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Advocacia e Assessoria Jurídica Empresarial

Cível, Trabalhista, Tributário, Administrativo e Licitações

PARECER Nº 001/AA/2017
( MMXVII-I-XXV )

Consulta: Aditamento contratual

PRORROGAÇÃO DE CONTRATO. SENTRAN E


MUNICÍPIO DE GUARATINGUETÁ. LOCAÇÃO DE
EQUIPAMENTOS DE FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
FIXA E ESTÁTICA. FORMALIZAÇÃO “A POSTERIORI”.
ARTIGO 57, INCISO II, DA LEI Nº 8.666/93.
POSSIBILIDADE.

Trata-se de consulta encaminhada pela empresa Sentran -


Serviços Especializados de Trânsito Eireli acerca de contrato pactuado com a Prefeitura
Municipal da Estância Turística de Guaratinguetá cujo objeto é o a prestação de serviços
para locação de equipamentos de fiscalização eletrônica fixa e estática.

A contratação se deu em decorrência da licitação na


modalidade Tomada de Preços nº 009/15 e o contrato foi formalizado em 26 de agosto de
2015, tendo recebido o nº SLC 247/15, com valor total de R$297.600,00 (duzentos e
noventa e sete mil e seiscentos reais) e com vigência fixada em 12 (doze) meses, sendo
possível sua prorrogação por se tratar de prestação de serviços continuados conforme
expressa previsão contratual.

Em 2016 as partes formalizaram um termo de aditamento


bilateral prorrogando o prazo original até o dia 31 de dezembro de 2016 sob a justificativa de
existência de saldo contratual bem como a necessidade de continuidade dos serviços.

Ocorre que, ultrapassada a data fixada para o término do


contrato, até o presente momento não foi formalizado novo termo de aditamento
prorrogando o prazo do mesmo, muito embora os serviços continuem a ser prestados
normalmente, sem interrupção ou solução de continuidade, pelo que se questiona se
haveria a possibilidade de formalização de tal aditamento, ainda que a destempo, e qual
seria o procedimento necessário para tanto.

É esta a síntese do necessário.

São duas as situações a serem analisadas: a formalização de


um novo termo de aditamento para prorrogação do contrato e qual seria o correto prazo de
vigência desse termo.

adauto.andrade@gmail.com (12) 98113-1300


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Sobre a formalização de um novo termo de aditamento

No tocante à formalização de um novo termo de aditamento, de


imediato cabe ressaltar que duas situações se sobressaem: a empresa continua prestando
os serviços acordados no contrato original e o termo final desse contrato, após prorrogação
anterior, se deu em 31/12/16.

Via de regra não haveria como se aditar um contrato


encerrado. Uma vez que adveio seu termo final, o acordo celebrado atingiu seu inexorável
fim. O próprio artigo 60 da Lei nº 8.666/93, em seu parágrafo único, determina que “é nulo e
de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração (...)”.

Mas ressalte-se que essa mesma Administração tem por


atividade precípua o atendimento ao interesse público. O objeto do contrato em questão
versa sobre serviços de natureza continuada, que não poderiam ser interrompidos, sob risco
de irreparáveis danos à Municipalidade, haja vista que, sem esse contrato, não teria como o
Município cumprir seu dever de fiscalização, conforme determino artigo 24, incisos VI e VII,
da Lei nº 9.503/97, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro:

“Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos


Municípios, no âmbito de sua circunscrição:

(...)

VI - executar a fiscalização de trânsito em vias terrestres, edificações


de uso público e edificações privadas de uso coletivo, autuar e aplicar
as medidas administrativas cabíveis e as penalidades de advertência
por escrito e multa, por infrações de circulação, estacionamento e
parada previstas neste Código, no exercício regular do poder de
polícia de trânsito, notificando os infratores e arrecadando as multas
que aplicar, exercendo iguais atribuições no âmbito de edificações
privadas de uso coletivo, somente para infrações de uso de vagas
reservadas em estacionamentos;

VII - aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa, por


infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste
Código, notificando os infratores e arrecadando as multas que
aplicar;”

Ainda que os serviços tenham ficado sem cobertura contratual


entre o período que corresponde ao advento de seu termo final e do efetivo aditamento a ser
formalizado, a continuidade de sua prestação é inquestionavelmente imprescindível - tanto o
é que não houve interrupção dos mesmos.

Acerca desse tema, como precedente temos a decisão


constante no processo do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, TC-006.002/026/99,

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quando da análise dos termos aditivos de reti-ratificação das empresas Vanguardiã


Vigilância e Segurança S/C Ltda e Departamento de Água e Energia Elétrica - DAAE, in
verbis:

“O termo aditivo de reti-ratificação nº 99/11/00184.3, constante às fls.


435/438, foi assinado em 06.10.99, e teve por objeto a prorrogação
do prazo ajustado por mais 07 (sete) meses.

Em razão desta prorrogação o contrato apresentou acréscimo de


R$544.543,21 (quinhentos e quarenta e quatro mil, quinhentos e
quarenta e três reais e vinte e um centavos).

A auditoria realizada apontou que o prazo contratual havia se


expirado em 02.08.99 e que os serviços ficaram sem cobertura até a
data da assinatura do termo, ocorrendo um lapso de um mês e vinte
e seis dias, infringindo os termos do art. 60, parágrafo único, da Lei nº
8.666/93.

(...)

Com relação ao termo aditivo de reti-ratificação nº 2000/11/00031.0,


fls. 499/501, assinado em 30.03.00, teve por objeto nova prorrogação
de prazo, agora por mais 05 (cinco) meses e 28 (vinte e oito dias).

Foi apontado, novamente, lapso temporal de 28 (vinte e oito) dias


sem cobertura contratual, compreendido entre 02.03.00 e 30.03.00.

(...)

Desta feita, o DAAE havia tomado as providências para o aditamento


ainda durante a vigência contratual, não havendo, portanto, omissão
de sua parte.

De outra forma, poderiam ter ocorrido sérios riscos para os bens


públicos, assim como para a fauna e a flora pois, a área circunscrita
ao objeto é extensa e tem sido alvo de constantes invasões e
depredações.

(...)

Em razão do exposto, julgo regulares: os termos aditivos e de reti-


ratificação nº 99/11/00184.3 e nº 00/11/00031.0, respectivamente às
fls. 435/438 e fls. 4999/501.”

Ora, trata-se a presente situação de caso análogo, em que


haveria a formalização a posteriori em contrato de prestação de serviços continuados, sendo
que sua solução de continuidade acarretaria prejuízos ao bem público tutelado pelo objeto
pactuado - no caso a efetiva fiscalização de trânsito a ser cumprida pelo Município. Parece-

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me claro, na decisão supra, que o mesmo direito utilizado para tutelar os bens públicos, a
fauna e a flora, guardadas as devidas proporções, é o que se aplica ao caso em questão
para tutelar serviços essenciais à Municipalidade - que, inclusive, incrementam a própria
arrecadação municipal.

Assim, sem prejuízo de eventual apuração dos motivos que


ensejaram essa mera falha administrativa, conforme juízo de oportunidade do gestor
municipal, entendo que seria possível a formalização de termo de aditamento para
prorrogação do contrato, ainda que a posteriori.

Sobre o correto prazo de vigência do termo de aditamento

Um item que chamou a atenção foi o prazo fixado para a


prorrogação: “até o dia 31 de dezembro de 2016”. Significa dizer que, em que pese o
contrato original ter sido formalizado com a vigência de 12 (doze) meses, não houve uma
prorrogação pelo mesmo prazo, conforme é praxe junto às administrações municipais. E,
mais, conforme consta no termo de aditamento, em decorrência da existência de saldo no
contrato essa prorrogação se deu simplesmente “nos termos da Lei Federal nº 8.666/93 e
suas alterações”, ou seja, não foi explicitado qual o artigo específico que fundamentou a
prorrogação.

Faz-se necessário esclarecer tal ponto.

A questão da prorrogabilidade dos contratos está expressa no


artigo 57 da Lei Licitatória. Existem, por esse artigo, três situações básicas que admitem a
prorrogação de um contrato.

A primeira está inserta no artigo 57, em seu inciso II, que


determina sua possibilidade no caso de contratos onde exista “a prestação de serviços a
serem executados de forma contínua, que poderão ter sua duração prorrogada por iguais e
sucessivos períodos com vistas a obtenção de preços e condições mais vantajosas para a
Administração, limitada a sessenta meses”. É a renovação do contrato por um novo período,
sendo necessário o aporte de recursos orçamentários para lhe dar guarida.

A segunda situação que é trazida pelo artigo 57, em seu § 1º e


incisos, determina que “os prazos de início de etapas de execução, de conclusão e de
entrega admitem prorrogação, mantidas as demais cláusulas do contrato e assegurada a
manutenção de seu equilíbrio econômico-financeiro (...)”. Esse dispositivo vincula sua
eficácia a ocorrência de alguma das situações elencadas nos incisos de I a VI que o segue.
É o mero aditamento de prazo, estritamente vinculado aos recursos orçamentários
disponíveis dentro de um contrato.

A terceira situação que admitiria a prorrogação de um contrato


é aquela prevista no já citado artigo 57, § 4º, o qual estipula: “em caráter excepcional,
devidamente justificado e mediante autorização da autoridade superior, o prazo de que trata

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o inciso II do caput deste artigo poderá ser prorrogado em até doze meses”. É a renovação
revestida de excepcionalidade quando não há possibilidade legal ou contratual de prorrogar
um contrato.

Pois bem. Considerando a justificativa que foi utilizada para a


formalização do termo de aditamento, qual seja, “a existência de saldo no contrato, bem
como a necessidade da continuidade dos serviços”, podemos concluir que não foi
totalmente utilizado o valor fixado para custear os 12 meses originais de prestação dos
serviços. Restou um “saldo” que ainda poderia ser gasto. Em que pese decorrido o prazo,
não houve esgotamento dos recursos destinados à consecução do objeto, pelo que foi
necessário alterar o prazo final originalmente ajustado.

Assim, dentre as situações legais possíveis, parece-me que o


fundamento legal para o termo de aditamento formalizado foi um dos incisos do § 1º do
artigo 57 da Lei Licitatória, conforme juízo do gestor à época. Essa identificação se faz
necessária para fins de determinar inequivocamente que a prorrogação pretendida é aquela
constante no artigo 57, inciso II, da citada lei.

De tal sorte, com base nos fundamentos supra, entendo que o


prazo de vigência do termo de aditamento que se pretende formalizar não está vinculado
àquele prazo do termo de aditamento já formalizado. Isso torna possível fixar o prazo que as
partes entenderem conveniente para essa prorrogação (“renovação”), desde que com o
devido aporte prévio de recursos orçamentários, cabendo o alerta de que, por se tratar da
primeira prorrogação com fundamento no artigo 57, inciso II, da Lei Licitatória, as próximas
prorrogações deverão observar o prazo que vier a ser fixado - “iguais e sucessivos
períodos” - não podendo extrapolar em sua totalidade o limite de 60 (sessenta) meses.

Conclusão

Ante todo o exposto, segundo meu estrito entendimento, uma


vez que não houve interrupção na prestação dos serviços de natureza continuada por parte
da empresa Sentran, a situação em análise demonstra a possibilidade de formalização de
termo de aditamento para prorrogação do contrato, ainda que a posteriori, retroagindo seus
efeitos à 1º de janeiro de 2017, sendo o artigo 57, inciso II, da Lei nº 8.666/93 a correta
fundamentação legal para essa prorrogação.

Este, SMJ, é o parecer.

São José dos Campos, 25 de janeiro de 2017.

Adauto de Andrade
OAB/SP 151.437

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