Neto, chama de estabilidade soberana (CAVALCANTI NETO,
Antônio de Moura. Estabilização da tutela antecipada antecedente; tentativa de
sistematização. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA,
Mateus da Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto P. Campos (Coord.). Coleção grandes temas
do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p. 220).
20 É a posição de Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael de Oliveira, malgrado
reconheçamos o esforço dos autores em compatibilizar os institutos. DIDIER JR., Fredie;
BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil.
10. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2015. v. 2. p. 606.
23 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
direito processual civil. 10. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2015. p. 607-608.
27 É importante perceber que a falta de um dos requisitos do art. 303 (ex. valor da
causa ou ausência de indicação do pedido final), viabiliza a abertura de prazo à
complementação do arrazoado. Não se deve confundir situações que tais, com a não
verificação da urgência contemporânea ou da probabilidade do direito, as quais
precipitam o indeferimento da medida requestada.
29 SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto a chamada
“estabilização da tutela antecipada”. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da
Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto Campos. Coleção grandes
temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p. 357.
30 BRASIL. STJ. EResp 345.752, rel. Ministro Teori Albino Zavasky, 1ª Seção, j.
09.11.2005, DJ 05.12.2005. p. 207.
31 Nesse sentido SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto
a chamada “estabilização da tutela antecipada”. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo
José da Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto Campos. Coleção
grandes temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p.
353-354.
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